sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016
Perdemos feio quase todas as guerras
Ao falar que o Brasil está “perdendo feio” a guerra contra a dengue, o ministro Marcelo Castro prestou um serviço à sociedade, embora incompleto, porque essa não é nossa única derrota feia.
|
Perdemos a luta contra a violência: o clima de guerra já se apossou tanto da sociedade que nos acostumamos a fugir das ruas, trancafiando-nos em nossas casas, condomínios fechados, carros e shoppings. A tal ponto que já não nos perguntamos como viver em paz, apenas como conseguir segurança, prendendo menores e liberando o porte de armas aos cidadãos.
Perdemos a guerra da educação. Com mais de 50 milhões de brasileiros adultos sem o ensino fundamental, ainda que um governo sério decida fazer a revolução na educação de base, as crianças já nascidas chegarão à idade adulta despreparadas para enfrentar o desafio da era do conhecimento; não serão capazes de levar o Brasil ao desenvolvimento que precisamos.
Perdemos a luta contra a violência: o clima de guerra já se apossou tanto da sociedade que nos acostumamos a fugir das ruas, trancafiando-nos em nossas casas, condomínios fechados, carros e shoppings. A tal ponto que já não nos perguntamos como viver em paz, apenas como conseguir segurança, prendendo menores e liberando o porte de armas aos cidadãos.
Perdemos a guerra da educação. Com mais de 50 milhões de brasileiros adultos sem o ensino fundamental, ainda que um governo sério decida fazer a revolução na educação de base, as crianças já nascidas chegarão à idade adulta despreparadas para enfrentar o desafio da era do conhecimento; não serão capazes de levar o Brasil ao desenvolvimento que precisamos.
Perdemos feio a guerra contra a desigualdade social. Mesmo depois de 15 anos de Bolsa Escola/Família, continuamos campeões de desigualdade, e os resultados na luta contra a fome estão regredindo por causa da inflação.
Perdemos feio a guerra do desenvolvimento científico e tecnológico, da inovação e da competitividade. Em muitos setores, estamos atrás até mesmo de países pequenos e sem tradição de desenvolvidos. E nossa educação, nossas empresas, nossas universidades não estão preparadas para enfrentar esse desafio.
Perdemos a guerra da saúde. Não a tratamos como uma questão sistêmica que cuida da água potável, do saneamento, do trânsito, da saúde primária e de hospitais eficientes servindo ao interesse do doente, e não de empresários, sindicatos ou políticos.
Perdemos momentaneamente a guerra contra a inflação, e há sério risco de que não seremos capazes de vencer essa guerra por não querermos tomar as decisões necessárias. Perdemos feio a guerra contra a dívida pública; além de perdermos também a guerra do endividamento das famílias e das empresas.
Perdemos a guerra das cidades, transformadas em “monstrópoles”; violentas, feias, com trânsito atravancado, ruas inundadas e casas sem água. Perdemos também a batalha do transporte público.
Perdemos feio a guerra do desenvolvimento científico e tecnológico, da inovação e da competitividade. Em muitos setores, estamos atrás até mesmo de países pequenos e sem tradição de desenvolvidos. E nossa educação, nossas empresas, nossas universidades não estão preparadas para enfrentar esse desafio.
Perdemos a guerra da saúde. Não a tratamos como uma questão sistêmica que cuida da água potável, do saneamento, do trânsito, da saúde primária e de hospitais eficientes servindo ao interesse do doente, e não de empresários, sindicatos ou políticos.
Perdemos momentaneamente a guerra contra a inflação, e há sério risco de que não seremos capazes de vencer essa guerra por não querermos tomar as decisões necessárias. Perdemos feio a guerra contra a dívida pública; além de perdermos também a guerra do endividamento das famílias e das empresas.
Perdemos a guerra das cidades, transformadas em “monstrópoles”; violentas, feias, com trânsito atravancado, ruas inundadas e casas sem água. Perdemos também a batalha do transporte público.
Perdemos feio a batalha da gestão pública com um Estado ineficiente, dependente dos vícios dos partidos por aparelhamento, dos empresários por subsídios e desonerações fiscais; entregue à voracidade corporativa dos sindicatos, desprezando a eficiência e o mérito.
Perdemos a guerra contra a corrupção. Apesar da Lava Jato, a prática continua generalizada, e o crime, impune. Perdemos feio a guerra da credibilidade na política e nos políticos, e nada será feito se não for vencida.
Estamos próximos de perder a batalha da democracia: com um debate centrado no impeachment de uma presidente com mandato ou na conformação a um governo eleito com notória incompetência para vencer as guerras e conduzir o Brasil para o futuro.
Felizmente, ainda não perdemos a guerra da esperança.
Perdemos a guerra contra a corrupção. Apesar da Lava Jato, a prática continua generalizada, e o crime, impune. Perdemos feio a guerra da credibilidade na política e nos políticos, e nada será feito se não for vencida.
Estamos próximos de perder a batalha da democracia: com um debate centrado no impeachment de uma presidente com mandato ou na conformação a um governo eleito com notória incompetência para vencer as guerras e conduzir o Brasil para o futuro.
Felizmente, ainda não perdemos a guerra da esperança.
Pontas soltas
Poucas evidências científicas e estatísticas estão consolidadas sobre o zika vírus, infelizmente. Situação inversamente proporcional à emergência. FioCruz, Ministério da Saúde, OMS têm provido informes públicos, mas a única certeza que fica é a necessidade urgente de combate ao mosquito Aedes, vetor de moléstias tropicais, já configuradas em epidemia continental.
O grifo ao termo tropical tem por objetivo destacar uma percepção unidimensional sobre o assunto, que necessita ser mais bem compreendida e diagnosticada, definindo ações entre sociedade e Governo: o mosquito Aedes é consequência da urbanização sem planejamento e qualidade que assola o país desde o início dos anos 80, ao qual corresponde o último grande ciclo de inchaço urbano e, portanto, sua erradicação está vinculada a medidas sanitárias, mas também ao estabelecimento de práticas que venham a combater a ineficiência urbana, áreas ociosas, degradação territorial, e promover infraestruturas essenciais como o saneamento básico.
Mudar esta condição levará tempo e quem estará disponível a se comprometer? O campo político que defendeu historicamente as reformas urbanas é hoje comprometido com abandono de planejamento, de projeto, com flexibilização da lei de licitações, com permissão para empreiteiras poderem desapropriar e até anistia a quem assumir culpa em processos de corrupção. Ou seja, para o esfacelamento territorial corresponde o desmonte das instituições que promovem e conservam o solo urbano.
O chão das cidades é o corpo material da nação, que está febril, liderado por autoridades urbanas com microcefalia.
Sejamos francos: quem de nós estará também disponível a comprometer-se com tempo na era da informação, das respostas imediatas via celular, das redes sociais e suas morais efêmeras? Que participação queremos ter em processos que levarão uma geração se temos memória que dura uma semana e se nem a imprensa consegue mais reter reflexões?
O chão das cidades é o corpo material da nação, que está febril, liderado por autoridades urbanas com microcefalia
A conjuntura filosófica atual é mais favorável ao mosquito, tal qual partícula irracional a incomodar o coletivo digital das cidades brasileiras e sua materialidade precária. Um verdadeiro bug do nosso tropicalismo.
Tempo é portanto dimensão crítica para o combate ao vetor-mosquito havendo outro componente que torna seu sucesso garantido em nossas paragens: o verão, período de maior ocorrência estatística das moléstias, é marcado no Brasil por sequência de festividades culturais que impactam a vida doméstica e capturam toda atenção da população.
De 21 de dezembro a 20 de março, nossos verões são marcados por Natal, Ano Novo, Carnaval e, logo depois, pela Páscoa. País tropical, católico, libidinoso, festivo, alegre, conservador e moralista, o Brasil é riquíssimo culturalmente, capaz é a nação inteira de celebrar memórias, identidades, raízes, tradições com força, vigor, inovação e leveza, indo da celebração religiosa ao paganismo mais mundano.
A beleza dessa cultura é entretanto pouco articulada como elemento motriz de transformação. São manifestações potentes porém raramente estrategicamente mobilizadas. São alicerce econômico, geram diretamente empregos, cidadania, inclusão, indiretamente tem altíssimo potencial turístico, poderiam também ajudar a combater o mosquito e até a repensar o território. Mas o que se observa é o depenamento orientado das políticas culturais e seu Orçamento.
