segunda-feira, 17 de julho de 2017
Nevoeiro ou labirinto?
Somos obrigados a falar uma só língua por um motivo óbvio: se cada indivíduo inventasse seu código de comunicação, ressuscitaríamos Babel. Múltiplas línguas e éticas engendram o caos e, no limite, a violência. É - como advertiu FH mais como observador do que como participante - algo gravíssimo.
Línguas e éticas delineiam limites. Num nível profundo são elas que nos falam. Roland Barthes dizia que “a língua não é nem reacionária nem progressista; ela é pura e simplesmente fascista”. Ninguém se lembra de ter aprendido sua língua materna, mas todos recordam suas lições de francês, italiano ou mandarim.
Sem uma única língua não se pode exercer o sumo da democracia: discordar. E sem reclamação e debate honesto vivemos o nevoeiro que resulta de um imenso labirinto legal. Esse marco do nosso sistema político.
Se nos inspirarmos em Shakespeare, concordando que o mundo é um palco, diríamos que o texto dos dramas históricos é a moralidade ou a ética inspiradora do drama. Você só pode ser um personagem se tiver o propósito de sustentar (como mocinho, bufão, traidor ou bandido) a cena, levando-a ao seu arremate. Se, contudo, o seu objetivo era de entrar na peça com a intenção de roubar a qualquer custo todas as cenas e, em seguida, destruir o palco e o teatro, matando o autor da peça, então não há o que discutir.
Essa analogia ajuda a enxergar a gravíssima crise que hoje vivemos. O colapso tem como centro um sistema de papéis amparados por uma estrutura burocrática destinada a manter privilégios. Meu lado antropológico sugere que o nosso republicanismo usa e recusa levar avante os seus valores. Saindo de uma monarquia patriarcal e escravocrata, transferimos aos cargos republicanos os conteúdos aristocráticos vigentes na monarquia. A República não foi pactuada, ela foi “proclamada”. Um dado óbvio da crise é nossa dificuldade de unidade, de um acordo mais profundo do que o ganhar ou perder no parlamento. Não chegamos nem a discutir qual seria o mínimo denominador nacional. Seria o mérito? A amizade? O cargo legalmente embasado nas piruetas jurídicas?
Onde seria ancorada a nossa vida pública? Nas biografias que desmoralizam os cargos; ou nos cargos que desmoralizam seus atores? Nossas práticas sociais destroem qualquer racionalidade. A vantagem de uma língua comum é poder discordar. A de uma moralidade é o controle do jogo político que não pode mais continuar fundado nos oportunismos do vale-tudo. Teoricamente, o interesse político esbarra na lei. Mas e quando ele deseja ser a própria lei?
O sistema legaliza sem legitimar um sistema de cargos obtidos numa competição eleitoral na qual - eis a imoralidade - os vencedores traem abusivamente seus projetos e suas promessas. O resultado é uma nomenclatura investida de desigualdades jurídicas a qual não é mais aceita pela sociedade consciente que é ela quem paga o preço da pirâmide. A racionalidade do mercado inundou a sociedade e não se pode mais disfarçar o quanto se paga pela ética do compadrio, que impede passar a limpo os conflitos motivados pela aliança entre poder e dinheiro.
E o pior é descobrir que mesmo quando descobrimos que as mais altas autoridades da cidade, do Estado e do País, se transformaram em assaltantes das instituições que deveriam governar, não chegamos ao fundo do poço.
Línguas e éticas delineiam limites. Num nível profundo são elas que nos falam. Roland Barthes dizia que “a língua não é nem reacionária nem progressista; ela é pura e simplesmente fascista”. Ninguém se lembra de ter aprendido sua língua materna, mas todos recordam suas lições de francês, italiano ou mandarim.
Sem uma única língua não se pode exercer o sumo da democracia: discordar. E sem reclamação e debate honesto vivemos o nevoeiro que resulta de um imenso labirinto legal. Esse marco do nosso sistema político.
