segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Riqueza fascina nas redes e na política

Há duas semanas, eu disse na TV que Pablo Marçal usava uma aura de sucesso profissional e prosperidade para seduzir a juventude da periferia. As patrulhas caíram em cima, por acharem que não o criticava com vigor. Ignoram meus artigos e não percebem que eu apenas buscava uma vereda de análise para entender um fenômeno político.

Com a prisão no Recife da advogada Deolane Bezerra, posso voltar ao tema, com um pouco de calma. Ela tem 20 milhões de seguidores. O exame de suas postagens nas redes sociais mostra Deolane testando carros de luxo, navegando com a família, saindo carregada de compras de uma loja da Louis Vuitton. Tudo com a ajuda de Deus.


As pessoas parecem se identificar com os que amealham grandes fortunas, sem se questionar muito sobre os métodos usados. Quem conhece melhor que eu comunidades pobres costuma dizer que os meninos que trabalham para o tráfico de drogas parecem mais atraentes para as garotas porque ostentam um nível de consumo maior.

Uma das minhas hipóteses é que essa vertente que se revela na política é inspirada pelo sucesso pentecostal da Teologia da Prosperidade. Muitas denominações religiosas apresentam a prosperidade como uma espécie de amor divino e argumentam com esta passagem da Bíblia, em João 10:10:

— Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.

Naturalmente, o favor divino é atrelado à generosidade com que se paga o dízimo. Quanto maiores as doações à igreja, maior será o retorno financeiro como resposta divina.

A Teologia da Prosperidade é alvo de controvérsia entre religiosos que centram sua vida espiritual no amor ao próximo, independente de riqueza pessoal. Mas o conflito maior se dá na projeção política. Se a esquerda não fosse tão entorpecida, poderia compreender a Teologia da Prosperidade como algo que desafia as propostas de políticas públicas em busca de segurança coletiva. Educação de qualidade, serviços de saúde eficazes e saneamento só se tornam um antídoto contra essa ilusão de enriquecimento pessoal nos lugares onde funcionam. Mesmo assim, como pude testemunhar nos longos anos vividos na Escandinávia, muita gente reclama do Estado de Bem-Estar porque, segundo dizem, os impostos altos reduzem seu crescimento individual.

No caso brasileiro, a julgar pelas manifestações de 2013, não se confia mais em partido político. Mesmo aqueles que adotam o discurso do bem-estar coletivo são vistos como usando um disfarce para esconder aquilo que realmente interessa: o enriquecimento pessoal. As denúncias de corrupção em governos servem para confirmar a suspeita de que a realidade é a busca pessoal de enriquecimento, e a segurança coletiva apenas uma cantiga para ninar os ingênuos.

Com esse contrabando das práticas religiosas para a política, não teremos adiante apenas um grande número de candidatos ostentando luxo e prometendo-o a seus potenciais eleitores. Muito possivelmente, tentarão fazer milagres, estimulando paralítico a andar, prometendo curas para todas as doenças. Quando o espaço político entra em decadência, começa não só o paraíso da aventura, mas torna-se mais fraca a própria mensagem religiosa de amor ao próximo e solidariedade.

O caminho não é fazer o elogio da pobreza, muito menos defender a segurança coletiva desprezando a singularidade individual. As políticas públicas precisam funcionar, e a prosperidade obedecer a alguns princípios éticos, não pode florescer à margem da lei.

Neste momento, as perspectivas são desoladoras. O país arde, e a elite política trata incêndios como algo que acontece no Afeganistão. É cedo para afirmar, mas pode ser que a campanha americana produza alguma indicação de como combater a antipolítica sem cair no terreno pantanoso da pura troca de acusações.
Fernando Gabeira

Pensamento do Dia

 


A leveza do ser já era

Como o silêncio não entra na prioridade das políticas públicas, os ônibus continuam fazendo seu barulho metálico nas ruas. Aliás, quais seriam essas prioridades? Ninguém discute. O que vemos por aí são candidatos vestidos da antipolítica agarrados a um humor de baixo nível, o que parece fundamental para angariar votos. Saudades do macaco Tião, voto de protesto, sim, mas incapaz de entregar a coroa aos patifes que a querem só para si.


