quarta-feira, 21 de maio de 2025
O que importa ao Estado
Nascemos sujeitos. Desde o momento de nosso nascimento somos sujeitos. Uma marca dessa sujeição é a certidão de nascimento. O Estado aperfeiçoado detém e mantém o monopólio de certificar o nascimento. Ou você recebe (e leva consigo) uma certidão do Estado, adquirindo assim uma identidade que no curso da vida permite que o Estado o identifique e localize (vá em seu encalço), ou você segue em frente sem uma identidade e se condena a viver fora do Estado como um animal (animais não têm documentos de identificação).
Não apenas lhe é vedado entrar no Estado sem identificação: aos olhos do Estado, você não morre enquanto não tiver uma certidão de óbito; e a certidão de óbito só lhe pode ser dada por um funcionário que possua ele (ela) próprio (a) uma certidão do Estado. O Estado procede com extremo rigor na certificação da morte - veja-se o envio de uma horda de cientistas forenses e burocratas para esquadrinhar, fotografar, cutucar e espetar a montanha de corpos humanos deixada pelo grande tsunami de dezembro de 2004 a fim de determinar suas identidades. Não se poupam despesas para garantir que o censo de sujeitos esteja completo e acurado.
Se o cidadão vive ou morre não é preocupação do Estado. O que importa para o Estado e seus registros é se o cidadão está vivo ou morto.
J. M. Coetzee, "Diário de um ano ruim"
Não apenas lhe é vedado entrar no Estado sem identificação: aos olhos do Estado, você não morre enquanto não tiver uma certidão de óbito; e a certidão de óbito só lhe pode ser dada por um funcionário que possua ele (ela) próprio (a) uma certidão do Estado. O Estado procede com extremo rigor na certificação da morte - veja-se o envio de uma horda de cientistas forenses e burocratas para esquadrinhar, fotografar, cutucar e espetar a montanha de corpos humanos deixada pelo grande tsunami de dezembro de 2004 a fim de determinar suas identidades. Não se poupam despesas para garantir que o censo de sujeitos esteja completo e acurado.
Se o cidadão vive ou morre não é preocupação do Estado. O que importa para o Estado e seus registros é se o cidadão está vivo ou morto.
J. M. Coetzee, "Diário de um ano ruim"
Expulsando ‘fascistas’ do campus
A imagem das universidades públicas brasileiras talvez nunca tenha sido tão ruim. É crescente o número de pessoas convencidas de que se trata de um desperdício de recursos, já que essas instituições estariam mais empenhadas em formar militantes radicais de esquerda —e não os profissionais de que o país precisa—, além de oferecerem a estudantes privilegiados um parquinho privado e caríssimo para o desfrute narcisista, entre pares, de sua ideologia.
Em vez de entregar formação de alto nível, ciência e inovação, as universidades seriam parte da linha de produção da elite identitária. E, longe de espaços de liberdade intelectual, teriam se tornado ambientes intolerantes ao pluralismo de ideias e clubes privados dos progressistas, desconectados da população que os sustenta.
Não deveria ser necessário dizer isso, mas, nestes tempos em que a raiva política precede a leitura do texto, é preciso esclarecer: trata-se da percepção pública. Sei que as universidades públicas são muito melhores do que a imagem que delas fazem seus detratores. Acontece que, na hora da decisão parlamentar sobre os enormes orçamentos das universidades, ou quando se discute, por exemplo, se vale a pena gastar tanto com o ensino superior em vez da educação básica —dado o cobertor curto da fazenda pública—, é essa percepção, não a realidade, que costuma decidir as coisas.
Feito o diagnóstico, surgem os clichês para justificar os fatos. A esquerda tem uma coleção deles, que vai desde o "à direita interessa destruir a universidade pública para manter a dominação da elite" até o "a extrema direita sabe que a universidade é a última resistência contra o fascismo". Mas recusa qualquer explicação sobre a deterioração da imagem das universidades públicas que envolva os próprios progressistas e as consequências de seus atos.
Esses atos, contudo, não são poucos. Não vou comentar o uso da universidade como laboratório de provocação social por parte de vanguardas identitárias, nem os cancelamentos semanais de professores acusados de racismo, misoginia ou transfobia, com ampla repercussão. Tampouco o avanço do lobby trans nas universidades, que, a golpes de acusações de transfobia, vem aprovando, de forma atropelada, cotas para pessoas trans em todos os níveis. Sobre isso, gostaria muito de entender como a esquerda pretende explicar aos eleitores, no ano que vem, que "pessoas não binárias" são vítimas mais merecedoras de políticas compensatórias do que, por exemplo, adolescentes mães solteiras ou filhos de pais analfabetos.
