O Brasil é um país violento. Responde por 20,4% dos homicídios do planeta embora abrigue apenas 2,7% da população mundial, segundo dados do Escritório das Nações Unidas para Crimes e Drogas (Unodoc). Em números absolutos, lidera o macabro ranking de mais de 48 mil homicídios contra os 40,6 mil do segundo colocado, a Índia, com os seus 1,3 bilhão de habitantes. É um país que mata seus jovens, a maioria negros; que escurraça, violenta e mata mulheres e LGBTQIA+s. E cada vez mais agride e mata por motivação política. Não raro, com incentivo oficial para a violência.
Nos últimos três anos, a violência política cresceu 335%, com 1.209 ataques do tipo entre janeiro de 2019 e junho deste ano, de acordo com o levantamento realizado pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da UniRio. Só nos primeiros seis meses de 2022, 40 lideranças políticas foram assassinadas. Em 2020, quando se disputaram as eleições municipais, 85 candidatos a vereador, prefeito e vice foram mortos.
Portanto, as 15 facadas desferidas pelo bolsonarista Rafael de Oliveira, que na última quinta-feira deram fim à vida do petista Benedito Cardoso dos Santos, em Confresa, a mais de mil quilômetros de Cuiabá, estão longe de ser um caso isolado. São resultado da política de ódio, que, mesmo não tendo sido inventada pelo presidente Jair Bolsonaro, foi oficializada por ele. Insere-se aqui sua obsessão por armas de fogo, que na sua cabeça doentia podem ser utilizadas pela população não só para segurança pessoal, mas também para “preservação da democracia”.
Casos recentes como o assassinato de Foz de Iguaçu, quando o bolsonarista Jorge José Guaranho matou a tiros o aniversariante petista Marcelo Aloizio de Arruda, e o de Davi Augusto de Souza, baleado nas pernas pelo PM Vitor da Silva Lopes, por discordar da pregação política pró-Bolsonaro do pastor da Congregação Cristã do Brasil de Goiânia, são produtos dessa cultura. E, perigosamente, eles têm sido tratados pelas polícias locais como rivalidades “normais”, brigas como quaisquer outras, crimes torpes, mas sem motivação política – estranha característica comum que une esses últimos três episódios.
Embora a lei não trate especificamente o crime por motivação política, as ocorrências enquadradas neste tópico têm penas mais graves, qualificadas no artigo 121 do Código Penal. Adicionalmente, impõem danos aos políticos da mesma linhagem dos agressores. Isso pode explicar os pudores – para não dizer adesismo – das polícias em vincular à política os assassinatos e agressões obviamente políticos.
Para agravar o que não poderia ser mais grave, tem-se a impunidade. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018, continua sem solução há mais de 1.600 dias. Na Bahia, a morte do mestre de capoeira Moa do Catendê, em outubro do mesmo ano, foi apontada como crime político, mas o esfaqueador, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, ainda não foi julgado.
Bolsonaro não dá um pio quanto ao recrudescimento da violência política. A única ocorrência que ele inclui nesse rol é o atentado a faca do qual foi vítima em 2018, em Juiz de Fora. A investigação – virada e revirada – aponta que o culpado Adélio Bispo, cumprindo pena na Penitenciária Federal de Campo Grande (MT), tem problemas mentais. Bolsonaro discorda e insiste em associar o ato a uma conspiração da esquerda.
Quisera que a reação de Bolsonaro fosse apenas o silêncio. No dia seguinte ao esfaqueamento do petista Benedito pelo bolsonarista Rafael, o presidente aumentou o tom do enfrentamento. Tratou o PT como “praga” a ser “varrida para o lixo”. Praticamente repetiu o Lula de 2010, que pretendia “extirpar o DEM da política brasileira”. Incentivadores da divisão da sociedade – “nós versus eles”, “bons versus maus” -, ambos exibem absoluto desprezo pela democracia, que pressupõe respeito ao contraditório e aos adversários. Sem isso, a violência grassa.
Dizem por ai que todo homem tem seu preço. Há quem vá mais longe afirmando que alguns homens são vendidos a preço de banana. Sempre esperei, na vida, o dia da Grande Corrupção, e confesso, decepcionado, que ele nunca veio. A mim só me oferecem causas meritórias, oportunidades de sacrifício, salvações da Pátria ou pura e frontalmente a hedionda tarefa de lutar.. . contra a corrupção. Enquanto eu procuro desesperadamente uma oportunidade, as pessoas e entidades agem comigo de tal forma que às vezes chego a duvidar de que a corrupção exista. Mas, falar em corrupção, como anda a sua? Vendendo saúde ou combalida e atrofiada como a minha? Responda com muito cuidado às perguntas abaixo e depois conclua sobre sua própria personalidade: você é um corrupto total ou um idiota completo? (Não há meio-termo.) Conte 10 pontos para cada resposta certa (você é quem decide qual é a certa) e verifique depois o grau de sua corruptibilidade. Nota: Se você roubar neste teste, é porque sua corrupção é mesmo absolutamente incorruptível.
