quarta-feira, 31 de março de 2021
O triste papel dos generais que se renderam ao ex-capitão
Encantaram-se pelo quê os generais que servem ao presidente Jair Bolsonaro? O único que tem direito a responder que recebeu uma missão e que se sentiu obrigado a cumpri-la é Eduardo Pazuello, general da ativa, que trocou o quartel pelo Ministério da Saúde, e se deu mal. Os demais, da reserva, servem por decisão própria.
Não vale a desculpa de que aceitaram o convite porque assim prestam mais um serviço à pátria. Palavras vazias, frase feita, clichê ordinário. Uns servem porque eram amigos de Bolsonaro e se deixaram seduzir por ele. Outros, para ganhar mais dinheiro, status, apartamento de graça, despesas pagas e outras sinecuras.
Ah, a vaidade! Ah, o vil metal que compra tudo. A princípio, é do jogo. C’est la vie. O mal está na subserviência com que eles se comportam. De homens formados nas melhores academias das Forças Armadas, esperava-se que soubessem até que ponto ir, em respeito à farda e ao passado do qual se orgulham.
Normal, definitivamente não foi o presidente da República, em meio de mandato, promover uma reforma ministerial, essa, sim, algo normal, e aproveitar para demitir em conversa de 5 minutos o ministro da Defesa, e, no dia seguinte, mandar demitir sem explicação os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
O que o ministro e os três comandantes tinham a ver com os problemas de falta de sustentação política que tanto fragilizam o presidente? Com as apostas erradas feitas por ele desde que tomou posse – desprezo pelo meio ambiente, política externa equivocada, excesso de radicalismo, passe livre para que o vírus mate?
As atribuições das Forças Armadas estão definidas na Constituição. A elas não cabe interferir no dia a dia do governo, salvo em momentos excepcionais como uma pandemia. No caso, por exemplo, o que elas fizeram e estão fazendo comprova sua eficiência e a capacidade de planejamento dos seus comandantes.
Enquanto os civis à frente do governo, incitados pelo presidente da República, tomaram partido do vírus porque adversários políticos resolveram combatê-lo, os militares cumpriram à risca todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde. É um case de sucesso. A mortalidade entre eles é muito menor.
O general Edson Leal Pujol, o comandante do Exército ontem demitido, começou a cair em desgraça aos olhos de Bolsonaro justamente por tê-lo cumprimentado uma vez encostando seu cotovelo no dele, gesto prescrito por autoridades médicas. Bolsonaro jamais o perdoou por isso, mas não o demitiu por isso.
Bolsonaro quer um ministro da Defesa e comandantes das três Armas alinhados com seus objetivos políticos, e dóceis às suas ordens – para o quê, sabe-se. No mínimo, para que o ajudem a se reeleger de qualquer modo, por cima de pau e pedra, se necessário. No limite, para implantar um regime autoritário no país.
Os generais Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Braga Neto, da Defesa, Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, estão carecas de saber disso. São homens experientes e relativamente cultos. Não se deixariam enganar. Se não abrem mão dos seus postos é porque concordam com o chefe.
Heleno parece ter mergulhado há meses, ou para sobreviver, ou por discordar de umas tantas coisas que testemunha. Ramos, depois de operar a rendição de Bolsonaro ao Centrão, foi deslocado a contragosto para a Casa Civil. Lá, o trabalho é duro e chato. Braga Neto aceitou a tarefa de decepar a cabeça de velhos colegas.
O ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, deve estar pasmo com a pusilanimidade dessa turma que já foi a sua. Como ela se presta a tal papel? Como não reage à agressão sofrida pela instituição que diz tanto prezar? Por que se humilha diante de um ex-capitão rejeitado pelo Exército por conduta antiética?
Ao fim e ao cabo, o ex-capitão, presidente acidental, voltará à sua insignificância de onde não deveria ter saído. Não passará de uma trágica lembrança. Duro será suportá-lo pelos próximos 550 dias, caso seja derrotado no primeiro turno da eleição de 2022. Ou 578, se a agonia se estender até o segundo turno.
Não vale a desculpa de que aceitaram o convite porque assim prestam mais um serviço à pátria. Palavras vazias, frase feita, clichê ordinário. Uns servem porque eram amigos de Bolsonaro e se deixaram seduzir por ele. Outros, para ganhar mais dinheiro, status, apartamento de graça, despesas pagas e outras sinecuras.
Ah, a vaidade! Ah, o vil metal que compra tudo. A princípio, é do jogo. C’est la vie. O mal está na subserviência com que eles se comportam. De homens formados nas melhores academias das Forças Armadas, esperava-se que soubessem até que ponto ir, em respeito à farda e ao passado do qual se orgulham.
Normal, definitivamente não foi o presidente da República, em meio de mandato, promover uma reforma ministerial, essa, sim, algo normal, e aproveitar para demitir em conversa de 5 minutos o ministro da Defesa, e, no dia seguinte, mandar demitir sem explicação os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
O que o ministro e os três comandantes tinham a ver com os problemas de falta de sustentação política que tanto fragilizam o presidente? Com as apostas erradas feitas por ele desde que tomou posse – desprezo pelo meio ambiente, política externa equivocada, excesso de radicalismo, passe livre para que o vírus mate?
As atribuições das Forças Armadas estão definidas na Constituição. A elas não cabe interferir no dia a dia do governo, salvo em momentos excepcionais como uma pandemia. No caso, por exemplo, o que elas fizeram e estão fazendo comprova sua eficiência e a capacidade de planejamento dos seus comandantes.
