quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Imagem do Dia

Dusan Djukaric

Discurso para governar

Tem um discurso para ganhar eleição e tem um discurso para governar. Dizem que a frase é de Tancredo Neves.

Diante de uma eleição que as pesquisas de intenção de voto apontam como decidida já desde o primeiro turno, resta saber que outro discurso Jair Bolsonaro está disposto a empregar. O de ganhar a eleição deu certo.

Talvez alguns gestos de quem – se as pesquisas estão certas – vai ser o novo presidente brasileiro permitam vislumbrar que ele sabe a diferença entre realidade e retórica. A intenção por ele manifestada de preservar alguns quadros da atual equipe econômica, por exemplo. Faz supor que reconhece a existência de funcionários públicos que servem ao Estado e não ao governo da vez.

Ou a articulação de um apoio amplo para eleger um presidente da Camara dos Deputados saído não necessariamente das hostes do chefe do executivo, o que sugere o alguma ideia de que o Legislativo precisa de independência e não de controle pelo Planalto.


Tome-se também a manifestada disposição de rever a pretendida fusão do Meio Ambiente com Agricultura — aliás, o moderno setor agropecuário brasileiro compete internacionalmente dentro de reconhecidos padrões de sustentabilidade. Ou a de voltar atrás no anúncio de subordinar o Ministério da Indústria e Comércio à super pasta da Fazenda – países modernos e avançados separam finanças e economia.

Note-se, porém, que esses são mecanismos para governar, mas ainda não indicam em que eixos se dará a atuação do governo. Da mesma maneira, permanecem nebulosas as declarações de que a política externa será desvinculada de apegos ideológicos.
Nesse sentido, tenho chamado a atenção para o fato de que a imagem no exterior do provável novo presidente brasileiro é muito ruim, e não adianta dizer que é culpa de esquerdismo da “mídia internacional” – embora as esquerdas brasileiras tivessem mobilizado que laços existissem lá fora com o mundo diplomático, acadêmico, dos partidos e instituições internacionais pintando o Brasil como uma masmorra do apartheid social (e, agora, fascista). O fato é que a imagem ruim existe.

Mandatários de vários países formam opiniões sobre colegas de outros países também a partir do que recebem da própria mídia local. Parte substancial desses órgãos de imprensa (e, reitero, nada a ver com “esquerdistas”) considera Bolsonaro um risco à democracia ignorando as evidências de que a escolha que está sendo feita pelo eleitorado brasileiro é antes de mais nada a manifestação de profunda desconfiança e descrédito nas instituições existentes (como STF, partidos, imprensa) – “clima” do qual Bolsonaro é consequência e não causa.

O assalto às instituições começou muito antes dele. A corrupção é entendida pelos eleitores como a mais evidente e palpável expressão de degradação do funcionamento de todo o arcabouço jurídico-normativo-político. No fundo não deveria causar surpresa alguma a maneira como o pêndulo oscilou agora contra as forças políticas (não só o PT, evidentemente) que se apoiaram sobretudo na mentira, roubalheira e populismo fiscal irresponsável. Antes de surgir um Bolsonaro, já existia um enorme cansaço de “tudo isto aí”.

A ideia propagada por Bolsonaro de que ele é capaz de limpar o jogo sujo, e enfrentar tudo o que está corrompido (começando pela restauração de valores tradicionais), acabou sendo um grande triunfo eleitoral.

Mas apenas esse discurso, diria Tancredo, não lhe permitirá governar.

Planeta dos macacos

A democracia é a ciência e a arte de administrar o circo a partir da jaula dos macacos
H. L. Mencken

O meio e a mensagem

O último recurso é acusar a internet. Mas como impedir sua presença quando ela mal nasceu e já envelheceu?

Eis um par perturbador que vai do fuxico a como agir sobre o mundo, e ao modo pelo qual somos obrigados a nos dirigir ao rei, a Deus e aos mortos.

De que modo seremos mais bem ouvidos? Mas será que somos ouvidos quando sabemos que o sofrimento jaz no silêncio das perguntas sem resposta?

Se eu escrever “mão” é uma coisa, mas escrever “não” é outra muito diferente. Um mero som muda o significado; haja trabalho para entender o elo entre som e sentido. O pensamento é falado para dentro e só pode surgir por meio de algum meio. Falar, memorizar, escrever, gravar, arquivar e divulgar revelam e transformam o mundo que, por sua vez, retorna modificando tudo novamente.

