Político é como cobra grande: quer engolir todo mundo. Os políticos nacionais não querem saber de proteger a natureza. Eles querem usar o subsolo. Tem o político pequeno, fraco, que não tem dinheiro. Esses querem proteger. Os grandes não
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Os 'cobra grande'
O Haiti é aqui?
Ao congregar sob um só comando Estado, governo e administração, na figura onipotente da presidência da República, nosso modelo institucional produz um grave déficit democrático e um enorme ônus aos pagadores de impostos. Essa fusão só pode dar confusão. A função governo, que é transitória, deve ser partidária. Nisso andamos certos. Mas constitui um completo disparate partidarizar e aparelhar, simultaneamente, o Estado e a administração. Estes, são permanentes.
A partidarização do Estado, vou ficar com este fio do problema, tem determinado as grandes trapalhadas da nossa política externa. Aponto, entre muitos outros, os casos com Honduras, Paraguai, Bolívia, Israel, Itália, Cuba, Irã e Indonésia. Em todos esses, e em muitos outros, ou o Brasil transpassou, varou, o princípio constitucional de respeito à soberania das demais nações ou foi na contramão das melhores tendências internacionais. Isso para não falar na magnanimidade dos governos petistas para com ditadores africanos e sul-americanos, malbaratando recursos nossos em nome da ambicionada cadeira no Conselho de Segurança da ONU.
Andando por esses descaminhos ideológicos, seguindo a cartilha do Foro de São Paulo, o Brasil foi parar no Haiti. Corria o ano de 2004 e a ONU criara o MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para estabilização do Haiti). Transcorreu uma década, o Brasil comanda a missão, e já enviamos ao Haiti mais de 30 mil homens. E agora? Bem, agora a recíproca revelou-se verdadeira. Agora, o Haiti é aqui.
Vinte mil haitianos aparecem no Acre. No Acre? Sim, o governador do Acre é petista. A revista Veja, em 2/02/2014, assim descreve a rota dos haitianos: “Até cruzar a fronteira do Brasil, os haitianos viajam dias a partir da República Dominicana, país vizinho ao Haiti. De lá, embarcam para o Panamá e para o Equador, que não exige visto de entrada. Alguns permanecem no país por algum tempo até juntar dinheiro para o resto da viagem. De Quito (Equador), cruzam o Peru até a cidade de Puerto Maldonado, onde atravessam de carro a fronteira do Brasil e chegam à cidade de Assis Brasil (AC). A corrida de táxi até Brasileia custa 20 reais.”
Do Acre, os haitianos dirigem-se, preferentemente, para São Paulo, não por acaso, cidade administrada pelo PT, o que deixa essa longa história, do início ao fim, sob orientação de certa diretriz partidária. Todas as informações que se têm sobre a recepção aos haitianos não permitem um louvor à dedicação humanitária de quem lhes abriu nossas portas. Se o país os acolhe num gesto humanitário, não é correto tratá-los miseravelmente. E eles estão submetidos a condições inumanas de recepção e encaminhamento.
O governo já anunciou que está em elaboração uma Lei de Migrações, para substituir o Estatuto do Estrangeiro, atualmente em vigor. Mas parece que antes de sair a lei já sepultou o Estatuto, segundo o qual a “imigração objetivará, primordialmente, propiciar mão-de-obra especializada aos vários setores da economia nacional, visando à Política Nacional de Desenvolvimento em todos os aspectos e, em especial, ao aumento da produtividade, à assimilação de tecnologia e à captação de recursos para setores específicos“.
Nada justifica acolher os haitianos para, depois, jogá-los à própria sorte, dispersos num país de proporções continentais. Os petistas administram as questões internacionais com o mesmo desleixo com que tratam das questões nacionais.
Dilma fez como Ali Babá e reuniu 40 ministros
Um ministro anuncia uma coisa, logo é desmentido pelo Planalto ou por outro ministro. A confusão é geral é só faz aumentar. Ainda não satisfeita em ter 39 ministros, a maioria sem a menor expressão ou importância, a presidente Dilma Rousseff já elevou este número para 40, porque o assessor especial Marco Aurélio Garcia, tido como consultor da Presidência para Assuntos Internacionais, conquistou assento permanente junto aos demais e participa das reuniões ministeriais.
