O problema de Bolsonaro é o Google. Qualquer um dos 7,7 bilhões de habitantes da terra que fizer uma busca na internet sobre o que já disse o presidente da República do Brasil, nos últimos 30 anos, sobre ecologia, verá que Bolsonaro é tão fã da proteção do meio ambiente quanto um peru é fã da ceia de NatalAncelmo Góis
quarta-feira, 25 de setembro de 2019
Pensamento pré-fabricado
'Nobel Alternativo' distingue ativista Greta, líder e associação de defesa da Amazônia
A jovem ativista sueca Greta Thunberg, o líder indígena brasileiro Davi Kopenawa e a Hutukara Associação Yanomami, de conservação da floresta tropical da Amazónia, foram esta quarta-feira distinguidos, em Estocolmo, com o "prémio Nobel Alternativo"
A advogada chinesa Guo Jianmei e a defensora dos direitos humanos saraui Aminatou Haidar receberam também o galardão, que assinala este ano o 40.º aniversário.
A advogada chinesa Guo Jianmei e a defensora dos direitos humanos saraui Aminatou Haidar receberam também o galardão, que assinala este ano o 40.º aniversário.
"Distinguimos quatro visionários práticos cuja liderança deu voz a milhões de pessoas na defesa de direitos inalienáveis e na luta por um futuro sustentável para todos no planeta Terra", afirmou o diretor-executivo da Fundação Right Livelihood [modo de vida correto], ao anunciar os prémios.
"Além do prémio monetário, oferecemos aos distinguidos apoio a longo prazo e ajudaremos a proteger aqueles cujas vidas e liberdade estiverem em perigo", sublinhou Ole von Uexkull, na conferência de imprensa de anúncio dos prémios, no Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco.
De acordo com o júri internacional, o líder da tribo dos Yanomami em Roraima, no norte do Brasil, Davi Kopenawa, e a Hutukara Associação Yanomami foram distinguidos "pela corajosa determinação na proteção das florestas e da biodiversidade da Amazónia, das terras e da cultura dos povos indígenas".
A jovem ativista do clima Greta Thunberg, de 16 anos, foi escolhida por ter "inspirado e ampliado as exigências políticas para uma ação climática que reflita factos científicos".
A advogada chinesa Guo Jianmei foi distinguida pelo "trabalho pioneiro e persistente na defesa dos direitos das mulheres na China", tendo ao longo dos anos ajudado milhares de mulheres a terem acesso à justiça.
A defensora dos direitos humanos saraui Aminatou Haidar destacou-se por "uma campanha pacífica", ao longo de 30 anos, "apesar de detenções e tortura, em prol da justiça e da autodeterminação para o povo do Sara Ocidental", sendo a primeira saraui a receber um "Nobel Alternativo".
Cada um dos premiados vai receber um milhão de coroas suecas (94 mil euros), destinadas a apoiar o trabalho que desenvolvem nas suas áreas e não para uso pessoal.
Num processo de nomeação aberto, o júri recebeu 142 nomeações de 59 países.
Os "Nobel Alternativo" vão ser entregues em Estocolmo, a 4 de dezembro, numa cerimónia pela primeira vez aberta ao público, para assinalar os 40 anos do prémio.
Criados em 1980, estes prémios "honram e apoiam homens e mulheres que oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes e atuais".
"Além do prémio monetário, oferecemos aos distinguidos apoio a longo prazo e ajudaremos a proteger aqueles cujas vidas e liberdade estiverem em perigo", sublinhou Ole von Uexkull, na conferência de imprensa de anúncio dos prémios, no Ministério dos Negócios Estrangeiros sueco.
De acordo com o júri internacional, o líder da tribo dos Yanomami em Roraima, no norte do Brasil, Davi Kopenawa, e a Hutukara Associação Yanomami foram distinguidos "pela corajosa determinação na proteção das florestas e da biodiversidade da Amazónia, das terras e da cultura dos povos indígenas".
A jovem ativista do clima Greta Thunberg, de 16 anos, foi escolhida por ter "inspirado e ampliado as exigências políticas para uma ação climática que reflita factos científicos".
A advogada chinesa Guo Jianmei foi distinguida pelo "trabalho pioneiro e persistente na defesa dos direitos das mulheres na China", tendo ao longo dos anos ajudado milhares de mulheres a terem acesso à justiça.
A defensora dos direitos humanos saraui Aminatou Haidar destacou-se por "uma campanha pacífica", ao longo de 30 anos, "apesar de detenções e tortura, em prol da justiça e da autodeterminação para o povo do Sara Ocidental", sendo a primeira saraui a receber um "Nobel Alternativo".
Cada um dos premiados vai receber um milhão de coroas suecas (94 mil euros), destinadas a apoiar o trabalho que desenvolvem nas suas áreas e não para uso pessoal.
Num processo de nomeação aberto, o júri recebeu 142 nomeações de 59 países.
Os "Nobel Alternativo" vão ser entregues em Estocolmo, a 4 de dezembro, numa cerimónia pela primeira vez aberta ao público, para assinalar os 40 anos do prémio.
