quarta-feira, 14 de dezembro de 2022
Noite de terror em Brasília foi obra de profissionais da subversão
Se tem tromba de elefante, presas de elefante, orelhas de elefante, altura de elefante, vive em grupos como os elefantes e locomove-se como um deles, só pode ser um elefante, concorda?
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Partido Popular, ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, discorda. Segundo ele, pode ser um “black bloc”.
Bolsonaristas acampados à porta do QG do Exército, em Brasília, alguns vestidos com a camisa amarela da Seleção, queimaram carros e ônibus no centro da cidade e depredaram prédios.
Mas não foram eles quem Nogueira viu em ação, foram os “black blocs”, anarquistas e integrantes de movimentos que costumam se juntar para protestar com violência contra o que os incomoda.
Nogueira escreveu no Twitter:
“Eles têm cara de Black Blocs, jeito de Black Blocs, fúria de Black Blocs, cheiro de Black Blocs e violência dos Black Blocs, que não existiram durante todo o governo Bolsonaro. Será coincidência ou a volta deles?”
A última aparição dos “black blocs” por estas bandas foi em junho de 2013, quando engrossaram as manifestações contra o aumento das passagens de ônibus que quase derrubaram o governo Dilma.
Naquela ocasião, ouvi de Eduardo Paes, então prefeito do Rio: “Fomos salvos pelos “black blocs”. Se não fossem eles, os protestos aumentariam e os governos poderiam ser levados de roldão”.
Nogueira não sabe o que fala, mas sabe o que quer dizer: isentar de culpa pela baderna os bolsonaristas golpistas e sugerir que grupos de anarquistas infiltrados e a serviço do PT foram os culpados.
O que aconteceu em Brasília na noite da última segunda-feira, estendeu-se pela madrugada da terça e poderá se repetir até a posse de Lula, foi obra de agentes profissionais da subversão.
Por que as polícias do Distrito Federal não prenderam nenhum? Porque não era para prender, ora. Porque muitos são militares da ativa e da reserva ou parentes do que chamam de “família militar”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do governo do Distrito Federal justificou:
“A SSP/DF destaca que, para redução dos danos e para evitar uma escalada ainda maior dos ânimos, a ação da Polícia Militar se concentrou na dispersão dos manifestantes”.
Enquanto o centro de Brasília pegava fogo, Anderson Torres, ministro da Justiça, jantava. Nogueira disse que cenas como aquelas nunca “existiram durante todo o governo Bolsonaro”. Oi!
O governo Bolsonaro deixou de existir? Quem é o presidente do Brasil até o último minuto do próximo dia 31? Quem ordenou a abertura dos portões do Palácio da Alvorada na noite do domingo?
Os bolsonaristas foram avisados antes da meia-noite do domingo que os portões estavam abertos para quem quisesse acampar nos jardins do palácio, e centenas deles rumaram para lá.
Foram bem tratados ao longo da segunda-feira. Não lhes faltou comida providenciada por Michelle Bolsonaro. No fim da tarde, em rápida aparição, Bolsonaro saudou-os em silêncio.
Enquanto eles voltavam para a porta do QG do Exército, Bolsonaro recepcionou o blogueiro Oswaldo Eustáquio que, com medo de ser preso, pediu refúgio no palácio. Se ainda está lá, não se sabe.
Apenas 5 horas separam o histórico discurso feito pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no ato da diplomação de Lula, do início da baderna.
No discurso, o ministro prometeu punir todos os que antes, durante e depois das eleições atentaram contra a democracia. A resposta planejada nas trevas foi dada de imediato.
O senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Partido Popular, ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro, discorda. Segundo ele, pode ser um “black bloc”.
Bolsonaristas acampados à porta do QG do Exército, em Brasília, alguns vestidos com a camisa amarela da Seleção, queimaram carros e ônibus no centro da cidade e depredaram prédios.
