sábado, 7 de março de 2015

De que cor é a crise?

Como o vestido que uns viam dourado e alvo e outro negro e azul, caberia se perguntar de que cor é a crise brasileira


Como o vestido que alguns viam dourado e branco, e outros, preto e azul, caberia se perguntar de que cor é a crise que imobiliza o Brasil. Tem as cores do país, com as quais foi pintada pela incapacidade de seus governantes, ou está tingida pelos tons emprestados da crise externa?

É vermelha ou azul a crise econômica e ética vivida? Tem a cor dos governos em que germinou ou a de uma oposição submissa e distraída que olhava para o outro lado?

A de um socialismo tingido de capitalismo ou a de um capitalismo disfarçado de socialismo populista?

É de cor masculina ou feminina a crise? Tem nome e sobrenome? Tem a cor dos lobos que se vestem de ovelha para tirar melhor proveito do rebanho ou também as cores da manada que sabe somente obedecer?

Tem apenas a cor da crise econômica, forjada pela incompetência, ou está contaminada pelas sombras da falta de escrúpulos éticos, que despem a sociedade de seus melhores valores éticos e a fazem ver que todas as cores são iguais porque “todos roubam”?

Enquanto nos palácios se fazem ironias sobre os tons escuros com que os inimigos do Brasil estariam desenhando a crise, até os cachorros de rua sabem que ela está sendo pintada da cor da noite.

As cores vivas da realidade foram manchadas pelos borrões das mentiras coloridas de propaganda e ilusão?

De que cor são os que continuam acreditando no país das maravilhas, sem outras crises que não a inventada pelos adversários?

Enquanto nos palácios se fazem ironias sobre os tons escuros com que os inimigos do Brasil estariam desenhando a crise, até os cachorros de rua sabem que ela está sendo pintada da cor da noite.

De que cor veem a situação os cegos que se recusam a aceitar que este país, rico em recursos de todos os tipos, autossuficiente, cujas reservas de água e energia causam inveja no mundo, possa acabar com sede e às escuras, com água e luz racionadas?

As cores do Brasil, até há pouco, brilhavam fora e dentro do país com luz própria. Eram as cores da confiança em si mesmo, da esperança de começar a contar no planeta. Tinha a cor de um Brasil que já não era o país do eterno futuro, e sim o país de um presente do qual começavam a desfrutar até os mais famintos, onde todos tinha consciência de que amanhã seria melhor que hoje.

Quantos brasileiros veem hoje o país com os tons do otimismo, da esperança de melhora para seus filhos?

Falou, presidenta!

O nascimento do peru

Abro a coluna de hoje com um conto milenar japonês, enviado pelo amigo Eduardo Nascimento, ele mesmo um bom colecionador de causos

"Em uma planície, viviam um urubu e um pavão. Um dia, o pavão começou expressar certa angústia :

- Sou a ave mais bonita do mundo animal, tenho uma plumagem colorida e exuberante, porém nem voar eu posso, de modo a mostrar a minha incomparável beleza. Feliz é o urubu que é livre para voar para onde o vento o levar.

O urubu, por sua vez, também refletia no alto de uma árvore :

- Que infeliz ave sou eu, a mais feia de todo o reino animal ; e ainda tenho que voar e ser visto por todos. Quem me dera ser belo e vistoso tal qual aquele pavão.

E aí as duas aves, pensando sobre suas conveniências e inconveniências, tiveram uma brilhante ideia : deveriam se juntar para realizar um cruzamento. O fruto que desse cruzamento surgiria seria uma ave esplendorosa, magnífica, um descendente que iria combinar o voo tão aerodinâmico do urubu com a graciosidade e elegância do pavão. Cruzaram-se. E daí nasceu o peru ! Que é feio pra cacete e não voa !

Moral da história, senhoras e senhores : se a coisa está ruim, não invente! Gambiarra só dá merda!
Gaudêncio Torquato

Lista criou 'espécies' políticas

PT é um partido que não poderia continuar existindo


A gravidade desse fato não pode ser desconhecida ou minimizada sob a simples alegação de que o ex-presidente da República é um boquirroto incapaz de medir palavras quando fala à companheirada.

Pode-se perdoá-lo por desrespeitar a mãe dizendo que era uma analfabeta incapaz de fazer um “O” com um ovo. Mas não se pode perdoar quando ele ameaça seus opositores com os exércitos de João Pedro (quebra-quebra) Stedile. Sabem por quê? Porque a ameaça é verdadeira. Não é conversa fiada.

A atividade paramilitar do MST é conhecida desde muitas décadas ao longo das quais o movimento mostrou que não se rege por leis brasileiras nem tem qualquer acatamento às autoridades que se interponham entre ele e seus objetivos. O MST é uma força paramilitar, sob comando do “general” Stédile e serve ao PT. E a vinculação e subordinação do PT a uma entidade internacional chamada Foro de São Paulo também está fora de qualquer possibilidade de contestação.

Quanto ao mais, a lei federal Nº 9.096, de 29 de setembro de 1995, Lei dos Partidos Políticos, não pode ser mais clara.

