quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016
Na rota do suicídio
O pacote do dinheiro do FGTS, seja para “turbinar o consumo” ou simplesmente “dar um gás na economia”, mostra que a Dilma, ou o PT ou quem quer que esteja regendo essa banda, se é que alguém está, não entendeu ainda de que é feita a crise. E como a crise é feita exatamente da persistência dessa obtusidade; dessa incapacidade de entender que os fatos não atendem chamadas à ordem unida nem com mandados expedidos pelos solertes ministros do colendo Supremo Tribunal Federal, com mais crise ficamos cada vez que eles se movem.
O problema real está identificado e admitido desde o momento em que se aceitou sem aceitar a subida de Joaquim Levy ao palco. Ele demonstrou matematicamente à Dilma e ao PT que não ha como reduzir o tamanho da diferença entre o que se gasta e o que se arrecada até o ponto que se requer para ressuscitar a economia sem reduzir drasticamente o tamanho desse Estado que foi dado em pagamento à militância do partido e seus associados e à nova “nobreza” que acha que R$ 120 mil/mes por “cliente” disputando o seu quinhão é “um preço irrisório para emprestar o seu prestígio” às sucessivas operações de compra de eleições, de “governabilidade” e de boladas de dinheiro público dos últimos 13 anos. Desde então a perspectiva de perder dedos e anéis os têm mantido, a todos, paralisados.
São incontáveis as formas de parasitismo que explicam como um país tão rico quanto o Brasil pode ficar tão pobre. Para efeito dos procedimentos de emergência para a reanimação cardiorrespiratória de uma economia em colapso teriam de ser abordadas ao menos as quatro grandes “contas do apocalipse”: a da Previdência (com rombo indo de 58 para 85 bi/ano), a da desordem tributária (passando de 2 tri em 2015), a da obesidade mórbida da folha de pagamentos da União (129 bi em 2015) e a do estupro “trabalhista” sistemático do empregador brasileiro (passando a casa dos 60 a 70 bi/ano).
A esta altura o PT inteiro já entendeu que o país não se salva sem mexer profundamente nisso. Mas como o partido é dominado por velhotes encantados com o que o poder tem feito pela qualidade dos seus fins de semana – “et aprés leur, le déluge” – os que olham para horizontes mais longos, ainda conservam pruridos de outra natureza e contemplam a ideia de recuar dois ou tres passos em favor dos miseráveis do Brasil só reunem coragem para, quando muito, balbuciar quase propostas que, invariavelmente, engolem de volta ao primeiro “Quiéquiéissocompanheiro”?! dos espertalhões que conhecem-lhes a suscetibilidade ao fraco pavloviano estilo baixo século 20 que lhes foi incutido na faculdade. E aí, mais um milhão de famílias são atiradas ao pântano da insegurança alimentar, mais uns tantos bilhões de reais deixam de ser arrecadados, a pena retroativa a trabalhos forçados da nação salta dos 10 para os 20 anos, e o “debate político” fica reduzido à especulação sobre se quem está montando as apresentações da “presidenta” sobre “aquilo de que não se ousa dizer o nome” à “sociedade civil” nacional e estrangeira é o Nelson Barbosa ou o João Santana…
O país está diante de opções de urgência urgentíssima sobre as quais, até ha bem pouco tempo, não se podia sequer cogitar. Ocorre que o fogo se alastrou até àquele ponto em que pular da janela torna-se a única opção segura e esse momento encontra o PT na rara contingência de só poder fazer oposição a si mesmo, o que põe as pessoas certas nas posições certas em matéria de “condições objetivas” de se quebrar velhos tabus.
Dilma abraçou a causa da reforma da Previdência pelo estabelecimento de uma idade mínima. Falta dizer qual para que a discussão comece, é verdade, mas a causa já está abraçada. Abraçou também a da desvinculação das verbas orçamentárias que torna outras contas “mexíveis”. Tudo isso era impensável até pouco antes dela aprender a dizer “por favor”, o que comprova que o que tem de acontecer tem mesmo muita força.
É daí para a frente, porém, que a conversa descamba para duas determinações em tom anterior ao milagre dos “pedidos encarecidos”: ela quer porque quer mais uma CPMF e repete sem parar que qualquer medida do ajuste “tem de respeitar direitos adquiridos”. Isso coloca o Brasil e o PT em campos opostos. Quem tem “direitos adquiridos” no Brasil é o setor público e o setor público é o PT. O que caracateriza esta crise é extatamente a ultrapassagem de todos os limites, por efeito de acumulação, do maior e mais injusto desses “direitos” que é o de fabricar crises sem sofre-las. Não ha saída, portanto, sem a revisão do conceito mesmo de “direito adquirido” pois, tanto quanto o de “igualdade perante a lei”, o antídoto inventado no século 18 exatamente para substituir pelo “merecimento” a legitimação dos direitos que hoje se “adquire” por outorga de privilégio contra cumplicidade com o crime, o conceito de “direito adquirido” é como a virgindade. “Direito adquirido” e “igualdade perante a lei” são coisas que se excluem mutuamente por definição; qualquer um dos dois ou se tem ou não se tem.
Mais uma CPMF? Depois das quantas que já nos arrancaram via o escorcho do petroleo barato com gasolina cara, da eletricidade multiplicada por três, da falta de correção do IR e da “derrama” geral que a cada dia anuncia mais um tiro nos empregos que sobram? E pra quê, se não se tapar antes o ralo?
A discussão, dentro do PT, é sobre um Brasil resumido a Brasilia onde só se estabelece quem for selecionado pelo demérito. Ela gira exclusivamente em torno de quem vai pagar essa conta, sendo a sua primeira “condição” a de que aquele Brasil de Brasília não paga um tostão.
Aqui fora, onde todos são avaliados online, minuto a minuto, e só se estabelece quem foi selecionado pelo mérito numa disputa planetária, a discussão é como sobreviver até amanhã carregando o outro nas costas cagando-lhe incessantemente regras que ele próprio não cumpre, por baixo de um cartaz que ameaça com dois anos de prisão quem reclamar do mau serviço que lhe for intrujado.
Continuar com isso mais tres anos é puro suicídio.
São incontáveis as formas de parasitismo que explicam como um país tão rico quanto o Brasil pode ficar tão pobre. Para efeito dos procedimentos de emergência para a reanimação cardiorrespiratória de uma economia em colapso teriam de ser abordadas ao menos as quatro grandes “contas do apocalipse”: a da Previdência (com rombo indo de 58 para 85 bi/ano), a da desordem tributária (passando de 2 tri em 2015), a da obesidade mórbida da folha de pagamentos da União (129 bi em 2015) e a do estupro “trabalhista” sistemático do empregador brasileiro (passando a casa dos 60 a 70 bi/ano).
A esta altura o PT inteiro já entendeu que o país não se salva sem mexer profundamente nisso. Mas como o partido é dominado por velhotes encantados com o que o poder tem feito pela qualidade dos seus fins de semana – “et aprés leur, le déluge” – os que olham para horizontes mais longos, ainda conservam pruridos de outra natureza e contemplam a ideia de recuar dois ou tres passos em favor dos miseráveis do Brasil só reunem coragem para, quando muito, balbuciar quase propostas que, invariavelmente, engolem de volta ao primeiro “Quiéquiéissocompanheiro”?! dos espertalhões que conhecem-lhes a suscetibilidade ao fraco pavloviano estilo baixo século 20 que lhes foi incutido na faculdade. E aí, mais um milhão de famílias são atiradas ao pântano da insegurança alimentar, mais uns tantos bilhões de reais deixam de ser arrecadados, a pena retroativa a trabalhos forçados da nação salta dos 10 para os 20 anos, e o “debate político” fica reduzido à especulação sobre se quem está montando as apresentações da “presidenta” sobre “aquilo de que não se ousa dizer o nome” à “sociedade civil” nacional e estrangeira é o Nelson Barbosa ou o João Santana…
O país está diante de opções de urgência urgentíssima sobre as quais, até ha bem pouco tempo, não se podia sequer cogitar. Ocorre que o fogo se alastrou até àquele ponto em que pular da janela torna-se a única opção segura e esse momento encontra o PT na rara contingência de só poder fazer oposição a si mesmo, o que põe as pessoas certas nas posições certas em matéria de “condições objetivas” de se quebrar velhos tabus.