A invenção da imprensa é um bom exemplo. Sabemos que ela produziu um imenso conhecimento e, dando a muitos aquilo que era de poucos, foi acusada de abuso. Como publicar protestos contra a religião dominante? Como satirizar a realeza e protestar contra o poder? Como contrariar a autoestima afirmando que não somos o centro do universo? Como estudar costumes primitivos? Ou escrever sobre os mais secretos desejos humanos? E, pior que tudo isso, como especular sobre a possibilidade de que nada — salvo a orgulhosa coragem humana — faz sentido?

---------------

O meio é bom, mas a mensagem não presta, falamos quando lemos algo contra nós. Mudando a mensagem—quem sabe —, equilibramos. Seria mordaça? Não, dizem os hipócritas. A “nobreza” da escrita não deveria contrariar os bons costumes (os nossos costumes!). Mas e se formos mais realistas —diz um outro —e proibirmos de uma vez por todas as imoralidades?

Eis o que de imediato faz surgir a “subversão ”— essa palavra relativizadora, que, obviamente, depende de um ponto de vista.

-----------------

O dilema mostra como somos abertos à censura e à liberdade. Daí a expulsão do paraíso porque, como deuses em tamanho pequeno, tomamos partido mesmo sem saber porque assim o fazemos.

Podemos, contudo, suprimir os meios, mas não as mensagens que, com ou sem eles, adquiram corpos e espíritos. Se não se pode escrever, cantamos. Se não há estrutura partidária, usa-se a rede...

----------------

O último recurso é acusar a internet. Mas como impedir sua presença quando ela mal nasceu e já envelheceu? Num sistema cuja ética é a de não ter nenhuma fidelidade a coisa alguma, pois matamos faz tempo uma entidade chamada “Deus”, só resta admitir a impossibilidade impossível de parar de inventar. A bomba atômica e os pecados mortais não podem ser desinventados.

-----------------

Para complicar, pensemos num revólver. No filme “Shane” (“Os brutos também amam”; Paramount, 1953), o dilema é apresentado de modo claro...

Shane é um pistoleiro tentando fugir de seu passado que resolve defender um agricultor pressionado pelos poderosos criadores de gado. Em meio à violência, surge o inesperado. Marian, esposa do roceiro, e o seu filho Joey se enternecem por Shane, que, freudianamente, tem um revólver. Numa cena em que Shane decide mostrar ao menino o poder da arma, tirando-a de uma sombra repressiva, ocorre um diálogo importante.

Shane :“Uma arma é um instrumento, Marian; não é nem melhor nem pior do que qualquer outro instrumento. Uma arma é tão má ou boa quanto o homem que a usa. Lembre-se disso.”

Marian Starrett: “Seria muito melhor se não existisse uma única arma neste vale, incluindo a sua...”

--------------

Pode-se acabar com o telefone porque ele é irresponsavelmente usado? Seria conveniente liquidar o jornal porque ele anuncia más notícias, e gente como eu, que fala dessas coisas?

Como acabar com bombas atômicas se não conseguimos nos envergonhar da pobreza que engendramos?

-----------------

Cheguei ao meu limite (de toques). Mas ainda tenho espaço para perguntar: como detonar uma democracia?

A mais efetiva é não aceitando os riscos de perder ou ganhar excluindo o concordar em discordar. Esse assombroso paradoxo para os neo-abundantes democratas nacionais.

Que liberdade nos libertaria?

Sobre a semana de “Desespero” que passou, nada mais a dizer. Sobre “ameaças à democracia” no país que caminha para os finalmentes de uma lição exemplar sobre a real proporção da viagem na maionese de quem quer que acredite que pode se tornar dono dele e ditar-lhe regras, não há mais qualquer preocupação.

Arrancamo-nos do século 20 e, dele, ninguém nos pega mais. Podemos voltar a dar-nos o luxo de pensar o futuro.

A verdade nos libertará?

Sem dúvida somente a verdade nos poderá libertar. Mas se será desta vez ou não que a “conheceremos”, essa é a dúvida que, resolvida a eleição, ainda remanesce. Há uma promessa de olhar para o quadrante onde os problemas de fato estão na economia e em outras vertentes não totalmente desprovidas de importância no espaço aberto entre a história real e a narrativa do drama brasileiro. Não é pouco, considerado o ineditismo e a distância que tomamos da realidade, mas é só o que há.

Atacar questões como as da previdência e do resto do sistema de privilégios e colonização do estado que puseram o Brasil na miséria não é mais uma questão de escolha, é um imperativo de sobrevivência. Os 0,5% da população empregados pelo estado que os outros 99,5% sustentam, consomem integralmente os 40% do PIB que o estado toma à nação e mais o que contrata de divida por ano nas costas dela sem nenhuma contrapartida de merecimento. A coleção de “direitos” que se auto-atribuem à custa da “desaquisição” dos mais básicos do resto dos brasileiros garante a expansão continuada desses privilégios por mero decurso de prazo. Os 63 mil assassinados por ano são a forma final que essa fatura assume depois de vir espalhando miséria no corpo e na alma do Brasil pelo caminho afora.

