sexta-feira, 11 de novembro de 2022
O perigo da multidão irracional
As semanas que antecederam o primeiro e o segundo turno das eleições de outubro de 2022 acrescentaram revelações sobre o estado de anomia em que se encontra a sociedade brasileira. Indicaram qual é de fato o legado politicamente enfermo do presidente que em dois meses deixará o poder, porque em confronto com a Constituição e a democracia.
Ainda uma semana depois do reconhecimento do resultado da votação, definido o nome do eleito, ajuntamentos estão ocorrendo em praças e portas de quartéis, os agitadores pedindo ditadura militar. Estranhamente, os comandantes militares, cujos quartéis são assediados, estão calados.
São decorrências da política de desmonte do Estado, das instituições e da própria sociedade pelo regime de 1º de janeiro de 2019, nas ameaças subversivas à ordem política.
Estamos em face de ameaças a uma inevitável e decisiva mudança social e política, cujos fatores vinham sendo gestados e acumulados desde o golpe de 1964. Bolsonaro, tenha ou não consciência disso, personifica o momento final de decadência do tenentismo.
Foram esses fatores atenuados com a redemocratização e a Nova República, e não suprimidos. Voltaram à superfície com o bolsonarismo na suposição falsa de que na eleição de 2018 a população pedia a volta da ditadura militar.
A anomia desta etapa da história brasileira expressa-se na desorganização social decorrente da desregulamentação política das relações sociais. Os regimes políticos repressivos, que expressam momentos como este, são criadores de situações de insegurança e medo que arrastam consigo para a nulidade da ineficácia e anulam valores e normas de conduta e de sociabilidade. A sociedade ficou confusa e desorientada, não só o presidente da República.
A tendência autoritária do governo que termina tem tido como característica a transgressão do que é próprio de mandato obtido de forma legal e constitucional. Porém indevidamente assumido como renúncia do eleitorado ao que é próprio de suas atribuições, no questionamento do pressuposto da alternância dos partidos no poder, em que se empenhou o governo nestes quase quatro anos.
O aparelhamento das instituições para consumar a tirania do poder pessoal tornou-se entre nós uma forma patológica de corroer as bases do que é propriamente a realidade social e política. Um meio de inviabilizar a vida coletiva e anular a competência dos cidadãos para reconstruir o tecido social em face da desordem personificada pelo próprio governante.
No limite, desordem instrumentalizada pelo oportunismo do consórcio de outro poder no poder, resultante dos fatores de tensão, de crise e de ruptura que nestes anos comprometeu a continuidade da sociedade que pedia socorro político urgente. O resultado da eleição foi um indicativo.
A questão é muito mais complicada do que a muitos parece. Na transição, disfarçada por algumas medidas protocolares, o governo que termina continuará ativo e barulhento no poder paralelo das redes, dos grupos de ativistas, como o dos caminhoneiros e o dos manifestantes de porta de quartel. Mas o ativismo antidemocrático persistente indica que Jair Messias manda muito menos do que supõe. Quando muito faz teatro de uma proximidade e de uma conivência que os militares não podem assumir porque funcionários do Estado, sujeitos às normas e aos rigores da lei. Nem o povaréu da agitação tem qualquer competência para levar o país à insurreição.
Fora do poder e por isso politicamente fraco, Bolsonaro dividirá o bolsonarismo. Os que parasitaram o Estado, avulsos e parentes, militares e civis, serão mandados de volta ao lugar de onde vieram. Sobrará a turba dos bajuladores e paus mandados de rua, fora do controle do governo oculto e do próprio Bolsonaro. As multidões reacionárias poderão gerar instabilidade. Para elas haverá a lei.
Os ajuntamentos subversivos de rua, dos inconformados, contra a vontade majoritária do eleitorado, dá cara e voz ao Brasil paralelo e ilegal instigado por ações e omissões do próprio presidente da República. O Brasil oculto da balbúrdia tem feito demonstrações agressivas e mesmo violentas, indicativas de um período de inconformismo intolerante que pode comprometer a democracia que tenta renascer. Tem características de comportamento de multidão, como o define Le Bon, o do sujeito coletivo divorciado da razão, de certo modo enlouquecido, como nos linchamentos.
