terça-feira, 13 de novembro de 2018

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Washington (EUA)

A vez de ser vidraça

A vida é mais difícil que um sonho; a de um presidente da República pode ser pior que um pesadelo. Empolgado com o resultado das urnas, Jair Bolsonaro levitava de contente. À parte do grave atentado que sofreu, o ex-capitão ganhara uma eleição dificílima com maior facilidade do que poderia ter sonhado. Mais: a agenda que propagandeou durante a campanha parecia não sofrer oposição, a não ser do PT, derrotado nas urnas. Além disso, no segundo turno, vários partidos correram em seu apoio. Sinal de que estariam dispostos a caminhar juntos, no futuro governo.

Durante a campanha eleitoral, o presidente eleito fez crer que, no limite, tudo dependeria de sua disposição pessoal, de sua determinação e vontade política. Contudo, não avisou do pesadelo que é a negociação a que os governos estão submetidos no formato de governabilidade que se dá no presidencialismo no Brasil.

Resultado da interação de um número ilimitado de personagens, a política demanda construção de consensos, convencimentos, e, sim, negociação de interesses. O sistema político brasileiro foi desde sempre forjado na conciliação desses interesses. Mas, Bolsonaro havia anunciado na campanha que acabaria com o “é dando que se recebe”, tão criticado pelo deputado, na tribuna, nas redes sociais, na televisão.


Vê-se agora que nada é tão simples. E bem precocemente criou-se o primeiro impasse da era Bolsonaro. A vontade de cada membro do Congresso Nacional também conta, e muito. Parlamentares podem até recebe-lo com festa, mesuras e lisonjas. Mas, dar-lhe o que deseja é outra coisa. Trata-se de um modo não apenas de barganhar interesses dispersos, mas, no atacado, defender o que acreditam ser suas prerrogativas.

Pode-se argumentar que o Congresso que ora vige está tomado por mais de metade de seus membros que não conseguiram se reeleger, não gozando da mesma legitimidade do presidente eleito. Seria, por exemplo, o caso de Eunício de Oliveira, o presidente do Senado que na noite de quarta-feira aprovou um despropositado aumento de salários que comprometerá ainda mais a saúde fiscal do país, tornando mais complicada a vida do futuro governo.

Com efeito. Contudo, todos foram eleitos para cumprir mandatos que estão em vigor e lhes dá, sim, o direito de exercerem seus votos da forma que entendem mais correta, prestando contas a seus eleitores, no futuro. Depois, nada garante que a próxima legislatura seja, nesse particular, distinta da atual. Trata-se de uma característica estrutural do sistema.

Negociações são inevitáveis e, na maioria, se dão nos bastidores; há a ação de lobbies, um emaranhado processo de trocas de apoios. Isto é normal e não bastam argumentos racionais ou apelos à consciência. Política é sim um jogo de construção de consensos, de avanços e recuos. Cabe ao governo jogá-lo ou propor novas regras que, no limite, serão aprovadas pelo próprio Congresso. Assumir um governo é deixar de ser e para passar a ser vidraça. E mourejar a cada votação.
Carlos Melo

Política de bostas

Os acontecimentos políticos humilham e desabonam mais a sabedoria humana que quaisquer outros eventos deste mundo
Marquês de Maricá

Lula acreditava que seria libertado após eleição

Lula imaginou que ganharia a liberdade depois da eleição. Foi o que disse ao teólogo e filósofo Leonardo Boff, que o visitou na cadeia nesta segunda-feira. Acha que continua preso porque virou “um troféu para sustentar as mentiras” da Lava Jato.

Tudo mudou no Brasil, menos a retórica de Lula. Segundo Boff, o presidiário petista continua “desafiando” Sergio Moro a apresentar uma prova capaz de incriminá-lo no caso do tríplex.


Em suas últimas entrevistas, Moro tachou a tese da perseguição política de “álibi falso” do petismo. Disse que Lula está preso porque “cometeu crime”. Sua sentença sobre o tríplex foi confirmada e ampliada pelo TRF-4.

Enquanto Lula vira a página do seu drama penal para trás, Moro prepara sua mudança da Lava Jato para a Esplanada dos Ministérios. Deixou o “troféu” aos cuidados da jovem juíza substituta da 13ª Vara de Curitiba, Gabriela Hardt, 44 anos.

A doutora deve interrogar Lula nesta quarta-feira (14). Manuseia agora o processo sobre o sítio de Atibaia. Embora as evidências sejam mais caudalosas do que as que resultaram na primeira condenação, Lula repetiu para Boff que não tem nada a ver com o sítio.

De resto, o líder máximo do PT disse ao visitante que os partidos, entre eles o seu, estão diante de um desafio: reformular a maneira de fazer política, ajustando-se à era das redes sociais.