Enquanto os civis à frente do governo, incitados pelo presidente da República, tomaram partido do vírus porque adversários políticos resolveram combatê-lo, os militares cumpriram à risca todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde. É um case de sucesso. A mortalidade entre eles é muito menor.
O general Edson Leal Pujol, o comandante do Exército ontem demitido, começou a cair em desgraça aos olhos de Bolsonaro justamente por tê-lo cumprimentado uma vez encostando seu cotovelo no dele, gesto prescrito por autoridades médicas. Bolsonaro jamais o perdoou por isso, mas não o demitiu por isso.
Bolsonaro quer um ministro da Defesa e comandantes das três Armas alinhados com seus objetivos políticos, e dóceis às suas ordens – para o quê, sabe-se. No mínimo, para que o ajudem a se reeleger de qualquer modo, por cima de pau e pedra, se necessário. No limite, para implantar um regime autoritário no país.
Os generais Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Braga Neto, da Defesa, Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, estão carecas de saber disso. São homens experientes e relativamente cultos. Não se deixariam enganar. Se não abrem mão dos seus postos é porque concordam com o chefe.
Heleno parece ter mergulhado há meses, ou para sobreviver, ou por discordar de umas tantas coisas que testemunha. Ramos, depois de operar a rendição de Bolsonaro ao Centrão, foi deslocado a contragosto para a Casa Civil. Lá, o trabalho é duro e chato. Braga Neto aceitou a tarefa de decepar a cabeça de velhos colegas.
O ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas, deve estar pasmo com a pusilanimidade dessa turma que já foi a sua. Como ela se presta a tal papel? Como não reage à agressão sofrida pela instituição que diz tanto prezar? Por que se humilha diante de um ex-capitão rejeitado pelo Exército por conduta antiética?
Ao fim e ao cabo, o ex-capitão, presidente acidental, voltará à sua insignificância de onde não deveria ter saído. Não passará de uma trágica lembrança. Duro será suportá-lo pelos próximos 550 dias, caso seja derrotado no primeiro turno da eleição de 2022. Ou 578, se a agonia se estender até o segundo turno.
Bomba presidencial
O Congresso precisa entender que o atual presidente é uma ameaça à vida dos brasileiros, como se constata pela sua atuação na pandemia, e também à da própria democracia, como ilustra o episódio da saída de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da DefesaMario Sabino
O precisar do precisando
O Brasil precisa de precisar precisando. Precisando cada vez mais porque, sem o precisando preciso e precioso, não se pode continuar precisando tanto do precisar que conforma o centro do precisar precisando.
As “elite” molecas, aristocráticas, paranoico-legalistas e negacionistas que tanto precisam deveriam substituir o paradoxal e comteano “Ordem e Progresso” por um “É preciso precisar”.
E é precisando do precisar que vamos continuar a fazer história, pois o que é a história, senão um precisar do precisando de que tanto precisamos?
Esse viés vem de um sistema relacional em que uma das questões fatais é “o que você quer?”. Essa pergunta inocente é sugestiva de favores, obséquios e empenhos. Ela é adequada à sociedade hierarquizada, que nos obriga a saber quem somos.
Uma ponte entre uma afinada gradação fidalga e uma chocante igualdade cidadã veio com o republicanismo repressor de séculos de escravidão africana e nobreza branca e mestiça. Uma mestiçagem que não cabia na homogeneidade do arianismo europeu que os sub-sociólogos nacionais levaram mais a sério do que seus mestres estrangeiros.
O Brasil foi condenado pela mistura. Hoje, com o Black Lives Matter, surgem dúvidas. Você prefere segregação e violência ou mistura?
Do que você precisa? Espera-se essa pergunta-oferenda quando um amigo “vira” ministro ou um pai é eleito presidente. Ela revela como os deveres públicos se curvam diante do poder das obrigações pouco estudadas do filhotismo. Os pensadores brasileiros jamais entenderam o peso desses costumes visto por um “reacionário” Gilberto Freyre.
Quando os laços de afeto não são levados a sério, eles voltam como vergonhas quando — por erros processuais — se anulam crimes de inegável responsabilidade política, num supremo carnaval jurídico. O legalismo furiosamente praticado é a lepra do nosso sistema de poder porque, como o coronavírus, ele é de direita e de esquerda...
É preciso acabar com a fraternidade no Brasil? Tal argumento é tão absurdo quanto não levar a sério as exigências democráticas dos cargos públicos, cuja eficácia jaz na separação entre o pessoal e o impessoal. Max Weber distinguiu no protestantismo uma ética individualista em que o crente fala diretamente com Deus. Esse Deus sem Santa Igreja, sacerdócio, confissão e purgatório como recurso e prescrição. Não foi o caso do Brasil, onde há um protestantismo fetichista.
Corrupção é o conflito entre as obrigações universais dos papéis públicos e as expectativas dos laços de família. Não é por acaso que a Justiça seja a primeira esfera a ser agredida quando ela impede a proteção dos filhos ou dos companheiros.
No Brasil, os presidentes não inauguram. Eles tomam posse para, messianicamente, acabar com a roubalheira ou com a incompetência, como se todo mal só estivesse no governo, e a sociedade fosse inocente. Tal concepção divide governantes e cidadãos, criando estadomania e estadolatria — esses criadores de estadopatia. O resultado é que elegemos, com perdão do trocadilho, presidentes-messias que iriam tudo mudar, mas que (com uma ou duas vênias) repetem em escala escabrosa o que condenavam. A falta de debate sobre a natureza do papel público desmoraliza o projeto democrático.