As classes e os setores sociais mais incapazes de participar do processo de regeneração social e política, porque menos identificados com a sociedade a que pertencem sem querer pertencer, são os que com mais facilidade se empenham em transformar a anomia em identidade coletiva da minoria de que fazem parte.
Ainda uma semana depois do reconhecimento do resultado da votação, definido o nome do eleito, ajuntamentos estão ocorrendo em praças e portas de quartéis, os agitadores pedindo ditadura militar. Estranhamente, os comandantes militares, cujos quartéis são assediados, estão calados.
São decorrências da política de desmonte do Estado, das instituições e da própria sociedade pelo regime de 1º de janeiro de 2019, nas ameaças subversivas à ordem política.
Estamos em face de ameaças a uma inevitável e decisiva mudança social e política, cujos fatores vinham sendo gestados e acumulados desde o golpe de 1964. Bolsonaro, tenha ou não consciência disso, personifica o momento final de decadência do tenentismo.
Foram esses fatores atenuados com a redemocratização e a Nova República, e não suprimidos. Voltaram à superfície com o bolsonarismo na suposição falsa de que na eleição de 2018 a população pedia a volta da ditadura militar.
A anomia desta etapa da história brasileira expressa-se na desorganização social decorrente da desregulamentação política das relações sociais. Os regimes políticos repressivos, que expressam momentos como este, são criadores de situações de insegurança e medo que arrastam consigo para a nulidade da ineficácia e anulam valores e normas de conduta e de sociabilidade. A sociedade ficou confusa e desorientada, não só o presidente da República.
A tendência autoritária do governo que termina tem tido como característica a transgressão do que é próprio de mandato obtido de forma legal e constitucional. Porém indevidamente assumido como renúncia do eleitorado ao que é próprio de suas atribuições, no questionamento do pressuposto da alternância dos partidos no poder, em que se empenhou o governo nestes quase quatro anos.
O aparelhamento das instituições para consumar a tirania do poder pessoal tornou-se entre nós uma forma patológica de corroer as bases do que é propriamente a realidade social e política. Um meio de inviabilizar a vida coletiva e anular a competência dos cidadãos para reconstruir o tecido social em face da desordem personificada pelo próprio governante.
No limite, desordem instrumentalizada pelo oportunismo do consórcio de outro poder no poder, resultante dos fatores de tensão, de crise e de ruptura que nestes anos comprometeu a continuidade da sociedade que pedia socorro político urgente. O resultado da eleição foi um indicativo.
A questão é muito mais complicada do que a muitos parece. Na transição, disfarçada por algumas medidas protocolares, o governo que termina continuará ativo e barulhento no poder paralelo das redes, dos grupos de ativistas, como o dos caminhoneiros e o dos manifestantes de porta de quartel. Mas o ativismo antidemocrático persistente indica que Jair Messias manda muito menos do que supõe. Quando muito faz teatro de uma proximidade e de uma conivência que os militares não podem assumir porque funcionários do Estado, sujeitos às normas e aos rigores da lei. Nem o povaréu da agitação tem qualquer competência para levar o país à insurreição.
Fora do poder e por isso politicamente fraco, Bolsonaro dividirá o bolsonarismo. Os que parasitaram o Estado, avulsos e parentes, militares e civis, serão mandados de volta ao lugar de onde vieram. Sobrará a turba dos bajuladores e paus mandados de rua, fora do controle do governo oculto e do próprio Bolsonaro. As multidões reacionárias poderão gerar instabilidade. Para elas haverá a lei.
Os ajuntamentos subversivos de rua, dos inconformados, contra a vontade majoritária do eleitorado, dá cara e voz ao Brasil paralelo e ilegal instigado por ações e omissões do próprio presidente da República. O Brasil oculto da balbúrdia tem feito demonstrações agressivas e mesmo violentas, indicativas de um período de inconformismo intolerante que pode comprometer a democracia que tenta renascer. Tem características de comportamento de multidão, como o define Le Bon, o do sujeito coletivo divorciado da razão, de certo modo enlouquecido, como nos linchamentos.
