sexta-feira, 8 de novembro de 2019
Bolsonaro usará Lula para 'reanimar' o antipetismo
Suprema ironia: Dez meses depois da posse de um presidente da República que se elegeu enrolado na bandeira da Lava Jato, o Supremo Tribunal Federal impôs ao esforço anticorrupção um duro revés. Noutros tempos, Jair Bolsonaro subiria no caixote do Twitter para criticar a Suprema Corte. Hoje, o capitão celebra em silêncio a oportunidade de utilizar a saída de Lula da cadeia para reconquistar o pedaço do eleitorado antipetista que foge dele nas pesquisas.
Na expressão de um ministro, Bolsonaro "quer transformar o 'Lula livre' numa espécie de 'risco Lula' ". A ideia é recriar aos poucos a atmosfera de polarização que marcou o segundo turno da disputa presidencial de 2018. Um ambiente em que o voto dos eleitores de Bolsonaro foi vitaminado pelos eleitores que não desejavam votar de jeito nenhum no adversário dele, o petista Fernando Haddad.
O antipetismo não nasceu em 2018. Mas parte dele se refugiava em candidaturas ditas de centro, sobretudo do PSDB. Bolsonaro consolidou-se como uma opção à direita. À medida que o governo foi avançando, o novo presidente perdeu densidade nesse núcleo. O apoio à sua atuação caiu. Sua taxa de aprovação passou a girar na casa dos 30%.
Ao contrário do que insinuam as aparências, a paulada desferida pelo Supremo na Lava Jato interessava a Bousonaro. Ela veio nas pegadas de decisões do presidente que destoaram dos seus compromissos de campanha. Rebatizou o Coaf de UIF, Unidade de Inteligência Financeira, empurrando o órgão para os fundões do Banco Central.
O Coaf foi sedado dias depois de uma decisão inusitada do presidente do Supremo, Dias Toffoli. Aproveitando-se de um recurso do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), investigado no Rio de Janeiro por suspeita de peculato e lavagem de dinheiro, Toffoli suspendeu todos os processos judiciais do país municiados com informações detalhadas obtidas do Coaf sem autorização judicial. O despacho alterou uma rotina que vigorava no Coaf havia duas décadas.<
Está marcado para 21 de novembro, no plenário do Senado, o julgamento da liminar de Toffoli que favoreceu o Zero Um. Se a decisão for cassada pela maioria dos ministros do Supremo, a investigação que envolve o primogênito do presidente e o amigo Fabrício Queiroz terá de ser retomada. Mas se tudo der errado no futuro, o risco de cadeia será bem menor.
A mentira como instrumento de poder
Ao fim do conflito, um esforço internacional se concretizou na criação de uma estrutura que tentaria impedir que aquela tragédia voltasse a ocorrer. O projeto ganhou sede em Genebra, recursos e milhares de horas de reuniões. Mas a Liga das Nações fracassaria alguns anos depois.
Um outro fenômeno ainda mais revelador, porém, foi notado nos anos que se seguiram ao fim do conflito. Cientistas de diversas áreas, profundamente machucados pela perda de alguns ou de todos os seus filhos nas trincheiras, passaram a recorrer a médiuns para que pudessem entrar em contato com os mortos.
Desesperados, sem razão para viver ou acreditar, muitas daquelas mentes optaram por colocar a ciência de lado e simplesmente acreditar que poderiam falar com seus filhos.
A história comovente é contada por Jay Winter, em seu livro Sites of Memory, Sites of Mourning. Feridos em suas almas, alguns deles deixaram suas convicções científicas na busca incerta por uma solução para sua dor.
Diante de um mundo repleto de incertezas e do questionamento constante da suposta normalidade, não é de se estranhar que aqueles desconfortáveis com o aparente mal-estar saiam em busca de promessas, certezas e de garantias, ainda que fabricadas e mentirosas. E nada mais confortável do que ler apenas o que queremos acreditar. Sem contraditório, sem desconstrução.
Minada profundamente em seu orgulho, com um exército de desempregados, corrupção, 60 mil assassinatos e descobrindo que não existe um atalho para o desenvolvimento, uma parte da sociedade brasileira optou por apenas consumir o que possa confirmar as teses sobre as quais está construída. Infelizmente, muitas delas são racistas e autoritárias.