Isso vai ter de parar. Vai ter de voltar para traz. Não há mais escolha.

Mas tudo isso ainda são efeitos. A causa é politica. Tudo o mais que nos atropela é decorrência direta da inexistência de um sistema real de representação do país real no país oficial e da inexpugnável blindagem dos mecanismos de decisão contra qualquer interferência da massa dos excluídos, da plebe, da ralé também dita “eleitorado”.

Os países são feitos para quem tem a última palavra no seu processo de tomada de decisões. E muito pouca coisa para além dessa verdade é verdade no bla-bla-blá com que nos engambelam desde Tiradentes. Existe democracia se e quando há uma ligação aferível dos representados com cada representante eleito e estes dispõem de instrumentos efetivos para impor a sua lei àqueles. É simples assim. Tem o poder quem tem o poder de demitir. É isso que decide se o país será construído pelos representantes eleitos para eles próprios e para “os seus” ou para o povo, para os eleitores.

Hoje a dúvida sobre para quem é feito o Brasil é zero. É dado à plebe, à ralé, ao eleitorado ir às urnas a cada quatro anos como irá mais uma vez domingo mas, daí por diante e até a próxima eleição ele estará totalmente excluído da discussão do seu próprio destino. Qualquer ascensorista do Congresso Nacional, qualquer “massoterapeuta” de nossos egrégios tribunais (que os há em todos e pagos com dinheiro da favela!), o mais reles dos auxiliares de coisa nenhuma com acesso ao pé do ouvido das “excelências” da corte tem muito mais poder de influir e de “adquirir direitos” nessa ordem legal espúria que distribui os ônus e os bônus de ser brasileiro que os milhões de eleitores que permanecerão amordaçados até a próxima eleição. Tem muito mais poder de influência que os milhões de brasileiros a quem, a cada quatro anos, é concedido fazer “a sua escolha”, desde que seja entre as escolhas deles, e depois penar calados as penas de manter o desfrute da “privilegiatura”.

Dez milhões contra 200 milhões. E, no entanto, passa batida como a expressão da mais pura verdade estabelecida, a afirmação diariamente repetida pela situação e pela oposição e amplificada pelos “contra” e pelos “a favor”, de que tocar em qualquer desses privilégios seria “altamente impopular”. É um resumo eloquente da extensão da imunodeficiência nacional à mentira.

A mera exposição honesta e didática das parcelas que compõem a conta da miséria do Brasil desfaria o nó cego de mentiras que mantêm atadas as contas públicas. Nada poderá deter a força dos 99,5% lesados apenas se lhes for dado conhecer os números exatos sobre quem, entre os 0,5% restantes está levando quanto, e quais as alternativas para ir buscar a diferença que mede o desastre humanitário nacional em outros bolsos senão os que estão sendo injusta e indecentemente recheados com dinheiro independente de suor.

Mas até aí estaremos falando apenas de manter viva a galinha dos ovos de ouro. E de assegurar a disputa pelo “direito” de ser o primeiro a colhe-los.

O lugar de honra do panteão dos heróis da História do Brasil continuará vago até que chegue quem seja honesto o bastante para fazer a reforma política que tornará impossível que, “como regra a mentira esteja acima de tudo no nosso meio político”, seja quem for o eleito da vez para fazer o seu turno “lá”; para fazer a reforma que tornará os representantes eleitos dependentes dos seus eleitores antes, durante e depois de cada eleição e lhes dará a ultima palavra em cada uma das decisões que afetarão o seu futuro; para fazer a reforma que emancipará os brasileiros e porá diretamente nas mãos deles a busca das soluções possíveis, na velocidade que lhes convier, para limpar e reconstruir este país, cada pedaço dele à sua imagem e semelhança, e faze-lo avançar daí por diante sem compromisso com a petrificação do “erro” em privilégio e sem medo de experimentar como a vida pede a cada um de nós que façamos.

Voto distrital puro para garantir a fidelidade da representação do país real no país oficial e para tornar operacional mudar com segurança no ritmo da necessidade, direito de retomada de mandatos e referendo das leis dos legislativos a qualquer momento para lembrar sempre quem é que manda, eleições de retenção de juízes para prevenir marchas-à-ré.

Eis a verdade que nos libertaria.

