domingo, 26 de outubro de 2014

Rezemos, pois


Não deixei-nos cair em tentação e livrai-nos de todo mal
Amém

Votar é fácil, difícil é limpar a sujeira depois


Partidos políticos são máquinas de fabricar paixões coletivas que exercem uma pressão coletiva sobre o pensamento individual e têm por meta final apenas seu próprio crescimento
Simone Weil, filósofa francesa

Bem e mal, Deus e o diabo, certo e errado, nós e eles, direita e esquerda. O dualismo dita a receita política para ser servida aos desacostumados a paladares mais refinados. Com apenas esses ingredientes, fazem baião de dois que é engolido pela multidão nessas republiquetas pré-democráticas.

Acreditam que o mundo só tem dois caminhos e que é preciso seguir um deles. Mas descobrir o seu depende do ponto de vista em que se está. E aí fica muito difícil dizer qual é que se deve tomar. Seja para continuar na mesma, ou mudar. Aí entra o marqueteiro, bancando o guarda de trânsito para “orientar” o caminho a seguir mesmo que esse seja para o precipício.

A confusão não ocorre apenas nos mais desinformados, mesmo alentados formadores de opinião se deixam levar pelo entusiasmo, sem ver a idiotice que disseram. Como aquele que declarou, do alto de sua sabedoria: “Sempre votei com a esquerda”. Apesar de respeitado pelo trabalho, em política, mostrou-se com antolhos. No extinto paraíso soviético, estaria na direita ou esquerda? Um dissidente daquela época seria um homem de direita, adorador de Tio Sam? Era apenas um cidadão que queria o fim da ditadura do proletariado para acabar com a supressão da liberdade, mas nunca um burguês.

Em meio ao neocoronelismo brasileiro, incrementado pelo comissariado, eleitor é posto na encruzilhada, se quiser. Basta pensar, fazer aquele exercício com os neurônios tão necessário à vida, para descobrir que o coração tem também dois lados, mas nem por isso se deve seguir um ou outro. Pulsa, porque esquerdo e direito trabalham harmonicamente para o bem comum do cidadão. Mas basta um deles pipocar para a engrenagem ir para o brejo. Acontece isso agora, quando o coração brasileiro foi dividido pela maracutaia. Nem por isso vamos querer extirpar o lado falho, mas responder com o remédio para curar o estrago político dos parasitas. 

Democracia também se faz com dois lados, ou até mais. Defender que só um lado serve, é outra coisa bem pior: o câncer do autoritarismo, de direita ou esquerda, que importa. Vai levar à falência dos órgãos as instituições e delinquir contra o cidadão. Só entra nessa da defesa intransigente de “seu” lado quem adora ser melhor do que o vizinho, mais justo, mais honesto, qualidades que não são produto de valor pessoal, mas de dever humano, de coletividade.  

É muito fácil eleger a ditadura, basta o voto ao fisiologismo, à demagogia, ao estelionato político; difícil e doloroso, por muitos anos, é lutar para sua derrubada. Resta saber se o Brasil quer mais uma vez ficar sob o jugo não mais dos tacões, mas dos bandidos que assaltam diariamente sob o manto de “governo”.

Cuidado

 Não se esqueça do aviso do velho e bom Platão: deixe tudo como está para ver como é que fica, e no final você verá que ficou bem pior para você e para todos os cidadãos que, como você, se recusaram a “sujar as mãos” na política. Sua omissão resulta que serão aqueles de mãos realmente sujas os que decidirão o destino de sua cidade, seu estado e seu país.

Direito


"Não vou usar o direito de ser idiota"
Sandra Starling, fundadora do PT e ex-deputada federal, anuncia voto em Aécio por não se "calar diante das mentiras que a Dilma vem assumindo"

Democracia, a palavra mágica


Quero ouvir a voz do meu país denunciando ditaduras, e não compactuando com elas.

Amigos petistas (sim, ainda tenho alguns) dizem que votam no PT por causa das suas políticas sociais. É um bom argumento: não há pessoa com um mínimo de sensibilidade e compaixão que possa ser contra políticas de inclusão social, especialmente num país tão desigual quanto o nosso.

A questão é que ele parte do princípio de que o PT detém o monopólio das boas intenções sociais, e aí entramos na área da desqualificação do adversário, da qual o partido tanto entende. Que eu me lembre, em momento algum Aécio ou o PSDB afirmaram que pretendem mudar o que, a duras penas, já se conquistou; mas a propaganda do PT insiste nisso e pronto, basta a palavra do marqueteiro João Santana para transformar o que jamais foi dito em verdade sacramentada.

Outro problema com esse argumento é que, por melhores que sejam as intenções sociais de quem quer que seja, elas não existem fora de um contexto mais amplo. Sem dinheiro não se faz nada, nem bom ensino, nem boa saúde, nem distribuição de renda. Simplesmente não há política social que consiga se manter, a médio ou longo prazo, diante de uma economia desastrosa como a do governo Dilma.

Eu até poderia dizer, parafraseando os meus amigos petistas, que não voto no PT justamente porque prezo as conquistas sociais do país, e não quero que elas desapareçam levadas por uma política econômica que vai de mal a pior.

Mas não é só isso.

Entre outros incontáveis motivos, não voto no PT porque tenho vergonha do papel que o meu país está fazendo no cenário internacional, abraçando ditaduras obsoletas, financiando tiranos e dando apoio a terroristas.

Ao contrário de tanta gente que prestigia o partido, eu não acho que democracia seja essencial para nós, brasileiros, mas desnecessária para iranianos, cubanos ou venezuelanos. Eu quero que todo mundo tenha as mesmas prerrogativas que eu tenho, quero que todas as pessoas do mundo possam viver e respirar em ambientes de liberdade, dizendo o que têm vontade de dizer sem risco de ir para a cadeia no dia seguinte.

Eu quero ouvir a voz do meu país denunciando ditaduras, e não compactuando com elas.

Passei vários anos da minha vida brigando por liberdade no Brasil e pedindo uma imprensa livre. Na minha cabeça, não faz o menor sentido votar, agora, num governo que apoia regimes que perseguem seus cidadãos por crimes de opinião — e que, vira e mexe, fala em “democratizar” a mídia.

Eu vi esse filme há muito, muito tempo, e não gostei.