As classes e os setores sociais mais incapazes de participar do processo de regeneração social e política, porque menos identificados com a sociedade a que pertencem sem querer pertencer, são os que com mais facilidade se empenham em transformar a anomia em identidade coletiva da minoria de que fazem parte.
O ódio começa em casa
Há pouco, jovens enrolados em bandeiras do Brasil em São Miguel do Oeste (SC) puseram-se em formação e fizeram a saudação nazista. Há uma célula nazista na cidade, que produz panfletos e bandeiras com a suástica. Dias depois, alunos de uma unidade da UFSC picharam suásticas e frases contra judeus nos banheiros. E meninos de um colégio em Valinhos (SP) postaram mensagens em louvor a Adolf Hitler, propondo que se fizesse com os petistas "o que Hitler fez com os judeus."
Numa escola em Presidente Prudente (SP), um aluno de 10 anos foi fantasiado de Hitler a uma festa da instituição. Em Curitiba, estudantes vestidos com a camisa da seleção hostilizaram com violência colegas favoráveis à vitória de Lula. As alunas não foram poupadas: "Vamos encher as meninas petistas de porrada." Em várias escolas, professores também são ameaçados. Um deles teve de ouvir: "Meu pai vai f... com você."
Esses agressores são garotos em idade escolar e não nasceram assim. Foram ensinados a odiar e a discriminar — por sua cidade, pelos grupos que frequentam ou, bem provável, em casa. Quantos pais e mães, hoje no Brasil, não estarão inoculando o preconceito e o nazismo em seus filhos?
Nada disso parece estar provocando indignação nos militares. Estão mudos a respeito. Em 1942, o Brasil declarou guerra ao nazifascismo e, em 1944, mandou para a Europa uma força expedicionária de 25.000 homens. Os pracinhas, como eram chamados, enfrentaram a inexperiência, temperaturas de 15 graus abaixo de zero e soldados alemães que atiravam neles de cima para baixo. Mas os brasileiros foram bravos, heroicos e vitoriosos.
Os restos dos 467 rapazes mortos em combate descansam no Monumento aos Pracinhas, aqui no Rio. Há uma pira eternamente acesa para eles e todo ano faz-se uma bela homenagem. Mas omitir-se diante de arroubos neonazistas é o mesmo que cuspir nesta pira.
Numa escola em Presidente Prudente (SP), um aluno de 10 anos foi fantasiado de Hitler a uma festa da instituição. Em Curitiba, estudantes vestidos com a camisa da seleção hostilizaram com violência colegas favoráveis à vitória de Lula. As alunas não foram poupadas: "Vamos encher as meninas petistas de porrada." Em várias escolas, professores também são ameaçados. Um deles teve de ouvir: "Meu pai vai f... com você."
Esses agressores são garotos em idade escolar e não nasceram assim. Foram ensinados a odiar e a discriminar — por sua cidade, pelos grupos que frequentam ou, bem provável, em casa. Quantos pais e mães, hoje no Brasil, não estarão inoculando o preconceito e o nazismo em seus filhos?
Nada disso parece estar provocando indignação nos militares. Estão mudos a respeito. Em 1942, o Brasil declarou guerra ao nazifascismo e, em 1944, mandou para a Europa uma força expedicionária de 25.000 homens. Os pracinhas, como eram chamados, enfrentaram a inexperiência, temperaturas de 15 graus abaixo de zero e soldados alemães que atiravam neles de cima para baixo. Mas os brasileiros foram bravos, heroicos e vitoriosos.
Os restos dos 467 rapazes mortos em combate descansam no Monumento aos Pracinhas, aqui no Rio. Há uma pira eternamente acesa para eles e todo ano faz-se uma bela homenagem. Mas omitir-se diante de arroubos neonazistas é o mesmo que cuspir nesta pira.
