quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Partidos, direitos e urnas

Na última semana, o desembargador aposentado Laércio Laurelli, e o colega Luís Carlos Crema uniram esforços comigo e reunimos provas coletadas de condenações oriundas principalmente da Operação Lava Jato.

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Decidimos entrar com mais uma ação em defesa do povo brasileiro. Desta vez, para pedir o cancelamento do registro civil e a extinção de nove partidos: o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Progressista (PP), o Partido Republicano da Ordem Social (PROS), o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Comunista do Brasil (PC do B), o Partido Democrático Trabalhista (PDT), o Partido da República (PR) e o Partido Social Democrático (PSD).

O farto material coletado deixa claro que alguns partidos políticos se tornaram agremiações criminosas.

A Carta Magna garante: ”todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. O Poder e o Direito são nossos, o Povo. O dever e a obrigação são deles, os políticos. Mas, até mesmo essa ordem constitucional os políticos e suas organizações criminosas conseguiram inverter, subverter, distorcer, modificar e, por fim, eliminar. Não respeitam nada e nem ninguém. Colocaram-se acima da Lei e do Poder Judiciário.

Neste exato momento, deputados já se movimentam pra discutir o projeto que altera a lei do abuso de autoridade. Na avaliação do Ministério Público, alguns artigos da proposta ameaçam a independência de promotores e procuradores, e podem dificultar investigações como as da Operação Lava Jato.

A comissão especial que vai analisar o projeto foi criada exatamente um dia depois que os deputados derrubaram o prosseguimento da segunda denúncia contra Temer pelos crimes de obstrução de justiça e organização criminosa. Nunca o legislativo teve tanta celeridade, não é mesmo? Quando é para legislar em causa própria, deputados trabalham segunda-feira e até fim de semana.

Dois outros projetos em análise na Câmara querem:

1 - proibir que pessoas que estejam presas façam acordo de delação premiada.

2 – questionar o alcance da lei da Ficha Limpa.

Nem com as investigações e condenações, os eleitos fora-da-lei cessam com suas ações político-criminosas. A moral, a eficiência e o trabalho sério de agentes públicos (integrantes da Polícia Federal, Ministério Público Federal e da Justiça Federal) que, em defesa da República e do Povo, provam os crimes e prendem os criminosos, estão sendo, sorrateira e asquerosamente, aniquilados por ocupantes dos mais altos cargos da República.

As notícias apenas revelam a insanidade moral, o despudor ético e a falta de humanidade dos políticos criminosos. Elas tiram o véu há muito colocado sob nossos olhos para turvar nossa visão e enganar nossos sentidos, disfarçando a verdade em prol dessa corja criminosa que se autodenomina representante do Povo. É hora da busca da Verdade! Chegado o momento de se fazer Justiça! Cumpra-se a lei, revelem-se os crimes e punam-se os bandidos!

PS: E partidos que não fazem parte desta ação e que cometeram atos ilícitos não ficarão impunes. Estamos reunindo provas para ingressar com novas ações. A sociedade civil, diferente deles, trabalha em harmonia. E não vai se calar. As eleições de 2018 serão um momento histórico. Corruptos correm contra o tempo porque sabem do movimento em curso. Eles não passarão.

Imagem do Dia

Conheça a Ilha Zakynthos, na Grécia:  http://guiame.com.br/vida-estilo/turismo/melhores-praias-desconhecidas-do-mundo.html
Zakynthos (Grécia) 

Modernidade ou retrocesso?

Nos anos 60 do século passado, a televisão brasileira passou a ser inundada por séries de ficção científica, produzidas nos melhores estúdios dos Estados Unidos: “Perdidos no Espaço”, “Jornada nas Estrelas”, “Terra de Gigantes”. Uma das mais famosas era “Túnel do Tempo”. Tratava das agruras vividas por dois cientistas que haviam sido tragados por uma máquina, ainda em estágio experimental, que os transportava para diferentes contextos históricos. Nunca conseguiam voltar à contemporaneidade, o que alimentava o suspense e a própria continuidade da série. Ou eram lançados no futuro, ou atirados no passado. Na maioria das vezes, viajavam rumo a acontecimentos pretéritos.


