terça-feira, 19 de julho de 2016
O 'suicídio' da América
A realidade está mais louca do que a ficção. Assim sendo, a ficção tem de ser muito mais louca do que a realidade. A destruição ambiental, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil.
Essa anomalia da vida atual aumenta a tradicional paranoia ocidental, principalmente nos Estados Unidos. E aí surge um estranho fenômeno que tento entender: a vontade de salvar o país e um desejo simultâneo de destruí-lo. A América parece querer suicidar-se. Por exemplo, a possibilidade de Trump ser presidente já é um filme de horror. Se esse rato for eleito, aí, sim, o mundo pode acabar.
Também na cultura norte-americana, são impressionantes os filmes de ação e catástrofe que destroem o país ou o mundo, produzidos por Hollywood. É estranho; imaginem o cinema francês destruindo Paris sem parar, invadido por alienígenas (aliás, como os terroristas), ou o cinema brasileiro arrebentando o Pão de Açúcar e o Corcovado! Eles acham isso normal. E lucrativo. Vejam os filmes dos últimos anos: “Independence Day”, “Godzilla”, “Armagedon” , “Terremoto – A Falha de San Andreas”, “2012”, “Impacto Profundo” e tantos outros.
Por que esse amor e ódio? Creio que vem de uma insatisfação da vida norte-americana atual, uma grande angústia nacional. A América não sabe mais o que dizer sobre si mesma. Os Estados Unidos eram a “cultura da certeza”. O paraíso norte-americano era a perfeição do funcionamento. Com o 11 de Setembro, junto com as torres, caíram também a arrogância e o orgulho da eficiência. Será que essa é a causa desse ataque doentio contra si mesmos?
Pensando nessas coisas deprimentes, fui ver o novo “Independence Day”. Não gostei e concordei com críticos que dizem que o filme é tolo. Um deles diz: “assistir a alienígenas explodindo de forma espetacular não é desculpa para passar duas horas no ar-condicionado”.
Tenho visto muitos filmes de ação. Já sou entendido nas missões impossíveis, nas porradas, nas cidades destruídas, nas armas assassinas. Nunca o cinema foi tão útil para esquecermos o mundo atual, e nunca os filmes foram tão brutais para, pelo avesso, exorcizar o medo da morte.
Na sala de cinema, sinto-me dentro de uma máquina de sensações programadas. Não há mais tempo para um filme ser visto, refletido, com choro, risos, vida. No escuro, mergulho em suspense, em prazeres sádicos, em assassinatos explosivos, em vinganças sem fim, narrados como uma ventania, como uma tempestade de “planos” (cenas) curtos, nunca mais longos do que quatro segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas plagiando Ravel para cenas românticas ou Stravinsky para violências e guerras.
O conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos. Não podemos desgrudar os olhos da tela. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças.
Os filmes comerciais antigos apelavam para a comoção das plateias, estórias em que o “bem” era recompensado, onde o amor movia personagens, chorávamos ou ríamos desde o Gordo e o Magro até Hitchcock. Logo depois da Guerra Fria, os filmes mostravam uma América em “frenética lua de mel” consigo mesma. Obras-primas como “Cantando na Chuva” foram feitas apenas por razões comerciais. Os musicais da Metro eram a felicidade democrática.
Hoje, passamos por emoções que nos exaurem como se fôssemos personagens dentro daqueles mundos em 3D, de pedras e balas que voam e nos fazem em pedaços espalhados pela sala, junto com os copos de Coca-Cola e sacos de pipocas. Somos pipocas nesses filmes. É uma nova dramaturgia de Hollywood: a estética do videogame, na qual a personagem principal não é mais o “outro”, mas nós mesmos, com o joystick na mão e nenhuma ideia na cabeça.
Os roteiros são feitos em computador, de modo a encher cada buraco, para que nada se infiltre na atenção absoluta. E mais importantes que as personagens são as “coisas” em volta. Sim, as coisas. Personagem é só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um grande showroom dos produtos norte-americanos: maravilhosos aviões, supercomputadores, a genialidade técnica lutando por algum “bem” inexplicável , porque a ideia de “futuro” esmaeceu. Assim, não importam mais nem o enredo, nem o roteiro; só o gozo da cena.
