Ou fuja à análise mais detalhada do aspirante a legislador, sente-se e ria. É uma comédia, não resta dúvida. Não só há nomes estranhos — alguns remetem à profissão, ao negócio, ao fato de o indivíduo ser pastor ou policial, outros parecem apelidos forjados no mais escandaloso bullying —, como também “plataformas” de rachar o bico. No Rio, a credencial de uma determinada candidata é ser irmã de um sujeito cujo mandato acaba de ser cassado por ele ser acusado, entre outras barbaridades, de pedofilia. Quando se para e se toma fôlego, o riso estanca.
A eleição levada como esquete de circo caça-níquel prenuncia um péssimo futuro. Não seria espantoso assistir a um engolidor de fogo devorar a luz, pois é o que faz grande parte desses títeres de donos de partidos. Aquela máxima dos tempos da ditadura — o último a sair apague a luz — se voltou contra nós; não saímos, resistimos, mas um saudosista daqueles tempos não só apagou a luz, mas também arrebentou todos os fios, danificou a caixa de luz, explodiu as usinas.
Melhor então, quem sabe, se distrair com outra coisa. Um olho na TV e o outro no passado. Por favor, só não se engane com o papo de que naqueles tempos tudo era melhor. Leia “Vila dos Confins”, de Mário Palmério, e veja como eram as campanhas eleitorais quando o Brasil era rural e nem em sonho se cogitava a existência de urnas eletrônicas. No romance, um cabo eleitoral se mete no Brasil profundo com a função de agregar os grandes fazendeiros em torno da candidatura para a qual trabalha. Se o coronel fecha um acordo, bem, todos os seus empregados o acompanham — o famoso voto de cabresto. A turma que defende foto do voto ou voto manual deseja a volta daqueles tempos, bons para eles e para mais ninguém. Na realidade, sonham com a época em que nem eleições havia ou só havia, sob muita vigilância, para os cargos menores. São eles os restolhos de uma ditadura que não foi, como deveria, superada, morta e enterrada.
O tempo que o horário político sequestra de nós é propício a rememorar a infância, aquele mágico período em que, retirando alguns probleminhas, problemas ou problemões, ninguém se angustia quanto aos rumos do país, só isso vale um tesouro. Mas insisto: ontem não era melhor que agora, nem hoje será melhor que amanhã, ainda que, sim, houvesse coisas muito boas que se perderam, assim como algumas se perderão daqui para o futuro. Nesse interregno no qual uma horda de siderados quer nos convencer — seguindo um roteiro além de ruim, manipulador — de sua capacidade de resolver todos os problemas do país com soluções simplistas, malabarismos, se é para se dar o direito a um pingo de alienação, entre pela porta de Shangri-lá.
Que tal preparar um milk-shake para compartilhar com as crianças? Ou se aproximar de seu amor e dizer-lhe o quanto a vida é melhor em sua companhia? Ou roubar desse amor um beijo, um arrepio, e oferecer-se de corpo e alma ao corpo e à alma dele? Falar com um velho amigo, aquele que nunca ligou para política e só pensa em futebol? Ah, nada como uma discussão sobre futebol!
Há, ainda, o caminho dos pedregulhos, ou seja, com um paralelepípedo nas mãos, tomar as ruas com a intenção de derrubar tudo ligado a essa gente: sedes de partidos, congresso, assembleias, os palácios modernos de Niemeyer. Confesso que de vez em quando tenho vontades assim, mas a coisa só se acertará a partir da política. São falsos esses que, estando nela, vendem a ideia de que não estão. Preste atenção no horário eleitoral, ainda que só de vez em quando, pois, entre tantos paspalhos, alguns defendem causas urgentes, pertencem a grupos marginalizados, precisam ganhar voz. Alguns carregam uma vela.
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