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Nesse plano há pontos capitais, mas esquecidos. Eu posso ser contrário a um sistema político, mas devo ser honesto nos meus propósitos. Não posso ser um defensor dos pobres, enriquecendo pelo compadrio com capitalistas; não posso ajudar a depor uma rainha sendo um rei suspeito dos mesmos delitos.Se nos inspirarmos em Shakespeare, concordando que o mundo é um palco, diríamos que o texto dos dramas históricos é a moralidade ou a ética inspiradora do drama. Você só pode ser um personagem se tiver o propósito de sustentar (como mocinho, bufão, traidor ou bandido) a cena, levando-a ao seu arremate. Se, contudo, o seu objetivo era de entrar na peça com a intenção de roubar a qualquer custo todas as cenas e, em seguida, destruir o palco e o teatro, matando o autor da peça, então não há o que discutir.
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Onde seria ancorada a nossa vida pública? Nas biografias que desmoralizam os cargos; ou nos cargos que desmoralizam seus atores? Nossas práticas sociais destroem qualquer racionalidade. A vantagem de uma língua comum é poder discordar. A de uma moralidade é o controle do jogo político que não pode mais continuar fundado nos oportunismos do vale-tudo. Teoricamente, o interesse político esbarra na lei. Mas e quando ele deseja ser a própria lei?
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Qual seria a unidade de um povo (feito até anteontem de senhores e escravos; e de nobres e comuns) se até hoje alguns podem fazer o que bem entendem, ignorando a igualdade? Todos são iguais, mas os inúmeros foros privilegiados transformam a igualdade em desigualdade.O sistema legaliza sem legitimar um sistema de cargos obtidos numa competição eleitoral na qual - eis a imoralidade - os vencedores traem abusivamente seus projetos e suas promessas. O resultado é uma nomenclatura investida de desigualdades jurídicas a qual não é mais aceita pela sociedade consciente que é ela quem paga o preço da pirâmide. A racionalidade do mercado inundou a sociedade e não se pode mais disfarçar o quanto se paga pela ética do compadrio, que impede passar a limpo os conflitos motivados pela aliança entre poder e dinheiro.
E o pior é descobrir que mesmo quando descobrimos que as mais altas autoridades da cidade, do Estado e do País, se transformaram em assaltantes das instituições que deveriam governar, não chegamos ao fundo do poço.
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Impermeáveis aos requisitos racionais do diabolizado capitalismo, cuja ética engendrou e estimulou o direito à diferença, à discórdia, à oposição, à competição e ao mérito, confundimos muitos direitos com legitimidade, muitas polícias com o controle do crime e inúmeros tribunais com acesso igualitário à Justiça. O resultado não antecipado de tantos controles é uma contaminação patológica na qual se salvam todos interesses, menos o do povo brasileiro. O fundo do poço
Conhecimento não mata. Certezas sim. Crenças, quando não submetidas a escrutínio permanente, estão sempre na raiz de grandes (e pequenos) desastres. Estar certo é mais importante que ser coerente. Sempre.
Faz tempo que os fatos deixaram de importar. A ligação entre realidade e percepção parece estar cada vez mais tênue. Tudo tem se resumido a opiniões. Vivemos divididos pelo excesso de certezas. Talvez seja este o nosso maior problema contemporâneo.
O espectro de opiniões aceitáveis está ficando cada vez mais limitado. Toda conversa parece ser resumida a sequência de posições binárias. Preto ou branco. Certo ou errado. Tudo diametralmente oposto.
Em cada interação, total harmonia, ou conflito aberto são os únicos resultados possíveis ou aceitáveis. Tudo exclusivamente dependente do campo em que cada um dos interlocutores se posiciona. Dissidência, meio-termo, ou acordo são impossíveis. Hegemonia é o único objetivo.