Dilma abraçou a causa da reforma da Previdência pelo estabelecimento de uma idade mínima. Falta dizer qual para que a discussão comece, é verdade, mas a causa já está abraçada. Abraçou também a da desvinculação das verbas orçamentárias que torna outras contas “mexíveis”. Tudo isso era impensável até pouco antes dela aprender a dizer “por favor”, o que comprova que o que tem de acontecer tem mesmo muita força.
É daí para a frente, porém, que a conversa descamba para duas determinações em tom anterior ao milagre dos “pedidos encarecidos”: ela quer porque quer mais uma CPMF e repete sem parar que qualquer medida do ajuste “tem de respeitar direitos adquiridos”. Isso coloca o Brasil e o PT em campos opostos. Quem tem “direitos adquiridos” no Brasil é o setor público e o setor público é o PT. O que caracateriza esta crise é extatamente a ultrapassagem de todos os limites, por efeito de acumulação, do maior e mais injusto desses “direitos” que é o de fabricar crises sem sofre-las. Não ha saída, portanto, sem a revisão do conceito mesmo de “direito adquirido” pois, tanto quanto o de “igualdade perante a lei”, o antídoto inventado no século 18 exatamente para substituir pelo “merecimento” a legitimação dos direitos que hoje se “adquire” por outorga de privilégio contra cumplicidade com o crime, o conceito de “direito adquirido” é como a virgindade. “Direito adquirido” e “igualdade perante a lei” são coisas que se excluem mutuamente por definição; qualquer um dos dois ou se tem ou não se tem.
A discussão, dentro do PT, é sobre um Brasil resumido a Brasilia onde só se estabelece quem for selecionado pelo demérito. Ela gira exclusivamente em torno de quem vai pagar essa conta, sendo a sua primeira “condição” a de que aquele Brasil de Brasília não paga um tostão.
Aqui fora, onde todos são avaliados online, minuto a minuto, e só se estabelece quem foi selecionado pelo mérito numa disputa planetária, a discussão é como sobreviver até amanhã carregando o outro nas costas cagando-lhe incessantemente regras que ele próprio não cumpre, por baixo de um cartaz que ameaça com dois anos de prisão quem reclamar do mau serviço que lhe for intrujado.
Continuar com isso mais tres anos é puro suicídio.
O Brasil é maior do que o mosquito?
A seis meses das Olimpíadas, quando deveria ser alvo das atenções mundiais e ocupar o noticiário internacional de forma positiva, o Brasil encontra-se no epicentro de uma emergência internacional decretada pela Organização Mundial da Saúde. É algo tão raro e tão grave que a OMS só tomou a mesma atitude em três situações extremas: na gripe suína, no surto de pólio na África do Sul e em países do Oriente Médio, e no surto de ebola no oeste da África.
A letargia e perplexidade das autoridades brasileiras diante da tragédia são bem um espelho da falência do sistema de saúde nesses anos de governo lulopetista.
Especialistas já alertavam, há dois anos, sobre o crescimento populacional do aedes aegypt e dos consequentes perigos para a população. Os números são eloquentes, falam por si. De 2009 a 2015 foram registrados no país cerca de 5,4 milhões de casos de dengue, com duas mil e 300 mortes.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff vendia um país inexistente em sua propaganda eleitoral, o mosquito dizimava brasileiros, alastrava-se pelo país, transmitia dengue, chycungunha e zika.
Combater mosquito não dava voto, daí o governo Dilma nunca ter se empenhado em enfrentar seriamente o vetor. Ao contrário, os recursos repassados às prefeituras tiveram redução de 60% entre 2013 e 2015, segundo o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Tavares. Ou seja, enquanto os casos e óbitos de dengue tinham um aumento recorde, a verba destinada ao combate do mosquito transmissor caiu de R$ 366,4 milhões para R$ 143,7 milhões.
Só quando mães desesperadas chegaram à rede de saúde pública com bebês microcéfalos no colo é que o governo começou a desconfiar do efeito devastador do zika vírus. E de forma atabalhoada, em meio a enorme bate-cabeças. Não vamos aqui relembrar os desastrados dizeres do ministro da Saúde, Marcelo Castro, ora em ataques à inteligência, ora em constrangedores sincericídios.
Mas não pode passar batida a declaração do chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, segundo a qual o governo encara “com absoluta perplexidade” a situação da saúde pública no Brasil, com a proliferação dos casos de zika vírus.
Se o governo está perplexo, como estão as mães dos bebês deformados pela microcefalia? E como estão as mulheres grávidas dependentes de uma rede onde faltam leitos, medicamentos, tratamentos importantes como hemodiálise, radioterapia, quimioterapia e até atendimentos básicos?
Não, não temos uma rede pública de saúde com capacidade para enfrentar uma emergência global, por melhores e mais dedicados que sejam os profissionais da área. Temos uma contradição que o lulopetismo não equacionou. A concepção do Sistema Único de Saúde, consagrada na Constituição de 1988, é avançadíssima, mas os serviços prestados aos brasileiros são de péssima qualidade. Daí o refúgio, de quem pode, para os planos de saúde privados.
Sim, o lulopetismo foi na contramão do que fizeram os países que experimentaram o “socialismo real” e a social-democracia. Em vez de universalizar serviços básicos de qualidade como a saúde, promoveu o “distributivismo direto”, priorizou o consumo e incentivos fiscais seletivos. Não investiu em saneamento básico. Condenou o Brasil a continuar sendo sujeito a epidemias típicas do terceiro mundo. A ser o país do aedes aegypti.
Vamos ser claros: o PT não disse a que veio, na área da saúde. Algum dos seus ministros da Saúde marcou época? Algum deles pode ser comparado a Jamil Haddad, Adib Jatene ou José Serra?
A tragédia está aí, estampada nos lares de milhões de brasileiros. Para enfrentá-la, os marqueteiros de Dilma já criaram seu slogan: “O Brasil é maior do que o mosquito”.
Algo tão vazio quanto “Pátria Educadora”.
A letargia e perplexidade das autoridades brasileiras diante da tragédia são bem um espelho da falência do sistema de saúde nesses anos de governo lulopetista.
Especialistas já alertavam, há dois anos, sobre o crescimento populacional do aedes aegypt e dos consequentes perigos para a população. Os números são eloquentes, falam por si. De 2009 a 2015 foram registrados no país cerca de 5,4 milhões de casos de dengue, com duas mil e 300 mortes.
Combater mosquito não dava voto, daí o governo Dilma nunca ter se empenhado em enfrentar seriamente o vetor. Ao contrário, os recursos repassados às prefeituras tiveram redução de 60% entre 2013 e 2015, segundo o presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital Tavares. Ou seja, enquanto os casos e óbitos de dengue tinham um aumento recorde, a verba destinada ao combate do mosquito transmissor caiu de R$ 366,4 milhões para R$ 143,7 milhões.
Só quando mães desesperadas chegaram à rede de saúde pública com bebês microcéfalos no colo é que o governo começou a desconfiar do efeito devastador do zika vírus. E de forma atabalhoada, em meio a enorme bate-cabeças. Não vamos aqui relembrar os desastrados dizeres do ministro da Saúde, Marcelo Castro, ora em ataques à inteligência, ora em constrangedores sincericídios.
Mas não pode passar batida a declaração do chefe da Casa Civil, Jacques Wagner, segundo a qual o governo encara “com absoluta perplexidade” a situação da saúde pública no Brasil, com a proliferação dos casos de zika vírus.
Se o governo está perplexo, como estão as mães dos bebês deformados pela microcefalia? E como estão as mulheres grávidas dependentes de uma rede onde faltam leitos, medicamentos, tratamentos importantes como hemodiálise, radioterapia, quimioterapia e até atendimentos básicos?
Não, não temos uma rede pública de saúde com capacidade para enfrentar uma emergência global, por melhores e mais dedicados que sejam os profissionais da área. Temos uma contradição que o lulopetismo não equacionou. A concepção do Sistema Único de Saúde, consagrada na Constituição de 1988, é avançadíssima, mas os serviços prestados aos brasileiros são de péssima qualidade. Daí o refúgio, de quem pode, para os planos de saúde privados.