O poder à brasileira é mais inspirado por ordenações do que por constituições. Nessa receita, o Estado seria o ordenador da sociedade vista como mestiça, libidinosa e repleta de capitalistas opressores. Enquanto isso, somos sistematicamente roubados por administradores públicos de todos os quilates em todos os níveis.
O delito foi politizado e, neste momento, sei apenas o que escrevi na minha obra e aqui reitero: no Brasil, o crime não depende da lei, mas de quem o cometeu! Um axioma perfeito para a sociedade do “quem foi rei, sempre é majestade”. Um princípio que aristocratiza os responsáveis por roubalheiras públicas realizadas em nome do povo.
Somos avessos ao igualitarismo. Se o viés pessoal é o modelo do precisar precisando, o igualitarismo impessoal republicano não é progresso, é retrocesso. Como a lei pode valer para todos se, branco e doutor sou, tenho foro privilegiado, fui presidente, e papai é o dono do país?
P.S.: Leio que o Museu Nacional pode virar um ponto de turismo. Nada mais me espanta no Brasil. Se apagamos a história e anulamos condenações, por que não completar a obra abolindo a República e proclamando revolucionariamente a Monarquia? Tem imperador à espera.
As “elite” molecas, aristocráticas, paranoico-legalistas e negacionistas que tanto precisam deveriam substituir o paradoxal e comteano “Ordem e Progresso” por um “É preciso precisar”.
E é precisando do precisar que vamos continuar a fazer história, pois o que é a história, senão um precisar do precisando de que tanto precisamos?
Esse viés vem de um sistema relacional em que uma das questões fatais é “o que você quer?”. Essa pergunta inocente é sugestiva de favores, obséquios e empenhos. Ela é adequada à sociedade hierarquizada, que nos obriga a saber quem somos.
Uma ponte entre uma afinada gradação fidalga e uma chocante igualdade cidadã veio com o republicanismo repressor de séculos de escravidão africana e nobreza branca e mestiça. Uma mestiçagem que não cabia na homogeneidade do arianismo europeu que os sub-sociólogos nacionais levaram mais a sério do que seus mestres estrangeiros.
O Brasil foi condenado pela mistura. Hoje, com o Black Lives Matter, surgem dúvidas. Você prefere segregação e violência ou mistura?
Do que você precisa? Espera-se essa pergunta-oferenda quando um amigo “vira” ministro ou um pai é eleito presidente. Ela revela como os deveres públicos se curvam diante do poder das obrigações pouco estudadas do filhotismo. Os pensadores brasileiros jamais entenderam o peso desses costumes visto por um “reacionário” Gilberto Freyre.
Quando os laços de afeto não são levados a sério, eles voltam como vergonhas quando — por erros processuais — se anulam crimes de inegável responsabilidade política, num supremo carnaval jurídico. O legalismo furiosamente praticado é a lepra do nosso sistema de poder porque, como o coronavírus, ele é de direita e de esquerda...
É preciso acabar com a fraternidade no Brasil? Tal argumento é tão absurdo quanto não levar a sério as exigências democráticas dos cargos públicos, cuja eficácia jaz na separação entre o pessoal e o impessoal. Max Weber distinguiu no protestantismo uma ética individualista em que o crente fala diretamente com Deus. Esse Deus sem Santa Igreja, sacerdócio, confissão e purgatório como recurso e prescrição. Não foi o caso do Brasil, onde há um protestantismo fetichista.
Corrupção é o conflito entre as obrigações universais dos papéis públicos e as expectativas dos laços de família. Não é por acaso que a Justiça seja a primeira esfera a ser agredida quando ela impede a proteção dos filhos ou dos companheiros.
No Brasil, os presidentes não inauguram. Eles tomam posse para, messianicamente, acabar com a roubalheira ou com a incompetência, como se todo mal só estivesse no governo, e a sociedade fosse inocente. Tal concepção divide governantes e cidadãos, criando estadomania e estadolatria — esses criadores de estadopatia. O resultado é que elegemos, com perdão do trocadilho, presidentes-messias que iriam tudo mudar, mas que (com uma ou duas vênias) repetem em escala escabrosa o que condenavam. A falta de debate sobre a natureza do papel público desmoraliza o projeto democrático.
O poder à brasileira é mais inspirado por ordenações do que por constituições. Nessa receita, o Estado seria o ordenador da sociedade vista como mestiça, libidinosa e repleta de capitalistas opressores. Enquanto isso, somos sistematicamente roubados por administradores públicos de todos os quilates em todos os níveis.
O delito foi politizado e, neste momento, sei apenas o que escrevi na minha obra e aqui reitero: no Brasil, o crime não depende da lei, mas de quem o cometeu! Um axioma perfeito para a sociedade do “quem foi rei, sempre é majestade”. Um princípio que aristocratiza os responsáveis por roubalheiras públicas realizadas em nome do povo.
Somos avessos ao igualitarismo. Se o viés pessoal é o modelo do precisar precisando, o igualitarismo impessoal republicano não é progresso, é retrocesso. Como a lei pode valer para todos se, branco e doutor sou, tenho foro privilegiado, fui presidente, e papai é o dono do país?
P.S.: Leio que o Museu Nacional pode virar um ponto de turismo. Nada mais me espanta no Brasil. Se apagamos a história e anulamos condenações, por que não completar a obra abolindo a República e proclamando revolucionariamente a Monarquia? Tem imperador à espera.