Desde o último dia 11, o Brasil mergulhou no redemoinho do tempo e ressurgiu na data em que Napoleão Bonaparte editou o Código Civil francês. Agora, tal como em 1804, legalmente não se admite mais a existência de escravos. A prestação de serviços de uma pessoa a outra passa a ser regida por um contrato de locação de mão de obra. O tomador de serviços aluga a força de trabalho de outrem e paga-lhe, em dinheiro, o bastante para assegurar a reprodução dessa força produtiva. Trabalho feito, trabalho pago. Simples assim. Não há remuneração, pelo empreendedor, do tempo em que seu servidor esteja a sua disposição, ou que descansa, porque isso deveria ser considerado importante para a qualidade do serviço ou para a dignidade do trabalhador. Repouso semanal remunerado, férias remuneradas, afastamento remunerado por motivo de doença passam a ser ficções de um passado recente que deixou de existir, ao bel-prazer do patrão. O que refletiu a luta de construtores do futuro, desde meados do século XIX até a derrota do fascismo e o advento da ameaça soviética, virou pó. Ademais, pouco se deve importar, doravante, com aportes a um fundo previdenciário em benefício de quem trabalha. Cada um que se vire para se precaver dos infortúnios que o futuro reserva a todos nós.

Ainda que o presidente do Tribunal Superior do Trabalho insista em dizer que o Brasil, com a reforma trabalhista, chega à modernidade, é preciso lembrar que, como no “Túnel do Tempo”, a fuga de uma adversidade pode nos levar a um retrocesso ainda maior e mais remoto. No caso do tal “contrato de trabalho intermitente”, não há como deixar de ver nisso um passo atrás em relação ao liberalismo econômico da legislação napoleônica. Nesse caso, a espiral de recuo temporal nos lança à era do feudalismo: o trabalhador se compromete, tal como um vassalo, a ficar, a priori, à disposição, a qualquer hora, de um tomador de serviços, mas só receberá quando efetivamente trabalhar. Estudos, convívio familiar ou lazer e até mesmo um “bico” não passam de bobagens de um tempo romântico que não existe mais.

O objetivo é extrair o máximo do trabalhador, quer pela extensão de sua jornada de trabalho, quer por incremento do ritmo de produção. Nenhum segundo pode ser desperdiçado. E assim, nada impedirá que, transformados em robôs, os trabalhadores sejam lançados a tempos ainda mais deploráveis: os tempos da escravidão.

E aqui então...

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As leis da maior parte dos países foram ditadas para oprimir o miserável e proteger o poderoso
Napoleão Bonaparte

Aos poucos , escracho vira outro nome de normal

O Brasil vive uma espantosa época. Nela, o absurdo adquiriu uma doce e admirável naturalidade. É como se a anormalidade fosse o normal. Dois episódios ocorridos no final de semana desafiam a paciência do brasileiro. Num, o multicondenado José Dirceu foi filmado numa festa sacudindo o corpo e a tornozeleira eletrônica. Noutro, o magistrado Gilmar Mendes encontrou-se com o denunciado Michel Temer.

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No mês passado, Gilmar foi acusado pelo colega Luís Roberto Barroso, em plena sessão do Supremo Tribunal Federal, de ser parceiro da “leniência em relação à criminalidade do colarinho branco”. Não parece preocupado. Dirceu coleciona duas condenações na Lava Jato. Deveria estar preso. Mas também não exibe sinais de preopação.

Juntas, as penas de Dirceu no petrolão somam 41 anos de cana. Ele estava atrás das grades. Mas a Segunda Turma do Supremo, com o voto favorável de Gilmar, autorizou-o a aguardar o julgamento de recursos em liberdade. Por isso ele dança.

Além de Temer, participou da reunião com Gilmar o ministro Eliseu Padilha. Denunciados por corrupção, Temer e Padilha deveriam ser investigados. Mas a Câmara congelou os processos. E Gilmar acha natural encontrá-los. Algo de absolutamente anormal precisa acontecer em Brasília. Do contrário, o escracho será o outro nome de normal.

Que República é essa?

Uma jovem senhora completa 128 anos: a República Federativa do Brasil. A via mais recente de sua certidão de nascimento é a Carta Magna de 1988. Ali está dito que nossa República, Estado democrático de direito, está fundamentada na soberania, na cidadania, na dignidade da pessoa humana, nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e no pluralismo político (CF, Art. 1º).