Atualmente, novos patifes. Ou canalhas. Gosto tanto desta palavra. Salve Nelson Rodrigues, um de seus cultuadores. Volto ao raciocínio. Os novos canalhas não querem apenas roubar o erário, mas, em nome – e só em nome – de não roubar, anseiam destruir o que é público. E por razão nenhuma. Quer dizer, alguns candidatos não têm a menor ideia do que querem. São eficientes em manipular o mundo virtual, embora ideologicamente não passem de títeres em mãos para lá de gananciosas e poderosas. E só. O presidente anterior foi o que foi, um desastre. Mas isso não parece depor contra ele e seus seguidores amestrados. A cidade de São Paulo corre o risco de ser entregue a um sujeito que, na pele de um coach, meteu seus seguidores numa fria, perdidos na floresta. Não fosse o corpo de bombeiro. Mas ele, se chegar à prefeitura, acabará com o corpo de bombeiro. Quer dizer, acabaria, caso fosse de sua alçada. É a turma do incêndio. Dos que aumentarão o subsídio aos que investirem no barulho metálico dos ônibus e promoverão o fim das campanhas de vacinação. Dos que permitirão a volta dos cigarros em ambientes públicos fechados. Tudo em nome de Deus, contra o qual, desconfio, lutam, pois, não sendo nem ateus nem agnósticos, estão na trincheira do diabo.

Disse a uma amiga que sou um cara leve. É verdade, as coisas estão ruindo – pessoal ou socialmente – e estou fazendo graça, fiel à ironia. Aprendi a ser assim. Meu pai e o mundo em torno dele eram assim. Paciência. Mas ultimamente transpus a fronteira. Piso agora o solo do pessimismo (não ainda o do mau humor). Os ônibus continuarão a fazer seu barulho metálico, às nove da manhã, às três da tarde, às dez da noite e, quando passam, em plena madrugada. Que se dane o sono dos justos e dos injustos. O meu, antes tão profundo, hoje com o pé na insônia, não é interrompido pelos ônibus, pelos tiros nas comunidades mais ou menos perto – nas quais, devo confessar, os conflitos não têm sido tão comuns –, pela saída noturna do filho, pela cirurgia que a prima fez, pelos perrengues dos amigos e os meus. O meu sono picotado responde ao fato de minha leveza ter ido para o vinagre, e com ela lá vai indo minha saúde (não se assustem, por enquanto é uma metáfora).

Pensar dói?

Pesquisadores da Universidade Raboud, na Holanda, analisando cerca de 5.000 participantes de 358 tarefas cognitivas, chegaram à conclusão de que pensar dói. Não ria. A análise foi feita com o auxílio de um programa especial da Nasa, o que lhe dá mais autoridade do que a de pesquisadores limitados a só usar o cérebro. Pelo que entendi, certas atividades cerebrais, como fazer cálculos matemáticos, ler Gertrude Stein ou tomar decisões que envolvam um sim ou não de vida ou morte, provocam sensações orgânicas que podem ser classificadas como dolorosas. 

Segundo o estudo, quanto maior o esforço mental, maior o desconforto físico. Não é preciso pensar muito para se chegar a este óbvio, por definição, ululante. O estudo não considera a hipótese de todo esforço mental ser relativo —para muitos, calcular uma reles raiz quadrada será uma tarefa intransponível, enquanto, para outros, discutir a Conjectura de Poincaré com Alfred North Whitehead pode ser tão simples como falar de futebol no botequim. O estudo, pelo menos, admitiu certa possibilidade de diferença entre as pessoas, citando estudantes universitários e militares —imagino que cada um numa ponta do espectro cognitivo.

