quarta-feira, 9 de março de 2016

General sem tropas

Foi-se o tempo em que um simples brado de Lula poderia provocar convulsão no país, tal o seu poder de levar multidões ao delírio. O velho general já não tem tropas para segui-lo até as últimas consequências, a não ser um punhado de militantes suficientes para lotar a quadra de um sindicato, e até criar brigas isoladas, confusão. Mas não para tomar as ruas.

Sua infantaria – CUT, MST, UNE – já não tem a mesma capacidade de combate de tempos outrora. Esvaziaram-se quando se amancebaram. E sua principal força blindada – o Partido dos Trabalhadores – mal resiste ao bombardeio da Operação Lava-Jato; encontra-se atolada no imenso lodaçal criado pelos próprios petistas.

Ao se pintar para a guerra, assumir o papel de cobra traiçoeira e convocar os seus a fazerem o mesmo, Lula realizou um movimento estratégico temerário.

A ameaça de colocar o país em chamas, quase à beira de uma “guerra civil” entre as “elites” e as “forças populares” tem tudo para ser uma nova batalha de Itararé.

Nem na Venezuela este tipo de bravata cola mais, que dirá no Brasil, um país muito mais complexo, com instituições mais consolidadas e economia bem mais diversificada.

Pode até haver escaramuças promovidas por grupos de assalto do lulopetismo, com vistas à intimidação dos brasileiros e para tentar levar a oposição à paralisia. Mas nada que faça de março uma onda vermelha. O mais provável é um mar de verde, amarelo e azul nas principais cidades do país, no próximo dia 13.

O teatro de operações não é favorável nem à presidente Dilma Rousseff, nem ao projeto Lula -2018, uma miragem cada vez mais impossível.

Há uma contradição insanável entre o clamor das “bases populares” e a política econômica da presidente. Por mais que Lula pressione, Dilma não pode dar um cavalo de pau na economia para não perder, de vez, o quase nada que resta na sua condição de governabilidade. As contradições internas deste bloco de poder impede a capacidade de mobilização de sua própria base de apoio, algo que, de verdade, ela nunca teve.

A batalha pelas ruas ocorre, portanto, em condições extremamente adversas ao governo e ao lulopetismo. A recessão, o desemprego e a inflação fazem uma razia na vida dos brasileiros, espantam e afugentam os investidores. As águas da Lava-Jato se avolumam e não há como o governo reter a correnteza. O cidadão comum não está de bem com a vida. Ao contrário, está furioso com tudo isto e identifica, de forma cristalina, os responsáveis por seus tormentos.

Em vez de dar a ordem para avançar em uma situação adversa, o caudilho deveria ter protegido mais os seus flancos. Como não agiu assim, ele e Dilma podem ter supressas desagradáveis em outra frente: a convenção do PMDB.

Michel Temer e seus fiéis escudeiros recuaram para a segunda trincheira, de onde operam com discrição. Mas a tropa avançada dos peemedebistas rebeldes vai esticar a corda para a ruptura com o Palácio do Planalto. Não deve levar, mas o que pinta como resultado da convenção do dia 12 já está de bom tamanho. Para eles e para a oposição.

O PMDB não largará o osso, continuará com seus ministérios, mas se declarará independente. Há evidência maior do que essa de que o governo está derretendo?

As placas tectônicas se movem. A correlação de forças no Parlamento certamente não será a mesma, após a convenção dos peemedebistas. Há um movimento na direção do reencontro entre o grito das ruas e uma saída institucional, democrática.

Configura-se, assim, o pior dos cenários para o criador e a criatura. Aquele que qualquer estrategista digno do nome sempre procura evitar: ter de travar a luta em diversas frentes, simultaneamente.

Por aí a Alemanha perdeu a guerra.

Lula escolheu o mesmo caminho.

Lula Jararaca Guerra e Ódio

Lula decidiu que vai controlar o Executivo, o Legislativo e o Judiciário no berro. E, se preciso, vai fazer sangue correr em praça pública. Como ele mesmo já havia dito por aí, “acabou o Lulinha paz e amor”. Agora é “Jararaca Guerra e Ódio”. Os dois discursos irresponsáveis que fez na sexta-feira, em que lançou sua candidatura à Presidência e anunciou a sua marcha contra a Justiça, já têm desdobramentos. Seus sectários estão nas ruas para o tudo ou nada.

Nesta terça, Lula jantou no Palácio da Alvorada com Dilma. Traçaram estratégias contra a Lava Jato. É um sinal de que ela já não governa. Nesta quarta, o chefão petista se encontra com Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Lula não busca apenas se defender. Por incrível que pareça tamanha ousadia, ele tenta tomar as rédeas do país.

Os sinais da baderna vindoura são evidentes. Os petistas começam a deixar claro que terão de ser contidos pelo estado democrático e de direito. Páginas do partido estão convocando manifestações em favor de Lula e, como eles dizem, “contra o golpe” para o próximo domingo, 13 de Março, mesmo dia das megamanifestações em favor do impeachment.

Embora a presidente Dilma dirigido um apelo ao partido para que o partido não estimule ações nessa data, diretórios estaduais do Rio Grande do Sul e do Distrito Federal fazem abertamente a convocação.

PT e PCdoB organizam atos no Piauí, Maranhão, Rio e São Paulo. Na capital Paulista, os lulistas marcaram a sua concentração para a Praça Roosevelt. O epicentro do protesto em favor do impeachment é a Paulista. Entre um local e outro, está a Rua da Consolação, que também costuma ser fechada para eventos dessa natureza porque serve como um corredor.

A direção nacional do PT não disse uma vírgula a respeito. A aposta das esquerdas é que eventuais confrontos de rua vão desestimular os manifestantes que querem o impeachment de Dilma. Na cabeça dos celerados, são “coxinhas” que se assustam com facilidade. Estão errados.

Os braços de Lula, que em passado recente já se ofereceram para portar armas, estão procurado a ação direta. Em Goiânia, mulheres do MST invadiram nesta terça a afiliada da TV Globo. Por meia hora, mantiveram pessoas em cárcere privado, picharam o prédio com expressões como “Globo e ditadura de mãos dadas”, “Fora Globo” e “Não vai ter golpe”.