Mas não foram eles quem Nogueira viu em ação, foram os “black blocs”, anarquistas e integrantes de movimentos que costumam se juntar para protestar com violência contra o que os incomoda.
Nogueira escreveu no Twitter:
“Eles têm cara de Black Blocs, jeito de Black Blocs, fúria de Black Blocs, cheiro de Black Blocs e violência dos Black Blocs, que não existiram durante todo o governo Bolsonaro. Será coincidência ou a volta deles?”
A última aparição dos “black blocs” por estas bandas foi em junho de 2013, quando engrossaram as manifestações contra o aumento das passagens de ônibus que quase derrubaram o governo Dilma.
Naquela ocasião, ouvi de Eduardo Paes, então prefeito do Rio: “Fomos salvos pelos “black blocs”. Se não fossem eles, os protestos aumentariam e os governos poderiam ser levados de roldão”.
Nogueira não sabe o que fala, mas sabe o que quer dizer: isentar de culpa pela baderna os bolsonaristas golpistas e sugerir que grupos de anarquistas infiltrados e a serviço do PT foram os culpados.
O que aconteceu em Brasília na noite da última segunda-feira, estendeu-se pela madrugada da terça e poderá se repetir até a posse de Lula, foi obra de agentes profissionais da subversão.
Por que as polícias do Distrito Federal não prenderam nenhum? Porque não era para prender, ora. Porque muitos são militares da ativa e da reserva ou parentes do que chamam de “família militar”.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do governo do Distrito Federal justificou:
“A SSP/DF destaca que, para redução dos danos e para evitar uma escalada ainda maior dos ânimos, a ação da Polícia Militar se concentrou na dispersão dos manifestantes”.
Enquanto o centro de Brasília pegava fogo, Anderson Torres, ministro da Justiça, jantava. Nogueira disse que cenas como aquelas nunca “existiram durante todo o governo Bolsonaro”. Oi!
O governo Bolsonaro deixou de existir? Quem é o presidente do Brasil até o último minuto do próximo dia 31? Quem ordenou a abertura dos portões do Palácio da Alvorada na noite do domingo?
Os bolsonaristas foram avisados antes da meia-noite do domingo que os portões estavam abertos para quem quisesse acampar nos jardins do palácio, e centenas deles rumaram para lá.
Foram bem tratados ao longo da segunda-feira. Não lhes faltou comida providenciada por Michelle Bolsonaro. No fim da tarde, em rápida aparição, Bolsonaro saudou-os em silêncio.
Enquanto eles voltavam para a porta do QG do Exército, Bolsonaro recepcionou o blogueiro Oswaldo Eustáquio que, com medo de ser preso, pediu refúgio no palácio. Se ainda está lá, não se sabe.
Apenas 5 horas separam o histórico discurso feito pelo ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, no ato da diplomação de Lula, do início da baderna.
No discurso, o ministro prometeu punir todos os que antes, durante e depois das eleições atentaram contra a democracia. A resposta planejada nas trevas foi dada de imediato.
Apesar dos violentos e seu vandalismo, a democracia segue seu curso
O vandalismo dos bolsonaristas inconformados com a prisão de um xavante bolsonarista, baderneiro — supostamente convertido ao Evangelho e oficiado pastor quando estava preso por tráfico de drogas —, na noite de segunda-feira, em Brasília, sinaliza muitas coisas, mas não a força suficiente para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Sua diplomação pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes, que determinou a prisão preventiva do índio renegado por sua tribo e a soldo de um fazendeiro do interior paulista, demonstrou que a democracia segue seu curso, com suas pompas e ritos, que consagram o nosso Estado democrático de direito.
O sociólogo Manuel Castells, ministro de Universidades da Espanha — discípulo de Alain Touraine, Michel Foucault e Jürgen Habermas —, destaca que a democracia se constrói em torno de relações de poder social que vão se adaptando à evolução, mas sempre acaba por privilegiar o poder que já está cristalizado nas instituições. E com o poder cristalizado ficando cada vez mais poderoso, mais difícil fica de eliminá-lo ou combatê-lo. Isso acaba por desencorajar a criação de novas representações políticas ao fazer com que o cenário político se mostre cada vez mais dominado por grandes partidos, enraizados há mais tempo.