Polarizações cegas e surdas dificilmente geram líderes e decisões equilibradas. A melhor solução é a salvação sem salvadores. Instituições que foquem em como se governa independente de quem governa. A direita ou a esquerda. Não importa.
Na medida em que as condições para construção de consensos vão desaparecendo, o pior cenário vai se consolidando. Tudo fica imobilizado, degradado, deteriorando a céu aberto. Estagnação política, econômica, e decisória corroem qualquer possibilidade de melhora. É a receita perfeita para o desastre. E, mesmo assim, seguimos cozinhando.
O resultado final na ausência de intermediação política eficiente é o populismo. É ele que se apresenta como solução a resolução de tantos impasses. E tende a continuar assim se não recuperarmos a capacidade de dialogar.
Populismo é o perigo imediato, real e concreto que ameaça a todos, independentemente da posição no espectro político. Protetores do povo, discursos belicosos, e altas doses de marketing nada resolvem. Mesmo assim seguimos em marcha batida em direção a insensatez.
Populismo é abraço de afogado. Pode matar. Não favorece nem a direita nem a esquerda. Leva todos em direção ao fundo do poço. Mesmo que seja poço sem fundo.
Faz tempo que os fatos deixaram de importar. A ligação entre realidade e percepção parece estar cada vez mais tênue. Tudo tem se resumido a opiniões. Vivemos divididos pelo excesso de certezas. Talvez seja este o nosso maior problema contemporâneo.
O espectro de opiniões aceitáveis está ficando cada vez mais limitado. Toda conversa parece ser resumida a sequência de posições binárias. Preto ou branco. Certo ou errado. Tudo diametralmente oposto.
Polarizações cegas e surdas dificilmente geram líderes e decisões equilibradas. A melhor solução é a salvação sem salvadores. Instituições que foquem em como se governa independente de quem governa. A direita ou a esquerda. Não importa.
Na medida em que as condições para construção de consensos vão desaparecendo, o pior cenário vai se consolidando. Tudo fica imobilizado, degradado, deteriorando a céu aberto. Estagnação política, econômica, e decisória corroem qualquer possibilidade de melhora. É a receita perfeita para o desastre. E, mesmo assim, seguimos cozinhando.
O resultado final na ausência de intermediação política eficiente é o populismo. É ele que se apresenta como solução a resolução de tantos impasses. E tende a continuar assim se não recuperarmos a capacidade de dialogar.
Populismo é o perigo imediato, real e concreto que ameaça a todos, independentemente da posição no espectro político. Protetores do povo, discursos belicosos, e altas doses de marketing nada resolvem. Mesmo assim seguimos em marcha batida em direção a insensatez.
Populismo é abraço de afogado. Pode matar. Não favorece nem a direita nem a esquerda. Leva todos em direção ao fundo do poço. Mesmo que seja poço sem fundo.
Luzes e trevas
A notícia da condenação de Lula chegou num momento especial. Acabara de escrever um artigo sobre o apagão no Senado. E comparava aquilo aos apagões nos estádios de futebol: a luz volta aos poucos. E concluía que, no universo político, as luzes só voltarão completamente em 2018. A condenação de Lula é uma pequena lanterna para enxergar parcialmente o cenário das eleições presidenciais. A estratégia de lançar a candidatura para escapar da Justiça, de politizar o processo, sofreu um golpe. Talvez por falta de alternativa, a esquerda pode insistir nela. Mas é um equívoco fixar-se no destino de uma só pessoa e esquecer o país.
O Tribunal Regional em Porto Alegre pode levar até nove meses para julgar um recurso, uma condenação fundada em provas testemunhais, documentais e periciais. Pode até levar mais. Legalmente é possível ser candidato. Mas será preciso levar um guarda-roupas de candidato e uma malinha com as coisas indispensáveis na cadeia.
