terça-feira, 21 de abril de 2015

Cuidado redobrado quando a tropa bate em retirada

Quanto tempo se gasta em debates que se mosttam inúteis, petições eletrônicas sem qualquer relevância e que nunca surtirão efeito?

Há tantas pessoas - e são muitas – que sequer tomam conhecimento aprofundado do que realmente acontece ao redor, uma vez que estão às voltas com suas próprias vidas, com as necessidades imediatas de suas famílias. O pensamento em relação ao coletivo passa longe das mentes das pessoas comuns, que são a absoluta maioria. É quase luta inglória, mas que fique longe de se desistir de tentar resgatar o que já foi nação, agora é sucata. Peça de reposição da "Pátria Grande", que começa pelos primeiros passos, se autodenominando "Pátria Educadora".

Uma das manobras mais difíceis de se executar, por parte de um grande exército, é a sua retirada. Ceder território é desmoralizante e passa o sentimento psicológico de que a derrota se aproxima. Mas, independentemente dessa situação ser constrangedora, um bom general precisa garantir que seus exércitos consigam se reagrupar, ganhando condições operacionais para enfrentar as próximas batalhas. Todas elas estrategicamente bem pensadas, estudas e organizadas.

Isso mesmo! Estamos no meio do campo de batalha e a guerra já está em curso, mesmo sem que se tenha ouvido um único disparo de canhão. Está tudo em conformidade com os ensinamentos da cartilha de Antonio Gramsci, o maior de todos os estrategistas de implantação do comunismo que se teve notícia. Suas táticas, regras e estratégias, vêm sendo seguidas à risca, tal como reeditou e compilou Saul Alinsky em seu livro "Regras para radicais", publicado em 1945, com base nos ensinamentos gramscistas.

Ao realizar a manobra de retirada, tática obrigatória para obter êxito, que o exército em recuo deixe pelo caminho uma parcela de suas tropas, com a função de obrigar o inimigo a perder algum tempo enfrentando-as. Assim, quem se retira troca espaço por tempo, conseguindo as condições para se reorganizar e melhor poder defender suas posições; a seguir.

O governo petista e seus aliados têm feito isso o tempo todo, mas poucos percebem.

Os avanços de investigações; as denúncias contra membros do governo; as manobras de trocas de cargos por favores e favorecimentos; a queda diária de integrantes de campanhas eleitorais, arrecadadores, doleiros, "laranjas" e "testas de ferro". Enquanto tudo isso ocorre em alto e bom som, sob alardes de trombetas, integrantes do alto escalão da quadrilha governamental são anistiados, progridem de regime prisional para cumprirem penas domiciliares, ou simplesmente libertados, sumindo do cenário. Ninguém sequer lembra seus nomes.

Relembre, mas observe com atenção o que aconteceu com Graça Foster, presidente da Petrobras: ela foi submetida a um desgaste desumano, nos dois últimos anos (2013 e 2014). Enquanto ficava evidente que a Petrobras teve seus recursos dilapidados e foi literalmente implodida em nome dos interesses do partido que se apoderou da máquina de governo, Graça Foster atraiu o fogo da bateria do exército da oposição, enquanto isso, na melhor estratégia de combate, o ex-presidente da empresa, o ex-presidente da República e a liderança partidária do PT ganharam um tempo precioso que lhes permitiu vencer a eleição presidencial e se organizarem para um eventual grande embate judicial, que mesmo parecendo ser cada dia mais próximo, talvez nunca ocorra.

Apenas como um dos muitos exemplos que se poderia elencar, Graça Foster foi usada como "tropa retardadora", além de um grupo de diretores da Petrobras, e ela deu o melhor de si, sacrificando-se com ardor missionário – sabe-se lá por que – em benefício de Lula da Silva e de Dilma Rousseff.

Diante desses fatos, observe-se que o exército da oposição não pode esquecer que é necessário levar à rendição quem assinou o contrato que levou a Petrobras a perder mais de um bilhão de reais com a Refinaria de Pasadena. E quem assinou esse contrato foi o Conselho da empresa, dirigido – na época – por Dilma Rousseff. Deve ser levado ao tribunal de crimes de guerra o camarada que fez o acordo com a Venezuela para se construir a Refinaria Abreu e Lima, o que levou a um prejuízo de aproximadamente 20 bilhões de dólares. E quem realizou esse acordo foi Lula da Silva.