Sobreviventes do Holocausto alertam para antissemitismo
Sobreviventes do Holocausto alertaram nesta quarta-feira para o ressurgimento do antissemitismo. O alerta foi feito no aniversário de 84 anos do pogrom nazista da "Noite dos Cristais", que ocorreu na Alemanha e na Áustria.
Marco vergonhoso da história alemã, em 9 de novembro de 1938, o regime nazista instigou a população a aterrorizar e agredir os judeus, em pogroms generalizados. A data é considerada um prelúdio ao Holocausto, uma nova e violenta escalada na perseguição nazista aos judeus, visando sua expulsão e extermínio.
No alerta, vários sobreviventes do Holocausto contam em vídeos como discursos antissemitas levaram a ações que culminaram no extermínio em massa dos judeus. Durante a Noite dos Cristais, mais de 1.400 sinagogas foram incendiadas e cerca de 30 mil homens judeus foram presos.
O alerta da campanha digital #ItStartedWithWords (Começou com palavras), promovida pela Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha, ressalta que o Holocausto não começou com os guetos, deportações e campos de concentração, mas sim com o discurso de ódio.
"Com a crescente prevalência do negacionismo do Holocausto, da distorção e do discurso de ódio nas redes sociais, a campanha #ItStartedWithWords se torna mais importante", salientou Greg Schneider, vice-presidente da organização baseada em Nova York.
Num dos vídeos, Eva Szepesi, de 90 anos, conta seu choque quando os amigos de infância passaram a tratá-la mal, pouco antes de ela ser capturada e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz, com apenas 12 anos: "Começou quando eu tinha oito anos, e eu não conseguia entender por que meus melhores amigos estavam me insultando." Os pais e irmãos de Szepesi foram mortos em Auschwitz.
A campanha trancorre num momento em que se registra o aumento de incidentes antissemitas no mundo. Somente na Alemanha, mais de 2.700 incidentes foram registrados em 2021, incluindo 63 agressões e seis casos de violência extrema. Cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados no Holocausto.
O presidente da Alemanha, Frank Walter-Steinmeier, afirmou nesta quarta-feira que o 9 de Novembro sempre lembrará na Alemanha a ruptura da civilização no Holocausto: "Nesta data sempre vamos urgir à luta contra o antissemitismo", declarou na abertura de uma conferência em Berlim.
Steinmeier destacou que a perseguição dos judeus não começou nessa data, "mas o que aconteceu nesse dia de violência escancarada foi a emersão visível da subsequente privação dos direitos, que foi meticulosamente planejada e conduzida com consequências brutais, rapto e extermínio dos judeus na Alemanha e Europa".
Marco vergonhoso da história alemã, em 9 de novembro de 1938, o regime nazista instigou a população a aterrorizar e agredir os judeus, em pogroms generalizados. A data é considerada um prelúdio ao Holocausto, uma nova e violenta escalada na perseguição nazista aos judeus, visando sua expulsão e extermínio.
No alerta, vários sobreviventes do Holocausto contam em vídeos como discursos antissemitas levaram a ações que culminaram no extermínio em massa dos judeus. Durante a Noite dos Cristais, mais de 1.400 sinagogas foram incendiadas e cerca de 30 mil homens judeus foram presos.
O alerta da campanha digital #ItStartedWithWords (Começou com palavras), promovida pela Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha, ressalta que o Holocausto não começou com os guetos, deportações e campos de concentração, mas sim com o discurso de ódio.
Patrulhas antissemitas, lideradas pela força paramilitar de Hitler (SA), atacaram sinagogas e lojas de judeus |
"Com a crescente prevalência do negacionismo do Holocausto, da distorção e do discurso de ódio nas redes sociais, a campanha #ItStartedWithWords se torna mais importante", salientou Greg Schneider, vice-presidente da organização baseada em Nova York.
Num dos vídeos, Eva Szepesi, de 90 anos, conta seu choque quando os amigos de infância passaram a tratá-la mal, pouco antes de ela ser capturada e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz, com apenas 12 anos: "Começou quando eu tinha oito anos, e eu não conseguia entender por que meus melhores amigos estavam me insultando." Os pais e irmãos de Szepesi foram mortos em Auschwitz.