Sim, o lulopetismo foi na contramão do que fizeram os países que experimentaram o “socialismo real” e a social-democracia. Em vez de universalizar serviços básicos de qualidade como a saúde, promoveu o “distributivismo direto”, priorizou o consumo e incentivos fiscais seletivos. Não investiu em saneamento básico. Condenou o Brasil a continuar sendo sujeito a epidemias típicas do terceiro mundo. A ser o país do aedes aegypti.
Vamos ser claros: o PT não disse a que veio, na área da saúde. Algum dos seus ministros da Saúde marcou época? Algum deles pode ser comparado a Jamil Haddad, Adib Jatene ou José Serra?
A tragédia está aí, estampada nos lares de milhões de brasileiros. Para enfrentá-la, os marqueteiros de Dilma já criaram seu slogan: “O Brasil é maior do que o mosquito”.
Algo tão vazio quanto “Pátria Educadora”.
Para Oslo, não há inocentes
Há um ano no comando da Petrobras, o administrador Aldemir Bendine ainda não conseguiu reverter o ceticismo de investidores sobre os rumos da “nova companhia”, como costuma qualificar. Na quinta-feira passada, viu-se confrontado pela desconfiança.
Enquanto Bendine divulgava no Rio o seu “abrangente, estruturante, complexo e revolucionário” projeto de mudanças administrativas na Petrobras, a 10,4 mil quilômetros de distância, em Oslo, o Banco Central da Noruega anunciava a revisão dos investimentos do país em ações da empresa brasileira “por causa do risco de corrupção grave”.
O governo da Noruega é dono de uma fatia de 0,61% do capital da Petrobras. Comprou ações da estatal , no governo Lula, com o dinheiro de um fundo formado com royalties do petróleo.
O aviso sobre a possível retirada de capital ainda neste ano é importante porque esse fundo norueguês é o maior investidor global. Seus ativos superam US$ 750 bilhões, soma do PIB da Argentina e do Chile, e incluem 1,3% das ações de nove mil empresas relevantes em 75 países.
A reclassificação da Petrobras foi recomendada pelo Conselho de Ética do fundo, depois de seis meses de análises e consultas à administração Bendine. O órgão concluiu que “a Petrobras tem responsabilidade pela corrupção grave”. Alertou sobre “o risco inaceitável” de a empresa ter cometido crimes puníveis na Noruega. Também advertiu sobre o perigo de “atos semelhantes no futuro”, por duvidar que o controle anticorrupção da estatal seja “suficientemente eficaz”.
Cinco conselheiros examinaram provas judiciais sobre subornos pagos a diretores e gerentes: “O alcance da corrupção indica que o resto da direção da empresa deve ter tido conhecimento do que acontecia”, escreveram.
A estatal argumentou ser vítima de crimes cometidos por ex-empregados. Eles refutaram: “À luz dos fatos, isso dá a impressão de que a empresa nega qualquer responsabilidade.”
A Petrobras vai enfrentar problemas similares nos Estados Unidos, prevê Isabel Franco, especialista na legislação americana anticorrupção. “A diplomacia pode até conseguir que a promotoria peça uma punição mais leve. Mas na SEC (Comissão de Valores Mobiliários), a Petrobras e seus diretores não têm como escapar. Não haveria como explicar aos que já foram punidos.” Na lista de sanções da SEC por corrupção destacam-se Siemens, Alstom, Halliburton, BAE, Total e Alcoa, entre outras.
Em Oslo, quatro grupos (Sevan, Akastor, Uglands e Acergy) começaram 2016 sob investigação por suspeita de pagamento de US$ 43 milhões em propinas ao ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o gerente Eduardo Musa, condenados ontem em Curitiba.
A procuradora norueguesa Marianne Djupesland rastreia pagamentos a Zelada e Musa feitos pelos brasileiros, Raul Schmidt Felippe Jr. e João Henriques, e pelo francês Miloud Alain Hassene Daouadji.
A dimensão extraterritorial da corrupção na Petrobras fez o Conselho de Ética do fundo sugerir às autoridades da Noruega que considerem o caso como paradigma, um “sinal claro para o Brasil e o resto do mundo” de que “ninguém vai ficar sozinho — nem os executivos seniores, nem os melhores políticos, nem os funcionários públicos.”
Bendine precisa ser mais eficaz para erguer a “nova companhia”, como imagina.
Enquanto Bendine divulgava no Rio o seu “abrangente, estruturante, complexo e revolucionário” projeto de mudanças administrativas na Petrobras, a 10,4 mil quilômetros de distância, em Oslo, o Banco Central da Noruega anunciava a revisão dos investimentos do país em ações da empresa brasileira “por causa do risco de corrupção grave”.
O aviso sobre a possível retirada de capital ainda neste ano é importante porque esse fundo norueguês é o maior investidor global. Seus ativos superam US$ 750 bilhões, soma do PIB da Argentina e do Chile, e incluem 1,3% das ações de nove mil empresas relevantes em 75 países.
A reclassificação da Petrobras foi recomendada pelo Conselho de Ética do fundo, depois de seis meses de análises e consultas à administração Bendine. O órgão concluiu que “a Petrobras tem responsabilidade pela corrupção grave”. Alertou sobre “o risco inaceitável” de a empresa ter cometido crimes puníveis na Noruega. Também advertiu sobre o perigo de “atos semelhantes no futuro”, por duvidar que o controle anticorrupção da estatal seja “suficientemente eficaz”.
Cinco conselheiros examinaram provas judiciais sobre subornos pagos a diretores e gerentes: “O alcance da corrupção indica que o resto da direção da empresa deve ter tido conhecimento do que acontecia”, escreveram.
A estatal argumentou ser vítima de crimes cometidos por ex-empregados. Eles refutaram: “À luz dos fatos, isso dá a impressão de que a empresa nega qualquer responsabilidade.”
A Petrobras vai enfrentar problemas similares nos Estados Unidos, prevê Isabel Franco, especialista na legislação americana anticorrupção. “A diplomacia pode até conseguir que a promotoria peça uma punição mais leve. Mas na SEC (Comissão de Valores Mobiliários), a Petrobras e seus diretores não têm como escapar. Não haveria como explicar aos que já foram punidos.” Na lista de sanções da SEC por corrupção destacam-se Siemens, Alstom, Halliburton, BAE, Total e Alcoa, entre outras.
Em Oslo, quatro grupos (Sevan, Akastor, Uglands e Acergy) começaram 2016 sob investigação por suspeita de pagamento de US$ 43 milhões em propinas ao ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada e o gerente Eduardo Musa, condenados ontem em Curitiba.
A procuradora norueguesa Marianne Djupesland rastreia pagamentos a Zelada e Musa feitos pelos brasileiros, Raul Schmidt Felippe Jr. e João Henriques, e pelo francês Miloud Alain Hassene Daouadji.
A dimensão extraterritorial da corrupção na Petrobras fez o Conselho de Ética do fundo sugerir às autoridades da Noruega que considerem o caso como paradigma, um “sinal claro para o Brasil e o resto do mundo” de que “ninguém vai ficar sozinho — nem os executivos seniores, nem os melhores políticos, nem os funcionários públicos.”
Bendine precisa ser mais eficaz para erguer a “nova companhia”, como imagina.
Falta à humildade de Dilma um quê de contrição
Ninguém quer ver Dilma Rousseff ajoelhando para pedir perdão. Nem de uma gestora em apuros se esperaria semelhante teatro. Mas esta presidente é culpada pela crise econômica que carcome a sua credibilidade. E não obterá a “parceria'' que reivindica enquanto não abandonar a convicção segundo a qual a crise é “internacional”, seus efeitos sobre o Brasil serão “transitórios” e tudo terminará bem porque seu governo dispõe de uma “agenda”.
Dilma foi ao Congresso. Entregou pessoalmente a mensagem do Executivo com as prioridades que defenderá no Legislativo em 2016. O ministro Jaques Wagner disse que a presença da presidente entre os congressistas foi um gesto de “humildade”. O presidente do Congresso, Renan Calheiros, declarou que não é hora de apontar responsabilidades, mas de buscar soluções. Avaliou que Dilma abriu-se para o diálogo.