E um grupo no poder descobriu rapidamente que, com atalhos intelectuais, poderia sequestrar essa massa a seu favor e operar em um terreno fértil.
A desinformação não é uma novidade de nossa era. Governos mantiveram por décadas operações de enormes proporções para censurar e manipular a opinião pública. Desta vez, seus artífices possuíam um enorme arsenal tecnológico, com um poder inimaginável há apenas poucos anos.
Assim, nesse contexto, prosperaram pseudonotícias como a do "Kit Gay", a ameaça comunista iminente, a tese de que os termômetros estão nos locais errados, o poder ilimitado do Foro de São Paulo, o questionamento do formato do planeta e mesmo ideias conspiratórias de um astrólogo de rede social. A última dessas peças de desinformação foi transmita em rede nacional e dentro do próprio parlamento quando um blogueiro citou um suposto esquema de troca de armas nucleares entre Brasil e Cuba.
Sobre a enxurrada de elementos tóxicos, acompanham discursos de líderes charlatões especializados na venda de ilusões. Contam meias-verdades, apresentam falsas soluções simplistas e deixam uma brecha de silêncio suficiente para que aquelas populações preencham os vazios com seus preconceitos, temores e angústias.
Com um exército de contas falsas em redes sociais e uma milícia real pelo mundo digital, a receita está pronta para transformar aquela versão dos fatos na verdade chancelada para a manipulação.
Uma vez mais, nada de novo. Basta ver as estratégias adotadas pela Stasi ou da KGB para fazer implodir grupos de resistência com base na mentira, na divulgação de falsos informes e na destruição de reputações.
No século 21, essas informações fabricadas de forma deliberada vieram seguidas por um ataque diário contra os meios de comunicação, numa estratégia orquestrada de deslegitimar qualquer questionamento.
Constrói-se a legitimidade de canais paralelos da realidade, enquanto pilares da democracia são abalados numa estratégia por parte de um grupo que sabia que encontraria terreno fértil.
A mentira, portanto, passa a ser um instrumento de poder. E não é por acaso que, a cada quatro dias, o presidente Jair Bolsonaro dá uma declaração falsa ou imprecisa, segundo um levantamento do jornal Folha de S.Paulo. Não são deslizes. É um método.
Ela serve a várias funções: desviar a atenção das massas e da imprensa para evitar temas estruturais, recriar o passado para justificar decisões futuras ou simplesmente confundir atores que não ousariam cruzar essa linha.
A luta contra a desinformação certamente passa por uma questão de tecnologia e de Justiça. Mas o uso deliberado da angústia de uma população e o grau de aceitação de tais “notícias” devem servir de alerta para que se compreenda a dimensão dos problemas que se enfrenta.
Não bastará fechar um site e punir um difusor de desinformação se temos, ao mesmo tempo, um dos filhos do presidente, Carlos, confortavelmente publicando uma foto armado: de uma pistola e de um computador.
O antídoto terá de passar por uma sólida reação das instituições, por respostas sociais, pelo diálogo, pela aceitação das regras do jogo democrático e por um modelo que mostre que um caminho sustentável exige um longo trabalho. Também passa por uma educação que ensine a pensar, criticar e desconstruir. Não apenas a ser "útil" para o mercado de trabalho.
Uma verdadeira insurreição das mentes numa sociedade dividida e fragilizada não será construída da noite para o dia. No fundo, terá de ser permanente. Enfrentar a realidade da manipulação exigirá lidar com a dor, aceitar o contraditório, questionar as autoridades e construir uma sociedade em que líderes defendam os direitos de todos. Inclusive de seus adversários.
Desmontar o atual Zeitgeist será um missão tão penosa quanto necessária. Mas a busca não poderá ser por um novo partido no poder ou pela troca – uma vez mais – de ideologia. Mas uma busca pela civilização.
