sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Lorpas e sacripantas

Bolsonaro e Lula se xingaram de “canalha” mais de uma vez nos últimos dias. O que sugere que teremos um conflito verbal entre os dois no mínimo repetitivo. Para ajudá-los a fugir do lugar-comum e para poupar nossos ouvidos de insultos recíprocos e reincidentes, me senti na obrigação de tentar enriquecer o debate.


Para começar, fiz uma lista de termos que devem seguir “canalha” para a lata do lixo. São insultos comuns como “burro”, “idiota”, “babaca”, “imbecil”, “filho de uma égua”, “jumento”, “besta”, “besta quadrada”, “feioso”, “cretino”, “cagão”, “asno”, “asnático”, “débil mental”, “patife” e outros.

Existem insultos pouco usados que podem ser resgatados da obscuridade, com a vantagem adicional de revelarem para a população a beleza escondida da língua de Camões e Alexandre Frota. Imagine Bolsonaro e Lula se tratando não de “palerma”, mas de “cacóstomo” (pessoa com má articulação). Ou de “biltre” (vil, abjeto), em vez do corriqueiro “bobalhão”.

As alternativas são infinitas. E podem ser introduzidas em qualquer ponto do bate-boca. Por exemplo:

“Estafermo” (sem préstimo, em vez de inútil).

“Sacripanta” (pessoa desprezível).

“Energúmeno” (endoidado, possesso).

“Enxacoco” (pessoa com dificuldade para falar outra língua).

“Farola” (contador de vantagens).

“Obnóxio” (pessoa que aceita desaforo e, presumivelmente, o leva para casa).

“Dendroclasta” (destruidor de árvores, adjetivo que Lula poderia usar contra Bolsonaro se o assunto fosse o desmatamento na Amazônia).

“Bonifrate” (fantoche, boneco manipulável, servil).

“Lorpa” (grosseiro, boçal).

“Alimária” (animal de carga).

Ouviríamos, em vez do batido “canalha”, Bolsonaro chamando Lula de um enxacoco estafermo e Lula chamando Bolsonaro de farola bonifrate, o que não resolveria nenhum problema nacional, mas pelo menos melhoraria o nível do discurso público no país. Sonhemos.

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