Deve ser levado à rendição quem doou petróleo para a Venezuela no período da crise que quase derrubou Hugo Chávez. E quem fez isso foi Lula da Silva.
Precisa ser derrotado quem alterou o contrato de exploração das jazidas de petróleo, criando o sistema de partilha que esgotou os recursos da Petrobras. É necessário levar à rendição quem resolveu combater a inflação mantendo congelado os preços dos combustíveis, destruindo o equilíbrio financeiro da Petrobras.

E, para não perder a viagem, a oposição - se realmente tivermos uma oposição real e que seja capacitada pelo apoio popular, mas longe de ser como os opositores da Venezuela - deve levar aos tribunais, apesar de que hoje todos eles estão aparelhados pelo governo, quem destruiu o equilíbrio das empresas que produzem energia elétrica. E também quem entregou os recursos do BNDES – com juros subsidiados – para algumas empresas que, posteriormente, faliram. 

A oposição também precisa punir, sempre dentro da lei, (mesmo sabendo que a Lei não vale muito no Brasil da atualidade) quem doou dinheiro para se construir um porto, em Cuba, e uma linha de metrô, na Venezuela, com os recursos do contribuinte brasileiro, enquanto há tantas deficiências de infraestrutura em nosso próprio país.

Do mesmo modo, se deve punir rigorosamente quem doa usinas brasileiras à Bolívia, que já se apropriou com a força militar de seu exército, de uma refinaria de petróleo que era brasileira, mas que o então presidente Lula da Silva, nem tomou conhecimento. Assim como se faz doação de energia elétrica para a Argentina, enquanto no Brasil sofremos com os aumentos das tarifas de energia, além dos riscos de apagões iminentes, por causa da falência de nosso sistema energético.

Graça Foster é desimportante. Peão menor, que sequer tem status de cavalo do rei ou da rainha, neste tabuleiro de xadrez, tal como Alberto Youseff, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Sergio Gabrielli. João Vaccari Neto é outro, só que com posição de torre. Mas há bispos, como Humberto Costa, Antonio Palocci, Marco Maia, Miguel Rossetto.

Da rainha não temos dúvidas da identidade, mas quanto ao rei...

Sempre esqucemos do homem das mil faces, um certo José Dirceu, além do ajudante de ordens José Genoíno. Lula da Silva é o rei? É possível, pois que o diabo tem todas as caras.

O que realmente deveria interessar, concentrar esforços, ter a atenção dirigida e formação de foco é na penalização efetiva dos mandantes. Trata-se de capturar os generais desse exército em retirada, que usam manobras diferentes todos os dias para dispersar a resistência e desviar o olhar de seus inimigos.

Todos os dias temos escândalos novos, para que os outros se tornem antigos e esquecidos, e muito rapidamente, notícia velha.

Ninguém quer saber de notícia velha.

Mas todos saberão, em breve, da má notícia: todas as velhas notícias não caducaram; amadureceram e criaram raízes profundas.

Brasil lidera em morte de ambientalistas

ONG registra 29 mortes no país em 2014, de um total de 116 casos em todo o mundo. Três em cada quatro assassinatos de ativistas ambientais aconteceram na América Latina.


O Brasil foi o país mais perigoso do mundo para militantes ambientalistas em 2014. Em nenhum outro lugar foram assassinados mais ativistas, segundo relatório da ONG britânica Global Witness, apresentado nesta segunda-feira (20/04) em Londres.

A América Latina é considerada a região mais perigosa pela organização. De cada quatro mortes, três aconteceram na região. No ano passado foram registrados 116 casos em todo o mundo, número que é recorde histórico e 20% maior que o de 2013. Deles, 87 ocorreram em nações latino-americanas.

Honduras lidera a lista na relação número de casos por habitante, segundo o documento, intituladoHow many more? (Quantos mais?). Entre 2002 e 2014, 111 pessoas morreram no país em decorrência de crimes contra ambientalitas.

