O que está em jogo agora não é esse negócio de corrupção que sempre teve no país e que nós estamos tendo a coragem de combater. Tudo isso que eles estão denunciando agora é o medo que eles têm de perder a hegemonia do Estado brasileiro. O resto é propaganda, o resto é conversa e maledicência. Porque nunca eles tiveram coragem de pôr o dedo na ferida como nós estamos pondo agora cortando na própria carne como se verifica na questão da corrupção.Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Cúmulo da cretinice
A águia e a galinha
O Brasil vive momentos decisivos. Está na hora de cada
cidadão decidir entre continuar a ser galinha de terreiro partidário ou, enfim,
assumir a verdadeira vocação divina do homem e da mulher de serem águias,
alçando voo e vivendo em liberdade. Quem nasceu águia por inspiração divina não
pode chafurdar na bosta de terreiro quadrilheiro.
A cada dia o noticiário revela que o país se tornou o
galinheiro do PT que alimenta as aves com farelos e lixo. Tudo bem guardado por
corvos, abutres e urubus, aliados na embromação, abençoados por uma água benta
de porcaria, que se alimentam da sujeira, dos doentes, dos mais fracos e da
nova geração.
Por todo o canto enfeitam o galinheiro com frases
bombásticas, doutrinárias, de que a pobreza e a cretinice estão no DNA dessas tais
galinhas, querendo esconder a verdadeira origem de águias, acostumadas a
bancarem ave domesticada de coronés de meia tigela, jecas do lameiro.
O que mais temem é que um dia descubram o que são, donas de
seu próprio bico e por destino têm todo o espaço das alturas para poder planar
sua liberdade.
Será um dia de muita festa quando o galinheiro se revoltar
contra os carniceiros e bicarem todas essa raposas que rondam para tirar uma
lasquinha da desgraceira. Que os gatunos possam se esconder no próprio
chiqueiro de onde nunca deveriam ter saído.
Será a libertação das águias que um dia fizeram crer que
eram apenas galinhas a serviço do PT.
A vaca foi para o brejo?
Nunca vi nada igual. Todas as certezas estão desabando, toda fé, todas as esperanças morrem diante dessa abundância de escrotidões, esse despautério de horrores. A gente liga a TV, lê o jornal e cai em cava depressão. “Tudo que é sólido desmancha no ar”, como disse Marx, tão mal entendido pela esquerda burra que tomou o poder na base da mentira e fraudes, como vemos com as granas “legais” que a tesouraria do PT recebeu dos restos de propinas. A velha “esquerda” sempre foi um sarapatel de populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e, desde 2002, inventou a adesão monstruosa aos velhos roubos da velha direita.
A chegada do PT ao governo reuniu em frente única: as oligarquias privadas com o patrimonialismo do Estado petista. Foi o pior cenário para o retrocesso: Sarney, Calheiros, até Collor, unidos aos idiotas bolivarianos. Essa base de ação foi o adubo para os crimes da Petrobras e outras dezenas de roubalheiras em hidrelétricas, aeroportos, portos, tudo.
O advogado de um dos acusados disse a frase síntese: “No Brasil, se não der uma grana na mão dos governantes, nem um paralelepípedo você coloca no chão”. E é o país inteiro, não apenas a PTbrás.
Mas, de quem é a culpa disso tudo?
Claro que a responsabilidade principal é a aplicação bolchevique do “toma lá, dá cá”, através do presidencialismo de cooptação para obter apoio dos partidos, ou seja, a corrupção permitida e estimulada é o motor petista da governabilidade. Pode uma coisa dessas?
Será que os costumeiros ladrões já sacaram que a “mão grande” é o novo “hype”?
A destruição da Lei de Responsabilidade Fiscal que Dilma iniciou é o exemplo dessa permissividade. Cada prefeitura do país vai partir para gastos corruptos. As instituições democráticas estão sem força, se desmoralizando, já que o próprio governo as desrespeita.
Será que é culpa dos organismos arcaicos do Poder Judiciário?
Ou será o surgimento de novos problemas que não são solucionáveis com os velhos mecanismos de poder?
Mas o que preocupa é que todo esse gigantesco volume de crimes denunciados possa gerar um congestionamento na Justiça, uma turbulência irreversível que transforme tudo numa massa jurídica informe. O exército de advogados já está convocado para novas e caras chicanas. O que estamos vivendo pode virar um apocalipse institucional.