Poderíamos converter o período do verão, e sua força cultural e coletiva, em um período especial de união nacional de combate ao mosquito Aedes? Claro que sim.
Entretanto, tal proposta não virá da população. Precisa vir dos Governos, mas estes são cegos ao potencial mobilizador da cultura.
Será que do mesmo modo não poderíamos reorientar políticas territoriais colocando em evidência valores culturais? Assim como as igrejas marcavam as paisagens da formação do país no período colonial porque não converter escolas de samba em epicentros de urbanização, de pactuação de valores espaciais novos, tradicionais porém inovadores? E se a tão necessária infraestrutura das áreas informais das nossas periferias urbanas fossem hierarquicamente organizadas na centralidade destes lugares de memória e reafirmação anual de beleza, como um Prometeu feliz?
Poderia haver também um enredo urbano a partir das escolas de samba? E a partir daí melhor desenho urbano, espaço públicos, mais participação, melhores territórios e o fim definitivo do mosquito?
Nas pontas soltas das cidades brasileiras existentes mora uma canção sobre lugares melhores, alegres e saudáveis.
Washington Fajardo
O grifo ao termo tropical tem por objetivo destacar uma percepção unidimensional sobre o assunto, que necessita ser mais bem compreendida e diagnosticada, definindo ações entre sociedade e Governo: o mosquito Aedes é consequência da urbanização sem planejamento e qualidade que assola o país desde o início dos anos 80, ao qual corresponde o último grande ciclo de inchaço urbano e, portanto, sua erradicação está vinculada a medidas sanitárias, mas também ao estabelecimento de práticas que venham a combater a ineficiência urbana, áreas ociosas, degradação territorial, e promover infraestruturas essenciais como o saneamento básico.
'Rua' na região do Distrito Federal |
Tal vetor é também estimulado pelas mudanças climáticas, como o aumento de ilhas de calor nas cidades, onde o ciclo de vida do mosquito é potencializado pela baixa permeabilidade do solo urbano, pelo desastre da qualidade do desenho urbano (calçadas desprovidas de conservação, sarjetas obstruídas, má conformação de vias e drenagens), por extensos territórios informais e por espaços intersticiais cuja condição física é um conjunto impreciso entre urbanização não implementada e natureza não restituída - um assemblage proto-urbano, que identifica as cidades brasileiras hoje, vítimas de governança inepta, planejamento e projetos inconclusos, enubladas por um urbanismo sócio-analítico e platônico.
Mudar esta condição levará tempo e quem estará disponível a se comprometer? O campo político que defendeu historicamente as reformas urbanas é hoje comprometido com abandono de planejamento, de projeto, com flexibilização da lei de licitações, com permissão para empreiteiras poderem desapropriar e até anistia a quem assumir culpa em processos de corrupção. Ou seja, para o esfacelamento territorial corresponde o desmonte das instituições que promovem e conservam o solo urbano.
O chão das cidades é o corpo material da nação, que está febril, liderado por autoridades urbanas com microcefalia.
Sejamos francos: quem de nós estará também disponível a comprometer-se com tempo na era da informação, das respostas imediatas via celular, das redes sociais e suas morais efêmeras? Que participação queremos ter em processos que levarão uma geração se temos memória que dura uma semana e se nem a imprensa consegue mais reter reflexões?
O chão das cidades é o corpo material da nação, que está febril, liderado por autoridades urbanas com microcefalia
A conjuntura filosófica atual é mais favorável ao mosquito, tal qual partícula irracional a incomodar o coletivo digital das cidades brasileiras e sua materialidade precária. Um verdadeiro bug do nosso tropicalismo.
Tempo é portanto dimensão crítica para o combate ao vetor-mosquito havendo outro componente que torna seu sucesso garantido em nossas paragens: o verão, período de maior ocorrência estatística das moléstias, é marcado no Brasil por sequência de festividades culturais que impactam a vida doméstica e capturam toda atenção da população.
De 21 de dezembro a 20 de março, nossos verões são marcados por Natal, Ano Novo, Carnaval e, logo depois, pela Páscoa. País tropical, católico, libidinoso, festivo, alegre, conservador e moralista, o Brasil é riquíssimo culturalmente, capaz é a nação inteira de celebrar memórias, identidades, raízes, tradições com força, vigor, inovação e leveza, indo da celebração religiosa ao paganismo mais mundano.
A beleza dessa cultura é entretanto pouco articulada como elemento motriz de transformação. São manifestações potentes porém raramente estrategicamente mobilizadas. São alicerce econômico, geram diretamente empregos, cidadania, inclusão, indiretamente tem altíssimo potencial turístico, poderiam também ajudar a combater o mosquito e até a repensar o território. Mas o que se observa é o depenamento orientado das políticas culturais e seu Orçamento.
Poderíamos converter o período do verão, e sua força cultural e coletiva, em um período especial de união nacional de combate ao mosquito Aedes? Claro que sim.
Entretanto, tal proposta não virá da população. Precisa vir dos Governos, mas estes são cegos ao potencial mobilizador da cultura.
Será que do mesmo modo não poderíamos reorientar políticas territoriais colocando em evidência valores culturais? Assim como as igrejas marcavam as paisagens da formação do país no período colonial porque não converter escolas de samba em epicentros de urbanização, de pactuação de valores espaciais novos, tradicionais porém inovadores? E se a tão necessária infraestrutura das áreas informais das nossas periferias urbanas fossem hierarquicamente organizadas na centralidade destes lugares de memória e reafirmação anual de beleza, como um Prometeu feliz?
Poderia haver também um enredo urbano a partir das escolas de samba? E a partir daí melhor desenho urbano, espaço públicos, mais participação, melhores territórios e o fim definitivo do mosquito?
Nas pontas soltas das cidades brasileiras existentes mora uma canção sobre lugares melhores, alegres e saudáveis.
Washington Fajardo
Lula não será morto. Ele se suicidará
O Ministro da Justiça do Brasil, José Eduardo Cardozo, tirou a máscara de vez e se assumiu como Ministro da Justiça do Governo do PT – do quarto governo petista consecutivo, num total de 16 anos a se completarem em 2018.
Ao ser perguntado, ontem, se as investigações relacionadas a Lula tentam atingir a imagem do ex-presidente, ele respondeu:
- Acho que setores da oposição, visivelmente, querem isso. Já há algum tempo em que procuram, a cada passo, atingir o presidente Lula porque reconhecem nele o grande líder que desafia os projetos políticos da oposição. Não tenho a menor dúvida que muitos da oposição se unificam nesta hora para tentar atingir a imagem de um adversário que, politicamente, é muito forte e muito respeitado.
Vejam bem: ele não disse que as investigações da Polícia Federal, autorizadas pela Justiça, pretendem atingir a imagem de Lula. Disse que a oposição, “visivelmente”, quer isso. Mas também não ressaltou, como deveria, que a Polícia Federal, subordinada por ele, pode investigá-lo mediante ordens da Justiça.
Se Cardozo faz questão de se apresentar com dois barretes ao mesmo tempo, o de Ministro da Justiça do Brasil e o de Ministro da Justiça do Governo do PT, poderia ter dito o que disse, e ressaltado, em seguida, que as investigações que têm Lula como alvo são legítimas. Porque legítimas são, ele sabe disso e já o reconheceu de outras vezes.
Preferiu desta, no entanto, usar o barrete de Ministro da Justiça do PT desprezando o outro. A dupla militância de Cardozo tem se acentuado desde que Lula passou a cobrar sua cabeça à presidente Dilma Rousseff. Desde os primórdios do PT que Cardozo e Lula não são amigos, no máximo aliados de ocasião.
Cardozo deve estar se sentindo pressionado a fazer concessões que só servem para desmerecer sua biografia de bom advogado e de servidor da lei. Ministros de Estado, como o próprio título sugere, são ministros de Estado. Não são ministros de partidos. Isso é tanto mais aplicável quando se trata de um Ministro da Justiça.
Em reuniões partidárias, não se espera que um ministro se comporte como um dissidente, alheio aos interesses e à orientação do seu partido. Mas não em ocasiões em que fala como ministro de Estado.