'O meu Exército', cuspiu Bolsonaro
Em outubro último, o Brasil assistiu ao então general da Saúde, Eduardo Pazuello, dizer a frase "É simples assim. ". A seu lado, um salivante Jair Bolsonaro. Dias antes, Pazuello autorizara a compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac pelo Butantan. Mas Bolsonaro, por razões eleitorais, não queria saber da China nem do Butantan. "Já mandei cancelar", invectivou. "O presidente sou eu e não abro mão da minha autoridade". Se quisesse honrar as cuecas que vestia —estava internado com a Covid num hospital—, Pazuello teria se demitido assim que foi desautorizado. Mas preferiu abaixá-las para Bolsonaro. Um manda e o outro obedece
Ali se transpôs uma linha na hierarquia militar. Ao contrário dos quartéis, onde a obediência é essencial, a razão deve primar no mundo civil —principalmente quando há vidas em jogo. Naquele dia, 155 mil brasileiros já tinham morrido do vírus. Desde então, contando os que morreram por Bolsonaro ter cancelado aquelas vacinas, perdemos outros . Sendo Pazuello, co-autor dessa chacina, um general da ativa, deveria juntar uma medalha às tampinhas de Coca-Cola em sua farda: 155 mil.
Bolsonaro quer pazuellar as Forças Armadas. Sua estratégia de afrontar, submeter, desacatar, subjugar, jungir, domar, humilhar, acoelhar e, em última análise, pôr na linha —na sua linha— o comando da Defesa e das três Armas é uma continuação de outras duas políticas que vem se empenhando em implantar: sublevar as polícias militares, como no gravíssimo episódio em curso na Bahia, e armar a população. Em 31 de março de 1964, o nome disso era subversão.
Nada mal para quem começou condecorando matadores de aluguel. Hoje Bolsonaro tem procuradores e juízes infiltrados nas instituições para lhe dar apoio legal. Já é muita bala a seu favor. Mas ele sabe que precisa controlar a instituição maior.
"O meu Exército", como vive cuspindo. É dele e ninguém tasca.
Ali se transpôs uma linha na hierarquia militar. Ao contrário dos quartéis, onde a obediência é essencial, a razão deve primar no mundo civil —principalmente quando há vidas em jogo. Naquele dia, 155 mil brasileiros já tinham morrido do vírus. Desde então, contando os que morreram por Bolsonaro ter cancelado aquelas vacinas, perdemos outros . Sendo Pazuello, co-autor dessa chacina, um general da ativa, deveria juntar uma medalha às tampinhas de Coca-Cola em sua farda: 155 mil.
Bolsonaro quer pazuellar as Forças Armadas. Sua estratégia de afrontar, submeter, desacatar, subjugar, jungir, domar, humilhar, acoelhar e, em última análise, pôr na linha —na sua linha— o comando da Defesa e das três Armas é uma continuação de outras duas políticas que vem se empenhando em implantar: sublevar as polícias militares, como no gravíssimo episódio em curso na Bahia, e armar a população. Em 31 de março de 1964, o nome disso era subversão.
Nada mal para quem começou condecorando matadores de aluguel. Hoje Bolsonaro tem procuradores e juízes infiltrados nas instituições para lhe dar apoio legal. Já é muita bala a seu favor. Mas ele sabe que precisa controlar a instituição maior.
"O meu Exército", como vive cuspindo. É dele e ninguém tasca.
Não há vez para arroubos golpistas e celebração de 1964
Supunha-se que nada haveria de causar mais horror do que a insistente cantilena negacionista do presidente da República face ao extermínio diário de mais de 3.000 vidas pela Covid-19. Neste momento, o Brasil assiste a uma escalada de ameaças à democracia. Estamos diante de mais uma grave crise, desencadeada pela demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, por defender as Forças Armadas como instituições de Estado diante dos arroubos golpistas do presidente.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica renunciaram aos cargos em protesto.
Outro episódio relevante para esta quarta-feira (31) foi a decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), em Recife, de que proibir reverências ao golpe de 1964 significaria “negar a discussão sobre qualquer perspectiva da história, o que seria um contrassenso em ambientes democráticos, visto que o Estado democrático de Direito (artigo 1º, caput, Constituição da República) pressupõe o pluralismo de ideais e projetos”.
Entendem que coibir tal comemoração “representa impor somente um tipo de projeto para a sociedade brasileira, sem possibilitar a discussão das visões dos fatos do passado”. Os magistrados proferiram que a exaltação do golpe “não ofende os postulados do Estado democrático de Direito nem os valores constitucionais da separação dos poderes ou da liberdade”.
O golpe militar: é fato provado e documentado que, de 1964 a 1985, prevaleceu no Brasil um regime de exceção que torturou, executou, “fez desaparecer” milhares de pessoas — entre elas, estudantes, militantes políticos e sindicalistas. Todas as violações de direitos humanos, os crimes contra a humanidade praticados pela ditadura militar, além da bibliografia nacional e internacional, estão registrados fartamente em arquivos diplomáticos, por exemplo, dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido.
Há relatórios abundantes sobre a ditadura nos órgãos da Comissão de Direitos Humanos da ONU, assim como na Comissão e na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em relatórios da Comissão Internacional de Juristas, da Anistia Internacional e do Tribunal Russell.