Imprevisível ano novo
Costumo comprar um suco de laranja chamado Do
Bem, na padaria da esquina. Não levei o nome a sério porque, nesta altura da
vida, suspeito que o bem e o mal coexistem e se entrelaçam. Apenas comprava. A
caixa era cheia de histórias. E o slogan: feito por jovens cansados da mesmice.
Tanta novidade num suco de laranja e descubro agora que o suco Do Bem mentia ao
informar que suas laranjas vinham direto da fazenda do seu Francisco no
interior de São Paulo. Elas vêm dos grandes fornecedores. Da marca às
historinhas, era tudo uma conversa de marketing. E isso me lembrou a atmosfera
geral no País.
A própria campanha política foi uma narração
dos marqueteiros: progressistas contra reacionários, desprendidos reformadores
sociais contra uma elite obtusa. Muitos dos vencedores não acreditam nessa
história. Sabem que o bem e o mal se entrelaçam e, passada a campanha, é
preciso aproximar-se um pouco mais da realidade.
O PT contou sua história: decidiu, a partir de
agora, expulsar os corruptos do partido, dando-lhes o direito de defesa. Em tese,
assino embaixo. Mas há algumas laranjas do seu Francisco nesse enredo. No
penúltimo escândalo, o do mensalão, os condenados foram saudados por muitos
militantes como guerreiros do povo brasileiro. Uma nota completa voltaria ao
tema, ou para dizer que se equivocou ou para confirmar a cínica tese de que não
houve corrupção da base aliada. Nesse caso, sugiro a fórmula de Homer Simpson:
seu único crime foi violar a lei.
O escândalo do petrolão segue seu curso. Esta
semana foi denunciado mais um intermediário da propina. Um antigo assessor de
Nei Suassuna, que foi senador pelo PMDB. Questionado sobre a atividade do
ex-assessor, disse não acreditar que estivesse relacionado com o escândalo da
Petrobrás: era algo em altas esferas, muito alto para ele. Pode ser verdade ou
mais uma historinha, ao menos admite que se o assessor tivesse mais estatura,
no universo das propinas, assaltaria também a estatal. E que na corrupção
existe o topo de linha e uma segundona cujos times não jogam no campo da
Petrobrás.
Lula, Dilma e o petrolão
Todas as evidências vinculam o maior esquema de corrupção da história ao PT, inclusive à campanha de 2010
Não há na
história da República brasileira um escândalo da magnitude do petrolão. Mais
ainda: não há na história mundial nenhuma empresa pública que tenha sofrido uma
sangria de tal ordem. Ficamos cada dia mais estarrecidos com a amplitude do
projeto criminoso de poder que controla o país desde 2003. Bilhões de reais
foram desviados da Petrobras. Agora as investigações devem também alcançar o
setor elétrico, as obras do PAC e aquelas vinculadas à Copa do Mundo. Ou seja,
se já estamos enojados — aproveitando a expressão utilizada por Paulo Roberto
Costa na acareação na CPMI da Petrobras, na semana passada — com o que foi revelado,
o que nos aguarda? E quando soubermos da lista de parlamentares e ministros
envolvidos?
O país está
como aquele indivíduo em Pompeia, no ano 79 d.C., que caminhava tranquilamente
nem imaginando que o Vesúvio entraria em erupção. O Congresso mantém sua rotina
trocando votos por dinheiro, o que já não causa nenhuma estranheza. O governo
não conseguiu nomear seu Ministério e o país está sem orçamento aprovado para
2015. E o Judiciário mantém o ramerrão de sempre: muito formalismo e pouca
justiça.
A boa nova é
que sociedade civil está se mobilizando. Diferentemente de 2006 e 2010, desta
vez o espírito cívico se manteve. Manifestações nas ruas, reuniões, debates nas
redes sociais têm marcado a conjuntura pós-eleitoral. É uma demonstração de
interesse pelos destinos do país e que desagrada — e não poderia ser o
contrário — aos marginais do poder. Mas o que chama a atenção é o silêncio de
entidades que, em certa época, estiveram à frente na defesa do Estado
Democrático de Direito. Uma delas é a Ordem dos Advogados do Brasil. Qual a
razão da omissão? E os artistas? O silêncio tem alguma relação com os generosos
patrocínios da Petrobras?
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