segunda-feira, 4 de abril de 2016

O impeachment ou o caos

Embora o governo já tenha acabado, a presidente Dilma, Lula e o PT se agarram por todos os meios ao poder. Utilizando uma linguagem popular: não querem largar o osso de forma nenhuma!

Os meios são os mais diversos possíveis, apesar de terem uma denominação comum: a ausência de escrúpulos, a falta de pudor e a desconsideração de toda moralidade. Tudo vale, contanto que o aparelhamento partidário do Estado seja mantido e os seus “benefícios” conservados.

Os paparicados de ontem tornam-se os “golpistas” de hoje. A fábrica de destruição de imagens volta a funcionar a todo o vapor, tendo agora como alvos prediletos o vice-presidente Michel Temer e o PMDB. A estratégia é velha conhecida, tendo sido utilizada frequentemente pelo PT. Incapaz de se defender e de dar conta dos seus atos, volta-se para o ataque, atribuindo aos outros os seus próprios feitos.

Por exemplo, culpa o “neoliberalismo” e o “ajuste fiscal” (não realizado, aliás) por uma crise produzida por ele mesmo, graças a tal da “nova (vetusta) matriz econômica”, da irresponsabilidade fiscal, da destruição da Petrobras, do descontrole dos gastos públicos, da tolerância com a inflação e assim por diante. Em uma curiosa perversão, responsabilizam os outros por sua própria irresponsabilidade.

O governo Dilma, o ex-presidente Lula e o PT devastaram a coisa pública, produzindo um cenário de terra arrasada. A corrupção tornou-se um meio de governar. Os escândalos mostram milhões e bilhões de reais sendo apropriados partidária e privadamente em conluio com empreiteiras inescrupulosas. O discurso, no entanto, é o de que, se corrupção há, seria igual em todos os partidos. A lama é atirada em todos para justificar a sua própria sujeira. E, embuste maior, a crise atual teria como responsável o “capitalismo” e a “direita”!

O país ruma para a crise social, com o desemprego aproximando-se de dez milhões de pessoas, em curva ascendente, a inflação próxima de dois dígitos e uma quebra geral de expectativas. A dita classe média ascendente, que acreditou na ficção política petista, está sendo arremessada de volta à sua condição anterior. Saborearam a mudança e, agora, tudo perderam. E qual é o discurso: o PT defende os pobres e o emprego! Haja cinismo!

Politicamente, o governo continua em seu persistente esforço de dividir o PMDB e de destruir a coesão de qualquer partido que se interponha em seu caminho. A hegemonia petista não permite nenhuma alternativa partidária.

Com a abandono amplamente majoritário do PMDB, com alguns fisiológicos mais extremados ainda resistindo, o governo Dilma partiu para uma “repactuação”. Nome bonito que significa apenas uma negociação ainda mais imoral com o baixo do baixo clero dos partidos, que ainda pretendem saquear um pouco mais os cofres públicos. Seria a sua última chance! É a fisiologia em estado puro, sem nenhum disfarce. Haja falta de vergonha!

Ideologicamente, a narrativa petista é a de “resistência ao golpe”, que é nada mais do que uma preparação para a passagem sua à oposição, caso, como tudo indica, o impeachment vingue. O desrespeito à Constituição é manifesto, pois o impeachment é um instituto constitucional. Aliás, o próprio PT saudou o rito deste instituto quando estabelecido pelo Supremo. No passado, defendeu o impeachment do ex-presidente Collor e propôs o impeachment do ex-presidente Fernando Henrique. Para eles, a Constituição é somente um papel descartável, cuja serventia depende unicamente do seu uso partidário.

Considere-se, contudo, a possibilidade de que o governo, em seu afã de sobrevivência e falta de escrúpulo com a coisa pública, consiga um quórum que lhe permita se salvar do impeachment. Imaginem a seguinte situação: graças às suas manobras fisiológicas e outras, o governo teria conseguido impedir que as oposições reúnam os 342 votos necessários, tendo chegado a 340.

Qual seria a legitimidade de um governo deste tipo? Como poderia governar? Como seria capaz de tirar o país do buraco em que ele mesmo o colocou?

O amanhã seria de mais crise econômica, mais fisiologismo e corrupção, mais desemprego, mais indignação moral e, talvez, convulsão social. A crise, em suas mais diferentes facetas, só se acentuaria.

O governo Dilma, para além de sua incompetência, foi incapaz de reconhecer os seus próprios erros. O PT, aliás, tem como único mote a sua repetição. Até o ex-presidente Lula, que teve um primeiro mandato sensato do ponto de vista econômico, adotou a mesma bandeira do descalabro fiscal e de destruição das instituições. Hoje teme a prisão, assim como vários de seus companheiros.

Se o impeachment não vingar, o país ruma para o caos.

Abre-se, porém, uma oportunidade, a de que o impeachment seja uma operação bem-sucedida, com deputados e senadores voltados para um bem maior que é o país. O desafio diante de nós seria enorme: tirar o Brasil do precipício no qual se encontra.

Trata-se de uma saída constitucional, que preservaria nossas instituições e oferecia aos cidadãos uma real alternativa, não apenas de poder, mas, sobretudo, de futuro. Urge que o país entre em um processo de pacificação e de unificação nacional. O governo atual já se mostrou claramente incapaz de um empreendimento deste tipo. Se ainda procura resgatar esse discurso, é apenas para encenar um fiapo de credibilidade.

Em caso de impeachment, assumiria o vice-presidente, que tem afirmado reiteradamente o seu compromisso com as instituições, com o prosseguimento da Lava-Jato e com um projeto de transformação do país, baseado, precisamente, em um grande pacto nacional.

Isto significa que todos os partidos deveriam ser chamados para colaborar com esse projeto de reunificação nacional. Todos os que ainda estiverem presos aos “cargos” e às suas "benesses" deveriam ser deixados pelo caminho, pois escolheram o passado — que está passando rapidamente!