O que me espanta é que a conclusão de que pensar dói tenha vindo de uma instituição da Holanda, país admirado por produzir pensadores em tantos ramos. Eram holandeses Erasmo de Roterdão (1466-1536) e Spinoza (1632-1677), dois pilares da filosofia, atividade cuja única ferramenta é o pensamento. E não há registro de que Erasmo e Spinoza sofressem de lumbago ou dor de dentes por pensar.

Holandeses foram enormes pintores como Van Gogh, Rembrandt, Hieronymus Bosch, Vermeer e De Kooning, e pintar envolve decidir em um segundo se se dá esta ou aquela pincelada. E alguns dos jogadores mais cerebrais da história do futebol eram holandeses —Cruyff, Van Basten, Gullitt, Neeskens, Bergkamp—, a provar que nem sempre o cérebro precisa estar na cabeça.

Os holandeses inventaram também a fita cassete, o CD e o DVD, e temos de lhes ser gratos por isso. Mas depois os desinventaram — e pensar nisso, sim, dói.

O dilúvio das chamas

O título é um paradoxo. Figura de linguagem que associa ideias opostas: de um lado, a água; do outro o fogo. Não se fundem, mas separadamente reforçam a imagem escatológica que antecipa o final dos tempos. Têm guarida na mitologia de variadas culturas e, constitui parte da teologia de muitas religiões que trata dos eventos do fim do mundo.

Produto de crenças ou anúncios proféticos que afetam a imaginação humana, o fato é que o Brasil tem assistido e vivido catástrofes reais na repetição de inundações e incêndios de proporções devastadoras em que a sensação de horror gera o medo generalizado de que esta associação inacreditável – o fogo e a água – prenuncie o cenário do apocalipse.

Um enorme pedaço do Brasil está pegando fogo; outro, morrendo afogado. É o que revelam as gigantescas labaredas associadas ao imenso volume de inundações que destroem mais a bela, diversificada e generosa natureza do planeta: a natureza brasileira. Por consequência, ameaçam seriamente a vida na sua totalidade.


O choque da paisagem que dissemina a destruição e o medo das pessoas é revoltante porque a obra não decorre dos desastres naturais ou acidentes pontuais: é o resultado da ação enfurecida da cobiça humana.

O que mais fere o cidadão brasileiro é a dimensão perversa do crime porque atinge mortalmente o mais precioso patrimônio da nação brasileira: a natureza que lhe deu o nome de batismo e abriu as portas do futuro. O singularíssimo patrimônio, além do valor concreto, econômico, estratégico, sempre foi uma fonte de inspiração para os espíritos sensíveis à ética da vida e à estética da criação artística.

O anúncio do colonizador, em 1500, “terra à vista”, foi um o grito premonitório, pois, segundo, Caminha, “a terra em si é de muito bons ares, frescos e temperados […] Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo por causa das águas que tem!”

O deslumbramento com o “novo mundo” era o ponto convergência dos dois olhares conflitantes do ato fundador do Brasil: uma visão edênica cheia de arrebatamento romântico proclamando o mito do paraíso perdido; o olhar cúpido da exploração colonialista.

O “espírito do tempo” acolhia com benevolência e, até mesmo com entusiasmo, a ambição econômica, para além dos metais e pedras preciosas, a despeito de vozes que, em reflexões antecipatórias atribuíam valoração concreta e afetiva ao patrimônio natural.

É o que certificam as ideias de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da independência, personagem de sólida e eclética formação intelectual (Direito, Filosofia Natural, Matemática, pesquisador naturalista e mineralogista). Há dois séculos, escreveu: “Destruir matas virgens, como até agora tem sido praticado no Brasil, é crime horrendo e grande insulto feito à mesma natureza. Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos”. Uma referência que dá a dimensão Bonifácio: em 1790 publicou seu primeiro trabalho científico na defesa da preservação das baleias.