Um sinal especial, congênito, está no Parágrafo único desse artigo: todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente.

As aparências enganam. Dona República anda muito maltratada. Persistem, a envelhecê-la precocemente, a profunda desigualdade social, o patrimonialismo, o clientelismo, a ausência de espírito público, a corrupção sistêmica, o arranjo partidário de fantasia. Dona República mora na casa mal assombrada do capitalismo de máfias ou de compadrio.
Nenhum texto alternativo automático disponível.

Que soberania é essa em que são vendidas a grandes consórcios internacionais, na bacia das almas, as reservas do pré-sal?

Que cidadania é essa que aceita a implementação de políticas de impacto – como privatização de tudo e cortes orçamentários brutais na área social – reagindo mais pelo desencanto do que pela indignação?

Que dignidade da pessoa humana é essa quando há 45,5 milhões de patrícios na pobreza aguda?

Onde há dignidade numa sociedade em que crescem as manifestações de truculência autoritária, de ódio ao que é diferente, de agressão aos direitos das mulheres, dos negros, dos índios, dos LGBT?

Para onde foram os valores sociais do trabalho numa ordem econômica em que 83% dos trabalhadores formais ganham até três salários mínimos, em que cresce o “precariado”, quando entra em vigor vulnerabilização jamais vista dos direitos dos que trabalham, fulminando uma CLT que já incorporara 75% de atualizações (várias delas, aí sim, necessárias)?

Onde está a livre iniciativa, se 90% dos que aqui vivem não podem ter iniciativa empreendedora alguma, por falta de condições e oportunidades?

Livre iniciativa só para os “de cima”, como os do grande capital financeiro, para quem não há crise? (Os quatro maiores bancos do país tiveram mais de 10% de lucros no último trimestre).

Que pluralismo político é esse das grandes quadrilhas partidárias, do condomínio do poder?

Da casta que trama, com êxito, modos e meios de se proteger e se reproduzir, de “estancar a sangria” que as investigações do corrupto conluio público-privado começaram a revelar?

Onde o pluralismo no sistema em que as maiorias sociais são desestimuladas a se organizar, para que jamais possam se tornar maiorias políticas?

Por fim, que poder é esse que emana do povo, mantido à margem das decisões sobre sua vida – tarifa do ônibus ou trem, preço da cesta básica e dos aluguéis, por exemplo? Massa “domesticada” pela tele-ilusão criadora de falsos consensos, estimulada ao cuidar apenas de si, sob a égide do individualismo?

Oswald de Andrade (1890-1954) disse que “o Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”. No país da rica biodiversidade acossada por tremenda devastação ambiental, não é hora de dizer adeus, de desistir, de renunciar. Ao contrário, vamos reproclamar a República, e praticar seus valores!

Chico Alencar

Gente fora do mapa

In Syria, sleeping between his parents. Be thankful you don't live in a violent country like that.

Uma crise sem fim

O impasse político continua. Nada indica que estamos próximos da solução da mais grave crise da história republicana. E, pior, caso se mantenha este quadro sucessório, as eleições de outubro de 2018 vão se transformar em enorme frustração.

A permanência no poder — tanto no Congresso como na Presidência da República — dos mesmos interesses, vocalizados por uma elite corrupta, deve agravar a tensão política.

Poderemos chegar ao esgarçamento máximo das instituições criadas pela Constituição de 1988, justamente quando se completará 30 anos de vigência da Carta cidadã, o que para o Brasil não é pouco, pois, em termos de longevidade, ficará somente atrás das constituições de 1824 e 1891.



Para a elite dirigente — elite no sentido mais amplo, passando pelos Três Poderes e pelo capital financeiro e empresarial —, tudo está sob controle. De há muito perdeu a capacidade de representar os interesses brasileiros.

Despreza a soberania nacional, acha irrelevante. Está — a elite — de tal forma descolada do Brasil real que imagina que basta criar uma ONG que tudo estará solucionado no campo da educação, da saúde ou da segurança pública. Em momento algum se compromete com a erradicação das desigualdades. Não. Prefere mantê-las até para realçar seu compromisso com os despossuídos. É pura hipocrisia.