A campanha trancorre num momento em que se registra o aumento de incidentes antissemitas no mundo. Somente na Alemanha, mais de 2.700 incidentes foram registrados em 2021, incluindo 63 agressões e seis casos de violência extrema. Cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados no Holocausto.
O presidente da Alemanha, Frank Walter-Steinmeier, afirmou nesta quarta-feira que o 9 de Novembro sempre lembrará na Alemanha a ruptura da civilização no Holocausto: "Nesta data sempre vamos urgir à luta contra o antissemitismo", declarou na abertura de uma conferência em Berlim.
Steinmeier destacou que a perseguição dos judeus não começou nessa data, "mas o que aconteceu nesse dia de violência escancarada foi a emersão visível da subsequente privação dos direitos, que foi meticulosamente planejada e conduzida com consequências brutais, rapto e extermínio dos judeus na Alemanha e Europa".
Brutalidade da eleição brasileira como artigo de exportação?
Vitória da democracia no Brasil mostra a resiliência das instituições, mas também desperta o temor de que as virulentas estratégias de campanha vistas durante o pleito possam encontrar imitadores no resto do mundo.
As eleições no Brasil detiveram por enquanto a crescente tendência de erosão das democracias no Ocidente. Esse é um sinal importante vindo do quinto maior país do mundo. Apesar da campanha eleitoral brutal, dos campos adversários irreconciliáveis e das muitas tentativas de declarar de antemão a invalidade das eleições, as instituições democráticas do Brasil resistiram. Logo após o fechamento das urnas, o resultado da eleição já era conhecido. Em comparação: nas eleições de meio de mandato nos EUA, o resultado final só deve ser conhecido dias depois.
No Brasil, logo após a divulgação dos resultados, os líderes da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal declararam que a eleição ocorreu de forma limpa e que não havia motivos para contestar o resultado. Os militares se comportaram de forma neutra. Ao mesmo tempo, as burocracias e os políticos de Brasília começaram tranquilamente a se preparar para a transferência de poder.
Mesmo que os radicalizados apoiadores de Bolsonaro continuem acreditando em fraude eleitoral, os políticos eleitos do campo bolsonarista não os levam tão a sério. Inúmeros apoiadores influentes do presidente derrotado, dos setores político, econômico e social – mesmo as eminências pardas evangélicas – pediram o fim dos protestos.
Mesmo que a transição de poder até 1º de janeiro de 2023 ainda possa ser acidentada, a democracia brasileira provou ser dinâmica. A guinada à direita que ocorreu na sociedade brasileira nos últimos anos agora também chegou ao Congresso e às instituições.
Diferente do que pode ser observado em algumas democracias ao redor do mundo – na Europa, por exemplo – o sistema político do Brasil está se mostrando integrador. Novos protagonistas têm a chance de ganhar o controle do poder político por meio de eleições democráticas. A democracia brasileira mostra uma permeabilidade que não muitos sistemas possuem.
No entanto, essa eleição me preocupa: temo que estrategistas eleitorais da nova direita em todo o mundo olhem de perto a campanha eleitoral de 2022 no Brasil – para copiá-la no futuro. O uso das mídias sociais tanto pela equipe de campanha de Bolsonaro quanto pela de Lula atingiu um novo nível de agressividade e brutalidade, inimaginável pouco tempo atrás.
Sobretudo os 28 dias que antecederam o segundo turno mostraram um uso assustador de fake news nas mídias sociais difícil de imaginar na Europa e nos EUA. As autoridades eleitorais tentaram aplicar as lições das últimas eleições. O Judiciário agiu com mais rapidez e veemência do que até pouco atrás se esperaria. Nas últimas semanas, no entanto, mostrou-se parcialmente impotente nas reações à campanha eleitoral suja.