Gente fora do mapa

Em Melilla, cidade autônoma espanhola em território africano, milhares de marroquinos cruzam duas vezes por semana a fronteira para transportar fardos de roupa usada, pesando até 90 kg, a 10 euros o dia, preço pago pela empresas espanholas para evitar as tarifas do comércio regular

Desemprego alto é o maior inimigo de qualquer projeto relativo à Previdência

Em reportagem publicada na edição de ontem da Folha de São Paulo, Raquel Landin analisa problemas relativos à Previdência Social no Brasil e acentua que o modelo chileno não é solução para o déficit do INSS. Ela frisou esta questão ao destacar que um dos projetos da equipe econômica de Jair Bolsonaro é o da capitalização, que foi adotado no Chile e já está criando problemas naquele país. Isso porque, apenas os funcionários públicos contribuem com sua parte de 10% sobre o salário. O governo, não.

O sistema de capitalização foi adotado a partir da ditadura de Pinochet e está deixando o déficit crescer.

Qualquer sistema previdenciário necessita da contribuição de empregadores e empregados. No Brasil, se retirada a participação dos empregadores o rombo do INSS aumentará incrivelmente, é claro. Os empregadores representam 2/3 do total das contribuições. O economista Paulo Guedes conhece bem o sistema chileno, porque foi professor da Universidade do Chile por alguns anos.


Na época de Pinochet, os chilenos ainda viviam uma situação bastante estável porque na América Latina a renda per capita do país era a maior do continente. A renda per capita resulta da divisão do Produto Interno Bruto pelo número de habitantes. Não quer dizer que todos vivam bem, porque a participação dos lucros financeiros nas classes de renda mais alta não inclui o aspecto do desenvolvimento humano. Mas é um indicador.

No Brasil a renda média, por coincidência se aproxima da renda per capita. O salário médio dos brasileiros e brasileiras é de 2.300 reais mensais. Com base nesse número, multiplicando-o pelo total de desempregados (12 milhões de pessoas), verifica-se que o INSS deixa de arrecadar em função do desemprego e do não emprego dos jovens que chegam à idade de trabalhar.

Essa é a questão essencial. Com o nível de desemprego atual torna-se impossível reduzir-se o déficit do INSS.

Todos os projetos incluem a obrigação das contribuições para a Previdência. Mas os desempregados não podem contribuir com nada. O problema é esse.

Vasto campo de ruínas

O socialismo não se pode construir nem contra os cidadãos nem sem os cidadãos e, por não ter sido entendido, é que a esquerda é hoje um campo de ruínas onde, apesar de tudo, uns quantos ainda teimam em buscar e colar fragmentos das velhas ideias com a esperança de poderem criar algo novo
José Saramago

O ego de Lula

Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir - a palavra adequada é essa - que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”.

O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor inclinação para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, tampouco gostariam de ver o PT voltar ao poder. Para esses eleitores, somente se o PT reconhecesse, de maneira honesta e sem adversativas, seu papel preponderante na ruína econômica, política e moral do Brasil nos últimos anos, cujos frutos mais amargos foram o empobrecimento do País e a desmoralização da política, talvez houvesse alguma chance de mudar de ideia. Mas isso é impossível, em se tratando de Lula da Silva, que se considera o mais importante brasileiro vivo e o maior líder que este país jamais terá.

Na carta em que diz que “é o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, Lula não reserva uma única vírgula ao desastre econômico do governo de Dilma Rousseff, outra de suas inesquecíveis criações. Ao contrário: afirma que Dilma sofreu impeachment em razão de uma imensa conspiração de “interesses poderosos dentro e fora do País”, incluindo “todas as forças da imprensa” e “setores parciais do Judiciário”, para “associar o PT à corrupção” - omitindo escandalosamente o fato de que Dilma foi cassada exclusivamente por ter fraudado as contas públicas com truques contábeis e pedaladas. O petrolão, embora tenha sido motivo mais que suficiente para que o PT fosse defenestrado do poder para nunca mais voltar, não foi levado em conta no processo.

Como jamais teve compromisso real com a democracia - que pressupõe respeito a quem tem opinião divergente, para que seja possível o consenso - e também nunca reconheceu a legitimidade de nenhum governo que não fosse o seu ou de seus títeres, Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. A carta, ao contrário, é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.

Lá estão as patranhas que tanto colaboraram para fazer do antipetismo um movimento tão sólido e vibrante, conforme atestam as pesquisas de opinião. Lula, sempre no plural majestático, diz que “fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo” e por isso “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”. O sujeito desse complô, claro, é indeterminado, mas unido no que Lula chamou de “ódio contra o PT”. Tudo porque, diz Lula, “tiramos 36 milhões de pessoas da miséria”, porque “promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social”, porque “fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste” e porque “abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos”. Nada mais, nada menos.