Mas esse espantoso número passa a 41 quando se entende que o marqueteiro João Santana também merece idêntica qualificação de ministro sem pasta. Na verdade, deveria até ser considerado como principal ministro, uma espécie de Rasputin imberbe, pois é o único que consegue ser escutado com atenção por Dilma Rousseff, que acata sem discutir todas as sugestões dele, embora algumas tenham sido inteiramente idiotas, como vazar para a mídia que a presidente Dilma costumava andar sozinha de motocicleta por Brasília, à noite.
No dia seguinte, vergonhosamente o Planalto teve de desmentir a falsa notícia, porque Dilma não tem habilitação nem sabe dirigir motocicleta. Foi patético, porque, na tentativa de desfazer a mancada de Santana, a Secretária de Comunicação Social então inventou que a presidente andava de carona na moto do então secretário-executivo da Previdência Social, Carlos Gabas, que amavelmente se apressou a confirmar a veracidade da informação. E todos puderam imaginar a cena daquela volumosa senhora esforçando para subir na garupa de uma motocicleta para se abraçar fortemente a um jovem funcionário do governo, pelo simples prazer de dar um passeio pela capital…
Santana é um excepcional marqueteiro, mas se alimenta muito da criatividade alheia, ao imitar ideias e situações. No caso do passeio de moto, por exemplo, ele copiou descaradamente o jornalista Said Farah, que era ministro da Comunicação do general João Figueiredo. Para popularizá-lo, Farah espalhou a notícia de que o então presidente gostava de andar de moto sozinho em Brasília, à noite, e divulgou até uma foto dele, a caráter.
Depois, Santana imitou também Ulysses Guimarães e fez Dilma se referir ao “Velho do Restelo”, o personagem de Luís de Camões que tentou evitar a viagem de Vasco da Gama. A presidente da República absurdamente aceitou a sugestão e tentou aparecer como conhecedora das Lusíadas, como se realmente tivesse esse tipo de cultura literária, vejam a que ponto os marqueteiros chegam.
Em outra ocasião, Santana inventou que Lula passara a ler livros e teria até adorado a tradução da biografia de Abraham Lincoln escrita por Doris Kearns Goodwin. Lula gostou da ideia e deu declarações sobre a obra, destacando um episódio em que Lincoln estava numa estação de telégrafo. Só que, ao fazê-lo, Lula disse que o presidente americano estava usando o “telex”, ao invés de telégrafo. Mas o pior da estória é que esta cena não existe no livro, mas apenas no filme de Steven Spielberg, e foi criada pelo roteirista Tony Kushner. Ou seja, Lula apenas viu o filme, foi tirar uma onda de que teria lido a biografia e quebrou a cara.
Esses episódicos erros de Santana são desqualificantes, mas nada consegue reduzir o prestígio do marqueteiro no Planalto e no Instituto Lula, porque ele realmente funciona no que é mais importante – vencer eleição.
Quanto ao outro ministro sem pasta Marco Aurélio Garcia, é o contrário do marqueteiro, pois tudo que o assessor de Assuntos Internacionais faz dá errado. É da inspiração dele, por exemplo, a abertura de embaixadas e consulados em países e cidades sem importância. Com isso, aumentou os gastos do Itamaraty inutilmente, fazendo os diplomatas passarem vergonha no exterior, com credores batendo à porta a todo momento e a imagem no Brasil denegrida no plano internacional.
Quem aceita um assessor desse nível decididamente nem precisa de inimigos. Mesmo assim, a presidente Dilma continua ouvindo os conselhos de Garcia e lhe dá assento nas reuniões ministeriais.
Como todas as anteriores, a primeira reunião ministerial do segundo mandato da presidenta Dilma foi totalmente improfícua. A governante (ou seria governanta, como sugere a comentarista Teresa Fabricio?) demonstra tanta consideração com os ministros que marcou a reunião para as 16 horas, para que tivesse a menor duração possível. Isso significa que praticamente só quem falou foi ela, a quase totalidade dos ministros fez como figurante de novela, que entra em cena mudo e sai calado.
Reunir 39 pessoas (na verdade 40, contando com o “ministro sem pasta” Garcia) é de uma inutilidade constrangedora. Se tivesse o mínimo de conhecimento de técnicas de Administração, a suposta “doutora” pela Unicamp saberia que os ministros precisam ser reunidos por grupos. O mais importante deles seria formado por Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento e Banco Central. Dependendo do tema, poderia incluir Agricultura, Relações Exteriores, Turismo, Micro e Pequena Empresa e até Transportes e Portos, em função da importância crescente da logística no desempenho da economia.