O debate sobre desinformação, portanto, não é sobre tecnologia. É sobre sociedade e democracia. E vai exigir muito mais que um debate na Câmara dos Deputados, regado a meias-verdades e muitas mentiras.Jamil Chade
A violência destrói o poder
Quando o deputado Eduardo Bolsonaro deixa-se se fotografar com uma arma na cintura e com outras de maior calibre, não exibe poder nem autoridade, mas sua negação, falta de conhecimento sobre o país e incapacidade para cumprir as funções para as quais foi eleito. Além de se abrigar atrás de meios bélicos, o 03 integra a turma dos que acreditam que ganha a parada quem grita mais alto.
Nunca esqueci conselho dado pelo reitor da faculdade de Direito onde estudei quando nos ouvia discutindo política aos berros:” não gritem, pois quem ouvir pode pensar que vocês têm razão.” Mas é outra a percepção do clã Bolsonaro, que não possui a sabedoria do velho reitor, que era padre, nem discernimento ,formação e competência para desempenhar seus papéis no governo e no Legislativo.Só sabem gritar, propagar mentiras, acusar e ofender atrás de um teclado, sem oferecer nada de bom e produtivo para construir um país melhor, mais justo e igual.
A última valentia dos 03 foi ameaçar com a reedição do infame AI5 caso ocorram manifestações das esquerdas, existentes apenas na sua mente sombria. Diante das reações, exceto do Presidente do STF, Dias Toffoli, e do PGR, Augusto Aras, que fizeram ar de paisagem, Eduardo Bolsonaro fingiu arrependimento e pediu desculpas. Não convenceu porque este é seu pensamento, tantas vezes declarado em alto e bom som.
Enquanto lideranças políticas e parlamentares repudiavam sua declaração, teve a desfaçatez de divulgar vídeo em que seu papai, então deputado federal, exalta o coronel Brilhante Ustra, condenado por tortura e um dos símbolos da repressão da ditadura militar.
Seu pedido de desculpas representa apenas uma tentativa de se render a ritos formais, que não incluem arrependimento. É uma estratégia usualmente adotada pela família e no mundo político para escapar de alguma penalidade, que não deve acontecer porque o papai, sempre protetor dos rebentos, vai colocar suas tropas de choque na Câmara dos Deputados para livrá-lo de qualquer, digamos, contratempo.
Suas desculpas soaram como propaganda em que o reconhecimento de culpa é usado na tribuna para proclamar falsos sentimentos de pesar pelos seus erros. Eduardo é reincidente. Utiliza esse método como instrumento para manter uma falsa imagem de democrata, tudo o que ele não é. Nas situações extremas, repete o script. Quem não se lembra de seu pedido de desculpas pelo twitter quando disse que bastava um soldado e um cabo para fecharem o Supremo Tribunal?
Este jogo de morde e sopra já virou padrão quando investigações policiais em curso aproximam-se do clã. O truque também é utilizado para medir até onde devem ir com seus rompantes autoritários, para aumentar ou reduzir o tom em função de suas estratégias políticas. Como todo ser humano, os Bolsonaros interpretam o mundo através do que são, pensam e conhecem. Como são toscos e não possuem as competências necessárias, seja para exercer um mandato parlamentar ou liderar o país, não conseguem perceber corretamente sua realidade, negando problemas, crises e dificuldades que afetam a vida dos brasileiros.
Em 1999, os psicólogos da Universidade de Cornell, Justino Kruger e David Dunning ,publicaram estudos onde avaliaram esse tipo de gente sem cultura, que passa longe dos livros.Concluíram que quando uma pessoa nada sabe a respeito de determinados assuntos, ocorrem dois problemas: primeiro ,chega a conclusões erradas e toma decisões desastradas devido à sua própria ignorância; segundo,sua ignorância e incompetência roubam sua capacidade de metacognição, de se dar conta quanto despreparada é para o exercício do cargo que ocupa.É o que nos governa no momento.
Quem paga a conta
Não há como continuar no rumo do progresso que mantém pobreza, desigualdade, corrupção, mudanças climáticas, degradação de serviços públicos, violência urbana, desemprego. Não é mais possível seguir destruindo a natureza com seus efeitos catastróficos; nem usar o Estado sem sacrificar a moeda, endividar as gerações futuras e prejudicar os serviços essenciais.