O candidato vai se mover sempre com essa espada na cabeça, e supor que isso não influa na sua viabilidade só é possível aos que o seguem com um fervor religioso. Ao mesmo tempo em que Lula era condenado por Sergio Moro, a Câmara discutia se aceitava ou não a denúncia contra Temer.
Embora esses fatos apareçam de forma isolada, fazem parte de um mesmo processo histórico. O governo petista caiu, em seu lugar ficaram os cúmplices da aventura que arruinou o país. Agora, a coisa chegou a eles.
Um ex-presidente condenado, um presidente denunciado, dois presidentes impedidos. É o momento de avaliar, não só um governo mas todo o processo de redemocratização.
É possível começar de novo? As diretas eram uma bandeira clara. A luta contra a corrupção, também. Mas o principal cenário dessa luta acontece na Justiça, onde os processos correm.
Resta o caminho eleitoral. Em alguns países da Europa, como a Dinamarca, num determinado momento, e a França agora, eleições costumam ser um sopro de vida ao sacudir um sistema envelhecido. Aqui no Brasil, o sistema não apenas envelheceu mas também se corrompeu. Muito possivelmente a renovação será orientada por valores que estiveram soterrados nesse período. No entanto isso não basta. Estamos vivendo problemas diante dos quais apenas a honestidade não resolve. As questões emergenciais estão aí, muitas delas decorrentes do colapso dos governos corrompidos.
Segurança, por exemplo. Meu projeto era escrever sobre isso até apagarem as luzes do Senado e ver aquelas mulheres comendo quentinhas. Isso me fez refletir sobre luzes e trevas.
Mas quando pensava em segurança, minha ideia era mostrar alguns reflexos psicológicos de quem mora numa cidade como Rio. Um deles é o perigo de se acostumar com a violência. Começava por mim mesmo. Vivo na base de um morro onde sempre houve tiroteio. Numa visita a Porto Príncipe, no Haiti, hospedado na casa de um diplomata brasileiro, ouvi tiros ao longe. Virei para o canto e dormi como se estivesse em casa.
Não sei que impacto teria a morte de inocentes em outros lugares. Mas a morte de crianças e adolescentes no Rio é recebida com uma certa resignação.
O terrorismo não é o melhor parâmetro. Mas suas vítimas são cultuadas e as próprias autoridades aparecem para visitar as famílias. Absortos em suas manobras defensivas, os políticos não têm sensibilidade para isso. Nem espero que tenham nesta encarnação.
No entanto, não importa que governo fique de pé, é essencial conseguir dele alguma resposta à violência urbana. Na verdade, seria necessário que tivesse uma visão clara de como gerir os colapsos que explodem em vários pontos da máquina.
A sucessão de crimes nas cidades e sucessão de escândalos no poder produziram uma certa anestesia. Suspeito que muita gente vai se perguntar se ainda vale a pena gastar alguma energia em mudanças. Creio que uma resposta negativa tende a perpetuar essa etapa constrangedora da história moderna brasileira.
Não porque goste de eleições e tenha muita paciência com o festival de demagogia que gravita em torno delas. É que não vejo outra saída. Ainda assim uma saída estreita, precária. Esta é sociedade mais extensamente informada de nossa história moderna. Talvez consiga um Congresso renovado que, apesar de modesto, pelo menos não atrapalhe.
A política tornou-se um tema central porque a corrupção e suas consequências roubaram a cena. Sem esses fatores dispersivos, é possível concentrar mais energia em campos que, realmente, nos empurram para a frente: trabalho, inovação, conhecimento.
A política terá o seu papel, que certamente vai se desenhando pelo caminho. Mas não pode mais ser essa pesada mala nas costas do país. Mala cheia de malinhas: dinheiro, joias, obras de arte, cartões de crédito, contas no exterior.
Mas o grande peso mesmo não é monetário. É a perda de esperança num futuro comum, o eclipse de um sentimento de país.