Partindo dessa premissa, podemos constatar que o tsunami eleitoral de 2018, que levou Bolsonaro ao poder, ao mesmo tempo em que foi resultado do descolamento dos partidos da sociedade, por seu cretinismo parlamentar (que nada mais é do que a defesa dos interesse próprios dos políticos e não das ideias e eleitores que lhes deram origem), representou a derrota dos movimentos cívicos que emergiram da crise do governo Dilma Rousseff em 2013. Esses movimentos não conseguiram dar origem a uma alternativa de poder de caráter liberal. Esvaziados, sua base social foi capturada pelo bolsonarismo, um movimento assumidamente reacionário, cuja atuação reproduz a velha extrema-direita da crise política e da radicalização dos anos 1930.
Agora estamos diante de um novo ciclo, em que o presidente Jair Bolsonaro, líder carismático desses movimentos, perdeu as eleições para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e líder do maior partido de origem operária da história do país, num processo de polarização esquerda versus direita que precisa ser ultrapassado, mas se retroalimenta. Entretanto, há uma diferença fundamental entre Lula e Bolsonaro: o primeiro tem um partido com experiência política e eleitoral, e o segundo, não; lidera uma militância fanatizada e organizada à margem dos partidos que lhe deram governabilidade.
Diria Castells, quem paga esse pato é a sociedade, que se vê longe do sistema político, ao mesmo tempo em que o processo de renovação e evolução política do país fica tolhido pelos partidos dominantes. Mas não sejamos maniqueístas, o outro lado dessa moeda é o fortalecimento das instituições políticas, ainda que por uma "partidocracia". Assim, a virulência verbal e vandalismo dos bolsonaristas-raiz são preocupantes, desnudam a mentalidade fascista de suas lideranças, porém, ao mesmo tempo, revelam um certo desespero diante da força das instituições e do curso da democracia.
A bagunça ocorrida em Brasília no dia da diplomação de Lula estava escrita nas estrelas. Foi orquestrada e mostra as intenções dos grupos golpistas que permanecem à porta dos quartéis, com propósito de impedir a posse do presidente eleito. Mas esse tipo de ação serve também para isolá-los e pôr uma saia justa nos aliados de Bolsonaro que se passam por liberais e flertam com o autoritarismo, bem como as autoridades de segurança cujos serviços de informação sabem o que está se passando. Como um novo ciclo que se abre, esses grupos de extrema-direita, com sinal trocado, se deparam com as mesmas dificuldades dos movimentos cívicos que não conseguiram se integrar ao processo político institucional e se esvaziaram como força eleitoral. A chave do que está ocorrendo é o Centrão.
O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a propósito do momento em que estamos vivendo, numa conversa política entre amigos na segunda-feira, fez uma observação fundamental: precisamos separar a extrema-direita bolsonarista do Centrão ao analisar a força de Bolsonaro. Segundo ele, a sobrevivência dos políticos do Centrão depende da relação com o governo, e não da liderança de Bolsonaro. Por isso mesmo, a construção da governabilidade de Lula passa pela institucionalidade da política, e não pelo confronto nas ruas. Esse seria o jogo dos violentos. Complemento: quando Churchill disse que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras formas que foram experimentadas de tempos em tempos”, estava se referindo à capacidade de a democracia liberal do Ocidente sobreviver às crises que ela própria engendra. Foi mais ou menos o que ouvi de um general no Comando Militar do Planalto às vésperas do 7 de setembro do ano passado: “A democracia é barulhenta, mas tem instituições fortes”.