Os magistrados primam por ignorância crassa do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), elaborado a partir dos depoimentos de centenas de vítimas e seus familiares, bem como de documentação oficial disponível nos arquivos de órgãos governamentais brasileiros, como o Serviço Nacional de Informações (SNI), o Centro de Informações do Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, e alguns arquivos militares.
As investigações realizadas pela CNV comprovaram que o Estado brasileiro na ditadura foi responsável por graves violações de direitos humanos, perpetradas de forma sistemática e em função de decisões que envolveram as cúpulas dos sucessivos governos do período.
Os sequestros, as detenções arbitrárias, a tortura, as execuções, os 434 casos de mortes e desaparecimentos de cidadãos não constituíam eventuais “excessos” ou episódicos “abusos”. Resultaram de política de Estado, acatada por uma cadeia de comando que ia do general presidente até os órgãos de inteligência e repressão subordinados às Forças Armadas. Um dos grandes chefes da tortura, o coronel Ustra, reverenciado pela extrema direita, era lotado no gabinete do ministro do Exército.
Essa realidade, ao contrário do que decidiram os magistrados do TRF-5, torna incompatível com os princípios que regem o Estado democrático de Direito a realização de eventos oficiais de celebração do golpe militar; devem, sim, ser objeto de rigorosa proibição.
Seria um escárnio para as vítimas dos crimes perpetrados pela ditadura militar e um enorme constrangimento para as atuais Forças Armadas, que hoje não querem mais se envolver com aventuras golpistas nem em ditaduras como em 1964.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica renunciaram aos cargos em protesto.
Outro episódio relevante para esta quarta-feira (31) foi a decisão do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5), em Recife, de que proibir reverências ao golpe de 1964 significaria “negar a discussão sobre qualquer perspectiva da história, o que seria um contrassenso em ambientes democráticos, visto que o Estado democrático de Direito (artigo 1º, caput, Constituição da República) pressupõe o pluralismo de ideais e projetos”.
Entendem que coibir tal comemoração “representa impor somente um tipo de projeto para a sociedade brasileira, sem possibilitar a discussão das visões dos fatos do passado”. Os magistrados proferiram que a exaltação do golpe “não ofende os postulados do Estado democrático de Direito nem os valores constitucionais da separação dos poderes ou da liberdade”.
O golpe militar: é fato provado e documentado que, de 1964 a 1985, prevaleceu no Brasil um regime de exceção que torturou, executou, “fez desaparecer” milhares de pessoas — entre elas, estudantes, militantes políticos e sindicalistas. Todas as violações de direitos humanos, os crimes contra a humanidade praticados pela ditadura militar, além da bibliografia nacional e internacional, estão registrados fartamente em arquivos diplomáticos, por exemplo, dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido.
Há relatórios abundantes sobre a ditadura nos órgãos da Comissão de Direitos Humanos da ONU, assim como na Comissão e na Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), em relatórios da Comissão Internacional de Juristas, da Anistia Internacional e do Tribunal Russell.
Os magistrados primam por ignorância crassa do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV), elaborado a partir dos depoimentos de centenas de vítimas e seus familiares, bem como de documentação oficial disponível nos arquivos de órgãos governamentais brasileiros, como o Serviço Nacional de Informações (SNI), o Centro de Informações do Exterior, do Ministério das Relações Exteriores, e alguns arquivos militares.
As investigações realizadas pela CNV comprovaram que o Estado brasileiro na ditadura foi responsável por graves violações de direitos humanos, perpetradas de forma sistemática e em função de decisões que envolveram as cúpulas dos sucessivos governos do período.
Os sequestros, as detenções arbitrárias, a tortura, as execuções, os 434 casos de mortes e desaparecimentos de cidadãos não constituíam eventuais “excessos” ou episódicos “abusos”. Resultaram de política de Estado, acatada por uma cadeia de comando que ia do general presidente até os órgãos de inteligência e repressão subordinados às Forças Armadas. Um dos grandes chefes da tortura, o coronel Ustra, reverenciado pela extrema direita, era lotado no gabinete do ministro do Exército.
Essa realidade, ao contrário do que decidiram os magistrados do TRF-5, torna incompatível com os princípios que regem o Estado democrático de Direito a realização de eventos oficiais de celebração do golpe militar; devem, sim, ser objeto de rigorosa proibição.
Seria um escárnio para as vítimas dos crimes perpetrados pela ditadura militar e um enorme constrangimento para as atuais Forças Armadas, que hoje não querem mais se envolver com aventuras golpistas nem em ditaduras como em 1964.
Fugindo da irresponsabilidade
Bolsonaro está lutando contra qualquer esforço político para responsabilizá-lo pela negligência criminosa que já levou a dezenas de milhares de mortes desnecessárias e muitas milhares mais por virPeter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação Brasileira do Arquivo de Segurança Nacional Americano, em Washington
Um carro funerário se aproxima. Em seguida outro. E mais outro
Um carro funerário se aproxima. Em seguida outro. E mais outro. Vão surgindo de repente, vindos de várias direções. No cemitério municipal de Vila Formosa, o maior da América Latina, na cidade de São Paulo, cinco veículos ficam estacionados ao mesmo tempo diante da quadra 101. Alguns chegam a formar fila. Em volta deles, familiares aguardam a vez de enterrar seus mortos. Nem todos faleceram pela covid-19, convém dizer. Mas as vítimas dessa doença são maioria. “Só nesta manhã foram uns 70 enterros”, dizia um dos trabalhadores em conversa com outros três colegas nesta quarta-feira, relatando a pressão do sistema funerário como um dos sintomas do agravamento da pandemia de coronavírus, que neste mesmo dia fez que com que o Brasil superasse a marca de 300.000 mortes.