Cardozo rendeu-se ao discurso do PT que aponta a oposição como interessada em destruir a imagem de Lula, como no passado o PT tentou destruir a imagem de todos os presidentes aos quais se opôs. Quando sabe que a oposição jamais poderia ser bem-sucedida na tarefa se as investigações da Polícia Federal e as decisões da Justiça não lhe dessem razões para isso.
A morte do mito Lula, se ela de fato vier a ocorrer um dia, não se deverá à ação da oposição, por sinal muito ruim de serviço. Na verdade, ela estará mais para suicídio do que para assassinato.
Ao ser perguntado, ontem, se as investigações relacionadas a Lula tentam atingir a imagem do ex-presidente, ele respondeu:
- Acho que setores da oposição, visivelmente, querem isso. Já há algum tempo em que procuram, a cada passo, atingir o presidente Lula porque reconhecem nele o grande líder que desafia os projetos políticos da oposição. Não tenho a menor dúvida que muitos da oposição se unificam nesta hora para tentar atingir a imagem de um adversário que, politicamente, é muito forte e muito respeitado.
Vejam bem: ele não disse que as investigações da Polícia Federal, autorizadas pela Justiça, pretendem atingir a imagem de Lula. Disse que a oposição, “visivelmente”, quer isso. Mas também não ressaltou, como deveria, que a Polícia Federal, subordinada por ele, pode investigá-lo mediante ordens da Justiça.
Se Cardozo faz questão de se apresentar com dois barretes ao mesmo tempo, o de Ministro da Justiça do Brasil e o de Ministro da Justiça do Governo do PT, poderia ter dito o que disse, e ressaltado, em seguida, que as investigações que têm Lula como alvo são legítimas. Porque legítimas são, ele sabe disso e já o reconheceu de outras vezes.
Preferiu desta, no entanto, usar o barrete de Ministro da Justiça do PT desprezando o outro. A dupla militância de Cardozo tem se acentuado desde que Lula passou a cobrar sua cabeça à presidente Dilma Rousseff. Desde os primórdios do PT que Cardozo e Lula não são amigos, no máximo aliados de ocasião.
Cardozo deve estar se sentindo pressionado a fazer concessões que só servem para desmerecer sua biografia de bom advogado e de servidor da lei. Ministros de Estado, como o próprio título sugere, são ministros de Estado. Não são ministros de partidos. Isso é tanto mais aplicável quando se trata de um Ministro da Justiça.
Em reuniões partidárias, não se espera que um ministro se comporte como um dissidente, alheio aos interesses e à orientação do seu partido. Mas não em ocasiões em que fala como ministro de Estado.
Cardozo rendeu-se ao discurso do PT que aponta a oposição como interessada em destruir a imagem de Lula, como no passado o PT tentou destruir a imagem de todos os presidentes aos quais se opôs. Quando sabe que a oposição jamais poderia ser bem-sucedida na tarefa se as investigações da Polícia Federal e as decisões da Justiça não lhe dessem razões para isso.
A morte do mito Lula, se ela de fato vier a ocorrer um dia, não se deverá à ação da oposição, por sinal muito ruim de serviço. Na verdade, ela estará mais para suicídio do que para assassinato.
O PT em busca de sentido
O laboratório de alquimias do Dr. Falcão está fazendo o que pode e o que não pode para tentar manter intacta a imagem de seu patrão Lula.
Manter intacta, neste momento, não passa de uma figura de linguagem, porque não se consegue mais deixar intacto o que já sofreu rachaduras. Restaurar talvez fosse a palavra mais correta para a tentativa de devolver à imagem de Lula o vigor que tinha nos tempos heroicos do estádio da Vila Euclides.
O Instituto Lula, que, se seguisse o padrão normal de organizações dessa espécie, deveria ser um órgão dedicado a altos estudos de temas relevantes da realidade nacional, transformou-se no ventríloquo de seu boneco e um emissor de notas oficiais para tentar explicar as turbulentas andanças de seu chefe.
Em sociedade com Ruy Falcão, o presidente do PT, os escribas do Instituto Lula estão queimando as pestanas para achar um caminho por onde seu inspirador possa caminhar sem tropeçar nas contradições ele plantou em seu próprio caminho.
Em vez de vir a público e convocar uma entrevista coletiva onde tenha a coragem de submeter-se sem disfarces a todos os questionamentos a que for submetido pela imprensa independente, Lula prefere tediosas sessões onde repete o seu Sermão da Montanha à claque de fiéis já convertidos, como se ensinasse, monotonamente, o Padre Nosso aos seus vigários.
Na falta de uma verdade comprovada, sólida e definida, Lula, com suas ambiguidades, deixa que as suspeitas vazem por todos os lados, como a água que escorre de cânfora rachada.
Ele não tem nada com nada, como sempre, mas seu coroinha Gilberto Carvalho resolve ajudá-lo com uma frase cheia de segundos, terceiros e quartos sentidos.
Segundo ele, é “a coisa mais natural do mundo” que uma empreiteira queira fazer um mimo a um ex-presidente. Não sabemos se ele se referia ao tríplex do Guarujá, ao sítio de Atibaia, a ambos ou a nenhum deles. E muito menos ao que ele quis dizer com essa “coisa mais natural do mundo”. Coisa mais natural onde, cara-pálida?
O ex-presidente, que nunca tem nada a ver com nada, deixa que essa ambiguidade paire no ar, não a desmonta com a devida firmeza, reluta em dizer claramente do que se tratam essas, digamos, “operações imobiliárias”, e para aumentar as dúvidas que pairam no ar diz, num pronunciamento sobre os 36 anos do PT, que “cometemos erros e temos que pagar por eles”.
O PT está se autodestruindo num mar de ambiguidades e não consegue sequer estruturar uma defesa convincente, baseada num projeto para o país que não seja a tediosa repetição de uma retórica balofa, vazia de sentido, desgastada, maltratando a inteligência do país com a repetição de slogans mais velhos que a Sé de Braga, que não empolgam mais nem a sua plateia mais infantilizada.
Colocar a culpa de tudo nas elites brancas de olhos azuis que não gostam de pobres em avião, em filhas de empregadas na universidade, na imprensa golpista, na oposição, nos conservadores, nos que não se conformam com as “conquistas sociais”, é um mantra que já perdeu o prazo de validade e que começa, perigosamente, a beirar o ridículo, como qualquer slogan repetido à exaustão até a perda total de sentido.
Talvez o sonho de Lula e do PT seja o de lidar para todo o sempre com uma nação de imbecis, mas esse é mais um de seus sonhos impossíveis. Como aquele de achar que o seu líder está acima da lei.
Manter intacta, neste momento, não passa de uma figura de linguagem, porque não se consegue mais deixar intacto o que já sofreu rachaduras. Restaurar talvez fosse a palavra mais correta para a tentativa de devolver à imagem de Lula o vigor que tinha nos tempos heroicos do estádio da Vila Euclides.
O Instituto Lula, que, se seguisse o padrão normal de organizações dessa espécie, deveria ser um órgão dedicado a altos estudos de temas relevantes da realidade nacional, transformou-se no ventríloquo de seu boneco e um emissor de notas oficiais para tentar explicar as turbulentas andanças de seu chefe.
Em vez de vir a público e convocar uma entrevista coletiva onde tenha a coragem de submeter-se sem disfarces a todos os questionamentos a que for submetido pela imprensa independente, Lula prefere tediosas sessões onde repete o seu Sermão da Montanha à claque de fiéis já convertidos, como se ensinasse, monotonamente, o Padre Nosso aos seus vigários.
Na falta de uma verdade comprovada, sólida e definida, Lula, com suas ambiguidades, deixa que as suspeitas vazem por todos os lados, como a água que escorre de cânfora rachada.
Ele não tem nada com nada, como sempre, mas seu coroinha Gilberto Carvalho resolve ajudá-lo com uma frase cheia de segundos, terceiros e quartos sentidos.
Segundo ele, é “a coisa mais natural do mundo” que uma empreiteira queira fazer um mimo a um ex-presidente. Não sabemos se ele se referia ao tríplex do Guarujá, ao sítio de Atibaia, a ambos ou a nenhum deles. E muito menos ao que ele quis dizer com essa “coisa mais natural do mundo”. Coisa mais natural onde, cara-pálida?
