segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Manual para fazer uma Pátria Educadora


1. Entender que o principal recurso da Pátria Educadora são as crianças, por isso, a pátria educadora nasce na escola de base, incluindo a educação infantil, desde a primeira idade.

2. Reconhecer que esta escola é formada sobretudo pelo professor e que, para a pátria ser educadora, ela deve escolher para professor de suas crianças os jovens mais brilhantes de suas universidades.

3. Saber que para atrair os melhores jovens para a atividade de magistério, esta carreira deve estar entre a aquelas com as melhores remunerações de todas as profissões.

4. Considerar que na Pátria Educadora os melhores e melhor equipados prédios públicos de cada cidade devem ser suas escolas, na qualidade e beleza de suas edificações, nos equipamentos culturais e esportivos disponíveis e no uso dos mais modernos equipamentos de tecnologia da informação para fins pedagógicos.

5. Definir nacionalmente os métodos de formação, seleção e avaliação para que os jovens atraídos devam ser escolhidos de forma cuidadosa, exigindo-se deles a mais absoluta competência, dedicação exclusiva ao magistério e sujeitos a um regime de trabalho que permita substitui-los se não participam realmente da construção da Pátria Educadora.

6. Perceber que a educação é um processo integral, com o máximo de tempo da criança em atividade escolar, complementada com o envolvimento dos pais, da mídia e de toda a sociedade pela prática cultural e pelo exemplo dos líderes. O que vai exigir um grande programa de educação de todos brasileiros, desde a erradicação do analfabetismo entre adultos, até uma educação também para os que são instruídos mas são deseducados. Esta educação de todos será necessária inclusive para que a população entenda e adote o lema de Pátria Educadora, depois de 515 anos em que a educação tem sido vista sem a prioridade merecida.

7. Assumir que, para a pátria ser educadora, a educação tem de quebrar as duas amarras que hoje aprisionam as crianças: o CPF dos pais para pagar uma boa escola privada e o CEP de onde ela mora para oferecer uma boa escola pública, por isso, para construir a Pátria Educadora, a responsabilidade pela educação terá de ser responsabilidade da nação, ou seja: financiada, normatizada e avaliada pela União, com uma carreira nacional para o professor e todas as escolas com a mesma qualidade.

8. Adotar a educação como uma responsabilidade federal e não municipal ou estadual, limitando o papel das unidades federativas à tarefa de definir a parte local do curriculum e participar da gestão descentralizada de cada escola.

9. Convencer as universidades, a mídia, o congresso, os partidos, empresários toda a sociedade de que educação é progresso e formar um pacto nacional para que isto possa ser executado ao longo das próximas décadas, em sucessivos governos.

10. Transformar o lema Pátria Educadora em realidade legal, sob a forma de leis, decretos e normas inclusive orçamentarias, além de criar a base política necessária para fazer o lema sair do marqueting inicial e entrar na história.

O boa-vida


“Lula passou, pela segunda vez consecutiva, o Réveillon na mansão de José Seripieri Junior, dono da Qualicorp, em Angra dos Reis. Lula, Marisa, filhos e noras chegaram na terça-feira e, pela previsão, ficariam até o primeiro fim de semana de 2015. Lula saiu de barco para pescar todos os dias. Fez uma pausa apenas para ir à posse de Dilma Rousseff na quinta-feira”.
(Nota de Lauro Jardim, em Veja, revela as boas amizades com os poderosos do guru petista e ex-presidente. Seripieri Jr. ficou bilionário controlando a Qualicorp, maior administradora de planos de saúde no Brasil, onde a saúde pública está cada vez pior e os preços dos planos de saúde estão altíssimos.)

O ano começou com uma boa notícia

A melhor notícia de 2015 veio nos últimos dias de 2014: a Petrobras suspendeu novos negócios com as 23 empreiteiras apanhadas na Operação Lava-Jato e abriu uma investigação nas contas da Transpetro, da BR Distribuidora e no fundo de pensão Petros. Com quase um ano de atraso, o comissariado partiu para o ataque, se é que partiu. Nesse período, a empresa perdeu 37% do seu valor de mercado e danificou sua credibilidade.