Fernando Gabeira
O Tribunal Regional em Porto Alegre pode levar até nove meses para julgar um recurso, uma condenação fundada em provas testemunhais, documentais e periciais. Pode até levar mais. Legalmente é possível ser candidato. Mas será preciso levar um guarda-roupas de candidato e uma malinha com as coisas indispensáveis na cadeia.
O candidato vai se mover sempre com essa espada na cabeça, e supor que isso não influa na sua viabilidade só é possível aos que o seguem com um fervor religioso. Ao mesmo tempo em que Lula era condenado por Sergio Moro, a Câmara discutia se aceitava ou não a denúncia contra Temer.
Um ex-presidente condenado, um presidente denunciado, dois presidentes impedidos. É o momento de avaliar, não só um governo mas todo o processo de redemocratização.
É possível começar de novo? As diretas eram uma bandeira clara. A luta contra a corrupção, também. Mas o principal cenário dessa luta acontece na Justiça, onde os processos correm.
Resta o caminho eleitoral. Em alguns países da Europa, como a Dinamarca, num determinado momento, e a França agora, eleições costumam ser um sopro de vida ao sacudir um sistema envelhecido. Aqui no Brasil, o sistema não apenas envelheceu mas também se corrompeu. Muito possivelmente a renovação será orientada por valores que estiveram soterrados nesse período. No entanto isso não basta. Estamos vivendo problemas diante dos quais apenas a honestidade não resolve. As questões emergenciais estão aí, muitas delas decorrentes do colapso dos governos corrompidos.
Segurança, por exemplo. Meu projeto era escrever sobre isso até apagarem as luzes do Senado e ver aquelas mulheres comendo quentinhas. Isso me fez refletir sobre luzes e trevas.
Mas quando pensava em segurança, minha ideia era mostrar alguns reflexos psicológicos de quem mora numa cidade como Rio. Um deles é o perigo de se acostumar com a violência. Começava por mim mesmo. Vivo na base de um morro onde sempre houve tiroteio. Numa visita a Porto Príncipe, no Haiti, hospedado na casa de um diplomata brasileiro, ouvi tiros ao longe. Virei para o canto e dormi como se estivesse em casa.
Não sei que impacto teria a morte de inocentes em outros lugares. Mas a morte de crianças e adolescentes no Rio é recebida com uma certa resignação.
O terrorismo não é o melhor parâmetro. Mas suas vítimas são cultuadas e as próprias autoridades aparecem para visitar as famílias. Absortos em suas manobras defensivas, os políticos não têm sensibilidade para isso. Nem espero que tenham nesta encarnação.
No entanto, não importa que governo fique de pé, é essencial conseguir dele alguma resposta à violência urbana. Na verdade, seria necessário que tivesse uma visão clara de como gerir os colapsos que explodem em vários pontos da máquina.
A sucessão de crimes nas cidades e sucessão de escândalos no poder produziram uma certa anestesia. Suspeito que muita gente vai se perguntar se ainda vale a pena gastar alguma energia em mudanças. Creio que uma resposta negativa tende a perpetuar essa etapa constrangedora da história moderna brasileira.
Não porque goste de eleições e tenha muita paciência com o festival de demagogia que gravita em torno delas. É que não vejo outra saída. Ainda assim uma saída estreita, precária. Esta é sociedade mais extensamente informada de nossa história moderna. Talvez consiga um Congresso renovado que, apesar de modesto, pelo menos não atrapalhe.
A política tornou-se um tema central porque a corrupção e suas consequências roubaram a cena. Sem esses fatores dispersivos, é possível concentrar mais energia em campos que, realmente, nos empurram para a frente: trabalho, inovação, conhecimento.
A política terá o seu papel, que certamente vai se desenhando pelo caminho. Mas não pode mais ser essa pesada mala nas costas do país. Mala cheia de malinhas: dinheiro, joias, obras de arte, cartões de crédito, contas no exterior.