Sabe que a vigência plena do caput do artigo 5º da Constituição (“Todos são iguais perante à lei, sem distinção de qualquer natureza.”) prejudica seus interesses de classe. Não deseja a igualdade jurídica republicana, não consegue conviver numa sociedade democrática com direitos e deveres iguais entre os cidadãos. Necessita de privilégios para manter seu padrão econômico e social de vida. Ao invés de uma sociedade de classes, imagina como ideal uma sociedade estamental. Vive em eterno descompasso com o Brasil.

A elite financeira, em especial, pouca atenção dá ao combate à corrupção. Entende que pode conviver com os ilícitos contra a coisa pública. O que vale é a estabilidade política, independentemente do preço ético. Emite sinais de que está mais preocupada com a crise fiscal do que com as mazelas produzidos pelos políticos.

Vale lembrar que, em momento algum, na luta pelo impeachment — que livrou o país de uma radicalização ao estilo venezuelano — alguma liderança expressiva do mundo financeiro se pronunciou em defesa da democracia. Pelo contrário. O presidente de um dos maiores bancos concedeu uma longa entrevista a um periódico de circulação nacional. Insinuou uma defesa envergonhada do governo Dilma, isto apenas a três meses da votação da Câmara dos Deputados autorizando a abertura do processo de impeachment.

Nunca o grande capital especulativo — mais do que o financeiro — obteve tantos lucros como durante os 13 anos do petismo. E logo tomaremos conhecimento da relação incestuosa entre os banqueiros e os mandarins da política econômica petista com a divulgação da delação premiada de Antonio Palocci — que, por sinal, está demorando muito, o que causa profunda estranheza: estará havendo algum tipo de manipulação antirrepublicana?

Frente ao aprofundamento da crise política, a elite não sabe o que fazer. Seus líderes externam discursos de uma pobreza ideológica franciscana. Buscam a todo custo candidatos à Presidência da República. Querem nomes, e não ideias. O que vale é a grife. Gostariam de encontrar um Emmanuel Macron, mas até agora só acharam um insípido animador de auditório.

E como não tem qualquer compromisso com os interesses nacionais, não é descabido imaginar que, após o pleito de outubro do ano que vem, dependendo do resultado, resolvam fixar residência no exterior. Para eles, o melhor do Brasil é vê-lo à distância.

Se da elite nada podemos esperar, como poderemos achar um caminho para romper este impasse, o mais longo da história republicana?

Aí mora a questão central, o âmago do problema. É fundamental sair da superfície dos acontecimentos e buscar as raízes estruturais da crise. As instituições criadas através da Constituição de 1988 estão em frangalhos. Se, em tese, tinham qualidades, acabaram tomadas pelos estamentos que controlam a estrutura estatal na União e nas 27 unidades da Federação. E nada indica que haverá condições de transformá-las. Estão petrificadas.

Os movimentos que lideraram o impeachment deram a entender, em certo momento, que poderiam ser uma novidade no cenário tão pobre da política brasileira. Porém, muito rapidamente, se adaptaram ao velho ramerrão do toma lá dá cá. Buscaram filiação nos partidos tradicionais e adaptaram seus discursos à nova conjuntura. Alguns escorregaram para o extremismo. Seria como se, na Espanha, o “Cidadãos” aderisse ao franquismo. Aqui simpatizam com um líder sindical militar.

Outros apostam na reforma a médio prazo. Sonham que um dia — presumidamente, bem distante — o regime vai se autorreformar.

Os mais ideologizados passaram a utilizar velhos clichês do ultraliberalismo como a última moda. Pior, criaram uma oposição (Mises X Marx) como se a solução dos problemas nacionais passasse necessariamente por visões de mundo radicalmente distintas, arcaicas, fora do contexto nacional e que ignoram a complexidade do mundo globalizado.

Em meio à mediocridade intelectual, política e ideológica, o Brasil vai resistindo. Até quando? É impossível responder. Mas não parece exequível estender ad infinitum a solução da crise. Isto só tende a agravar os grandes problemas nacionais. E com reflexos na ordem político-institucional imprevisíveis.