A oportunidade é única. Não podemos perdê-la!

Denis Lerrer Rosenfield

Intolerância

Preocupação com intolerância é obviamente saudável. E deveria ser permanente. Mas a verdade, é que este nunca foi um país tolerante. Em tempo algum. Dizer o contrário seria, na melhor das hipóteses, coisa de mitômanos. Na pior, mentira mesmo.

Este é país onde a historia registra abolição tardia (se é que dá para dizer que a escravidão teria sido normal em qualquer tempo). Onde ditaduras governaram durante boa parte do seu período republicano. Onde violência é parte da vida cotidiana. Este nunca foi país tolerante. E muito menos pacifico.

Conviver com opiniões divergentes nunca fez parte de nossa historia. A gente não esta acostumado com isso. Nem com democracia, nem com diversidade de opinião. Talvez ai esteja uma de nossas mais sérias limitações. Por isso tantos adjetivos. E tão poucas ideias. As redes sociais estão ai para demostrar.

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O diabo é que esta ausência de hábito em praticar a democracia torna a comunicação rasa, ou sem razão. Tudo se resume a lados. E cada lado, toma sua versão como a única possível. E sua narrativa própria como verdade. Independentemente dos fatos, eventos ou realidade.

Na poeira levantada por discussões incontáveis, intermináveis, e muito provavelmente improdutivas, silencia a voz da razão. Muito menos a ideias diferentes. Ouvidos estão abertos somente a aliados ideológicos. E os olhos somente aceitam fatos que ornem com ideias pré-concebidas. Todos falam. Ninguém ouve.

Hoje em dia, não se trocam ideias. Vale tudo. Inventar fatos, usar adjetivos, distorcer, mentir. Tudo em nome de ideologia que, sequer, vem acompanhada de projeto. Argumentos cuja qualidade é aparente e exclusivamente medida em decibéis.

Apesar do histerismo, não existe ameaça totalitária a vista. Nem de golpe. E mesmo neste caos, a democracia mostra suas virtudes. Espera emergir consenso da paralização causada por impasses engendrados em diálogos de surdos.

Democracia é aprendizado, prática. E isso toma tempo. E paciência. E tolerância. E até mesmo tolerância com a opinião dos intolerantes.

Os ídolos são os mesmos

Eu queria entender que golpe é esse que não vai ter. Num dos comícios que tem feito no Palácio do Planalto, Dilma tentou explicar: “A forma do golpe está sendo a ocultação do golpe.” Bem, Dilma nunca foi muito boa de explicação, né? Então é o golpe oculto. Eu sempre tive dificuldade de encontrar o sujeito oculto nas análises sintáticas. O golpe oculto, então, não vou nem tentar. É melhor ouvir os ídolos da classe artística para ver se me esclarecem. Eles estão com a corda toda. Frequentam muito os comícios da Dilma no Palácio. Chico Buarque é mais povão. Não vai a palácios. Prefere subir em palanques no Largo da Carioca. Diz que está lá em “defesa intransigente da democracia”. Ah... tem isso também. Defende-se muito a democracia. Parece que ela está ameaçada. Milhões de pessoas vão às ruas pedir o impeachment de Dilma. No dia seguinte, milhões de outras pessoas também vão às ruas em apoio a Dilma. Não há repressão, não há brigas, não há ameaças. As ruas são abertas para que os manifestantes as ocupem. De um lado e de outro. É essa a democracia ameaçada?


Quem sabe Letícia Sabatella me explique o que está acontecendo. Ela também está no comício para os artistas no palácio. “Eu sou oposição ao seu governo, presidenta Dilma, mas eu tenho um contentamento em poder dizer isso na sua frente e dizer que vivo num Estado que se pretende utopicamente em realidade, em transformação, em exercício, nesse momento, nesse governo de ser um Estado democrático.” Bem, não entendi completamente. Duvido que alguém tenha entendido. Mas fiquei com a impressão de que Letícia pensa que Dilma foi quem inventou a democracia. Será?

Acho que Letícia foi só confusa. Ela disse que vive num Estado que se pretende “utopicamente” ser um Estado democrático. Então, Dilma só chegou utopicamente à democracia. Bem que ela avisou que fazia oposição. Mas confesso que me ofendi com as palavras de Aderbal Freire Filho. Acompanho a carreira de Aderbal desde o tempo em que ele se chamava Aderbal Júnior. Ele é tão boa gente que dá para relevar a condição de ator irremediavelmente canastrão. Mas é um grande diretor. Dos mais importantes que o Rio de Janeiro abriga. Suas palavras têm importância. Aí o Aderbal vai lá e diz que o que tem vivido é uma comédia de costumes de Molière que poderia se chamar “Os virtuosos ridículos”. A plateia riu, portanto deve ter entendido. Eu não sei bem a quem Aderbal se refere. Estaria Aderbal vindo contra os que têm combatido a corrupção? São esses os virtuosos ridículos? Certamente ele não está falando de Lula, Delúbio Soares, José Dirceu ou Silvio Pereira. Esses não têm nada de virtuosos. Não visto a carapuça, então, a graça de Aderbal não me ofende. Na verdade, só fiquei ofendido quando Aderbal, lentamente, falou que “a gente vê a grande imprensa manipulando”.

É a velha história da imprensa golpista. Conheço uma senhora que pensa assim. Fala mal do GLOBO, acusa o jornal de ser manipulador, diz que não o lê mais, garante que só as redes sociais são confiáveis, mas liga pra colunista daqui pedindo notinha sobre a turnê na Europa do marido artista. É uma certa incoerência, não é? Não, Aderbal não tem nada a ver com isso. É só o discurso que é igual. É até ingênuo. Como se O GLOBO ou outro órgão qualquer da grande imprensa fosse responsável pelo saque à Petrobras. Mas não adianta argumentar assim. Eles não gostam de falar de corrupção. Isso é assunto para virtuosos ridículos.

