sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Brasil Novo


A política republicana

Não gosto, nem trato de política. Não há assunto que mais me repugne do que aquilo que se chama habitualmente política. Eu a encaro, como todo o povo a vê, isto é, um ajuntamento de piratas mais ou menos diplomados que exploram a desgraça e a miséria dos humildes.

Nunca quereria tratar de semelhante assunto, mas a minha obrigação de escritor leva-me a dizer alguma coisa a respeito, a fim de que não pareça que há medo em dar, sobre a questão, qualquer opinião.

No Império, apesar de tudo, ela tinha alguma grandeza e beleza. As fórmulas eram mais ou menos respeitadas; os homens tinham elevação moral e mesmo, em alguns, havia desinteresse.

Não é mentira isto, tanto assim que muitos que passaram pelas maiores posições morreram pobríssimos e a sua descendência só tem de fortuna o nome que recebeu.

O que havia neles não era a ambição de dinheiro. Era, certamente, a de glória e de nome; e, por isso mesmo, pouco se incomodariam com os proventos da ‘indústria política’.


A República, porém, trazendo tona dos poderes públicos, a borra do Brasil, transformou completamente os nossos costumes administrativos e todos os ‘arrivistas’ se fizeram políticos para enriquecer.

Já na Revolução Francesa a coisa foi a mesma. Fouché, que era um pobretão, sem ofício nem benefício, atravessando todas as vicissitudes da Grande Crise, acabou morrendo milionário.

Como ele, muitos outros que não cito aqui para não ser fastidioso.

Até este ponto eu perdoo toda a espécie de revolucionários e derrubadores de regimes; mas o que não acho razoável é que eles queiram modelar todas as almas na forma das suas próprias.

A República no Brasil é o regime da corrução. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a ‘verba secreta’, os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência.

A vida, infelizmente, deve ser uma luta; e quem não sabe lutar, não é homem.

A gente do Brasil, entretanto, pensa que a existência nossa deve ser a submissão aos Acácios e Pachecos, para obter ajudas de custo e sinecuras.

Vem disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral e a desgraça que se nota no geral da nossa população.

Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem ‘comer’.

‘Comem’ os juristas, ‘comem’ os filósofos, ‘comem’ os médicos, ‘comem’ os advogados, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’.

Esse aspecto da nossa terra para quem analisa o seu estado atual, com toda a independência de espírito, nasceu-lhe depois da República.

Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos os matizes.

Parecia que o Império reprimia tanta sordidez nas nossas almas.

Ele tinha a virtude da modéstia e implantou em nós essa mesma virtude; mas, proclamada que foi a República, ali, no Campo de Santana, por três batalhões, o Brasil perdeu a vergonha e os seus filhos ficaram capachos, para sugar os cofres públicos, desta ou daquela forma.

Não se admite mais independência de pensamento ou de espírito. Quando não se consegue, por dinheiro, abafa-se.

É a política da corrução, quando não é a do arrocho.

Viva a República!

Lima Barreto

Só manteve mamata




A República extinguiu o privilégio dos Braganças, mas não conseguiu eliminar os privilégios sociais
José Murilo de Carvalho

Na retaguarda do atraso

Espirituoso e observador dos bons, ministro da Justiça escolhido por Tancredo Neves e incorporado ao governo do vice e sucessor, Fernando Lyra sapecou nos idos dos 1980 uma frase que ficaria na história: “Sarney é a vanguarda do atraso”. Fez o chiste a propósito de definir o presidente como o melhor que se poderia ter naquele momento de pesar, apesar de todos os pesares.


Lá se vão mais de trinta anos, e aquele que foi também um traçado crítico da política brasileira recém-liberta da ditadura só não pode ser aplicado à atualidade porque não existem (ainda?) no cenário lideranças capazes de representar algo parecido com esperança de mudança para melhor. Salvo alguns breves ensaios logo interditados pelo êxito eleitoral do populismo, nessas três décadas retrocedemos a um quadro mais apropriado ao que poderíamos chamar de retaguarda do atraso.

A despeito da modernização em diversos setores, na política seguimos vivendo sob a égide da obsolescência. Seja nas regras que norteiam o sistema eleitoral, seja no funcionamento dos partidos, na vocação da maioria para pautar escolhas de governantes por esperanças tão apaixonadas quanto equivocadas, na dinâmica da dicotomia desprovida de nuances atualmente chamada de polarização, que vem de longe e continua a privilegiar a exclusão como norma na tomada de decisões.

Voltemos de novo no tempo, desta vez para demonstrar. Na primeira eleição direta pós-regime militar havia uma variedade enorme de candidaturas presidenciais (eram 22 os concorrentes), algumas bastante qualificadas, mas prevaleceu o critério da rejeição: sendo o governo José Sarney a encarnação do mal na óptica vigente, ganhou aquele que soube representar o seu contrário (Fernando Collor). Fez isso nos termos rancorosos muito parecidos com os utilizados hoje.