Assim como sucedeu com a seleção brasileira na Copa, a defesa da Petrobras sofreu um apagão. No início de 2014, sabia-se que estourara um escândalo nas suas operações com a companhia holandesa SBM, que lhe alugara sete navios-plataforma. Falava-se de um pagamento de comissões que chegavam a US$ 139 milhões. A doutora Graça Foster poderia ter soado algum alarme. Deu-se o contrário. Uma delegação da empresa foi a Amsterdam e concluiu que nada houvera de errado. Em novembro, a SBM foi multada, na Holanda, em US$ 240 milhões pelas propinas que distribuiu mundo afora.

As petrorroubalheiras tinham três vértices: o comissariado, funcionários corruptos e empresas corruptoras. Durante todo o ano o governo e as empresas acreditaram que prevaleceria algum tipo de código de silêncio. O “amigo Paulinho” não contaria o que sabia. Muito menos Alberto Youssef, seu operador financeiro. Empreiteiras? Nem pensar, isso jamais acontecera.

Em março, a doutora Graça Foster anunciou que a Petrobras investigaria as roubalheiras, e “não ficará pedra sobre pedra”. Parolagem. A essa época, a Polícia Federal e o Ministério Público já puxavam os fios da meada das roubalheiras, e, paralelamente, sabia-se que o fundo da Petros fechara 2013 com um rombo de R$ 7 bilhões, corrigido para R$ 2,8 bilhões. O comissariado e as empreiteiras acreditavam que ninguém desafiaria seus poderes, e seria possível conter as denúncias brandindo-se o santo nome da Petrobras. Lula chegou a marcar um fracassado ato público em frente à sede da empresa. A casa começou a cair em agosto, quando o “amigo Paulinho” passou a colaborar com as investigações. Num de seus depoimentos, ele mencionou uma propina de US$ 23 milhões da empreiteira Odebrecht. Foi rebatido pelo presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, que classificou a afirmação como “denúncia vazia de um criminoso confesso”. O ano terminou com pelo menos nove “criminosos confessos”, entre os quais, pela primeira vez, havia uma empreiteira, a Toyo Setal.

Documentos apreendidos pela polícia revelaram a estratégia de defesa dos envolvidos. Tratava-se de conseguir um acordo com o Ministério Público e de tirar o processo das mãos do juiz Sérgio Moro. Afinal, mexer com as empreiteiras significaria “parar o país”. Um escritório fixou seus honorários em R$ 2 milhões, mais R$ 1,5 milhão caso o estratagema fosse bem-sucedido. Como no fatídico jogo do Brasil contra a Alemanha, deu tudo errado.

A doutora Dima disse que a Petrobras “já vinha passando por um aprimoramento de gestão”. Cadê? Durante todo esse tempo o governo e a Petrobras foram agentes passivos da crise. Paulinho, Youssef e Pedro Barusco, um felizardo do segundo escalão que entesourara R$ 252 milhões, eram velhos conhecidos da rede petista, mas fazia-se de conta que eram marcianos. Durante quase um ano as poucas iniciativas tomadas pela Petrobras foram provocadas por fatores externos, sobretudo depois da abertura da investigações e processos nos Estados Unidos.

A decisão de Graça Foster ao final do ano passado pode significar uma mudança de comportamento. Em vez de jogar com uma defesa bichada, a empresa partiria para o ataque contra as roubalheiras. A entrada do fundo Petros no elenco pode ser um sinal disso, desde que se coloque mercadoria na vitrine. A doutora Dilma disse que “vou investigar a fundo, doa a quem doer”. Dor mesmo, seu governo só deu aos acionistas da empresa, que perderam uma parte de de seus investimentos. Ela assumiu seu segundo mandato dizendo que é preciso defender a Petrobras dos “inimigos externos”. Doze anos de poder petista mostraram que Lula e ela cevaram “predadores internos”.

