segunda-feira, 13 de julho de 2015

Senão passa da hora

Efeito manada: Quando todo mundo entra em pânico

Fim da farra, ilusões se desfazem como nuvens e o amargo sabor da realidade anula a doce sensação de que finalmente o gigante acordou. É como amanhecer após uma noite maldormida pelos excessos de uma festa grandiosa. Em cada esquina, rostos fechados e mau humor pronunciam que a tempestade se avizinha. “A coisa vai de mal a pior...”, “o freguês sumiu...”, “a praça está ruim...”, “morro de medo de perder o emprego...”, “estou devendo até a alma...”.


A negatividade é como vírus de surto de gripe, é só abrir a boca e infesta multidões. As queixas frequentes da vida, a raivosa manifestação de redes sociais contra o governo e políticos em geral, vão se espalhando tal qual gás que escapa de fogão. Palito de fósforo é arma em mãos de incendiários. Nós temos uma tendência natural, que herdamos de evolução de milhões de anos, de seguir liderança. Precisamos de um líder, alguém que nos mova pela fé e esperança rumo a um futuro ou horizonte onde nos sintamos seguros, com abundância de recursos, sensação de coletividade, justiça e confiança. Precisamos de um núcleo familiar que nos nutra de afeto e proteção. São coisas tão básicas que nem notamos sua importância, até que o perigo nos envolva e a escassez provoque reações impensáveis.

Nos tornamos bestas e feras, regidas unicamente pelo instinto, esse perigoso e trevoso campo da falta de consciência racional. Em casos que se repetem há milênios, estupros, assassinatos, decapitações, extermínio, deixam perplexos os que se julgam “humanos”. Mas a verdade é que a consciência de grupo é tão frágil que se dilui. Senão, vejamos: como explicar os espancamentos e linchamentos que recomeçaram no país, onde pais, filhos, cidadãos de bem, chutam e agridem até a morte o assaltante da mercearia da esquina?

A maldade mora no porão da mente de todos nós, e em momentos extremos ela vira um monstro que não dominamos. Daí, uma expressão utilizada por estudiosos do comportamento: “efeito manada”, que significa um processo em que a multidão em pânico, de forma irracional e num efeito dominó, busca, ao mesmo tempo, uma porta de saída emergencial (lembram-se de evento em campo de futebol com excesso de público?), que é estreita e necessita de uma organização que não existe, gerando uma tragédia. E quando uma nação inteira perde a confiança em suas instituições políticas, jurídicas, sociais? Venezuela é um exemplo, ou as destruídas sociedades da Síria, Iraque, Iêmen e, quem sabe, a Grécia?

E nós com isso? Tudo! Afinal, a angústia vai corroendo nosso dia a dia, a insegurança torna-se companhia inseparável, o medo se alastra enquanto o vizinho chora o desemprego, o primo pede um empréstimo que não tem como pagar, o papo do bar é sobre as pequenas grandes tragédias que a tal “crise” começa a assombrar em nossas vidas.


Resta a cada um de nós buscar interiormente os recursos que temos guardados e que se apresentam nesses tempos caóticos. Respirar fundo, desviar o foco de papos negativistas, resgatar a criatividade, entender que fé é essa energia que gera um bom campo no nosso entorno, atraindo boas coisas. Tomar iniciativas, fazer o mesmo, mas com garra, de forma diferente, gerar prazer nos ambientes que frequentamos.

É bom lembrar que todos os momentos de crise que a humanidade atravessou geraram um novo momento, surgiram novos conceitos, fez evoluir a história da civilização. Há apenas 60 anos, a Europa, no pós-Segunda Guerra, estava destruída, famílias enlutadas, sem moradias ou alimentação, vagavam por todo continente. Hoje reerguida, mesmo com crise, busca saídas. Tudo tende a se resolver, e mesmo que caminhos se estreitem, armadilhas nos ameacem, desafios sejam diários, nossa sina é seguir, lutar, superar. Por fim, um aviso: nunca esteja na frente da manada, pois é o pior lugar. Os mais apavorados e egoístas são os primeiros a serem pisoteados.

Forte sopro de inteligência me reacendeu a surrada esperança

Ao mesmo tempo em que o ex-presidente Lula aconselhou a presidente Dilma a “encostar a cabeça no ombro do povo” (como se isso fosse possível e, para ela, nada arriscado), o juiz Sérgio Moro reagiu assim às injustas críticas que vem recebendo de setores descontentes com sua segura atuação: “Não sou nenhuma besta-fera”.