Dificilmente os que vão às ruas se unirão em torno de propostas que permitam enfrentar os desequilíbrios sacrificando benefícios adquiridos graças ao adiamento das medidas necessárias à sustentabilidade. Todos querem um meio ambiente limpo e equilibrado, mas não aceitam pagar o preço de consumir menos.
O Chile equilibrou sua Previdência jogando o custo sobre os aposentados, mas quem está disposto a pagar a conta da sustentabilidade: os jovens ativos, aumentando suas contribuições, os muito ricos, com fortes cortes em suas rendas, consumo e investimento, as classes médias, com sacrifício de gastos em serviços públicos, aceitando a falsa moeda da inflação?
Muitos estão contra a privatização de serviços públicos, mas quantos aceitam pagar o custo dos serviços estatais com sustentabilidade fiscal ou com o desvio de recursos da educação, da saúde, dos salários dos servidores, ou com aumento de impostos? Sobretudo quando se tem a desculpa de saber que esse dinheiro pode terminar nos bolsos de políticos corruptos.
As manifestações no Brasil, em 2013, no Chile, em 2019, e em quase todas as partes foram iniciadas por causa do aumento no preço de tarifas do transporte coletivo ou aumento no preço dos combustíveis. Todos são unânimes contra os reajustes. Mas quem aceita pagar o custo do subsídio necessário aos que usam o transporte, garantindo sustentabilidade necessária às finanças públicas e à continuação dos programas de subsídios?
O descontentamento é geral porque o modelo insustentável se esgotou e ninguém quer pagar o sacrifício necessário para lhe dar sustentabilidade. Além disso, e a internet facilita as mobilizações, ninguém confia nos políticos e não há filósofos com imaginação para propor um novo paradigma social, nem estadistas capazes de convencer o povo a pagar o custo para construir um futuro sustentável.
Notável nos pobres
Deus pôs a complacência ao lado do desespero como se fosse o remédio ao lado da doençaAlbert Camus, "O primeiro homem"
Nova York gasta 89 milhões de dólares para 'exportar' sem-teto para o resto dos EUA
O polêmico programa chamado Assistência Especial Única (SOTA, na sigla em inglês) está subordinado ao Departamento de Serviços a Pessoas sem-teto (DHS). De acordo com a informação revelada pela imprensa local, a cidade destinou 89 milhões de dólares (363,5 milhões de reais) para cobrir o transporte, o aluguel de um ano e os móveis de 12.482 pessoas que se mudaram da cidade. Isso equivale a 5.070 famílias desde que o programa foi lançado, em agosto de 2017.
Sem-teto nova-iorquino |
Newark, no outro lado do rio Hudson, em Nova Jersey, identificou 1.200 famílias que fazem parte deste programa. Agora se dispõe a adotar uma ordem municipal para proibir que sua vizinha continue lhe enviando sem-teto através do SOTA. André Wallace, prefeito de Mount Vermont, no condado de Westchester, também exige que Bill de Blasio se encarregue das pessoas que lhe enviou.
A Coalizão para as pessoas em situação de rua quantifica em 63.840 os indivíduos nessa situação na cidade de Nova York, numa contagem feita sempre nos meses de janeiro. As cifras, segundo a organização, não pararam de crescer desde que De Blasio assumiu. No caso dos homens adultos, o número duplicou durante os últimos 10 anos, superando os 18.000. As famílias passaram de 9.600 para 15.000 nesse período.
Legalidade duvidosa
Algumas das pessoas atendidas pelo programa foram parar em Honolulu, no Havaí, a quase 5.000 quilômetros de Nova York. O democrata John Mizuno, que preside o comitê de Saúde Pública do Senado havaiano, escreveu ao secretário de Justiça dos EUA pedindo que revise a legalidade da política adotada por Nova York. Considera que o programa “não garante a segurança, o bem-estar e o apoio que necessitam” essas pessoas deslocadas. “É uma receita para o desastre”, afirma. O Havaí conta com um programa semelhante.
As autoridades de Irvington, em Nova Jersey, lamentam por sua vez a falta de coordenação e supervisão. Tony Vauss, seu prefeito, insiste em que as pessoas sem casa são “cidadãos vulneráveis” que precisam de atenção permanente. Quando a ajuda desaparece, são os lugares de acolhida que precisam se encarregar deles. Como a prefeita de Torrington, em Connecticut, que ficou sabendo do programa nova-iorquino pela imprensa.
