terça-feira, 15 de setembro de 2015

Dilma marchando tesouro corte nao asslto imposto mao levantada contribuinte

Ser pobre custa muito caro

Dia desses tive a oportunidade de ler uma interessante pesquisa sobre o quanto se rouba dos pobres lá nos Estados Unidos. Uma leitura fascinante, que sem dificuldades poderia ser aplicada ao nosso país em muitos aspectos.

O estudo começou pelo emprego. Algumas empresas norte-americanas, aproveitando o momento difícil da economia, começaram a estender a jornada de trabalho em alguns minutos diários, sem qualquer compensação. Quem não concordar é despedido. Outras empresas foram apanhadas desviando míseros centavos dos contracheques de seus funcionários - algo que sempre passa desapercebido. Isto pode parecer pouco, mas anualmente são surrupiados dos mais pobres, por conta de tais expedientes, nada menos que US$ 100 bilhões.

Esta conta fica ainda mais revoltante se considerarmos que o governo norte-americano distribui aos mais pobres recursos assistenciais da ordem de US$ 55 bilhões anuais - e os mais ricos roubam deles praticamente o dobro!

Se você tem recursos, basta ir a alguma loja e fazer suas compras em paz. Algum eventual crédito virá rapidamente, e quase sempre sob juros razoáveis. A realidade do “Zé-Povinho”, no entanto, é bastante diferente: haverá que se ir a alguma financeira implorar por um crédito qualquer, que normalmente virá acompanhado de juros extorsivos. É assim que, lá nos Estados Unidos, são abocanhados dos mais pobres nada menos que US$ 30 bilhões a cada ano.

Ser pobre, lá nos EUA, não é apenas penoso - é também perigoso. Recentemente, em um estudo realizado sobre 15 estados daquele país, descobriram que em 14 pobreza é crime. Quanto mais você descer na escala social, mais criminoso tenderá a ser.

Inicio pelo local de dormir. Se você tem dinheiro, dorme em casa. Se não tem, dorme na rua - e acaba preso. Se você tem dinheiro, vai ao banheiro. Se não tem, acaba descobrindo que banheiros públicos são raridade, alivia-se na rua e... acaba preso. Se você tem dinheiro, alimenta-se em um restaurante ou em casa. Se não tem, vira mendigo - e acaba preso. Se você tem dinheiro, compartilha alguma refeição em sua casa, com amigos. Se você não tem, divide um pão dormido na praça - e acaba preso. Registro que não estou exagerando: em Houston e na Philadelphia é crime dividir comida com indigentes. É isso aí: a lei, de forma majestosa, impõe a ricos e pobres o dever de ocultar a pobreza.

À primeira vista estes parecem ser problemas de menor gravidade - até quando constatamos que eles respondem por 90% da criminalidade de baixo potencial ofensivo dos EUA, e por nada menos que US$ 2 bilhões recolhidos a cada ano dos miseráveis, a título de multas ou penas alternativas.

Vamos a outro exemplo: se você tem um automóvel de luxo e comete alguma infração de trânsito, paga a multa e segue sua vida. Mas caso seja um indivíduo modesto, proprietário de alguma “lata-velha”, e não tenha dinheiro para arcar com o valor da multa, prepare-se para ter sua Carteira de Habilitação confiscada - isto acontece na maioria dos estados norte-americanos. Neste quesito, inclusive, o Estado do Novo México foi além: aos devedores de multas de trânsito corta-se o fornecimento de água e gás. Que fiquem sujos, sem aquecimento e sem poder cozinhar, pois somente assim aprenderão que ser pobre custa muito caro.

Diante desta realidade fico a pensar que, no final das contas, não precisamos nos preocupar em fazer algo pelos miseráveis. Na verdade, basta que nada façamos contra eles.

Pedro Valls Feu Rosa

Forma corrupta de governar


Os fatos revelados em relação à Petrobras são suficientes para contar uma história sobre uma forma de governar, um método de administração.Isso pouco tem a ver com financiamento do sistema eleitoral, mas com método de governança.
Contaminou-se todo o tecido político. Estruturamos um modo corrupto de fazer política
Gilmar Mendes, ministro do STF

Ajuste fiscal ou lavagem de Pixulecos?