Antigamente, sofríamos durante a trama, esperando que os heróis fossem felizes no final. Hoje, sabemos que tudo vai acabar bem, mas nos fascinam mais os infernos que eles terão de atravessar, para chegar a um desfecho fatalmente bom. A catarse chegará, mas antes temos amputações, bazucas estourando peitos, bombas, rios de sangue. Na vida norte-americana, como nos filmes, perdeu-se a ideia de sentido. O happy end é coisa dos anos 40.
No entanto, acho novidades nisso tudo. Num mundo sem rumo, na América dividida, a tecnologia está criando uma nova estética. Acabou a linearidade narrativa e, com a visão de mundo desencantada, em meio á avalanche brutal de informações, está surgindo uma nova forma de profundidade “superficial”.
Uma espantosa nova linguagem não linear, polissêmica, surgiu e cresce como um “transformer” nas telas do mundo. Parece até uma vanguarda tecnológica emergindo entre os efeitos especiais cada vez mais audaciosos. Talvez, daqui para a frente, só essa língua dê conta de nossa solidão, de nossa fome de ilusão.
Agora, mesmo falando essas coisas, confesso que adoro os filmes da Marvel. Já vi alguns “blockbusters” de extraordinária imaginação “wagneriana”. “Avatar”, por exemplo, “Batman”, ou a obra-prima “Thor”, já fazem parte de uma nova “escola” estética.. Não falo de “nova arte” ou uma nova cultura, pois isso já denotaria a ideia de “finalidade”, de meta a ser atingida. Falo de um caos maravilhoso que nos submerja para sempre num “presente” inexplicável.
Essa anomalia da vida atual aumenta a tradicional paranoia ocidental, principalmente nos Estados Unidos. E aí surge um estranho fenômeno que tento entender: a vontade de salvar o país e um desejo simultâneo de destruí-lo. A América parece querer suicidar-se. Por exemplo, a possibilidade de Trump ser presidente já é um filme de horror. Se esse rato for eleito, aí, sim, o mundo pode acabar.
Também na cultura norte-americana, são impressionantes os filmes de ação e catástrofe que destroem o país ou o mundo, produzidos por Hollywood. É estranho; imaginem o cinema francês destruindo Paris sem parar, invadido por alienígenas (aliás, como os terroristas), ou o cinema brasileiro arrebentando o Pão de Açúcar e o Corcovado! Eles acham isso normal. E lucrativo. Vejam os filmes dos últimos anos: “Independence Day”, “Godzilla”, “Armagedon” , “Terremoto – A Falha de San Andreas”, “2012”, “Impacto Profundo” e tantos outros.
Por que esse amor e ódio? Creio que vem de uma insatisfação da vida norte-americana atual, uma grande angústia nacional. A América não sabe mais o que dizer sobre si mesma. Os Estados Unidos eram a “cultura da certeza”. O paraíso norte-americano era a perfeição do funcionamento. Com o 11 de Setembro, junto com as torres, caíram também a arrogância e o orgulho da eficiência. Será que essa é a causa desse ataque doentio contra si mesmos?
Tenho visto muitos filmes de ação. Já sou entendido nas missões impossíveis, nas porradas, nas cidades destruídas, nas armas assassinas. Nunca o cinema foi tão útil para esquecermos o mundo atual, e nunca os filmes foram tão brutais para, pelo avesso, exorcizar o medo da morte.
Na sala de cinema, sinto-me dentro de uma máquina de sensações programadas. Não há mais tempo para um filme ser visto, refletido, com choro, risos, vida. No escuro, mergulho em suspense, em prazeres sádicos, em assassinatos explosivos, em vinganças sem fim, narrados como uma ventania, como uma tempestade de “planos” (cenas) curtos, nunca mais longos do que quatro segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas plagiando Ravel para cenas românticas ou Stravinsky para violências e guerras.
O conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos. Não podemos desgrudar os olhos da tela. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças.
Os filmes comerciais antigos apelavam para a comoção das plateias, estórias em que o “bem” era recompensado, onde o amor movia personagens, chorávamos ou ríamos desde o Gordo e o Magro até Hitchcock. Logo depois da Guerra Fria, os filmes mostravam uma América em “frenética lua de mel” consigo mesma. Obras-primas como “Cantando na Chuva” foram feitas apenas por razões comerciais. Os musicais da Metro eram a felicidade democrática.
Hoje, passamos por emoções que nos exaurem como se fôssemos personagens dentro daqueles mundos em 3D, de pedras e balas que voam e nos fazem em pedaços espalhados pela sala, junto com os copos de Coca-Cola e sacos de pipocas. Somos pipocas nesses filmes. É uma nova dramaturgia de Hollywood: a estética do videogame, na qual a personagem principal não é mais o “outro”, mas nós mesmos, com o joystick na mão e nenhuma ideia na cabeça.
Os roteiros são feitos em computador, de modo a encher cada buraco, para que nada se infiltre na atenção absoluta. E mais importantes que as personagens são as “coisas” em volta. Sim, as coisas. Personagem é só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um grande showroom dos produtos norte-americanos: maravilhosos aviões, supercomputadores, a genialidade técnica lutando por algum “bem” inexplicável , porque a ideia de “futuro” esmaeceu. Assim, não importam mais nem o enredo, nem o roteiro; só o gozo da cena.
Antigamente, sofríamos durante a trama, esperando que os heróis fossem felizes no final. Hoje, sabemos que tudo vai acabar bem, mas nos fascinam mais os infernos que eles terão de atravessar, para chegar a um desfecho fatalmente bom. A catarse chegará, mas antes temos amputações, bazucas estourando peitos, bombas, rios de sangue. Na vida norte-americana, como nos filmes, perdeu-se a ideia de sentido. O happy end é coisa dos anos 40.
No entanto, acho novidades nisso tudo. Num mundo sem rumo, na América dividida, a tecnologia está criando uma nova estética. Acabou a linearidade narrativa e, com a visão de mundo desencantada, em meio á avalanche brutal de informações, está surgindo uma nova forma de profundidade “superficial”.
Uma espantosa nova linguagem não linear, polissêmica, surgiu e cresce como um “transformer” nas telas do mundo. Parece até uma vanguarda tecnológica emergindo entre os efeitos especiais cada vez mais audaciosos. Talvez, daqui para a frente, só essa língua dê conta de nossa solidão, de nossa fome de ilusão.
Agora, mesmo falando essas coisas, confesso que adoro os filmes da Marvel. Já vi alguns “blockbusters” de extraordinária imaginação “wagneriana”. “Avatar”, por exemplo, “Batman”, ou a obra-prima “Thor”, já fazem parte de uma nova “escola” estética.. Não falo de “nova arte” ou uma nova cultura, pois isso já denotaria a ideia de “finalidade”, de meta a ser atingida. Falo de um caos maravilhoso que nos submerja para sempre num “presente” inexplicável.
México aprova novo sistema legal para combater a corrupção
O México iniciou uma nova etapa na luta contra a corrupção. O presidente Enrique Peña Nieto promulgou nesta segunda-feira uma série de leis para combater um problema que custa ao país 10% do PIB. As medidas, aprovadas após uma tempestuosa tramitação parlamentar que chegou a incluir o veto presidencial, abrangem desde a criação de uma procuradoria e um tribunal federal especializados até o aumento de penas e o fortalecimento dos órgãos de auditoria. No topo desse edifício legislativo haverá um comitê coordenador, presidido por um representante da sociedade civil e integrado pelos diretores dos órgãos de combate à corrupção.
Um dos aspectos mais relevantes do chamado sistema nacional anticorrupção radica em que todos os servidores públicos deverão divulgar sua declaração de patrimônio e renda. Os dados relativos à vida privada ou protegidos pela Constituição serão isentos de publicidade.