Entre 2007 e 2011, os crimes contra ambientalistas registrados pela Global Witness triplicaram. Com isso, os militantes do meio ambiente são considerados o grupo de ativistas que mais corre riscos. No mundo inteiro, segundo a instituição, foram mortos, em função do seu trabalho, quase duas vezes mais ambientalistas que jornalistas.

Índios são 40% das vítimas

Em 2014, o Brasil figura no topo da lista, com 29 mortes, seguido pela Colômbia, com 25, pelas Filipinas, com 15, e por Honduras, com 12. Cerca de 40% das vítimas são índios. Já para ativistas do direito à terra, o Sudeste Asiático é a região mais perigosa do mundo.

"Em Honduras e no mundo inteiro, ambientalistas são mortos, sequestrados, ameaçados ou processados como terroristas, em plena luz do dia, porque se opõem ao chamado desenvolvimento", lamentou Billy Kyte, da Global Witness, exigindo que os governos façam mais pela proteção dos ambientalistas.

Segundo a Global Witness, os crimes são praticados por grupos paramilitares, pela polícia e por empresas de segurança privada. Entre os mandantes estariam grandes latifundiários, grupos privados, políticos e membros do crime organizado. "A maioria desses crimes, realizados em nome de uma poderosa combinação de interesses corporativos e governamentais, fica impune", acrescentou Kyte
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Explica pra não confundir

Joaquim Levy, como ocorre agora normalmente com os ministros de Dilma, cometeu um ato falho. Admitiu que o balanço auditado, esperado para alguns dias, “marca um novo passo na reconstrução da Petrobras”. Ué, então foi mesmo foi destruída pelo PT e comparsas. Ninguém reconstrói nada que não foi destruído. Levy e outros do ministério têm que medir as palavras ou põem ainda mais lenha na fogueira. 

Bom dia, com Albert Ketelbey

O Brasil dorme

A presidente Dilma Rousseff, com todo respeito que se deve ao cargo que ela ocupa, é surda, ou teimosa, ou preguiçosa, ou despolitizada, ou amarrada, ou insensível, ou tudo isso junto, porque não é possível que alguém, com as suas responsabilidades, insista nas atitudes que tem ou em não tê-las. Isso é óbvio? É e, lamentavelmente, é a realidade.

Na semana passada foi preso o tesoureiro do PT, partido do qual Dilma é (ou deveria ser) sua maior liderança. Pelo menos protocolarmente é Dilma quem tem a maior expressão política dentro do partido, embora se saiba que o ex-presidente Lula lá dê as cartas. Mas nem por isso, nunca se soube de ambos, Dilma e Lula, o empenho em retirar de cena o tesoureiro João Vaccari Neto, que todos esperavam que fosse enjaulado a qualquer momento. Deixaram que se chegasse a essa vergonhosa e tardia exposição, muito embora a própria Dilma já o tivesse impedido de ser o tesoureiro de sua campanha. Não à toa, mas talvez por já reconhecer em Vaccari as habilidades que a Polícia Federal e o Ministério Público, com toda certeza, identificaram e buscarão condenar.

Desde a aposentadoria do ex-ministro Joaquim Barbosa, há oito meses, que está vaga sua cadeira no STF, com flagrante prejuízo às decisões que demandam o escrutínio do pleno, isso é, que todos os ministros examinem e votem as matérias de competência do Supremo Tribunal. Falou-se insistentemente na perspectiva de indicação pelo Planalto do nome do atual presidente nacional da OAB, Marcos Vinicius Furtado. Senadores avisaram que não passaria na aprovação da Casa nenhum nome com nítidas vinculações partidárias. Dilma, ao contrário de todas as expectativas, indicou para a vaga o jurista Luiz Edson Fachin, respeitado advogado, de inquestionável currículo, reconhecido profissional e estudioso do Direito Civil e de Direito de Família. Dependendo dos fatos políticos da semana, o Senado Federal, varejista e fisiológico como é, vai reprová-lo. Porque esse é o jogo que Dilma deixou que ganhasse corpo e força.


A operação Lava-Jato, que a inteligência do Palácio do Planalto sabia que andava a passos de ganso, não tinha como não ter sido antecedida por uma medida da Presidência, afastando da Petrobras toda a sua diretoria e os conselhos, para que se apurasse com rigor e isenção a real responsabilidade dessa corja hoje presa em Curitiba. Esse pessoal que está em cana no Paraná não é jovem aprendiz. Vários já saíram com tornozeleira eletrônica da maternidade. Não há bandido de primeiro emprego.