Vejo que Beth Carvalho também está ali no palco improvisado que a Dilma armou para seus defensores. Beth me emociona politicamente. Principalmente pela sua fidelidade quase canina a Leonel Brizola. O mundo pode acabar, mas Beth Carvalho sempre será brizolista. Diria que é um amor quase maior, se não for maior, do que o que ela sente pela Mangueira. Sei que Beth votou em Dilma, sei que seu amado PDT faz parte da base aliada, mas, mesmo assim, estranho quando ela participa desses atos. É que temo que, a qualquer momento, ela esbarre no ex-presidente e quase ministro Lula. Beth, como fazia Brizola, deve ter se referido a ele várias vezes como Sapo Barbudo. Vai que ela comece a rir quando o encontrar...
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A vida não está nada fácil. Se acho que crimes de responsabilidade cometidos por quem ocupa a Presidência da República devem ser punidos com o impeachment, sou golpista. Se acho que qualquer pessoa tem o direito de apresentar uma denúncia no Congresso pedindo o impeachment da presidente, sou fascista. Se acho que a corrupção não é justificada pelo ganho social, sou coxinha. Respiro fundo. E aplaudo Chico, Aderbal, Beth e Letícia por exercerem seu direito de se manifestar. Se depender de mim, ninguém vai ter exclusividade sobre o uso da democracia.
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No mais, é como diz a presidente Dilma, agradeço a todos e a todas.

Lula, o dono do mundo, define data de decisão do STF, hora de assumir governo, distribuição de cargos, etc

Luiz Inácio Lula Dono do Mundo da Silva está impossível. Ele já definiu que, na próxima quinta, vai assumir a chefia da Casa Civil, quando, segundo disse a aliados, deve tomar, então “as rédeas” do governo. Bem, para que isso aconteça, terá de derrubar Dilma do cavalo. Qual é o problema? Ele derruba. Já derrubou.

O bicho não brinca em serviço.

E por que na quinta?
Porque há a possibilidade de julgamento da liminar concedida por Gilmar Mendes, do STF, que atendeu pedido da oposição e suspendeu o ato de Dilma por desvio de função. Afinal, como resta claríssimo, o objetivo ao levar Lula para a Casa Civil foi mesmo — como deixa claro a Procuradoria Geral da Geral da República em parecer encaminhado para outra ação — retirá-lo da alçada do juiz Sérgio Moro.

Lula deu um golpe em Dilma e já manda no governo. Transformou-a em boneco de mamulengo. Mas ainda não manda no tribunal. Se o ministro optar pela simples ratificação da liminar, a decisão será tomada nesta semana. Se, no entanto, decidir já tratar do mérito, pode ficar para a semana que vem.

Nunca se assistiu a coisa semelhante na política brasileira. Houve, sim, figuras fortes na República que podiam fazer sombra a este ou aquele dirigentes, mas um caso como o que está em curso é inédito.

Leiam os jornais e os sites noticiosos. Ficamos sabendo que Lula está negociando diretamente com as bancadas, especialmente do Norte e Nordeste, e procedendo à farta distribuição de cargos, embora não ocupe função nenhuma na burocracia.

Dilma tem o desassombro e a cara de pau de terceirizar o governo a quem nem mesmo ocupa uma função formal. Concede, assim, a Lula o seu terceiro mandato, exercido ao arrepio da lei e da Constituição.

Quanto ao Supremo, ele está certo de que vai ser um passeio, não é mesmo? É o tribunal que ele já disse acovardado; é o tribunal em que em deixa claro ter seus interlocutores (“manda a Dilma falar com a Rosa”); é o tribunal que ele imagina de joelhos.

Lula, como fica evidente, aposta todas as suas fichas no chamado “baixo clero” da Câmara. E aposta que também há um baixo clero no Supremo para fazer as suas vontades.

Dilma acena com governo pior

Em meados de agosto de 1992, o empresário alagoano Paulo Cesar Farias, conhecido como PC Farias, ex-tesoureiro da campanha do então presidente da República Fernando Collor e eminência parda do governo, procurou em Brasília o também empresário Luiz Estevão de Oliveira, seu amigo e parceiro em negócios, e pediu-lhe um favor especial: que guardasse no cofre de sua casa uma alta soma em dinheiro vivo.

O dinheiro serviria para aliciar votos de deputados e senadores dispostos a derrotar um eventual impeachment de Collor.

O governo fracassara no combate à inflação. E fora atingido por denúncias de corrupção que estavam sendo investigadas por uma CPI do Congresso. As ruas exigiam a queda de Collor. Só lhe restava comprar apoios com dinheiro, cargos e promessas.

A cada telefonema de PC Farias, Luiz Estevão sacava dinheiro do cofre e providenciava sua entrega ao parlamentar indicado. A 10 dias da votação do processo na Câmara, PC parou de telefonar.

Havia dinheiro de sobra no cofre, mas já não havia deputados à venda. Em 29 de setembro, o impeachment foi aprovado por 441 de um total de 509 deputados. O Senado cassou o mandato de Collor em 29 de dezembro.


O desfecho, agora, do segundo pedido de impeachment da história recente do país passará pela decisão a ser tomada por um grupo de 40 deputados que se diz indeciso.

Se ao fim e ao cabo, 342 deputados de um total de 513 disserem “sim” ao impeachment, caberá ao Senado julgar Dilma por crime de responsabilidade. Se apenas 172 deputados disseram “não” ou se abstiverem de votar, o processo estancará na Câmara.

Para salvar Dilma, não se descarte a compra de votos mediante dinheiro em espécie.

Outras moedas começaram a ser usadas – oferta de Ministérios e cargos em diversos escalões do governo, liberação de emendas ao Orçamento para a realização de obras em redutos eleitorais de deputados, e promessas de ajuda em tribunais superiores para os encrencados com a Lava-Jato (Alô, alô, Renan Calheiros!).