Dentre as propostas que o governo Dilma listou para aumentar as receitas do governo no contexto da crise fiscal em que meteu o país está uma que possibilitaria a brasileiros que tenham remetido capitais ao exterior irregularmente, repatriar esses valores mediante pagamento de tributos em troca da anistia pela evasão de divisas e sonegação fiscal.

A proposta teria nascido na CPI do HSBC e sido convertida em projeto de lei. A ideia consiste de extinguir a punibilidade dos crimes contra a ordem tributária e contra o sistema financeiro associados a ativos ilegalmente remetidos ao exterior. Para isso, os interessados em repatriar valores teriam que pagar à Receita Federal a alíquota de 17,5% e uma multa de mais 17,5%. O resultado da arrecadação da multa seria destinado a um fundo para compensar perdas de Estados em consequência da redução das alíquotas interestaduais do ICMS decorrente da virtual aprovação da equalização desse imposto entre todos os estados da federação.

A nova lei permitiria sanear os ativos irregularmente remetidos ao exterior e, em tese, geraria receita fiscal, hoje escassa em função da crise, sem criar privilégios em relação à situação vigente e sem extinguir eventuais punições aos crimes antecedentes à evasão.

Depois de desaparecer por um certo tempo, a proposta voltou à pauta, defendida pelo governo como medida necessária para responder ao rebaixamento da nota do Brasil pela agência Standard & Poor’s e evitar novos rebaixamentos pelas demais agências.

Segundo especialistas a evasão ilegal de capitais tem como principais origens a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, a corrupção, o contrabando, a extorsão e crimes conexos. Em todos esses casos, dizem os especialistas, a repatriação é improvável dado que os praticantes desse tipo de crimes não precisam, necessariamente, repatriar os capitais. Reza a lógica que, se já conseguiram lavar o dinheiro na transferência ao exterior, de modo a poder usá-lo em operações lícitas em outros países não teriam motivos para repatriá-lo.

Tendo isso em conta, e considerando a realidade brasileira presente, quem poderia se interessar, ou necessitar repatriar capitais hoje depositados no exterior?

Dado o cenário de recessão profunda e prolongada que se insinua, e a escassez de dinheiro, desvalorização do real e encarecimento do crédito em função da elevação da taxa de juros e perda do grau de investimento do país, é razoável supor que grandes empresas possam avaliar como interessante a possibilidade de pagar 35% (imposto de renda mais multa) ao leão para capitalizarem seus negócios com recursos próprios sem ter que recorrer a bancos.

Recorrendo à lógica apenas, tenho sérias dúvidas quanto à eficácia dessa medida. Afinal, se empresários desse quilate tem meios de evadir capitais do país sem pagar impostos e dispor desse dinheiro “limpinho” para investimentos no exterior, nada faz supor que, se assim o quiserem, não possam fazer o caminho inverso sem precisar arcar com a mordida de 35% do leão.

Sendo assim, quem mais poderia ter interesse na aprovação dessa lei?

Conforme os estudos antes referidos, recursos oriundos de corrupção estariam fora do espectro de possibilidades de repatriação de capitais. Mas, esses estudos, quero crer, dizem respeito a casos cujo objetivo seria o enriquecimento ilícito de quem pode se beneficiar da lavagem de dinheiro e sua aplicação no exterior sem a necessidade de sua repatriação.

Imaginemos, no entanto, o caso de um partido político envolvido num gigantesco esquema de corrupção, cuja máquina partidária, seus dirigentes e organizações satélites estejam viciadas no farto e prolongado financiamento ilícito com recursos roubados dos cofres públicos e que, flagrado com a mão na cumbuca vê secarem repentinamente as torneiras que irrigavam seus cofres.

Consideremos, além disso, que esse partido e seus dirigentes tenham estendido essa gigantesca teia de corrupção pelo exterior, através do desvio de dinheiro de um certo banco público de fomento; que tenha financiado obras públicas em países governados por ditadores amigos na África, América Central e Caribe, o que teria proporcionado o recebimento de pixulecos bem longe dos olhos e das garras do leão brasileiro.

Não seria essa nova lei uma excelente oportunidade de repatriar pixulecos “lavadinhos” para garantir o financiamento político de um partido-máfia em vias de extinção e desesperado pela sobrevivência? 

Ou então, de garantir a aposentadoria de seus dirigentes políticos decadentes, em vias de serem presos e precisando pagar caras bancas de advogados?