No Início do século XX, Euclides da Cunha descreveu a dinâmica da economia nacional: “Temos sido um agente geológico nefasto, e um elemento de antagonismo terrivelmente bárbaro da própria natureza que nos rodeia […] não há exemplo mais típico de um progresso às recuadas. Vamos para o futuro sacrificando o futuro como se andássemos nas vésperas do dilúvio” (Obra Completa, Rio, Ed. José Aguilar, 1966, Vol. I, p. 181).

Ainda no século XIX, a luminosidade das mentes abolicionistas, a exemplo de Rebouças e Nabuco, revelava um diagnóstico ambiental desalentador causado pelo vetor da destruição, a escravidão, que ao queimar florestas, esgotar o solo, produzia uma população miserável de proprietários nômades.

Não faltaram, mundo afora ideias, que semearam uma nova consciência ambiental, a princípio, ignoradas e, até certo ponto, consideradas ingênuas ou subversivas, frente a uma noção linear progresso assentada em dois pilares falaciosos: o crescimento econômico, qualquer custo, é um bem; os recursos naturais são inesgotáveis.

Bastaram dois séculos para demonstrar que as sucessivas revoluções industriais comprometeriam gravemente os limites biofísicos da natureza e, sequer, distribuíram equitativamente a afluência nunca vista na história. É o ponto dramático a que chegamos: natureza escassa e desigualdade social extrema.

O risco é real e a ameaça de uma catástrofe planetária tem data marcada para acontecer. O estimado leitor, então, poderia indagar: se era para enfatizar os eventos catastróficos por que não começou o artigo pelas causas, agora, resumidamente, mencionadas?

Por uma simples razão, a raiz mais profunda da crise ambiental está fincada na relação entre o Humano e a Natureza, o Dominante e a Dominada como se fossem realidades separadas ou entidades antagônicas. Ou seja, o rumo do dualismo antropocêntrico entrou em rota de colisão com os limites planetários. Generosa, a natureza, afirmam alguns pensadores, não se vinga, mas reage. A semântica não altera a tragédia anunciada. Somos a Unidade ou nada seremos.

É fundamental compreender que a natureza tem um valor intrínseco. Respira, expira, transpira, acolhe, expulsa, afaga, castiga e nesta variedade de sentimentos, emoções, ela se integra na comunhão dos cuidados.

A partir desta mudança, que venha de dentro para fora, o futuro é possível. No Brasil, natureza escolheu o domicílio para todos os biomas. O singularíssimo pampa; a heroica caatinga; a colorida mata atlântica; o generoso cerrado; o acolhedor pantanal; a monumental Amazônia, um bem da vida, como dizia o poeta Thiago de Melo.

Não por outra razão, a natureza é fonte de inspiração e afeto dos poetas, romancista, cancioneiros: Gonçalves Dias (Canção do Exílio); Guimarães Rosas (Grande Sertão: Veredas); Luiz Gonzaga (Asa Branca); Cecília Meireles (Mar Absoluto); Érico Veríssimo (O Tempo e o Vento) e por aí vai.

Somente o poder do amor e a força da arte são capazes de colocar o fogo e a água nos seus devidos lugares para não se consumar a sabedoria indígena: “só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro”.

Quase mil cidades no Brasil têm menos habitantes do que eleitores

Uma em cada cinco cidades no Brasil conta com mais eleitores do que habitantes, uma anomalia que atinge sobretudo pequenos municípios e se concentra principalmente em cinco estados: Minas Gerais, Goiás, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Sul. Eles somam 624 das 995 localidades com mais voto na urna do que residentes. O resultado é absurdo, já que pelo menos 20 % da população no Brasil está abaixo do limite etário para votar, de 16 anos. O levantamento cruza dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de julho de 2024 com os dados preliminares do censo do IBGE de 2022 e foi elaborado pelo Valor Data.