De acordo com Moro, a divulgação dos processos da operação Lava Jato significa “a democratização do poder”. “Divulgá-los é um dever constitucional”, resumiu ele, em resposta aos que o acusam de promover o desequilíbrio do julgamento em favor da acusação.

Lula, porém, não se cansa. Na última sexta-feira, por exemplo, em conversa com funcionários da Petrobras, enviou o seguinte recado aos seus adversários, ao mesmo tempo em que se lembrava dos ex-presidentes Getúlio Vargas e Jango: “Não vou me matar, não vou sair do país. Eu vou para a rua”. E, esquecendo-se de que não é mais presidente nem ocupa qualquer outro cargo público, arrematou, destemido: “Se quiserem me derrubar, vão ter que me derrubar na rua”.

Tanto Dilma quanto Lula têm se saído muito mal nas suas inúteis tentativas de explicar o inexplicável. O desespero bateu definitivamente à porta dos dois e, agora, leitor, aumentou com a recente pesquisa sobre o baixo índice de popularidade de ambos. Talvez seja essa a causa principal dos absurdos que andam destilando por aí.

No sábado passado, senti-me desanimado com a grave crise por que passa o país, sem similar em nossa história. Os discursos do criador e da sua criatura, bem como a tímida contribuição da oposição diante da crise, me fazem sentir saudades de outros tempos.

Já no último domingo, porém, os artigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do jornalista e ex-deputado federal Fernando Gabeira me fizeram novamente vivenciar o sopro benfazejo da inteligência.

Os dois Fernandos reacenderam em mim a surrada esperança. O primeiro, no artigo “A responsabilidade das oposições”, em “O Globo”, ofereceu ao PSDB em especial, em poucas linhas, um verdadeiro plano de governo. O que escreveu precisa ser lido e refletido pelos que, na oposição, desejam de fato o bem do país.

O artigo de Fernando Gabeira, no mesmo jornal e no mesmo dia (“O passado como esconderijo”), exige de mim a transcrição de tópicos referentes à declaração da presidente Dilma sobre a delação premiada: “Considero uma farsa”, escreveu Gabeira, “comparar um empresário que enriquece com a Petrobras com os militantes que deserdaram da luta armada. Como comparar um sonho, ainda que equivocado, de transformação social com o propósito puro e simples de roubar a maior empresa estatal?”.

Naquela época, continua Gabeira, “ninguém enriqueceu. Pelo contrário: os que não aderiram ao poder tinham grandes dificuldades, como todos os brasileiros. Na versão atual, mistificadores escondem-se atrás do próprio passado. Mesmo quando arruínam o país, querem passar por incompreendidos salvadores”.

A patética entrevista que a presidente Dilma concedeu anteontem à “Folha de S.Paulo” despertou em mim, além do sentimento de compaixão, estas despretensiosas perguntas: por que nossos políticos, com Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva à frente, não se juntam para dar um jeito neste país? Estão à espera de quê?

É justo o sacrifício de milhões em nome da vaidade ou da esperteza?

O desemprego, o Estado e a corrupção

A sombra do desemprego assentou-se sobre o país de forma definitiva. Na construção civil, na indústria automobilística, nos estaleiros, nas hidrelétricas em construção, apenas? Não. Nos serviços, nos transportes, no comércio, nas pequenas empresas, até no trabalho doméstico vêm se registrando dispensas em massa. O aumento da violência constitui apenas um dos sintomas da falta de trabalho para contingentes sociais cada vez maiores. O Brasil não saiu de uma guerra, tendo vencido ou perdido, como costuma acontecer em outras nações, de tempos em tempos. Aliás, antes das guerras é que o desemprego diminui, com o incentivo à indústria bélica.
Historicamente, para criar postos de trabalho, só existe uma solução: o Estado assumir a tarefa, diretamente ou financiando empresas privadas. Foi assim nos Estados Unidos quando Franklin Roosevelt adotou o New Deal e partiu para a realização de obras públicas de toda espécie, de hidrelétricas a imensas rodovias. No outro lado do mundo, Joseph Stalin adotou a mesma solução, da indústria pesada ao metrô de Moscou. Logo os dois também mergulharam de cabeça na produção de armamentos e o desemprego despencou.