Criados em 1980, estes prémios "honram e apoiam homens e mulheres que oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes e atuais".
Greta Thumberg, a criança que há de nos salvar
Em geral ela é caracterizada como a ativista do clima que iniciou o movimento global Greve pelo Futuro, inspirando milhões, especialmente jovens, a se engajarem na luta contra as mudanças climáticas.
Ela se encontra com chefes de Estado e fala nas Nações Unidas, recebe prêmios, incluindo o Prêmio Nobel alternativo, e agora seu nome está na lista das 100 pessoas mais influentes do planeta. Já existem biografias sobre ela e até um livro com seus discursos – contando nada menos do que 64 páginas. E Greta Thunberg tem apenas 16 anos!
Como é possível tudo isso? A maior parte do que diz não é realmente novidade – ela própria enfatiza isso reiteradamente. Ela não afirma ter revelado novas verdades. Em vez disso, exorta as pessoas a finalmente tomarem conhecimento e agirem em conformidade com o que já é sabido há muito tempo e, na opinião dela, já foi suficientemente comprovado pela ciência.
Mas por que justo ela? E de onde vem todo esse alvoroço midiático?
Ao longo da história, repetidamente acontece que algo que paira no ar, que, por assim dizer, chega a hora para algo. E então aparece alguém que aponta, expressa, torna esse fenômeno visível e compreensível para todos – como se o espírito do mundo houvesse escolhido o seu porta-voz. Nesse caso, é uma porta-voz de 16 anos.
Ela é jovem, e sua aparência, ainda mais. Quando nos fala, é o rosto de uma criança que olha para nós. E isso toca algo muito profundo nas pessoas. Numerosas culturas sabem disso: no mundo cristão, é o Cristo recém-nascido que há de salvar a humanidade.
No Nepal, garotas eleitas são adoradas até a puberdade como kumari, as meninas-deusas. Porque as crianças são consideradas inocentes e puras. Elas exprimem verdades que os adultos tentam ignorar e esconder. Ou – dependendo do ponto de vista – uma verdade mais profunda e mais elevada se faz notar através delas.
E assim Greta Thunberg se torna a criança do nosso tempo, que fala a verdade, que olha nos olhos a nós, adultos, e nos chama de mentirosos. E a fixamos fascinados, aplaudindo, projetando nela nossos desejos, anseios e medos, vendo nela a criança que nos salvará. Enfim! Hosana!
E agora podemos nos recostar e relaxar.
O alvoroço midiático global, no entanto, também tem a ver com outra das habilidades de Greta Thunberg: ela é mestre em exacerbar e simplificar. Isso é algo que ela tem em comum com muitos populistas de todo o mundo.
Poucos campos científicos são tão complexos e, portanto, tão nebulosos em suas análises e resultados como a pesquisa climática. No entanto, nas apresentações de Greta Thunberg, tudo é reduzido a uma suposta clareza e simplicidade, como se tratasse das leis da física newtoniana.
"Escutem, finalmente, os cientistas", pede, como se entre eles não houvesse também os que veem a problemática do clima de forma um tanto mais diferenciada. O mundo é pintado por Greta Thunberg apenas em preto e branco, tudo no meio ela simplesmente exclui, oferecendo respostas radicais para perguntas complexas.
E exige ação, aqui e agora, sem tempo para pensar ou fazer perguntas. "Don‘t think about it – just do it! Nossa casa está pegando fogo!" – é a mensagem que todos entendem. Greta Thunberg é clara, é penetrante, encaixando-se, portanto, no formato Twitter. Ideal para um mundo midiático que adora manchetes e quer simplificações. E isso também a torna altamente eficaz.
Após morte de criança, Witzel faz propaganda
O ex-juiz entende do assunto. Há um ano, ele estava no ato em que dois deputados do PSL quebraram uma placa com o nome de Marielle Franco. Witzel não se incomodou coma celebração da morte da vereadora. Aproveitou a euforia da plateia para pedir votos.
No mês passado, o governador repetiu a dose. Depois de uma ação que libertou reféns na Ponte Rio-Niterói, ele saltou do helicóptero aos pulos, como se comemorasse um gol. Festejava o tiro que matou o sequestrador, um ajudante de padeiro que tinha transtornos mentais.
Ontem Witzel disse lamentar a morte de Ágatha Félix, mas não chegou nem perto de uma autocrítica. Ao contrário: culpou os usuários de drogas e fez propaganda do próprio governo. Ao que tudo indica, o ex-juiz já absolveu os PMs suspeitos de atirar na menina. “A polícia age sempre na legítima defesa da sociedade”, declarou.
O governador também elogiou o pacote de Sergio Moro, que amplia o excludente de ilicitude em favor dos policiais que matam em serviço. O texto beneficia agentes que alegarem “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. É mais um incentivo ao bangue-bangue, que Witzel confunde com política de segurança.