Quando os veículos começam a chegar, o trabalho volta a ser incessante. Para carregar um caixão são necessários pelo menos quatro trabalhadores, dois na frente e dois atrás. Todos vestem um macacão especial de proteção. “Chego em casa com o maior cuidado, só falta pegar minha carteira com vara de pescar. Porque aqui a gente está exposto”, comenta um coveiro. “Estamos aqui porque precisamos estar.”
Os velórios são em sua maioria simples. Não só pelo fato de a Vila Formosa ser destino daqueles com menos recursos financeiros, mas também porque nem velório existe direito. A cerimônia com muitos amigos e familiares é restrito para quem morre por causas naturais ou doenças que não sejam a covid-19. Não há tempo nem espaço suficiente para velar as vítimas da pandemia. Por causa dos protocolos rígidos, o caixão chega lacrado no cemitério e, acompanhado por um grupo pequeno de familiares, segue direto para o enterro. Os veículos maiores chegam a levar quatro caixões ao mesmo tempo. Tampouco há muitas flores, homenagens e rezas. Tudo precisa ser feito às pressas, como em uma linha de produção de fábrica.
Uma vez retirados do carro funerário, os caixões são levados por alguns minutos até a cova recém-aberta. O tempo só se alonga no momento de descer o caixão. É quando vem a dor da despedida. O silêncio impera no cemitério da Vila Formosa, mas é quebrado quando um familiar cai aos prantos e grita alto sua indignação —como uma senhora que, nesta quarta-feira, precisou ser deitada no chão e socorrida.
O Estado de São Paulo bateu o recorde de 1.021 mortes nesta terça-feira, mesmo dia em que o Brasil registrou 3.251 óbitos. A pandemia obrigou que cemitérios de todo o país ativassem novas e antigas áreas e deixassem centenas de covas preparadas para receber as vítimas da covid-19. É o caso da quadra 101, onde foram realizados os enterros desta quarta-feira na Vila Formosa. O sindicato dos servidores municipais de São Paulo vem chamando atenção para o aumento dos sepultamentos nos cemitérios públicos e privados e no crematório, o que gera um risco de colapso no sistema similar ao que já ocorre nas redes pública e privada de hospitais —a taxa de ocupação de leitos de UTI é superior a 91% tanto no Estado como na Grande São Paulo. “Na terça-feira [16 de março], foram realizados 336 sepultamentos. No último sábado [20 de março] foram inacreditáveis 372″, afirmou a entidade em nota. De acordo com ela, o número de sepultadores é muito baixo para dar conta da alta demanda.
“Eu nunca vi nada parecido. Antes da pandemia, quando havia um fim de semana com muitas mortes, na segunda-feira não havia tantos enterros assim”, comenta um agente da Guarda Civil Municipal (GCM), admirado pela pequena aglomeração de famílias que esperam enterrar seus mortos. Mas ele mesmo já se acostumou com a perda. Nesta semana soube da morte de um colega de profissão e amigo. Na semana passada foram oito pessoas próximas que faleceram. “Mesmo quando não é alguém próximo, toda semana ficamos sabendo nos grupos de WhatsApp de colegas que morreram”, conta. Ao ser perguntado sobre o que achava da determinação do Governo João Doria (PSDB) de começar a vacinação dos profissionais de segurança no início de abril, afirmou: “Isso deveria ter acontecido junto com os profissionais da saúde bem antes, porque estamos sempre na rua.”
Mais carros funerários chegam, mais pessoas são enterradas. Até o fim do dia são realizados uma média de 87 enterros na Vila Formosa, o mais demandado do município, segundo a Prefeitura. É muito até mesmo para o maior cemitério da América Latina. Em janeiro e fevereiro, a média de sepultamentos por dia no local foi de 45. Em maio, junho e julho de 2020, eram 55 enterros. “Deus é tão bom com a gente que ninguém aqui da linha de frente pegou a doença”, comenta um coveiro. “Mas se eu pegar, já avisei pra minha mulher me dar logo um pau, porque não quero ir pro hospital ficar intubado. Se eu pegar, não me intuba não.”
Quando os veículos começam a chegar, o trabalho volta a ser incessante. Para carregar um caixão são necessários pelo menos quatro trabalhadores, dois na frente e dois atrás. Todos vestem um macacão especial de proteção. “Chego em casa com o maior cuidado, só falta pegar minha carteira com vara de pescar. Porque aqui a gente está exposto”, comenta um coveiro. “Estamos aqui porque precisamos estar.”
Os velórios são em sua maioria simples. Não só pelo fato de a Vila Formosa ser destino daqueles com menos recursos financeiros, mas também porque nem velório existe direito. A cerimônia com muitos amigos e familiares é restrito para quem morre por causas naturais ou doenças que não sejam a covid-19. Não há tempo nem espaço suficiente para velar as vítimas da pandemia. Por causa dos protocolos rígidos, o caixão chega lacrado no cemitério e, acompanhado por um grupo pequeno de familiares, segue direto para o enterro. Os veículos maiores chegam a levar quatro caixões ao mesmo tempo. Tampouco há muitas flores, homenagens e rezas. Tudo precisa ser feito às pressas, como em uma linha de produção de fábrica.