Tomara que os dois discursos de Dilma Rousseff durante as cerimônias de sua posse tenham sido os últimos lances de uma campanha eleitoral que acabou no ano passado. Se não fossem tão longos e defensivos, poderiam ser atribuídos ao marqueteiro João Santana. Prova da sua falta de assunto foi a enésima defesa de uma reforma política (há um projeto no Congresso, cuja discussão é obstruída pelo PT). “Pátria educadora” é um slogan ruim, que parece ter saído dos versos oitocentistas do Hino Nacional.

O comissariado acusa a oposição de não ter saído do palanque. Viu-se em Brasília que quem não quer deixá-lo é o governo. Repetindo o Lula de 2003, apropriou-se da agenda econômica dos tucanos, no que pode ter feito bem. Quem falou aos brasileiros como presidente da República foi a representante de uma facção, porta-voz dos “nossos governos” (o dela e o de Lula).

Tudo bem, mas a partir de amanhã ela e seus 39 ministros terão um serviço para tocar.


Elio Gaspari

Jararaca que não muda

Dividir o poder não se resume ao loteamento de cargos do governo entre partidos que o apoiam, mais ainda sabendo que tal prática favorece a corrupção acima de tudo.

Ricardo Noblat, A velha Dilma de sempre 

'Eu sou a verdade, o caminho e a vida'


O meu ideal político é a democracia, para que todo o homem seja respeitado como indivíduo e nenhum venerado
Albert Einstein

Bem longe falar aqui de um exemplo no mundo. A frase do título também poderia ser dita (ou repetida, ou copiada, ou explorada) por um canalha fantasiado de santo. Quem seria o autor de tal heresia? Louco ou bandido? Ambos. A psicopatia criminal explica.

Se há tantos séculos, alguém pôde multiplicar os pães e os peixes, porque em tempos de alta tecnologia e uma boa maquiagem nas contas não se poderia também repetir o milagre? O milagre bíblico, pois, se repetiu. Os pobres ganharam mais peixe e pão. Como outra é a era, de quebra, o divino psicopata também produziu o circo para todos.

Se não fez a transformação da água em vinho, muito melhor se saiu o deus brasileiro. Transformou o sertão em mar. Quer dizer, ainda não completou a obra, porque apesar de sua santidade ainda não conseguiu agilidade nos milagres. Naqueles anos da Galileia, era só uma magia de transformar. Agora era preciso transportar água em meio à seca secular. Convenhamos um milagre de maior porte e muito mais complexo. Mas enorme mesmo foi, com magia extra, produzir do nada tanto dinheiro para pagar a obra.

Arregimentar os pobres, pescá-los pela palavra. Isso então foi muito fácil. Bastou se tornar o salvador deles, com gesticulação apropriada de mistificador. Depois fez distribuir, santo milagre, as moedas jorrando dos céus, quer dizer, dos cofres públicos como jorrou trigo dos celeiros do faraó.

Trovejou que nada de fora atingiria o país. O tsunami que varria o mundo chegaria aqui como uma marolinha. Profeta, usou desbragadamente o consumo como barreira. E foi elevado às alturas de mestre salvador. Prodígio fácil. Saiu-se mais uma vez com o milagre que também os militares sempre fizeram na ditadura. Têm resultados rápidos e põem os milagreiros nas alturas.

Anunciou que o mundo era dos bons que sempre deviam competir contra os maus (os outros). Santa divisão. Para isso percorreu em caravana milionária, sem isso de apóstolos, mas carregado de comissariado, para divulgar o verbo da boa nova. Os pobres seriam atendidos pelo abençoado e os ricos excomungados, condenados aos infernos. “Quem me seguir será reunido no reino dos céus”. E seguiram muitos para os reinos da corrupção, da boa vida, do descanso remunerado ad eternum.