Os senhores governadores, senadores e deputados acreditam mesmo que a aprovação dessa lei vai compensar suas perdas com a equalização do ICMS?

Os senhores senadores e deputados estão dispostos a aprovar uma lei cuja finalidade real seria alimentar a sobrevivência de uma organização criminosa cujo único objetivo é eliminar todos os demais partidos para reinar sozinho?

O cúmulo da irresponsabilidade

A decisão de Dilma Rousseff de remeter proposta orçamentária deficitária ao Congresso Nacional, em meio a grave crise econômica, reflete o descompromisso dela e do seu partido, o PT, com os destinos da nação. É mesmo um comportamento infantil. A presidente, sabedora de que o Congresso Nacional não aprovaria proposituras de elevação (ou criação) de impostos, bateu o pezinho e manteve a colossal despesa, que não cabe no orçamento. Recusou-se a enfrentar sua clientela preferencial, os tais movimentos sociais.

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A reação do mercado foi imediata. O câmbio desvalorizou-se instantaneamente. Em seguida, veio a notícia que a agência avaliadora Standard and Poor’s retirou o precioso grau de investimento, fato que encarece a captação de recursos e impede que investidores institucionais façam do Brasil um destino de seus investimentos. Assim, o Brasil entrou no rol dos mercados especulativos de alto risco. Há algum tempo está havendo fuga de capitais por quebra da confiança.

A agência avaliadora funciona como uma Serasa para países, de certo forma fazendo a análise da “ficha cadastral”. Bancos também emprestam para quem não tenha uma ficha azul, mas os custos e as garantias exigidas serão mais severos. Assim será com o Brasil. O dinheiro ficará cada vez mais caro e escasso por pura incompetência da senhora governante.

Esse tem sido o modo do PT governar, em todas as esferas. Dá as costas para a realidade e praticando injustiças contra os brasileiros. A fantástica ideia de criar a CPMF e outros impostos em plena recessão é fazer pouco caso da capacidade contributiva dos brasileiros e empregar falsos argumentos desenvolvimentistas. Na crise, o certo é reduzir impostos e, mais ainda, as despesas.

Somando tudo, se apresenta no futuro imediato o encaminhamento do processo de impeachment, pois Dilma Rousseff demostrou não ter as condições psicológicas, morais e técnicas para seguir governando. Ela está destruindo o Brasil e os sonhos dos brasileiros. Precisa ser escorraçada do poder o quanto antes. Aliás, seu partido está definhando e deverá sofrer derrota devastadora no ano que vem. Muita gente está deixando o PT já agora. Ninguém quer ficar embarcado em um navio que afunda. Ninguém quer mais a estrela vermelha.

A tardança no processo de impeachment só prejudicará os brasileiros por mais tempo, pois é um fato inexorável. Percebo que a classe política e os empresários já se deram conta disso. Os jornais, todos os dias, dão sinais de que há articulações em andamento para retirar Dilma do poder. É um imperativo de sobrevivência.

Toda gente sabe que a superação da crise econômica terá de ser precedida da superação da crise política. Isso significa construir uma maioria para acabar com os privilégios dos petistas e sua corriola devoradora de orçamento. Será um parto, mas terá de ser feito. Sem acabar com os privilégios não há maneira de o orçamento caber dentro das possibilidades pagadoras dos brasileiros. Os parasitas ficaram mais numerosos do que os que trabalham. Uma iniquidade que precisa ser corrigida.

Quem viver verá.

Não é só pelos vinte centésimos

A CPMF paga mais de 48% da conta do pacote salva-vidas que o governo divulgou. Mas os vinte centésimos de porcentagem do imposto ressuscitado (0,20%) não devem ser a única pedra no caminho de salvação das aparências de equilíbrio nas contas do governo.

O plano parece resultado de uma tentativa desesperada de fazer o possível o quanto antes, pelo caminho da menor resistência política da sociedade e de Dilma Rousseff. Menor não quer dizer pequena.
Quanto mais ataque político ao pacote, maior o risco de que prossiga a degringolada financeira que vem desde o final de julho, quando o governo reduziu seus planos de poupança quase a zero. Foi então que começou a disparada mais recente de juros e dólar, que deram no famoso "rebaixamento da nota de crédito", a cereja do bolo podre. Foi então que se reabriu a temporada de caça ao mandato da presidente.