Com o surgimento do PSDB, acirraram-se as animosidades entre tucanos e petistas, que já se estranhavam desde a cisão da esquerda decorrente do fim da frente de combate à ditadura. Instalou-se, então, o ambiente de beligerância que dominaria a política por mais de vinte anos como se nada mais existisse a não ser PT e PSDB. E nem existia mesmo, pois as demais forças atuavam como satélites desses dois partidos. Criticar um significava automaticamente adesão ao outro. Tudo branco ou preto, sem direito a meio-tom.

E eis que estamos de volta ao que a velha musa entoava. No mesmo lugar no qual é de se perguntar se e quando o Brasil vai se dar ao direito de não dançar conforme a música do embate bipolar que nos impõe o modo dízima periódica, numa repetição sem fim.

Escapar dessa armadilha não é fácil, mas é possível. A eleição de 2018 mostrou que há um enorme contingente a ser trabalhado entre os que votaram no candidato que lhes pareceu o menos deletério e os que não fizeram escolha alguma, ausentando-se, isentando-se (opção em branco) ou protestando mediante o voto nulo.

O mundo político há que se virar para apresentar boas alternativas, mas o eleitorado há que se mexer muito mais ainda para adaptar seus critérios de avaliação a fim de não se deixar capturar pelos ilusionismos de todos já bastante conhecidos.

Relaxe


Sob Toffoli, absurdo adquire naturalidade no STF

Só há dois caminhos possíveis na vida. Ou você é parte da solução ou é parte do problema. Ao requisitar ao Banco Central, em 25 de outubro, dados bancários e fiscais sigilosos de 600 mil pessoas e empresas, Dias Toffoli revela uma disposição incontida de manter o Supremo Tribunal Federal no rol dos problemas. Sob a presidência de Toffoli, o absurdo vai adquirindo na Suprema Corte uma doce, uma persuasiva, uma admirável naturalidade.

Há quatro meses, quando impôs a trava que congelou as investigações relacionadas a Flávio Bolsonaro, Toffoli tentou passar a impressão de que não assinava uma liminar em pleno período de férias do Judiciário apenas para proteger o filho do presidente da República. Suspendeu, então, todos os processos municiados com dados detalhados do antigo Coaf. Alegou que agia "em defesa de toda a sociedade", não do primeiro-filho.


Toffoli sustenta que movimentações bancárias suspeitas só podem ser compartilhadas depois de uma decisão judicial. Com isso, transforma o velho Coaf numa espécie de arquivo morto, que só pode ser manuseado pelas togas muito vivas do Supremo. Toffoli colocou-se num posto de observação privilegiado. Pode olhar com lupa dados que proibiu procuradores e promotores de usar. Apalpa inclusive informações sobre políticos e autoridades. Vale atrasar o relógio para verificar como tudo começou.

Na origem da encrenca, está um processo que nasceu há 16 anos, em 2003. Nele, os sócios de um posto de gasolina contestaram a legalidade do compartilhamento de seus dados fiscais, repassados pela Receita ao Ministério Público. O processo chegou na mesa de Toffoli no ano passado. Em abril de 2018, o julgamento foi marcado para 21 de março de 2019. Sem pressa, Toffoli adiou a encrenca para 21 de novembro.

De repente, os advogados de Flávio Bolsonaro engancharam nesse processo o pedido de trancamento das investigações contra o Zero Um. Desde então, coisas estranhas acontecem no Supremo. Não é que a Justiça seja cega. Ela é caolha, só enxerga a metade que interessa. Nesse ritmo, Toffoli vai acabar transformando a Supremacia do Supremo num poder extremamente seletivo.

O 'milagre chileno' se choca com a realidade

"Eat the rich", "Coma os ricos". Poucas pichações são tão eloquentes sobre o momento que atravessa um país como a que apareceu recentemente na fachada de um hotel em Santiago. Uma mensagem direta, em inglês —para que ninguém, nem dentro nem fora, pudesse alegar a barreira idiomática— e com dois claros destinatários: as classes acomodadas de uma nação que arde em protestos há três semanas, e os turistas e homens de negócios que visitam a capital chilena num de seus períodos mais conturbados em muitos anos. O Chile quer justiça social e a quer já, depois de décadas de promessas descumpridas e de, nas palavras da economista do desenvolvimento Nora Lustig, “um modelo privatizador dos serviços públicos que deixou muita gente de fora”. O ano de 2019, como dizia outra das muitas pichações políticas que se multiplicam nas ruas da cidade, será recordado como o momento em que “o Chile acordou”.