Mas o grande peso mesmo não é monetário. É a perda de esperança num futuro comum, o eclipse de um sentimento de país.
Fernando Gabeira
Uma chance de 14 meses
Bem que eu gostaria de escrever sobre outra coisa. Mas não dá. Cada vez que sinto necessidade de me calar para ver se sofro menos, me aparece um novo acontecimento que não posso deixar de comentar, como se precisasse disso para respirar no meio de tanto desastre. Quando decido escrever, e os sentimentos têm que se organizar através da disciplina da razão, perco o entusiasmo, acabo achando que a queda de Temer, a prisão de Lula, o mandato de Aécio ou o exibicionismo das senadoras são assuntos sem nenhuma importância, em face do que está de fato diante de nossos narizes.
É evidente que o futuro de Temer, Lula, FHC, Maia e de quem mais aparecer e se destacar no palco desse drama será sempre importante, independente de para quem torçamos. O que me agonia é que é evidente também que não está nas mãos de nenhum deles a chave da porta que deve ser aberta para sairmos dessa.
Não se trata mais de em quem votar ou para quem fazer campanha. Não me interesso por quantas horas as senadoras lancharam na mesa do presidente ou quantos deputados irão à sessão da Câmara depois do recesso. Não é nada disso que está em questão e, se bobearmos, em 2018 elegeremos novamente a mesma corja de sanguessugas e corruptos. Ou outros iguais.
O que precisamos saber é o que faremos do Brasil nesse instante seminal, agora que nossos valores democráticos e nossas práticas políticas estão a perigo. Além de campeões mundiais da corrupção pública, nossa sociedade vive hoje um inferno de violência e desregramentos. Somos líderes mundiais de assaltos a mão armada, do assassinato de ambientalistas, do massacre com chutes na cara de torcedores de futebol, do desrespeito aos índios, da guerra entre facções criminosas, dos 50 mil jovens assassinados por ano. E muito mais.
Como vamos reconstruir nossa democracia? Como vamos enterrar, de uma vez, nossa tradição escravista, sempre negada apesar da imensa maioria de pobres pretos e do tratamento que dedicamos aos que julgamos inferiores? Que nova Constituição contemporânea será capaz de atender às nossas necessidades atuais? Quem a escreverá?
As circunstâncias formais nos deram o porto seguro de uma data, outubro de 2018, para discutirmos e celebrarmos as mudanças estruturais. A oportunidade de eleições diretas marcadas e irremovíveis não pode ser perdida. Não pode se transformar em mais uma encenação de embates tradicionais, entre caciques e partidos que não têm nenhum compromisso com o futuro. Que vivem apenas da mesquinhez de suas disputas por cargos, emendas e malas cheias.
Para meu desgosto pessoal, não vejo ninguém repensando e reformulando as ideias que geraram as manifestações de 2013, o único movimento popular recente em que a política brasileira ameaçou se atualizar. Uma atualização com o nosso cotidiano, de comportamento, cultura, tecnologia e fé.
Não me interesso pelo nariz empinado da aristocracia que inventou a reeleição, esse crime político tão destrutivo, cometido por vaidade. Nem pelo populismo que quer “cuidar” do povo, em vez de se deixar guiar por ele e suas necessidades, um populismo herdeiro de nosso histórico patrimonialismo. Não quero ser obrigado a escolher entre a corrupção gentil e o pensamento aéreo, longe do chão do Brasil; entre a corrupção eufórica e a miséria moral generalizada. A compra de votos no Congresso, praticada sem cerimônia pelo PMDB e Temer, é uma tradição consolidada pelo PT e Lula no mensalão, e inventada pelo PSDB e FHC na reeleição.