Tudo isso tem um impacto tremendo sobre o que se pensa das universidades públicas, mas hoje quero chamar atenção para outro fenômeno: a violência contra "intrusos" de direita. Na semana passada, foi na Universidade Federal Fluminense; na anterior, na Universidade Federal de Minas Gerais. Toda semana há um novo episódio.
O roteiro é conhecido. Provocadores de direita, cientes da imagem que as universidades têm, visitam determinados campi para demonstrar que são ambientes de uma só ideologia, usados como propriedade ideológica privada pelos progressistas e, além de tudo, intolerantes e violentos. E, invariavelmente, provam-no. Filmam pichações, banheiros degradados e registram o uso político "monoideológico" do espaço público. Por fim, são expulsos por turbas de estudantes de esquerda, à base de tapas, ameaças, pauladas e berros de "recua, fascista, recua!". Tudo isso transmitido ao vivo em canais digitais.
O provocador obtém, invariavelmente, o que foi buscar: a demonstração de que a esquerda não suporta divergências, de que não há espaço para conservadores na universidade, de que os progressistas são dogmáticos e violentos. Os estudantes de esquerda, também. Afinal, consideram-se guerreiros da justiça que enfrentaram mais uma batalha contra bárbaros fascistas que ousaram entrar em seu território, e acreditam ter defendido a democracia dos intolerantes —mesmo que à base de pauladas e insultos, como deve ser. No dia seguinte, reitorias e conselhos lamentarão, não o fato de que pessoas tenham sido expulsas do campus por razões ideológicas, mas o fato de que "pessoas estranhas à comunidade" tenham ousado conspurcar os nossos templos do saber e da liberdade.
Todos ganham: cada lado confirma a própria superioridade moral e comprova que o outro é intolerante e perigoso. Só quem perde é a universidade pública, claro. Mas quem se importa? Há causas mais urgentes a cumprir —como "destruir o fascismo", para uns, ou "provar que a universidade é um antro de reprodução de militantes com dinheiro público", para outros.
Em vez de entregar formação de alto nível, ciência e inovação, as universidades seriam parte da linha de produção da elite identitária. E, longe de espaços de liberdade intelectual, teriam se tornado ambientes intolerantes ao pluralismo de ideias e clubes privados dos progressistas, desconectados da população que os sustenta.
Não deveria ser necessário dizer isso, mas, nestes tempos em que a raiva política precede a leitura do texto, é preciso esclarecer: trata-se da percepção pública. Sei que as universidades públicas são muito melhores do que a imagem que delas fazem seus detratores. Acontece que, na hora da decisão parlamentar sobre os enormes orçamentos das universidades, ou quando se discute, por exemplo, se vale a pena gastar tanto com o ensino superior em vez da educação básica —dado o cobertor curto da fazenda pública—, é essa percepção, não a realidade, que costuma decidir as coisas.
Feito o diagnóstico, surgem os clichês para justificar os fatos. A esquerda tem uma coleção deles, que vai desde o "à direita interessa destruir a universidade pública para manter a dominação da elite" até o "a extrema direita sabe que a universidade é a última resistência contra o fascismo". Mas recusa qualquer explicação sobre a deterioração da imagem das universidades públicas que envolva os próprios progressistas e as consequências de seus atos.
Esses atos, contudo, não são poucos. Não vou comentar o uso da universidade como laboratório de provocação social por parte de vanguardas identitárias, nem os cancelamentos semanais de professores acusados de racismo, misoginia ou transfobia, com ampla repercussão. Tampouco o avanço do lobby trans nas universidades, que, a golpes de acusações de transfobia, vem aprovando, de forma atropelada, cotas para pessoas trans em todos os níveis. Sobre isso, gostaria muito de entender como a esquerda pretende explicar aos eleitores, no ano que vem, que "pessoas não binárias" são vítimas mais merecedoras de políticas compensatórias do que, por exemplo, adolescentes mães solteiras ou filhos de pais analfabetos.
Tudo isso tem um impacto tremendo sobre o que se pensa das universidades públicas, mas hoje quero chamar atenção para outro fenômeno: a violência contra "intrusos" de direita. Na semana passada, foi na Universidade Federal Fluminense; na anterior, na Universidade Federal de Minas Gerais. Toda semana há um novo episódio.
O roteiro é conhecido. Provocadores de direita, cientes da imagem que as universidades têm, visitam determinados campi para demonstrar que são ambientes de uma só ideologia, usados como propriedade ideológica privada pelos progressistas e, além de tudo, intolerantes e violentos. E, invariavelmente, provam-no. Filmam pichações, banheiros degradados e registram o uso político "monoideológico" do espaço público. Por fim, são expulsos por turbas de estudantes de esquerda, à base de tapas, ameaças, pauladas e berros de "recua, fascista, recua!". Tudo isso transmitido ao vivo em canais digitais.
