segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Pensamento do Dia

 


A telecracia

Entre as pragas que devastam a política, uma é típica da civilização do consumo e abriga o campo do simbolismo. É conhecida como marketing. Origina-se na liturgia do poder, fazendo-se presente na História da Humanidade como sistema de tintura, pintura, estética para lapidar a imagem de governantes, sejam eles reis, presidentes, políticos ou celebridades do mundo dos divertimentos.

Quinto Túlio já o experimentava em 64 A.C. quando aconselhava o irmão Marco Cícero, famoso tribuno romano, candidato ao consulado, a se apresentar como um “homem novo preparado para conseguir a adesão entusiasmada do povo”.

César calculava os gestos públicos. Maquiavel ensinava o Príncipe a divertir o povo com festas e jogos. Luís XIV desfilava em seu cavalo branco nos espetáculos que promovia. Napoleão parecia um pavão vestido de púrpura quando se coroou para receber a benção do papa em Notre-Dame. Hitler foi treinado em aulas de declamação para agitar as massas, aprendendo a arte da oratória com um artista chamado Basil. O marketing político ganhou status profissional sob o comando de Joseph Goebbels, o “publicista” de Hitler.


Essa engenharia de encantamento das massas aportou, há décadas, no Brasil para agravar as mazelas de nossa incipiente democracia. Nos anos 60 tivemos as primeiras campanhas marqueteiras. Começou com a mobilização das massas nas ruas. Passou pela adoção de símbolos, cores e cantos até ganhar, hoje, dimensão pirotécnica, quando elege a forma em detrimento de valores. Políticos são transformados em bonecos.

Slogans se antecipam a programas. Brasil, Pátria Amada; Brasil, União e Reconstrução. Fincam-se no território as estacas do que podemos chamar de telecracia – extravagância sob a pilotagem da mídia eletrônica –, em que atores canhestros são ensinados a engabelar a fé dos tele-eleitores. Não é de admirar que a representação política, plasmada pela cosmética do apelo mercadológico, tem criado imenso vácuo no meio social. Poucas pessoas acreditam nos políticos. A transformação da política em extensão do show business tem sido o ofício de uma classe treinada para ampliar os limites do Estado-Espetáculo a fim de extrair dele grandes negócios.

Nos Estados Unidos, essa atividade está consolidada. Ocorre que os norte-americanos, mais racionais, se agrupam em torno de dois grandes partidos e não se deixam enganar facilmente. Ademais, lá não se vê o desperdício de tempos eleitorais gratuitos servindo de trampolim para a atividade circense da política. Aqui, o povo paga (com impostos) para ser enganado. E ainda compra gato por lebre. A varinha de condão é usada para empetecar atores pelo país afora, embalando candidatos com o lema vivaldino: “Fulano fez, fulano fará melhor”.

Como os resultados são parcos, instala-se na consciência social um processo de desmoronamento dos falsos “feitores”. Prefeituras e governos, incluindo o federal, estão encostados no monumental paredão de pasteurização construído com a argamassa do marketing. Profunda distância se forma entre a imagem dos entes governativos e a realidade social.

A degradação da política é um processo em curso e resulta da antinomia entre o interesse individual e os interesses coletivos. Essa pertinente observação de Maurice Duverger, quando estabelece comparação entre o liberalismo e o socialismo, explica bem a crise. A democracia liberal abriu grandes comportas para a corrupção e o socialismo revolucionário se arrebentou sob os destroços do Muro de Berlim. Estamos à procura de um novo paradigma capaz de resgatar a velha utopia expressa por Aristóteles, em sua Política, a de que o homem, como animal político, deve participar ativamente da vida da polis (cidade) para servir ao bem comum.

Crônica seca


Eu não mato crianças, mas eles matam, logo nós matamos.
Alexandre Brandão

Bairro inteiro de Gaza é destruído

Os contínuos ataques aéreos israelenses em Gaza destruíram a maior parte de um bairro localizado no centro do enclave. Autoridades do ministério da saúde administrado pelo Hamas dizem que o número total de mortos em toda a região aumentou para mais de 4.300 pessoas.

Mais da metade dos mortos são mulheres e crianças, afirma o ministério.

Cerca de 1,4 milhões de habitantes de Gaza foram deslocados, com mais de meio milhão de pessoas em 147 abrigos da ONU, afirma a própria organização.

Grande parte de al-Zahraa no centro de Gaza foi arrasada

No sábado, caminhões com doações de alimentos, medicamentos e outros itens básicos começaram a entrar na Faixa de Gaza pela fronteira com o Egito.

O Exército de Israel disse que a ajuda se destinava apenas à parte sul do enclave palestino.

Os militares também pediram que todos os moradores do norte da Faixa de Gaza deixem a região e se desloquem para o sul da reserva de Wadi Gaza, no centro do território.