Em vez de batalhas partidárias e xingamentos mútuos entre os que se parecem tanto, devíamos estimular a produção de um país novo, em seminários de ideias novas, que levem em consideração o mundo real. Por exemplo, desde o final do seculo XX, nenhum país, de qualquer continente, conseguiu sair da miséria e se desenvolver, sem uma revolução profunda no seu sistema de educação. Entre nós, nos últimos anos, ninguém, dentro ou fora do poder, nunca propôs nada parecido ou, ao menos, pensou nisso. Como ninguém pensou em saúde, saneamento, transporte, as coisas necessárias à grande maioria da população.
Ainda temos 14 meses para encontrar esse rumo. Mas, daqui a pouco, não teremos mais tempo nenhum, teremos apenas que votar, escolher entre dois políticos tradicionais e certamente bem conhecidos, que lutarão por uma forma de poder inoperante e desmoralizada, mas da qual ainda podem tirar proveito. E, em breve, tudo ficará como está hoje.
Antes de começar a escrever esse texto, pensei em falar das virtudes da Mulher Maravilha e de seu noivo acima da média, de como é sofrido torcer pelo vitorioso Botafogo, da consagração de Hélio Oiticica no Whitney de Nova York, do Paulo Prado que reli agora, de qualquer coisa que não fosse a chatice desses dias difíceis que estamos vivendo. Sim, vou tentar não falar mais nisso.
Uma chance de 14 meses
Cacá Diegues
É evidente que o futuro de Temer, Lula, FHC, Maia e de quem mais aparecer e se destacar no palco desse drama será sempre importante, independente de para quem torçamos. O que me agonia é que é evidente também que não está nas mãos de nenhum deles a chave da porta que deve ser aberta para sairmos dessa.
Não se trata mais de em quem votar ou para quem fazer campanha. Não me interesso por quantas horas as senadoras lancharam na mesa do presidente ou quantos deputados irão à sessão da Câmara depois do recesso. Não é nada disso que está em questão e, se bobearmos, em 2018 elegeremos novamente a mesma corja de sanguessugas e corruptos. Ou outros iguais.
O que precisamos saber é o que faremos do Brasil nesse instante seminal, agora que nossos valores democráticos e nossas práticas políticas estão a perigo. Além de campeões mundiais da corrupção pública, nossa sociedade vive hoje um inferno de violência e desregramentos. Somos líderes mundiais de assaltos a mão armada, do assassinato de ambientalistas, do massacre com chutes na cara de torcedores de futebol, do desrespeito aos índios, da guerra entre facções criminosas, dos 50 mil jovens assassinados por ano. E muito mais.
Como vamos reconstruir nossa democracia? Como vamos enterrar, de uma vez, nossa tradição escravista, sempre negada apesar da imensa maioria de pobres pretos e do tratamento que dedicamos aos que julgamos inferiores? Que nova Constituição contemporânea será capaz de atender às nossas necessidades atuais? Quem a escreverá?
As circunstâncias formais nos deram o porto seguro de uma data, outubro de 2018, para discutirmos e celebrarmos as mudanças estruturais. A oportunidade de eleições diretas marcadas e irremovíveis não pode ser perdida. Não pode se transformar em mais uma encenação de embates tradicionais, entre caciques e partidos que não têm nenhum compromisso com o futuro. Que vivem apenas da mesquinhez de suas disputas por cargos, emendas e malas cheias.
Para meu desgosto pessoal, não vejo ninguém repensando e reformulando as ideias que geraram as manifestações de 2013, o único movimento popular recente em que a política brasileira ameaçou se atualizar. Uma atualização com o nosso cotidiano, de comportamento, cultura, tecnologia e fé.
Não me interesso pelo nariz empinado da aristocracia que inventou a reeleição, esse crime político tão destrutivo, cometido por vaidade. Nem pelo populismo que quer “cuidar” do povo, em vez de se deixar guiar por ele e suas necessidades, um populismo herdeiro de nosso histórico patrimonialismo. Não quero ser obrigado a escolher entre a corrupção gentil e o pensamento aéreo, longe do chão do Brasil; entre a corrupção eufórica e a miséria moral generalizada. A compra de votos no Congresso, praticada sem cerimônia pelo PMDB e Temer, é uma tradição consolidada pelo PT e Lula no mensalão, e inventada pelo PSDB e FHC na reeleição.