As receitas econômicas aplicadas nas últimas quatro décadas resultaram em uma onda de elogios dos principais organismos internacionais, consagrando o Chile com a bitola do “milagre econômico” da região por antonomásia, por suas saudáveis taxas de crescimento econômico e por ter obtido, em tempo recorde, uma das maiores rendas per capita da América Latina – posição eternamente em disputa com o Panamá. Mas o caso chileno é paradigmático de uma máxima que nunca convém esquecer na economia: que a renda per capita – que levou um bom número de economistas a compará-lo à Coreia do Sul, talvez o grande caso de sucesso contemporâneo em escala global, não é suficiente como termômetro do bem-estar real e da fragmentação socioeconômica de um território.

A era dourada do crescimento chileno descansou sobre dois pilares: o cobre – é o maior produtor global, uma bênção da qual, entretanto, não conseguiu se diversificar com sucesso – e uma fé inabalável no livre mercado: lidera os rankings latino-americanos em facilidade para fazer negócios, e a ideologia do laissez faire –marca da casa da escola de Chicago, que, como constata Lisa North, professora emérita de Ciência Política na Universidade de York (Toronto), encontrou no Chile de Augusto Pinochet um terreno especialmente fértil para sua entrada na região. “Houve, sobretudo no exterior, uma supervalorização do modelo chileno: se o processo liberalizante tivesse sido acompanhado de uma maior concorrência econômica, o bem-estar resultante teria sido muito maior. Aqui, porém, ocorreu uma alta concentração, de modo que a riqueza ficou em poucas mãos”, critica Gonzalo Martner, ex-embaixador e ex-presidente do Partido Socialista.

Longe dos padrões da OCDE – "com os quais deveria se comparar o Chile de hoje", acrescenta Lustig, professora na Universidade Tulane (Nova Orleans, EUA) –, mas acima de outros grandes países americanos onde a desigualdade campeia, como o México e os EUA – a disparidade de renda tem caído, mas permanece em níveis "inaceitáveis". A isso se soma uma classe média (ao menos de acordo com os dados) cada vez mais descontente. "Com o modelo liberal e o Estado apenas como subsidiário, que só intervém quando a pessoa não tem praticamente nada, há um grupo que não é nem pobre nem rico, que quase não tem acesso a serviços públicos", observa o consultor independente de administrações públicas Andras Uthoff. Os cartões-postais do mal-estar surgem assim que se desce à rua:

O caso de Raquel Sotomayor, de 30 anos e moradores de Puerto Montt – mais de 1.000 quilômetros ao sul de Santiago –, e seu marido é paradigmático de três facetas do problema social chileno: emprego, custo da vida e educação. Formada há dois anos num curso profissionalizante de assistente social, tem dois filhos pequenos, de um e dois anos, e não encontra trabalho. Seu marido, Jonathan (31 anos), ganha 420.000 pesos chilenos (pouco menos de 2.200 reais, compatível com a média da população, cerca de 2.250 reais, segundo os dados reunidos pela Fundação Sol) como professor de Educação Física. Para poder estudar em uma universidade pública, fez um financiamento bancário com aval do Estado, uma prática comum entre os estudantes chilenos. “Nasceu nossa menina, atrasamos uma mensalidade, aí a mensalidade dobrou. Somando os juros, ficou impossível pagarmos”, conta Sotomayor. Sua dívida hoje ultrapassa os 11 milhões de pesos (57.300 reais) e cresce a cada dia por causa dos juros. Em abril do ano que vem, será ela que terá que começar a pagar o seu financiamento, sem nem sequer ter um trabalho.

O encarecimento generalizado da vida agrava sua precariedade. Na falta de estatísticas detalhadas, vale o método empírico: um passeio por Santiago e outro pela Cidade do México bastam para perceber uma importante disparidade em alguns dos principais produtos básicos, com preços mais semelhantes com os de uma capital europeia que os de uma cidade latino-americana. Santiago é, segundo a consultoria Mercer, a terceira metrópole latino-americana mais cara para viver, depois de Montevidéu e San Juan (Porto Rico).

Três coordenadas temporais sobre a origem dos problemas de emprego e educação: em 1979, a ditadura de Pinochet – sob a batuta de José Piñera, ministro naquela época e irmão do hoje presidente – aprova uma completa reformulação das regras trabalhistas, com forte redução da proteção aos trabalhadores, às organizações sindicais e à negociação coletiva; em 1980, abrem-se as portas à criação de universidades privadas sem fins lucrativos, sem maiores exigências sobre qualidade nem preço. “A liberalização do mercado da educação superior fez aumentar muitíssimo os preços e concentrar a oferta na capital”, observa a pesquisadora Claudia Sanhueza; em 1990, na véspera de entregar o poder, o regime de Pinochet dá prevalência à liberdade de educação escolar sobre o direito dos estudantes a obtê-la, permitindo sem maiores restrições a entrada de entes privados na administração de colégios com recursos públicos, sem garantias de qualidade. A educação vira um bom negócio.