O provocador obtém, invariavelmente, o que foi buscar: a demonstração de que a esquerda não suporta divergências, de que não há espaço para conservadores na universidade, de que os progressistas são dogmáticos e violentos. Os estudantes de esquerda, também. Afinal, consideram-se guerreiros da justiça que enfrentaram mais uma batalha contra bárbaros fascistas que ousaram entrar em seu território, e acreditam ter defendido a democracia dos intolerantes —mesmo que à base de pauladas e insultos, como deve ser. No dia seguinte, reitorias e conselhos lamentarão, não o fato de que pessoas tenham sido expulsas do campus por razões ideológicas, mas o fato de que "pessoas estranhas à comunidade" tenham ousado conspurcar os nossos templos do saber e da liberdade.
Todos ganham: cada lado confirma a própria superioridade moral e comprova que o outro é intolerante e perigoso. Só quem perde é a universidade pública, claro. Mas quem se importa? Há causas mais urgentes a cumprir —como "destruir o fascismo", para uns, ou "provar que a universidade é um antro de reprodução de militantes com dinheiro público", para outros.
Cerco de Gaza: 'Vou dormir pensando que não vou acordar'
"Estamos vivendo um inferno. A segurança e a vida em Gaza perderam o sentido", disse Alaa Moein à DW da Cidade de Gaza, onde buscou refúgio com a esposa e os três filhos. "Todos os dias penso que vou morrer com meus filhos. Vou para a cama à noite pensando que nunca mais vou acordar", continua a mulher de 35 anos.
Moein e sua família fugiram da cidade de Jabaliya no final da semana passada enquanto mísseis caíam no norte da Faixa de Gaza em meio a uma crescente ofensiva israelense . Os cinco agora estão amontoados em um único quarto com outros parentes. Além da ameaça constante que paira sobre suas vidas, a família de Moein também luta para encontrar algo para comer. "Não temos pão nem comida. Comemos tudo o que encontramos, sem saber se é comestível. Dependemos de ervas e da culinária. Tudo é caro. Usei todas as minhas economias para comprar comida", diz Moein.
A história de Moein, que foi deslocado inúmeras vezes e sofre de fome constante, é comum em toda Gaza, lar de cerca de 2,1 milhões de pessoas e devastada pela guerra. O agricultor Naim Shafi'i e sua família mais uma vez tiveram que fugir de sua casa nos arredores de Beit Lahia, no norte de Gaza. Agora ele vive em uma tenda na Cidade de Gaza, que ele montou na beira da estrada. "Os bombardeios não pararam [no norte], estão em todo lugar", disse o homem de 39 anos à DW por telefone. O Governo de
Israel não permite a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza desde que iniciou sua guerra contra o Hamas em 2023, após ataques contra Israel pela organização, que é considerada uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por outros países. Por isso, a DW muitas vezes precisa falar com os moradores de Gaza por telefone. "Eu tinha um saco de farinha e o levei comigo. Era a coisa mais importante que eu poderia levar quando saímos de Beit Lahia", diz Shafi'i.
Quando Shafi'i retornou a Beit Lahia em janeiro, em meio a um cessar-fogo entre o exército israelense e o Hamas, ele plantou alguns vegetais perto do prédio bombardeado onde eles haviam se refugiado. Agora esse jardim também desapareceu.
"Todos os dias há notícias de um possível cessar-fogo e, na manhã seguinte, tudo o que vemos é bombardeio, destruição e matança. Não sei para onde vamos a partir daqui", diz ele.
O governo israelense anunciou no domingo que começaria a permitir ajuda limitada em Gaza, suspendendo parcialmente um bloqueio humanitário de 11 semanas que deixou uma em cada cinco pessoas no território enfrentando fome.
Israel alegou que o bloqueio faz parte de uma estratégia de "pressão máxima" que visa derrubar o Hamas e forçar o grupo militante palestino a libertar os 58 reféns restantes. Cinco caminhões da ONU transportando ajuda humanitária cruzaram para Gaza na segunda-feira, de acordo com a unidade COGAT do Ministério da Defesa de Israel, que monitora as travessias de Israel para Gaza.
As Nações Unidas disseram que Israel autorizou um total de nove caminhões a cruzar a fronteira para Gaza na segunda-feira (19.05.2025). A agência acrescentou que era muito perigoso permitir que os caminhões continuassem sua jornada para o território tão tarde da noite.
Os nove caminhões são "uma gota no oceano do que é urgentemente necessário", disse o chefe de ajuda da ONU, Tom Fletcher, que pediu que muito mais ajuda seja permitida em Gaza. Notícias de que uma "quantidade básica de comida" seria permitida em Gaza se espalharam por todo o território.