Entre nós, até agora, não se tem notícia de iniciativas do Estado através do governo Dilma. Pelo contrário, a política em curso impulsiona o desemprego, em nome do ajuste fiscal. Sequer é estimulado o setor do agronegócio, dos poucos que ainda se mantém funcionando a contento, mas utilizando cada vez menos a mão de obra humana.

Continuando as coisas como vão, breve a legião de desempregados suplantará a força de trabalho ativa.

Fazer o quê? Um programa de obras públicas para valer exigiria a premissa imperativa de se extinguir a corrupção, hoje a praga que nos assola. Apesar de bem sucedidos esforços do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, parece difícil que consigam, a curto prazo, resultados capazes de aparelhar o Estado para o cumprimento de sua obrigação fundamental de combater o desemprego. A ironia está em que a corrupção apoderou-se do Estado – ou da maior parte dele.

Eis um mistério dentro de um enigma, envolto por uma charada: o Estado acabará com o desemprego, mas só depois de extirpar a própria corrupção.

Outra do general George Patton, aqui citado ontem como general brilhante. Comandando o III Exército dos Estados na conquista da Sicília e diante do impasse que imobilizava as tropas do general inglês Bernard Montgomery, Patton descumpriu ordens e lançou-se para o outro lado da ilha, entrando em Palermo e depois em Messina, alvo destinado aos ingleses. Ao receber ordens para não tomar essas duas cidades, já tomadas, passou um telegrama ao general Alexander, comandante em chefe: “Informe por escrito se quer que eu devolva Palermo e Messina aos alemães…”

Quer o governo Dilma que Eduardo Cunha devolva a Câmara ao PT?…

Não quer ajudar, não atrapalha

É sempre a mesma coisa. Primeiro todo o mundo põe um filtro arco-íris no avatar. Depois vem uma onda de gente criticando quem trocou o avatar. Depois vem a onda criticando quem criticou. Em seguida começam a criticar quem criticou os que criticaram. Nesse momento já começaram as ofensas pessoais e já se esqueceu o porquê de ter trocado o avatar, ou trocado o nome para guarani kayowá, ou abraçado qualquer outra causa.

Toda batalha pode ser ridicularizada. Você é contra a homofobia: essa bandeira é fácil, quero ver levantar bandeira contra a transfobia. Você é contra a transfobia: estatisticamente a transfobia afeta muito pouca gente se comparada ao machismo. Você é contra o machismo: mas a mulher está muito mais incluída na sociedade do que os negros. E por aí vai. Você é de esquerda, mas não doa pros pobres? Hipócrita. Ah, você doa pros pobres? Populista. Culpado. Assistencialista.

Cintia Suzuki resumiu bem: "Você coloca um avatar coloridinho, aí não pode porque tem gente passando fome. Aí o governo faz um programa pras pessoas não passarem mais fome, e aí não pode porque é sustentar vagabundo (...). Moral da história: deixa os outros ajudarem quem bem entenderem, já que você não vai ajudar ninguém".

Todo vegetariano diz que a parte difícil de não comer carne não é não comer carne. Chato mesmo é aguentar a reação dos carnívoros: "De onde você tira a proteína? Você tem pena de bicho? Mas de rúcula você não tem pena? E das pessoas que colhem a rúcula, você não tem pena? E dos peruanos que não podem mais comprar quinoa e estão morrendo de fome?"

O estranho é que, independentemente da sua orientação em relação à carne, não há quem não concorde que o vegetarianismo seria melhor para o mundo, seja do ponto de vista dos animais, ou do meio ambiente, ou da saúde, ou de tudo junto. O problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho.

Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha.

A corrupção se tornou finalidade


A corrupção é a finalidade. Não pode ser tratada como se fosse um penduricalho em operações com contratos públicos ou privados. Enquanto isso não for percebido pela sociedade, inquéritos não vão esclarecer toda a extensão da enfermidade. Basta que o delito se torne mais discreto para sair da mira da opinião pública, até surgir uns tantos anos depois com mais força.

"Malfeitos" não são de hoje, como lembram os defensores do governo. Mas há uma tendência ao crescimento dos percentuais que é reveladora de que o parasita se tornou dominante.

