Nos últimos três anos, a violência política cresceu 335%, com 1.209 ataques do tipo entre janeiro de 2019 e junho deste ano, de acordo com o levantamento realizado pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral da UniRio. Só nos primeiros seis meses de 2022, 40 lideranças políticas foram assassinadas. Em 2020, quando se disputaram as eleições municipais, 85 candidatos a vereador, prefeito e vice foram mortos.
Casos recentes como o assassinato de Foz de Iguaçu, quando o bolsonarista Jorge José Guaranho matou a tiros o aniversariante petista Marcelo Aloizio de Arruda, e o de Davi Augusto de Souza, baleado nas pernas pelo PM Vitor da Silva Lopes, por discordar da pregação política pró-Bolsonaro do pastor da Congregação Cristã do Brasil de Goiânia, são produtos dessa cultura. E, perigosamente, eles têm sido tratados pelas polícias locais como rivalidades “normais”, brigas como quaisquer outras, crimes torpes, mas sem motivação política – estranha característica comum que une esses últimos três episódios.
Embora a lei não trate especificamente o crime por motivação política, as ocorrências enquadradas neste tópico têm penas mais graves, qualificadas no artigo 121 do Código Penal. Adicionalmente, impõem danos aos políticos da mesma linhagem dos agressores. Isso pode explicar os pudores – para não dizer adesismo – das polícias em vincular à política os assassinatos e agressões obviamente políticos.
Para agravar o que não poderia ser mais grave, tem-se a impunidade. O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018, continua sem solução há mais de 1.600 dias. Na Bahia, a morte do mestre de capoeira Moa do Catendê, em outubro do mesmo ano, foi apontada como crime político, mas o esfaqueador, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, ainda não foi julgado.
Bolsonaro não dá um pio quanto ao recrudescimento da violência política. A única ocorrência que ele inclui nesse rol é o atentado a faca do qual foi vítima em 2018, em Juiz de Fora. A investigação – virada e revirada – aponta que o culpado Adélio Bispo, cumprindo pena na Penitenciária Federal de Campo Grande (MT), tem problemas mentais. Bolsonaro discorda e insiste em associar o ato a uma conspiração da esquerda.
Quisera que a reação de Bolsonaro fosse apenas o silêncio. No dia seguinte ao esfaqueamento do petista Benedito pelo bolsonarista Rafael, o presidente aumentou o tom do enfrentamento. Tratou o PT como “praga” a ser “varrida para o lixo”. Praticamente repetiu o Lula de 2010, que pretendia “extirpar o DEM da política brasileira”. Incentivadores da divisão da sociedade – “nós versus eles”, “bons versus maus” -, ambos exibem absoluto desprezo pela democracia, que pressupõe respeito ao contraditório e aos adversários. Sem isso, a violência grassa.
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