"É bom que algo se saiba, mas até agora não vimos nenhuma mudança", disse Raed al-Athamna à DW da Cidade de Gaza, onde mora com a família.
Alertas de evacuação em massa antes da ofensiva israelense
Enquanto a ajuda é autorizada a chegar, as Forças de Defesa de Israel (IDF) continuam sua ofensiva terrestre. As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram no domingo que tropas terrestres estavam operando em diversas áreas no "norte e sul da Faixa de Gaza" como parte de uma nova ofensiva militar com o codinome "Operação Gideon".
Na semana passada, o exército israelense emitiu alertas significativos de evacuação para algumas áreas de Gaza, incluindo os arredores de Khan Yunis, a segunda maior cidade de Gaza, e Rafah, no sul, bem como vários bairros no norte de Gaza.
Antes do último alerta de evacuação ser emitido para Khan Yunis, mais de dois terços da Faixa de Gaza já estavam sob ordens de deslocamento ou em zonas militarizadas por Israel, de acordo com as Nações Unidas. Autoridades da ONU já descreveram o deslocamento em massa de civis dentro de Gaza como um possível crime de guerra.
O último cerco de Israel a Gaza atraiu duras críticas internacionais . O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al Thani, cujo país tem sido um mediador fundamental entre Israel e o Hamas, disse que "o comportamento irresponsável e agressivo de Israel prejudica qualquer possibilidade de paz".
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, também alertaram em uma declaração conjunta na segunda-feira que "não ficaremos de braços cruzados", ameaçando "tomar mais medidas concretas" se Israel continuasse a bloquear a ajuda.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reagiu na terça-feira dizendo que os três líderes "estão oferecendo um prêmio enorme pelo ataque genocida [do Hamas] contra Israel em 7 de outubro [de 2023] e convidando mais atrocidades desse tipo" ao exigir que Israel encerre seu cerco. "Esta é uma guerra da civilização contra a barbárie . Israel continuará a se defender com meios justos até que a vitória total seja alcançada", disse Netanyahu.
De volta à Cidade de Gaza, Raed Al Athamna e sua família estão entre aqueles que buscam refúgio após fugir de Beit Hanoun, uma cidade perto da fronteira com Israel. Esta é a segunda vez que eles são deslocados; A primeira ocorreu logo após Israel lançar sua guerra contra o Hamas em retaliação aos ataques realizados pelo grupo islâmico radical palestino em Israel em outubro de 2023.
Por enquanto, as noites de Al Athamna consistem em se mover de um canto do apartamento para o outro, em um esforço para se manter segura. "Ouvimos os caças F-16 bombardeando o tempo todo. Às vezes, eles chegam muito perto e o chão treme", explica ele.
"No momento, a pior parte são as noites. Estamos só esperando a manhã seguinte", continua ele, acrescentando que sua família estava exausta por não conseguir dormir. Sua família passa os dias procurando comida e outros suprimentos, esgotando cada grama de sua energia. "Ficamos oito dias sem comer pão", explica ele. "Comemos lentilhas cozidas uma vez [na segunda-feira], mas as crianças sempre me pedem mais comida; elas estão sempre com fome." E ele acrescenta que cada vez mais pessoas estão se aglomerando na cidade, com barracas surgindo por toda parte. "As pessoas não sabem para onde ir."
Moein e sua família fugiram da cidade de Jabaliya no final da semana passada enquanto mísseis caíam no norte da Faixa de Gaza em meio a uma crescente ofensiva israelense . Os cinco agora estão amontoados em um único quarto com outros parentes. Além da ameaça constante que paira sobre suas vidas, a família de Moein também luta para encontrar algo para comer. "Não temos pão nem comida. Comemos tudo o que encontramos, sem saber se é comestível. Dependemos de ervas e da culinária. Tudo é caro. Usei todas as minhas economias para comprar comida", diz Moein.
A história de Moein, que foi deslocado inúmeras vezes e sofre de fome constante, é comum em toda Gaza, lar de cerca de 2,1 milhões de pessoas e devastada pela guerra. O agricultor Naim Shafi'i e sua família mais uma vez tiveram que fugir de sua casa nos arredores de Beit Lahia, no norte de Gaza. Agora ele vive em uma tenda na Cidade de Gaza, que ele montou na beira da estrada. "Os bombardeios não pararam [no norte], estão em todo lugar", disse o homem de 39 anos à DW por telefone. O Governo de
Israel não permite a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza desde que iniciou sua guerra contra o Hamas em 2023, após ataques contra Israel pela organização, que é considerada uma organização terrorista pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por outros países. Por isso, a DW muitas vezes precisa falar com os moradores de Gaza por telefone. "Eu tinha um saco de farinha e o levei comigo. Era a coisa mais importante que eu poderia levar quando saímos de Beit Lahia", diz Shafi'i.