Humildade? Nenhum movimento dramático seria necessário se a Dilma que cumpre seu segundo mandato já tivesse reconhecido que a Dilma dos primeiros quatro anos foi uma administradora precária. Diálogo? Sem uma boa contrição, dificilmente se estabelecerá uma comunicação sincera entre Dilma e o Congresso.
São notáveis as escolhas que Dilma não fez quando tinha popularidade, base congressual e poder para realizá-las. Ainda que se desconsidere o governo Lula, período em que madame mandou na economia desde 2006, quando Antonio Pallocci se auto-implodiu, há o tempo já decorrido de sua própria administração.
Depois de mais de cinco anos de nenhuma responsabilidade fiscal, de absoluta negligência com o rombo crescente da Previdência, e de um mal disfarçado autoritarismo gerencial, conclui-se: ou a humildade de Dilma é falsa ou a presunção de autossuficiência a impede de reconhecer que também está sujeita à condição humana.
Fragmento de homem
Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras
E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em "cadáver adiado que procria", como poderia a arte deixar de refletir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida?
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição, morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem! Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral, que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto reduzir o homem a um fragmento do homem. Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão.
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
A crise e seu espetáculo
Como é possível um governo lambuzado em dezenas de casos de corrupção, e tendo o seu principal líder acusado de graves crimes, continuar agindo e dirigindo os negócios públicos como se o país vivesse em plena bonança econômica e respeito aos valores republicanos? Vivemos uma situação anômala.
O mais estranho é que os dias vão passando, as crises — pois são várias — vão se sucedendo e se aprofundando, mas nada muda. Nada no sentido da interrupção deste perverso processo. É como se estivéssemos condenados ao fogo eterno, cada vez mais quente e mais devastador.
A sucessão das denúncias e as condenações na operação Lava-Jato — quase uma centena, até agora — são recebidas como algo natural, parte intrínseca da política. Diversamente dos Estados Unidos, o nosso destino manifesto seria conviver com a corrupção.
Sempre teria sido assim — e sempre será assim. O que em outros países encerraria a carreira de um político aqui passou a ser entendido como um ato falho, de falta de esperteza.
Não é preciso ir muito longe na nossa história ou buscar formas metafóricas para tratar da conjuntura brasileira e de seus personagens. As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição e nem na contemporaneidade ocidental.
Isto porque, além dos indícios de ocultação de patrimônio denunciados pelo Ministério Público, são estabelecidas relações com o maior desvio de recursos de uma empresa pública da história, o petrolão. E que levaram a Petrobras a uma situação pré-falimentar.
Lula continua agindo como se vivesse em um país imaginário e que sobre ele não pesasse nenhuma acusação ou — o que é pior — fosse inimputável. Quando disse que era a alma mais honesta do Brasil, a afirmação foi recebida como chacota. Mas não: ele acredita que é intocável, como os nossos imperadores de acordo com a Constituição de 1824 — ressaltando, claro, que nenhum deles, Pedro I ou Pedro II, cometeram ilícitos da magnitude do petrolão.
Evidentemente que não imagino que Lula leu a Constituição Imperial. Qual o quê. Não leu nem a de 1988 — penso até em sugerir uma edição exclusiva para ele e, para deixar a árdua tarefa mais palatável, poderia colorir artigo por artigo.
Dilma considera que tudo vai bem. Ficou — ou fingiu? — indignada com a avaliação do FMI sobre a economia brasileira. Fala de um Brasil que não existe. As entrevistas com os jornalistas, às sextas-feiras, foram patéticas — patéticos também foram os jornalistas: alguns tiram selfies com a presidente.
Estamos na maior depressão econômica da nossa história, e Dilma age como se tivéssemos crescendo a ritmo chinês. A reunião do tal Conselhão — que não tem legalidade constitucional; o que há na Constituição é o Conselho da República, que nunca foi convocado por ela — foi mais um exemplo de dissociação entre o mundo imaginado pela presidente e o cenário de caos econômico que vivemos. O mais patético foram os representantes empresariais que compareceram e legitimaram a farsa.
Teremos um 2016 onde as crises ética e econômica vão se agravar. A Lava-Jato — e outras eventuais operações da Polícia Federal — deverão devassar ainda mais os crimes deste triste método de governança adotado desde 1º de janeiro de 2003.
Tudo indica que a economia deve ter um desempenho igual ou pior que 2015, ou seja, a recessão deve chegar a um resultado negativo do PIB próximo de 4%. É como se assistíssemos a um naufrágio de dentro do navio, com acesso aos botes salva-vidas, mas sem que façamos qualquer movimento, inertes, passivos, quase que um suicídio histórico.
O projeto criminoso de poder ainda tem muita lenha para queimar. E estão queimando. Destruíram a maior empresa brasileira. Atacaram com voracidade os fundos de pensão dos bancos e empresas estatais.
Agora, estão solapando as bases do FGTS com a complacência das centrais sindicais pelegas. Possuem uma ampla base de apoio que é sustentada pelo saque do Estado. A burguesia petista ainda tem os bancos e benesses oficiais como suas propriedades. Os sindicatos nunca tiveram tanto dinheiro, produto do famigerado imposto sindical.
Os tais movimentos sociais sobrevivem com generosas dotações governamentais sem que haja qualquer controle da utilização destes recursos. E são milhares de sindicatos e associações. Isto sem falar em outros setores, como os blogueiros e jornalistas amestrados, os artistas — em tempo: o que Chico Buarque acha do triplex e do sítio do Lula? São tenebrosas transações? Pseudointelectuais et caterva.
Estamos em meio a uma selva escura. E, pior, sem que um Virgílio nos conduza. Fazer o quê? Este é o paradoxo que vivemos. O projeto criminoso de poder nunca esteve tão debilitado, desmoralizado. Sobrevive porque não encontra obstáculos na estrutura legal do Estado — as instituições, diferentemente do que dizem as Polianas, não funcionam —, e inexiste uma oposição política digna deste nome.
Há esforços isolados, quando muito. Os líderes oposicionistas não estão à altura do momento histórico. São fracos, dispersivos. Não gostam de serem obrigados a ter de enfrentar o governo e seus asseclas. Preferem o ócio, a conciliação parlamentar. Acreditam que a Lava-Jato e a gravidade da crise econômica vão, por si só, derrotar a quadrilha que tomou conta do aparelho de Estado.
Não entenderam que, assim como o hábito não faz o monge, a crise pode não conduzir mecanicamente a uma queda imediata do petismo. Pode sim empurrar o Brasil para uma depressão econômico-social nunca vista na nossa história. E quando forem assumir o governo, só haverá ruínas.
Marco Antonio Villa
O mais estranho é que os dias vão passando, as crises — pois são várias — vão se sucedendo e se aprofundando, mas nada muda. Nada no sentido da interrupção deste perverso processo. É como se estivéssemos condenados ao fogo eterno, cada vez mais quente e mais devastador.
A sucessão das denúncias e as condenações na operação Lava-Jato — quase uma centena, até agora — são recebidas como algo natural, parte intrínseca da política. Diversamente dos Estados Unidos, o nosso destino manifesto seria conviver com a corrupção.
Sempre teria sido assim — e sempre será assim. O que em outros países encerraria a carreira de um político aqui passou a ser entendido como um ato falho, de falta de esperteza.
Não é preciso ir muito longe na nossa história ou buscar formas metafóricas para tratar da conjuntura brasileira e de seus personagens. As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição e nem na contemporaneidade ocidental.
Isto porque, além dos indícios de ocultação de patrimônio denunciados pelo Ministério Público, são estabelecidas relações com o maior desvio de recursos de uma empresa pública da história, o petrolão. E que levaram a Petrobras a uma situação pré-falimentar.
Lula continua agindo como se vivesse em um país imaginário e que sobre ele não pesasse nenhuma acusação ou — o que é pior — fosse inimputável. Quando disse que era a alma mais honesta do Brasil, a afirmação foi recebida como chacota. Mas não: ele acredita que é intocável, como os nossos imperadores de acordo com a Constituição de 1824 — ressaltando, claro, que nenhum deles, Pedro I ou Pedro II, cometeram ilícitos da magnitude do petrolão.