Em tempo: o presidente Jair Bolsonaro está chocando o ovo de uma serpente natimorta. A correlação de forças políticas, com a derrota eleitoral, está se alterando, porque o governo é a forma mais concentrada de poder e o aparelho burocrático-administrativo já gravita em torno do novo presidente da República e das forças que o apoiam. Os bolsões de resistência no Estado são localizados e estão sendo desnudados, principalmente na área da segurança pública. O que houve em Brasília foi omissão e conivência com os baderneiros, mesmo assim, diante da escalada, chegou uma hora em que a repressão aos manifestantes teve que ser adotada. Não houve prisões de vândalos na segunda-feira, mas serão inevitáveis.
O sociólogo Manuel Castells, ministro de Universidades da Espanha — discípulo de Alain Touraine, Michel Foucault e Jürgen Habermas —, destaca que a democracia se constrói em torno de relações de poder social que vão se adaptando à evolução, mas sempre acaba por privilegiar o poder que já está cristalizado nas instituições. E com o poder cristalizado ficando cada vez mais poderoso, mais difícil fica de eliminá-lo ou combatê-lo. Isso acaba por desencorajar a criação de novas representações políticas ao fazer com que o cenário político se mostre cada vez mais dominado por grandes partidos, enraizados há mais tempo.
Partindo dessa premissa, podemos constatar que o tsunami eleitoral de 2018, que levou Bolsonaro ao poder, ao mesmo tempo em que foi resultado do descolamento dos partidos da sociedade, por seu cretinismo parlamentar (que nada mais é do que a defesa dos interesse próprios dos políticos e não das ideias e eleitores que lhes deram origem), representou a derrota dos movimentos cívicos que emergiram da crise do governo Dilma Rousseff em 2013. Esses movimentos não conseguiram dar origem a uma alternativa de poder de caráter liberal. Esvaziados, sua base social foi capturada pelo bolsonarismo, um movimento assumidamente reacionário, cuja atuação reproduz a velha extrema-direita da crise política e da radicalização dos anos 1930.
Agora estamos diante de um novo ciclo, em que o presidente Jair Bolsonaro, líder carismático desses movimentos, perdeu as eleições para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fundador e líder do maior partido de origem operária da história do país, num processo de polarização esquerda versus direita que precisa ser ultrapassado, mas se retroalimenta. Entretanto, há uma diferença fundamental entre Lula e Bolsonaro: o primeiro tem um partido com experiência política e eleitoral, e o segundo, não; lidera uma militância fanatizada e organizada à margem dos partidos que lhe deram governabilidade.
Diria Castells, quem paga esse pato é a sociedade, que se vê longe do sistema político, ao mesmo tempo em que o processo de renovação e evolução política do país fica tolhido pelos partidos dominantes. Mas não sejamos maniqueístas, o outro lado dessa moeda é o fortalecimento das instituições políticas, ainda que por uma "partidocracia". Assim, a virulência verbal e vandalismo dos bolsonaristas-raiz são preocupantes, desnudam a mentalidade fascista de suas lideranças, porém, ao mesmo tempo, revelam um certo desespero diante da força das instituições e do curso da democracia.
A bagunça ocorrida em Brasília no dia da diplomação de Lula estava escrita nas estrelas. Foi orquestrada e mostra as intenções dos grupos golpistas que permanecem à porta dos quartéis, com propósito de impedir a posse do presidente eleito. Mas esse tipo de ação serve também para isolá-los e pôr uma saia justa nos aliados de Bolsonaro que se passam por liberais e flertam com o autoritarismo, bem como as autoridades de segurança cujos serviços de informação sabem o que está se passando. Como um novo ciclo que se abre, esses grupos de extrema-direita, com sinal trocado, se deparam com as mesmas dificuldades dos movimentos cívicos que não conseguiram se integrar ao processo político institucional e se esvaziaram como força eleitoral. A chave do que está ocorrendo é o Centrão.