Em sintonia com o secretário da PM, o ex-juiz definiu a morte de Ágatha como um “fato isolado”. A expressão ofende a inteligência alheia. Amenina foi a quinta criança a morrerem operações policiais em nove meses. Todas eram pobres e negras—a carne mais barata do mercado, como diz a música gravada por Elza Soares.
Há duas semanas, a cantora disse que o Brasil está “doente” e não reage à escalada da barbárie. “Parece que botaram Lexotan na água do povo”, comentou. A morte de Ágatha pode ter começado a quebrar essa letargia. Ontem Witzel parecia preocupado com os protestos contra a brutalidade da polícia. Diante das câmeras, ele embargou a voz e tentou encenar um novo papel. “Eu não sou um desalmado. Sou uma pessoa de sentimento ”, recitou.
Bolsonaro vira reserva autosuficiente de crises
Já se sabia que Jair Bolsonaro sabe criar crises. Com seu discurso na ONU, o capitão mostrou que não sabe desfazê-las. O presidente brasileiro revelou-se uma espécie de reserva autossuficiente de produção de encrencas ambientais. Ele mesmo cria um contencioso ao adotar uma agenda anti-ambientalista. Ele mesmo aprofunda a crise ao desprezar doações estrangeiras milionárias que ajudavam a atenuar o drama da floresta. Ele mesmo absolve o seu governo, transferindo a culpa à imprensa, às ONGs e às forças ocultas que desejam ocupar a Amazônia.
O que as pessoas de bom senso esperavam de Bolsonaro era que ele aproveitasse o discurso na ONU para desarmar o gatilho ambiental que ameaça o interesse econômico do Brasil. Mas Bolsonaro conseguiu corresponder a 100% das expectativas de quem não esperava que ele dissesse na ONU nada de proveitoso para o interesse nacional. Difícil esperar algo diferente de um discurso que sofreu revisão final de Eduardo Bolsonaro, filho e chanceler de fato; Ernesto Araújo, chanceler de fachada; e Filipe Martins, assessor internacional do Planalto.
Assessorado por essa trupe, Bolsonaro discursou na ONU como se pronunciasse uma das falas que transmite semanalmente aos súditos que o acompanham nas redes sociais —a mesma agressividade, as mesmas obsessões. Depois de contaminar o meio-ambiente, o presidente conseguiu estragar o ambiente inteiro. Seu discurso estava contaminado com pesticida ideológico. O presidente desperdiçou a melhor oportunidade para retirar da sua retórica a raiva que atrapalha os acordos internacionais, afugenta investidores estrangeiros e ameaça a pauta de exportações do agronegócio brasileiro.
Bolsonaro soou paradoxal. No pouco espaço que dedicou às reformas liberais do seu governo, disse que está "abrindo a economia" e integrando o Brasil "às cadeias globais de valor". Mencionou o acordo formado entre Mercosul e a União Europeia. Esqueceu que esse acordo tem cláusulas ambientais que, se desrespeitadas, podem servir de pretexto para anulações. Bolsonaro mencionou a certa altura o combate ao déficit fiscal. Mas ficou entendido que o principal déficit do Brasil no momento está entre as orelhas do seu presidente.
Tem gente que é cega!
Bolsonaro desperdiça momento e o perdedor é o agronegócio
Aquele ambiente não é para isso. Bolsonaro deveria ter aproveitado para romper o isolamento em que o país está numa questão diplomática central no mundo, que é o combate à emergência climática. Aquele era o fórum para convencer, por exemplo, os membros da União Europeia. O acordo de livre comércio não está garantido, precisa ser ratificado pelos parlamentos de cada país do bloco. Essa era a hora de dar mais garantias, de tranquilizar os parceiros. Era preciso apresentar dados e reforçar o compromisso do Brasil com o meio ambiente. O tom adotado não ajuda na aprovação do acordo lá fora.
Bolsonaro dedicou um tempo enorme atacando o “socialismo”, guerra que não existe no mundo há pelo menos 30 anos, desde a queda do muro de Berlim. Em seguida, um longo tempo foi dedicado a criticar Cuba, uma pequena ilha que não há de ser um adversário de um país continental como o Brasil. Em seguida, críticas à Venezuela. Houve também ataques indiretos à França e acusações frontais às ONGs e à imprensa. Ou seja, o presidente do Brasil se apresentou no principal palco do mundo com uma pessoa cheia de inimigos, ressentimentos, raiva. Na questão indígena Bolsonaro investe contra Raoni, um líder de 89 anos.
Aquele é um ambiente onde a serenidade é bem-vinda e o tempo é usado para lançar pontes nas quais passarão os diplomatas para fazer acordos e parcerias. E apontar princípios que defenderá nas negociações bilaterais.
Seu discurso sobre a Amazônia não ajudou a derrubar a impressão de que está havendo falta de controle no desmatamento. Bolsonaro apenas repetiu o que vem dizendo, sem qualquer evidência e dados. O grande prejudicado com isso é o setor do agronegócio exportador, que precisa que seus clientes internacionais possam ampliar os negócios com o Brasil sem a pressão dos seus mercados consumidores.
Miriam Leitão
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