Os servidores federais ontem ainda estavam pasmos com o plano, mas ameaçam greve contra a redução do reajuste (adiamento, o que dá no mesmo). Embora o pacote não tenha avançado muito mais sobre "gastos sociais", na área política do governo temia-se ainda maior afastamento dos "movimentos sociais".

Os bancos deram apoio enfático ao pacote e à equipe econômica, como previsto, dadas as movimentações recentes de figuras importantes da banca.

Pelo menos parte da indústria vai fazer campanha feroz contra (Fiesp). A CNI preferiu não dizer nada além de que é "contra aumentos da carga tributária" e quer "reformas estruturais". A Firjan foi dura. As associações do comércio de São Paulo criticaram em tom de enorme desalento.

Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara, diz que a CPMF não deve passar, bidu. Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, diz que a coisa pode sair "melhorada" do Congresso, mas não detonou o imposto tido até outro dia como inaceitável. Ontem, dava o maior apoio ao plano.

Pelo menos duas lideranças relevantes do Congresso diziam que o pessoal de lá ainda "não tinha se inteirado bem das medidas"; que, de resto, quem havia chegado a Brasília estava "agitado" com os rumores sobre o "cronograma" da votação dos pedidos de impeachment.

A carta de intenções de cortar gastos e aumentar impostos soma R$ 66,2 bilhões. Quase 80% desse dinheiro viria de:

1) CPMF, R$ 32 bilhões; 2) Salário de servidores federais, R$ 7 bilhões; 3) Apropriação de 30% das contribuições para o sistema "S" (Sesc, Sesi, Senai etc), R$ 6 bilhões, facada nos empresários; 4) Cancelamento de 80% do valor das emendas parlamentares, R$ 7,6 bilhões.

Não teve aumento do "imposto da gasolina" (Cide), talvez por medo de mais inflação e da reação do BC.

A CPMF nova, 0,20% de cada movimentação de dinheiro, representaria apenas dois milésimos do preço da entrada do cinema ou do sanduíche, ajuda para a fechar o buraco da Previdência, como dizia ontem Joaquim Levy.

Talvez não seja apenas pelos vinte centésimos da CPMF que o plano desande ("Não é só pelos vinte centavos" era um mote das manifestações de junho de 2013 em São Paulo contra o aumento da passagem de ônibus). Derrubar o plano é um modo de puxar o tapetinho sobre o qual ainda caminha Dilma Rousseff.

No lixo


A presidente Dilma Rousseff tanto fez que conseguiu jogar no lixo todas as conquistas do país dos últimos anos. Ao levar o Brasil a perder o grau de investimentos, segundo a classificação da Standard & Poor’s (S&P), a petista acabou com as chances de recuperação da economia no próximo ano e comprometeu o futuro de muitos brasileiros. O quadro que está por vir é dramático. Agora, no clube das nações especulativas, o país mergulhará de vez na recessão. O desemprego poderá chegar a 12%. Com o dólar acima de R$ 4, a inflação voltará a subir, obrigando o Banco Central a elevar os juros. E mais: as empresas ficarão sem crédito para tocar investimentos e aquelas que devem no exterior podem enfrentar dificuldades para honrar os compromissos.

Daqui por diante, o Brasil voltará a registrar aumento da pobreza — a desigualdade entre ricos e pobres já aumenta desde 2013. Muitas das famílias que ascenderam socialmente retrocederão. A economia informal, que vinha encolhendo a passos largos, ganhará força. O país regredirá anos, confirmando o atraso que foram os quatro primeiros anos de mandato de Dilma.

A presidente não economizou na arte de destruir o país. Desde que tomou posse, ela se encantou pela ideia defendida pelo ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de que um pouco mais de inflação impulsionaria o Produto Interno Bruto (PIB). Equivocada, impôs como meta reduzir a taxa real de juros a 2% ao ano. Para isso, não se furtou em destruir a credibilidade do Banco Central, ao obrigar a instituição a derrubar a taxa básica (Selic) a 7,25%, o nível mais baixo da história, mesmo com a carestia em alta.

As estripulias se estenderam às contas públicas, destruídas sem dó nem piedade pelo então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo então secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Irresponsáveis, eles saíram distribuindo dinheiro público por meio de desonerações a setores específicos, que, muito espertos, usaram os benefícios para engordar os lucros.