O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, a propósito do momento em que estamos vivendo, numa conversa política entre amigos na segunda-feira, fez uma observação fundamental: precisamos separar a extrema-direita bolsonarista do Centrão ao analisar a força de Bolsonaro. Segundo ele, a sobrevivência dos políticos do Centrão depende da relação com o governo, e não da liderança de Bolsonaro. Por isso mesmo, a construção da governabilidade de Lula passa pela institucionalidade da política, e não pelo confronto nas ruas. Esse seria o jogo dos violentos. Complemento: quando Churchill disse que “a democracia é a pior forma de governo, com exceção de todas as outras formas que foram experimentadas de tempos em tempos”, estava se referindo à capacidade de a democracia liberal do Ocidente sobreviver às crises que ela própria engendra. Foi mais ou menos o que ouvi de um general no Comando Militar do Planalto às vésperas do 7 de setembro do ano passado: “A democracia é barulhenta, mas tem instituições fortes”.
Em tempo: o presidente Jair Bolsonaro está chocando o ovo de uma serpente natimorta. A correlação de forças políticas, com a derrota eleitoral, está se alterando, porque o governo é a forma mais concentrada de poder e o aparelho burocrático-administrativo já gravita em torno do novo presidente da República e das forças que o apoiam. Os bolsões de resistência no Estado são localizados e estão sendo desnudados, principalmente na área da segurança pública. O que houve em Brasília foi omissão e conivência com os baderneiros, mesmo assim, diante da escalada, chegou uma hora em que a repressão aos manifestantes teve que ser adotada. Não houve prisões de vândalos na segunda-feira, mas serão inevitáveis.
Locomotiva enferrujada
Olhemos para essa imagem: uma locomotiva puxando uma fileira de carros do trem, cada qual desfraldando uma bandeira, sendo a primeira a que mostra homens e mulheres escolhendo seus representantes nos foros parlamentares e nas cadeiras de comando do poder executivo. Outra imagem: um gráfico com países de elevado produto nacional bruto (soma de todas as suas riquezas), liderando o rol de Nações com melhor índice de desenvolvimento humano e, ao final do desenho, territórios devastados por doenças, fome, violência, mortalidade, barbárie.
Nas duas ilustrações, a mesma leitura: a alavanca que puxa as Nações democráticas e promove o bem-estar das massas é a Educação. Trata-se do escudo que protege os países. A arma usada na tão aclamada revolução das mentes. O exército capaz de transformar territórios assolados por ignorância em prósperas Nações. A força que impulsiona avanços. O motor que faz girar a roda civilizatória. A engrenagem que une os parafusos do progresso. A maquinaria que gera harmonia social. Em suma, o fator responsável pelo Produto Nacional Bruto da Felicidade dos habitantes do planeta.
Contemplemos, agora, nossas plagas tropicais, nessa quadra em que mais de mil pessoas trabalham no chamado “governo de transição”, identificando carências e demandas a serem processadas na administração que terá início em 1º de janeiro de 2023. Diante de números e situações, algumas descritas adiante, a conclusão certamente apontará para esta hipótese: o Brasil carece de uma revolução na área educacional. O presidente eleito Lula da Silva realizará esse empreendimento? Modesto conselho: ensine, presidente, o pescador a pescar. Invista numa nova locomotiva para puxar os trens do desenvolvimento. Escolha a Educação como prioridade número um de seu governo. Medite sobre o quadro.
Há cerca de 48 milhões de pessoas matriculadas no ensino básico. Dados de 2020. O ensino básico, nesse caso, abrange da creche ao ensino médio, incluindo a educação de jovens e adultos. Milhares de alunos, porém, concluem a quarta série sem saber ler nem escrever, muito menos fazer contas. E mais: 35 milhões de brasileiros são até capazes de ler, mas não conseguem entender o significado das palavras. São os analfabetos funcionais. A continuar nesse passo, o Brasil estará condenado a rastejar na sombra de Países que elegem a educação como base do edifício civilizatório, sendo exemplos Reino Unido, Finlândia, Suécia, Canadá, Japão e Coréia do Sul. Os dados negativos se acumulam. Extratos do PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – dão conta de que, entre 2015 e 2019, o país perdeu 46 milhões de leitores. Um desastre. Apenas 50% dos brasileiros têm o hábito de ler.