A barbaridade é tal que um grupo de petistas interrompeu aos berros uma homenagem que a Câmara Municipal de Maringá (PR) fazia nesta terça à noite para a mãe do juiz Sergio Moro. Ok. Você até pode se perguntar, como me pergunto, se a homenagem era ou não pertinente. Mas o evento em si evidencia a intolerância desses brucutus.

Em São Paulo, marcha de movimentos feministas, todos eles de esquerda, acabou tendo cenas de pugilato e xingamentos porque as petistas decidiram, vamos dizer, aparelhar o ato e gritar palavras de ordem em defesa do PT, de Lula e, como diziam as doidas, “contra o golpe”.

Mais do que toleradas pelos comando do PT, essas ações estão sendo estimuladas. Esse é o espírito de luta que Lula cobrou na sexta-feira. É assim, nos cascos, que Rui Falcão quer os militantes do seu partido. Eis a legenda que, inequivocamente, tem uma jararaca no comando.

Dilma vai cair, é claro! Não haverá, como se sabe, turbulência nenhuma no país entre as pessoas decentes. Ao contrário: a sua saída é um primeiro passo para que o país tente equacionar seus problemas.

Mas será, sim, preciso dar uma resposta aos fascistas. Eles vão querer criar algumas dificuldades. Não porque representem camadas expressivas da população, mas porque pertencem a um partido que capturou o Estado e que hoje depende dele para sobreviver.

Não se enganem: esses gatos pingados que se dispõem a sair às ruas em defesa de Lula e do PT estão apenas defendendo um meio de vida. Eles conseguiram, afinal, se livrar de uma maldição bíblica, não é mesmo? Ganham a vida sem trabalhar. E só por isso são militantes de uma organização chamada Partido dos Trabalhadores.

Mas estão em decadência e serão derrotados.

Imoral, ilegal, e daí?

Os atuais inquilinos do poder só demonstram preocupação com o País quando isso pode lhes render algum benefício. Do contrário, lixam-se. Arrebentaram a economia para ganhar eleições, enterraram o exercício da política em fosso profundo para conquistar aliados, mentiram com inédita jactância para tornar verossímeis toda sorte de manipulações, passaram por cima da lei, aniquilaram a ética como valor essencial de sociedades civilizadas e ainda se perguntam como, quando e por que a receita desandou.

As respostas não dependem de caras pesquisas. Estão à disposição por iniciativa dos fatos. Quando? No momento em que o Brasil cansou de ilusões e parou de se comportar como um dócil refém da miragem que o PT escolheu como modo de governar.

A lei do menor esforço. A adoção de soluções fáceis (e erradas) para problemas complexos. Neste aspecto, João Santana deu boa contribuição com sua estratégia eleitoral de arrasa-quarteirão. Reelegeu Dilma Rousseff, mas ao mesmo tempo deu ao País a oportunidade de enxergar a realidade em seus traços mais perversos.

Como? Pelo exame de um passivo de ações deletérias que demonstraram ao longo dos últimos 13 anos qual era a intenção do PT: criar um mercado cativo de eleitores. Entre os pobres, resolvendo questões da miséria extrema, mas, ao mesmo tempo, cultivando a manutenção da pobreza e, sobretudo, da ignorância. Entre os ricos, franqueando os cofres mediante - como se vê agora - retribuição de favores ao partido e seus dirigentes.

Por que, senão o País inteiro certamente a grande maioria, resolveu dizer chega? Aqui a resposta é mais sucinta, resumida no axioma de Abraham Lincoln: não se pode enganar a todos o tempo todo. Há outro, entre vários, também de autoria do 16.º presidente americano: “Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.

Se estendido o conceito do individual para o coletivo, aí teremos a explicação que o PT tanto busca para a perda de sua boa reputação com a opinião pública. Revelou a natureza de seu caráter - ou a falta do quesito - quando recebeu delegação do povo para exercer o poder.

Do ponto de vista objetivo, capturou o Estado. Em todos os sentidos. Administrativo, político e, segundo o Supremo Tribunal Federal e os investigadores da Operação Lava Jato, criminal. No campo subjetivo, sequestrou cabeças e corações suscetíveis ao manuseio de anseios e emoções.

A festa, no entanto, nesses moldes acabou. O mito Lula da Silva não resiste ao efeito detergente da transparência. Derrete sob a luz do sol. Aliás, não resiste à própria falta de sofisticação no raciocínio produtor de metáforas, ao se comparar a uma criatura peçonhenta quando a intenção era fazer referência a um animal de poderosa capacidade de recuperação, mas digno de admiração. As cobras jararacas não se incluem na espécie. São, por outra, objeto de repulsa.

Por 13 anos, o PT tocou seu baile no pressuposto de que tudo poderia. Inclusive o ilegal, o imoral, o antiético, dizendo ao País “e daí?”, pois tinham dado aos pobres a chance de comprar geladeira, fogão, passagens de avião, ter acesso a vagas de universidade, empregos com carteiras assinadas.

Pois agora que os empregos minguaram, a inflação comeu o poder de compra, a estagnação da economia subtraiu-lhes os empregos, o crédito anteriormente contratado os afundou em dívidas, os parceiros empresários estão na cadeia e a Lava Jato assentou que a lei é igual para todos. Cabe recordar o poema de Carlos Drummond de Andrade: “E agora, José?”.

“A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu.” E agora, Luiz, você marcha, Luiz, para onde?

Os devotos de Lula saberão no dia 13 que estão lidando co multidões sem medo

Atingida em cheio pela indignação do país que presta e ferida de morte pela Operação Lava Jato, a seita dos adoradores de Lula resolveu assustar a imensa maioria de cidadãos indignados com o que Nelson Rodrigues chamaria de arrancos de cachorro atropelado. Perda de tempo. As bravatas e bazófias do chefão não intimidam mais ninguém.

As ameaças difundidas pelas redes sociais são tão assustadoras quanto latidos de vira-lata. As milícias do PT já não dão quórum sequer para procissão de vilarejo. Bandos de fanáticos só ousam enfrentar multidões em filmes épicos tão comprometidos com a verdade quanto os discursos de Lula e as promessas de Dilma Rousseff.