O exemplo recente mais claro dessa precedência do desvio sobre a norma é a coincidência entre os números de dois investimentos da Petrobrás nos Estados Unidos, a compra da refinaria de Pasadena, e a abortada compra de uma área de produção no Estado de Colorado, tema de reportagem na edição de março da revista "Piauí", chamada "Padrão Petrobrás".

Os dois negócios começam com valores em torno de US$ 40 milhões. Em Pasadena, quando a Petrobras entra na parada, inicia-se uma operação de multiplicação que ao final elevou em 45 vezes o custo pago pela empresa brasileira.

No caso dos poços no Colorado, uma companhia americana pedia pouco mais de US$ 40 milhões por uma área petrolífera. Uma empresa intermediária oferece o negócio à Petrobras por US$ 270 milhões (multiplicação por sete). A negociação avança. Quando analisavam um documento descritivo do negócio que seria levado ao conselho da empresa brasileira, os advogados americanos contratados pela petrolífera brasileira se dão conta de que nesse texto não há referência ao valor original, apenas ao preço maior pedido pelo intermediário. Eles alertam os advogados brasileiros da Petrobras sobre a falta da informação crucial.

A resposta do escritório carioca aos colegas estadunidenses é muito clara: o negócio não seria realizado se não fosse pelo valor maior. Indignados, os americanos denunciaram a irregularidade em correspondência direta para a diretoria da Petrobras, incluindo o então presidente, José Sérgio Gabrielli, e a então diretora e depois presidente Graça Foster. Está tudo documentado em ação na Justiça americana da intermediária contra o vendedor da área petrolífera. E o que aconteceu? O negócio realmente não foi celebrado e nenhum envolvido na operação fraudulenta foi punido.


Esquema semelhante, de produção de oportunidades para a corrupção, pode ser observado nas grandes obras viárias que custam tanto dinheiro em todo o país: se a engenharia de trânsito já provou que elas não evitam os congestionamentos, ao contrário, aumentam-nos, conclui-se que são um fim em si, ou melhor, um meio para privatizar dinheiro público.

Outra realização governamental, tão brasileira quanto a jabuticaba, é a obsessão com as grandes hidrelétricas. Também só faz sentido se a entendermos como parte do sistema de produção da corrupção. Estudos, reconhecidos pelo Tribunal de Contas da União, mostram que o Brasil desperdiça cerca de 30% da energia que produz. As providências para reduzir essa perda custam menos do que construir novas hidrelétricas. Mas não beneficiam as grandes empreiteiras. Não é só mera coincidência portanto que o governo federal desenhe um plano centi-bilionário de construção de hidrelétricas na Amazônia e não avance nada em renovação do parque instalado, redução de consumo ou novas formas de geração de eletricidade.

Enquanto continuarmos a olhar a corrupção como um defeito marginal dos gastos públicos, a sociedade não vai se dar conta de que grandes projetos em verdade são feitos para viabilizar o vício.

A tarefa nacional

Charge O Tempo 12/07Seria preciso combinar o milho com a mandioca, levar ao fogo para cozinhar no caldeirão a receita que salve o barco. No momento, ele navega rumo ao Triângulo das Bermudas. A comandante e seus marujos podem sumir nele. O país é grande demais para isso. O que sei é que esses tempos de incerteza nos atrasam. Não só o que acontece na universidades é desolador. Muitos projetos estão paralisados à espera de uma definição.
Num país em que a presidente desafia a oposição a derrubá-la, quem vai fazer planos para o futuro? Ela mesma nos convida a adiar projetos e esperar o desfecho de seu mandato. Dilma é um manual ambulante da inabilidade política. Sua capacidade de complicar as coisas talvez contribua para uma saída mais rápida. Mas, ainda assim, vivemos num compasso de espera. É o tipo de situação que não pode se prolongar. Sair do buraco em que nos meteram é grande tarefa nacional.

A obra parou o trânsito



Vivemos no Brasil um momento de desânimo, tristeza, apreensão.

Não é para menos. Ao assistir aos noticiários, corre-se o risco de uma indigestão de violência, safadeza e criminalidade. Negatividades pequenas, médias, grandes, de tudo acontece. Parece que vivemos um processo de desmonte, de corrosão da ética, da alma que dá vida às relações humanas. Cada vez mais difíceis e áridas.