Norma Ojeda é professora aposentada, tem 76 anos e vive em San Bernardo, no sul da capital chilena, com seu marido doente. Trabalhou ininterruptamente durante 38 anos na educação municipal, e seu último salário, em 2005, foi de 680.000 pesos (3.450 reais). Quando recebeu sua primeira pensão, lhe saltaram as lágrimas: era menos de um terço da sua remuneração da ativa. “Mas depois não chorei mais: a dignidade acima de tudo”, conclui. Sua realidade não é de forma alguma uma exceção: desde a conversão do sistema de pensões a um de capitalização individual – em 1981, obra também de José Piñera – cada pessoa faz um esforço individual de economia e, ao terminar sua vida profissional, recebe uma pensão em função do dinheiro que conseguiu acumular e da perícia das administradoras privadas. O resultado da reforma foi uma queda sucessiva no valor das pensões, muito longe dos níveis prometidos há 40 anos. Apesar das reformas introduzidas já na democracia, os pensionistas continuam sofrendo os rigores de uma reviravolta radical no sistema que está na origem do descontentamento de amplas camadas da sociedade.

Nas concentrações de protesto iniciadas em outubro, tornaram-se habituais os cartazes que aludem à má qualidade da saúde pública. “Por você, mamãe... que foi chamada para a cirurgia quando a velávamos” lia-se na cartolina erguida por uma moça. Um paradoxo para o país que fundou o primeiro sistema nacional de saúde da América Latina, na década de 1950. Entretanto, um quarto de século depois de sua entrada em vigor, o regime militar o desmontou, desconcentrando-o em 27 serviços independentes: foi “um golpe sobre a linha de comando institucional”, nas palavras de Álvaro Erazo, o primeiro ministro da Saúde de Michelle Bachelet. Em 1981 viria a estocada final, e dupla: com a criação das instituições de saúde preventiva, que aliviavam o Estado de certas funções e que funcionam sob preceitos de livre concorrência, e que, na prática, representam a privatização da seguridade social; e com a transferência dos centros de atendimento primário para os municípios, desmembrando toda a malha sanitária nacional. “Foi um golpe duro a uma experiência que tinha tido grandes resultados sanitários e que era admirada por sanitaristas de todo o mundo”, critica Erazo.

A diretora-executiva da Fundação GIST, Piga Fernández, devolve a discussão à atualidade. “A desigualdade [na saúde] é tremenda: se você tiver os recursos, saúde privada e acesso a seguros complementares, não tem problema em conseguir os medicamentos dos quais necessita. Mas o filme é diferente para as pessoas que estamos no sistema público de saúde: se você tiver dinheiro vive; se não, morre.”

Lorpas e sacripantas

Bolsonaro e Lula se xingaram de “canalha” mais de uma vez nos últimos dias. O que sugere que teremos um conflito verbal entre os dois no mínimo repetitivo. Para ajudá-los a fugir do lugar-comum e para poupar nossos ouvidos de insultos recíprocos e reincidentes, me senti na obrigação de tentar enriquecer o debate.


Para começar, fiz uma lista de termos que devem seguir “canalha” para a lata do lixo. São insultos comuns como “burro”, “idiota”, “babaca”, “imbecil”, “filho de uma égua”, “jumento”, “besta”, “besta quadrada”, “feioso”, “cretino”, “cagão”, “asno”, “asnático”, “débil mental”, “patife” e outros.

Existem insultos pouco usados que podem ser resgatados da obscuridade, com a vantagem adicional de revelarem para a população a beleza escondida da língua de Camões e Alexandre Frota. Imagine Bolsonaro e Lula se tratando não de “palerma”, mas de “cacóstomo” (pessoa com má articulação). Ou de “biltre” (vil, abjeto), em vez do corriqueiro “bobalhão”.

As alternativas são infinitas. E podem ser introduzidas em qualquer ponto do bate-boca. Por exemplo:

“Estafermo” (sem préstimo, em vez de inútil).

“Sacripanta” (pessoa desprezível).

“Energúmeno” (endoidado, possesso).

“Enxacoco” (pessoa com dificuldade para falar outra língua).

“Farola” (contador de vantagens).

“Obnóxio” (pessoa que aceita desaforo e, presumivelmente, o leva para casa).

“Dendroclasta” (destruidor de árvores, adjetivo que Lula poderia usar contra Bolsonaro se o assunto fosse o desmatamento na Amazônia).