As sanções também ficam mais rígidas. No caso dos funcionários, o enriquecimento ilícito será punido com penas que podem chegar a 18 anos de prisão. Participa da fiscalização a recém-criada Procuradoria Contra os Crimes de Corrupção. Seu diretor deverá ser eleito de uma lista de três candidatos e aprovado por dois terços do Senado. Além disso, será criado um tribunal federal com jurisdição plena nessas causas e a Auditoria Superior da Federação ganhará novos poderes para efetuar inspeções em tempo real e fiscalizar os recursos centrais destinados a órgãos estatais e municipais. O secretário da Função Pública, sobre quem recai o flanco governamental desse combate, também terá de ser ratificado pelo Senado.
“Em alguns anos recordaremos este dia como o início de uma nova etapa para a democracia e o Estado de Direito. A corrupção é um desafio da maior magnitude, que requer ações da sociedade e das instituições. Estou convencido de que tem solução”, afirmou Peña Nieto.
Ciente de que sua gestão foi alvo de furiosas críticas motivadas pelo caso da Casa Branca (um dos grandes empreiteiros do Governo construiu e vendeu uma mansão à primeira-dama), o presidente aproveitou a ocasião para pedir desculpas públicas. “Em novembro de 2014, a informação difundida sobre a chamada Casa Branca causou grande indignação. Esse assunto me reafirmou que os servidores públicos, além de serem responsáveis por atuar conforme a lei e com total integridade, também somos responsáveis pela percepção que geramos com nossas ações e, nisto, reconheço, que cometi um erro (…). Senti na carne a irritação dos mexicanos. Entendo-a perfeitamente, por isso, com toda humildade, peço-lhes perdão”, afirmou Peña Nieto.
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Um dos aspectos mais relevantes do chamado sistema nacional anticorrupção radica em que todos os servidores públicos deverão divulgar sua declaração de patrimônio e renda. Os dados relativos à vida privada ou protegidos pela Constituição serão isentos de publicidade.
As sanções também ficam mais rígidas. No caso dos funcionários, o enriquecimento ilícito será punido com penas que podem chegar a 18 anos de prisão. Participa da fiscalização a recém-criada Procuradoria Contra os Crimes de Corrupção. Seu diretor deverá ser eleito de uma lista de três candidatos e aprovado por dois terços do Senado. Além disso, será criado um tribunal federal com jurisdição plena nessas causas e a Auditoria Superior da Federação ganhará novos poderes para efetuar inspeções em tempo real e fiscalizar os recursos centrais destinados a órgãos estatais e municipais. O secretário da Função Pública, sobre quem recai o flanco governamental desse combate, também terá de ser ratificado pelo Senado.
“Em alguns anos recordaremos este dia como o início de uma nova etapa para a democracia e o Estado de Direito. A corrupção é um desafio da maior magnitude, que requer ações da sociedade e das instituições. Estou convencido de que tem solução”, afirmou Peña Nieto.
Ciente de que sua gestão foi alvo de furiosas críticas motivadas pelo caso da Casa Branca (um dos grandes empreiteiros do Governo construiu e vendeu uma mansão à primeira-dama), o presidente aproveitou a ocasião para pedir desculpas públicas. “Em novembro de 2014, a informação difundida sobre a chamada Casa Branca causou grande indignação. Esse assunto me reafirmou que os servidores públicos, além de serem responsáveis por atuar conforme a lei e com total integridade, também somos responsáveis pela percepção que geramos com nossas ações e, nisto, reconheço, que cometi um erro (…). Senti na carne a irritação dos mexicanos. Entendo-a perfeitamente, por isso, com toda humildade, peço-lhes perdão”, afirmou Peña Nieto.
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O Brasil é uma igreja
O Brasil é uma igreja.
A Igreja da Maior Presença Universal do Estado, ou IMPUNE.
A IMPUNE é onipresente.
Sacrifica mesmo, sem perdão.
Seus métodos são muito eficientes.
Instituiu cardeais em todas as catedrais (antigamente chamadas de empresas públicas).