A própria relação com as lideranças dos partidos da base-aliada, ou mesmo da oposição, os chamados “vacas sagradas” do Congresso, é de uma postura ginasial. Com o poder que tem a Presidência da República, é inaceitável que se tivesse deixado encorpar os tipos a quem o poder político hoje no país está terceirizado.

E nesse diapasão cantam todas as vozes de poder, contagiadas por essa mesma inércia. O Brasil ressente-se da falta de controle, de comando, de um projeto de autoridade. Somos um país com demandas sérias e inadiáveis. Não podemos viver do que será a operação Lava-Jato, das inúmeras CPIs que fazem de conta que investigam alguma coisa, do humor de Sarneys, Aécios, Renans Calheiros e Eduardos Cunha, dessa inércia congelante que nos impõe uma classe política que não sabe onde está parada. Não crescemos econômica e socialmente, o povo está com fome, há desemprego, inflação, favelamento, falta de políticas sérias e atualizadas de educação, segurança, saúde, habitação, financiamento da produção industrial e agrícola. A nação está perdida, sem saber para onde ir.

Luiz Tito

Versão petista de Tiradentes

A heresia de Pitágoras

Em Crotona, extremo sul da Itália, no sexto século antes de Cristo, depois de ter percorrido a Índia e o Egito, o grego Pitágoras abriu uma escola de ensinamentos filosóficos. Em volta dele formou-se uma comunidade de 300 alunos atraídos pelos ideais de respeito e justiça em harmonia com a natureza.

Ensinava-se a reencarnação, o aperfeiçoamento do homem, a astronomia, as virtudes e a obrigação com os deveres sociais. O mestre cobrava uma disciplina austera, acreditando que o mal que atrasa a evolução do indivíduo tem origem nos abusos, nos vícios, e por consequência, no descontrole emocional.

A disciplina vegetariana, a libertação dos desejos grosseiros e da ganância, o controle do egoísmo e do medo, a capacidade de perdoar as ofensas, segundo o pensamento pitagórico, fortalecem o caráter; mudam a visão curta da vingança para aquela mais longa do perdão que encerra a dolorosa corrente de "olho por olho".

Afinal, não é do sofrimento proporcionado a semelhantes que a humanidade progride; para Pitágoras, "cada homem é para si mesmo, em absoluto, o caminho, a verdade, a vida" – uma antecipação do "Reino de Deus está em vós" ou "Procurai em vós a solução sem cobrá-la dos outros".

Feliz é quem se satisfaz controlando vaidades e ambições mundanas. Feliz é quem pensa na eternidade que o espera e traz para si a felicidade e o êxtase da presença de Deus em seu íntimo.

A comunidade pitagórica de Crotona, inofensiva por natureza e voltada para a busca da paz, durou pouco. Sua fama despertou o interesse da juventude, de pessoas mais sensíveis, mas também o temor dos déspotas que governavam com mão de ferro os territórios vizinhos.

A comunidade foi cercada; incendiada; discípulos morreram. Pitágoras conseguiu escapar e peregrinou pela Itália por mais duas décadas transmitindo seus ensinamentos. Morreu com quase 100 anos, uma idade fantástica para aquela época – fruto da dieta, da meditação e do autocontrole.

Apesar de ser iniciador da filosofia ocidental, passou à história como grande matemático, pois ensinava que o universo se sustenta no equilíbrio dos números e apenas esse lado do seu pensamento não incomodou ninguém. O restante de sua obra foi sistematicamente destruído como ameaça aos detentores do poder e da riqueza material. E não podia ser por menos: Pitágoras sustentava que "o Estado existe para o benefício do governado", uma verdadeira heresia para a maioria dos governantes que agem até hoje usando o Estado em benefício próprio. 


 

Trocam-se seis por meia dúzia

Quem se lembra de Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral, cretino e falastrão? Aquele capaz de incensar o partido como um coroinha: "O PT não pode enxergar que seu projeto está limitado apenas a um governo. O nosso projeto é de longo prazo. Nós vamos passar por essa fase, vamos nos purificar"? Pois é, está fora depois de anos soltando puns pela boca em prol da defesa indefensável da picaretagem.