A crise da educação básica é um fio esgarçado que prende o País à teia do atraso. Discurso sobre a melhoria da qualidade do ensino é o que não falta na boca de governantes e de educadores. Dinheiro? Acabam limpando os recursos da educação. E enchendo os potes de orçamentos secretos. A lei obriga Estados e Municípios a investirem em educação 25% de seus orçamentos, enquanto à União cabe aplicar, no mínimo, 18%. A lei não é cumprida? Nosso país “faz de conta”. E mais: o Brasil possui uma rede social imensa, a maior de todos os tempos. Urge perguntar: a educação não integra a rede? Por que a economia tem poucos recursos para investir na enferrujada locomotiva educacional? O que falta para se fazer a “revolução” na sala de aula? É triste constatar que a parede de frente da nossa cultura é de areia sem cimento, uma “cultura de fachada”.
A aula-padrão quadrada, lousa, giz e saliva perdem eficácia diante de cognições mais sensíveis à estética. Somos um País mais ligado à imagem do que à leitura. O fato é que a escola pública, modelo de qualidade em países como a Inglaterra é, entre nós, a cara do obsoletismo: desaparelhada, sujeita à violência, professores ausentes, parcos salários, gestão improvisada, falta de assessoramento pedagógico. As autonomias se esfacelam diante dos ataques aos orçamentos educacionais. Nesse fim de ano, universidades federais não têm dinheiro nem para pagar a coleta de lixo.
O Brasil precisa instalar uma nova escola, integrada ao tempo e ao espaço, capaz de construir pontes entre aluno e seu meio. Uma escola de formação para a vida. Como podem os meios de comunicação de massa oferecer sua contribuição? Recheando suas grades com propostas renovadoras na área da cultura e da educação. A TV Cultura de São Paulo é um bom exemplo. Tem arriscado na seara de uma nova linguagem para atrair crianças e adolescentes. Mas dispõe de parcos recursos. E luta com vigor para revigorar sua autonomia. Em suma, a TV aberta pode ajudar com programas voltados para uma escola pública compatível com as demandas da sociedade, proporcionando abordagens que incorporem as novas fronteiras do conhecimento.
Por último, uma reflexão. Norberto Bobbio já alertava que “certos governantes preferem cidadãos passivos a ativos.” Aqueles são depósitos de votos a seu favor. Equivalem a carneiros comendo capim no pasto. Já os cidadãos ativos filtram a água contaminada. O país clama por uma cidadania ativa, participante, inclusiva, seiva produzida por magistrais educadores como Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro.
O Brasil pode esperar por uma educação pública de qualidade? Resposta: muito difícil atingir essa meta no curto prazo. Falta vontade política. A educação acaba sendo moeda de troca.
Nas duas ilustrações, a mesma leitura: a alavanca que puxa as Nações democráticas e promove o bem-estar das massas é a Educação. Trata-se do escudo que protege os países. A arma usada na tão aclamada revolução das mentes. O exército capaz de transformar territórios assolados por ignorância em prósperas Nações. A força que impulsiona avanços. O motor que faz girar a roda civilizatória. A engrenagem que une os parafusos do progresso. A maquinaria que gera harmonia social. Em suma, o fator responsável pelo Produto Nacional Bruto da Felicidade dos habitantes do planeta.
Contemplemos, agora, nossas plagas tropicais, nessa quadra em que mais de mil pessoas trabalham no chamado “governo de transição”, identificando carências e demandas a serem processadas na administração que terá início em 1º de janeiro de 2023. Diante de números e situações, algumas descritas adiante, a conclusão certamente apontará para esta hipótese: o Brasil carece de uma revolução na área educacional. O presidente eleito Lula da Silva realizará esse empreendimento? Modesto conselho: ensine, presidente, o pescador a pescar. Invista numa nova locomotiva para puxar os trens do desenvolvimento. Escolha a Educação como prioridade número um de seu governo. Medite sobre o quadro.