“Bonifrate” (fantoche, boneco manipulável, servil).

“Lorpa” (grosseiro, boçal).

“Alimária” (animal de carga).

Ouviríamos, em vez do batido “canalha”, Bolsonaro chamando Lula de um enxacoco estafermo e Lula chamando Bolsonaro de farola bonifrate, o que não resolveria nenhum problema nacional, mas pelo menos melhoraria o nível do discurso público no país. Sonhemos.

A desigualdade para além da reforma

Tempos atrás uma jornalista me disse que se preocupar com os mais pobres e não com a desigualdade era uma posição “conservadora”. Eu havia escrito um artigo baseado na visão de James Heckman de que era preciso capacitar e integrar as pessoas à dinâmica do mercado e me perguntava em que sentido isso poderia ser uma posição conservadora.

Na verdade, não é. Trata-se apenas de uma posição pouco sexy, em nossas democracias polarizadas. Falar mal dos mais ricos ou enfileirar gráficos com a diferença de renda entre as pessoas tem muito mais efeito, no mundo retórico, do que pensar com seriedade sobre como melhorar a vida dos mais pobres.

Imaginem a seguinte situação. João Pedro está para nascer e a loteria da vida decidiu que ele irá viver em algum lugar do Piauí. Sua chance de crescer em uma casa com acesso à rede sanitária é de 7%. Se a sorte o tivesse feito descer em algum lugar de São Paulo, seria o inverso: teria mais de 90% de chances de crescer em uma casa com esgoto tratado.

A pergunta a fazer: seu problema é a desigualdade de condições em relação ao seu alter ego paulista ou o fato de não dispor de acesso sanitário?


O Congresso está para votar o novo marco regulatório do saneamento básico. Ele parte de uma constatação básica: o Estado é responsável por 94% da coleta de esgoto do país e perto de metade dos brasileiros está até hoje sem o serviço. A ideia é atrair investimento privado para o setor, via competição e segurança jurídica para contratos de longo prazo.

É a melhor solução? Há alguma outra ideia na mesa? É possível que exista, mas é esta a discussão a ser feita. É assim o mundo real da decisão pública que de fato afeta a vida das pessoas, ainda que esteja muito longe da lógica do entretenimento que tomou conta da política.

O mesmo ocorre com nossa educação básica. Se abrirmos os números do Pisa, o teste educacional na OCDE, veremos que há dois brasis escondidos ali. O país das escolas particulares, que pontua próximo à média norte-americana, e o país das escolas estatais, nas últimas posições.

O Congresso está para votar o novo desenho do Fundeb, o principal instrumento de financiamento de nossa educação básica. A pergunta é: vamos continuar proibindo, contra o que está escrito na Constituição, que estados e municípios possam fazer parcerias com boas instituições privadas sem fins lucrativos e permitir que as crianças mais pobres estudem nas mesmas escolas que seus vizinhos de maior renda?

Esta é a pergunta séria a ser feita. Exatamente a pergunta que os que já têm a vida ganha e apreciam uma boa retórica não gostam de fazer.

Tempos atrás, li uma reportagem, aqui na Folha, sobre os super-ricos e a concentração de renda no Brasil. O foco era a desigualdade, mas os exemplos e histórias de vida contavam algo bastante diferente: elas mostravam os males da pobreza, em regra provocados por nossas escolhas erradas, no mundo real da política.

Uma dessas histórias era a do Guimarães, pequeno empreendedor que tentou abrir uma rede de barbearias e quebrou. Seu insucesso veio na crise brasileira de 2015/16. O desemprego bateu e sua clientela desapareceu. Nenhum bruxo mau transferiu seu dinheiro para o top 1%. A economia entrou em crise pelas razões sabidas, associadas à irresponsabilidade fiscal e às barbeiragens na condução da política econômica. E o Guimarães pagou a conta.

Vai aí uma lição: há um tipo de desigualdade que realmente devemos combater. Ela não diz respeito a quem produz valor, legitimamente, no mercado, mas, sim, a nossas decisões erradas e à captura do Estado pelos grupos organizados no mercado político.

A lista é grande. Incentivos fiscais localizados, como os jatinhos a juros subsidiados, via BNDES; as aposentadorias especiais, capturadas por quem se move bem no Congresso. Tudo que faz com que 75% das transferências públicas, no Brasil, sejam classificadas como “pró-ricos” pelo BID e os servidores federais ganhem em média 96% a mais do que seus pares do setor privado.

Reconheço que são temas indigestos. Eles tocam em interesses corporativos bem posicionados e exigem, para sua solução, um caminho espinhoso: que as demandas difusas, em especial dos mais pobres, sejam postas à frente das urgências dos grupos de pressão, com sua imensa capacidade retórica.