Esse panegírico só serve para mostrar que Lula é mesmo incorrigível - e que seu arrogante apelo para “votar em Fernando Haddad” e assim “defender o estado democrático de direito” contra a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil” não vale o papel em que está escrito.

Um passeio pelo Vale do Silício

Hoje escrevo de Palo Alto, uma pequena cidade a cerca de meia hora de São Francisco, na Califórnia. Cheguei no domingo à tarde, fiz check-in no hotel e abri o Google Maps para me localizar. Já estive algumas vezes aqui, mas há bastante tempo, nos áureos tempos da primeira bolha da tecnologia, nos anos 90, quando o Vale do Silício fervia; era uma cidade pequena, sossegada e bonitinha, com casinhas de classe média simpáticas que me despertavam uma vaga nostalgia de gramados e quintais.

Palo Alto continua pequena, continua sossegada e continua bonitinha; mas hoje é um ninho de milionários. A classe média mora longe daqui. As casinhas continuam mais ou menos as mesmas, mas seu preço médio disparou e está em torno de US$ 2,5 milhões. Com menos de quatro ou cinco milhões não se compra uma com tamanho razoável para uma família e mais de um banheiro. O custo de vida é estratosférico.

A cidade é uma das mais importantes do Vale e dezenas de empresas de tecnologia nasceram aqui, entre elas Google, Facebook, o próprio Waze, Pinterest, Tesla, Skype, PayPal, Logitech. Há centenas de empresinhas menores e de start-ups na área. É possível que agora mesmo, enquanto escrevo, alguém esteja tendo uma ideia brilhante que vai mudar o mundo.


A cinco quarteirões do hotel, seguindo pela Emerson, chega-se a uma rua chamada Addison; virando à esquerda e andando mais dois quarteirões, encontra-se o número 367. É uma área residencial bem arborizada, com lindos jardins e, nessa época do ano, muitas folhas secas no chão.

Aparentemente, o número 367 não tem nada demais. É uma casa parecida com todas as outras da rua; o terreno é pequeno, e ela ocupa quase toda a sua largura. É de madeira, tem colunas verdes e janelas envidraçadas, uma sebe florida. Não há nada que chame a atenção na sua construção – mas, em frente, uma placa alerta aos passantes (que não são muitos) que ali nasceu o Vale do Silício.

Foi na garagem dessa casa, um singelo galpão de madeira, pequeno pelos padrões atuais, que os jovens William Hewlett e David Packard, recém-saídos da vizinha Universidade de Stanford, começaram a trabalhar num equipamento de áudio. Eles formalizaram a parceria em 1939, jogando uma moeda no ar para saber se a companhia que estavam fundando se chamaria Hewlett-Packard ou Packard-Hewlett. Alguns anos depois, a HP entrou no ramo dos semicondutores, e o resto, como dizem por aí, é história.

O termo “Vale do Silício” foi usado pela primeira vez em 1971. A expressão vai além de uma simples definição geográfica, e hoje é praticamente sinônimo da poderosa indústria de tecnologia dos Estados Unidos.

É impossível andar pelas ruas de Palo Alto sem pensar em toda a revolução que brotou a partir dessa região. Também é impossível para mim não pensar em como o Brasil está distante do front da tecnologia, e em como essa distância tende a aumentar num país que dá tão pouco valor ao ensino.

Deveríamos estar todos na rua brigando, não por candidatos, mas por uma política de educação real, que resgate o nosso futuro.

Pensamento do Dia


O velho e bom jornalismo tem no contraditório sua principal virtude

Estas linhas poderiam morrer aqui, nesta primeira. Poderia preenchê-las com a transcrição do que disse Merval Pereira em sua coluna em “O Globo” de anteontem, 23.10 (“Retórica de guerra”). Merval disse tudo. Fez homenagem ao velho e bom jornalismo, que tem no contraditório sua maior virtude. Mas quero deixar aqui algumas palavras.

O deputado mais votado da história do país, Eduardo Bolsonaro, filho do candidato a presidente pelo PSL, sobre o fechamento do STF disse algo que jamais poderia dizer, mas o tratamento recebido da mídia não foi o que ela deu a vários petistas (a começar por Lula), que têm feito afirmações gravíssimas contra o Supremo Tribunal Federal.

Os “tempos sombrios” que já estamos vivendo se devem, principalmente, ao antipetismo e à decepção com o PSDB, nossa social-democracia tupiniquim. Dói-me dizer isso, pois fui dos que mais se entusiasmaram quando de sua criação. Os dois são os maiores responsáveis pelo surgimento e pela provável eleição do ex-capitão, que, de fato, não está preparado para governar o país. Poderá aprender governando. PT e PSDB (com ênfase sobre o primeiro) se restringiram a pensar em seu projeto de permanência no poder, e não no bem do país.