Sob suas bênçãos, prodigalizou o surgimento de uma mãe dos pobres, desvalidos, desesperançados. Conclamou a união em torno da nova santa. Atendido, se tornou deus único, a pairar no nirvana de um tríplex à beira da praia em Santos, de onde atenderá agora os mais necessitados de amparo legal para que seus milagres não sejam nunca desvendados como maracutaias de um psicopata.

Trabalhadores não são apenas os que ganham salário mínimo


Numa entrevista a Marta Beck, Cristiane Bonfanti, Gabriela Valente e Henrique Gomes Batista, publicada na edição de sábado de O Globo, o ministro Nelson Barbosa tocou na questão do salário mínimo, mas de uma forma que desagradou a presidente Dilma Rousseff, a ponto de levá-lo a rever suas declarações. O salário mínimo, pela lei em vigor, deve ser corrigido por índice acima da inflação, com base no aumento do custo de vida adicionado ao crescimento do Produto Interno Bruto nos últimos dois anos. Este é um fato. Não se sabe a razão da tempestade que atingiu o barco do Planejamento. Talvez a hipótese de seu titular ter se referidos aos jornalistas sobre a iniciativa de enviar o projeto de lei ao Congresso alterando a regra vigente. Pode ser. Afinal de contas enviar projetos ao Congresso é atribuição exclusiva da Chefe do Executivo.

Entretanto, a questão salarial como um todo possui diversos aspectos, a começar pela realidade de que os trabalhadores e servidores públicos brasileiros não são apenas os que percebem o piso básico. Estes compõem uma faixa, muito ampla, de 33%. Porém, e as outras correntes? Na verdade nenhum grupo assalariado deve ter seu reajuste menor do que a inflação do ano anterior, pois se tal ocorrer ele estará sendo reduzido em seus vencimentos, de maneira disfarçada, porém essencialmente inconstitucional, já que a Carta Magna impede a redução salarial.

Antes das urnas de outubro foi divulgada uma escala salarial em vigor no país, atribuída ao IBGE, na qual revelou-se que a metade dos trabalhadores do Brasil ganha praticamente entre 3 a 4 salários mínimos. E que 70% percebem entre 5 a 6 pisos básico. 5% somente abrangem os que ganham até 10 mínimos. E mais de 20 mínimos são apenas 0,8% da mão de obra. Mas este é um outro aspecto da questão.

O salário médio do país até dezembro alcançava em números redondos menos de R$ 2.000,00. O quadro salarial existente, como se vê, não se restringe ao salário mínimo. Dessa forma, em princípio nenhuma faixa (e não apenas a menor) deve perder para o índice inflacionário. Compatibilizar o avanço salarial com a inflação e a redistribuição de renda é que é a questão essencial. Porque, se o aumento atribuído ao mínimo for maior do que o aplicado aos demais salários, poder-se-á estar se realizando uma redistribuição de renda, mas do trabalho para o trabalho e não do capital para o trabalho. A desigualdade pode ser diminuída assim, entre as diversas classes, mas não o avanço social que depende do desenvolvimento econômico e da participação maior do rendimento trabalhista na formação do PIB. Mesmo porque existe a questão da renda per capita, que é o resultado da divisão do PIB pelo número de habitantes. É fato que a renda per capita não exprime a concentração, ela pode ser elevada dentro de um sistema muito amplo de concentração.

O desafio salarial está colocado. Ele é, na verdade a raiz de praticamente todos os problemas de forma direta ou indireta envolvem o país. Trata-se da grande questão colocada a frente dos governos e dos governantes. No momento projeta-se à frente da mesa da presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. A questão do mínimo marcou a primeira contradição ocorrida no Poder Executivo. Vamos torcer que não surjam outras, desejando-se assim, êxito e boa sorte à presidente Dilma Rousseff.

Pedro do Coutto