Percival Puggina 

Das culturas da corrupção: bonificações e patrimonialismo

O noticiário em 2015 é só para quem tem estômago forte. Tenta ser puritano, mas é desavergonhado e antipatriótico. Não aguento mais ouvir falar em Petrobras e seu zilhões de petrodólares surrupiados anos a fio como novidade numa cultura de “bonificações” e patrimonialismo, em que sociopatas transitam em todas as esferas.

Certa noite, pensando sobre a cultura de levar vantagem pecuniária, seja em empresa privada ou no serviço público (patrimonialismo), para acumular patrimônio pessoal, veio a minha memória a primeira vez em que ouvi pausadamente: “Se pensas em ficar rica de consultinha em consultinha, podes tirar o cavalinho da chuva”.

Nunca disse a ninguém que aspirava à riqueza, muito menos ao meu marido, a quem respondi: “Em nossa casa, a única pessoa que sei que quer enriquecer és tu. Só quero ter uma vida decente e confortável, resultante do meu trabalho”. Ele não enriqueceu, morreu antes, de uma queda de cavalo!

Era 1979. Naquele dia, recebi a quarta visita de cortesia e boas-vindas de dono de laboratório de análises clínicas. As visitas objetivaram apresentar o negócio; doar blocos de solicitação de exames com a grife do laboratório; e dizer que eu teria “direito” a 10% mensais de todos os exames solicitados realizados no laboratório! Foram abordagens imorais. Se os três primeiros contaram com o fator surpresa e ouviram um “não” educado, o último pagou por todos: “levou um sabão”, mas ouvi: “Dinheiro no bolso é bom, viu, doutora?”. Eu estava indo contra uma norma estabelecida no mercado.

Houve casos de tentativas de suborno da indústria farmacêutica e de extorsão dos chefões do Inamps aboletados em São Luís - que exigiam altíssimo pedágio para manter o credenciamento ou adotavam a prática de auditoria na empresa como rotina, quando fui diretora do Hospital São Raimundo, do qual fui sócia, à época o maior hospital do interior do Maranhão, em Imperatriz, com 120 leitos credenciados pelo antigo INPS. O Funrural também atendia a população indígena; com o INPS, era tido como a “lepra” da atenção à saúde, pois ambos pagavam com uma verba fixa mensal. O Inamps pagava por Autorização de Internação Hospitalar (AIH), um cheque em branco no qual cabia tudo, cujo único limite era os dias de internação, definidos segundo a doença!
Duvido que algum hospital no Maranhão tenha sido mais “auditado” do que o São Raimundo! Era tudo tão naturalizado que, às vezes, me pego pensando em como é difícil para quem tem caráter passar por tantas travessias e não cair nas pinguelas da corrupção. Gosto muito de mim por ser tão nova à época – fui diretora do São Raimundo aos 28 anos, lá fiquei uns cinco anos – e ter tido coragem de dizer “não” ao dinheiro que não era fruto do meu trabalho.

Do fornecedor de gêneros alimentícios aos dos remédios, perguntavam quem receberia os 10% ou 15% do total da compra, que davam em cheque, na hora! A indústria farmacêutica chamava a indecência de “bonificação”. Eu respondia igualmente: “A Aquino & Noleto (nome legal do Hospital São Raimundo), passe-me o cheque nominal à empresa”. Era um espanto que silenciava o interlocutor, pois era uma recusa a muito dinheiro.

Mas o ser humano é criativo, para o bem e para o mal. Acabei descobrindo que o administrador do hospital “ganhava o dele” para garantir a minha fidelização nas compras! Foi demitido sumariamente, mesmo sendo marido de uma de minhas sócias.

Avalio que, sem combate às culturas de bonificações e patrimonialismo, a corrupção levará vantagem sempre.

Fátima Oliveira

Brasil, o buraco



O temor é que o Brasil acabe preso em um ciclo negativo e que nenhuma medida monetária ou fiscal consiga tirá-lo do buraco em que se meteu
The Guardian 

O que fazer? E quem está governando?

 Recebo e-mail de um grande amigo que me faz a pergunta título deste artigo, já que, segundo ele, tenho conseguido fazer razoáveis diagnósticos sobre a crise no país. Respondo: não sei.

De meu ângulo, às vezes privilegiado para saber das coisas, já que passo a maior parte do meu tempo em Brasília, às vezes é terrível, porque boatos é que não faltam. Posso afirmar que não consigo enxergar um palmo adiante do meu nariz. Só sei que a situação é gravíssima e pode ainda piorar.

Alguns têm falado em impeachment da presidente. Consulto a Constituição Federal, e meu desânimo só aumenta: na linha de sucessão se encontram Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski. A meu ver, um time para levar qualquer seleção a uma fragorosa derrota. Conheço de perto dois deles e sei de que estou falando. Os outros tenho acompanhado em suas iniciativas na Câmara e no Supremo. Não tenho por que nutrir qualquer esperança de melhoria.