Essa farra fiscal foi encoberta, por um bom tempo, por pedaladas e maquiagens. A gastança foi tamanha que, mesmo com todos os artifícios usados por Mantega e Arno, o país registrou, em 2014, rombo de R$ 32,5 bilhões, o primeiro buraco desde 1997, quando o governo assumiu o compromisso com o equilíbrio fiscal. Muitos especialistas apontam crimes de responsabilidade nessas manobras e, a depender de uma posição do Tribunal de Contas da União (TCU), Dilma poderá perder o mandato.

Desnorteado, pois foi pego de surpresa pelo rebaixamento, o governo tentou difundir o discurso de que todas as dificuldades serão superadas. O ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que endossou, no primeiro mandato de Dilma, boa parte das medidas que levaram o país para o buraco, alegou que a economia está passando por um momento de transição, que resultará no ajuste fiscal.

Barbosa se esqueceu de dizer que a decisão da S&P foi apressada pela insistência dele de enviar ao Congresso uma proposta de Orçamento para 2016 com deficit de R$ 30,5 bilhões. O ministro alegou que o projeto era um sinal de transparência e as agências de classificação de risco entenderiam isso. Não entenderam, e ainda se assustaram com a disputa por poder travada entre Barbosa e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Seria, no mínimo, honesto que Dilma pedisse desculpas à Nação por impor tantos sacríficos à população, devido à incompetência e à arrogância que prevaleceram nos últimos quatro anos. Mas será difícil ver esse gesto de humildade, em se tratando da petista. Ao ser reeleita, ela mudou o discurso e indicou que adotaria uma política econômica mais responsável. Mas o tempo foi passando e ela voltou a ter recaída pela tal nova matriz, que está na raiz de todos os problemas enfrentados pelo país.

A presidente pode agora bater no peito e dizer que venceu a batalha de como destruir um país. O Brasil da responsabilidade, que fez um esforço enorme para conquistar a confiança dos investidores, ficou no passado. Desde ontem, voltamos ao grupo nas nações consideradas lixo pelo capital. Grande vitória, Dilma!

O dia seguinte

Chegou a hora da verdade para os políticos e governantes. A sociedade está farta da empulhação. Os culpados pela esbórnia com dinheiro público, independentemente dos partidos e da posição que ocupem na cadeia corruptora, devem ser exemplarmente punidos. E isso não significa, nem de longe, ruptura do processo democrático, golpismo ou incitamento à radicalização.
A sociedade não pode se limitar ao clamor pela saída da presidente. É preciso construir uma agenda de reconstrução nacional: reforma política profunda (com revisão do modelo de governança de coalizão), corte efetivo de gastos públicos, enxugamento do Estado, Ministério de alto nível técnico e ético. O governo Dilma acabou. É preciso pensar e focar no dia seguinte.
Carlos Alberto Di Franco

E agora, José?

Eu sei, eu sei. De repente a vida ficou pesarosa e irritante para quem viveu décadas surfando na utopia. Aquele discurso socialista tinha a leveza de um sonho erótico e excitava no contraste com a realidade, coitada - encardida, feia e banguela. Vendia-se utopia no vidro traseiro dos carros. Vendia-se em camisetas, bandeiras e alto-falantes. Nos microfones, púlpitos e salas de aula. Nas charges e colunas de jornal. Era fácil de anunciar e barata de comprar. Haveria, logo ali, um novo céu, uma nova terra e um homem novo. Onde? Como? Era tão simples! Tudo se resumia em Lula-lá!

Tenho bem presente a Constituinte de 1988, os anos 90 e, principalmente, os gozos cívicos que marcaram a chegada de Lula ao poder. Uns poucos, entre os quais eu, antevíamos o que estava por vir. Assim como era inevitável a vitória da utopia sobre a realidade, era inevitável o desastre que sobreveio devagar, incontornável. Desastre moral, institucional, fiscal, econômico, cultural. Desastre que atinge todos os objetivos permanentes de qualquer sociedade civilizada: ordem, justiça, liberdade, segurança e progresso. Nada simboliza melhor o colapso de um projeto impulsionado pela ingenuidade de uns e a vaidade de outros do que Lula assistindo a Copa de 2014 pela TV, e Dilma no Sete de Setembro de 2015, cercando-se com as autoridades numa espécie de campo de concentração às avessas. O governo se esconde do povo.