Grandes poderes tecnológicos que preocupam

Mergulhada na investigação sobre intoxicações russas nas redes sociais, a vice-presidenta do Partido Popular Europeu, deputada Sandra Kalniete, disse na semana passada a este jornal: “Estamos indefesos contra essas novas tecnologias”. “Supunha-se que ajudariam a humanidade, mas se estiverem nas mãos de forças negativas, podem fazer mal”. Tanto a ponto de favorecer um determinado candidato à Casa Branca, de desacreditar a democracia espanhola devido à crise catalã ou conseguir que a extrema-direita entre no Bundestag? Os dados apontam nessa direção e o Parlamento Europeu e os congressistas e senadores dos Estados Unidos já abriram uma investigação. Foi nesse contexto que o senador da Louisiana, John Kennedy, confessou aos representantes das empresas de tecnologia: “O poder que vocês têm me deixa com medo”.

Illustrations by Peter Ryan
Esse poder é duplo. Por um lado, existe seu poder econômico. As chamadas Gafam (Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft), valem até 3 trilhões de dólares (cerca de 10 trilhões de reais) na Bolsa, ou seja, pouco mais do que o PIB do Reino Unido. O Facebook e o Google capturam praticamente 100% do crescimento do mercado publicitário e todas essas empresas utilizam toda a estratégia fiscal possível para ser cotadas em paraísos fiscais ou, pelo menos, fugir dos impostos onde operam. Por outro lado, existe sua posição dominante no mercado e sua gigantesca penetração. Entre 2015 e 2017, até 126 milhões de usuários do Facebook acessaram mensagens propagadas por interesses russos. Uma penetração perigosa se considerarmos que essas redes servem de via para contas falsas tratadas com bots, hoaxes, mentiras, manipulações e meias-verdades que se espalham e se multiplicam em segundos e aos milhões.

A linha de defesa das empresas de tecnologia é que não são responsáveis pelo conteúdo, apesar de censurarem as mensagens de acordo com seus critérios ou destacá-las segundo algoritmos secretos. Estamos longe, muito longe, da política dos meios de comunicação, capazes de demitir um jornalista por publicar uma reportagem falsa ou abrir uma profunda investigação interna, divulgar todos os dados e pedir desculpas aos leitores por publicar uma foto falsa de Hugo Chávez agonizante. Não há filtros ou desculpas nas redes, nas quais as crônicas mais diferentes e fotos falsas de tanques nas ruas de Barcelona circulam em pé de igualdade.

As empresas rejeitam qualquer regulamentação que as assimile aos meios de comunicação, mas a pressão política está obrigando-as a modificar seus modos. O Facebook prometeu aos congressistas norte-americanos contratar mil “moderadores” adicionais neste mês para detectar notícias falsas ou mensagens impróprias. Mas, por enquanto, essas empresas de tecnologia continuam sendo o cavalo de Tróia da informação manipulada que ameaça as democracias de todo o mundo e é urgente que tomem medidas antes que outros as tomem por elas e acabem com o sonho da ágora global de livre acesso.

Em busca da impunidade perdida

De hoje, aniversário do golpe militar que “proclamou” a República, em diante, a camarilha dirigente dos negócios públicos prosseguirá em seu ingente esforço para ter de volta a impunidade que, na prática, tem gozado, mercê de foro e de outros privilégios acumulados em 118 anos legislando prioritariamente em proveito próprio.

Com a chancela de uma Constituição promulgada pelo Congresso abusado e abusivo, nossa privilegiada casta dirigente se viu imprensada na parede pelo povo, que em 2013 foi às ruas reclamar de seus maus-tratos à sociedade explorada, humilhada e espoliada. No ano seguinte, graças à renovação dos quadros de agentes concursados da Polícia Federal (PF) e de procuradores da República e juízes federais treinados para combater crimes de colarinho-branco, como lavagem de dinheiro, teve início a Operação Lava Jato,

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A união de esforços de corporações divididas internamente e rivais entre si – PF e Ministério Público Federal – levou aos juízes de primeiro grau e, em consequência, às celas do inferno prisional tupiniquim, até então exclusivas de pretos, pobres e prostitutas, uma clientela, branca, poderosa econômica e politicamente e abonada (em alguns casos, bilionária). Como nunca antes na História deste país, no dizer do ex-presidente em cuja gestão a total perda de proporções e do mínimo de sensatez produziu o maior escândalo de corrupção da História, ora nos é dado ver os príncipes de grandes firmas corruptoras tomando banho de sol nos pátios das prisões.