Acostume-se com a insignificância das siglas destinadas a conduzir áreas estratégicas da administração pública: PTN, PHS, PSL, PEN e PT do B. Elas têm 32 deputados. PP, PR, PSD PRB são considerados partidos da segunda divisão, mas reúnem 146 deputados.

O PRB do mensaleiro Valdemar Costa Neto, condenado a sete anos de prisão, será agraciado com o Ministério de Minas e Energia.

Na bolsa informal de valores do Clube da Falsa Felicidade, o outro nome pelo qual o Congresso é chamado em Brasília, pagou-se R$ 400 mil na semana passada para o deputado que se abstivesse de votar o impeachment. Ao que votasse contra, R$ 1 milhão.

O mercado está com viés de alta. A oposição parece mais perto de atrair 342 votos a favor do impeachment do que o governo 171 contra.

Uma possível vitória do governo não será comemorada nem mesmo por ele. Há pedidos de impeachment na fila da Câmara. A Justiça examina a impugnação da chapa Dilma-Temer por uso de dinheiro sujo. E se agrava a maior recessão econômica que o país já conheceu desde o início do século passado.

Como Dilma enfrentará tudo isso com um governo muito pior do que o atual?

Isolada no Palácio do Planalto, transformado em aparelho político, Dilma recusa saídas que poderiam deixá-la menos mal com a História – a renúncia ou a convocação de novas eleições gerais. Tenta controlar os nervos à base de calmantes.

Feira livre, xepas e droguitas

Era um governo. Era, admitimos, um projeto de poder que ao menos pretendia diminuir a miséria e desigualdade. Mas desde o início da chegada ao Poder, quando podiam fazer e realizar as coisas e os sonhos, 14 anos atrás, e até pouco antes, já se sentia no ar alguma coisa errada. Ora apareciam se lambuzando estranhamente num mundo burguês, ora um ou outro até por ser mais purista ou ingênuo saía espirrado do grupo, e saía atirando, alertando.

Do que eram chamados, ou do que ainda são chamados os que não estão mais em suas fileiras? De loucos. De traidores. Do que são chamados todos, e de forma indiscriminada, os que agora veem e tentam salvar as coisas indo barranco abaixo – sim, as coisas e o país estão indo barranco abaixo – os que registram dia a dia a falência total? De golpistas. Ah, e de nazistas, racistas, machistas, fora os palavrões cabeludos que devem falar em quatro paredes. Sim, nazistas, ouvi um celerado desse outro dia acusar. De gagás, ouvi uma deputada chamar um respeitável advogado. Pouco importa se a sua história também foi a deles por muito tempo – pedem respeito, mas não sabem o que é isso. Bateu o desespero. E eles montaram uma feira livre, cheia de barraquinhas de negociar cargos, e o tal poder. Poder esse que de pouco adiantará se obtido assim, se mantido. Será poder sem paz, sem futuro.

Golpes de marketing martelando cabeças, com cor, slogan#nãovaitergolpe, alguma ajuda de custo, patrocínio de algo, robôs digitais, distribuição de bandeirinhas, camisetas, sanduíches, água, e à frente pobres, de preferência negros, mulheres, camponeses ou sem-terra, ou sem-alguma coisa, de carteirinha. Uns “coletivos” disso, daquilo. Inflamados. Os tais “jornalistas livres”, e que um dia entendo do que vivem, irradiando as manifestações organizadinhas como se fossem a entrada gloriosa dos justos nos céus. Líderes de centrais sindicais, de sindicatos pagos com taxa obrigatória que cai todo mês lá no caixa, escoada do salário dos trabalhadores, inclusive a nossa, os jornalistas PIG-PEG-PUG, que ou trabalham para os jornais e revistas que podem ser comprados em bancas, ou se sustentam no limiar da liberdade. Pronto. Um palanque e muita gritaria e ameaça, além de discursos cheios de ódio, perdigotos e erros de português. Os artistas comovidos encheram os olhos de água. Os progressistas e toda sorte de rótulos da esquerda do tempo do onça saíram bradando junto, em coro, como se não vissem que o país está à venda, à beira do abismo. Na hora da xepa. Sendo trocado por bananas.

Essa é a parte que não consigo entender. Acho lindo acreditar ainda em ideologias, em ideais. Mas porque, então, não estamos juntos os que querem resolver o problema com seriedade? – Sim, temos um problema e ele é gigantesco, avassalador. Porque não ter a dignidade e a humildade de tentar juntar ao invés de diariamente forçar dividir? Eduardo Cunha não estaria lá. As instituições não estariam sendo tão feridas. Se há golpistas no meio disso tudo, e deve haver mesmo que tem maluco para tudo, seriam mais facilmente neutralizados em suas muitas e repugnantes ignorâncias que todo dia também me escandalizam.
Mas ao contrário: provocam, cutucam os instintos mais primitivos, desrespeitam leis, confundem o Estado e a Nação com partidos, fazem de palácios palanques inflamados, pesam a mão. Vendem um peixe que não pescaram.

Não o fazem – buscar a união – porque não querem. Cada dia isso fica mais claro. Montaram barracas e estão vendendo acarajés e seus pastéis de vento, literalmente tomados com caldo de cana.

Nas planilhas dos empreiteiros e doações, nomes, que associados aos pagamentos ainda ganharam fantásticos apelidos, como na feira um e outro feirante costuma usar, mas os deles são mais suaves – alemão, negão, dona maria, curíntia. No mundo político, caranguejo passeava com passivo (!), nervosinho anda lado a lado com rico eproximus. Com acessos de bom humor nas definições, avião era a deputada comunista bonita; 333, a meia besta, o José Serra. Jarbas Vasconcelos, o que não pode ver uma miss que casa com ela, chamado de viagra.