Esses cardeais não são fiéis a suas paróquias mas à IMPUNE.
Veja a Nossa Senhora da Petrobras, por exemplo.
Foi crucificada em nome da mãe, do pai, do espirito de porco, amém.
A Igreja da Maior Presença Universal do Estado, ou IMPUNE.
A IMPUNE é onipresente.
Sacrifica mesmo, sem perdão.
Seus métodos são muito eficientes.
Instituiu cardeais em todas as catedrais (antigamente chamadas de empresas públicas).
Esses cardeais não são fiéis a suas paróquias mas à IMPUNE.
Veja a Nossa Senhora da Petrobras, por exemplo.
Foi crucificada em nome da mãe, do pai, do espirito de porco, amém.
Não teve conversa.
Os Correios também estão em crise.
É que a IMPUNE possui direito divino a nada menos do que 25% do resultado da empresa.
E em nome de Nossa Senhora, ano passado foi mais longe.
Como é toda-poderosa, em 2015 tirou 3,8 bilhões a mais.
Ou seja, sacou da catedral Correios mais de 50% do resultado.
Você, ateu, pode perguntar como uma empresa sobrevive sem 50% do resultado?
Para a IMPUNE não importa sobreviver mundanamente.
O que importa é que estamos só de passagem.
A IMPUNE garante que no paraíso seremos atendidos pela Fedex.
Mas não é só nas empresas públicas que a IMPUNE está presente.
Longe disso, está em cada cantinho obscuro da vida de seus fiéis (antigos eleitores).
Espreitando.
Um bom impunista vive de acordo com seus cânones e dogmas.
E é simples.
Nada de rituais complexos.
Tudo que a IMPUNE espera é que você pague seus dízimos em dia.
E para facilitar já embute a doação no preço de tudo.
A IMPUNE é onisciente.
Sabe tudo que você compra.
Conhece o saldo das suas contas, os gastos do seu cartão.
Está sempre pronta para receber suas doações compulsórias.
Se você fizer uma encomenda no exterior, a IMPUNE cobra 100% de dízimo.
Porque a IMPUNE exige de você uma vida frugal.
Está no livro sagrado.
E é para seu bem.
A reserva de mercado garante que você viva com os valores de 20 ou 30 anos atrás.
Nada de modernidade.
Como na maioria das igrejas, os pastores são todos ricos.
Vereadores, deputados, senadores, divulgam a palavra do senhor Presidente.
E enriquecem com os farelos que caem das coletas de dízimos.
A IMPUNE é uma igreja modelo no mundo.
No próximo mês, a IMPUNE vai sediar as Olimpíadas.
Será uma oportunidade única de mostrar ao mundo como é viver no século passado.
Sem saneamento, sem segurança, sem conforto, sem saúde.
Como uma boa igreja, a IMPUNE provará que não nos dá nada, apenas promessas.
A vergonha, quem passa, somos nós, os fiéis pecadores.
E, cabisbaixos, aceitaremos.
Os Correios também estão em crise.
E em nome de Nossa Senhora, ano passado foi mais longe.
Como é toda-poderosa, em 2015 tirou 3,8 bilhões a mais.
Ou seja, sacou da catedral Correios mais de 50% do resultado.
Você, ateu, pode perguntar como uma empresa sobrevive sem 50% do resultado?
Para a IMPUNE não importa sobreviver mundanamente.
O que importa é que estamos só de passagem.
A IMPUNE garante que no paraíso seremos atendidos pela Fedex.
Mas não é só nas empresas públicas que a IMPUNE está presente.
Longe disso, está em cada cantinho obscuro da vida de seus fiéis (antigos eleitores).
Espreitando.
Um bom impunista vive de acordo com seus cânones e dogmas.
E é simples.
Nada de rituais complexos.
Tudo que a IMPUNE espera é que você pague seus dízimos em dia.
E para facilitar já embute a doação no preço de tudo.
A IMPUNE é onisciente.
Sabe tudo que você compra.
Conhece o saldo das suas contas, os gastos do seu cartão.