Lula declarou-se “indignado” com a quantidade notícias falsas difundidas durante a campanha. Citou também, segundo Boff, a “máquina montada pelas igrejas” para influir na eleição.

Noutros tempos, quando o PT prevalecia na internet e seus rivais o acusavam de espalhar a falsa notícia sobre o fim do Bolsa Família, Lula dava de ombros. Na época em que Edir Macedo encostava sua igreja Universal nos governos do PT, Lula também não via problemas.

Hoje, Lula avalia que a onda que inunda as redes sociais de notícias falsas e a politização das igrejas pró-Bolsonaro “comprometem a própria democracia.”

O rabo do macaco

“A Cotia tinha um rabo enorme, mas só se preocupava com o rabo do Macaco; se distraiu, esquecendo o seu próprio rabo, e terminou cotó”. (Do folclore)
Um dos contos mais conhecidos da tradição oral brasileira, “O Macaco e a Cotia”, foi apropriado e compilado por Silvio Romero, que, com Teófilo Braga, publicou o livro “Contos Populares do Brasil”. Mais tarde, Monteiro Lobato, precursor da literatura infantil no Brasil, publicou também a mesma historieta.

Conheço-a. Mas ouvi da minha avó Quininha, quando menino, uma versão bastante diferente da registrada por eles. Esta narrativa avoenga é:
“O Macaco e a Cotia conversavam na beira de uma estrada onde trafegavam vários carros de boi carregando cana para o engenho;
A Cotia era muito nervosa e alertava o macaco para o perigo que representava o trânsito para seu enorme rabo: – “Macaco, tira seu rabo da estrada, senão o carro passa por cima e corta-o”.
O Macaco não dava atenção à lengalenga da amiga, várias vezes repetindo preocupada o alerta. De olho nos carros e no rabo do macaco ela se distraiu e esqueceu o próprio rabo que um carro esmagou. É por isso que a Cotia não tem rabo…”
Na política brasileira a gente vem assistindo diuturnamente a moral contida nesta história, com várias cotias chamando a atenção do macaco para tomar cuidado com o rabo deixando o seu à mercê do tráfego intenso da vigilância popular.

Extraída da EBC, vimos um pronunciamento da ministra Cármen Lúcia, do STF, numa palestra em que disse que o mundo atravessa um momento de mudanças que, muitas vezes, se tornam “perigosamente conservadoras”; admitiu ainda que “muitas vezes”, fica preocupada com as opções feitas pela sociedade.

Até recentemente Cármen Lúcia era presidente do Supremo cargo que passou para o colega Dias Toffoli. Não vimos a sua “preocupação” quando o seu sucessor, em sessão extraordinária da 2ª Turma do STF determinou a libertação “imediata” do corrupto José Dirceu, condenado pelo TRF-4 e sentenciado à prisão.

Aliás, a meritíssima Togada não se inquietou com várias decisões da 2ª Turma, que recebeu da mídia a designação de “Jardim do Éden” pela leniência, quase favorecimento, a corruptos presos pela Lava Jato, e sofreu comentários atribuindo-lhe “diarreia jurídica”.

O bando dos três, Toffoli, Gilmar Mendes e Lewandowsky formou uma maioria na 2ª Turma que, sinceramente, pôs em risco a credibilidade do STF soltando um contêiner de presos pela Lava Jato, e houve até boatos que tramavam com alguns picaretas do Congresso um ataque aos membros da PF, MPF e juízes que investem contra a corrupção.

Anteriormente, os mundos jurídico e político, também aceitaram calados o fatiamento do impeachment de Dilma Rousseff e a manutenção dos direitos políticos dela em flagrante desrespeito à Constituição praticado pelo ministro Lewandowsky acumpliciado com o corrupto Renan Calheiros, então presidente do Senado.

Todos estes, ficam arrotando ética, liberdade e patriotismo para aconselhar o presidente eleito democraticamente pelo povo brasileiro, Jair Bolsonaro, tentando pautar suas atitudes, comportamento e visão do ministério que vai compor e até do governo que pretende fazer. Não olham os próprios rabos.

Até a OEA, que tem um enorme rabo bolivariano, resolveu dar palpites sobre o futuro governo, falando de ameaças à liberdade de expressão e riscos de práticas ditatoriais que nunca se importou existirem efetivamente em Cuba e na Venezuela…

Dispenso fazer comentários sobre a massa fanatizada do lulopetismo, pela inutilidade de esperar de robôs primários com memória mecânica e suporte magnético de uma ideologia superada. Não se espera deles nada do que a conspiração para levar o País ao caos.

Seja como for, porém, esse grupo, cada vez mais minoritário, que olha e se preocupa com o rabo dos outros, terminará cotó, mutilado pelo trator da História…