Agora, com a vitória previsível de Jair Bolsonaro, a pergunta que nos resta é uma só: como ficaremos todos a partir de 2019? Pergunta igual fez o jornalista Fernando Gabeira em seu artigo em “O Estado de S. Paulo” de 19.10.2018. Não tenho resposta a minha pergunta. Fico com a do Gabeira: não temo (amém!) pela democracia brasileira, mas é bom que permaneçamos em alerta, como o escoteiro.

Espero que, a partir do próximo domingo, à noite, Bolsonaro, se for eleito, chegue à conclusão de que, até aqui, a tarefa que lhe pareceu difícil foi a mais simples. A mais espinhosa, sem dúvida, será presidir um país de 206 milhões de habitantes que, por livre escolha, elegeu, em 1988, a democracia como seu encantado sonho. Sua missão: uni-lo e pacificá-lo na liberdade. Esta deve ser a mais importante de todas as tarefas. Os radicais de direita que o escolherem pensando noutra coisa, vale dizer nas bravatas que deixou escapar (não só durante a campanha), poderão se frustrar. Muitos o deixarão. Outros poderão juntar-se aos radicais da esquerda... Suas ideias suicidas não terão vez. Na cata de votos, que o ex-capitão tenha sido só esperto.

Só depois da posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República (se ele chegar lá…), quem sabe na divulgação dos nomes que o ajudarão a governar, ficaremos sabendo o que realmente pretende o ex-capitão, que, ao longo de três décadas como parlamentar, soube bravatear. Espera-se que tenha aprendido como funciona nossa democracia, que tem defeitos, mas tem qualidades, e que respeite nossa Constituição. Não me atrevo a apostar, desde já, em seu retumbante fracasso. É coisa de quem gosta de sofrer por antecipação. Aos mais céticos, que nunca enxergam a esperança, sugiro uma revoada sobre os 13 anos e pico de governos do PT. Ou sobre o desabafo de Cid Gomes.

Discordo do físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite. A opção por Bolsonaro não significa escolher a barbárie; a opção por Haddad não significa escolher a civilização. Bolsonaro é um risco, mas a permanência do PT no poder também representaria risco para o país. A maioria dos eleitores quer seu distanciamento para que reflita bastante sobre a derrota que deverá sofrer e sobre os graves erros que cometeu.

A alternância no poder poderá cuidar do país.

Por que votarei nulo

Defendo a democracia liberal, caracterizada pelo respeito às liberdades individuais, entre elas a liberdade de expressão, a conquista do poder pelo voto popular e a possibilidade real de alternância de poder. 

Do ponto de vista econômico, sou adepto do livre mercado e favorável à existência de alguma rede de proteção social, bem como de políticas que facilitem o acesso à educação.

Com base nisso votei em João Amoêdo, do Novo, no primeiro turno das eleições presidenciais e irei anular meu voto no segundo turno.

Tenho criticado com certa frequência o programa econômico de vários candidatos, precisamente por não estarem de acordo com o que acredito ser o melhor para o país.


Isso é mais nítido no caso de Fernando Haddad (e do eliminado Ciro Gomes), cujas propostas, se implementadas, nos levariam a um desastre como o vivido recentemente em razão da Nova Matriz Econômica, cuja responsabilidade, é claro, é de Dilma Rousseff e do PT.

No caso de Jair Bolsonaro, como pude expressar na semana passada, as críticas não são relacionadas diretamente ao programa econômico (que, de qualquer forma, é para lá de vago), mas ao que acredito ser a baixa probabilidade de adesão do candidato a uma plataforma realmente liberal, expressa, entre outras coisas, na privatização das estatais que ele considera “estratégicas”: Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal (o resto é perfumaria).

Hoje, porém, quem escreve não é o economista, mas o cidadão que acredita no modelo de democracia breve e imperfeitamente descrito no primeiro parágrafo. Nesse quesito, ambos os candidatos deixam muito a desejar.

Elogios à ditadura militar, louvor a um conhecido torturador e outras manifestações do mesmo calibre tornam impossível, para mim, votar em Bolsonaro. Simplesmente não cabem no meu credo, mesmo que fosse possível acreditar em sua conversão ao liberalismo econômico e à austeridade fiscal.