Quando Shafi'i retornou a Beit Lahia em janeiro, em meio a um cessar-fogo entre o exército israelense e o Hamas, ele plantou alguns vegetais perto do prédio bombardeado onde eles haviam se refugiado. Agora esse jardim também desapareceu.
"Todos os dias há notícias de um possível cessar-fogo e, na manhã seguinte, tudo o que vemos é bombardeio, destruição e matança. Não sei para onde vamos a partir daqui", diz ele.
O governo israelense anunciou no domingo que começaria a permitir ajuda limitada em Gaza, suspendendo parcialmente um bloqueio humanitário de 11 semanas que deixou uma em cada cinco pessoas no território enfrentando fome.
Israel alegou que o bloqueio faz parte de uma estratégia de "pressão máxima" que visa derrubar o Hamas e forçar o grupo militante palestino a libertar os 58 reféns restantes. Cinco caminhões da ONU transportando ajuda humanitária cruzaram para Gaza na segunda-feira, de acordo com a unidade COGAT do Ministério da Defesa de Israel, que monitora as travessias de Israel para Gaza.
As Nações Unidas disseram que Israel autorizou um total de nove caminhões a cruzar a fronteira para Gaza na segunda-feira (19.05.2025). A agência acrescentou que era muito perigoso permitir que os caminhões continuassem sua jornada para o território tão tarde da noite.
Os nove caminhões são "uma gota no oceano do que é urgentemente necessário", disse o chefe de ajuda da ONU, Tom Fletcher, que pediu que muito mais ajuda seja permitida em Gaza. Notícias de que uma "quantidade básica de comida" seria permitida em Gaza se espalharam por todo o território.
"É bom que algo se saiba, mas até agora não vimos nenhuma mudança", disse Raed al-Athamna à DW da Cidade de Gaza, onde mora com a família.
Alertas de evacuação em massa antes da ofensiva israelense
Enquanto a ajuda é autorizada a chegar, as Forças de Defesa de Israel (IDF) continuam sua ofensiva terrestre. As Forças de Defesa de Israel (IDF) anunciaram no domingo que tropas terrestres estavam operando em diversas áreas no "norte e sul da Faixa de Gaza" como parte de uma nova ofensiva militar com o codinome "Operação Gideon".
Na semana passada, o exército israelense emitiu alertas significativos de evacuação para algumas áreas de Gaza, incluindo os arredores de Khan Yunis, a segunda maior cidade de Gaza, e Rafah, no sul, bem como vários bairros no norte de Gaza.
Antes do último alerta de evacuação ser emitido para Khan Yunis, mais de dois terços da Faixa de Gaza já estavam sob ordens de deslocamento ou em zonas militarizadas por Israel, de acordo com as Nações Unidas. Autoridades da ONU já descreveram o deslocamento em massa de civis dentro de Gaza como um possível crime de guerra.
O último cerco de Israel a Gaza atraiu duras críticas internacionais . O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al Thani, cujo país tem sido um mediador fundamental entre Israel e o Hamas, disse que "o comportamento irresponsável e agressivo de Israel prejudica qualquer possibilidade de paz".
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, também alertaram em uma declaração conjunta na segunda-feira que "não ficaremos de braços cruzados", ameaçando "tomar mais medidas concretas" se Israel continuasse a bloquear a ajuda.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reagiu na terça-feira dizendo que os três líderes "estão oferecendo um prêmio enorme pelo ataque genocida [do Hamas] contra Israel em 7 de outubro [de 2023] e convidando mais atrocidades desse tipo" ao exigir que Israel encerre seu cerco. "Esta é uma guerra da civilização contra a barbárie . Israel continuará a se defender com meios justos até que a vitória total seja alcançada", disse Netanyahu.
De volta à Cidade de Gaza, Raed Al Athamna e sua família estão entre aqueles que buscam refúgio após fugir de Beit Hanoun, uma cidade perto da fronteira com Israel. Esta é a segunda vez que eles são deslocados; A primeira ocorreu logo após Israel lançar sua guerra contra o Hamas em retaliação aos ataques realizados pelo grupo islâmico radical palestino em Israel em outubro de 2023.
Por enquanto, as noites de Al Athamna consistem em se mover de um canto do apartamento para o outro, em um esforço para se manter segura. "Ouvimos os caças F-16 bombardeando o tempo todo. Às vezes, eles chegam muito perto e o chão treme", explica ele.