Uma vez retirados do carro funerário, os caixões são levados por alguns minutos até a cova recém-aberta. O tempo só se alonga no momento de descer o caixão. É quando vem a dor da despedida. O silêncio impera no cemitério da Vila Formosa, mas é quebrado quando um familiar cai aos prantos e grita alto sua indignação —como uma senhora que, nesta quarta-feira, precisou ser deitada no chão e socorrida.
O Estado de São Paulo bateu o recorde de 1.021 mortes nesta terça-feira, mesmo dia em que o Brasil registrou 3.251 óbitos. A pandemia obrigou que cemitérios de todo o país ativassem novas e antigas áreas e deixassem centenas de covas preparadas para receber as vítimas da covid-19. É o caso da quadra 101, onde foram realizados os enterros desta quarta-feira na Vila Formosa. O sindicato dos servidores municipais de São Paulo vem chamando atenção para o aumento dos sepultamentos nos cemitérios públicos e privados e no crematório, o que gera um risco de colapso no sistema similar ao que já ocorre nas redes pública e privada de hospitais —a taxa de ocupação de leitos de UTI é superior a 91% tanto no Estado como na Grande São Paulo. “Na terça-feira [16 de março], foram realizados 336 sepultamentos. No último sábado [20 de março] foram inacreditáveis 372″, afirmou a entidade em nota. De acordo com ela, o número de sepultadores é muito baixo para dar conta da alta demanda.
“Eu nunca vi nada parecido. Antes da pandemia, quando havia um fim de semana com muitas mortes, na segunda-feira não havia tantos enterros assim”, comenta um agente da Guarda Civil Municipal (GCM), admirado pela pequena aglomeração de famílias que esperam enterrar seus mortos. Mas ele mesmo já se acostumou com a perda. Nesta semana soube da morte de um colega de profissão e amigo. Na semana passada foram oito pessoas próximas que faleceram. “Mesmo quando não é alguém próximo, toda semana ficamos sabendo nos grupos de WhatsApp de colegas que morreram”, conta. Ao ser perguntado sobre o que achava da determinação do Governo João Doria (PSDB) de começar a vacinação dos profissionais de segurança no início de abril, afirmou: “Isso deveria ter acontecido junto com os profissionais da saúde bem antes, porque estamos sempre na rua.”
Mais carros funerários chegam, mais pessoas são enterradas. Até o fim do dia são realizados uma média de 87 enterros na Vila Formosa, o mais demandado do município, segundo a Prefeitura. É muito até mesmo para o maior cemitério da América Latina. Em janeiro e fevereiro, a média de sepultamentos por dia no local foi de 45. Em maio, junho e julho de 2020, eram 55 enterros. “Deus é tão bom com a gente que ninguém aqui da linha de frente pegou a doença”, comenta um coveiro. “Mas se eu pegar, já avisei pra minha mulher me dar logo um pau, porque não quero ir pro hospital ficar intubado. Se eu pegar, não me intuba não.”
Fritura de comandante é perde-perde
Faltavam três dias para a posse de Jair Bolsonaro, e o professor Delfim Netto ensinou:
Não se frita comandante do Exército. A troca mais traumática dos últimos 50 anos ocorreu em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel demitiu o general Sylvio Frota. Os dois não se bicavam há tempo, mas fritura não houve. Tanto foi assim que Frota chegou ao Palácio do Planalto sem saber que seria demitido. (Quando Bolsonaro era um capitão afastado do Exército abrigado na política, Geisel definiu-o com três palavras: “um mau militar”.)
— Na quarta-feira, o presidente terá que abrir a quitanda às nove da manhã com berinjelas para vender a preço razoável e troco no caixa para atender à freguesia. Pelos próximos quatro anos, a rotina essencial será a mesma: abrir a quitanda, com berinjelas e troco. Todos os desastres da economia brasileira deram-se quando deixou-se de prestar atenção na economia da loja.
O capitão trocou seis ministros. Noves fora as berinjelas, tinha na quitanda 14 milhões de desempregados e uma pandemia que já matou quase 318 mil pessoas — e decidiu criar uma encrenca militar.
Bolsonaro teria aumentado sua influência sobre o primeiro escalão. Falta dizer para quê.
No rastro dessa troca, veio o veneno: a saída do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, abriria o caminho para a troca do comandante do Exército, general Edson Pujol.
Não se frita comandante do Exército. A troca mais traumática dos últimos 50 anos ocorreu em 1977, quando o presidente Ernesto Geisel demitiu o general Sylvio Frota. Os dois não se bicavam há tempo, mas fritura não houve. Tanto foi assim que Frota chegou ao Palácio do Planalto sem saber que seria demitido. (Quando Bolsonaro era um capitão afastado do Exército abrigado na política, Geisel definiu-o com três palavras: “um mau militar”.)
Fritura de comandantes do Exército foi coisa do governo João Goulart, com quatro ministros em apenas três anos. Em 21 anos, os presidentes militares tiveram oito ministros. Deles, um deixou o cargo para ser presidente (Costa e Silva), e outro morreu (Dale Coutinho). Nenhum foi frito.
Desde que foi criado, em 1999, o Ministério da Defesa teve outros 11 titulares. Todos chegaram e partiram sem ruídos. A demissão do general Azevedo e Silva resultou na saída dos comandantes das três Forças, coisa nunca vista.
O primeiro murmúrio de uma eventual fritura de Pujol surgiu em maio do ano passado, mas não prosperou. Pujol pouco fala e não tuíta.