Ser um conservador, digo para a minha amiga jornalista, no mau sentido da expressão, é precisamente isto: sustentar o status quo de um Estado estruturalmente quebrado e que, a par disso, funciona alegremente como Robin Hood ao avesso.
Fernando Schüler

Pensamento do Dia


Ódio a aliança já tem, só falta o trabalhador

Os assuntos mais buscados no Google sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última semana são “Lula expulso de restaurante”, “Lula preso novamente”, “Lula ovada”. Nenhum dos três fatos é verídico apesar de vídeo falso sobre a suposta expulsão ter 2 milhões de visualizações. O perfil das postagens sugere que os vídeos chegam aos usuários de celular por mensagem de WhatsApp e, a partir daí, geram as buscas na internet. O mapeamento da Bites não deixa dúvidas de que a volta do ex-presidente à arena política, além de afetar a estratégia política do presidente Jair Bolsonaro e sua ação de governo, já repagina sua comunicação.

No mesmo período em que a falsa hostilidade ao ex-presidente pontificou, o assunto mais buscado em associação com o presidente Jair Bolsonaro foi “jornada de trabalho”. Entre os cinco Estados em que esta busca mais cresceu quatro são do Nordeste, sugerindo que notícias relativas ao presidente da República e o emprego começaram a circular em grupos de WhatsApp do Nordeste e lá geraram mais buscas. As pegadas deixadas pela movimentação das redes sociais dos últimos sete dias reconstituem o roteiro bolsonarista desde a soltura do ex-presidente: um programa de estímulo à geração de emprego, uma viagem ao Nordeste e uma comunicação miliciana.


Bolsonaro continua imbatível nas redes sociais. Tem 32 milhões de seguidores em quatro plataformas (Twitter, Facebook, Instagram e YouTube), mais de quatro vezes o número de seguidores de Lula. Desde o fim de sua hibernação, porém, o ex-presidente ganhou quatro vezes mais seguidores do que o atual ocupante do cargo, o que explica a acelerada reação governista. Em suas postagens, Lula conseguiu mais compartilhamentos do que o presidente Donald Trump, que enfrenta nas redes a guerra de opinião pública contra o impeachment.

Se no cenário eleitoral, a polarização ainda é um cenário improvável, os números da Bites mostram que nas redes sociais o único nome que ombreia com Bolsonaro é o de Lula. Desde que se envolveu com o episódio do bombeiro do condomínio da Barra da Tijuca em que o presidente tem casa, o governador Wilson Witzel só perde seguidores. João Doria e Luciano Huck hoje são nanicos digitais.

A taxa de compartilhamento das postagens do ex-presidente demonstra que ele tem órfãos digitais, mas seu engajamento dependerá, em grande parte, do discurso a ser adotado por Lula. Se optar por falar para convertidos, devolverá seus voluntários para a orfandade.

A reação do PT ao mais novo pacote do governo será um teste. Se o partido optar por rejeitá-lo de bate pronto corre o risco de jogar uma parcela dos quase 30% de jovens desempregados no colo do bolsonarismo. O pacote é um laboratório para o lançamento da carteira verde e amarela, daqui a dois anos, associada a um projeto de capitalização da Previdência da qual o governo ainda não desembarcou.

Se a desoneração do emprego não é uma má ideia, a maneira como o governo escolheu para fazê-la promoveu uma redistribuição de renda dos pobres para os miseráveis. A cobrança da contribuição previdenciária de desempregados, no discurso governista, responde à necessidade de formalizar a incorporação dos meses de recebimento do seguro desemprego ao cálculo da aposentadoria e à viabilidade fiscal do programa.

A manchete do Valor (13/11), no entanto, deixou um rombo no argumento de que o aperto fiscal inviabilizou a ampliação do programa para aqueles acima de 55 anos. Face a tamanha penúria aparece deslocada a arbitragem governista na disputa entre Fisco e empresas em torno da cobrança previdenciária que incide sobre a distribuição de lucros e dividendos. No conjunto de propostas enviadas ao Congresso o Executivo estão regras que dificultam as condenações de bancos e empresas que contestam o recolhimento previdenciário dos bônus de executivos. Além de tirar de quem ganha pouco para quem nada tem, o Ministério da Economia achou por bem deixar de incomodar os bem-postos.

Ao extinguir o seguro obrigatório DPVAT, o governo, a pretexto de combater a corrupção no setor e tirar um naco dos negócios do presidente do PSL, Luciano Bivar, deixou desabrigadas milhões de vítimas de acidentes. Entre os principais protagonistas estão os 27 milhões de motociclistas do país cujos acidentes, nos últimos 10 anos, levaram à invalidez de 2,5 milhões e à morte de 200 mil pessoas.