"No momento, a pior parte são as noites. Estamos só esperando a manhã seguinte", continua ele, acrescentando que sua família estava exausta por não conseguir dormir. Sua família passa os dias procurando comida e outros suprimentos, esgotando cada grama de sua energia. "Ficamos oito dias sem comer pão", explica ele. "Comemos lentilhas cozidas uma vez [na segunda-feira], mas as crianças sempre me pedem mais comida; elas estão sempre com fome." E ele acrescenta que cada vez mais pessoas estão se aglomerando na cidade, com barracas surgindo por toda parte. "As pessoas não sabem para onde ir."
Apoteose da corrupção trumpista
Uma nova era de corrupção começou. Conhecia-se a sua extensão no trumpismo, mas não as dimensões astronômicas e a ausência de limites legais ou morais reveladas em apenas quatro meses, após a desativação dos famosos freios e contrapesos . A primeira presidência foi apenas um ensaio geral. Com a segunda onda, pilhagens, extorsões, propinas e subornos adquiriram alcance e magnitude globais, além do escopo da investigação ou mesmo da compreensão.
Se um marco fosse marcado, seria difícil encontrar um momento tão significativo quanto a viagem de negócios presidencial a três monarquias do Golfo, onde as pessoas mais ricas do mundo se reuniram em palácios enormes e cerimônias gigantescas em torno do destruidor da democracia americana e dos monarcas absolutos que governam seus países como se fossem propriedade privada. Um emblema perfeito dessa corrupção flagrante é o avião de US$ 400 milhões que o presidente dos Estados Unidos receberá como um presente gentil do emir do Catar.
Interesses públicos e privados são inseparáveis para Donald Trump, que se olha no espelho das autocracias árabes e se sente como o pequeno rei dono de um vasto emirado americano. O significado da viagem preparatória que precedeu a sua é eloquente. Os filhos do presidente, Eric e Donald Jr., e Steve Witkoff, o negociador presidencial para tudo (Gaza, Irã e Ucrânia), fecharam acordos enormes com as famílias reais, especialmente em imóveis e criptomoedas. Os Trumps pretendem se posicionar entre os maiores magnatas das criptomoedas por meio da plataforma World Liberty Financial, atraindo investimentos estrangeiros de empresas, indivíduos e fundos soberanos, além de deterem a política regulatória e todos os poderes presidenciais.
Um bom número de decretos presidenciais serve para abrir caminho para tais negócios suspeitos. Merece destaque a suspensão de seis meses da Lei de Práticas Corruptas de 1977, uma lei pioneira na época para processar criminalmente empresas que pagam propinas no exterior. O Departamento de Justiça eliminou forças-tarefa e orçamentos para investigar, processar e apreender bens de oligarcas russos sancionados pela invasão da Ucrânia, combater a influência de agentes estrangeiros e lidar com campanhas de desinformação. Com o desaparecimento da agência de desenvolvimento internacional USAID, os subsídios para jornalismo investigativo e organizações que combatem a corrupção internacional foram cancelados.
A abordagem transacional de Trump dificilmente pode ser separada da corrupção, da extorsão e, por fim, da transição para a cleptocracia. Com dinheiro e poder coercitivo, é fácil forçar as coisas e comprar testamentos. Nenhum acordo é impossível, e qualquer decisão presidencial pode gerar receitas substanciais. Até mesmo o direito ao perdão, que ele exerceu generosamente com seus seguidores condenados pelos tribunais, tornou-se “o Velho Oeste”, nas palavras do conservador The Wall Street Journal , graças ao mercado febril de compra e venda de perdões.
No mundo de Trump, a ética é uma dimensão desconhecida. Não há conflitos de interesse ou incompatibilidades. Elon Musk é o modelo ético. Ele financiou e participou da campanha eleitoral de Trump e, mais tarde, ocupou um cargo único e não remunerado à frente do Departamento de Eficiência Governamental. Dedicado a eliminar agências e demitir dezenas de milhares de funcionários, ele se beneficiou diretamente do desaparecimento de agências e departamentos reguladores que poderiam prejudicar seus negócios. Devido à sua influência, a implementação da Lei de Transparência Corporativa, um elemento-chave no combate ao financiamento do terrorismo e à lavagem de dinheiro, foi suspensa. Essa legislação exigia a identificação dos verdadeiros proprietários das empresas e proibia empresas de fachada. Os diretores da Biblioteca do Congresso e o chefe do Escritório de Direitos Autorais foram removidos, provavelmente a conselho de Musk, que está irritado com as atuais leis de propriedade intelectual que cercam suas empresas de inteligência artificial.
A supervisão legal sobre lavagem de dinheiro, fraude em licitações e corrupção em geral foi destruída ou neutralizada. Esta é a nova ordem internacional trompista. Em vez do líder do mundo livre, um líder corrupto e corruptor está comandando os negócios globais. A cidade brilhante no topo de uma colina que deveria inspirar com seu caráter liberal e democrático exemplar, evocada por Ronald Reagan quatro décadas atrás, agora é a fortaleza corrupta de Mordor, atraindo elogios e agradecimentos de ditadores e oligarcas. Trump deu a eles permissão para se governarem como quiserem e atenderem melhor aos seus interesses comerciais, em troca de compras substanciais de armas e investimentos nos Estados Unidos. O semáforo é verde para crimes de Estado e violações de direitos humanos. O crime global está em festa. Eles tomaram o poder.
