Felizmente, hoje nenhuma criança é impedida de estudar em uma escola por preconceito pela cor de sua pele, embora, no Brasil, o rendismo seja um braço do racismo, porque nossa pobreza tem pele negra.
Foi o ator Will Smith quem disse que “o racismo não aumentou, ele foi fotografado e divulgado”, mostrando policial branco asfixiando homem negro que desesperado sussurrava: “Eu não consigo respirar”. O vídeo mostrou a cara da perversão do racismo. Mas o rendismo escolar não tem seu filme para mostrar a tragédia, e educação de qualidade não é vista como oxigênio intelectual necessário para a sobrevivência plena neste século do conhecimento.
A população sabe que, dos 50 milhões de crianças brasileiras em idade escolar, pelo menos 40 milhões estão fora de escola com qualidade. Mas não percebe que crianças fora da escola de qualidade sofrem por falta do oxigênio intelectual: não saberá ler, orientar-se, ter emprego, produzir e participar da riqueza que o mundo moderno produz. Não percebe que essa asfixia educacional atinge não somente a criança, mas o país inteiro, que perde em produtividade, inovação, participação e consciência plena.
Tampouco compreende que estamos alimentando o racismo. O racismo nasce no atavismo da história e na desigualdade da escola. A escola é o berço do racismo pela exclusão dos afrodescendentes e dos pobres, e porque a escola sem qualidade induz preconceitos que se espalham pela sociedade.
A escola será o túmulo do racismo quando a educação for oferecida a todos com a mesma qualidade e a todos com conteúdo humanista que desfaça preconceitos e valorize a diversidade. Mas a tolerância com o rendismo escolar impede a luta para que os filhos dos pobres e dos ricos estudem em escolas com a mesma qualidade.
Contra o racismo, luta-se por cotas nas universidades, mas não se luta contra o rendismo, que impede que todas as escolas públicas municipais tenham a qualidade das boas escolas privadas ou federais. Falta agora que, cem anos depois do surgimento da palavra “racismo”, a palavra “rendismo” seja também entendida como um preconceito odioso, quando se referir à segregação que sofrem as crianças pobres ao serem impedidas de desenvolver seus talentos na escola e na idade ideal.