A) Você descobre que o chefe do seu departamento está com um caso complicado com a secretária do outro chefe em frente. Você: 1) Finge que não viu nada. 2) Diz à secretária que ou também está, nessa ou vai botar a boca no mundo. 3) Oferece o seu sítio ao chefe pra ele passar o fim de semana. 4) Bota a boca no mundo. 5) Insinua ao chefe que há a perigosa hipótese de a mulher dele vir a saber (e enquanto isso põe a promoção embaixo do nariz dele pra ele assinar).
B) Você acha que a Lei e a Ordem é uma mística social maravilhosa para: 1) Impor a lei e a ordem. 2) Acabar com a grita dos descontentes. 3) Grandes oportunidades de ganhar algum por fora. 4) Dividir o bolo entre os íntimos sem ninguém de fora piar.
C) A primeira vez em que você ouviu falar do escândalo de Watergate você disse: 1) Isso é que é país! 2) Como é que o governo americano permite uma imprensa dessas? Isso desmoraliza um país! 3) Eu não compraria um carro usado desse Nixon. 4) Isso jamais aconteceria entre nós. 5) Quanto terão levado esses caras pra se arriscarem dessa maneira?
D) Você, como representante oficial da fiscalização, comparece à apresentação de contas, em dinheiro, no Instituto dos Cegos. Fica surpreendido com o alto volume das arrecadações e em certo momento: 1 ) Diz : “Estou surpreendido com a miserabilidade dos donativos”. E tenta enrustir algum. 2) Diz: “Como representante do fisco sou obrigado a reter 30 % de tudo porque esta arrecadação é totalmente ilegal”. 3) Diz: “Teria sido até uma boa arrecadação se metade das notas não fossem falsas”. 4) Disfarça bem a voz e diz, entredentes: “Todos quietinhos aí, seus Homeros de uma figa: Isto é um assalto!”
E) Você se demite do cargo de maneira irrevogável por insuportáveis pressões morais e absoluta impossibilidade de compactuar com a presente política da firma. Eles prometem triplicar o seu salário. Você: 1) Recusa, indignado, por pensarem que é tudo uma questão de dinheiro. Só ficará se eles derem também as três viagens anuais à Europa a que todos os diretores têm direito. E participação nos lucros retidos da companhia. 2) Diz que, evidentemente, isso e uma prova moral de que eles estão de acordo com você. O dinheiro, aí é definitivo como demonstração de confiança na sua gestão. 3) Pede para pensar 5 minutos antes de dar a resposta. 4) Explica que tem mulher e filhos e não pode manter um pedido de demissão feito, afinal de contas, por motivos tão irrelevantes.
F) Há uma diferença fundamental entre fraudar e evitar o imposto de renda. Quando você descobriu isso, você: 1) Ficou indignado com as possibilidades de os poderosos usarem tudo a seu favor. Como é que se pode escamotear um ordenado? 2) Começou a estudar furiosamente a legislação para descobrir todos os furos. 3) Tinha 11 anos de idade e estava terminando o curso primário. 4) Nunca mais pagou um tostão de imposto.
G) Você dá um nota de 10 pra pagar o jornal, no jornaleiro velhinho da banca da esquina, e percebe que ele lhe deu 50 como troco. Você imediatamente: 1) Corrige o erro do velhinho? 2) Reclama chateado aproveitando a gagaíce do vendedor: “Pô, eu lhe dei uma nota de 100?” 3) Chega em casa e manda todos os seus filhos comprarem vários jornais? 4) Bota o dinheiro no bolso e fica freguês?
H) Você teve que fazer um trabalho na rua, não pôde almoçar, comeu um sanduíche. Você apresenta a conta na companhia: 1) Um sanduíche — 3 cruzeiros. 2) Almoço — 32 cruzeiros. 3) Almoço com o representante da A&F Ltda. — 79 cruzeiros. 4) Despesas gerais — 143 cruzeiros.
I) Quando o desfalque dado pelo auditor geral (8.000.000 pratas) chega a seus ouvidos você murmura: 1) “Idiota, se deixar apanhar assim”. 2) “Será que eles vão descobrir também os meus 10.000?”. 3) “Se ele tivesse me dado 10% eu tinha feito o negócio de maneira que ninguém nunca ia descobrir”. 4) “Eu fiz bem em não entrar no negócio”.
Conselho de amigo:
Quando alguém, na rua, gritar “Pega ladrão!”, finge que não é com você. Millôr Fernandes