Quanto a Fernando Haddad, bem, em nome da transparência, fomos colegas de mestrado (e, não, ele nunca “colou” de mim, nem do Naércio Menezes), eu o considero um amigo (não sei se a recíproca é verdadeira, mas espero que sim) e uma pessoa de bem. Representa, todavia, forças políticas cujo compromisso com a democracia me convence ainda menos que o liberalismo econômico de Bolsonaro.

Aqui me refiro tanto a propostas concretas (“adormecidas” no segundo turno) —na linha da convocação de uma constituinte e manobras pouco disfarçadas de controle da mídia— como ao histórico do PT, inclusive sua recusa descarada em aceitar decisões do Judiciário. 

Sua autocrítica não vai além do lamento de não terem conseguido controlar instituições como o Ministério Público, a Polícia Federal e as Forças Armadas, além, é claro, de “democratizar a mídia”.

Isso sem se esquecer do “guerreiro do povo brasileiro”, o condenado José Dirceu, que recentemente proclamou que o partido pretendia “tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Que me desculpem os amigos que pretendem votar no Fernando em nome da defesa da democracia, mas um partido com tais posições não tem nenhum comprometimento com a causa democrática, além de usá-la como trampolim para “tomar o poder”.

Só me sobra, portanto, anular o voto e torcer para que na próxima eleição apareçam candidatos com posicionamentos mais próximos aos meus, de preferência com reais chances de serem eleitos.

Boa escolha a todos.
Alexandre Schwartsman

Quem paga a conta?

Quando se verifica a situação das contas estaduais, é o caso de perguntar: por que tantos políticos disputam o cargo de governador com tanto empenho? O diagnóstico é simples: há pelo menos cinco anos, a despesa com pessoal (ativos e inativos) cresce acima das receitas; há mais tempo ainda, os governos estaduais foram irresponsavelmente estimulados pelo governo federal a tomar empréstimos para tocar obras caras e que não dão retorno, como os estádios da Copa; vários Estados estão simplesmente dando o cano nos clientes e nos seus credores. A coisa chega ao ridículo: o governo de Minas foi processado para devolver à Toyota uns 500 carros que havia comprado e não pagou. Quer dizer, estava na pior e ainda saiu comprando carros novos.

A situação é mais dramática em Minas, Rio e Rio Grande do Sul, mas nada menos que 16 Estados estão gastando com a folha um valor acima dos limites de prudência definidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.


Numa situação assim – despesas crescendo acima das receitas, com endividamento já elevado – não tem outra saída: aumentar impostos, cortar gastos e renegociar dívidas.

E o cara quer se eleger para isso? – pergunta o leitor de bom senso.
Mas bom senso não é exatamente a coisa mais bem distribuída entre políticos. No caso, os pretendentes a governador acham que não vão pagar as contas. Acham que vão empurrar tudo para os credores, em especial o governo federal.

Considerem o caso do Rio de Janeiro. É o único Estado que está em processo de recuperação fiscal. Com isso, o governo fica dispensado de pagar o serviço da dívida por três anos, enquanto coloca em prática um programa de ajuste que inclui corte de gastos, controle geral de despesas e privatizações para fazer caixa e abater dívidas. Inclui também a proibição de reajustes salariais enquanto durar o programa – o que é uma medida óbvia.

É para esse programa que devem caminhar outros Estados, se o governo federal, patrocinador dos acordos e principal credor, quiser mesmo fazer o ajuste fiscal.

Nenhum candidato a governador se comprometeu com isso, nem os mais atrapalhados. Ao contrário, no Rio, o candidato Witzel acha que o pagamento da dívida deve ser estendido pelo prazo de … 100 anos. Eduardo Paes não gostou da privatização da Cedae, condição necessária para o prosseguimento do programa de recuperação.

Em Minas, que necessita urgentemente do programa e tem boas estatais para vender, os dois candidatos colocaram restrições á privatização.

Em resumo, o presidente eleito tem um problema próprio: a reforma da previdência, de longe a maior despesa, e crescente, da União. Só com os aposentados do INSS, o governo federal compromete quase 50% do gasto total. Com pessoal, mais uns 25%. E o Congresso eleito, pelas primeiras análises, não é propriamente reformista.

Em compensação, o Congresso é sempre amplamente favorável a medidas que facilitem a vida financeira dos Estados, onde se encontra a clientela de deputados e senadores. O Judiciário também tem uma tendência a espetar contas no orçamento federal, incluindo as suas próprias demandas.

Assim, os governadores aliados do presidente eleito vão tentar negociar na base da conversa, da troca de apoio, aquelas coisas. E os de oposição podem escolher a via do Judiciário. A demanda básica será a mesma: empurrar dívidas para Brasília e arrumar uns trocados a mais. Isso para um governo federal cuja dívida bruta caminha na direção dos 100% do PIB.