Se um marco fosse marcado, seria difícil encontrar um momento tão significativo quanto a viagem de negócios presidencial a três monarquias do Golfo, onde as pessoas mais ricas do mundo se reuniram em palácios enormes e cerimônias gigantescas em torno do destruidor da democracia americana e dos monarcas absolutos que governam seus países como se fossem propriedade privada. Um emblema perfeito dessa corrupção flagrante é o avião de US$ 400 milhões que o presidente dos Estados Unidos receberá como um presente gentil do emir do Catar.
Interesses públicos e privados são inseparáveis para Donald Trump, que se olha no espelho das autocracias árabes e se sente como o pequeno rei dono de um vasto emirado americano. O significado da viagem preparatória que precedeu a sua é eloquente. Os filhos do presidente, Eric e Donald Jr., e Steve Witkoff, o negociador presidencial para tudo (Gaza, Irã e Ucrânia), fecharam acordos enormes com as famílias reais, especialmente em imóveis e criptomoedas. Os Trumps pretendem se posicionar entre os maiores magnatas das criptomoedas por meio da plataforma World Liberty Financial, atraindo investimentos estrangeiros de empresas, indivíduos e fundos soberanos, além de deterem a política regulatória e todos os poderes presidenciais.
Um bom número de decretos presidenciais serve para abrir caminho para tais negócios suspeitos. Merece destaque a suspensão de seis meses da Lei de Práticas Corruptas de 1977, uma lei pioneira na época para processar criminalmente empresas que pagam propinas no exterior. O Departamento de Justiça eliminou forças-tarefa e orçamentos para investigar, processar e apreender bens de oligarcas russos sancionados pela invasão da Ucrânia, combater a influência de agentes estrangeiros e lidar com campanhas de desinformação. Com o desaparecimento da agência de desenvolvimento internacional USAID, os subsídios para jornalismo investigativo e organizações que combatem a corrupção internacional foram cancelados.
A abordagem transacional de Trump dificilmente pode ser separada da corrupção, da extorsão e, por fim, da transição para a cleptocracia. Com dinheiro e poder coercitivo, é fácil forçar as coisas e comprar testamentos. Nenhum acordo é impossível, e qualquer decisão presidencial pode gerar receitas substanciais. Até mesmo o direito ao perdão, que ele exerceu generosamente com seus seguidores condenados pelos tribunais, tornou-se “o Velho Oeste”, nas palavras do conservador The Wall Street Journal , graças ao mercado febril de compra e venda de perdões.
No mundo de Trump, a ética é uma dimensão desconhecida. Não há conflitos de interesse ou incompatibilidades. Elon Musk é o modelo ético. Ele financiou e participou da campanha eleitoral de Trump e, mais tarde, ocupou um cargo único e não remunerado à frente do Departamento de Eficiência Governamental. Dedicado a eliminar agências e demitir dezenas de milhares de funcionários, ele se beneficiou diretamente do desaparecimento de agências e departamentos reguladores que poderiam prejudicar seus negócios. Devido à sua influência, a implementação da Lei de Transparência Corporativa, um elemento-chave no combate ao financiamento do terrorismo e à lavagem de dinheiro, foi suspensa. Essa legislação exigia a identificação dos verdadeiros proprietários das empresas e proibia empresas de fachada. Os diretores da Biblioteca do Congresso e o chefe do Escritório de Direitos Autorais foram removidos, provavelmente a conselho de Musk, que está irritado com as atuais leis de propriedade intelectual que cercam suas empresas de inteligência artificial.
A supervisão legal sobre lavagem de dinheiro, fraude em licitações e corrupção em geral foi destruída ou neutralizada. Esta é a nova ordem internacional trompista. Em vez do líder do mundo livre, um líder corrupto e corruptor está comandando os negócios globais. A cidade brilhante no topo de uma colina que deveria inspirar com seu caráter liberal e democrático exemplar, evocada por Ronald Reagan quatro décadas atrás, agora é a fortaleza corrupta de Mordor, atraindo elogios e agradecimentos de ditadores e oligarcas. Trump deu a eles permissão para se governarem como quiserem e atenderem melhor aos seus interesses comerciais, em troca de compras substanciais de armas e investimentos nos Estados Unidos. O semáforo é verde para crimes de Estado e violações de direitos humanos. O crime global está em festa. Eles tomaram o poder.