Evidentemente que não imagino que Lula leu a Constituição Imperial. Qual o quê. Não leu nem a de 1988 — penso até em sugerir uma edição exclusiva para ele e, para deixar a árdua tarefa mais palatável, poderia colorir artigo por artigo.
Dilma considera que tudo vai bem. Ficou — ou fingiu? — indignada com a avaliação do FMI sobre a economia brasileira. Fala de um Brasil que não existe. As entrevistas com os jornalistas, às sextas-feiras, foram patéticas — patéticos também foram os jornalistas: alguns tiram selfies com a presidente.
Estamos na maior depressão econômica da nossa história, e Dilma age como se tivéssemos crescendo a ritmo chinês. A reunião do tal Conselhão — que não tem legalidade constitucional; o que há na Constituição é o Conselho da República, que nunca foi convocado por ela — foi mais um exemplo de dissociação entre o mundo imaginado pela presidente e o cenário de caos econômico que vivemos. O mais patético foram os representantes empresariais que compareceram e legitimaram a farsa.
Teremos um 2016 onde as crises ética e econômica vão se agravar. A Lava-Jato — e outras eventuais operações da Polícia Federal — deverão devassar ainda mais os crimes deste triste método de governança adotado desde 1º de janeiro de 2003.
Tudo indica que a economia deve ter um desempenho igual ou pior que 2015, ou seja, a recessão deve chegar a um resultado negativo do PIB próximo de 4%. É como se assistíssemos a um naufrágio de dentro do navio, com acesso aos botes salva-vidas, mas sem que façamos qualquer movimento, inertes, passivos, quase que um suicídio histórico.
O projeto criminoso de poder ainda tem muita lenha para queimar. E estão queimando. Destruíram a maior empresa brasileira. Atacaram com voracidade os fundos de pensão dos bancos e empresas estatais.
Agora, estão solapando as bases do FGTS com a complacência das centrais sindicais pelegas. Possuem uma ampla base de apoio que é sustentada pelo saque do Estado. A burguesia petista ainda tem os bancos e benesses oficiais como suas propriedades. Os sindicatos nunca tiveram tanto dinheiro, produto do famigerado imposto sindical.
Os tais movimentos sociais sobrevivem com generosas dotações governamentais sem que haja qualquer controle da utilização destes recursos. E são milhares de sindicatos e associações. Isto sem falar em outros setores, como os blogueiros e jornalistas amestrados, os artistas — em tempo: o que Chico Buarque acha do triplex e do sítio do Lula? São tenebrosas transações? Pseudointelectuais et caterva.
Estamos em meio a uma selva escura. E, pior, sem que um Virgílio nos conduza. Fazer o quê? Este é o paradoxo que vivemos. O projeto criminoso de poder nunca esteve tão debilitado, desmoralizado. Sobrevive porque não encontra obstáculos na estrutura legal do Estado — as instituições, diferentemente do que dizem as Polianas, não funcionam —, e inexiste uma oposição política digna deste nome.
Há esforços isolados, quando muito. Os líderes oposicionistas não estão à altura do momento histórico. São fracos, dispersivos. Não gostam de serem obrigados a ter de enfrentar o governo e seus asseclas. Preferem o ócio, a conciliação parlamentar. Acreditam que a Lava-Jato e a gravidade da crise econômica vão, por si só, derrotar a quadrilha que tomou conta do aparelho de Estado.
Não entenderam que, assim como o hábito não faz o monge, a crise pode não conduzir mecanicamente a uma queda imediata do petismo. Pode sim empurrar o Brasil para uma depressão econômico-social nunca vista na nossa história. E quando forem assumir o governo, só haverá ruínas.
Marco Antonio Villa
Macri e o samba-da-petista-doida
Parrilla
Um dia após assumir a presidência, Macri reuniu-se com candidatos que o enfrentaram nas eleições. Também fez um churrasco para 24 governadores. Excelente maneira de se fazer amigos. Ainda mais quando o corte é argentino. Isso mostra que ele sabe que, num momento de crise, é importante unir as forças políticas do país.
Enquanto isso, o PT de Dilma, no Brasil, utiliza seu tempo de TV para atacar figuras da oposição. Seus defensores, verdadeiros buldogues do governismo, polarizam o debate político berrando insistentemente seus bordões de ódio. Ao invés do diálogo, o discurso de "nós contra eles".
Cobrar menos, arrecadar mais
Macri mostra que é possível fazer ajustes diminuindo impostos. Reduziu de 35% para 30% o imposto de exportação da soja e acabou com o mesmo imposto para carne, milho, trigo, girassol e para as chamadas "economias regionais". Em pouquíssimo tempo, o setor agrícola celebrou um aumento de 100% nas receitas.
Para compensar a diminuição de impostos, o presidente argentino corta gastos e dá exemplo. Cristina Kirchner e sua equipe sempre utilizaram carros importados de luxo. Macri os substituiu por modelos nacionais e mais modestos. Abriu mão de seu salário. O dinheiro será doado para um restaurante comunitário que serve 1.800 pessoas diariamente num bairro pobre de Buenos Aires. Sem cortar gastos, seria demagogia; cortando-os, vira um exemplo.
Menos exemplo, mais cobrança
Já a solução encontrada por Dilma Rousseff é aumentar os gastos e propor novos impostos. Apesar de ter se posicionado contra a CPMF antes das eleições, a presidente agora trata o imposto como uma espécie de panaceia. Felizmente ainda não tem votos para aprova-la. Em 2014, o governo Dilma bateu recorde em gastos secretos com cartões corporativos: R$ 8,7 milhões, o maior valor desde 2001. Neste ano, quase todos os Ministérios preveem aumento de custeio.
Crise para quem?
Em uma de suas idas a Nova York no ano passado, Dilma levou diversos ministros, secretários e até a filha. Todos ficaram num dos hotéis mais luxuosos da cidade. Quando a presidente foi a Paris para participar da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, torraram-se R$ 200 mil com hospedagem e R$ 90 mil com aluguel de carros.
Nem a coxinha ficou de fora do aumento de gastos da presidente. Neste ano, haverá um aumento de 40% nos gastos com pães, biscoitos e salgadinhos que abastecem o Palácio do Planalto. Repito uma das perguntas preferidas dos petistas: "Crise pra quem?".
Imprensa livre
Macri derrubou um dos símbolos da política kirchnerista, a lei contra a concentração dos meios de comunicação audiovisuais, que obrigava o principal veículo da imprensa, o Clarín, a diminuir seu investimento na área. Liberdade de imprensa.
Imprensa golpista!
No Brasil, vândalos depredaram a sede do grupo Abril, que edita a revista Veja. O ataque foi uma reação a uma matéria que denunciou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula "sabiam de tudo" em relação ao petrolão. Além disso, o governo insiste em querer regular a imprensa, ou, como líderes do PT dizem, "democratizar a mídia".
Hermanos decolando
O presidente argentino foi ao Fórum Econômico Mundial, em Davos. Viajou com sua equipe num avião comercial. Voltou de lá com a garantia do presidente da Coca-Cola de que a Argentina receberá um investimento de US$ 1 bilhão.
Discurso e cofres vazios
Dilma não foi ao encontro. No seu lugar, compareceu o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que fez alguns discursos sobre "mudanças estruturais" que "precisam ser discutidas" e defendeu a recriação da CPMF. Voltou com tapinhas nas costas.
Nova liderança
O governo de Macri ajuda até o nosso pais. Recentemente, a Argentina chegou a um acordo com seus sócios (Brasil, Uruguai, Paraguai e inclusive Venezuela) para impulsionar as negociações com União Europeia, Japão, Canadá, Rússia e Índia.
Fala que eu te escuto
Macri também erra. Nomeou por decreto dois juízes da Corte Suprema, alegando que seria importante ocupar cadeiras vagas. A lei argentina permite, mas a democracia se ofende. Duramente criticado, voltou atrás. Erra e se corrige.