Está sempre pronta para receber suas doações compulsórias.
Se você fizer uma encomenda no exterior, a IMPUNE cobra 100% de dízimo.
Porque a IMPUNE exige de você uma vida frugal.
Está no livro sagrado.
E é para seu bem.
A reserva de mercado garante que você viva com os valores de 20 ou 30 anos atrás.
Nada de modernidade.
Como na maioria das igrejas, os pastores são todos ricos.
Vereadores, deputados, senadores, divulgam a palavra do senhor Presidente.
E enriquecem com os farelos que caem das coletas de dízimos.
A IMPUNE é uma igreja modelo no mundo.
No próximo mês, a IMPUNE vai sediar as Olimpíadas.
Será uma oportunidade única de mostrar ao mundo como é viver no século passado.
Sem saneamento, sem segurança, sem conforto, sem saúde.
Como uma boa igreja, a IMPUNE provará que não nos dá nada, apenas promessas.
A vergonha, quem passa, somos nós, os fiéis pecadores.
E, cabisbaixos, aceitaremos.
Casa é onde não tem fome
Otávio das Chagas, o pescador sem rio e sem letras, não consegue chegar em casa. Desde que ele e sua família foram expulsos de sua ilha pela hidrelétrica de Belo Monte, Otávio já está na terceira casa. Mas não consegue chegar. Porque para ele aquela terceira ainda não é uma casa. Como não era a primeira nem era a segunda. Sem casa, Otávio não tem mundo. Sem mundo, um homem não tem onde pisar. Os conhecidos avisam: você já viu, seu Otávio está encolhendo. E ele está, porque é isso o que acontece com os homens sem mundo.
O que é uma casa é a pergunta que atravessa a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, no Estado do Pará. A pergunta que não foi feita no cadastro nem em momento algum. É a pergunta que diz quem aquela pessoa é. E onde ela precisa viver para ser o que é. Quando é o empreendedor, o novo nome do colonizador na Amazônia, que determina o que é uma casa, com base no seu mundo e nas suas referências, em geral forjadas na realidade bem diversa do centro-sul do Brasil, a violência se instala. E vidas são aniquiladas.
Acompanho Otávio das Chagas desde 2014. Naquele momento, ele, sua mulher Maria e os nove filhos estavam na primeira casa que não podia ser casa. Uma casa de madeira alugada numa periferia violenta de Altamira. Em 2015, mudaram-se para uma “unidade” de Reassentamento Urbano Coletivo (RUC), nome dos conjuntos habitacionais padronizados que a Norte Energia construiu para abrigar as vítimas de “remoção compulsória”. Em 2016, dividiram-se: os dois filhos mais velhos permaneceram na casa padronizada, um deles já com sua própria família; Otávio, Maria e os filhos mais jovens transferiram-se para uma casa doada por um grupo de austríacos que se comoveu com as tribulações do pescador sem rio e sem letras.
Todas as vezes em que bati em cada uma das três portas, eles passavam fome. Tinham teto, mas passavam fome. Era oficialmente uma casa, mas passavam fome. Em todas as vezes, só havia água na geladeira. Na semana passada, havia também uma cebola pequena. Fome é algo que fracasso em descrever. A fome não se escreve. Carolina Maria de Jesus (1914-1977), a escritora brasileira que conhecia a fome, escreveu: “A fome é amarela”.
Maria, a mãe, tenta fazer caber nas palavras o que sente quando chega a passar até dois dias sem comer: “Dá uma dor no estômago, uma tontice”. É uma pista, mas ainda não é a fome por escrito. “Eu não sei o que fazer quando as crianças ficam pedindo por comida”, ela continua. É outra pista, mas ainda não é a fome por escrito. Jamais será. A fome é algo tão avassalador que irredutível às palavras. Encaro os olhos fundos de Adriano, o menino de sete anos, e entendo sem letras. Entendo, mas sigo sem alcançar. Meu olhar não afunda nos olhos de poço, me falta a experiência. Adriano é mais uma doce criança com olhos de velho deste mundo. Quando o encontrei na segunda casa, a do RUC, em 2015, era o dia do seu aniversário. E não havia sequer um pedaço de pão para Adriano comer.