Empreiteiros lidavam com todos e os juntavam, sempre hábeis, com rejunte, com seu cimento particular. Presos ou impossibilitados agora de exercer qualquer autoridade não existem mais laços – é o salve-se quem puder. Daí as cenas de pugilato que assistimos diariamente.

Como numa feira, cada um grita mais para atrair o cliente. Oferece ministério como se fosse laranja descascada. E frutas nobres, como a Saúde e a Educação, entram na barganha. Do outro lado, se ofertam possibilidades, previsões. Ficção.

Mas, mesmo nessa feira, é preciso que notem, já chegou a hora da xepa. O fim da feira quando os restos que talvez já não servirão para muito mais coisas serão ofertados. Não adianta mais. As barracas que estão tendo mais frequência são aquelas dos cantos, as que consertam os cabos das panelas velhas que tilintam das janelas. Logo também haverá fila nas de flores que serão levadas ao enterro dessa era de excrecências que se transformou o tal governo popular.
Melhor mesmo que seja apenas esse o sentido da xepa; melhor que ser comida de militar, jornal já lido, com notícias daqueles tempos horríveis lá de trás.
Quanto ao tarja preta que a presidente odiou dizerem que está tomando, e que ainda deverá ficar até 12 % mais caro esses dias como todos os remédios, a proposta é que, se possível, seja socializado algo parecido a todos os brasileiros. Estamos todos esquizofrênicos, ansiosos, perturbados, alternando momentos de euforia e depressão.

Relator deve recomendar aprovação do impeachment em comissão até quinta

Enquanto Dilma Rousseff repete o mantra segundo o qual “não vai ter golpe”, o processo de impeachment avança. Relator da comissão que trata do tema na Câmara, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) pretende apresentar seu parecer até quinta-feira. O Planalto suspeita que Jovair, um soldado da infantaria de Eduardo Cunha, redige o documento com a caligrafia do presidente da Câmara. Dá-se de barato que o deputado votará a favor do impedimento.

Nesta segunda-feira, vence o prazo para que Dilma apresente, por escrito, sua defesa junto à comissão do impeachment. A peça converterá o processo num “golpe” sui generis, condicionado ao amplo direito de defesa. O “atentado à democracia” ficará ainda mais inusitado no final da tarde, quando o ministro petista José Eduardo Cardozo, advogado-geral da União, comparecerá à comissão para fazer a defesa oral da presidente. Remunerado pelo contribuinte, repetirá que “não há base legal” para o impedimento.



Cumpridos os rituais da defesa e da acusação, os membros da comissão estarão aptos para deliberar. O regimento prevê que os deputados poderão pedir vista do processo. O que deve empurrar a decisão final da comissão para a semana que vem. O Planalto está pessimista. Avalia que formou-se na comissão uma maioria contra o governo.

Numa articulação comandada por Lula, rebaixado da condição de ex-presidente para a de ex-quase-futuro-ministro, o governo se equipa para tentar reverter no plenário da Câmara a tentedência pró-impedimento. Faz isso golpeando as mais trivais noções de ética e moralidade, negociando cargos e verbas com políticos que precisam de interrogatório, não de negociação.

A despeito da atmosfera de amoralidade, o governo ainda não obteve as 172 adesões de que precisa para evitar que a oposição chegue aos 342 votos necessários à aprovação do impeachment na Câmara e o consequente envio da peça para o Senado.

Madame não merece ficar onde está

Certos estadistas, historiadores, santos e generais, entre tantas categorias que se destacam na vida em sociedade, conseguem desfazer através do humor, um monte de ilusões e até de enganações apresentadas como definitivas. Estamos numa situação igual a tantas milhares de outras. A presidente Dilma Rousseff reelegeu-se em outubro passado, anda mal de popularidade, mas está faltando um raio de luz capaz de mostrar sua verdadeira face. Algum fato novo em condições de tirar o Brasil da contra-mão. De expor que se não deu certo até agora, pior vai ficar. Acima e além das sequelas e querelas que envolvem a incertezas do impeachement, porque o país necessita de novos rumos.A História é inexorável.

Leônidas, à frente de trezentos espartanos, foi ameaçado por Xerxes, imperador da Pérsia, para que se rendesse, pois chefiava tantos soldados que se disparassem suas flechas a um só tempo, cobririam a luz do sol. Veio a resposta: “melhor, combateremos à sombra”. Os gregos venceram a batalha...

Herói da batalha de Queronéia, Alexandre aproximava-se para tornar-se senhor do mundo e, de passagem por Atenas, quis conhecer o mais sábio dos gregos. Diante de Diógenes, que morava num barril, vestido de andrajos, indagou o que poderia fazer por ele, dando-lhe tesouros, palácios e riqueza sem limites. Resposta: “Majestade, não me tireis aquilo que não me podeis dar”. Alexandre encontrava-se de pé, na porta da miserável moradia, entre o sábio e a luz do sol...

O rei Hierão, da Sicília, dera a um escultor de Siracusa certa porção de ouro para a construção de uma coroa. Quando o trabalho foi entregue, pesava tanto quanto o ouro, mas surgiram dúvidas: não teria o ourives substituído parte do ouro por prata? Durante várias semanas Arquimedes quebrou a cabeça, mas ao entrar numa banheira, notou que a água transbordava na razão da profundidade da imersão de seu corpo, e que seu corpo fazia menos pressão para baixo quanto mais fundo submergia. Concluiu que um corpo flutuante perde menos peso em proporção ao volume de água que desloca. Um teste com a coroa submersa revelou a quantidade de prata que fora empregada e quanto ouro fora roubado...

Voltaire, precursor da Revolução, foi enviado à Bastilha pelo Regente da França. Arrependido, o monarca mandou soltá-lo e ainda concedeu-lhe vultosa pensão. Em carta a Felipe, Voltaire agradeceu os cuidados para sua alimentação mas acrescentou que de agora em diante, de sua habitação, cuidaria ele mesmo...