Então, eu sei, a vida arruinou para quem, nos meios de comunicação, inflou um projeto político que agora se veste de pixuleco. Os propagandistas recolhem seus realejos. Não há mais público para defensores do governo. Fica chato fazê-lo e assinar embaixo. Isso só por muito dinheiro e boa parte dos antigos propagandistas da utopia eram voluntários, rodavam sua manivela por devoção. Vem-me à mente, então, o grande Carlos Drummond de Andrade: "E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José?". Agora, quando o sonho erótico virou desvario masoquista, ainda com o poeta digo a José: "O dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo fugiu e tudo mofou. E agora, José?".

José, coitado, cuida como pode de proteger o indefensável. Ele não mais se aligeira com os porta-estandartes da utopia que não veio. Repare bem nele. Furioso, xinga e ofende quem faz oposição num país que precisa, urgentemente, de rumo e prumo. É feio, mal educado, mas - que remédio? - se a utopia mofou e deu nisso que está aí?

Percival Puggina.

A arrogância de Lula repele a lucidez e combate a realidade

Enquanto os brasileiros estão cansados desta morte que nunca acaba, Lula, mesmo já tornado cadáver, continua onipresente. A onipresença é constitutiva da tirania e Lula é figura tirânica, como todo ególatra. Para tentar entender o fenômeno pelo qual a Alemanha se submeteu por um homem ridículo e obtuso como Hitler, o brilhante filósofo alemão, Eric Voegelin, se vale do spoudaios estabelecido por Aristóteles.

Evitando o insustentável paralelo entre nazismo e lulopetismo, pois, além de outras razões, o lulopetismo não passa de uma esculhambação vigarista reprimível por alguns camburões, talvez seja interessante contemplar pelo spoudaios a figura obtusa do passarinho vigarista. O modelo de Aristóteles é o homem que, tendo desenvolvido suas potencialidades, aprendeu que para governar e comandar é necessário governar a si mesmo, principalmente dominar as paixões. Mas Lula sucumbe à paixão pelo poder e por si próprio, em dramático autodesconhecimento.

O spoudaios desceu ao inferno do autoconhecimento de onde voltou com o desvelamento da própria alma. Assim, é capaz de conhecer a alma de seus governados, compreendendo as necessidades deles. Mas o Lula que só pensa nos pobres jamais se pôs ao lado deles se comparando a homens simples, preferindo paralelos com Jesus ou estadistas como JK e outros porque só pensa nos pobres sim, mas como objeto do populismo truculento que enriquece e perpetua no poder o pai dos pobres que os traiu incansavelmente.

O spoudaios é lúcido e humilde perante o real. Mas a arrogância de Lula repele a lucidez e, com a ajuda da compulsão pela mentira, combate a realidade. O spoudaios não é um condutor de homens como um peão que tange gado; é um líder autêntico, mais do que institucional e político, à frente de homens preenchidos de consciência e alma, não de um rebanho acrítico que o segue por necessidade, conveniência ou convicção insana. Em Lula vê-se o oposto: o líder néscio de uma ralé que, com a autoridade da ignorância, é governante medíocre e cruel.

No réquiem prolongado cujo final será na cadeia, a cria parva do passarinho-jeca contribui declarando que “não faço essa renúncia porque não devo nada, não fiz nada de errado”. Certamente Dilma não deve nada ao projeto soterrado pelas ruínas da nação arruinada por ele; também não fez nada de errado além de mentir, fraudar, trapacear e trombar com as leis. Tudo contornado com a adesão um Brasil primitivo guiado pela figura imaginária de líder até que a matasse o ladrão miserável que a habita.

Na progressão do réquiem, o Lula que nunca foi esquerdista nem direitista para ser apenas oportunista e nem elite ou povo para ser apenas escória, faz o que sabe: vadiar enquanto mente jactando-se de vadiar enquanto mente. Agora de galho em galho, esperando interromper sua descida ao inferno. Descobrirá que, conforme Anaxágoras ensinou para quem pretende driblar a realidade – e no caso do passarinho vigarista, a cadeia –, a descida ao inferno é a mesma de qualquer lugar. http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/opiniao-2/valentina-de-botas-a-arrogancia-de-lula-repele-a-lucidez-e-combate-a-realidade/