O ex-presidente, que nunca tem nada a ver com nada, deixa que essa ambiguidade paire no ar, não a desmonta com a devida firmeza, reluta em dizer claramente do que se tratam essas, digamos, “operações imobiliárias”, e para aumentar as dúvidas que pairam no ar diz, num pronunciamento sobre os 36 anos do PT, que “cometemos erros e temos que pagar por eles”.
O PT está se autodestruindo num mar de ambiguidades e não consegue sequer estruturar uma defesa convincente, baseada num projeto para o país que não seja a tediosa repetição de uma retórica balofa, vazia de sentido, desgastada, maltratando a inteligência do país com a repetição de slogans mais velhos que a Sé de Braga, que não empolgam mais nem a sua plateia mais infantilizada.
Colocar a culpa de tudo nas elites brancas de olhos azuis que não gostam de pobres em avião, em filhas de empregadas na universidade, na imprensa golpista, na oposição, nos conservadores, nos que não se conformam com as “conquistas sociais”, é um mantra que já perdeu o prazo de validade e que começa, perigosamente, a beirar o ridículo, como qualquer slogan repetido à exaustão até a perda total de sentido.
Talvez o sonho de Lula e do PT seja o de lidar para todo o sempre com uma nação de imbecis, mas esse é mais um de seus sonhos impossíveis. Como aquele de achar que o seu líder está acima da lei.
País animal
Onde se cria lixo, proliferam ratos, urubus, barata e até mosquito. São 13 anos de muito lixo se acumulando e agora Dilma, como mata-mosquito em chefe, vai comandar batalhões contra a água parada.
É a faxina nacional para dar ibope na mídia, posar em fotos publicitárias de governo (que não existe) trabalhando. A guerra contra o Aedes aegypti promete assegurar mais uma sobrevida de Dilma limpando poça de água.
O baile da mascarada vai tomar todo o sábado com inserções e ampla cobertura. Não à toa a Casa Civil está envolvida na promoção do espetáculo. O objetivo é por o mosquito no abre-alas e Dilma de destaque.
A ordem não é limpar, mas brincar de limpeza. Jogo perigoso. Pode render algum apoio popular a madame, mas é outro atentado contra o cidadão, que continuará a viver no lixão Brasil sem saneamento e saúde.
É a faxina nacional para dar ibope na mídia, posar em fotos publicitárias de governo (que não existe) trabalhando. A guerra contra o Aedes aegypti promete assegurar mais uma sobrevida de Dilma limpando poça de água.
O baile da mascarada vai tomar todo o sábado com inserções e ampla cobertura. Não à toa a Casa Civil está envolvida na promoção do espetáculo. O objetivo é por o mosquito no abre-alas e Dilma de destaque.
A ordem não é limpar, mas brincar de limpeza. Jogo perigoso. Pode render algum apoio popular a madame, mas é outro atentado contra o cidadão, que continuará a viver no lixão Brasil sem saneamento e saúde.
Dilma decidiu eliminar a meta para poder cumprir a meta!!!
Ai, ai… Vamos lá à categoria das coisas que dão aquela preguiiiça. O governo está se preparando para aplicar um truque de caráter permanente no Orçamento, mas inventou uma historieta que faz a incúria parecer excesso de rigor. O objetivo é criar uma “banda” para os gastos públicos, que seria variável de acordo com a arrecadação. Pode parecer engenhoso e inteligente. Mas é só um truque para ter meta nenhuma e desrespeitar a lei com método.
Vamos ver. Nesta sexta, o governo iria anunciar o contingenciamento — leia-se: corte — do Orçamento de 2016. Deixou para março. Ok. Está no prazo.
O fato é que essa conversa mole toda deriva de uma realidade inescapável: o governo não vai conseguir, mais uma vez, economizar um miserável tostão. Ao contrário. Já sabe que não vai cumprir o prometido, que era fazer um superávit de 0,5% do PIB — magros R$ 30,6 bilhões. O mais provável é que repita o desastre fiscal de 2015.
Havia quem alimentasse a ilusão de que seria possível passar goela abaixo do Congresso a CPMF. Pois é… Não vai. Dilma se lembra das vaias na abertura do Ano Legislativo.
E por que adiar? Porque se está tentando ver qual é a natureza da mágica, que não passe por um corte severo de gastos que teria de atingir também a chamada “área social”. Ocorre que, até agora, não há. E, como não há, o país segue numa severa barafunda fiscal. E sabem quem são os punidos, no fim dessa cadeia de irresponsabilidades? Justamente os mais pobres, que o governo diz querer proteger.
Na reunião da Junta Orçamentária — Fazenda, Planejamento e Casa Civil —, apresentaram-se sugestões de corte de despesas a Dilma que variam de R$ 20 bilhões a R$ 50 bilhões. O busílis é que a perda de receita em razão da recessão pode passar de R$ 100 bilhões.
Sabem por que nada dá certo ou tem solução? Porque Dilma fabricou uma recessão, para compensar irresponsabilidades passadas, que anda aí roçando a casa dos 4%. Isso fez despencar a arrecadação. Não obstante, a inflação se mostra renitente, o que empurrou os juros para a estratosfera, o que força a economia para baixo, piorando a arrecadação, o que agrava o quadro fiscal, que está na origem dos males.
É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Sim, esse círculo pode ser interrompido. Dilma tem de deixar a Presidência da República, em nome da Constituição e das leis. “Ah, isso não diminui despesa nem aumenta a arrecadação.” Talvez não. Mas é preciso romper o cerco da desconfiança.
Todo mundo sabe que, desse mato, não saem mais os coelhos que Lula costumava assar em seu sítio. Eu me refiro a um modestinho, que ele tinha em Ribeirão Pires e que, segundo sei, estava em seu nome.
Essa gente tem de parar de atrapalhar o Brasil. Chega!
Vamos ver. Nesta sexta, o governo iria anunciar o contingenciamento — leia-se: corte — do Orçamento de 2016. Deixou para março. Ok. Está no prazo.
Até lá, o governo teria tempo de definir o seu pacote fiscal, que incluiria a fixação de um teto para os gastos públicos e a meta do superávit primário. E é nesse ponto que entra a macumba malfeita: o superávit variaria numa banda, sempre dependendo da arrecadação. Aí fica fácil, não é mesmo? Qualquer coisa, culpe-se a falta de receita…
O fato é que essa conversa mole toda deriva de uma realidade inescapável: o governo não vai conseguir, mais uma vez, economizar um miserável tostão. Ao contrário. Já sabe que não vai cumprir o prometido, que era fazer um superávit de 0,5% do PIB — magros R$ 30,6 bilhões. O mais provável é que repita o desastre fiscal de 2015.
Havia quem alimentasse a ilusão de que seria possível passar goela abaixo do Congresso a CPMF. Pois é… Não vai. Dilma se lembra das vaias na abertura do Ano Legislativo.
E por que adiar? Porque se está tentando ver qual é a natureza da mágica, que não passe por um corte severo de gastos que teria de atingir também a chamada “área social”. Ocorre que, até agora, não há. E, como não há, o país segue numa severa barafunda fiscal. E sabem quem são os punidos, no fim dessa cadeia de irresponsabilidades? Justamente os mais pobres, que o governo diz querer proteger.
Na reunião da Junta Orçamentária — Fazenda, Planejamento e Casa Civil —, apresentaram-se sugestões de corte de despesas a Dilma que variam de R$ 20 bilhões a R$ 50 bilhões. O busílis é que a perda de receita em razão da recessão pode passar de R$ 100 bilhões.
Sabem por que nada dá certo ou tem solução? Porque Dilma fabricou uma recessão, para compensar irresponsabilidades passadas, que anda aí roçando a casa dos 4%. Isso fez despencar a arrecadação. Não obstante, a inflação se mostra renitente, o que empurrou os juros para a estratosfera, o que força a economia para baixo, piorando a arrecadação, o que agrava o quadro fiscal, que está na origem dos males.
É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Sim, esse círculo pode ser interrompido. Dilma tem de deixar a Presidência da República, em nome da Constituição e das leis. “Ah, isso não diminui despesa nem aumenta a arrecadação.” Talvez não. Mas é preciso romper o cerco da desconfiança.