Tancredo Neves, então governador, recebeu a informação de que havia na bancada mineira mais deputados favoráveis à formação do Estado do Triângulo do que defensores da integridade de Minas. Mandou perguntar onde estava a lista dos separatistas, avisando todos os seus partidários para assiná-la. Até hoje, Minas é uma só...

Aparício Torelli, futuro Barão de Itararé, era estudante de Medicina, mas não ligava para os estudos. Diante de vetusta banca examinadora, não conseguia responder uma única pergunta. Foi agredido por um mestre que, diante do silêncio do aluno, dirigiu-se a um contínuo e ordenou: “seu” José, traga-nos um monte de capim!” Resposta do Aporelli: “e para mim, um cafezinho...”

Milhares de exemplos podem ser pinçados na História para provar que as coisas frequentemente não são o que parecem. E que Madame, com todo o respeito, não merece ficar por muito tempo onde está...

A tábua de salvação

Poucos duvidam que o relator da comissão que analisa o pedido de impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), dará um parecer favorável ao impedimento da presidente Dilma Rousseff. Está no cargo de relator e o aceitou para cumprir com essa missão.

Na agenda do processo, que se iniciou em 18 de março, são previstos 30 dias para apresentação e votação do relatório de Jovair Arantes. Até 17 de abril, deverá ser consumada essa primeira etapa. Seguirá para votação no plenário da Câmara. Dilma apresentará defesa no prazo de cinco sessões antes que o júri, formado por 513 deputados, se pronuncie. Ao menos 342 votos serão necessários para destituir a presidente.

A Câmara será a primeira instância julgadora, mas é o momento em que se decreta, com o impeachment, a sobrevivência meramente vegetativa daquilo que resta do governo.

Portanto, já no mês de abril, pode ocorrer a morte cerebral do governo Dilma Rousseff, tirando-lhe as funções indispensáveis para manter-se com vida.

Nota-se que, se não fossem a extensão e a fidelidade das bases sindicais do governo petista, a história de lutas do PT, já teriam perdido força os batimentos cardíacos do governo Dilma, consequência de descuidos e imperícias.

Ela equivocou-se nas decisões mais importantes de seu mandato, trocou corte por aumentos, aumentos por corte, lá onde havia excesso se encarregou de ampliá-lo, onde encontrou carências acabou por acentuá-las. A principal desgraça que se abateu no Brasil, desacelerando o crescimento e jogando a economia em queda livre, são precisamente os erros do governo, e não a capacidade da oposição de conspiração – uma oposição dividida, fraca e contaminada pelos mesmos vícios e práticas.

Mais de 1,1 milhão de desempregados nos últimos três meses são dose de elefante de se aguentar. Um terremoto que equivale a uma massa de salários de R$ 2,5 bilhões com consequência nas contas previdenciárias e no erário em geral.

Desanima a plateia, ainda, a ausência de perspectivas e de percepção dos fatores que desestruturam os mercados e devastam o sistema. Onde precisa-se de alívio tributário deram-se aumentos que saíram pela culatra, elevaram-se juros e carga tributária onde precisava aliviá-los. Matou-se a vaca que alimentava com seu leite a família.

A culpa de Dilma está na falta de compreensão do teclado a sua frente. Quer um bom acorde, mas aciona as teclas erradas.

Os setores siderúrgicos, automotivos e de bens duráveis sofreram queda de 50% nos últimos dois anos. Por mais mauricinho que seja o Joaquim Levy, o resultado dele é um desastre. Nelson Barbosa também passará à história como o almirante da maior derrota econômica de todos os tempos, dando tiros no casco do navio que comanda.

Dilma tem a infelicidade de se escorar no PMDB, o partido que chupa ministérios dentro do governo como tolete de cana e assovia o impeachment no Congresso.

A esfera política brasileira da atualidade é a mais contaminada e fraca de todos os tempos. Falta até qualidade à oposição para se erguer como alternativa ou fazer seu papel republicano de contraponto.

Dilma se desautoriza a cada dia. Enche seus discursos de “golpe” sem atinar que o que se quer ouvir dela são planos e medidas, saídas e soluções.

“Golpe”, “impeachment”, “renúncia”, “troca de governo” são palavras que entram em jogo para tratar a forma menos dolorosa de eliminar um mal maior, um governo insatisfatório. Nenhuma nação merece aguardar de braços cruzados anos de demolição nacional.

Propostas de ações efetivas, acenos à compreensão das causas do estrago gerado. Dilma vai para outro lado à procura de discursos. Faz arrepiar os passageiros do Titanic que ela pilota. Naturalmente, passam a querer que o timoneiro seja outro.

Já deveria ter convocado bons empresários, e não escroques disfarçados de empreiteiros e banqueiros; profissionais competentes, e não boquinhas. Deveria apresentar um plano que vai além do aumento da carga tributária. Notáveis da nação, e não figuras indignas com o único trunfo chantagista de serem donos de partidos, deveriam estar em seu governo ou frequentar a mesa das principais decisões.

Em qualquer lugar do mundo e qualquer cargo a incompetência e o fracasso são mais que justos para motivar uma substituição. A renúncia por vez surge como facilitador do impasse. Os eleitores podem ter esgotado a confiança. Apenas isso é suficiente num país civilizado para motivar a substituição. Mais ainda com a descoberta de uma presença alarmante de criminosos na gestão da máquina pública.

O país transformado em cemitério de empregos e de empresas não é o suficiente?

Precisa esperar que o Brasil fique cinza para trocar de governo?

Esse é problema a se discutir.

Dilma perde o momento de convocar com serenidade a nação para um pacto de eliminação da corrupção, da ineficiência, da inversão de papéis de um Estado opressor e perdulário. Cabe a ela convocar pessoas boas, e não persistir no erro.