Tudo invenção dos golpistas
Já a nossa presidente, cujos erros são incontáveis, nunca recua. Prefere chamar seus críticos de "golpistas" e agir como se Brasil estivesse uma maravilha.
Amigos da Rainha
"Ah, mas esse mauricinho neoliberal com certeza tirou a comida da mesa dos pobres!". Será? Macri não mexeu em programas sociais e até aumentou valores repassados por alguns deles. No Brasil, também é possível fazer cortes substanciais sem cortar um centavo do Bolsa Família, que, apesar de toda a propaganda oficial, recebe muito menos recursos do que o Bolsa Empreiteira, o Bolsa Juros, o Bolsa BNDES e o Bolsa Amigos da Rainha.
Eficiente, não exótico
O presidente argentino defende a austeridade no discurso e, tudo indica, a pratica como política de governo. À diferença do uruguaio José Mujica, parece querer convencer pela eficiência, não pelo exotismo.
Meta aberta
Dilma, em seus discursos, defende um tal ajuste fiscal. Saúda a mandioca, lamenta não poder estocar vento e promete dobrar a meta indefinida. Na prática, vive uma vida de luxo e aprova a gastança generalizada de seus ministérios. A hipocrisia não a preocupa. É só passar a conta para o pagador de impostos.
Bolso esquerdo só tem peixe
Macri fez sua campanha dançando –e bem, diga-se. Dilma fez sua campanha mentindo. O que mais se aproxima da presidente no mundo da música é o funk ostentação. Sem a parte do "funk". E com o detalhe do uso de dinheiro público.
Dança
A Argentina é a terra do tango. Dramático. Trágico até. Macri parece preferir a alegria da cúmbia. No Brasil de Dilma, é carnaval o ano todo. O governo toca o samba-da-petista-doida. Nós dançamos.
Kim Kataguiri
Um dia após assumir a presidência, Macri reuniu-se com candidatos que o enfrentaram nas eleições. Também fez um churrasco para 24 governadores. Excelente maneira de se fazer amigos. Ainda mais quando o corte é argentino. Isso mostra que ele sabe que, num momento de crise, é importante unir as forças políticas do país.
Enquanto isso, o PT de Dilma, no Brasil, utiliza seu tempo de TV para atacar figuras da oposição. Seus defensores, verdadeiros buldogues do governismo, polarizam o debate político berrando insistentemente seus bordões de ódio. Ao invés do diálogo, o discurso de "nós contra eles".
Cobrar menos, arrecadar mais
Macri mostra que é possível fazer ajustes diminuindo impostos. Reduziu de 35% para 30% o imposto de exportação da soja e acabou com o mesmo imposto para carne, milho, trigo, girassol e para as chamadas "economias regionais". Em pouquíssimo tempo, o setor agrícola celebrou um aumento de 100% nas receitas.
Para compensar a diminuição de impostos, o presidente argentino corta gastos e dá exemplo. Cristina Kirchner e sua equipe sempre utilizaram carros importados de luxo. Macri os substituiu por modelos nacionais e mais modestos. Abriu mão de seu salário. O dinheiro será doado para um restaurante comunitário que serve 1.800 pessoas diariamente num bairro pobre de Buenos Aires. Sem cortar gastos, seria demagogia; cortando-os, vira um exemplo.
Menos exemplo, mais cobrança
Já a solução encontrada por Dilma Rousseff é aumentar os gastos e propor novos impostos. Apesar de ter se posicionado contra a CPMF antes das eleições, a presidente agora trata o imposto como uma espécie de panaceia. Felizmente ainda não tem votos para aprova-la. Em 2014, o governo Dilma bateu recorde em gastos secretos com cartões corporativos: R$ 8,7 milhões, o maior valor desde 2001. Neste ano, quase todos os Ministérios preveem aumento de custeio.
Crise para quem?
Em uma de suas idas a Nova York no ano passado, Dilma levou diversos ministros, secretários e até a filha. Todos ficaram num dos hotéis mais luxuosos da cidade. Quando a presidente foi a Paris para participar da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, torraram-se R$ 200 mil com hospedagem e R$ 90 mil com aluguel de carros.
Nem a coxinha ficou de fora do aumento de gastos da presidente. Neste ano, haverá um aumento de 40% nos gastos com pães, biscoitos e salgadinhos que abastecem o Palácio do Planalto. Repito uma das perguntas preferidas dos petistas: "Crise pra quem?".
Imprensa livre
Macri derrubou um dos símbolos da política kirchnerista, a lei contra a concentração dos meios de comunicação audiovisuais, que obrigava o principal veículo da imprensa, o Clarín, a diminuir seu investimento na área. Liberdade de imprensa.
Imprensa golpista!
No Brasil, vândalos depredaram a sede do grupo Abril, que edita a revista Veja. O ataque foi uma reação a uma matéria que denunciou que a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula "sabiam de tudo" em relação ao petrolão. Além disso, o governo insiste em querer regular a imprensa, ou, como líderes do PT dizem, "democratizar a mídia".
Hermanos decolando
O presidente argentino foi ao Fórum Econômico Mundial, em Davos. Viajou com sua equipe num avião comercial. Voltou de lá com a garantia do presidente da Coca-Cola de que a Argentina receberá um investimento de US$ 1 bilhão.
Discurso e cofres vazios
Dilma não foi ao encontro. No seu lugar, compareceu o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que fez alguns discursos sobre "mudanças estruturais" que "precisam ser discutidas" e defendeu a recriação da CPMF. Voltou com tapinhas nas costas.
Nova liderança
O governo de Macri ajuda até o nosso pais. Recentemente, a Argentina chegou a um acordo com seus sócios (Brasil, Uruguai, Paraguai e inclusive Venezuela) para impulsionar as negociações com União Europeia, Japão, Canadá, Rússia e Índia.
Fala que eu te escuto
Macri também erra. Nomeou por decreto dois juízes da Corte Suprema, alegando que seria importante ocupar cadeiras vagas. A lei argentina permite, mas a democracia se ofende. Duramente criticado, voltou atrás. Erra e se corrige.
Tudo invenção dos golpistas
Já a nossa presidente, cujos erros são incontáveis, nunca recua. Prefere chamar seus críticos de "golpistas" e agir como se Brasil estivesse uma maravilha.
Amigos da Rainha
"Ah, mas esse mauricinho neoliberal com certeza tirou a comida da mesa dos pobres!". Será? Macri não mexeu em programas sociais e até aumentou valores repassados por alguns deles. No Brasil, também é possível fazer cortes substanciais sem cortar um centavo do Bolsa Família, que, apesar de toda a propaganda oficial, recebe muito menos recursos do que o Bolsa Empreiteira, o Bolsa Juros, o Bolsa BNDES e o Bolsa Amigos da Rainha.
Eficiente, não exótico
O presidente argentino defende a austeridade no discurso e, tudo indica, a pratica como política de governo. À diferença do uruguaio José Mujica, parece querer convencer pela eficiência, não pelo exotismo.
Meta aberta
Dilma, em seus discursos, defende um tal ajuste fiscal. Saúda a mandioca, lamenta não poder estocar vento e promete dobrar a meta indefinida. Na prática, vive uma vida de luxo e aprova a gastança generalizada de seus ministérios. A hipocrisia não a preocupa. É só passar a conta para o pagador de impostos.
Bolso esquerdo só tem peixe
Macri fez sua campanha dançando –e bem, diga-se. Dilma fez sua campanha mentindo. O que mais se aproxima da presidente no mundo da música é o funk ostentação. Sem a parte do "funk". E com o detalhe do uso de dinheiro público.
Dança
A Argentina é a terra do tango. Dramático. Trágico até. Macri parece preferir a alegria da cúmbia. No Brasil de Dilma, é carnaval o ano todo. O governo toca o samba-da-petista-doida. Nós dançamos.
Kim Kataguiri
'Só os deuses podem ver-se uns aos outros'
Calígula reuniu a corte em torno de seu trono para informar que a deusa Lua havia descido do céu e naquele momento preparava-se para beijá-lo. Todos confirmaram e aplaudiram, menos um. O Imperador dos romanos mandou cortar-lhe a cabeça. Antes, indagou do já quase decapitado Vitélio porque não estava vendo o edificante episódio que todos viam. O cortesão salvou-se com a resposta: “só os deuses podem ver-se uns aos outros.”