Os desvios de recursos públicos ofendem quem trabalha e contribuem para que o cidadão, quando imagina o sacrifício que custou ceder 40% de suas suadas rendas ao Estado, pense em largar para trás este país.

Tem razão de se sentir saqueado. Depara-se com gastos públicos desnecessários e ineficientes, molestado pela burocracia. Corrupção e fraudes. O sistema é um caso típico de bipolaridade. De um lado exigem-se todos os sacrifícios e renúncias, de outro aumentam-se despudoradamente os gastos.

Exatamente o contrário do que se verifica numa família em momento de dificuldades, quando se procura economizar, cortar gastos, realizar as economias possíveis e as impossíveis, adiar despesas, os pais cederem o alimento aos filhos mais fracos. Os membros sabem que a palavra de ordem é cortar e manter solidariedade.

Por parte de quem exerce o poder neste país, não se encontra o sentimento que une a família.

Num pacote de medidas duras e cruéis para a população, especialmente para quem trabalha e empreende, neste ano assistiu-se do outro lado ao aumento de 70% dos subsídios dos legisladores federais, o Congresso aprovou outro aumento disparatado para o Judiciário. O fundo partidário, que inunda o caixa dos partidos, aumentou 280%, quer dizer, mais de R$ 500 milhões para compensar perdas do petrolão a que todos estavam acostumados.

Tarifas elétricas, sobre as quais a demagogia fez crer um desconto em 2014, já passam de 110%, os combustíveis, em 40%, água, transportes públicos etc.

Deu-se assim, como era previsível, uma abrupta queda de atividades econômicas, a maior onda de desemprego das últimas décadas, parada geral de investimentos privados. Ficou complicado sobreviver, até porque nota-se que o sacrifício excessivo imposto a quem trabalha se transformou em queda de arrecadação. A nação está sendo asfixiada inutilmente, os setores econômicos, desestruturados e, o que é pior, amedrontados, desesperançados. A confiança nunca esteve tão baixa. Apenas o agronegócio vive sobre as suas pernas e enxerga razões para manter a esperança acesa.

Falta ao governo explicar o plano de metas que não tem, além de um ajuste ortodoxo realizado por marreteiros que estão demolindo o que tem neste país. As lentes grossas de Joaquim Levy, levando a sério as considerações do George Groddeck, mostram que não tem visão apurada de futuro, não enxerga muito além do nariz. São reflexo da personalidade e das limitações interiores.


Se a demolição é rápida, a reconstrução dura anos.

Qualquer plano deve, assim, considerar os efeitos sociais que desencadeia, assim como uma obra pública não pode prejudicar a vida de milhões de pessoas durante seu prazo de execução. Se, para consertar uma praça, é necessário prever um plano de “convivência” com os transtornos ao trânsito, e minorá-los ao estritamente indispensável, um plano econômico não pode arrasar a estrutura econômica do país ou tirar-lhe o oxigênio indispensável.

A queda de arrecadação comprova que os aumentos de impostos saíram pela culatra. Que a dose administrada foi excessiva e que o paciente deixou a estabilidade de seus sinais vitais para cair numa acentuada complicação e em depressão.

A situação anda de rédeas soltas ladeira abaixo, e o cocheiro acreditando que um surto de progresso mundial venha a socorrer a estagflação, que algum santo se lembre do Brasil.

A recuperação das atividades econômicas não se dá por acaso, precisa de planos, de disciplina e de ação. Quando seria mais fácil, com um pingo de austeridade, evitar o esgarçamento das contas públicas, nada se fez; agora se faz demais. A dosagem sempre parece errada.

A crise vem se aprofundando e poderá ficar incontrolável.

Dilma, mais que com os movimentos do Congresso Nacional, deve-se preocupar com a população, que sofre sob as lâminas de Joaquim Levy.

'Se', de Kipling, para o governo Dilma

Nesta semana tensa e difícil, VEJA dedica à presidente Dilma Rousseff esta tradução livre do famoso poema inspiracional Se, do inglês Rudyard Kipling
 

Se a senhora for capaz de mudar de ideia quando
todo mundo ao seu redor é cabeça-dura e a culpa.
Se mantiver a autoconfiança mesmo errando,
mas der a devida atenção também a quem discorda.
Se responder com fatos a quem, para a senhora, mente
e, sentindo-se odiada, evitar a reação exagerada,
e, mesmo assim, não se mostrar acima do bem e do mal.