O foro privilegiado, que reserva o julgamento de 22 mil (ou 55 mil?) otoridades (em mais um desses absurdos colapsos de estatística a serviço de meliantes de luxo) à leniência do Supremo Tribunal Federal (STF), mantém um placar absurdo de 118 condenados em primeira instância pela Lava Jato contra zero (isso mesmo, zero) apenado no último e mais distante tribunal do Judiciário. Em caso extremo e inédito, o presidente da República só pode ser acusado por delitos cometidos no exercício do cargo.

Com pânico de perder com o mandato os privilégios, a borra política nacional permitiu-se abrir mão de anéis para manter os longos dedos das mãos que afanam. Mas nestes três anos e oito meses de Lava Jato alguns fatos permitiram a seus maganões investir contra essa progressiva redução da impunidade. A chapa vencedora em 2014, Dilma-Temer, foi absolvida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por excesso de provas. E quando o leniente STF sai um milímetro da curva que interessa aos congressistas, estes logo o reduzem à posição de última defesa de suas prerrogativas de delinquir sem ser perturbados. Até Aécio, derrotado na eleição e guindado ao governo Temer, mantém-se “impávido colosso” no ninho.

Na negociação pelo impeachment da desastrada Dilma, Jucá, o Caju do propinoduto da Odebrecht, definiu “estancar a sangria” como meta de seu grupo, alcunhado pelo ex-procurador-geral Janot de “quadrilhão do PMDB”, para o comparsa Sérgio Machado, cuja delação tem sido contestada. Embora isso esteja sendo confirmado pelas Operações Cadeia Velha e Papiro de Lama, no Rio e em Mato Grosso do Sul, desmascarando os dignitários peemedebistas Picciani e Puccinelli.

Faltam provas, alegam. Mas sobram fatos. Com alguns votos tucanos e todos do Centrão, que defendeu tenazmente Eduardo Cunha, a maioria da Câmara mandou para o lixo investigações contra Temer pedidas por Janot ao STF. O presidente até agora não citou um fato concreto para se defender das acusações de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, meio ano após ter sido divulgada a gravação de sua conversa com um delinquente que usou identidade falsa para adentrar o palácio. E agora se sente à vontade para trocar na Procuradoria-Geral da República, em causa própria, o desafeto Janot por Raquel Dodge, indicada pelo parceiro de convescotes em palácio Gilmar Mendes, do STF.

Caso similar é o de Fernando Segóvia, cujo currículo fala por si. No Maranhão, tornou-se comensal e afilhado do clã Sarney. E não deve ter sido a atuação de adido na África do Sul que inspirou Padilha a lutar por sua nomeação. Ao assumir, sem o aval do chefe direto, o ministro Jardim, ele prometeu mudanças “paulatinas” na Lava Jato e reconheceu que terá atuação política. Atuação política na chefia da polícia que investiga os políticos? Hã, hã! O velho Esopo diria que se trata do caso da raposa disposta a assumir a segurança do galinheiro. Mas a fábula é antiga!

Enquanto Segóvia, o “tranquilo”, assume o paulatino como pauladas em subordinados e pagantes, o chefe do governo tenta obter a própria superimpunidade por meios sibilinos. Seu advogado Carnelós pediu toda a vênia possível a Fachin para convencê-lo a desistir de encaminhar Cunha, Geddel, Henriquinho, Rodrigo da mochila e Joesley, entre outros, para a primeira instância de Moro e Vallisney. E assim evitar que surjam delitos desconhecidos em seus depoimentos ou delações dos quais o chefe não tomaria conhecimento no gozo de sua indulgência plena com data marcada para terminar: janeiro de 2019.

Na manchete do Estado anteontem, Pauta-bomba no Congresso põe em risco ajuste fiscal, a reportagem de Fernando Nakagawa e Adriana Fernandes, de Brasília, relata o perdão das dívidas dos ruralistas, depois da dispensa de multas e pagamentos de parlamentares empresários, seus sócios e compadres em outro Refis amigo. E, segundo o texto, a Lei Kandir será alterada. Sem despesas, mas com graves danos ao combate à corrupção, vêm, depois deste feriado, a lei do abuso de autoridade e a redução das punições da Ficha Limpa, só para quem a tiver violado após sua vigência. Rogai por nós!

Na adaptação da obra-prima de Proust, Em Busca do Tempo Perdido, a memória não tem o olor das madeleines, mas dos miasmas de uma República apodrecida, convenientemente distante do Brasil real, que não a suporta mais.