No Brasil real, confrontos desmesuradamente assimétricos acabam sem ter começado. Assim, para que os valentões de Facebook tratem de esconder-se no porão neste 13 de março, basta que todo brasileiro decente se engaje fisicamente nas manifestações de protesto. É hora de deixar claro aos embusteiros quem é que manda nas ruas.

Os provocadores que desafiarem a imensidão de oposicionistas descobrirão que as vítimas da incompetência, da corrupção, da cegueira ideológica e da canalhice perderam a paciência de vez. Em alguns minutos, aprenderão que estão lidando com gente sem medo.

Politicamente correto é...

O politicamente correto é um sutiã cuja presilha não abre, exigindo desculpas por tamanha inabilidade ao invés de arrancá-lo logo e de uma vez. Politicamente correta é a comida de hospital – saúde divorciada do prazer. Politicamente correto é mãe que não deixa o filho sujar os pés, mãos ou cabelo, pois, onde já se viu? Pode ficar doente… E os outros, o que vão pensar?!

O politicamente correto é máscara de louça para o preconceito.

Politicamente correto é a censura prévia disfarçada de escudo. No fundo, bem no fundo, a pessoa fica tolhida, desconfiada, com medo de ferir os outros e, com isso, acabar ferida de volta. Politicamente correto é camisinha de força para a língua, pois só pode ser loucura chamar um negro de negro, alemão de alemão, gordo de gordo e manco de manco.

Politicamente correto é focinheira em todos os cães.

O politicamente correto é descrito nas letras em miniatura do contrato, aquelas feitas para condenar quando for vantagem para outros, desvantagem para você. Politicamente correto é sepultamento dos vivos. É a morte da malandragem, é o suicídio dos humorados, é a redenção dos covardes, é a vingança dos recalcados. O politicamente correto é uma faca cega, pois não merecemos o manejo de palavras afiadas.

O politicamente correto rebatiza os filhos para ver se ficam mais bonitos.

Politicamente correto é existir grades no paraíso. É passear em ordem unida, é contrição sem arrependimento. Politicamente correto é garantia de úlceras para o futuro, pois ninguém consegue rodar com os freios de mão puxados sem consequências.

Politicamente correto é toque de recolher.

Politicamente correto é aquele modorrento 0 X 0 que espanta o público, é coito interrompido, é manha, fita, choro sem lágrima. Politicamente correto é não poder tomar chuva, nem mesmo no verão. É aquário, gaiola e canil. É esconder o rosto achando que, assim, desaparecemos.

Politicamente correto é fumei, mas não traguei.

O politicamente correto é, dizem, uma tendência que veio para ficar. É mais civilizado. Mais cordato. Amistoso, suave, palatável. É algo que está tomando conta de tudo e formando uma geração que, agindo e reagindo assim, acreditará estar mais protegida das maldades do mundo. Eu discordo do politicamente correto e o combato enquanto nadar contra a corrente não for crime. Mais do que garantir o direito de eu mesmo ser irônico, mordaz, chulo ou ferino, defendo que meus filhos e netos sejam capazes de suportar contrariedades, provocações, desgostos, frustrações – agressões! – e assim se defenderem.

Politicamente correto é ministrar tranquilizante para quem deveria estar alerta.

Rubem Penz

A crise se agrava, mas sem uma definição clara do fim do governo

Os acontecimentos das últimas três semanas aceleram e aprofundam a velocidade da crise. Nunca o risco de este governo acabar esteve tão alto. A Arko Advice estima em 50% a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff não terminar o seu mandato, o que é uma percentagem altíssima.
Quais são as razões para isso?

1) Pela primeira vez existe uma acusação formal (ainda não homologada) contra a presidente Dilma Rousseff relacionada a seu atual mandato. A delação do senador Delcídio do Amaral de que a indicação do ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça teria sido “encomendada” para salvar o empresário Marcelo Odebrecht da prisão, é muito séria. Dilma Rousseff pode vir a ser acusada de tentar obstruir o funcionamento da Justiça. A possível homologação da delação de Delcídio será um grande revés para o governo.

2) Lula foi objeto de condução coercitiva, o que – midiaticamente – é trágico. Pior é a convicção, já formada pelo Ministério Público Federal, de que o ex-presidente seria o chefe de um esquema criminoso. Tudo indica que Lula será indiciado, o que enfraquece ainda mais o governo;

3) Em 30 dias, ou um pouco mais, a Câmara vai começar a examinar o processo de impeachment em meio ao agravamento da conjuntura econômica;

4) Existem delações bombásticas a caminho. Além do testemunho do senador Delcídio do Amaral, os depoimentos de executivos das empreiteiras OAS e Andrade Gutierrez e do ex-presidente do PP e ex-deputado Pedro Corrêa podem resultar em revelações altamente comprometedoras;

5) O chamamento de Lula à resistência por parte do PT e dos movimentos sociais às investigações comandadas pelo juiz Sérgio Moro, à frente da operação Lava Jato, pode causar o enfraquecimento da base de sustentação do governo. Diretórios do PT e movimentos sociais em vários Estados começaram ontem a convocar atos em defesa do ex-presidente Lula.

O que deve acontecer no curto prazo?

A crise pode ter os seguintes desfechos nos próximos 30 ou 45 dias:

1) Em seu aprofundamento, a presidente Dilma Rousseff rompe com o PT e tenta refazer o governo a partir de uma nova maioria. É uma possibilidade, ainda que improvável. No entanto, o agravamento da crise pode levar a essa opção;

2) Sentindo-se isolada e sem condições, a presidente Dilma solicita licença e pede que o vice-presidente organize uma nova maioria para aprovar medidas emergenciais. É outra opção improvável, mas que não pode ser descartada diante de um acirramento da crise;

3) O TSE, em que pese o clima, não deve acelerar o julgamento da chapa a ponto de este ser concluído nos próximos 30 ou 45 dias;

4) A partir da decisão do STF sobre constituição e funcionamento da comissão que examinará o impeachment, o processo começará a ser debatido na Câmara com resultados incertos. Hoje, o governo ainda tem maioria para barrar o impeachment. A cada dia, no entanto, a situação fica pior para o Planalto;

5) As manifestações de 13 de março, por causa das recentes revelações e pela disposição de resistência de Lula e de seus aliados, têm um poder desestabilizador importante, que pode acelerar os vários tempos da crise.