Nomear ministros notáveis para salvar a nação, e não representantes de partidos que precisam se reciclar e mudar de nome.

Menos mordomias e mais austeridade, menos incompetência e mais experiência, banir a corrupção e promover a ética e a legalidade.

Dizer e fazer isso! Se ainda encontrar força e lucidez. Evitará ou dificultará o impeachment e evitará sofrimentos desnecessários e um clima de guerrilha. Pensar em salvar a nação, mais que se salvar. E as duas se salvarão.

In memoriam


Estranho país: progressistas vão às ruas para conservar. Conservadores vão às ruas para mudar
Sandro Vaia ( 1944-2016) 

O dilmismo contra você

Quem está COM Dilma:

(1) 97% dos artistas, de olho no orçamento de R$ 3 bilhões do MinC, além de outros R$ 1,3 bi captados anualmente via leis de incentivo e desonerações, muitas vezes para financiar livros que ninguém quer ler, músicas que ninguém quer ouvir, e filmes que ninguém quer assistir;

(2) 98% dos intelectuais orgânicos, formados ou docentes em universidades públicas (a maior parte em Humanidades), fortemente dependentes de órgãos como Fundação Capes e CNPq, por sua vez vinculados a dois ministérios (MEC e MCT) com orçamentos combinados de mais de R$ 100 bilhões;

(3) 70% da imprensa, salivando por uma parte dos R$ 13,9 bilhões gastos em publicidade oficial de 2003 a 2014;

(4) 99% dos "movimentos sociais" e Organizações Não Governamentais que só sobrevivem a base de muito dinheiro governamental. De 2003 a 2007, por exemplo, 43 entidades ligadas ao MST receberam R$ 152 milhões em recursos públicos. Além de dinheiro, essas entidades, claro, querem ver suas pautas albergadas em leis e "políticas públicas" oficiais, que nunca são democraticamente votadas, mas ao invés disso são decididas em reuniões de gabinete com 3 ou 4 iluminados;

(5) 90% dos funcionários públicos, cujos vencimentos, pagos com dinheiro retirado à força dos contribuintes, tiveram desde 2003 aumento real de 2 a 3 vezes superior aos trabalhadores da iniciativa privada, dependendo da categoria;

(6) 100% dos sindicatos, que arrecadam R$ 2 bilhões ao ano em imposto sindical, fruto do confisco de um dia por ano dos trabalhadores.


Quem está CONTRA Dilma:

(1) Você.

Você, que não depende de editais da Lei Rouanet para viver, uma vez que você não insiste em produzir filmes que ninguém quer assistir.

Você, que estudou para aprender uma profissão e ser capaz de pagar as próprias contas e sustentar a própria família, e não com pretensões de mudar o mundo e dobrar as pessoas aos seus princípios.

Você, que não recebe para dar opinião a favor do governo.

Você, que não vive de tomar o que é dos outros via confisco e desapropriação.

Você, que não tem estabilidade no emprego, e precisa efetivamente produzir produtos ou serviços com utilidade e qualidade suficientes para que as pessoas queiram adquiri-los voluntariamente.

Você, que é funcionário público mas que se preocupa em merecer o salário que ganha, e não em virar algum aspone.

Você, que não precisa consultar o noticiário para saber que a inflação aumentou, que a carga tributária aumentou, que o desemprego aumentou, simplesmente porque não vive na Terra do Nunca da propaganda oficial e dos livros de História do MEC, e sente tudo isso na pele todo santo dia.

O urgente fim do imposto sindical

O sistema tributário brasileiro é composto de cinco espécies: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições sociais e empréstimos compulsórios. Na espécie das contribuições sociais encontra-se o conhecido “imposto sindical”, que é um nome tecnicamente incorreto. No sistema jurídico, o nome certo é contribuição social sindical (sim, esse é um eufemismo para dar a impressão de que essa arrecadação compulsória é voluntária), e encontra-se previsto nos artigos 578 a 591 da CLT. Para fins práticos, vamos usar ao longo do texto a expressão popular.

Todo ano os trabalhadores são obrigados a perder um dia de trabalho e entregar esse recurso para um sistema sindical podre, mafioso e absolutamente não transparente. Esse imposto sindical é distribuído, de acordo com a legislação, para sindicatos e federações e confederações sindicais, além de uma conta especial para financiar outras atividades do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que normalmente é dilapidado pela Caixa Econômica ou BNDES em negócios escusos com o empresariado amigo do PT.


O sistema sindical no Brasil foi construído em cima da lógica fascista de mistura entre o governo e os trabalhadores justamente para dar sustentação ao governo totalitário e estatista vigente. Na República Sindical reforçada pelo PT, essa lógica fascista está mais presente do que nunca, e se tornou verdadeiro tapa na cara da sociedade brasileira no dia de ontem, quando tivemos uma nova edição do “Mortadela Day”. Lumpenproletários mortos de fome por uma política econômica que destruiu a produção de bens e serviços no Brasil e inviabilizou a abertura de postos de trabalho para a população mais humilde foram contratados para protestar em favor do Governo que foi seu algoz pela bagatela de 30 reais mais o pão com mortadela. Tudo pago com dinheiro do imposto sindical.

O que se vê, na prática, é a instrumentalização dos sindicatos para defesa do Governo, pagos com dinheiro público de uma população que cuja maioria, na verdade 70% do total, já se manifestou em pesquisa que quer a destituição da Presidente e o fim desse modelo econômico.

Mas e quanto a defesa dos trabalhadores? Bem, isso fica em segundo ou terceiro plano, já que não há o menor compromisso dos sindicatos com a realização do suposto real fim a que se destinam. E nem há como cobrar conduta diversa. Como o modelo sindical brasileiro é monopolista, o que significa que somente um sindicato poderá existir para representar uma classe de trabalhadores em determinada localidade, não há concorrência na prestação desse serviço, gerando uma série de incentivos econômicos perversos que geram leniência do dirigente sindical.