Todo mundo sabe que, desse mato, não saem mais os coelhos que Lula costumava assar em seu sítio. Eu me refiro a um modestinho, que ele tinha em Ribeirão Pires e que, segundo sei, estava em seu nome.
Essa gente tem de parar de atrapalhar o Brasil. Chega!
Não há vagas
Outro dia, um cartola do PT declarou que Lula 'mora no coração do povo brasileiro'. Na condição de brasileiro em dia com as obrigações e portador de um coração de dimensões regulares, vi-me tecnicamente apto a hospedar o ex-presidente. Gelei. A ideia de ter meganhas entrando e saindo do meu coração, vasculhando cômodos, armários e debaixo das camas para proteger o chefe, me apavorou.
Além disso, Lula é um hóspede folgado. Apossa-se dos apartamentos e sítios a que o convidam como se fossem dele. Promove reformas como derrubar paredes, mudar escadas de lugar e instalar elevadores internos, vide o famoso tríplex que não lhe pertence no Guarujá -imagine se pertencesse. Com seu à vontade em relação à propriedade alheia, temo que, uma vez hospedado no meu coração, logo iria querer alterar o curso de minhas veias e artérias, como tentou fazer com o rio São Francisco.
E acho que meu coração não comportaria a turma que anda com ele. Lula começaria a receber seus amigos empreiteiros, pecuaristas e doleiros, os quais iriam se meter por meus átrios e ventrículos, e sabe-se lá para onde meu sangue passaria a ser bombeado. Sem falar em sua mulher, dona Marisa - com suas prerrogativas de ex-primeira-dama, mandaria trocar meus velhos fogões por luxuosos micro-ondas e atracaria uma canoa em meu sistema vascular.
Mas isso não acontecerá. Consultei o cardiologista e ele foi taxativo ao se opor a que eu receba Lula em meu coração, mesmo que por poucos dias. Como médico, teve péssima impressão do desempenho de Lula no setor da saúde enquanto presidente. E citou o meu próprio caso.
Nos últimos anos, por certas atribulações cardíacas, quase fui duas vezes para o beleléu. Do qual só me salvei tomando dinheiro emprestado aqui e ali, por ter um plano de quinta e não poder contar com um sistema decente de saúde pública.
Lula, segui seu conselho: refleti
Em um vídeo pelos trinta e seis anos do PT, Lula, branco dos cabelos à camiseta singela que veste, rosto franzido, ar sério e melancólico, pede que o povo faça uma reflexão sobre a importância histórica do seu partido para o Brasil. Além de rotular o PT de partido mais importante da política brasileira, o que mais fez política social em nossa história, queixa-se de que por esse motivo"vive enfrentando os adversários conservadores que não aceitam o jeito petista de governar".
Lula, a alma mais pura do Brasil, do Mundo, quiçá do planeta Terra, o homem que diz que erradicou a miséria no Brasil, vem sofrendo com o silêncio dos brasileiros.
A jornalista Teresa Cruvinel diz que Lula, sozinho, enfrenta uma cruzada de delegados, procuradores e veículos de comunicação e compara o martírio do ex-presidente ao do Libertador da Venezuela, Simón Bolívar, tal como descrito por Gabriel Garcia Márquez em “O general em seu labirinto”.
Vamos começar pela miséria erradicada. Nada afasta mais a pobreza e a miséria do que o trabalho. Empregado, seguro do salário no fim do mês, o trabalhador cuida da casa onde vai abrigar sua família, e luta pela educação de seus filhos. Todos lucram com a educação, pois filhos educados educam os pais.
Criança que está na escola aprende a cuidar da saúde, aprende que a higiene é a arma mais poderosa contra doenças, que uma rua limpa, sem lixo ou dejetos nas calçadas é vital para a vida.
Aprende também a dizer não para a tentação que poderia levá-la ao mal e que votar com critério é o melhor presente que pode dar a si mesmo e a melhor retribuição que pode fazer a seus pais pelo sacrifício de toda uma vida.
Interessa-se pelas notícias do dia, quer saber como o país está lidando com os problemas que ainda temos, como corrupção desenfreada, falta de hospitais, falta de creches e escolas e agora com mais esse horror, o zika vírus.
Sabe que não adianta nada um Dia Nacional de Combate ao Vírus. Todos os dias devem ser de combate ao vírus.
Sabe, perfeitamente, que Ministro de Estado é a pessoa escolhida para auxiliar o Presidente da República a administrar o país e que, portanto, ouvir o Ministro da Saúde dizer, com a maior tranquilidade, que os kits para diagnóstico da dengue estão com uma ‘pequena demora’ de cinco meses por conta de um atraso burocrático é uma barbaridade de tal monta que ele deveria ser substituído mal acabou de pronunciar tal estupidez.
Mas, se o emprego é o alicerce de tudo, reflito, com nossa indecente taxa de desemprego, como o Lula ainda ousa sonhar que o brasileiro aceite o jeito petista de governar?
Leio no Ancelmo Goes (O Globo) uma nota que parece saída de um filme de terror: O Clube dos Caiçaras, (situado na Lagoa Rodrigues de Freitas, aqui no Rio) tinha um programa legal para meninos carentes trabalharem como boleiros das quadras de tênis. Incluía alimentação, chance de aprender o esporte e um dinheirinho – havia casos, entre salários e gorjetas, do garoto levar mais de R$1 mil por mês e se tornar a maior fonte de renda da família. O clube fazia ainda um rigoroso controle de frequência escolar e notas. Só que o Ministério Público do Trabalho foi lá e proibiu o programa.
Não é um exemplo brilhante do modo petista de governar?
Lula, a alma mais pura do Brasil, do Mundo, quiçá do planeta Terra, o homem que diz que erradicou a miséria no Brasil, vem sofrendo com o silêncio dos brasileiros.
A jornalista Teresa Cruvinel diz que Lula, sozinho, enfrenta uma cruzada de delegados, procuradores e veículos de comunicação e compara o martírio do ex-presidente ao do Libertador da Venezuela, Simón Bolívar, tal como descrito por Gabriel Garcia Márquez em “O general em seu labirinto”.
Quem, depois de ouvi-lo falar em reflexão, num vídeo no qual ele devia aparecer alegre, retumbante de felicidade pelos feitos de seu PT, mas que aparece quase desfalecido, tristinho, ao ler essas palavras da Cruvinel ia deixar de refletir e cuidar para que o Lula voltasse a ser o líder audaz de ontem?
Pois bem, eu resolvi refletir.Vamos começar pela miséria erradicada. Nada afasta mais a pobreza e a miséria do que o trabalho. Empregado, seguro do salário no fim do mês, o trabalhador cuida da casa onde vai abrigar sua família, e luta pela educação de seus filhos. Todos lucram com a educação, pois filhos educados educam os pais.
Criança que está na escola aprende a cuidar da saúde, aprende que a higiene é a arma mais poderosa contra doenças, que uma rua limpa, sem lixo ou dejetos nas calçadas é vital para a vida.
Aprende também a dizer não para a tentação que poderia levá-la ao mal e que votar com critério é o melhor presente que pode dar a si mesmo e a melhor retribuição que pode fazer a seus pais pelo sacrifício de toda uma vida.
Interessa-se pelas notícias do dia, quer saber como o país está lidando com os problemas que ainda temos, como corrupção desenfreada, falta de hospitais, falta de creches e escolas e agora com mais esse horror, o zika vírus.
Sabe que não adianta nada um Dia Nacional de Combate ao Vírus. Todos os dias devem ser de combate ao vírus.
Sabe, perfeitamente, que Ministro de Estado é a pessoa escolhida para auxiliar o Presidente da República a administrar o país e que, portanto, ouvir o Ministro da Saúde dizer, com a maior tranquilidade, que os kits para diagnóstico da dengue estão com uma ‘pequena demora’ de cinco meses por conta de um atraso burocrático é uma barbaridade de tal monta que ele deveria ser substituído mal acabou de pronunciar tal estupidez.
Mas, se o emprego é o alicerce de tudo, reflito, com nossa indecente taxa de desemprego, como o Lula ainda ousa sonhar que o brasileiro aceite o jeito petista de governar?