Agora Dilma instalou outro cretino de carteirinha no governo: ministro Edinho Silva, ministro da Comunicação, que disse não haver problema entre o governo e a prisão de Vaccari. Um gozador.
Em entrevista, ainda soltou um traque que é mera pirotecnia : “A presidenta Dilma está liderando a construção de uma agenda de médio prazo extremamente positiva para o País, com a retomada do crescimento e geração de empregos”. Há que se perguntar de onde, em meio a uma crise de governabilidade, onde não há agenda de coisa nenhuma, Dilma vai tirar alguma coisa para fazer senão fazer o diabo para continuar no posto?

Escolha inadiável

É um compreensível desdobramento de nosso processo de redemocratização a expansão de gastos públicos com transferências de renda e programas de assistência social.

A democratização dos orçamentos públicos e a maior preocupação com o capital humano brasileiro nas dimensões de saúde, educação e moradia resgataram uma “dívida social” deixada pela obsessiva acumulação de infraestrutura física sob o regime militar.

Mas, por ignorância econômica, preconceito ideológico e oportunismo político, tucanos e petistas mantiveram as engrenagens do Antigo Regime, recebendo em troca o apoio das criaturas do pântano – malfeitores políticos, funcionários corruptos e grupos de interesse corruptores.

A ininterrupta expansão dos gastos públicos, a hipertrofia do governo federal, a aprovação da emenda constitucional pela reeleição e o aparelhamento da máquina do Estado são marcos em uma escalada de desvirtuamento de nossas práticas políticas.

A inflação crônica, os impostos excessivos, os juros astronômicos, a corrupção sistêmica, o baixo crescimento e a desmoralização da política são sintomas do esgotamento da agenda social-democrata e de sua obsolescência ante as necessárias reformas.

O desempenho econômico medíocre e a desmoralização da classe política indicam uma inacabada transição do Antigo Regime para a Grande Sociedade Aberta. Mas oestablishment parece mais comprometido com a própria defesa de seu insustentável modus operandi do que com a promoção das reformas.

A expansão da fatia do produto interno bruto ao alcance da classe política ao longo de décadas tem recompensado uma sinistra associação entre a banda podre do Estado, os piratas privados e as criaturas do pântano político.

É fundamental erradicar “bem-sucedidos” malfeitos, práticas eficazes para a conquista do poder pelos grupos que as adotam, sendo por isso “aperfeiçoadas”.

Os princípios éticos de uma democracia representativa distinguem-se radicalmente dessas práticas transgressoras dos pequenos bandos.

A classe política tem uma inadiável escolha: ou o corporativismo, a cumplicidade, a ocultação de malfeitos e o silêncio solidário como seu temerário código de atuação, ou a transparência e a responsabilidade no trato da coisa pública como exigidas numa Grande Sociedade Aberta.

Dois e Dois são Quatro

Como dois e dois são quatro 
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar

O sistema híbrido, a tempestade e seus responsáveis

A crise é obra coletiva; a tempestade não é mera virada de tempo; foi gestada nos erros de quase todos nós e gerou uma besta híbrida: o presidencialismo sem poder e o parlamentarismo sem legitimidade.

Uma das vantagens do presidencialismo reside na estabilidade e na força que expressa o presidente do país; sua credibilidade e sua habilidade para formar e dirigir a maioria do Parlamento, que dará apoio e sustentação ao seu governo. Já no parlamentarismo, o êxito mora na capacidade em lidar com crises: é um sistema cuja credibilidade rapidamente se recompõe; se o primeiro-ministro a perdeu, nova coalizão remonta o gabinete. No limite, nova eleição recompõe a legitimidade. O problema é quando não se tem nem um, nem outro. Quando se vive o pior dos dois mundos — um presidencialismo sem força e estabilidade; um parlamentarismo sem credibilidade e legitimidade –. constrói-se o labirinto povoado por uma besta híbrida. Como se sabe, o animal híbrido é estéril.