As eleições no Brasil detiveram por enquanto a crescente tendência de erosão das democracias no Ocidente. Esse é um sinal importante vindo do quinto maior país do mundo. Apesar da campanha eleitoral brutal, dos campos adversários irreconciliáveis e das muitas tentativas de declarar de antemão a invalidade das eleições, as instituições democráticas do Brasil resistiram. Logo após o fechamento das urnas, o resultado da eleição já era conhecido. Em comparação: nas eleições de meio de mandato nos EUA, o resultado final só deve ser conhecido dias depois.
No Brasil, logo após a divulgação dos resultados, os líderes da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal declararam que a eleição ocorreu de forma limpa e que não havia motivos para contestar o resultado. Os militares se comportaram de forma neutra. Ao mesmo tempo, as burocracias e os políticos de Brasília começaram tranquilamente a se preparar para a transferência de poder.
Mesmo que a transição de poder até 1º de janeiro de 2023 ainda possa ser acidentada, a democracia brasileira provou ser dinâmica. A guinada à direita que ocorreu na sociedade brasileira nos últimos anos agora também chegou ao Congresso e às instituições.
Diferente do que pode ser observado em algumas democracias ao redor do mundo – na Europa, por exemplo – o sistema político do Brasil está se mostrando integrador. Novos protagonistas têm a chance de ganhar o controle do poder político por meio de eleições democráticas. A democracia brasileira mostra uma permeabilidade que não muitos sistemas possuem.
No entanto, essa eleição me preocupa: temo que estrategistas eleitorais da nova direita em todo o mundo olhem de perto a campanha eleitoral de 2022 no Brasil – para copiá-la no futuro. O uso das mídias sociais tanto pela equipe de campanha de Bolsonaro quanto pela de Lula atingiu um novo nível de agressividade e brutalidade, inimaginável pouco tempo atrás.
Sobretudo os 28 dias que antecederam o segundo turno mostraram um uso assustador de fake news nas mídias sociais difícil de imaginar na Europa e nos EUA. As autoridades eleitorais tentaram aplicar as lições das últimas eleições. O Judiciário agiu com mais rapidez e veemência do que até pouco atrás se esperaria. Nas últimas semanas, no entanto, mostrou-se parcialmente impotente nas reações à campanha eleitoral suja.
Todos os partidos tradicionais europeus, os órgãos judiciais relevantes e a mídia não só da Europa como também da América Latina devem estudar cuidadosamente as estratégias de campanha das últimas semanas no Brasil. É previsível que as próximas eleições também sejam brutais em outros Estados democráticos.
Os males que tiraram Bolsonaro de circulação depois da derrota
Erisipela é uma infecção cutânea causada geralmente pela bactéria Streptococcus pyogenes do grupo A, mas pode também ser causada por Haemophilus influenzae tipo B.
As bactérias penetram através de um pequeno ferimento na pele ou na mucosa, disseminam-se pelos vasos linfáticos e podem atingir o tecido subcutâneo e o gorduroso.
Pessoas com excesso de peso, portadoras de diabetes não compensado, de insuficiência venosa nos membros inferiores, cardiopatas com baixa imunidade são mais vulneráveis.
Senhora de um casarão próximo ao Colégio Salesiano, no Recife, viúva e religiosa que passava o dia rezando, Dodô sofria de erisipela e a tratava com remédios caseiros à base de ervas.
Nunca se curou. Mantinha no banheiro um cágado. E quando a dor excedia determinado limite, ela virava o cágado de pernas para o ar e amarrava uma fita vermelha na cabeça. Dizia que melhorava.
Bolsonaro deve ter outros meios de enfrentar a doença que o tirou de circulação depois de ser derrotado por Lula no último dia 30. Mas não padece só desse mal. Há outros tão ou mais dolorosos.
Ele sofre por ter perdido uma eleição que julgava ganha por pouco; sofre por não ter se oposto quando consultado sobre a decisão da justiça de soltar Lula, pois imaginou que o venceria.
E sofre com o processo em curso de lavagem de roupa suja que divide seus familiares mais queridos – de Michelle, a mulher, a Jair Renan, o filho Zero Quatro, e o mais distante deles.
Ana Cristina Valle, advogada e mãe de Jair Renan, lançou-se candidata a deputada pelo Distrito Federal, arrecadou dinheiro, perdeu e mandou-se para o exterior sem prestar contas.