Portanto, salvo um evento extraordinário, o que veremos no período é o agravamento da crise política a partir de novas delações, mas sem uma definição clara do fim do governo. Até mesmo pelo fato de as crises – econômica e política – e as investigações da Lava Jato e da operação Zelotes terem tempos distintos e dinâmicas próprias.

O homem dos muitos rolos

Depois do tríplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, Lula aparece metido em outra trapalhada.

Desta vez, o caso envolve o apartamento em frente ao dele em São Bernardo do Campo, aonde mora.

A Polícia Federal descobriu que Lula e a família ocupam também esse outro apartamento, pelo qual pagariam aluguel. A conferir.

Antes mesmo de se eleger presidente em 2002, o segundo apartamento já servia ao clã de Lula. Era o PT quem pagava o aluguel.


Depois que ele se elegeu foi a presidência da República que passou a pagar o aluguel a pretexto de alojar ali os seguranças de Lula.

O apartamento foi posto à venda por sua proprietária. Quem o comprovou e em seguida o alugou a Lula?

Um aposentado do Mato Grosso do Sul, primo do empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula e preso pela Lava-Jato.

Quem sugeriu a compra ao aposentado? Ele diz que não foi Bumlai, mas sim o advogado Roberto Teixeira. Quem vem a ser... Amigo de Lula.

Tão amigo que o deixou morar de graça em um apartamento que era dele, e hospeda um dos filhos de Lula em outro apartamento sem nada cobrar.

A derrota de Evo

Fernando Vicente
A derrota de Evo Morales no referendo com o qual pretendia reformar a Constituição para se reeleger pela quarta-vez no ano 2019 é uma boa coisa para a Bolívia e para a cultura da liberdade. Inscreve-se em uma cadeia democratizante que vai golpeando o populismo demagógico na América Latina, da qual são marcos importantes a eleição de Mauricio Macri na Argentina contra o candidato da senhora Fernández de Kirchner, o anúncio de Rafael Correa de que não será candidato nas próximas eleições no Equador, a esmagadora derrota –por cerca de 70% dos votos– do regime de Nicolás Maduro nas eleições para a Assembleia Nacional na Venezuela e o desprestígio crescente da presidentaDilma Rousseff e seu mentor, o ex-presidente Lula, no Brasil, pelo fracasso econômico e os escândalos de corrupção da Petrobras que pressagiam também um fracasso catastrófico do Partido dos Trabalhadores nas próximas eleições.

Ao contrário dos governos populistas da Venezuela, Argentina, Equador e Brasil, cujas políticas demagógicas fizeram suas economias desmoronarem, dizia-se de Evo Morales que sua política econômica vinha sendo bem-sucedida. Mas as estatísticas não contam toda a verdade, ou seja, o período enormemente favorável que a Bolívia viveu em boa parte destes dez anos de Governo com o aumento do preço das matérias-primas; desde a queda delas, o país decresce e está sendo sacudido por escândalos e corrupção. Isso explica em parte o descenso vertiginoso da popularidade de Evo Morales. É interessante observar que no referendo quase todas as principais cidades bolivianas votaram contra ele, e que, se não tivesse sido pelas regiões rurais, as menos cultas do país e também as mais longínquas, onde é mais fácil para o Governo falsificar o resultado das urnas, a derrota de Evo teria sido muito maior.

Até quando o singular mandatário continuará lançando ao “imperialismo norte-americano” e aos “liberais” a culpa de tudo o que vai mal? O último escândalo que protagonizou tem a ver com a China, não com os Estados Unidos. Uma ex-amante dele, Gabriela Zapata, agora presa, com a qual teve um filho em 2007, foi depois executiva de uma empresa chinesa que vinha recebendo suculentos e arbitrários contratos governamentais para construir estradas e outras obras públicas num valor acima de 500 milhões de dólares. O flagrante favoritismo desses contratos ilegais, denunciados por um destemido jornalista, Carlos Valverde, sacudiu o país, e os desmentidos e explicações do presidente só serviram para comprometê-lo mais com a negociata. E para que a opinião pública boliviana recorde que esse é somente o último exemplo de uma corrupção que ao longo deste decênio vinha manifestando-se em múltiplas ocasiões, apesar de a popularidade de Evo ter servido para silenciá-la. Dá a impressão de que aquela popularidade, que se vai dissipando, já não bastará para que a opinião pública boliviana continue enganada, aplaudindo um mandatário e um regime que são um monumento ao populismo mais desenfreado.

Tomara que, do mesmo modo que os bolivianos, a opinião pública internacional deixe de mostrar essa simpatia em última instância discriminatória e racista que, sobretudo na Europa, tem rodeado o suposto “primeiro indígena que chegou a ser presidente da Bolívia”, uma das muitas mentiras que sua biografia oficial propala, em todas as suas viagens internacionais. Por que discriminatória e racista? Porque os franceses, italianos, espanhóis e alemães que enalteceram o divertido governante que se exibia nas reuniões oficiais sem gravata e com uma desbotada chompita de alpaca jamais teriam celebrado um governante de seu próprio país que dissesse as estupidezes que Evo Morales dizia por toda a parte (como que na Europa havia tantos homossexuais por causa do consumo exagerado da carne de frango), mas, ao que parece, para a Bolívia esse ignaro personagem estava bom. Os aplausos a Evo Morales na Europa me recordavam Günter Grass quando recomendava aos latino-americanos “seguirem o exemplo de Cuba”, mas para a Alemanha e a culta Europa ele não propunha o comunismo, e sim a social-democracia. Ter pesos e medidas distintos para o Primeiro e o Terceiro Mundo é, pura e simplesmente, discriminatório e racista.