Em relação à vacância sucessiva de presidente e vice (por renúncia, morte ou suspensão de direitos políticos), o sucessor, na ordem indicada, chamará novas eleições no prazo de 90 dias após a vacância definitiva (a do antigo vice) nos dois primeiros anos do mandato e nos dois últimos a eleição será pelo Congresso Nacional.

Certamente, repudio veementemente os que fazem apelo às Forças Armadas. Aliás, só para recordar, passei os melhores anos de minha vida, dos 20 aos 41 anos, sob o tacão da ditadura – isso supondo que esta tenha terminado em 1985 e não venha se prolongando em vários aspectos por meio da malfadada “transição pactuada”, inventada por gente como Tancredo Neves. Não preciso mais para não querer nada disso.

O atual Congresso Nacional, com suas bancadas da bala, do agronegócio, dos evangélicos, dos parentes e de reacionários de toda espécie, também não me autoriza a ter esperança de que venha alguma proposta minimamente articulada. Faz dó ver como parecem baratas tontas antigos partidos de gente séria, mesmo à direita.

Se as elites econômicas brasileiras são extremamente predatórias, as elites políticas são macunaímicas, e mesmo o que andam fazendo ao mandar Dilma “praqui” e “prali”, inaugurando creches e pontes, com seu novo visual mais enxuto (pelo regime que anda fazendo), os caciques que vêm se reunindo com as bancadas do PT e do PMDB não resolvem nada, a não ser ressuscitar mortos-vivos, como Sarney, convidado para o jantar no palácio de Temer com a presença de Lula.

E, para terminar: afinal, quem está governando? Joaquim Levy? Ou seria Lula? Por que não sai a malfadada lista dos políticos da Lava Jato ou dos donos de contas no exterior via HSBC? Ainda por cima, dizem que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, está sendo ameaçado de morte. Afinal, nem custa perguntar: por que Joaquim Barbosa se aposentou tão cedo? E por que Dilma não o substitui?

Ao amigo que me escreveu só posso mandar estas mal traçadas linhas. Nada sei sobre o que vai acontecer conosco. Só sei é que nisso é que dá inventar um “poste”, batizá-lo de “grande gestora” e vender o peixe aos incautos.

Ai, que inveja do Uruguai e do Vaticano!

O deboche é perigoso

A sensação é de que a política está doente: não ouve, não vê, nem raciocina

O presidente da Câmara oferece aos deputados o direito de custearem viagens de suas esposas com recursos públicos e apresenta o projeto para um novo edifício ao custo de R$ 1 bilhão; um juiz é fotografado dirigindo o carro de luxo de um réu; uma escola de samba ganha o título graças a financiamento de um ditador estrangeiro; a presidente da República coloca a culpa da degradação da Petrobras no antecessor que deixou o governo há 12 anos; outro ex-presidente ameaça colocar um exército na rua; o ministro da Justiça recebe advogados de réus do maior caso de corrupção da história; o ministro da Fazenda adota medidas totalmente opostas às promessas de campanha da candidata; o governo adota o slogan “Pátria educadora” mas corta parte importante do orçamento para a educação; as tarifas de eletricidade reduzidas no período eleitoral são substancialmente elevadas logo depois da eleição, o mesmo acontecendo com os preços dos combustíveis.

Como se esses deboches ativos não bastassem, a classe política se comporta com um generalizado deboche passivo: não reconhece a dimensão da crise, não debate suas causas nem aponta caminhos para reorientar o rumo do Brasil.

A sensação é de que a política está doente: não ouve, não vê, nem raciocina.

Não ouve as vozes do futuro chamando o Brasil para um tempo radicalmente diferente, em que a economia deverá ser baseada no conhecimento, produzindo bens de alta tecnologia; em que a principal infraestrutura deverá ser educação, ciência e tecnologia.

Não ouve as vozes do exterior que mostram que não há futuro isolado e que precisamos agir para ingressar no mundo da competitividade internacional, na convivência econômica e cultural com o mundo global. E, pior, não ouve o clamor das ruas que indicam a necessidade de romper com os vícios do presente e reorientar o rumo para um futuro com economia dinâmica e integrada, e uma sociedade harmônica e sustentável.

A política tampouco vê as dívidas que os políticos têm com o país: com os pobres sem chance, com as crianças sem futuro e os jovens sem emprego; com a natureza depredada; a dívida decorrente da corrupção generalizada. Ao não reconhecer suas dívidas, a classe política não vê a raiva que está nas ruas.

Tudo isso leva a um comportamento esquizofrênico, pelo qual, de tanto vender ilusões, o governo e seus partidos passam a acreditar nelas. E os demais políticos se acostumam a elas.

Talvez esta seja a explicação para o deboche: não vemos, não ouvimos, nem pensamos. Até que o fim da paciência do povo nos desperte. Mas o custo poderá ser muito alto para a democracia, para a eficiência econômica, para a harmonia social e a sustentabilidade ecológica. Salvo se o despertar vier antes, com a descoberta de que o deboche é muito perigoso, como percebeu o presidente da Câmara, forçado a voltar atrás em sua decisão inicial.
Cristovam Buarque