sexta-feira, 10 de junho de 2022

Fome é marca nefasta da gestão Bolsonaro

A palavra que resume o governo Jair Bolsonaro é involução. Sob seu comando, desde 2019 o Brasil retrocedeu em várias áreas. Uma das heranças mais nefastas que Bolsonaro nos deixará é a fome, um ataque ao direito fundamental às necessidades mais básicas.

Falta comida na mesa de 33 milhões de brasileiros, segundo o último levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), a partir de entrevistas em 12 mil domicílios de todas as regiões do país. Doze milhões de famintos estão no Nordeste, 11,7 milhões no Sudeste. Outros 32 milhões comem menos do que costumavam ou suprimiram uma das refeições. Há ainda um contingente de 59 milhões que não sabem se terão dinheiro para comprar comida no futuro e passaram a escolher produtos mais baratos na hora de fazer as compras.


Na comparação com um ano atrás, o número dos que passam fome aumentou 14 milhões. É mais que a população do município de São Paulo, o maior do Brasil. O grupo dos que comem menos cresceu 8 milhões, soma dos habitantes de Brasília, Belo Horizonte e Fortaleza. Bolsonaro pode ser maquiado, penteado e treinado para falar do Auxílio Brasil, programa social que substituiu o Bolsa Família. Mas infelizmente não é capaz de mudar a triste realidade. Falta trabalho, falta renda, falta comida.

Por algum tempo, a fome parecia um flagelo destinado a ficar restrito ao passado, descrito em livros como “Vidas secas”, de Graciliano Ramos, “Quarto de despejo”, de Carolina de Jesus, ou “A fome”, de Rodolfo Teófilo. Em 2013, os brasileiros com insegurança alimentar moderada (quantidade insuficiente) ou grave (fome) haviam caído a 10%. Na mesma época, o Brasil saiu do Mapa da Fome feito pelas Nações Unidas.

Pois as barbeiragens de Bolsonaro na economia, sua falta de capacidade para tomar as melhores decisões nos piores momentos da pandemia e o desmonte de programas do Estado destinados a combater o problema trouxeram o flagelo de volta. Hoje, nada menos que 30% dos brasileiros sofrem de insegurança alimentar moderada ou grave, o dobro do nível registrado no último ano do governo Temer.

Os mais afetados não são uma novidade. Lares com crianças sofrem mais. Mesmo em domicílios com rendimento mensal acima de um salário mínimo per capita, a insegurança alimentar é maior se o provedor for negro. Dois de cada dez lares comandados por mulheres convivem com a fome.

Entidades da sociedade civil não têm medido esforços para distribuir comida aos necessitados desde que eclodiu a pandemia. Mas, mesmo com a recuperação da atividade econômica nos últimos meses, a fome não parou de aumentar.

Se estivesse interessado em governar, Bolsonaro poderia ter evitado uma calamidade dessa magnitude. Em vez disso, preferiu investir seu tempo em ataques à democracia, discursos cheios de grosserias, brigas intermináveis com inimigos imaginários e passeios de motocicleta. Enquanto isso, a população só quer viver uma vida digna, sem passar fome. Difícil imaginar retrocesso civilizatório maior.

Fome ajuda a notar a falta que faz um presidente

A luz da insegurança alimentar voltou a piscar intensamente no painel de controle do Brasil no governo de Dilma Rousseff, que afundou o país numa recessão monumental. Hoje, potencializada pela pandemia, a fome ajuda a realçar a falta que faz um presidente da República.

Com a geladeira do Alvorada abarrotada de todas as iguarias que o déficit público pode pagar, Bolsonaro costuma se vangloriar da condição ostentada pelo Brasil de potência mundial na produção de alimentos. E não consegue enxergar a pobreza que viceja ao redor.

"Nós alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas mundo afora", diz o inquilino dos palácios de Brasília. "Damos garantia alimentar para nós e para grande parte da população mundial", vocifera Bolsonaro.

O estudo que traz à luz a estarrecedora informação segundo a qual o número de famintos no Brasil quase que dobrou em dois anos, chegando à devastadora marca de 33,1 milhões de bocas mal nutridas, revela que o pior tipo de cego é o governante que não quer ouvir os lamentos pronunciados na fila do osso e nas caçambas de lixo dos supermercados.

Bem alimentado, Bolsonaro deu nova evidência de sua inanição mental numa entrevista ao SBT, nesta terça-feira. Ele falava sobre o risco de faltar óleo diesel no país. Olhando fixamente para a entrevistadora, sapecou:

"Vou falar um absurdo para você aqui. Podemos partir para o escambo, a troca. Tem país que refina petróleo e tem diesel em abundância, nós temos alimentos. Os dois são importantes. Mas a comida é mais importante"

Do modo como se expressa, o presidente parece acreditar nos seus próprios absurdos. O descompromisso de Bolsonaro levou seu governo a asfixiar programas como o Alimenta Brasil, criado para comprar a produção da agricultura familiar e doar alimentos para pessoas em situação de insegurança alimentar. Para Bolsonaro, não há fome no Brasil.