terça-feira, 21 de abril de 2015

O Brasil dorme

A presidente Dilma Rousseff, com todo respeito que se deve ao cargo que ela ocupa, é surda, ou teimosa, ou preguiçosa, ou despolitizada, ou amarrada, ou insensível, ou tudo isso junto, porque não é possível que alguém, com as suas responsabilidades, insista nas atitudes que tem ou em não tê-las. Isso é óbvio? É e, lamentavelmente, é a realidade.

Na semana passada foi preso o tesoureiro do PT, partido do qual Dilma é (ou deveria ser) sua maior liderança. Pelo menos protocolarmente é Dilma quem tem a maior expressão política dentro do partido, embora se saiba que o ex-presidente Lula lá dê as cartas. Mas nem por isso, nunca se soube de ambos, Dilma e Lula, o empenho em retirar de cena o tesoureiro João Vaccari Neto, que todos esperavam que fosse enjaulado a qualquer momento. Deixaram que se chegasse a essa vergonhosa e tardia exposição, muito embora a própria Dilma já o tivesse impedido de ser o tesoureiro de sua campanha. Não à toa, mas talvez por já reconhecer em Vaccari as habilidades que a Polícia Federal e o Ministério Público, com toda certeza, identificaram e buscarão condenar.

Desde a aposentadoria do ex-ministro Joaquim Barbosa, há oito meses, que está vaga sua cadeira no STF, com flagrante prejuízo às decisões que demandam o escrutínio do pleno, isso é, que todos os ministros examinem e votem as matérias de competência do Supremo Tribunal. Falou-se insistentemente na perspectiva de indicação pelo Planalto do nome do atual presidente nacional da OAB, Marcos Vinicius Furtado. Senadores avisaram que não passaria na aprovação da Casa nenhum nome com nítidas vinculações partidárias. Dilma, ao contrário de todas as expectativas, indicou para a vaga o jurista Luiz Edson Fachin, respeitado advogado, de inquestionável currículo, reconhecido profissional e estudioso do Direito Civil e de Direito de Família. Dependendo dos fatos políticos da semana, o Senado Federal, varejista e fisiológico como é, vai reprová-lo. Porque esse é o jogo que Dilma deixou que ganhasse corpo e força.


A operação Lava-Jato, que a inteligência do Palácio do Planalto sabia que andava a passos de ganso, não tinha como não ter sido antecedida por uma medida da Presidência, afastando da Petrobras toda a sua diretoria e os conselhos, para que se apurasse com rigor e isenção a real responsabilidade dessa corja hoje presa em Curitiba. Esse pessoal que está em cana no Paraná não é jovem aprendiz. Vários já saíram com tornozeleira eletrônica da maternidade. Não há bandido de primeiro emprego.

A própria relação com as lideranças dos partidos da base-aliada, ou mesmo da oposição, os chamados “vacas sagradas” do Congresso, é de uma postura ginasial. Com o poder que tem a Presidência da República, é inaceitável que se tivesse deixado encorpar os tipos a quem o poder político hoje no país está terceirizado.

E nesse diapasão cantam todas as vozes de poder, contagiadas por essa mesma inércia. O Brasil ressente-se da falta de controle, de comando, de um projeto de autoridade. Somos um país com demandas sérias e inadiáveis. Não podemos viver do que será a operação Lava-Jato, das inúmeras CPIs que fazem de conta que investigam alguma coisa, do humor de Sarneys, Aécios, Renans Calheiros e Eduardos Cunha, dessa inércia congelante que nos impõe uma classe política que não sabe onde está parada. Não crescemos econômica e socialmente, o povo está com fome, há desemprego, inflação, favelamento, falta de políticas sérias e atualizadas de educação, segurança, saúde, habitação, financiamento da produção industrial e agrícola. A nação está perdida, sem saber para onde ir.

Luiz Tito

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