Trocar comandantes da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica é atribuição do presidente da República. Afinal, ele é o comandante das Forças Armadas. Apesar de o capitão gostar de se referir ao “seu” Exército, elas não são de sua propriedade. Chefes como Henrique Lott, Orlando Geisel e Leônidas Pires Gonçalves nunca usaram essa expressão possessiva. O problema aparece quando se acende o fogareiro da fritura. Isso porque se cria uma situação de perde-perde. Perde se frita e perde se não frita.
O marechal Castello Branco era cauteloso (até demais) e tinha as ideias no lugar. Em março de 1964, ele chefiava o Estado-Maior e distribuiu uma circular reservada onde dizia:
— Não sendo milícia, as Forças Armadas não são armas para empreendimentos antidemocráticos. Destinam-se a garantir os poderes constitucionais e sua coexistência.
O presidente acreditava estar amparado num poderoso dispositivo militar com seus “generais do povo”. Um mês depois, João Goulart estava no Uruguai. Deu no que deu.
As Forças Armadas não são milícia, e na porta da quitanda há quase 318 mil mortos e 14 milhões de desempregados. Em qualquer país e qualquer época, quem tem problemas desse tamanho não precisa de novas encrencas.
No aniversário da ditadura, Bolsonaro sonha com um novo golpe que não conseguirá dar
Parodiando os geniais compositores Luiz Reis e Haroldo Barbosa, não há dúvida de que Jair Bolsonaro tem cara de maluco, pinta de maluco e jeito de maluco. Mas na undécima hora, quando todo mundo pensa que o chefe de governo vai concretizar a maluquice, ele dá uma meia trava e demonstra ter a exata noção do que está fazendo.
Foi o que aconteceu nesta segunda-feira, dia 29, quando a Lula Cheia e a proximidade do 31 de Março parece que mexeram com a psiquê do presidente, que entrou em alfa e demitiu o ministro da Defesa, seu amigo de juventude Fernando Azevedo e Silva.
O objetivo é claro – fazer as Forças Armadas se envolverem com a política e apoiarem o estado de sítio (ou de exceção) que o atual presidente tanto almeja.
A estratégia de Bolsonaro era demitir os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica na segunda-feira, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, recusou-se a obedecer. Mas na terça-feira, diante da saída do ministro da Defesa, os comandantes ficaram revoltados e também deixariam seus cargos.
Era exatamente o que Bolsonaro almejava, porque eles abriram caminho para a nomeação de comandantes de baixíssimo nível, amoldáveis, maleáveis e manipuláveis a ponto de apoiar Bolsonaro num golpe de estado. Essa é a missão impossível do novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que agora tem de encontrar três patetas para comandar as Forças Armadas.
Esta quarta-feira, 31 de março, é mais um aniversário da Revolução de 64. Bolsonaro terá de estar perfilado junto ao novo ministro Braga Netto no Forte Apache, onde ouvirá a leitura da Ordem do Dia sobre a importância democrática do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.
O general Braga Netto vai desfilar de saia justa, por saber que não pode obedecer Bolsonaro e lhe dar poderes ditatoriais, pois o Alto Comando já vetou essa possibilidade. Se atender a Bolsonaro, o novo ministro da Defesa estará traindo as instituições que jurou honrar e vai se arrepender muito.
Aliás, se sucumbir à pressão e acabar dando força a um golpe militar de um desequilibrado mental como Bolsonaro, o general Braga Netto mostrará que também não está em seu juízo perfeito. Assim, também precisará ser medicado e cumprir internação, quando poderá se exibir à vontade como Napoleão de hospício.
Foi o que aconteceu nesta segunda-feira, dia 29, quando a Lula Cheia e a proximidade do 31 de Março parece que mexeram com a psiquê do presidente, que entrou em alfa e demitiu o ministro da Defesa, seu amigo de juventude Fernando Azevedo e Silva.
O objetivo é claro – fazer as Forças Armadas se envolverem com a política e apoiarem o estado de sítio (ou de exceção) que o atual presidente tanto almeja.
A estratégia de Bolsonaro era demitir os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica na segunda-feira, mas o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, recusou-se a obedecer. Mas na terça-feira, diante da saída do ministro da Defesa, os comandantes ficaram revoltados e também deixariam seus cargos.
Era exatamente o que Bolsonaro almejava, porque eles abriram caminho para a nomeação de comandantes de baixíssimo nível, amoldáveis, maleáveis e manipuláveis a ponto de apoiar Bolsonaro num golpe de estado. Essa é a missão impossível do novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, que agora tem de encontrar três patetas para comandar as Forças Armadas.
Esta quarta-feira, 31 de março, é mais um aniversário da Revolução de 64. Bolsonaro terá de estar perfilado junto ao novo ministro Braga Netto no Forte Apache, onde ouvirá a leitura da Ordem do Dia sobre a importância democrática do golpe militar que derrubou o presidente João Goulart.
O general Braga Netto vai desfilar de saia justa, por saber que não pode obedecer Bolsonaro e lhe dar poderes ditatoriais, pois o Alto Comando já vetou essa possibilidade. Se atender a Bolsonaro, o novo ministro da Defesa estará traindo as instituições que jurou honrar e vai se arrepender muito.
Aliás, se sucumbir à pressão e acabar dando força a um golpe militar de um desequilibrado mental como Bolsonaro, o general Braga Netto mostrará que também não está em seu juízo perfeito. Assim, também precisará ser medicado e cumprir internação, quando poderá se exibir à vontade como Napoleão de hospício.
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