Nos últimos dois anos, as motociatas foram o exercício para as mobilizações de insurgência. Com essa guinada em direção à radicalização, o bolsonarismo deixou para trás a agenda que o elegeu. Em 2018, a campanha bolsonarista foi centrada na figura do “cidadão de bem”, mobilizado, principalmente, pelo discurso anticorrupção. A partir de 2020, o bolsonarismo passou a recrutar o “patriota”, a versão mais radical e violenta em comparação com o “cidadão de bem”. Esta mudança se deu em consonância com uma tendência global das extremas direitas, cuja forma de atuar passa pelo uso de estratégias de terrorismo doméstico, a exemplo da invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump.
Com o apelo crescente para a participação de manifestantes considerados “patriotas”, aqueles considerados “fracos” vão perdendo destaque, relevância e prestígio dentro dos movimentos e dos grupos bolsonaristas. Em contrapartida, ganham proeminência apenas os que detêm maior habilidade com o uso da força e da violência, seja ela retórica, seja ela física. E as lideranças desses atos passam a ser mais prestigiadas cada vez que avançam no seu “extremismo estratégico” contra as instituições democráticas.
Esses atos buscam instigar o caos como método. É uma forma de gerar situações cada vez mais extremas nas quais os líderes desses movimentos são investigados, presos, ou se tornam “vítimas” do “sistema” (alvos de prisões e investigações no âmbito do Supremo). Com isso, o bolsonarismo ao mesmo tempo que passa a mobilizar um número cada vez menor de apoiadores também avança no seu processo de radicalização.
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