Quem acredita que um personagem como Evo Morales está bom para a Bolívia (embora nunca estivesse para a França ou a Espanha) tem uma pobre e injusta ideia daquele país do altiplano. Um país de que eu gosto muito, pois ali, em Cochabamba, passei nove anos de minha infância, uma época que recordo como um paraíso. A Bolívia não é um país pobre, mas, sim, como muitas repúblicas latino-americanas, empobrecido pelos maus Governos e as políticas equivocadas de seus governantes –muitos deles tão pouco informados e tão demagogos como Evo Morales–, que desperdiçaram os ricos recursos de sua gente e seu solo –sobretudo, colinas e montanhas– e permitiram que uma pequena oligarquia prosperasse a tal ponto que a base da pirâmide, as grandes massas quéchua e aimará, e a população mestiça, que é o grosso de sua classe média, vivessem na pobreza. Evo Morales e aqueles que o rodeiam não fizeram avançar nem um pingo o progresso da Bolívia com seus acordos comerciais com o Brasil para a exploração do gás e seus empréstimos gigantes provenientes da China para o financiamento de obras públicas faraônicas e, muitas delas, sem sustentação técnica nem financeira, que comprometem seriamente o futuro desse país, ao mesmo tempo em que sua política de nacionalizações, vitimização da empresa privada e exaltação da luta de classes (e, com frequência, de raças) incentivava uma violência social de perigosas consequências.

A Bolívia conta com políticos respeitáveis, realistas e valentes –conheço alguns deles–, que, apesar das condições dificílimas em que tinham de atuar, arriscando-se a campanhas ignóbeis de desprestígio por parte da imprensa e dos aparatos de repressão do Governo, ou à prisão e ao exílio, vêm defendendo a democracia, a liberdade ultrajada, denunciando os atropelos e a política demagógica, a corrupção e as medidas errôneas e insensatas de Evo Morales e sua corte de ideólogos, encabeçados pelo vice-presidente, o marxista Álvaro García Linera. São eles, e dezenas de milhares de bolivianos como eles, a verdadeira cara da Bolívia. Eles não querem que seu país seja pitoresco e folclórico, uma anomalia divertida, mas um país moderno, livre, próspero, uma genuína democracia, como são agora Uruguai, Chile, Colômbia, Peru e tantos outros países latino-americanos que souberam desvencilhar-se –ou estão a ponto de fazê-lo, mediante os votos– de quem, como o casal Kirchner, o comandante Chávez e seu herdeiro Nicolás Maduro, o inefável Rafael Correa, Lula e Dilma Rousseff, os estavam ou ainda estão levando-os ao abismo.

A derrota de Evo Morales no referendo do domingo passado abre uma grande esperança para a Bolívia e agora só é preciso que a oposição, que festeja esse resultado, mantenha a unidade (precária, infelizmente) que essa consulta produziu, e não volte a dividir-se, pois esse seria um presente dos deuses para a declinante estrela de Evo Morales. Se se mantiver unida e tão ativa como esteve nestas últimas semanas, a Bolívia será o próximo país latino-americano a livrar-se do populismo e recobrar a liberdade.

Faltaram a Lula os conselhos de uma criança

No teatro infantil, com seus enredos básicos, sua comédia ingênua e seus exageros trágicos, as crianças se integram à catarse. Elas participam do espetáculo. Interferem na história, vaiam os vilões e torcem pelos herois. Avisam para a Chapeuzinho Vermelho, aos berros, que o Lobo Mau vai atacar. Às vezes, invadem o palco para evitar o ataque. O que faltou a Lula foi uma criança de cinco anos que saltasse da poltrona do teatro e gritasse para o mito do PT, a plenos pulmões: “Fuja dos seus amigos!”

Não bastasse o tríplex no Guarujá, que Lula alega ter desistido de comprar depois que virou escândalo; e o sítio de Atibaia, que virou escândalo porque o ex-soberano utiliza mesmo sem comprar, surge agora a cobertura de São Bernardo. Fica ao lado de outra cobertura, onde mora Lula. No papel, o imóvel foi “comprado” em 2011 por Glaucos da Costamarques, um primo do amigo José Carlos Bumlai, preso em Curitiba. Foi “alugado” para Lula, que prefere não ter vizinhos.

Presidente do Instituto Lula, o faz-tudo Paulo Okamotto explicou que o ex-soberano petista não quer ter ninguém morando do seu lado porque sabe do “desconforto” que é ter um vizinho político. Desconforto?!? Decerto Okamotto se refere ao risco de abrir a porta e dar de cara com agentes da Polícia Federal no hall do elevador. Mas as dúvidas continuam boiando no ar.

Por que diabos Lula não comprou, ele próprio, a cobertura ao lado? O primo de Bumlai afirma que pagou cerca de R$ 500 mil pelo imóvel. Isso é dinheiro de troco para Lula, um gênio das palestras invisíveis, que diz ter feito fortuna equiparando o preço de sua lábia à tabela de Bill Clinton, o conferencista mais caro do planeta.

Se houvesse uma criança de cinco anos na plateia, ao perceber que um primo de Bumlai entrara em cena, ela teria se esgoelado: “Não, não. Isso não!” Durante as visitas de Lula e Marisa Letícia às obras da reforma do tríplex do Guarujá, a criança teria entrado em desespero: “Pelo amor de Deus, do lado de Leo Pinheiro, dono da OAS, não!” Ao cruzar o portão do sítio de Atibaia, cedido pelos sócios de Lulinha e reformado pelo pool Odebrechet-OAS-Bumlai, a família Lula da Silva ouviria da criança: “Isso vai dar merda!”

Ah, que político imaculado seria Lula se tivesse do seu lado um conselheiro mirim, com cinco anos de idade!

O veneno da jararaca

Cobras não fazem política, porém lembram algumas de suas práticas.

São répteis exclusivamente carnívoros que engolem suas vítimas inteiras. A ciência reconhece mais de 20 famílias, 465 gêneros e mais de 2.900 espécies. No Brasil, são quase 400 espécies diferentes, sendo mais de 60 peçonhentas.

A jararaca (em biologia, família Viperidae, gênero Bothrops) é robusta, porém menor que as outras do mesmo gênero. De enorme capacidade adaptativa, é a espécie mais comum na Região Sudeste brasileira. Troca de pele à medida que cresce, ao longo de toda sua vida. Parece político?

A maioria das espécies de jararacas vive em ambiente preferencialmente úmido, como a beira de rios, onde também se encontram ratos e sapos, seus pratos prediletos. Dorme durante o dia debaixo de folhagens, mas gosta de tomar sol. Com hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares, tem comportamento agressivo ao ver se aproximar uma eventual vítima; suas presas inoculadoras de veneno se projetam no momento do bote.