Como nenhuma seguradora aceita fazer seguro de motociclista, a extinção do DPVAT não desamparou apenas o motociclista mas o pedestre vítima de acidente. Ainda deixou o SUS, onde um e outro buscarão socorro, desprovido de 45% dos recursos arrecadados pelo seguro obrigatório.

Ainda que inevitável, a crítica às propostas do ministro Paulo Guedes tem se pautado pela linha de que o Chile é o Brasil de amanhã. Ignora-se que o desalento econômico no país, ao contrário do pleno emprego chileno, desmobiliza. A aposta petista de que as propostas de recuperação do emprego do governo vão naufragar inibe o aprofundamento de alternativas que podem vir a ser propostas nesse cenário de penúria fiscal.

O risco de se ignorar a possibilidade de o pacote colher resultados em cima de precarização apareceu impresso no manifesto de lançamento da “Aliança pelo Brasil”. O novo partido que o presidente da República lança tem como meta livrar o país de “larápios, ‘espertos’, demagogos e traidores que enganam os pobres e ignorantes que eles mesmos mantêm, para se fartar”.

O manifesto incorpora, formalmente, o discurso do ódio nos anais da prática política do presidente da República. Não faltam espertos, sem aspas, a faturar com o programa em todas as suas entrelinhas. Se sua meta de geração de empregos for bem sucedida, porém, propiciará o surgimento de um segmento de jovens trabalhadores cultivados pela retórica que cimenta totalitarismos.

Lições do abismo social

O IBGE calcula que, em 2018, o Brasil alcançou o recorde de 13,5 milhões de miseráveis, um número que vem crescendo desde 2015. É muito difícil explicar a atual complacência e tolerância da sociedade brasileira com o avanço do tripé das desigualdades sociais ao longo do último quinquênio: as desigualdades de renda, as desigualdades de riqueza e as desigualdades de oportunidades.

O índice que mede a desigualdade de renda no Brasil vem aumentando desde 2015 e atingiu o maior patamar desde o começo da série histórica, em 2012, segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas. O Brasil, que tem uma das mais elevadas desigualdades de renda do mundo, está assistindo politicamente indiferente e eticamente neutro essa desigualdade se aprofundar no último lustro.


O quadro geral das desigualdades sociais no Brasil fica mais dramático quando se considera a distribuição da riqueza financeira e não financeira, obtida a partir de informações disponíveis nas declarações do Imposto de Renda. A riqueza financeira inclui os valores das poupanças, das aplicações financeiras etc., que rendem juros e dividendos sem trabalho atual. Já a riqueza não financeira das famílias e dos indivíduos inclui o patrimônio mobiliário. Somente possui esses ativos quem pôde acumulá-los no passado, o que ocorre a partir de certo patamar superior de renda.

Finalmente, para Amartya Sen, Prêmio Nobel de Economia em 1998, o desenvolvimento é um processo de criação de oportunidades para que as pessoas possam realizar os seus projetos de vida. Numa economia de baixo crescimento ou em recessão, como é o caso do Brasil desde 2014, o processo prevalecente tem sido o de destruição de oportunidades. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos é de 26,6% (4,1 milhões de jovens), superior ao dobro da taxa geral.

Desse contexto, em que prevalecem taxas abissais no tripé das desigualdades, algumas lições podem ser apreendidas a partir das experiências de diversos países. As economias de mercado que apresentam melhor desempenho econômico sustentado são as que têm os melhores indicadores de igualdades sociais. Políticas econômicas que aumentam as desigualdades sociais resultam em menor crescimento econômico. As economias de mercado que possuem piores indicadores de desenvolvimento social sustentável são as economias com pior distribuição de renda e de riqueza, independentemente do seu nível de desenvolvimento.

Políticas públicas bem concebidas e implementadas têm a capacidade de reduzir sensivelmente o número de pobres e de miseráveis de um país ou de uma região. Economias de mercado que se envolveram em processos excessivos e dominantes de financeirização possuem seus níveis do tripé de desigualdades acentuados.

As economias capitalistas que progridem mais e melhor sempre realizaram uma inteligente combinação de mercado e governo, de tal forma que não se trata de mercado ou governo, mas de como combinar ambos para maior benefício da sociedade. Em 1776, Adam Smith dizia que nenhuma sociedade poderá certamente florescer e ser feliz se grande parte de seus membros for constituída de pobres e miseráveis. O nosso caso não é, pois, crescer para distribuir, mas crescer com distribuição e equidade para erradicar a pobreza absoluta e a miséria do Brasil. Mas, afinal, quem se importa?