Há cerca de 48 milhões de pessoas matriculadas no ensino básico. Dados de 2020. O ensino básico, nesse caso, abrange da creche ao ensino médio, incluindo a educação de jovens e adultos. Milhares de alunos, porém, concluem a quarta série sem saber ler nem escrever, muito menos fazer contas. E mais: 35 milhões de brasileiros são até capazes de ler, mas não conseguem entender o significado das palavras. São os analfabetos funcionais. A continuar nesse passo, o Brasil estará condenado a rastejar na sombra de Países que elegem a educação como base do edifício civilizatório, sendo exemplos Reino Unido, Finlândia, Suécia, Canadá, Japão e Coréia do Sul. Os dados negativos se acumulam. Extratos do PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – dão conta de que, entre 2015 e 2019, o país perdeu 46 milhões de leitores. Um desastre. Apenas 50% dos brasileiros têm o hábito de ler.
A crise da educação básica é um fio esgarçado que prende o País à teia do atraso. Discurso sobre a melhoria da qualidade do ensino é o que não falta na boca de governantes e de educadores. Dinheiro? Acabam limpando os recursos da educação. E enchendo os potes de orçamentos secretos. A lei obriga Estados e Municípios a investirem em educação 25% de seus orçamentos, enquanto à União cabe aplicar, no mínimo, 18%. A lei não é cumprida? Nosso país “faz de conta”. E mais: o Brasil possui uma rede social imensa, a maior de todos os tempos. Urge perguntar: a educação não integra a rede? Por que a economia tem poucos recursos para investir na enferrujada locomotiva educacional? O que falta para se fazer a “revolução” na sala de aula? É triste constatar que a parede de frente da nossa cultura é de areia sem cimento, uma “cultura de fachada”.
A aula-padrão quadrada, lousa, giz e saliva perdem eficácia diante de cognições mais sensíveis à estética. Somos um País mais ligado à imagem do que à leitura. O fato é que a escola pública, modelo de qualidade em países como a Inglaterra é, entre nós, a cara do obsoletismo: desaparelhada, sujeita à violência, professores ausentes, parcos salários, gestão improvisada, falta de assessoramento pedagógico. As autonomias se esfacelam diante dos ataques aos orçamentos educacionais. Nesse fim de ano, universidades federais não têm dinheiro nem para pagar a coleta de lixo.
O Brasil precisa instalar uma nova escola, integrada ao tempo e ao espaço, capaz de construir pontes entre aluno e seu meio. Uma escola de formação para a vida. Como podem os meios de comunicação de massa oferecer sua contribuição? Recheando suas grades com propostas renovadoras na área da cultura e da educação. A TV Cultura de São Paulo é um bom exemplo. Tem arriscado na seara de uma nova linguagem para atrair crianças e adolescentes. Mas dispõe de parcos recursos. E luta com vigor para revigorar sua autonomia. Em suma, a TV aberta pode ajudar com programas voltados para uma escola pública compatível com as demandas da sociedade, proporcionando abordagens que incorporem as novas fronteiras do conhecimento.
Por último, uma reflexão. Norberto Bobbio já alertava que “certos governantes preferem cidadãos passivos a ativos.” Aqueles são depósitos de votos a seu favor. Equivalem a carneiros comendo capim no pasto. Já os cidadãos ativos filtram a água contaminada. O país clama por uma cidadania ativa, participante, inclusiva, seiva produzida por magistrais educadores como Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro.
O Brasil pode esperar por uma educação pública de qualidade? Resposta: muito difícil atingir essa meta no curto prazo. Falta vontade política. A educação acaba sendo moeda de troca.
Capitular, jamais!