Leio no Ancelmo Goes (O Globo) uma nota que parece saída de um filme de terror: O Clube dos Caiçaras, (situado na Lagoa Rodrigues de Freitas, aqui no Rio) tinha um programa legal para meninos carentes trabalharem como boleiros das quadras de tênis. Incluía alimentação, chance de aprender o esporte e um dinheirinho – havia casos, entre salários e gorjetas, do garoto levar mais de R$1 mil por mês e se tornar a maior fonte de renda da família. O clube fazia ainda um rigoroso controle de frequência escolar e notas. Só que o Ministério Público do Trabalho foi lá e proibiu o programa.
Não é um exemplo brilhante do modo petista de governar?
Procura-se um brasileiro decente, preparado e nacionalista
Carro do bloco Os Irresponsáveis, que sai na quarta-feira, no bairro de Água Fria, no Recife |
A cada dia aumentam as notícias desabonadoras sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja imagem pública hoje é apenas uma pálida lembrança de quem se tornou um dos líderes mais conhecidos e importantes da História contemporânea, cuja carreira despertava interesse internacional e inspirava esperanças de uma renovação política em prol de uma maior justiça social. Cinco anos após deixar o poder, hoje Lula é um líder acuado, que não pode sair às ruas nem ser entrevistado por jornalistas independentes. Suas raras aparições públicas são planejadas para que a imprensa faça cobertura à distância, apenas transcrevendo seus discursos. Nenhum repórter tem autorização para ficar frente à frente com ele.
A derrocada de Lula afeta não só o Brasil, mas também muitos outros países, onde estavam surgindo lideranças populares que se inspiravam nele, que parecia ser uma espécie de Rei Midas político. Agora, pelo contrário, tudo o que Lula toca vira lama, ganhar o apoio dele poderá ser fatal para qualquer candidato.
Sua sucessora Dilma Rousseff está descendo a ladeira, em termos de popularidade. A pesquisa do Instituto Ipsos, pouco conhecido no Brasil, mas que atua em 87 países, mostra que 60% dos entrevistados se dizem favoráveis ao impeachment da presidente, apenas 22% são contrários e 18% estão indecisos. Para 79% dos entrevistados. sua gestão é considerada ruim ou péssima, 15% a classificaram como regular e apenas 5% como ótima ou boa.
E o pior: para 92% dos entrevistados, o Brasil está no rumo errado.
Como todos sabem, Lula foi uma invencionice do general Golbery do Coutto e Silva para evitar que Leonel Brizola chegasse ao poder. Quem o conheceu sabe que Golbery era um mestre nos bastidores da política, o cineasta Glauber Rocha o chamou de “o gênio da raça” e quase foi crucificado por essa frase de efeito.
Conforme o comentarista Antonio Santos Aquino tem contado aqui na Tribuna da Internet, Lula foi um filhote da ditadura, que fez até curso na Johns Hopkins University, em Baltimore, assistido por um tradutor. O general Golbery jamais imaginou que sua cria chegasse ao poder, mas a vida é muito mais imaginosa do que a ficção.
Não há a menor novidade sobre o caráter de Lula, sua trajetória já foi dissecada em três livros arrasadores, escritos por Ivo Patarra, João Nêumane Pinto e Romeu Tuma Jr. Há também as declarações dos criadores do PT que se afastaram dele. É tudo público e notório.
Até mesmo a prisão de Lula na ditadura foi uma farsa, conforme mostra a célebre foto do camburão, com Lula fumando um cigarro e interpretando o papel de “Barba”. O então agente federal Romeu Tuma Jr. estava lá e não deixa ninguém mentir, porque também aparece em outra fotografia do ato da prisão. Ele tinha intimidade com Lula, que costuma dormir no sofá da casa do temido Romeu Tuma pai.
O fato é que Lula enganou todo mundo, até mesmo Golbery. Criou o PT, viu que poderia substituir Brizola na disputa pelo poder, candidatou-se três vezes, até que saiu vitorioso na quarta tentativa, derrotando um candidato fraco e sem carisma, o tucano José Serra.
O resto é mais que sabido. Isolou os intelectuais do PT e livrou-se deles, dilatou e sindicalizou a máquina administrativa, usou as estatais como fonte inesgotável de recursos pessoais e eleitorais, ampliou ao máximo os programas sociais, sem fiscalizá-los, e criou projetos educacionais eleitoreiros, como o Pronatec, com seus supostos cursos técnicos, e o Prouni (Universidade para Todos), que fez a festa das faculdades particulares, com as bolsas totais e parciais custeadas pelo MEC para estudantes sem a menor condição de ingressar no ensino superior.
Essa farra custou muitos recursos públicos, elegeu e reelegeu uma candidata mambembe e patética como Dilma Rousseff, e o resultado está aí – vamos ter três ou quatro anos de recessão, na hipótese otimista, ou de dez a vinte anos de recessão, na versão pessimista.
O pior é que a Era Lula provocou uma preocupante escassez de novas lideranças. Não há um só pré-candidato que possa ser confiável, a política brasileira está nivelada por baixo, nenhum partido tem um líder de fato, estamos num deserto de homens e ideias, como dizia o ministro Oswaldo Aranha, que teria sido um grande presidente, se tivesse se candidatado no lugar do general Eurico Dutra, uma versão mais antiga da vaca fardada que o general Mourão Filho imortalizou.
Os militares impediram Brizola de chegar ao poder, mas esqueceram de que era fundamental que existisse algum outro líder no país, não importa se representasse a direita ou a esquerda. Bastava que fosse decente, preparado e nacionalista, porque as ideologias já morreram há décadas, mas ainda há quem insista em tentar revivê-las. E vida que segue, como dizia nosso amigo João Saldanha, que hoje estaria decepcionadíssimo com a política nacional.
'Legado social do PT não resistiu ao primeiro sinal de crise'
O legado social do PT na Presidência da República não resistiu ao primeiro sinal de crise econômica interna, avalia o sociólogo José de Souza Martins. "A classe média do PT caiu de patamar em horas", afirma.
Para um dos principais cientistas sociais do Brasil, o PT outrora popular e de traços messiânicos caiu na "armadilha" da "corrupção altruísta" - movida, em tese, pelo desejo de retirar dos ricos para "prestar um grande serviço à sociedade".
Martins, de 77 anos, acompanhou de perto a formação do partido e a influência de protagonistas sociais - como Igreja, camponeses e intelectuais - na criação da sigla, no começo dos anos 1980.
Ao separar os ingredientes da atual crise política - externos e internos ao PT -, ele identifica "partidos falidos" e pessoas "cheias e cansadas". "Estamos vivendo uma crise que é do Estado e da sociedade."
No recém-lançado "Do PT das Lutas Sociais ao PT do Poder" (editora Contexto), o 45º livro da carreira, o professor aposentado da USP e docente da Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge (Inglaterra) descreve as mutações do PT após a chegada ao Planalto.
Leia a entrevista
Os dois maiores inimigos do impeachment
O grito pelo impeachment estava na garganta do povo brasileiro desde as últimas semanas de 2014. Quando ficou evidente que a campanha presidencial se desenrolara num ambiente de mistificação e ocultação da realidade, tipificando estelionato eleitoral, o impeachment passou a frequentar as redes sociais. Foi esse tema que motivou as duas primeiras manifestações populares, ainda em novembro de 2014. E foi ele que deu causa à histórica mobilização nacional do dia 15 de março de 2015. Enquanto análogas iniciativas aconteciam país afora, aqui em Porto Alegre, do alto de um carro de som, eu vi esse grito nascer. Como testemunha ocular e ativa dos fatos, certifico e dou fé: o impeachment foi e continua sendo, em primeiríssimo lugar, exigência do povo brasileiro.
Portanto, quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista ao jornal O Globo (10/02), declara que o "impeachment foi desencadeado por vingança de Cunha", sei que estou diante de uma flagrante mentira, de uma notável desonestidade intelectual. E desonestidade intelectual, desonestidade é. Existem políticos tão pouco afeitos à verdade que não a reconheceriam mesmo se pingada em seus olhos como colírio. Em março de 2015, poucos dentre aqueles milhões de brasileiros que saíram às ruas sabiam o nome do presidente da Câmara dos Deputados. Raros, mais bem informados, tinham conhecimento de que ele chegara ao posto contra a vontade do Planalto. Raríssimos estavam cientes de que o sujeito não era trigo limpo. Confundir impeachment com Cunha não é esperteza. É mistificação e velhacaria.