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Perigosíssima, é a responsável por mais de 90% das vítimas de cobras peçonhentas no Brasil. A maioria de suas picadas atinge os membros, e seu veneno produz dor no local, equimose, edema, hemorragia, necrose, podendo levar a paralisia dos rins. As vítimas devem ser internadas para receber o soro específico. Mesmo que atendido a tempo e num local que tenha experiência com esse tipo de problema, um por cento das vítimas morre. Hoje morre mais gente de dengue e tuberculose!

No Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, do Ministério de Saúde, que não é atualizado desde 2001, aprendemos que são notificados 20 mil acidentes ofídicos por ano, em geral trabalhadores no campo. Somente em 2014,surgiu outra publicação oficial, desta vez pela Fundação Ezequiel Dias, vinculada à Secretaria de Saúde do governo de Minas Gerais. Esse excelente manual, muito bem ilustrado, ensina até como se prevenir de acidentes com animais peçonhentos.

Sendo ora presas de gaviões, corujas e falcões e ora predadoras de diversos animais, inclusive ratazanas, as serpentes contribuem para o equilíbrio ecológico, não sendo adequado eliminá-las sistematicamente. Cabe ao homem se prevenir dos seus ataques, mas, se necessário, eliminá-las, para se defender. O ideal é capturá-las com técnica adequada, para que sejam utilizadas por cientistas na produção de soro contra seu veneno, para salvar vidas.

Recentemente, ao ouvir um político experiente se comparar a uma jararaca, fiquei preocupado com o simbolismo da metáfora.

No Brasil, o ecossistema e o sistema político estão em constante e progressivo desequilíbrio. As jararacas, escorpiões e aranhas têm seu inequívoco papel na ecologia. O que se espera é que os políticos tenham equilíbrio para não envenenar o país. Caso isso não aconteça, desculpem a metáfora, a cobra vai fumar, obedecendo a Constituição.

Delcídio, homicídio e suicídio (políticos)

A rima não é solução para a elite política brasileira. O que saiu na imprensa sobre a delação do senador Delcídio do Amaral (PT/MS), a ser homologada, foi a ponta do iceberg. Vazaram – e não se vê a PF, o MP ou a Justiça preocupados com esse vazamento – umas 60 linhas de um depoimento que teria quase 400 páginas.

Sé nesses trechos há 22 nomes que Delcídio, o ‘bem relacionado’ ex-líder do governo, citou como partícipes de ações nefastas: agentes públicos (do Executivo, do Legislativo e do Judiciário), empresários, operadores financeiros, líderes partidários. Tudo o que vertebra nosso modelo político decrépito.

Delcídio, no afã de sair da prisão, teria feito depoimento extenso, desde os tempos em que foi diretor de gás e energia da Petrobras no governo FHC. Aliás, já ali ele teria sido acusado – por Nestor Cerveró – de ter recebido US$ 10 milhões da Alstom.

O temor de muitos da cúpula de quase todos os partidos com representação no Congresso Nacional é que Delcídio tenha detalhado esquemas de corrupção desde os anos 90. Propina, acertos para obstrução de CPIs e tráfico de influência atingiriam tanto o governo, incluído o ambíguo PMDB, quanto parte da oposição, em especial PSDB, DEM e Solidariedade. Poucos sobrariam.

Não havendo ‘pula esta parte’ orientada por advogado ou inquiridor, as revelações do senador atingiriam o núcleo do sistema. E a ele próprio, réu confesso. Delcídio teria o poder que se atribui também a Eduardo Cunha: levado ao ‘corredor da morte’ política, carregaria um monte.

Ambos investigados na Lava-Jato, Delcídio e Cunha (que sempre cobrou do Ministério Público que, “para ser justo, tratasse Delcídio da mesma maneira”), simbolizam os tempos degradantes que estamos vivendo. Promovem com eficácia a aproximação da instância pública com negócios privados, fundada na promiscuidade entre grandes interesses empresariais e a política. Esta, mercantilizada, se apequena.

Cunha já se tornou réu, em decisão unânime do Supremo, por corrupção e lavagem de dinheiro, mas prossegue na presidência da Câmara, enquanto Delcídio perdeu a condição de líder do governo. E, agora, tem amplas chances de ter seu mandato cassado, de maneira rápida, ao contrário de Cunha, que manobra até para não receber notificação da abertura do processo disciplinar contra ele.

Não há verdade oculta que não venha a ser revelada, inclusive pelos próprios protagonistas das tenebrosas transações. Delcídio não terá o escudo da licença médica (estaria afônico?) por muito tempo, e terá que provar tudo. Cunha não poderá ficar alheio, no seu costumeiro cinismo: tornou-se pedra no caminho, estorvo, de quase todos.

Sofisticação dos poderosos

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É preciso haver mais investigação porque as pessoas poderosas e as instituições se tornaram mais sofisticados vendendo o que fazem bem e escondendo o que fazem mal
Paul E. Steiger dirigiu por 15 anos o 'The Wall Street Journal' e fundou o ProPublica, site revolucionário de investigação, único a estar na dark web, a Internet subterrânea, para se proteger da vigilância dos governos   

Plano de emergência do PT ameaça acelerar falência do Brasil

Solução para substituir a CPMF

Ainda bem que o Programa Nacional de Emergência, proposto oficialmente pelo Diretório Nacional do PT na comemoração do 36º aniversário de fundação, na realidade não é para valer. Trata-se apenas de um factóide, ou seja, mais uma peça ficcional de marketing político, apresentada apenas para ganhar tempo e enganar os incautos. Se João Santana não estivesse atrás das grades, seria logo considerado criador dessa nova empulhação, e talvez possa até ter sido ele, porque nada impedia que enviasse idéias e subsídios lá da República Dominicana. Aliás, todos sabem como o renomado marqueteiro gosta de trabalhar de graça para o partido, tudo por mera identificação ideológica, à semelhança do principal advogado de Lula, o criminalista Nilo Batista, contratado pela Petrobras por R$ 8,9 milhões.