Quando a barbárie triunfa, não é graças à força dos bárbaros, mas à capitulação dos civilizados.Antonio Muñoz Molina
Atos extremistas buscam instigar o caos como método
Qual o efeito dos atos extremistas de 12 de dezembro para o futuro do bolsonarismo? Para responder a esta pergunta, é necessário lembrar que este não é um acontecimento isolado nem tampouco se iniciou após o resultado da eleição presidencial. Os atos ocorridos em Brasília são mais uma etapa do processo de radicalização da extrema direita no Brasil. Nos últimos dois anos, bolsonaristas têm realizado exercícios constantes e coordenados de mobilização de insurgência. O marco deste processo ocorreu em março de 2020, quando Jair Bolsonaro e seus apoiadores passaram a atacar os governadores e o Supremo Tribunal Federal (STF), em atos que passaram a ser chamados de “manifestações antidemocráticas”.
Nos últimos dois anos, as motociatas foram o exercício para as mobilizações de insurgência. Com essa guinada em direção à radicalização, o bolsonarismo deixou para trás a agenda que o elegeu. Em 2018, a campanha bolsonarista foi centrada na figura do “cidadão de bem”, mobilizado, principalmente, pelo discurso anticorrupção. A partir de 2020, o bolsonarismo passou a recrutar o “patriota”, a versão mais radical e violenta em comparação com o “cidadão de bem”. Esta mudança se deu em consonância com uma tendência global das extremas direitas, cuja forma de atuar passa pelo uso de estratégias de terrorismo doméstico, a exemplo da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump.
Com o apelo crescente para a participação de manifestantes considerados “patriotas”, aqueles considerados “fracos” vão perdendo destaque, relevância e prestígio dentro dos movimentos e dos grupos bolsonaristas. Em contrapartida, ganham proeminência apenas os que detêm maior habilidade com o uso da força e da violência, seja ela retórica, seja ela física. E as lideranças desses atos passam a ser mais prestigiadas cada vez que avançam no seu “extremismo estratégico” contra as instituições democráticas.
Esses atos buscam instigar o caos como método. É uma forma de gerar situações cada vez mais extremas nas quais os líderes desses movimentos são investigados, presos, ou se tornam “vítimas” do “sistema” (alvos de prisões e investigações no âmbito do Supremo). Com isso, o bolsonarismo ao mesmo tempo que passa a mobilizar um número cada vez menor de apoiadores também avança no seu processo de radicalização.
Nos últimos dois anos, as motociatas foram o exercício para as mobilizações de insurgência. Com essa guinada em direção à radicalização, o bolsonarismo deixou para trás a agenda que o elegeu. Em 2018, a campanha bolsonarista foi centrada na figura do “cidadão de bem”, mobilizado, principalmente, pelo discurso anticorrupção. A partir de 2020, o bolsonarismo passou a recrutar o “patriota”, a versão mais radical e violenta em comparação com o “cidadão de bem”. Esta mudança se deu em consonância com uma tendência global das extremas direitas, cuja forma de atuar passa pelo uso de estratégias de terrorismo doméstico, a exemplo da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump.
Com o apelo crescente para a participação de manifestantes considerados “patriotas”, aqueles considerados “fracos” vão perdendo destaque, relevância e prestígio dentro dos movimentos e dos grupos bolsonaristas. Em contrapartida, ganham proeminência apenas os que detêm maior habilidade com o uso da força e da violência, seja ela retórica, seja ela física. E as lideranças desses atos passam a ser mais prestigiadas cada vez que avançam no seu “extremismo estratégico” contra as instituições democráticas.
Esses atos buscam instigar o caos como método. É uma forma de gerar situações cada vez mais extremas nas quais os líderes desses movimentos são investigados, presos, ou se tornam “vítimas” do “sistema” (alvos de prisões e investigações no âmbito do Supremo). Com isso, o bolsonarismo ao mesmo tempo que passa a mobilizar um número cada vez menor de apoiadores também avança no seu processo de radicalização.
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