Guardadas as proporções, repete-se a situação. O PT em peso inclina-se perante o Lula, aceitando sua versão de que não é dono de triplex nenhum, muito menos possui um sítio em Atibaia e nem recebeu propina de empreiteiras para conseguir contratos com governos estrangeiros.
Vitélio está chegando com a resposta na ponta da língua: receber de graça apartamentos triplex, sítios e propina é prerrogativa de ex-presidentes do PT, imperadores que os companheiros devem aplaudir com entusiasmo. É o beijo da deusa Lua, ou melhor, das empreiteiras...
Carlos Chagas
E no país do 'chutômetro'
Eu nunca fui favorável ao impeachment de Dona Dilma, porque sempre achei que seu caso é de interdição por incapacidade civil. Não a incapacidade civil de que trata o Código Civil em seu artigo 1.767. A incapacidade de que falo, na política, é declarada pelo Congresso Nacional, que se resolve no voto, sem pensar em curatela – pois seria necessário, no caso, a indicação de um curador, que poderia ser um pau-mandado do PT, o que significaria trocar seis por meia dúzia...
Uma presidente que não toma conhecimento de que o país está tomado por banqueiros, agiotas, ladrões de casaca – fora da Lava Jato –, que chegam a cobrar juros de 430% ao ano por utilização de cheque especial ou crédito rotativo, e, consequentemente não toma providência para prender essa gente por crime de usura e contravenção contra a economia popular, na forma da Lei 1.521/1951, não pode ser vereadora nem de “currutelas”, quanto mais presidente da República.
Porém, é assim que estamos vivendo, nós, brasileiros... Está ruim viver em um país como o nosso, que mais parece um carro velho, desgovernado pela quebra da barra de direção...
Compreendo, até certo ponto, a incapacidade da presidente para a vida pública, já que demonstrou essa inabilidade também na vida privada. Afinal, como se explicar que uma pessoa equilibrada, no fulgor de seus vinte anos, como no seu caso, tenha saído por aí de metralhadora em punho, para fazer valer seu sonho, possivelmente “robinhoodiano”, de viver numa Sherwood comunista?
Aquele que, estupidamente, se diz o homem mais honesto do mundo deve ter escolhido a candidata por um critério de exclusão, de forma a não deixar dúvida alguma de que foi ele, o tal “honesto em excesso”, que fez sozinho a presidente da República. Não podia ser alguém que se distinguisse na sociedade pela cultura, pelo procedimento, ou por qualquer atributo que pudesse, deixando essa dúvida ferir a vaidade pessoal de um analfabeto.
Digo à presidente o que muitos gostariam de dizer: chute o pau da barraca, assuma sua condição de mulher que precisa ser simples, reconheça suas dificuldades pessoais, peça perdão ao povo brasileiro por sua petulância em fazer o papel de presidente – o mais surpreendente: da República, que muitos acham que é das bananas –, e surpreenda seu criador, reconhecendo que os governos do PT acabaram com nosso orgulho natural de sermos nação de um povo feliz e altaneiro, sem ser pedante e metido a besta. Quebre esse galho pra nós, vai...
Cachaça não é água, não
Lula estava lá. E também Olívio Dutra, o bigodudo gaúcho, bancário do Rio Grande do Sul, depois prefeito de Porto Alegre e governador gaúcho, Jacó Bittar, petroleiro de São Paulo e outros dirigentes sindicais do ABC paulista, Rio, Paraná, Santa Catarina, Minas, Bahia, Pernambuco.
Desde a primeira assembleia um assunto centralizou os debates: o movimento sindical devia ter partido político? As lideranças sindicais deviam entrar para partidos políticos já funcionando ou outros a nascerem?
Lula era totalmente contra. O argumento dele era que os sindicatos eram mais fortes do que os partidos políticos e a política descaracterizava o movimento sindical e desmobilizava os trabalhadores.
Discutimos dois dias. Estávamos lá um grupo de socialistas e trabalhistas (José Talarico, a brilhante advogada Rosa Cardoso, o exemplar João Vicente Goulart, eu, outros). Defendíamos a reorganização dos trabalhistas e socialistas em um só partido liderado pelo incansável Brizola, que saíra do exílio no Uruguai e articulava sua volta em Portugal.
Lula não queria partido nenhum. Mas houve tal pressão de líderes sindicais de outros Estados e Lula balançou. O argumento dele era que os sindicatos poderosos, como os de São Paulo, não precisavam de partidos. Mas, e os mais fracos, que eram mais de 90% no país? No último dia vimos Lula já quase mudando de posição. Afinal, em 10 de fevereiro de 1980, nascia o PT, marco da historia política brasileira. Walmor de Luca devia ter ganho carteirinha de padrinho.
Lembro-me bem de que lá em Criciúma já rouco de falar Lula pediu:
– Me dá minha água.
Veio uma garrafinha de água bem branquinha. Aquela “minha água” me chamou a atenção. Joguei um gole no meu copo. Era cachaça e da boa.
Lula continua o mesmo. Sempre misturando cachaça com água.
Em tempos de Carnaval, a marchinha é inesquecível:
– “Você pensa que cachaça é água/ Cachaça não é água não./ Cachaça vem do alambique/ E água vem do ribeirão”.
Lula é um passarinho do céu, como aqueles da Bíblia, que não fiam nem tecem. A casa de São Bernardo não é dele mas é nela que ele mora. O sitio de Atibaia não é dele mas é nele que ele passa os fins de semana e pesca. O triplex de Guarujá não é de ninguém mas quem pôs o elevador lá foi ele, quem fez a churrasqueira lá foi ele, quem construiu as suítes lá foi ele, quem toma os porres lá é ele, quem paga… quem paga tudo… ah, quem paga tudo é a Madrinha Odebrecht, a Titia OAS, o Vovô Teixeira.
Quando os idealistas se perdem
Olho para a foto de José Dirceu, na capa desta Folha no sábado, 30, cercado de policiais, ralos cabelos brancos, um esgar no rosto que parece um sorriso, ao ser conduzido para prestar depoimento ao juiz Sergio Moro. É réu. Volto quase meio século no tempo e vejo, num canto da memória, José Dirceu trepado a um poste da rua Maria Antônia, arengando à multidão de estudantes que protestava contra a ditadura. Era um subversivo idealista.
Olho para a foto do sítio de Atibaia, reformado por empreiteira para o conforto de Luiz Inácio Lula da Silva, frequentador confesso, talvez proprietário oculto. Um luxo só.
Volto outro tanto no tempo e a memória fotografa o estadinho da Vila Euclides, em São Bernardo do Campo, em que um Lula desalinhado e rude arengava à massa de operários em greve, um tanto por melhores salários, outro tanto contra a ditadura. Era um herói popular.
Fico pensando, no meu canto, em que momento o subversivo idealista se tornou um “profiteur” das amizades com poderosos e ricos a ponto de se tornar réu.
Fico tentando descobrir igualmente em que momento o herói popular dedicou-se a enriquecer a ponto de ter de prestar sucessivos depoimentos sobre imóveis em que empreiteiras puseram mais que um dedo para deixá-los ao gosto do novo rico. Um amigo jornalista me conta que frequentou o antigo sítio de Lula, Los Fubangos, às margens da Billings: “Era fuleiro, pior que o meu”.
Sei que os hidrófobos do antipetismo e do antilulismo dirão que não houve um momento de transformação. Eles sempre teriam sido assim, interessados apenas em arrumar-se na vida.
Não concordo. Se fossem desde sempre “profiteurs”, não teriam arriscado a vida, um no combate à ditadura, outro na luta sindical, sempre áspera e mais ainda em épocas autoritárias.
É verdade que Lula, mesmo antes de ser presidente, acomodou-se ao bem-bom ao aceitar morar de graça em casa de seu amigo, o advogado Roberto Teixeira.
Aí, sim, com alguma condescendência, poder-se-ia admitir que se tratava de um mimo de amigo que, talvez, não embutia a necessidade de retribuição futura.