Velho conhecido



Nos tiraram a justiça e nos deixaram a lei
Frase grafada na Puerta del Sol, em Madri, durante manifestações há anos

A luta contra a irrelevância no século 21

O pensador Yuval Noah Harari, autor de best-sellers como "Sapiens" e "Homo Deus", fala verdades que ecoam na nossa cabeça. Cuidado, Harari pode mudar sua vida. Ele é subversivo, embora não pareça. Passou agora pelo Brasil e encantou todos os tipos de audiência. Harari é um historiador israelense de 43 anos, cultuado como um popstar. Um oráculo contemporâneo, sereno e sem um pingo de arrogância, que acolhe as contradições humanas em vez de combatê-las. Vive em Jerusalém.

Quem tenta rotular e enquadrar Harari pode cair um pouco no ridículo. É uma missão impossível. Ele não tem smartphone mas um de seus temas preferidos é inteligência artificial, biotecnologia e ditadura digital. Foi em um site de encontros que conheceu seu marido; só aos 21 anos ele soube que era gay. É ateu, mas medita diariamente seguindo uma das linhas mais rigorosas, Vipassana, que significa “introspecção”. Prega a união global, mas elogia o nacionalismo do bem, que constrói pontes, não muros. Foi banido no Irã, acusado de "darwinismo", de teórico ocidental da evolução, perigoso para a juventude.

Minha primeira conexão com Harari foi íntima e casual. Eu queria fazer curso de meditação. Mas qual? Transcendental? Silenciosa ou guiada? Em grupo ou individual? Comprei o livro de Harari “21 lições para o século 21”, por causa do título. Não havia lido seus best-sellers sobre a humanidade, não sabia que meditava. Comecei a folhear o livro de trás para a frente. O último capítulo se chamava “Meditação/Apenas observe”. As 12 páginas do capítulo foram inesperadas, uma iluminação. Harari, o pensador que discorre para plateias internacionais sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade, afirma que a maior descoberta de sua vida foi o poder da respiração, aos 24 anos. O ar que entra pelas narinas. E o que sai.


"A primeira coisa que aprendi observando minha respiração foi que eu não sabia quase nada sobre a minha mente e tinha muito pouco controle sobre ela (...) Durante anos vivi com a impressão de que era o senhor da minha vida, e o presidente executivo de minha própria marca pessoal. Mas poucas horas de meditação foram suficientes para me mostrar que eu quase não tinha controle sobre mim mesmo. Eu não era o presidente executivo - mal era o guarda no portão de entrada.(...) O real enigma da vida não é o que acontece depois que se morre, e sim o que acontece antes de morrer. (...) Tendo criticado tantas narrativas, religiões e ideologias, nada mais justo do que eu me colocar também na linha de fogo e explicar como alguém tão cético ainda é capaz de acordar bem-humorado de manhã".

O historiador e professor israelense diz que não teria conseguido tempo, foco nem clareza para escrever todos os seus livros se não fizesse um retiro anual de um ou dois meses e não meditasse. “Durante no mínimo duas horas por dia eu entro em contato com a realidade e efetivamente observo a realidade como ela é, enquanto nas outras 22 horas fico assoberbado com e-mails e tuítes e vídeos de cãezinhos fofos”. E nós reclamamos de falta de tempo. Ou será desperdício de tempo? O que fazemos com nosso tempo? Por que as grandes empresas ainda não descobriram o poder da meditação na produtividade de seus funcionários e no lucro? Por que muitos desprezam essa técnica de autoconhecimento?

Há alguns anos, Harari apontou quais são, na sua opinião, as maiores ameaças mundiais: a guerra nuclear, o colapso ambiental e o desemprego em massa provocado pela inteligência artificial. Se permitirmos que os algoritmos, usados por corporações e governos, continuem a manipular nossos desejos, a adivinhar nossos sonhos, a gente já era. Assustador. Já assistiu à distopia reinante na série “Years and years”? Assista.

“Em países que perseguem os homossexuais, o governo saberá que alguém é gay antes que ele mesmo saiba”, diz Harari. Uma pista do que podemos fazer, como jornalistas ou cidadãos, está numa declaração que ele deu no Brasil: “A maior luta do século 21 será contra a irrelevância”. Não sejamos irrelevantes, essa é a maior das 21 lições. Precisamos escutar direito e agir.

Vi Harari no Theatro Municipal, onde falou para sua plateia favorita. Professores da rede pública, pesquisadores dos museus do Rio de Janeiro e estudantes. Veio a convite do LER - Salão Carioca do Livro. Pessoas ligadas a Harari contam que, em seus contratos de conferências no exterior, uma condição para o cancelamento é a saúde de seu "pet". Se o animalzinho estiver doente, ele não viaja. Ponto. Não li o contrato, mas, se for verdade, é uma inspiração. Temos o direito de dizer 'não' quando algo envolve sentimento e força maior. Não é para qualquer um. Mas nenhum de nós é qualquer um.