A gravidade da crise, diz a coalizão, “não é uma surpresa”. Pode-se comprová-la passando em frente ao albergue masculino administrado pela ONG Basic Housing no bairro do Upper West Side. É um fervedouro de gente que entra e sai do prédio. Há alguns anos, ali havia apartamentos para aluguel turístico, que foram incorporados ao sistema para responder ao aumento da população de pessoas "sem-teto".
Os especialistas do Manhattan Institute dizem que o programa reflete o “desespero” por tratar de reduzir o censo das pessoas em situação de ria. E embora levá-los a outras cidades com moradia mais barata possa ser útil, a Coalizão de Pessoas Sem-Teto adverte que não se trata de uma opção realista para pessoas que não puderem ser autossuficientes quando o subsídio expirar.
Economia para o contribuinte
“É injusto que a maior cidade dos EUA aborde o problema das pessoas sem-teto enviando-as a outras comunidades sem avisá-las”, lamenta o prefeito de Yonkers, Mike Spano. Essa localidade nos subúrbios de Nova York já recebeu mais de 130 famílias, embora nunca tenha tido uma notificação oficial. A solução, concordam os prefeitos, não é enviar essas pessoas a outras cidades.
O DHS nega estar “exportando” as famílias e insiste em que o programa foi concebido para ajudar os beneficiários a encontrarem uma moradia onde possam iniciar uma nova vida. Para justificá-lo, explica que acolher os sem-teto nos albergues municipais custa até 70.000 dólares (285.880 reais) para uma família com filhos, enquanto que pagar-lhes um aluguel em outra cidade ronda os 17.500 dólares (71.470 reais).
O argumento da economia para o contribuinte, entretanto, é questionável, e não só porque se transfere o custo a outras cidades. Comprovou-se que 35% dos beneficiários do programa de assistência se mudaram para dentro dos limites da área metropolitana, onde os aluguéis são mais altos. E muitos, além disso, acabam voltando em poucos meses aos albergues de Nova York, por causa das más condições das suas moradias.
O Senado do Estado de Nova York está investigando o programa de assistência por causa dos numerosos protestos dos prefeitos. A própria Prefeitura, depois de detectar “vulnerabilidades severas” em sua execução e nas responsabilidades assumidas pelos proprietários dos imóveis de acolhida, também está analisando a questão.
Férias para todos
É fato: no tempo em que uma atendente do McDonald’s brasileiro serve um cliente, uma americana atende quatro. O mesmo nas caixas de supermercados e check-ins de aeroportos. Na burocracia oficial. Um precioso tempo das nossas vidas, que poderíamos usar para descansar ou nos divertir, mas foi roubado.
Produtividade é o nome do jogo, fazer o melhor uso do tempo para produzir mais e melhor, é a distancia entre o progresso e o atraso.
No Brasil, são os que ganham os maiores salários do serviço público que querem o dobro do tempo de férias que têm os contribuintes que lhes pagam os salários, como defende o procurador-geral da República, chefe de uma instituição que existe para defender a ordem jurídica e os direitos do cidadão. Querem o tempo e o dinheiro.
O chefe diz que os procuradores merecem 60 dias de férias porque seu trabalho é exaustivo, estressante e até desumano. E quantos meses de férias deveria ter um médico da emergência de hospital público? E uma enfermeira? E um motorista de ambulância? Juntos, eles ganham uma fração do salário de um procurador. E deles depende a vida das pessoas.
Como dizia o imortal Stanislaw Ponte Preta, ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos. Se os procuradores têm direito, os juízes e os servidores da Justiça têm, os congressistas, os vereadores, os professores têm, todas as categorias com lobbies fortes têm, todo mundo quer dois meses de férias — uma jabuticaba de que nenhuma categoria profissional desfruta em qualquer país desenvolvido e mais rico do que nós.
E o deboche de chamar de “recesso” o ócio remunerado é como Bolsonaro chamando a censura de “filtro”.
Nelson Motta
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