Essa situação passa longe das grandes e médias cidades, mas a conta sobre o eleitorado total pesa em Estados com base eleitoral nos pequenos municípios, abaixo de 10 mil habitantes. Nessa faixa se enquadram 921 dos 995 municípios com eleitorado excedente. Estão nessa situação 42% das cidades do Piauí, 40,4% da Paraíba e 39,8% de Goiás. No caso de Minas e Rio Grande do Sul, o percentual se dilui. A proporção nacional é de 17,9%.

No caso do Piauí, 19% do eleitorado vota em cidades com menos habitantes do que eleitores, um recorde nacional. Paraíba e Rio Grande do Norte também têm percentuais acima de dois dígitos, o que sinaliza que esta particularidade pode ter peso na eleição proporcional para deputado estadual e federal, em que a base municipal é estratégica.

A situação de um eleitor migrar para outra cidade sem transferir o título para onde reside na eleição subsequente é extremamente normal no Brasil, tanto que a abstenção eleitoral, ou seja, a ausência do eleitor na votação, costuma ficar na faixa de 20% a cada eleição Mas o caso do Piauí chama a atenção porque há um processo de transferência de títulos para os micromunicípios, em que normalmente a prefeitura é o único empregador.

Há várias ações em tramitação na Justiça Eleitoral do Piauí pedindo uma revisão do eleitorado nessas cidades, por indício de fraude. Em Assunção do Piauí, por exemplo, a base de eleitores cresceu 24% entre 2020 e 2024, por meio de transferência de domicílio. Advogados do PSD e do PT locais tentaram impugnar este ano 114 transferências como sem vínculo com o município. A Procuradoria Regional Eleitoral tem rejeitado todas elas. Um dos argumentos é que a revisão em ano eleitoral é inviável.

Procurada por essa coluna, a Procuradoria Regional Eleitoral do Piauí enviou uma nota, em que afirma que a revisão eleitoral para ser autorizada depende de dotação orçamentária prévia. Além disso precisa atender a três quesitos: " o total de transferências ser 10% superior ao do ano anterior; o eleitorado for superior ao dobro da população entre dez e quinze anos, somada à de idade superior a setenta anos; e superior a 80% da população projetada para aquele ano ".

De acordo com Wallyson Soares dos Anjos, advogado do PSD do Piauí, transferências irregulares podem definir uma eleição. " Estamos falando de municípios com menos de 8 mil eleitores, em que uma vaga de vereador pode ser decidida por 35 votos", afirma.

Mas há fatores estruturais para se entender a força dos pequenos municípios no Piauí, para além da fraude. Dos 240 municípios do Estado, boa parte é bem recente. 114 deles foram criados depois da Constituição Federal, sendo que 82 entre 1995 e 2001, durante o governo de Francisco Souza, o Mão Santa, atual prefeito de Parnaíba, um grande município.

Foram 82 novos municípios, cada um deles com prefeito, vice-prefeito e pelo menos nove vereadores, que geraram por si só uma máquina política alternativa, enfraquecendo a base oligárquica anterior.

"O Piauí é o único Estado nordestino construído de dentro para fora, do interior para os pontos de comunicação. Em geral as cidades se originaram de grandes fazendas", explica o cientista político Vitor Sandes, da Universidade Federal do Piauí. "Cada cidade média é cercada por um cordão de pequenos municípios, com famílias políticas muito consolidadas, ao contrário do que acontece nas cidades polos. E isso cria um fator de atração para transferências de título em anos eleitorais", afirmou.

Essa situação bizarra não é nova, mas a evolução impressiona. Em 2018, a Confederação Nacional dos Municípios divulgou um Estudo em que identificou a mesma situação em 231 municípios, sendo 75 em Minas Gerais. Em 2007, de ofício, o TSE fez uma revisão do eleitorado em 1.128 cidades com uma quantidade suspeita de eleitores em relação ao total de habitantes. É uma pista que talvez esquemas arcaicos de criações de currais eleitorais, que evocam a República Velha, tenham deixado algum vestígio no chamado Brasil Profundo.