Voltando ao plano econômico da direção do PT, se houvesse mesmo intenção de adotá-lo, com toda certeza iria acelerar a derrocada do país. Felizmente, tudo indica que a proposta não será aceita. Embora a presidente Dilma esteja disposta a destruir a economia nacional, parece que pretende atingir esta realização aos poucos ou em partes (como Jack, o Estripador), enquanto o PT se agiganta e tenta dobrar a meta, para liquidar a economia nacional de uma vez só.

Redução dos juros, simultaneamente ao aumento dos gastos públicos e o uso das reservas cambiais para financiar obras, com reajuste de 20% no Bolsa Família, maior tributação de heranças, criação de imposto sobre grandes fortunas, tributação de lucros e dividendos, cobrança de IPVA sobre iates, aviões e helicópteros, e recriação da CPMF – eis a parte principal da receita petista de 22 ingredientes para recuperar a economia. À exceção do IPVA sobre iates, aviões e helicópteros, uma medida que se faz tardar, o restante é uma mistura explosiva e altamente negativa, indicando a que ponto vai a irresponsabilidade desse pessoal.

O mais inacreditável são as justificativas. “A lógica das propostas é retomar o núcleo da política econômica do governo Lula”, resumiu o presidente do partido, Rui Falcão, ao anunciar o programa emergencial, cujo texto faz duras críticas ao governo de Dilma Rousseff, denunciando que o ajuste fiscal “não teve os resultados esperados, ao menos no que diz respeito aos interesses das camadas populares”.

Ou seja, a direção do PT pensa que já houve ajuste fiscal, quando na realidade não aconteceu nada, não houve cortes de gastos de custeio e o partido está até defendendo o aumento dos gastos públicos, uma versão econômica do Samba do Crioulo Doido, grande sucesso de Sérgio Porto, que faz muita falta, porque o Febeapá (Festival de Besteiras que Assola o País) hoje é muito mais intenso do que nos Anos Dourados da década de 60.

No enlouquecido Programa Nacional de Emergência que o PT agora defende, não há referência às principais questões econômicas, como o déficit orçamentário e o avassalador aumento da dívida pública, que está levando o país à bancarrota. A nova estratégia é apenas um jogo de faz de conta, querem empurrar a crise para a frente, certamente achando que os gravíssimos problemas podem ser resolvidos por osmose ou por influência externa, caso haja recuperação da economia mundial a curto prazo, mas isso não ocorrerá.

A certeza que emerge é de que Dilma Rousseff não mais governa, simplesmente jogou a toalha. Só se preocupa com a dieta e as pedaladas, tentando se equilibrar no poder e resistir até 2018. Sua esperança é esta, não se importa se ficar na História como a pior governanta que este país já teve.

No dia em que Dilma for defenestrada e reabrir sua lojinha de R$ 1,99, a Bolsa de Valores vai registrar uma alta recorde e a economia nacional logo começará a se recuperar, porque todos sabem que o deputado Tiririca sempre tem razão quando diz: pior do que está, não fica.

O número 13

O número 13, associado ao dia de sexta-feira, ganhou fama de maldito por via da conjuração contra a Ordem dos Templários, formada por cavaleiros que se intitulavam depositários do tesouro do rei Salomão, do Santo Gral, cálice que recolheu o sangue de Cristo, e da chave da sabedoria antiga.

Essa ordem celibatária, composta de monges guerreiros cristãos, pelas regras severas no limite do desprezo da dor física que adotavam, se transformou numa força transnacional poderosa como nenhuma outra. Seus adeptos tinham na ilha de Malta e em Rodes seus centros e bases de apoio, construídos na época das cruzadas para reconquistar Jerusalém e o Santo Sepulcro. Ainda hoje em Rodes existe o castelo da ordem, transformado em museu, que guarda a história e os brasões dos grandes mestres templários.

A ordem foi fundada em Jerusalém, em 1118, por oito cavaleiros (daí a lenda da Mesa Redonda) e passou em seguida a herdar de seus membros, que provinham de famílias abastadas da Europa, verdadeiras fortunas.

O tesouro da ordem também contava com o butim das conquistas em terras de infiéis. A riqueza deu origem a uma espécie de Banco Central do mundo ocidental, com sedes por todo lado e controle do mar Mediterrâneo. Os pagamentos e financiamentos passaram a ser apanágio da ordem. Poder acima do poder, maior que das endividadas famílias reais (dinastias merovíngias) da Europa; assim, a ordem, depois de dois séculos de expansão, trombou, no início do século XIV, com o rei da França, Felipe IV, o Belo.

Com o prestígio minguando e para restaurar o domínio em grande parte cedido aos templários banqueiros (e dar, assim, um calote na ordem), as realezas europeias, orquestradas por Felipe IV, pelo fraco papa Clemente V e por Guilherme de Nogaret (mentor da trama), fizeram chegar, bem em cima da hora, a mesma “ordem” escrita para prender, em qualquer país, e matar, na primeira hora de sexta-feira de 13 de outubro de 1307, os templários. Deu-se assim um extermínio no mundo ocidental já nas primeiras horas da sexta maldita. O plano, salvo algumas exceções, correu à risca; o grande mestre da ordem Jacques de Molay foi rendido e preso.

Depois de sete anos de masmorra, Jacques de Molay foi executado ardendo no fogo no dia 14 de março de 1314. Assim que a fogueira foi atiçada, ele teria desferido uma maldição aos inimigos pedindo que no mesmo ano todos fossem levados ao inferno sofrendo horrores.

Coincidência ou não, o papa Clemente V expirou em 20 de abril por doença intestinal; Felipe, apesar de Belo, caiu do cavalo, e um javali o rasgou, arrastando suas entranhas, em 29 de novembro; e Nogaret encontrou seu fim, por doença, exatamente no dia 31 de dezembro de 1314.

Os templários que escaparam da conspiração se organizaram em seitas, deixando de ser guerreiros e continuando a se vangloriar de depositários do Santo Gral e de outras façanhas do rei Salomão. Teriam originado a Ordem dos Cavaleiros de Malta, dos rosa-cruzes, dos Illuminati di Baviera, que até hoje emergem hora ou outra como manobristas da ordem mundial.