Se não se deixar escravizar pelos sonhos da juventude
ou não rejeitar, apenas porque não são suas, as boas ideias.
Se tratar a popularidade e o abismo da impopularidade
como impostores igualmente dedicados a iludir a plateia.
Se conseguir entender que caiu nas próprias armadilhas
e que esse seu tormento é fruto do ego, seu inimigo,
ou se, vendo as suas convicções do passado superadas,
reconstruir novas sem resquícios do credo antigo.

Se for capaz de ver seu conjunto de vitórias e reuni-lo
em um vaso que, mesmo quebrado, preserve as flores,
e, assim, possa começar de novo apenas com valores,
e fazê-lo resignada e sem medo de perder o estilo.
Se for capaz de forçar seu coração, nervos e tendões
a servir sua vontade de salvar seu governo, mesmo
quando tentam o contrário Mercadante, Rossetto e falcões.

Se for capaz de conversar com Stediles e não esmorecer
e com sacerdotes de seitas econômicas sem emburrecer.
Se nem Lula nem Cunha puderem feri-la profundamente.
Se todos os brasileiros pobres dependerem da senhora,
mas poucos em troca de votos e nenhum totalmente.

Se entender que a salvação não virá dos que vivem
de repasses e contracheques do Leviatã obeso,
mas dos brasileiros que trabalham e investem
e, assim, carregam do Estado e da burocracia o peso.

Se usar a passagem implacável do tempo de modo
que consiga fazer o Brasil voltar à normalidade e progredir,
da senhora de novo será o poder que recebeu da urna,
mas que, por ideologia e maus conselhiros, teve de dividir,
e - ainda melhor - na história não deixará lacuna.

Ganhar, perder, votar

Aguentar as trevas tem sido difícil. Neste tempo de pouca luz e muito calor, qualquer raiozinho de luz ajudaria. A gente fica torcendo para aparecer uma luz no fim deste túnel que já parece interminável. Mesmo que seja um trem. Pelo menos mudaria algo.

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Mas, da mesma maneira que soluções mão brotam espontaneamente, grandes problemas são construídos com tempo e método. Desastres não acontecem de repente. Normalmente são apenas consequências visíveis da persistência na direção errada.

No nosso caso, em retrospecto, o governo pareceu buscar o desfecho ruim com a determinação de quem saber o que quer. Ou melhor, coma determinação daqueles que ignoram que o amanha sempre chega.

Talvez tenha começado com um problema de atitude, de modo de pensar. Quando tudo estava o nosso favor, o governo provou que não sabe ganhar. Vamos combinar que era desnecessário fazer criticas a crise pela qual passavam os países desenvolvidos.

O mundo talvez dispensasse (para alivio dos incautos ouvidos estrangeiros) nossos conselhos e formulas sobre como administrar economia. Não soubemos ser irônicos. Faltou elegância. Sobrou galhofa. Provamos que não sabemos ganhar.

Quando as coisas apertaram, o governo poderia aprender com os erros. Olhar para o passado. Criticar as próprias atitudes. Rever os conceitos. Repensar. Refazer. Mas não nada disso.

Foi incapaz de encontrar no espelho o rosto do culpado. O reflexo somente revelou vitimas. Preferiu a saída simples. Flexionou o dedo. Apontou para os outros. E achou os culpados pela nossa decadência. Criamos um paradoxo. Um país em que o governo sempre faz tudo certo, mas onde as circunstancia criam e garantes resultado o negativo (e quase garantido). Autocritica, somente se for a favor. A gente também não sabe perder.

Em relação cerimoniosa, e ao mesmo tempo esquizofrênica com a realidade, os problemas são ignorados. E, como não se enxerga o problema, procurar a solução se torna dispensável.

O diabo é que o governo não errou sozinho. Foi eleito. Por isso, embora governos e eleitores sejam entidades diferentes, em uma democracia, os eleitores são os fiadores da qualidade dos governantes. Os eleitores são sempre, em ultima analise, responsáveis pelos eleitos.

A gente não sabe ganhar. A gente não sabe perder. Mas talvez possa aprender a votar.