Em fins de março de 2014, três dezenas de requerimentos pedindo a instauração do processo contra a presidente Dilma estavam empilhados sob a guarda do presidente da Câmara. E o que ele fez? Nada. Diante dessa omissão, o povo voltou às ruas, meio frustrado, no mês de maio. Qual a reação de Eduardo Cunha? Nenhuma. O povo voltou às ruas em agosto. E nada. Em outubro, um acampamento instalou-se, durante semanas, diante do Congresso. E mais uma vez, nada. Até que, em 2 de dezembro(!), Cunha despachou o requerimento que passou a tramitar.
Cabem, então, estas perguntas: durante todo o período descrito, alguém ouviu um discurso de Eduardo Cunha a favor do impeachment? Concedeu ele uma entrevista favorável? Emitiu qualquer gesto de apoio, ao longo desses oito meses? Eduardo Cunha, leitores, atrapalhou o processo o quanto pode, isto sim. Usou-o para maquinações de interesse pessoal. E permitiu que ele se contaminasse com as revelações surgidas em torno de seu nome. Rindo do descosido Cunha, o roto PT tentou desacreditar o sonoro clamor nacional.
Por tudo isso, bem ao contrário da inversão que o ministro Cardozo tenta promover nos fatos para servi-los como lhes convém, não hesito em afirmar que Eduardo Cunha e Luís Roberto Barroso do STF são os dois maiores inimigos do impeachment. Cunha por tudo que não fez. Barroso pelo que fez ao, maliciosamente, confirmar o STF como puxadinho do PT.
Percival Puggina
Portanto, quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em entrevista ao jornal O Globo (10/02), declara que o "impeachment foi desencadeado por vingança de Cunha", sei que estou diante de uma flagrante mentira, de uma notável desonestidade intelectual. E desonestidade intelectual, desonestidade é. Existem políticos tão pouco afeitos à verdade que não a reconheceriam mesmo se pingada em seus olhos como colírio. Em março de 2015, poucos dentre aqueles milhões de brasileiros que saíram às ruas sabiam o nome do presidente da Câmara dos Deputados. Raros, mais bem informados, tinham conhecimento de que ele chegara ao posto contra a vontade do Planalto. Raríssimos estavam cientes de que o sujeito não era trigo limpo. Confundir impeachment com Cunha não é esperteza. É mistificação e velhacaria.
Em fins de março de 2014, três dezenas de requerimentos pedindo a instauração do processo contra a presidente Dilma estavam empilhados sob a guarda do presidente da Câmara. E o que ele fez? Nada. Diante dessa omissão, o povo voltou às ruas, meio frustrado, no mês de maio. Qual a reação de Eduardo Cunha? Nenhuma. O povo voltou às ruas em agosto. E nada. Em outubro, um acampamento instalou-se, durante semanas, diante do Congresso. E mais uma vez, nada. Até que, em 2 de dezembro(!), Cunha despachou o requerimento que passou a tramitar.
Cabem, então, estas perguntas: durante todo o período descrito, alguém ouviu um discurso de Eduardo Cunha a favor do impeachment? Concedeu ele uma entrevista favorável? Emitiu qualquer gesto de apoio, ao longo desses oito meses? Eduardo Cunha, leitores, atrapalhou o processo o quanto pode, isto sim. Usou-o para maquinações de interesse pessoal. E permitiu que ele se contaminasse com as revelações surgidas em torno de seu nome. Rindo do descosido Cunha, o roto PT tentou desacreditar o sonoro clamor nacional.
Por tudo isso, bem ao contrário da inversão que o ministro Cardozo tenta promover nos fatos para servi-los como lhes convém, não hesito em afirmar que Eduardo Cunha e Luís Roberto Barroso do STF são os dois maiores inimigos do impeachment. Cunha por tudo que não fez. Barroso pelo que fez ao, maliciosamente, confirmar o STF como puxadinho do PT.
Percival Puggina
A Quarta-Feira de Cinzas do PT
O PT completou 36 anos de existência. Por ironia do calendário, a data caiu na Quarta-Feira de Cinzas. O partido fez aniversário em clima melancólico, como quem se despede do Carnaval. Embora continue no poder, o petismo continua a sangrar com a Lava Jato e a impopularidade de Dilma Rousseff. Depois da folia, terá que enfrentar ameaças de deserção no Congresso e em sua base sindical.
O primeiro risco será aberto pela chamada janela da infidelidade. A partir da semana que vem, os políticos terão 30 dias para mudar de partido sem perder o mandato. Pelas negociações em curso, o PT pode ser a maior vítima do troca-troca.
No ano passado, a legenda já perdeu quatro deputados federais para siglas novatas -um para a Rede Sustentabilidade e três para o exótico Partido da Mulher Brasileira. Agora a pressão virá de centenas de candidatos a
prefeito que temem perder as eleições municipais por causa do desgaste do petismo. A janela será a última chance de mudar de sigla antes de outubro.
O segundo risco de deserção está ligado à nova agenda econômica da presidente. Dilma prometeu apresentar em breve uma proposta de reforma da Previdência, incluindo a exigência de idade mínima para a aposentadoria de servidores.
A medida é mais que necessária, mas abrirá uma nova frente de atrito com as bases petistas. Até a CUT, sempre pronta a defender o governo, ameaça se rebelar.
Sob fogo cerrado da Lava Jato, o ex-presidente Lula se limitou a registrar o aniversário do PT com um vídeo divulgado na internet. Na gravação, ele faz uma referência rápida a “erros” do passado e evita comentar o noticiário que o envolve.
O maior líder petista parece abatido. No fim do vídeo, ele diz uma frase reveladora sobre o momento da sigla que fundou em 1980: “Vamos torcer para que quando estivermos comemorando 37 anos estejamos mais fortes do que estamos hoje”.
O primeiro risco será aberto pela chamada janela da infidelidade. A partir da semana que vem, os políticos terão 30 dias para mudar de partido sem perder o mandato. Pelas negociações em curso, o PT pode ser a maior vítima do troca-troca.
prefeito que temem perder as eleições municipais por causa do desgaste do petismo. A janela será a última chance de mudar de sigla antes de outubro.
O segundo risco de deserção está ligado à nova agenda econômica da presidente. Dilma prometeu apresentar em breve uma proposta de reforma da Previdência, incluindo a exigência de idade mínima para a aposentadoria de servidores.
A medida é mais que necessária, mas abrirá uma nova frente de atrito com as bases petistas. Até a CUT, sempre pronta a defender o governo, ameaça se rebelar.
Sob fogo cerrado da Lava Jato, o ex-presidente Lula se limitou a registrar o aniversário do PT com um vídeo divulgado na internet. Na gravação, ele faz uma referência rápida a “erros” do passado e evita comentar o noticiário que o envolve.
O maior líder petista parece abatido. No fim do vídeo, ele diz uma frase reveladora sobre o momento da sigla que fundou em 1980: “Vamos torcer para que quando estivermos comemorando 37 anos estejamos mais fortes do que estamos hoje”.
E no bloco dos canalhas...
O dinheiro não é pra gente não, é pra ajudar o povovereador Francisco Ribeiro (PDT), de Oliveira, a 150 quilômetros a sudoeste de Belo Horizonte, justificando a urgência para reajuste dos salários de R$ 3.700 para R$ 5.064
Ameaça real à democracia
Em meio a sucessivos escândalos de corrupção e ao contubérnio entre políticos e seus “amigos” empresários, já ficaram claros para os brasileiros os danos causados pelas relações obscuras entre os representantes eleitos pelo povo e seus principais financiadores de campanha. O problema, como alerta um recente estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), vai muito além da subtração de patrimônio público graças à ladroagem e às vantagens indevidas. É a própria democracia que se degenera, o que demanda urgentes reformas que impeçam a captura definitiva do sistema político pelo poder econômico.