Outro grupo seria formado por Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, Esporte e Desenvolvimento Social. Mais um grupo, integrado por Defesa, Relações Exteriores, Assuntos Estratégicos, Aviação Civil e Segurança Institucional, incluindo os três comandantes das Forças Armadas.
E por aí em diante. Mas quem se interessa por governar de uma forma racional e eficiente?
Carlos Newton
Comperj: duas versões do mesmo ex-secretário
Por falta de vergonha na cara, os políticos brasileiros não passam fome. Sobrevivem a qualquer cataclisma, desastre atmosférico, sobrenadam em alagamentos e têm piscinas cheias quando da seca. Qualquer assunto é motivo para tirarem o sustento de aparecerem nas páginas dos jornais, nas homepages, como homens (ou mulheres) dedicados à causa pública, defensores incondicionais do povo. A cara de pau é lustrada com óleo de peroba importado.
“Já falta água hoje, imagina com o Comperj? É certo que irá faltar muita água. Imagina com as centenas de milhares de pessoas que estão chegando em Itaboraí, São Gonçalo, Magé e outras, devido ao complexo? ”,
A declaração acima é um exemplo dessa cretinice política. Revela o deputado estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc (PT), criticando o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, ao pedir que a população do estado economize água.
Segundo Minc, em 2008, foi encomendada uma avaliação ambiental estratégica da licença do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), e foi constatado que para resolver o problema de recursos hídricos na região, a capacidade do sistema Imunana/Laranjal deveria aumentar 70%, passando de sete pra 12 metros cúbicos por segundo, já esquecida. A construção do reservatório deveria ser feita pelo governo. No entanto, ainda de acordo com Minc, então secretário estadual, as conversas caíram no esquecimento.
O que não lembrou em sua grande defesa da população é que foi por duas vezes secretário do Meio Ambiente, na gestão Cabral, e ministro do mesmo setor, desde 2009, no governo Lula. Na época defendia o mesmo complexo com ferocidade petista. Minc declarava que “o licenciamento ambiental da obra, feito pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente, é considerado modelo. Ocorreram cinco audiências públicas e o impacto ambiental foi avaliado de maneira adequada”. Em nenhum momento, como governo, advertiu sobre o prejuízo do Comperj às populações.
A crítica de agora é uma forma de se eximir de qualquer culpa quando era governo ou mesmo se esconder no emaranhado de crimes perpetrados contra a população como a atual da seca. Como um ex-ministro e duas vezes secretário no Rio de Janeiro não sabia o que acontecia nos reservatórios cada vez mais vazios? Minc não teria informações privilegiadas de que estavam corretas as previsões de queda no volume de chuvas desde 2012? E as suas declarações bombásticas anunciando, por exemplo, saneamento em Maricá, em 2013, quando sequer existe estação de tratamento ou rede de esgotos? Portanto, como governo, também escondeu do contribuinte informações importantes e sequer avisou que estávamos em situação crítica.
O petista esquece do seu passado no meio ambiente fluminense, que não teve qualquer ação contra o péssimo abastecimento da Cedae? E o que falar das defesas constantes que fez da administração municipal concedendo licenças ambientais para construção de inúmeros condomínios numa região sem água e esgoto?
As declarações de agora são mais uma cortina de fumaça, típica da demagogia, para esconder o passado tenebroso de atitudes nada favoráveis à população, mas que no momento serviam aos interesses tanto governamentais quanto da Petrobras. Afinal o Comperj é mais um daqueles elefantes brancos típicos da ditadura mais para angariar popularidade de abertura de empregos do que efetivo desenvolvimento, porque o estrago ao redor é maior do que o benefício.
Vídeo divulgado em 2013 com o então secretário do Meio Ambiente, mas que agora o Google informa: "Os comentários estão desativados para este vídeo"
“Já falta água hoje, imagina com o Comperj? É certo que irá faltar muita água. Imagina com as centenas de milhares de pessoas que estão chegando em Itaboraí, São Gonçalo, Magé e outras, devido ao complexo? ”,
A declaração acima é um exemplo dessa cretinice política. Revela o deputado estadual do Rio de Janeiro, Carlos Minc (PT), criticando o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, ao pedir que a população do estado economize água.
Segundo Minc, em 2008, foi encomendada uma avaliação ambiental estratégica da licença do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), e foi constatado que para resolver o problema de recursos hídricos na região, a capacidade do sistema Imunana/Laranjal deveria aumentar 70%, passando de sete pra 12 metros cúbicos por segundo, já esquecida. A construção do reservatório deveria ser feita pelo governo. No entanto, ainda de acordo com Minc, então secretário estadual, as conversas caíram no esquecimento.