Aval de Brahma

Dentro do PT muita gente acha que a melhor saída para o próprio partido seria a renúncia de Dilma. Aí, o vice assumiria e o PT construiria o seu caminho dentro ou até fora do governo. Essa posição poderia até acalmar o Brasil hoje; se tiver o aval do Lula, naturalmente
Cristovam Buarque

Um dos problemas nacionais é a falta de vergonha

É ingenuidade – e até burrice – esperar comportamento ético de quem não tem ética. Um dos nossos mais graves problemas é que as pessoas perderam a vergonha. É um erro pretender julgar os outros por si; por esse motivo é que os ingênuos e honestos acabam sempre caindo nas mãos dos bandidos!

Tenho um amigo funcionário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios que sentia vergonha todas as vezes que ia e voltava do trabalho. Por ser ele o único funcionário do Tribunal que morava em umas das cidades da periferia de Brasília, sempre era o único passageiro do ônibus funcional. Contava ele que ficava “sem ter onde enfiar a cara” ao ver homens, mulheres e crianças espremidos em ônibus lotados ao lado do dele, feito animais, enquanto o ônibus onde ele estava, com mais de quarenta assentos desocupados, seguia apenas como ele e o motorista!

Mesmo ele tendo conseguido aquele emprego com muito estudo e esforço, se sentia desconfortável pela cruel realidade dos outros! Como até olhar para os lados era constrangedor, fingia ler alguma coisa durante o percurso…

E para não dizerem que não toquei no assunto da falta de segurança em Brasília, capital do país da mandioca, mas que deveria ser chamado de país do fumo, em homenagem aos habitantes, segue esta notícia que fala por si:

Um homem suspeito de furto a residências em Brasília foi preso pela 36ª vez, pelo mesmo motivo, segundo a polícia. Mesmo sendo preso em flagrante, ainda é chamado, carinhosamente, de “suspeito” para não despertar a ira dos defensores dos direitos humanos que estão infiltrados no Palácio do Planalto, no Ministério da Justiça, no Congresso Nacional e no Ministério Público. E logo estará solto.

Ou muda ou será mudada


Diante das fortificações da Linha Siegfried, sucedâneo do lado alemão da francesa Linha Maginot, o general George Patton, dos maiores comandantes americanos, chamou as duas de grandes monumentos à estupidez humana. Em dois dias havia ultrapassado a resistência estática dos nazistas, como estes, quatro anos antes, haviam superado a tida como inexpugnável muralha da França.

A conclusão é de que tanto na guerra como na paz, a solução é o movimento. Madame acaba de declarar, na Rússia, que terminará seu mandato. Irá até o fim. Pode ser, mas, para isso, precisa fazer mais do que viajar às estepes. Para ela, o imperativo de sobrevivência está acima e além de andar de avião: significa a necessidade de mudar o governo. Trocar a maioria dos ministros nomeados pelos partidos por razões fisiológicas e escolher os melhores em cada setor, independente de filiações partidárias. Agitar a administração, a política e a economia com pessoas e ideias novas.

Ministros atuais existem que só entraram no gabinete presidencial no dia da posse. Auxiliares com os quais ela não despacha nem quer despachar, abandonados que estão pela falta de estímulos e diretrizes. Melhor livrar-se deles, não abrindo exceções sequer para o chamado grupo palaciano.

Madame é teimosa, age como se tivessem sido escolhas dela as nomeações para a equipe de governo. Não foram, na maior parte, senão imposição de acertos partidários para a conquista de maioria no Congresso, que de resto não conquistou. Soma-se às derrotas colhidas nas últimas semanas a ausência de respeito do Legislativo para com o Executivo. A lição sobre a inoperância das Linhas Maginot e Siegfried não deixa dúvidas.

O processo político aproxima-se daquela etapa onde a presidente Dilma muda ou será mudada. Mais grave do que sua popularidade em queda livre é a falta de disposição para mudanças, que começariam pelo ministério, com a anterior elaboração de um plano diretor para o seu governo. O assistencialismo esgotou-se. É preciso quebrar estruturas e ampliar horizontes. Não bastam, sequer, os anteriores conselhos do Lula, que parece haver interrompido o fluxo de colaboração com a sucessora. Não adianta, apesar dele ter estimulado o festival de imposições partidárias.

Em suma, torna-se imprescindível uma olímpica chacoalhada no governo, de preferência antes que cheguem ao ponto de ebulição suas relações com o Congresso, o Tribunal de Contas da União, o Tribunal Superior Eleitoral e a torcida do Flamengo.