Michelle nunca mais apareceu em público ao lado de Bolsonaro. Dizem que foi porque brigou com Carlos, o Zero Dois, e o marido tomou partido do filho, dono de suas senhas nas redes sociais.
Carlos nunca gostou de Michelle, que jamais gostou dele e que se recusou a abrigá-lo no Palácio da Alvorada porque Bolsonaro temia que Carlos fosse preso pelo ministro Alexandre de Moraes.
Houve tapas e não houve beijos no meio dessa quizila. Carlos afastou-se do pai, que se desentendeu com Eduardo, o Zero Três, que se escafedeu para os Estados Unidos onde tem amigos.
Flávio, o Zero Um, não abandonou o pai, mas está de mal com Eduardo e com Carlos. Cada um joga no outro a culpa pela má condução da campanha de Bolsonaro.
Para completar a desdita do clã, Bolsonaro cobra de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, muito mais do que ele tem para lhe oferecer. Quer casa, comida, roupa lavada e dinheiro para viagens.
Ao mesmo tempo, queixa-se dos políticos que se elegeram às suas custas e que não se mostraram agradecidos. É muita dor que ele é obrigado a suportar, além do medo da volta do comunismo.
As bactérias penetram através de um pequeno ferimento na pele ou na mucosa, disseminam-se pelos vasos linfáticos e podem atingir o tecido subcutâneo e o gorduroso.
Pessoas com excesso de peso, portadoras de diabetes não compensado, de insuficiência venosa nos membros inferiores, cardiopatas com baixa imunidade são mais vulneráveis.
Senhora de um casarão próximo ao Colégio Salesiano, no Recife, viúva e religiosa que passava o dia rezando, Dodô sofria de erisipela e a tratava com remédios caseiros à base de ervas.
Nunca se curou. Mantinha no banheiro um cágado. E quando a dor excedia determinado limite, ela virava o cágado de pernas para o ar e amarrava uma fita vermelha na cabeça. Dizia que melhorava.
Bolsonaro deve ter outros meios de enfrentar a doença que o tirou de circulação depois de ser derrotado por Lula no último dia 30. Mas não padece só desse mal. Há outros tão ou mais dolorosos.
Ele sofre por ter perdido uma eleição que julgava ganha por pouco; sofre por não ter se oposto quando consultado sobre a decisão da justiça de soltar Lula, pois imaginou que o venceria.
E sofre com o processo em curso de lavagem de roupa suja que divide seus familiares mais queridos – de Michelle, a mulher, a Jair Renan, o filho Zero Quatro, e o mais distante deles.
Ana Cristina Valle, advogada e mãe de Jair Renan, lançou-se candidata a deputada pelo Distrito Federal, arrecadou dinheiro, perdeu e mandou-se para o exterior sem prestar contas.
Michelle nunca mais apareceu em público ao lado de Bolsonaro. Dizem que foi porque brigou com Carlos, o Zero Dois, e o marido tomou partido do filho, dono de suas senhas nas redes sociais.
Carlos nunca gostou de Michelle, que jamais gostou dele e que se recusou a abrigá-lo no Palácio da Alvorada porque Bolsonaro temia que Carlos fosse preso pelo ministro Alexandre de Moraes.
Houve tapas e não houve beijos no meio dessa quizila. Carlos afastou-se do pai, que se desentendeu com Eduardo, o Zero Três, que se escafedeu para os Estados Unidos onde tem amigos.
Flávio, o Zero Um, não abandonou o pai, mas está de mal com Eduardo e com Carlos. Cada um joga no outro a culpa pela má condução da campanha de Bolsonaro.
Para completar a desdita do clã, Bolsonaro cobra de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, muito mais do que ele tem para lhe oferecer. Quer casa, comida, roupa lavada e dinheiro para viagens.
Ao mesmo tempo, queixa-se dos políticos que se elegeram às suas custas e que não se mostraram agradecidos. É muita dor que ele é obrigado a suportar, além do medo da volta do comunismo.
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