O governo da presidente Dilma, em extraordinários 100 dias perdeu a força e isto tem tornado o país mais instável. Seu poder foi transferido para o Congresso Nacional, mas ele, o Parlamento, não foi eleito para governar no lugar de Dilma. Nem mesmo seus principais dirigentes reúnem a credibilidade indispensável; são, para dizer o mínimo, controversos. E contestáveis. Ademais, não há — e nem representam — força política capaz de formular e dar unidade de projeto e, daí, rumos ao país. O PMDB não existe enquanto força; o que persiste e o sustenta é a autoridade burocrática de pautar de votações que emana antes da institucionalidade das cadeiras do que dos traseiros que as ocupam. A situação é, no mínimo, esdrúxula.


Não foi de uma hora para outra que Dilma conseguiu a proeza de esvair-se assim em trapalhadas. O desastre foi meticulosamente construído ao longo do tempo e contou com um talento inato para produzir lambanças. Foi, ao longo dos anos, gestado nas falhas de diagnóstico, na miopia que se configurava na linhas embaralhadas de tantos erros de avaliação animados pelo triunfalismo e pela arrogância. A presidente fez de tudo um pouco: agiu com autonomia quando precisava de tutela; ouviu quase nada quando precisava de conselhos; aconselhou-se de fanfarrões quando carecia de silêncio e ponderação. Foi imperialmente teimosa, mascarou números e acabou desmascarada pela realidade.

Sim, Dilma é, no limite, a responsável por essa esquisitice híbrida que é a confluência do presidencialismo de sem poder com o parlamentarismo obtuso, que soma zero. É a responsável. Mas, não está só.

Seu criador, Lula, navegou na comodidade do sucesso: não propôs transformações ao sistema sabidamente cheio de vícios – afinal, foi ele mesmo quem primeiro lembrou dos trezentos picaretas. No mais, rendeu-se a eles; adaptou-se à estrutura anacrônica, envelhecida. Mas, tampouco Lula pode ser responsabilizado sozinho. Seu PT também capitulou; primeiro, a Lula, depois ao pragmatismo oportunista. Diante daquilo que acreditava ser a política real – que não praticava –, traiu a si mesmo rompendo com os valores mais caros de sua base social. Abriu mão de ousar — e em certo sentido foi até mesmo melhor que não ousasse –, enrijeceu-se na burocracia interna, no bulício dos corredores das sedes partidárias, no poder de bancadas e nomenclaturas vazias; no status quo de dirigentes e capitães-do-mato, na retórica fácil do “bem maior aos mais pobres”, justificativa para tudo.

Mas, muito menos o PT está só nessa somatória de equívocos. Os aliados também mamaram o quanto puderam nas vacas gordas dessa fortuna errática; ganharam cargos, lambuzaram-se com o que se chamou “esquema”. Hoje, ouvir Renan Calheiros exigir a diminuição de ministérios, Eduardo Cunha proclamar a elevação do Parlamento ou assistir a pose de virtude republicana de “Paulinho da Força” — ele o mesmo que já implorou proteção ao PT e a seus governos – beira ao escárnio; uma desafinada cantiga de maldizer.

Mas, o PMDB e os aliados de hoje e ontem também não estão sós na construção dessa ruína: nesses anos todos, a oposição tucana pouco mais foi que free rider do processo, carona das circunstâncias. Prostrou-se atônita diante da apropriação de uma agenda — apenas supostamente sua –, capturada por Lula. Foi incapaz de expressar alternativa, de comunicar nova visão do mundo e do país, até porque não a tinha. Antes, deixou-se ao sabor do oportunismo, assimilou Paulinhos, Malafaias, discursos retrógrados e a sisudez do conservadorismo que nunca fora seu de verdade.

Mas, também não basta apontar os erros do “sistema partidário”. A sociedade se omitiu, quando não se deixou cooptar: foi o caso dos movimentos sociais; dos subsídios, dos bolsas disto, dos bolsas daquilo, da farra em Miami, da opulência do crédito, do espetáculo faustoso do desenvolvimento consumista. Ao lado destes, os tais mercados, que hoje rezam novenas por Joaquim Levy, mas que, na presunção olímpica de quem aposta, acreditaram na falácia da morte da política, na ilusória suposição de superioridade e autonomia da economia em relação à política e a tudo mais.