O estudo toca num aspecto fundamental: não basta promover o crescimento; é preciso fazer com que esses benefícios estejam ao alcance de toda a sociedade, reduzindo a desigualdade. No Brasil, enquanto os mais pobres recebem assistência limitada e dependem de serviços públicos indignos, as empresas que se associam ao Estado usufruem de todo tipo de subsídio, garantindo-lhes prosperidade, faça chuva ou faça sol. Não surpreende que, num cenário assim, a credibilidade do governo e dos políticos seja cronicamente baixa, pois está claro que os eleitos não governam para todos, e sim apenas para aqueles que alimentam a máquina eleitoral, enquanto o resto da sociedade disputa as sobras do festim.
A única solução para esse problema é reforçar a democracia, estabelecendo “um processo político de alta qualidade no qual os cidadãos possam confiar”, diz o estudo. Para isso, o desafio é, por meio da transparência e de uma regulamentação implacável, acabar com o sistema em que o dinheiro de grandes doadores determina a atuação dos eleitos – e a doação é recuperada na forma de contratos, benesses fiscais, subsídios e empréstimos em condições privilegiadas. Uma pesquisa relativa ao Brasil citada pela OCDE diz que as empreiteiras que doaram a algum candidato a deputado pelo PT receberam em troca contratos de valor até 14 vezes superior ao de suas contribuições se o político foi eleito.
Essas conclusões bastam para atestar o acerto da decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada no ano passado, que baniu as doações de empresas para as campanhas eleitorais. Mas seria ingenuidade imaginar que o problema da promiscuidade entre empresas e políticos esteja resolvido, pois a criatividade e a ousadia dessa turma são grandes. Em novembro, o Supremo teve de agir novamente, suspendendo os efeitos de um projeto aprovado no Congresso que oficializava as doações eleitorais ocultas – em que o dinheiro doado aos partidos é repassado aos candidatos sem que o doador seja identificado. Sabe-se lá quantas vezes mais a democracia será desafiada pelo engenho dos que pretendem transformar mandatos em oportunidade de negócios.
O Brasil foi um dos “estudos de caso” apresentados pela OCDE. Nele se observa que, entre as eleições de 2006 e 2014, o porcentual de participação das doações de empresas para as campanhas saltou de 66,49% para 76,48%. Na eleição de 2014, cerca de 20 mil empresas fizeram doações, mas apenas as 20 maiores foram responsáveis por 30% do total – e, não por coincidência, atuam em setores cujo chamado core business são as obras e os negócios públicos. Tudo isso indica claramente que o sequestro do sistema de representação política por parte das grandes corporações estava em ritmo acelerado no País, até ter sido felizmente interrompido pelo Supremo.
O estudo mostra ainda que é preciso urgentemente pôr um freio nos gastos de campanha. Em dólar, a despesa total declarada pelos partidos em campanhas presidenciais no Brasil saltou de US$ 33,9 milhões em 2002 para US$ 367,2 milhões em 2014.
Tal evolução traduz a transformação das campanhas eleitorais em um dispendioso e vazio circo marqueteiro, em detrimento do verdadeiro debate político. A manutenção dessa situação só interessa a partidos com vocação autoritária e às empresas que consideram a política um bom investimento.
O estudo toca num aspecto fundamental: não basta promover o crescimento; é preciso fazer com que esses benefícios estejam ao alcance de toda a sociedade, reduzindo a desigualdade. No Brasil, enquanto os mais pobres recebem assistência limitada e dependem de serviços públicos indignos, as empresas que se associam ao Estado usufruem de todo tipo de subsídio, garantindo-lhes prosperidade, faça chuva ou faça sol. Não surpreende que, num cenário assim, a credibilidade do governo e dos políticos seja cronicamente baixa, pois está claro que os eleitos não governam para todos, e sim apenas para aqueles que alimentam a máquina eleitoral, enquanto o resto da sociedade disputa as sobras do festim.
Essas conclusões bastam para atestar o acerto da decisão do Supremo Tribunal Federal, tomada no ano passado, que baniu as doações de empresas para as campanhas eleitorais. Mas seria ingenuidade imaginar que o problema da promiscuidade entre empresas e políticos esteja resolvido, pois a criatividade e a ousadia dessa turma são grandes. Em novembro, o Supremo teve de agir novamente, suspendendo os efeitos de um projeto aprovado no Congresso que oficializava as doações eleitorais ocultas – em que o dinheiro doado aos partidos é repassado aos candidatos sem que o doador seja identificado. Sabe-se lá quantas vezes mais a democracia será desafiada pelo engenho dos que pretendem transformar mandatos em oportunidade de negócios.
O Brasil foi um dos “estudos de caso” apresentados pela OCDE. Nele se observa que, entre as eleições de 2006 e 2014, o porcentual de participação das doações de empresas para as campanhas saltou de 66,49% para 76,48%. Na eleição de 2014, cerca de 20 mil empresas fizeram doações, mas apenas as 20 maiores foram responsáveis por 30% do total – e, não por coincidência, atuam em setores cujo chamado core business são as obras e os negócios públicos. Tudo isso indica claramente que o sequestro do sistema de representação política por parte das grandes corporações estava em ritmo acelerado no País, até ter sido felizmente interrompido pelo Supremo.
O estudo mostra ainda que é preciso urgentemente pôr um freio nos gastos de campanha. Em dólar, a despesa total declarada pelos partidos em campanhas presidenciais no Brasil saltou de US$ 33,9 milhões em 2002 para US$ 367,2 milhões em 2014.
Tal evolução traduz a transformação das campanhas eleitorais em um dispendioso e vazio circo marqueteiro, em detrimento do verdadeiro debate político. A manutenção dessa situação só interessa a partidos com vocação autoritária e às empresas que consideram a política um bom investimento.
Geração perdida?
Se há dois anos o país vivia um cenário de emprego pleno, agora, é cada vez mais provável que a economia feche 2016 apresentando uma taxa de desocupação em dois dígitos. A última pesquisa divulgada pelo IBGE, ainda referente a 2015, aponta o desemprego em 9% e o fechamento de mais de 1,5 milhão de postos de trabalho. Entretanto, os números em si são frios e nem sempre permitem que tenhamos a real dimensão de como está a situação. Basta ir a uma feira de emprego para perceber que há muitas pessoas atrás de uma vaga, e uma grande parcela é formada por jovens.
Ainda em 2015, os dados do IBGE apontavam o desemprego entre quem tem 18 e 24 anos acima dos 18%, ou seja, o dobro da taxa nacional. Por enquanto, permanecemos longe do cenário de países como Espanha e Grécia. Ambos enfrentam a dura realidade de ter cerca de 50% dos jovens excluídos do mercado de trabalho.
É preocupante que a falta de oportunidade atinja, principalmente, aqueles que estão em busca ou dando os primeiros passos no mercado de trabalho. Pois, para estes, os efeitos da crise econômica são ainda mais perversos. Por melhor que seja a faculdade, ela não formará inteiramente o profissional. Há habilidades e qualidades que somente são desenvolvidas no próprio ambiente de trabalho. Portanto, não é por acaso que, em momentos de crises, empresas costumem optar pelos profissionais mais experientes. Há o entendimento de que estes já possuem uma bagagem que contribui para que saibam lidar com as situações que são esperadas quando o negócio enfrenta dificuldades.
Se o atual quadro econômico permanecer, e o desemprego não recuar, o país corre o risco de ver parte de uma geração ficar estagnada. São jovens que vão ficar defasados profissionalmente pela falta de oportunidade de emprego e, quando conseguirem, verão pessoas da mesma idade em posição de gerência, enquanto ainda ocupam cargos que seriam para recém-saídos da faculdade.
É preciso que esse cenário esteja na pauta nacional. Pois, mesmo que as previsões para 2016 não sejam otimistas, a atual turbulência uma hora vai passar. Mas, como as empresas almejam crescer no futuro se houver falta de mão de obra qualificada? Antes da crise, quando em alguns setores a oferta de emprego era maior que a demanda, as empresas já lidavam com o desafio de encontrar bons profissionais. Como serão as perspectivas pós-crise?
O poder público e a iniciativa privada precisam buscar ações e alternativas que abram oportunidades para que esses jovens entrem no mercado de trabalho. Pois, se a crise perdurar e nada for feito, o país corre o risco de ter uma geração perdida.
Paulo Sardinha
Assinar:
Postagens (Atom)