No entanto, os ataques aéreos israelenses também continuaram no sul de Gaza. Algumas pessoas se recusaram a sair das suas casas, afirmando que nenhum lugar é seguro.

Israel cortou o fornecimento de combustível, eletricidade e água a Gaza depois que o braço militar do Hamas invadiu a fronteira com Israel, matando mais de 1.400 pessoas e fazendo mais de 200 reféns.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que "bombardeios intensivos" continuavam em Gaza, assim disparos indiscriminados de foguetes contra centros populacionais israelenses" de grupos armados palestinos.

Funcionários da ONU descrevem a situação em Gaza como catastrófica. Já o porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, disse que as condições humanitárias em Gaza estavam “sob controle”.

Os últimos ataques aéreos israelenses destruíram o bairro de al-Zahraa, no centro de Gaza. Mais de 20 blocos de apartamentos foram arrasados durante a noite de sexta-feira.

Imagens e vídeos postados nas redes sociais mostraram nuvens de fumaça subindo acima do bairro e fileiras de prédios destruídos ao longo de ruas repletas de escombros.

Moradores disseram à BBC que não esperavam o bombardeio porque a área estava relativamente calma. Eles disseram que foram instruídos a evacuar na noite de quinta-feira, por volta das 20h30, no horário local.

"Corremos pelas ruas. Então Israel começou a bombardear esta área sem parar, das 21h às 7h desta manhã", disse uma mulher à BBC na sexta-feira.

O bombardeio deixou milhares de pessoas sem ter para onde ir. Na sexta-feira, outro morador disse à BBC que pessoas ainda estavam presas sob os escombros de suas casas.

"As ambulâncias não podem chegar aqui. As pessoas estão gritando, mas não podemos retirá-las", disse ele.

No norte de Gaza, a organização humanitária Crescente Vermelho disse que as forças israelenses ordenaram a evacuação do hospital Al-Quds.

O hospital abriga atualmente mais de 400 pacientes e 12 mil civis deslocados, segundo a instituição.

A Crescente Vermelho apelou à “comunidade internacional para agir com urgência”.

Um grupo de médicos, Médicos pelos Direitos Humanos de Israel, disse ter apresentado uma petição ao Supremo Tribunal israelense alertando que o hospital Al-Quds não poderia ser esvaziado.

“Na sua resposta, o Estado anunciou que não atacaria o hospital por enquanto”, disse o grupo, que afirmou que um ataque ao local poderia colocar civis em perigo, representar uma violação do direito internacional e causar danos aos serviços médicos.

Já a ONG Save the Children alertou que a vida de um milhão de crianças em Gaza “está em jogo”.

A agência humanitária pediu a evacuação médica urgente de crianças doentes e feridas de Gaza e alertou para o aumento de mortes como resultado direto da grave escassez de suprimentos médicos e dos apagões de energia.

Israel disse que abriu investigações sobre um ataque aéreo que danificou o complexo de uma igreja em Gaza durante uma investida contra o Hamas na quinta-feira.

Um edifício próximo à Igreja de São Porfírio, na cidade de Gaza, desabou parcialmente no ataque.

Autoridades do Hamas disseram que 16 pessoas morreram, enquanto Israel apenas disse estar ciente de relatos de vítimas.

O ex-deputado americano Justin Amash disse que vários de seus parentes que estavam abrigados no complexo da igreja foram mortos como resultado do ataque aéreo israelense.

“A comunidade cristã palestina sofreu muito. Nossa família está sofrendo muito”, escreveu ele no X (antigo Twitter).

As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que seus caças atingiram um centro de comando e controle do Hamas, que estava sendo usado para realizar ataques com foguetes, nas proximidades da igreja.

"Como resultado do ataque das FDI, o muro de uma igreja na área foi danificado. Estamos cientes de relatos de vítimas. O incidente está sob revisão", afirmou o Exército.

“As IDF podem afirmar inequivocamente que a igreja não foi o alvo do ataque.”

Com base nas imagens divulgadas na sexta-feira, parece que embora o edifício principal da igreja tenha sofrido alguns danos, foi um edifício adjacente , que fica dentro do complexo, que desabou.

Fotos analisadas pela BBC Verify, a unidade de checagem de fatos da BBC, mostram uma grande quantidade de detritos caindo na estrada.

O Patriarcado Ortodoxo de Jerusalém, chefe da principal organização cristã palestina, expressou a sua “mais forte condenação ao ataque aéreo israelense que atingiu o complexo da sua igreja”.

São Porfírio é a igreja mais antiga ainda em uso em Gaza, cuja estrutura atual remonta ao século 12. Existem cerca de 1.000 cristãos em Gaza, a maioria dos quais são ortodoxos gregos.

O Hamas disse que cerca de 500 pessoas estavam abrigadas no local, mas a BBC não foi capaz de confirmar a informação.