O número 13 ficou na história e na superstição; mesmo sem ser associado à sexta-feira, restou como número de má sorte, mas, para alguns, o número seria o contrário, de sorte. Ainda contra ele pesa o número de participantes da Santa Ceia, 12 apóstolos e o Mestre.

Ao se escolher o 13, se enfrenta sempre o dilema, hamletiano: bom ou ruim? Em alguns países o número 13 foi varrido como andar de prédios, como número de rua, e, se numa mesa sentam-se 13, mais um tem que ser chamado.

O próximo dia 13 será um dia decisivo para medir a capacidade de enfrentar a onda do impeachment, que depois de um recuo volta com força, aumentada pela recessão e pelo desemprego, a bater às portas do Planalto.

Lula, acossado como nunca, desceu do trono da popularidade e disputa agora o papel que lhe resta, de mito, para não passar por aquele de vilão. Sairá destruído ou fortalecido.

Resta o fato de que no Brasil a produção em qualquer setor (exceção para a agricultura) vem despencando verticalmente, fazendo empresas fecharem as portas, despejando multidões de desempregados. O governo enfrenta uma rejeição nunca registrada antes.

No horizonte e no Planalto não se enxerga algo que possa servir de freio à queda livre, e, sobretudo, dar sinal de controlar a confusão instalada na política e na economia, devastando as esperanças no Brasil e o conceito lá fora.

O Brasil precisa deixar para trás a insegurança, tem o dever de crescer, desenvolver, dar soluções às demandas de 200 milhões de brasileiros.

Os escândalos do PT desde o início da era Lula e o terremoto com a Lava-Jato

Um vídeo com Waldomiro Diniz, então assessor da Presidência para assuntos parlamentares, deu início, em fevereiro de 2004, à série de escândalos envolvendo o Partido dos Trabalhadores após Luiz Inácio Lula da Silva assumir a Presidência da República, no ano anterior. Waldomiro foi afastado do cargo depois da divulgação de imagens em que aparece cobrando propina para arrecadar dinheiro para a campanha eleitoral do partido, em 2002, quando era presidente da Loterj - Loteria do Estado do Rio de Janeiro. No decorrer do processo, descobriu-se que ele também era ligado a Carlinhos Cachoeira, empresário preso por acusações de envolvimento no crime organizado e corrupção.


Pouco mais de um ano depois, em 15 de junho de 2005, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), da base aliada do governo, detalhou, no Conselho de Ética da Câmara, em depoimento transmitido ao vivo pela TV, o esquema de corrupção que consistia na compra de votos comandado pelo governo do PT, o mensalão. Ele acusou, entre outros altos dirigentes petistas, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Deputados eram periodicamente pagos com dinheiro público, desviado com a ajuda do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do operador, o publicitário Marcos Valério.
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Dez anos depois...

Dilma Rousseff, ontem, em Caxias do Sul (RS), para militantes do Partido dos Trabalhadores: — O presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que ninguém.

Lula, sexta-feira, em São Paulo: — Antes deles (policiais, procuradores e juízes) já fazíamos as coisas corretas nesse país... Eu fui melhor que todos. Eu fui melhor que todos cientistas políticos, fazendeiros, advogados e médicos que governaram este país.

Lula é um hábil ator da política-espetáculo. Soube com antecedência e reagiu de forma estudada. “Vou ser preso ou vão fazer a minha condução coercitiva”, avisou na véspera a Gilberto Carvalho — contou o ex-secretário presidencial à repórter Natuza Nery.

O momento mais espontâneo da sexta talvez tenha sido a conversa gravada e divulgada pela aliada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Ao telefone com a presidente, Lula disse o que pensa sobre as instituições, sugerindo um rumo para o processo sobre corrupção na Petrobras: “Que enfiem...” Não se conhece resposta de Dilma.

Lula sabe, também, que deverá ser denunciado. É a tendência da procuradoria com base em evidências sobre as finanças de cinco grandes empreiteiras, responsabilizadas por quase 70% da corrupção comprovada em negócios da Petrobras durante o governo Lula. Entre outras transações, os procuradores descreveram pagamentos de R$ 560 mil mensais ao ex-presidente, de 2011 a 2014. Lula defendeu-as: “Já se deram conta de que o salário de muita gente na Justiça vem dos impostos que pagam essas empresas?”

Preferiu dever respostas substantivas, como se desejasse entregar-se às suspeitas. Reverberou contra as instituições e voltou a sinalizar que a História é ele. Arrematou com seu estado de espírito: “Indignado”, “magoado” e “perseguido”.


Por coincidência, neste março completam-se dez anos daquela que talvez tenha sido a maior das injustiças cometidas pelo Estado brasileiro contra um cidadão comum: Francenildo dos Santos. Aos 24 anos, ganhava por mês (R$ 370) quase 1.500 vezes menos do que Lula recebeu das cinco empreiteiras do caso Petrobras.

Caseiro no Lago Sul, em Brasília, em 2006 testemunhou cenas dos porões do poder, como o trânsito de malas de dinheiro em ambiente de festas libertinas. Num ano eleitoral marcado pelo inquérito do mensalão, confirmou à repórter Rosa Costa que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, frequentava a casa.

Convocado à CPI, foi silenciado pelo senador Tião Vianna (PT), que obteve uma liminar no Supremo. O número do seu CPF foi levado da Secretaria da Receita, comandada por Jorge Rachid, para o Palácio do Planalto. Ali, Lula se reunia com o ministro Palocci e o presidente da Caixa, Jorge Mattoso. À noite, o ministro recebeu de Mattoso um envelope com a violação do sigilo bancário de Francenildo na Caixa, relatou o repórter João Moreira Salles.

O governo espalhou cópias de extrato bancário onde constava depósito de R$ 30 mil. Tornou o caseiro suspeito de corrupção, a soldo dos “inimigos” eleitorais. A farsa não durou. Foi comprovado que o dinheiro fora doado pelo pai do caseiro, em parcelas, para ajudá-lo a comprar uma casa.

Desempregado e com a vida vasculhada, Francenildo aguentou firme. Até sugeriu que a devassa se estendesse ao seu voto na eleição de 2002: ajudara a eleger Lula presidente, de quem jamais recebeu sequer um pedido de desculpas.
José Casado