Partidos políticos são máquinas de fabricar paixões coletivas que exercem uma pressão coletiva sobre o pensamento individual e têm por meta final apenas seu próprio crescimento
Simone Weil, filósofa francesa
Bem e mal, Deus e o diabo, certo e errado, nós e eles,
direita e esquerda. O dualismo dita a receita política para ser servida aos
desacostumados a paladares mais refinados. Com apenas esses ingredientes, fazem
baião de dois que é engolido pela multidão nessas republiquetas
pré-democráticas.
Acreditam que o mundo só tem dois caminhos e que é preciso
seguir um deles. Mas descobrir o seu depende do ponto de vista em que se está.
E aí fica muito difícil dizer qual é que se deve tomar. Seja para continuar na
mesma, ou mudar. Aí entra o marqueteiro, bancando o guarda de trânsito para
“orientar” o caminho a seguir mesmo que esse seja para o precipício.
A confusão não ocorre apenas nos mais desinformados, mesmo
alentados formadores de opinião se deixam levar pelo entusiasmo, sem ver a
idiotice que disseram. Como aquele que declarou, do alto de sua sabedoria:
“Sempre votei com a esquerda”. Apesar de respeitado pelo trabalho, em política,
mostrou-se com antolhos. No extinto paraíso soviético, estaria na direita ou
esquerda? Um dissidente daquela época seria um homem de direita, adorador de
Tio Sam? Era apenas um cidadão que queria o fim da ditadura do proletariado
para acabar com a supressão da liberdade, mas nunca um burguês.
Em meio ao neocoronelismo brasileiro, incrementado pelo
comissariado, eleitor é posto na encruzilhada, se quiser. Basta pensar, fazer
aquele exercício com os neurônios tão necessário à vida, para descobrir que o
coração tem também dois lados, mas nem por isso se deve seguir um ou outro.
Pulsa, porque esquerdo e direito trabalham harmonicamente para o bem comum do
cidadão. Mas basta um deles pipocar para a engrenagem ir para o brejo. Acontece
isso agora, quando o coração brasileiro foi dividido pela maracutaia. Nem por
isso vamos querer extirpar o lado falho, mas responder com o remédio para curar
o estrago político dos parasitas.
Democracia também se faz com dois lados, ou até mais.
Defender que só um lado serve, é outra coisa bem pior: o câncer do
autoritarismo, de direita ou esquerda, que importa. Vai levar à falência dos
órgãos as instituições e delinquir contra o cidadão. Só entra nessa da defesa
intransigente de “seu” lado quem adora ser melhor do que o vizinho, mais justo,
mais honesto, qualidades que não são produto de valor pessoal, mas de dever
humano, de coletividade.
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