Somente esses? Cuspir para o lado é fácil; às vezes é necessário apontar para o alto: que dizer de analistas e cientistas políticos que professavam a infalibilidade, quase perfeição, do presidencialismo de coalizão? Olhando exclusivamente para resultados imediatos, sem considerar a extravagancia dos métodos e a voracidade do fisiologismo, na maioria das vezes, esquecemos de considerar que sua dinâmica somente poderia levar à exaustão e à disfuncionalidade a que chegou.

Ninguém gritou, poucos notaram; os que perceberam calaram-se ou falaram baixo, num sussurro tímido. Raramente, é verdade, foram ouvidos; ninguém queria ouvir. Preferiu-se esquecer que dia de festa é véspera de dor”. Mas, a verdade é que não foi o tempo que virou de repente, a tempestade se fez assim: devagar, no movimento das nuvens. Política é como nuvem: produz cargas elétricas, se choca com outras; gera estrondo, reluz o raio, desperta o temporal.

Depositam-se hoje, vejam só, o grosso de muitas esperanças sobre Michel Temer. Conseguirá o vice, discreto e profissional, colocar ordem na lambança de modo a recuperar a paz da “bagunça organizada” que já tivemos? Não se sabe, ainda. Mas, mais que isto, é certo, não fará. O presente se conforma nessa besta híbrida do presidencialismo sem poder e do parlamentarismo sem credibilidade à deriva no labirinto aparentemente sem saída. O que pode um Temer se não enxergar que, pelo menos por enquanto, há apenas um túnel no fim da luz?
Carlos Melo

Os verdadeiros golpistas


A palavra "golpe" tanto serve para definir a tentativa de afastar o governo do poder quanto a de manter o governo no poder por meios extra-constitucionais. Portanto, na atual situação brasileira, golpista é quem quer impedir, mediante constrangimento moral, sofismas e outros mecanismos ainda mais repulsivos, que se faça uso do processo de impeachment, instrumento que a Constituição disponibiliza para situações como esta em que se encontra a República.

Os que fizeram ninho nos poderes de Estado e converteram suas convicções em receitas para ascensão funcional estão em estado de choque. Fazem companhia aos parceiros da mídia e do mundo acadêmico que se acostumaram a falar sozinhos para auditórios subjugados por uma hegemonia que tritura neurônios como uma usina de brita quebra rochas. Em pedacinhos. Nas últimas décadas, uns e outros jamais se depararam com algo semelhante. Povo na rua bradando contra seus amados ícones. Panelaços contra sua idolatrada "presidenta". Lula vaiado e se escondendo entre guarda-costas e companheiros. Rechaço popular a bandeiras vermelhas. Multidões pedindo impeachment.

Como agir diante de algo assim? Proclamar, com insistência, a elevada estatura moral do partido? Ajustar o elmo, esporear o cavalo e brandir espadas em defesa das virtudes do governo Dilma, como zelavam pela pureza feminina os cavaleiros medievais? Investir recursos na modorrenta militância de sanduba, refri e R$ 35? Apelar para a velha estratégia de desqualificar indivíduos e multidões, raças, classes sociais, pigmentação da íris? Incrível como o velho Karl Marx fez vistas grossas à importância da cor dos olhos na luta de classes, não é mesmo?

A desqualificação encontrou na acusação de golpismo o mais entoado de seus refrões. "Impeachment é golpe!". E por aí vão. Unem-se em coro colunistas, comentaristas, parlamentares e dirigentes petistas. Quem pede o impeachment da sua amada "presidenta" é golpista. E pronto. O interessante é que nenhum deles tem coragem de, em público, proclamar a elevada dignidade moral do governo, sua honra e probidade. Nenhum jornalista ou líder político escreve, fala ou mostra a cara na tevê para sustentar o insustentável. Todos sabem que a sociedade tem motivos de sobra para estar enojada do governo e de suas práticas. É muito mais fácil, então, evadir-se da encrenca pelo lado oposto, desqualificando os 63% da população brasileira que clamam pela solução racional e constitucional: o impeachment da presidente.

Não pode ser "golpe" o apelo a um instrumento constitucional, com lei própria, que só terá o efeito desejado se seguido o rito determinado pela Constituição e pela lei federal que trata especificamente do assunto. Golpista, portanto, é quem tenta impedir isso.

Percival Puggina