Como o dirigente também passa a ter estabilidade no emprego, isso quando continua no emprego, porque às vezes ele é remunerado pelo sindicato e sai da atividade laboral original, esse administrador passa a ficar totalmente dissociado da realidade e das dificuldades dos seus colegas de trabalho.

Se todos esses desincentivos não fossem suficientes, a garantia de recursos públicos do imposto sindical, independentemente da qualidade do trabalho prestado pelo sindicato junto aos trabalhadores, gera um festival de desperdícios. Ainda de acordo com o TCU e as leis vigentes, o sindicato deve ter completa autonomia funcional, e o uso desses recursos é totalmente anti-transparente. Ninguém sabe onde tais recursos são aplicados e se são usados na defesa dos interesses da classe trabalhadora representada. Bem, quando se vê a campanha política rica de um representante sindical ou quando se vê uma festa esquerdista na rua paga com propinas e mortadelas, passamos a ter uma ideia da destinação desse dinheiro.

O imposto sindical hoje é uma das principais fontes de recurso da esquerda no país, usado politicamente sem pudor contra uma população majoritariamente contra tudo aquilo que os sindicatos propagam. Eles são o maior atraso de uma política varguista fascista fracassada que insiste em não morrer, entra governo, sai governo.

Uma reforma sindical ampla, com a quebra do monopólio sindical, liberdade plena de associação e negociação entre patrões e empregados, é essencial para o país poder voltar a crescer com menos “custo-Brasil”, mas de todas as reformas sindicais, a mais importante é o fim do imposto sindical e estabelecimento de doações voluntárias dos empregados aos sindicatos, gerando nos sindicalistas a necessidade de apresentar um bom trabalho, sob pena de fim dessas doações.

Sem esses recursos, a república sindical do PT, que vai morrer em algumas semanas, não terá capacidade econômica e política de ressurgir. E essa é a maior vitória que o país poderá obter em curto prazo.

Brasil sem ética

Mostra ao mundo a tua cara,
Pois teu povo desmascara
Tua política patética.
Na dialética
Faz um discurso eloquente,
Mas na voz da presidente,
Ninguém acredita mais;
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente

Brasil canalha
Sem leis e sem diretrizes
Vai deixando as cicatrizes
No lombo de quem trabalha.
Pega a navalha,
Corta o pulso do inocente,
Mas político delinquente,
Nem pune e nem corre atrás;
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente

O Brasileiro
Vive mal representado,
Sem direito e castigado,
Por político bandoleiro.
Desse cobreiro
Não tem mais quem aguente,
Ladrão bebendo aguardente,
Nas mesas dos tribunais;
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente

Tantas rapinas
Surrupiando a nação,
Pedaladas, petrolão,
Mão armada nas esquinas
Deixa em ruínas
Essa pátria já descrente
Esquecida e tão carente
Tomada por marginais
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente
No tempo de pai Tomaz
Preto velho e pai Vicente

Hélio Crisanto

O que será amanhã?

Avizinham-se as eleições que vão eleger vereadores e prefeitos dos municípios brasileiros. E nunca se viu antes na história desse país tamanho desinteresse da sociedade por essa oportunidade que pode ser a de se valorizarem candidatos nos quais conseguirmos enxergar propostas de alguma qualidade e compromissos de por elas trabalhar para sua realização. Será também o momento para se despacharem, definitivamente, aqueles que construíram sua passagem pelas câmaras municipais e pelas prefeituras abusando da mediocridade, da burrice, da desonestidade, do empreguismo, do nepotismo, da corrupção, das verbas indenizatórias, do descaso com demandas legítimas e de interesse coletivo. As eleições de outubro serão as primeiras que ocorrerão efetivamente após a publicidade dos inquéritos da Polícia Federal, que motivaram a operação Lava Jato.

Serão as primeiras nas quais as empreiteiras, o sistema financeiro e os grandes fornecedores terão à mão, como desculpa irrefutável, a vigilância da Polícia e da Justiça Eleitoral, limitando e inibindo doações, antes certas e generosas, para custear campanhas eleitorais destinadas à eleição de seus preferidos. Tarde demais, descobriu-se que ninguém faz doações para partidos e candidatos em campanhas eleitorais esperando assim estar contribuindo para o aperfeiçoamento da causa democrática. Quem contribui com dinheiro ou outros ativos espera, obviamente, a retribuição de seu eleito, obtendo favores e benesses. Aí não há café de graça.


Certo é que teremos eleições mais contidas nos seus gastos. Não haverá dinheiro fácil para irrigá-las, o que tornará nomes conhecidos e não rejeitados, com melhor perspectiva de êxito eleitoral. Trata-se de uma equação difícil. Nomes muito conhecidos, com exceções (claro e felizmente), são mais expostos à rejeição. Pela sociedade, são invariavelmente tratados como ladrões, safados, corruptos, bandidos, titulações às quais se acrescentam (carinhosamente) diminutivos quando são iniciantes ou ainda não foram surpreendidos naquilo que se designam como falcatruas. Ladrãozinho, safadinho...

Tais juízos são formulados, muitas vezes, nas mesas de bar, nos salões de beleza, nas salas de espera, nos protestos, nas palavras de ordem, dispensadas quase sempre as provas. Se se é político, pressupõe-se de forma generalizada a culpa, a fraude. Em muitos casos, não totalmente à toa, mas é perigosa a generalização.

A política ainda é, no mundo civilizado, o espaço para se discutirem os assuntos da cidadania e os interesses da coletividade. Temos que aperfeiçoá-la, fazê-la de forma decente, sem concessões de ordem ética e moral, sempre em torno de valores melhores, através do diálogo, como caminho para sua construção. Sem esse entendimento, salvo melhor juízo, vamos continuar no mesmo lugar. E pagando caro pela própria estupidez
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