Ninguém ganha com um planeta destruído
Tive o prazer de conhecer a diplomata costa-riquenha Christiana Figueres há alguns anos, em Londres. Completamente intimidada pela força daquela mulher — que liderou as negociações do Acordo de Paris, em 2015 —, não me atrevi a me aproximar. Fiquei feliz apenas em ouvi-la e observá-la cercada por pessoas do mundo inteiro, ávidas por uma palavra sua.
Quase uma década depois do Acordo de Paris, Christiana permanece otimista, apesar do ritmo lento no cumprimento das metas climáticas. Para ela, o otimismo não é ingenuidade — é uma escolha consciente, bem informada, baseada no reconhecimento dos enormes desafios. Foi o que afirmou em uma recente entrevista ao site Fair Planet. Entre suas maiores decepções está o comportamento da indústria dos combustíveis fósseis e seus lucros exorbitantes ao longo do tempo. Ainda assim, ela vê sinais positivos: a demanda por esses combustíveis está em queda, o que considera uma boa notícia.
No campo da ação climática, sabe-se que já temos a tecnologia, o capital e o conhecimento científico necessários para reduzir pela metade as emissões até 2030. Falta agora transformar possibilidade em ação.
Em sua newsletter publicada no fim de 2024, no site do grupo Global Optimism, Christiana compartilhou a emoção de se tornar avó, justamente enquanto se preparava para a COP29, em Baku. Era um misto de alegria e apreensão diante do mundo que esse novo ser encontraria. Ao ler suas palavras, lembrei-me de um evento aqui em Brasília em que a jornalista Sônia Bridi — uma das grandes vozes do jornalismo ambiental brasileiro — falava, também emocionada, sobre as incertezas deste mundo volátil. E sobre o futuro de seus netos.
Quase uma década depois do Acordo de Paris, Christiana permanece otimista, apesar do ritmo lento no cumprimento das metas climáticas. Para ela, o otimismo não é ingenuidade — é uma escolha consciente, bem informada, baseada no reconhecimento dos enormes desafios. Foi o que afirmou em uma recente entrevista ao site Fair Planet. Entre suas maiores decepções está o comportamento da indústria dos combustíveis fósseis e seus lucros exorbitantes ao longo do tempo. Ainda assim, ela vê sinais positivos: a demanda por esses combustíveis está em queda, o que considera uma boa notícia.
No campo da ação climática, sabe-se que já temos a tecnologia, o capital e o conhecimento científico necessários para reduzir pela metade as emissões até 2030. Falta agora transformar possibilidade em ação.
Em sua newsletter publicada no fim de 2024, no site do grupo Global Optimism, Christiana compartilhou a emoção de se tornar avó, justamente enquanto se preparava para a COP29, em Baku. Era um misto de alegria e apreensão diante do mundo que esse novo ser encontraria. Ao ler suas palavras, lembrei-me de um evento aqui em Brasília em que a jornalista Sônia Bridi — uma das grandes vozes do jornalismo ambiental brasileiro — falava, também emocionada, sobre as incertezas deste mundo volátil. E sobre o futuro de seus netos.
Já são quase 30 anos de negociações climáticas — e, embora os avanços tenham sido muitos, ainda há um longo caminho. Além das metas do Acordo de Paris, os países agora concordaram em eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, encerrar subsídios ineficientes, deter o desmatamento até 2030, operacionalizar o mercado global de carbono e, em sua maioria, aderiram ao Global Methane Pledge.
Governos, organizações e líderes de todo o mundo agora se preparam para a COP30, em Belém. A expectativa de vozes como a de Christiana Figueres é que o encontro seja menos sobre negociações e mais sobre ação. Que traga soluções concretas, com foco em financiamento sustentável, tecnologia e equidade.
Sobre isso, Christiana é clara: a COP precisa reconhecer que a atual degradação da natureza — com a escassez de água doce e a poluição dos oceanos — afeta diretamente a vida de comunidades no mundo inteiro.
Entre as muitas frases marcantes que ouvi dela, uma segue ecoando dentro de mim: “Ninguém ganha com um planeta destruído.”
Governos, organizações e líderes de todo o mundo agora se preparam para a COP30, em Belém. A expectativa de vozes como a de Christiana Figueres é que o encontro seja menos sobre negociações e mais sobre ação. Que traga soluções concretas, com foco em financiamento sustentável, tecnologia e equidade.
Sobre isso, Christiana é clara: a COP precisa reconhecer que a atual degradação da natureza — com a escassez de água doce e a poluição dos oceanos — afeta diretamente a vida de comunidades no mundo inteiro.
Entre as muitas frases marcantes que ouvi dela, uma segue ecoando dentro de mim: “Ninguém ganha com um planeta destruído.”
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