Assim, a nova equipe econômica terá que fazer dois ajustes fiscais: o seu, da União, e aqueles dos outros, dos Estados.

E para quem a União pode mandar a conta?

Adivinhou: o contribuinte, que pagará na forma de impostos e cortes na prestação de serviços públicos.

Claro, a alternativa responsável está posta: para o governo federal, reforma da previdência, contenção dos gastos com pessoal e muitas, muitas concessões e privatizações para recuperar o investimento. Na relação com os Estados, o governo federal não tem como evitar uma renegociação de dívidas, mas deve exigir contrapartidas efetivas dos governadores;

A ver. Mas os sinais não são bons.

Cabo eleitoral de Bolsonaro, Lula lava as mãos

Veio à luz uma nova carta atribuída a Lula. Nela, o presidiário petista revela-se desnorteado: “Fico pensando, todos os dias: por que tanto ódio contra o PT?'' Prestes a entrar para a história como principal cabo eleitoral de Bolsonaro, Lula escreve como se não tivesse nada a ver com o que chama de “aventura fascista”. Ainda não se deu conta de que nada, no seu caso, tornou-se uma palavra que ultrapassa tudo.

Lula acha que fez muito bem ao país e à sua gente. “Tenho consciência de que fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo.” Ainda não enxergou no espelho um culpado pelo antipetismo que impulsiona Bolsonaro. Lula avalia que o fato de ter sido tão extraordinário “contrariou interesses poderosos dentro e fora do país.” Os contrariados “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”, queixou-se.


Para o missivista de Curitiba, o impeachment de Dilma foi culpa do alheio. “Juntaram todas as forças da imprensa, com a Rede Globo à frente, e de setores parciais do Judiciário, para associar o PT à corrupção. Foram horas e horas no Jornal Nacional e em todos os noticiários da Globo tentando dizer que a corrupção na Petrobras e no país teria sido inventada por nós.” Não ocorreu a Lula a hipótese de o PT ter sido associado à corrupção pelo excesso de roubo.

Condenado em primeiro e segunda instância, Lula já teve pedidos de liberdade negados pelo STJ e também pelo STF. Pesquisa do Datafolha constatou que 59% dos brasileiros acham que o pajé do PT deve permanecer preso —51% na tranca da Polícia Federal, 8% em prisão domiciliar. Mas o DataLula, movido por auto-critérios, chegou a conclusões diferentes: “Todos sabem que fui condenado injustamente, num processo arbitrário e sem provas, porque seria eleito presidente do Brasil no primeiro turno.”

Lula precisa encontrar o sósia que transformou o antipetismo numa força política imbatível na temporada eleitoral de 2018. Está entendido que alguém muito parecido com o líder máximo do PT plantou nos seus dois mandatos as raízes do mensalão e do petrolão. É evidente que um sósia de Lula privatizou a Petrobras, entregando-a ao conluio que reuniu burocratas políticos e empreiteiros numa pilhagem jamais vista.

Não há dúvida: um impostor vendeu Dilma ao eleitorado como supergerente impecável. É óbvio que o embusteiro, fazendo-se passar por Lula, aceitou que empreiteiras financiassem com verbas sujas seus pequenos confortos —o tríplex na praia, a reforma no sítio.

A tese da existência de um sósia de Lula é, por ora, a mais confortável para o petismo. A alternativa seria admitir que tudo o que está na cara não passa de uma conspiração da lei das probabilidades contra um inocente. Um inocente que, tendo se convertido injustamente em cabo eleitoral de Bolsonaro, lava as mãos. E tenta sumir com o sabonete.

“Por que tanto ódio contra o PT?”, pergunta Lula aos seus botões, que não respondem, pois desenvolveram uma ojeriza por petistas. “Se há divergências entre nós, vamos enfrentá-las por meio do debate, do argumento, do voto”, sugere o presidiário, recusando-se a ver os detalhes: as divergências que elevaram a rejeição ao PT já não comportam a partícula “se”. Elas existem e são profundas. Hospedeiro da revolta, Bolsonaro dá de ombros para o debate. Ainda assim, um pedaço do eleitorado se dispõe a votar nele.

Ora, a exemplo de Haddad, o capitão chegou ao segundo round pelo voto. E as pesquisas indicam que é pelas urnas que a “aventura fascista” pode ser alçada ao Planalto no domingo. Se quiser, Lula pode continuar tentado ajustar os fatos à sua filosofia de para-choque de caminhão. Mas o melhor seria localizar rapidamente o sósia que deixou o PT sem para-choque e sem nexo. Cartas escritas com o propósito de fazer a plateia de boba já não encontram material.