O que não lembrou em sua grande defesa da população é que foi por duas vezes secretário do Meio Ambiente, na gestão Cabral, e ministro do mesmo setor, desde 2009, no governo Lula. Na época defendia o mesmo complexo com ferocidade petista. Minc declarava que “o licenciamento ambiental da obra, feito pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente, é considerado modelo. Ocorreram cinco audiências públicas e o impacto ambiental foi avaliado de maneira adequada”. Em nenhum momento, como governo, advertiu sobre o prejuízo do Comperj às populações.
A crítica de agora é uma forma de se eximir de qualquer culpa quando era governo ou mesmo se esconder no emaranhado de crimes perpetrados contra a população como a atual da seca. Como um ex-ministro e duas vezes secretário no Rio de Janeiro não sabia o que acontecia nos reservatórios cada vez mais vazios? Minc não teria informações privilegiadas de que estavam corretas as previsões de queda no volume de chuvas desde 2012? E as suas declarações bombásticas anunciando, por exemplo, saneamento em Maricá, em 2013, quando sequer existe estação de tratamento ou rede de esgotos? Portanto, como governo, também escondeu do contribuinte informações importantes e sequer avisou que estávamos em situação crítica.
O petista esquece do seu passado no meio ambiente fluminense, que não teve qualquer ação contra o péssimo abastecimento da Cedae? E o que falar das defesas constantes que fez da administração municipal concedendo licenças ambientais para construção de inúmeros condomínios numa região sem água e esgoto?
As declarações de agora são mais uma cortina de fumaça, típica da demagogia, para esconder o passado tenebroso de atitudes nada favoráveis à população, mas que no momento serviam aos interesses tanto governamentais quanto da Petrobras. Afinal o Comperj é mais um daqueles elefantes brancos típicos da ditadura mais para angariar popularidade de abertura de empregos do que efetivo desenvolvimento, porque o estrago ao redor é maior do que o benefício.
Lula pretende a revolução cultural?
Anuncia o Lula a intenção de promover uma reforma estrutural no PT. Começa pelo cumprimento efetivo das quotas de participação, ou seja, a obrigatoriedade de serem escolhidos para funções de direção nos municípios, estados e no plano federal, 50% de mulheres, 20% de jovens e 20% de negros. O ex-presidente critica a direção centralizada e pretende a renovação dos quadros.
Significa o quê, esse posicionamento? Primeiro, uma declaração de guerra a Dilma Rousseff. Se o PT precisa de reformas é porque a presidente, cujo governo domina mais da metade dos companheiros, impõe diretrizes que isolam o ex-presidente. Nunca é demais buscar lições na História. Na China, Mao-Tsetung estava isolado, afastado das decisões, mera figura decorativa. O poder repousava nas mãos de Liu-Xaochi, Teng-Xiauping e outros moderados. Mao criou a Revolução Cultural, virou o país de cabeça para baixo e voltou a exercer o comando. Liu foi degradado, Teng refugiou-se num comando militar do interior e, por sinal, voltou com toda força depois da morte de Mao, para sepultar a Revolução Cultural.
Guardadas as proporções, o Lula ainda não perdeu de todo o poder, mas se não reagir, como agora parece estar fazendo, torna-se apenas um mito reverenciado mas ultrapassado. Daí a ênfase que pretende dar à renovação dos dirigentes do partido, manobra capaz de atingir o verdadeiro objetivo, no caso, reconduzir o PT às suas origens. Quais? A defesa de reformas socializantes em condições de bater de frente com a linha neoliberal e conservadora adotada pela sucessora.
Na verdade, o que precisa mudar no PT é o seu conteúdo.A legenda ficou igual às demais, um aglomerado de petistas buscando ocupar cargos, funções e espaços que os beneficiem pessoalmente, sem fazer conta dos ideais um dia proclamados de mudar a sociedade através das reformas envolvendo a justiça social, a igualdade, a extirpação da miséria e da pobreza, o fim dos privilégios das elites e sucedâneos.
Se o Lula obterá a vitória, como Mao a obteve, é um ponto de interrogação, até sob o risco dos monumentais excessos e retrocessos que a China enfrentou com seus Guardas Vermelhos, afinal contidos. Uma evidência, porém, sobressai entre outras: vem por aí uma luta de foice em quarto escuro entre ele e Dilma.
Carlos Chagas
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