Casa é onde não tem fome, eles me ensinam. Se tem fome, é só teto.
Otávio das Chagas e sua família viviam há mais de 30 anos na Ilha de Maria, uma das centenas de ilhas do Xingu. Viver talvez não seja a palavra exata. Eles pertenciam à ilha de Maria. É inversa essa questão da posse. E não apenas por questões da lei. Mas porque é a ilha que se apossa das pessoas, que lhes conforma o corpo e a existência, que lhes desenha a arquitetura do tempo. Na ilha, Otávio, Maria e seus filhos sabiam. Quando expulsos para a “rua”, nome que os ribeirinhos agroextrativistas de várias regiões amazônicas dão à “cidade”, são esvaziados de saber. Assim, essas casas, na “rua”, serão de certo modo sempre “rua” – e não casa.
O que é uma casa é a pergunta que atravessa a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu, no Estado do Pará. A pergunta que não foi feita no cadastro nem em momento algum. É a pergunta que diz quem aquela pessoa é. E onde ela precisa viver para ser o que é. Quando é o empreendedor, o novo nome do colonizador na Amazônia, que determina o que é uma casa, com base no seu mundo e nas suas referências, em geral forjadas na realidade bem diversa do centro-sul do Brasil, a violência se instala. E vidas são aniquiladas.
Acompanho Otávio das Chagas desde 2014. Naquele momento, ele, sua mulher Maria e os nove filhos estavam na primeira casa que não podia ser casa. Uma casa de madeira alugada numa periferia violenta de Altamira. Em 2015, mudaram-se para uma “unidade” de Reassentamento Urbano Coletivo (RUC), nome dos conjuntos habitacionais padronizados que a Norte Energia construiu para abrigar as vítimas de “remoção compulsória”. Em 2016, dividiram-se: os dois filhos mais velhos permaneceram na casa padronizada, um deles já com sua própria família; Otávio, Maria e os filhos mais jovens transferiram-se para uma casa doada por um grupo de austríacos que se comoveu com as tribulações do pescador sem rio e sem letras.
A terceira não-casa: Otávio das Chagas, Maria e os filhos menores na casa doada por uma família austríaca , em julho de 2016 LILO CLARETO |
Maria, a mãe, tenta fazer caber nas palavras o que sente quando chega a passar até dois dias sem comer: “Dá uma dor no estômago, uma tontice”. É uma pista, mas ainda não é a fome por escrito. “Eu não sei o que fazer quando as crianças ficam pedindo por comida”, ela continua. É outra pista, mas ainda não é a fome por escrito. Jamais será. A fome é algo tão avassalador que irredutível às palavras. Encaro os olhos fundos de Adriano, o menino de sete anos, e entendo sem letras. Entendo, mas sigo sem alcançar. Meu olhar não afunda nos olhos de poço, me falta a experiência. Adriano é mais uma doce criança com olhos de velho deste mundo. Quando o encontrei na segunda casa, a do RUC, em 2015, era o dia do seu aniversário. E não havia sequer um pedaço de pão para Adriano comer.
Casa é onde não tem fome, eles me ensinam. Se tem fome, é só teto.
Otávio das Chagas e sua família viviam há mais de 30 anos na Ilha de Maria, uma das centenas de ilhas do Xingu. Viver talvez não seja a palavra exata. Eles pertenciam à ilha de Maria. É inversa essa questão da posse. E não apenas por questões da lei. Mas porque é a ilha que se apossa das pessoas, que lhes conforma o corpo e a existência, que lhes desenha a arquitetura do tempo. Na ilha, Otávio, Maria e seus filhos sabiam. Quando expulsos para a “rua”, nome que os ribeirinhos agroextrativistas de várias regiões amazônicas dão à “cidade”, são esvaziados de saber. Assim, essas casas, na “rua”, serão de certo modo sempre “rua” – e não casa.
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