Agora, não. Todo o mundo — e não só no Brasil – está cansado de saber que os negócios das empreiteiras com o poder público são turvos, para dizer o mínimo. Quase 100% dos escândalos que envolvem políticos mundo afora envolvem também empreiteiras de obras públicas.
No caso específico de Dirceu, tornar-se consultor de Carlos Slim, o bilionário mexicano, é desprezar o fato de que fazer fortuna no México (como em quase toda a América Latina) não é um esporte isento de irregularidades, para dizer o menos.
Não há, até agora, provas conclusivas contra Lula (ao contrário do caso de Dirceu, já condenado no mensalão e, agora, preso pelo petrolão). Mas essa é uma ressalva de caráter puramente jurídico.
Do ponto de vista do comportamento republicano, a promiscuidade comprovada com empreiteiras é um crime que ninguém deveria cometer, menos ainda um antigo herói popular.
O 'Concelhão' ausente
A Presidente Dilma convocou de volta um chamado Conselhão para ouvi-la e apoia-la e no máximo dar conselhos sobre as propostas de seu governo.
Segue o mesmo ritual de seu antecessor, que pelo menos começou a ouvir seu Conselhão ainda quando seu governo estava com popularidade elevada.
Ela repete a mesma experiência no momento em que seu governo demonstra fracasso quase absoluto, mergulhado em crises sob todas as frentes e na véspera da retomada de debate sobre seu impeachment.
Claro que o Conselhão cai no vazio, todos sabendo que foi um golpe de marqueting que já não surte efeito.
Poderia ser diferente se no lugar do -"s" ela usasse o "c"; no lugar de ouvir falsos conselhos sobre o que ela já decidiu ou pensa decidir, tentasse construir um concerto sobre o que o País deseja e pensa.
Mas para isso teria que perder a arrogância, assumir as dificuldades, reconhecer seus erros, ouvir os críticos profundos e até mesmo representantes da oposição. Isto ela não quer; e sua base de apoio, começando com o PT, mas também os outros partidos aliados, também não quer.
É este "Concelhão" que muitos sugerem desde o dia de sua reeleição: pessoas que percebiam o desastre de um governo sem credibilidade, eleito por campanha mentirosa e com falsas promessas, mas com um mandato constitucional por mais quatro anos.
Só com diálogo seria possível criar um concerto que evitasse os riscos de impeachment e a certeza de desastre. Mas, a arrogância não deixou e no lugar de um concerto político de vontades nacionais, continuamos na busca de consertos usando marqueting, como se o problema fosse dar a impressão de que estamos tapando o furo em um pneu, quando nosso problema é mudar o rumo errado que o veículo insiste em seguir sob a condução de um governo perdido pela irresponsabilidade e incompetência, falta de visão de longo prazo, apego ao poder das mãos na direção, mesmo em um rumo errado; ou, ainda pior para o País, achando que o rumo está certo, quando a realidade mostra e todos percebem que estamos no rumo equivocado.
O Brasil precisa de um Conserto e não de falsos concertos pelo marqueting.
Cristovam Buarque
Segue o mesmo ritual de seu antecessor, que pelo menos começou a ouvir seu Conselhão ainda quando seu governo estava com popularidade elevada.
Ela repete a mesma experiência no momento em que seu governo demonstra fracasso quase absoluto, mergulhado em crises sob todas as frentes e na véspera da retomada de debate sobre seu impeachment.
Poderia ser diferente se no lugar do -"s" ela usasse o "c"; no lugar de ouvir falsos conselhos sobre o que ela já decidiu ou pensa decidir, tentasse construir um concerto sobre o que o País deseja e pensa.
Mas para isso teria que perder a arrogância, assumir as dificuldades, reconhecer seus erros, ouvir os críticos profundos e até mesmo representantes da oposição. Isto ela não quer; e sua base de apoio, começando com o PT, mas também os outros partidos aliados, também não quer.
É este "Concelhão" que muitos sugerem desde o dia de sua reeleição: pessoas que percebiam o desastre de um governo sem credibilidade, eleito por campanha mentirosa e com falsas promessas, mas com um mandato constitucional por mais quatro anos.
Só com diálogo seria possível criar um concerto que evitasse os riscos de impeachment e a certeza de desastre. Mas, a arrogância não deixou e no lugar de um concerto político de vontades nacionais, continuamos na busca de consertos usando marqueting, como se o problema fosse dar a impressão de que estamos tapando o furo em um pneu, quando nosso problema é mudar o rumo errado que o veículo insiste em seguir sob a condução de um governo perdido pela irresponsabilidade e incompetência, falta de visão de longo prazo, apego ao poder das mãos na direção, mesmo em um rumo errado; ou, ainda pior para o País, achando que o rumo está certo, quando a realidade mostra e todos percebem que estamos no rumo equivocado.
O Brasil precisa de um Conserto e não de falsos concertos pelo marqueting.
Cristovam Buarque
O inferno são os outros
São sempre os outros. Eles são os culpados. Para os jovens que abordaram Chico Buarque na saída de um restaurante, ele é “um merda”, pois apoia o PT. Os petistas são os outros. Para alguns petistas, os jovens supostamente de direita é que são os outros, são fascistas, pois xingaram Chico após um jantar privado com amigos. Sem dúvida, a atitude dos jovens é autoritária, desrespeitosa. Chico, que nem político é, sofreu injúrias num momento de lazer. Não dá. Não pode.
Mas não dá também para atribuir a quem é contrário ao PT exclusividade em atitudes desse tipo. Petistas às vezes agem de modo opressor e impositivo. Os eleitores de Marina Silva sabem bem. E, em 2014, o ministro Joaquim Barbosa foi hostilizado num bar. Cada caso é um caso: Chico não tem cargo político. Mas, por outro lado, defende sua posição partidária em público. O problema é que, quando os “nossos” fazem as mesmas coisas que os “outros”, não julgamos por um crivo igual. São dois pesos e duas medidas. Não dá. Não pode.
Importa pouco quem são os nossos e quem são os outros para entender o desafio político diante de todos. Importa mais perceber que a crítica está sempre voltada a só um dos grupos: o dos outros, claro. Diante do que ocorreu com Chico Buarque, apenas acusar os “playboys de direita” (se é que eles o são) não adianta. É preciso que os que não são playboys de direita possam identificar, também em si, atitudes similares. E que, isso feito, as repudiem não só nos outros.
Neste ponto, valeria desatrelar a política da moral. Não para desmoralizá-la pela corrupção de seu significado. Mas porque, no âmbito público, não se pode tratar os outros como se fossem o mal e os nossos como se fossem o bem. Isso é uma dualidade moral que diz respeito às intenções das pessoas. O jogo político é mais plural. Ele diz respeito às ações e às palavras. Não interessa o partido: quem age como se agiu com Chico é intrusivo e desrespeitoso com um cidadão.
Defender a vida democrática, nesse sentido, implica acolher a convivência com os outros, os que têm uma posição política diferente da nossa, sem que esses outros sejam considerados uns merdas, sem que eles sejam colocados do lado do mal. “Star Wars” é um ótimo filme, mas política mesmo não se faz apenas contra o lado negro da força. E nem tem jedi. Tem manipulação, interesse, corrupção. Tem briga contra isso, justiça, manifestação, disputa. Tem negociação.
Recentemente, todo mundo tem reclamado que o ódio impera na relação política entre as pessoas. Mas o tom da reclamação parece sempre imputar só ao outro esse ódio. Eu, não. Um pouco como ocorre com a corrupção: ela é sempre a do outro. Já a minha, esta é pequena, é sobrevivência, não tem jeito. O ódio é, ele também, sempre o do outro. Já o meu é justo; afinal, se dirige contra tudo que há de absurdo e errado. Novidade, minha gente: nem todo mundo concorda.
Vamos nos odiar por isso, dizer que os outros são uns merdas? Ou vamos suportar que a diferença institui a realidade democrática? Precisamos deixar de lado clichês, abandonar o gosto por escutar só o que já concordamos. Oposições de opinião não são xingamentos. Diálogo é falar e ouvir. Menos certeza faria bem ao ar político que respiramos. Menos ideologia, autoritarismo. De todos os lados. Política é a arte do dissenso — ao menos quando é democrática.
Pedro Duarte
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