Em vez de batalhas partidárias e xingamentos mútuos entre os que se parecem tanto, devíamos estimular a produção de um país novo, em seminários de ideias novas, que levem em consideração o mundo real. Por exemplo, desde o final do seculo XX, nenhum país, de qualquer continente, conseguiu sair da miséria e se desenvolver, sem uma revolução profunda no seu sistema de educação. Entre nós, nos últimos anos, ninguém, dentro ou fora do poder, nunca propôs nada parecido ou, ao menos, pensou nisso. Como ninguém pensou em saúde, saneamento, transporte, as coisas necessárias à grande maioria da população.
Ainda temos 14 meses para encontrar esse rumo. Mas, daqui a pouco, não teremos mais tempo nenhum, teremos apenas que votar, escolher entre dois políticos tradicionais e certamente bem conhecidos, que lutarão por uma forma de poder inoperante e desmoralizada, mas da qual ainda podem tirar proveito. E, em breve, tudo ficará como está hoje.
Antes de começar a escrever esse texto, pensei em falar das virtudes da Mulher Maravilha e de seu noivo acima da média, de como é sofrido torcer pelo vitorioso Botafogo, da consagração de Hélio Oiticica no Whitney de Nova York, do Paulo Prado que reli agora, de qualquer coisa que não fosse a chatice desses dias difíceis que estamos vivendo. Sim, vou tentar não falar mais nisso.
Uma chance de 14 meses
Cacá Diegues
A verdadeira face da juventude
Frequentemente a informação veiculada na mídia provoca um dissabor. Corrupção, violência, crise, trânsito caótico e péssima qualidade da educação e da saúde, pautas recorrentes nos cadernos de cidades, compõem um mosaico com pouca luz e muitas sombras. A sociedade desenhada no noticiário parece refém do vírus da morbidez. Crimes, aberrações e desvios de conduta desfilam na passarela da imprensa. A notícia positiva, tão verdadeira quanto a informação negativa, é uma surpresa, quase um fato inusitado.
Jornais, frequentemente dominados pelo noticiário enfadonho do País oficial e pautados pela síndrome do negativismo, não têm “olhos de ver”. Fatos que mereceriam manchetes sucumbem à força do declaratório. Reportagens brilhantes, iluminadoras de iniciativas que constroem o Brasil real, morrem na burocracia de um jornalismo que se distancia da vida e, consequentemente, dos seus leitores.
O recurso ao negativismo sistemático esconde uma tentativa de ocultar algo que nos incomoda: nossa enorme incapacidade de flagrar a grandeza do cotidiano.
“Quando nada acontece”, dizia Guimarães Rosa, “há um milagre que não estamos vendo”. O jornalista de talento sabe descobrir a grande matéria que se esconde no aparente lusco-fusco do dia a dia. A mídia, argumentam os aguerridos defensores do jornalismo realidade, retrata a vida como ela é. Teria, contudo, o cotidiano do brasileiro médio nada além de tamanhas e tão frequentes manifestações de violência e de tristeza? Penso que não.
A informação sobre a juventude, por exemplo, dá prioridade a um recorte da realidade, mas frequentemente sonega o outro lado, o luminoso e construtivo. O aumento dos casos de aids, da violência e a escalada das drogas castigam a juventude. A crise econômica, dramática e visível a olho nu, exacerba o clima de desesperança.
Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida. Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas a uma explosão de violência.
Mas olhemos, caro leitor, o outro lado da realidade. Verdadeiro e factual, embora menos noticiado por uma mídia obcecada pela síndrome da informação sombria.
A delinquência, na verdade, está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil.
A juventude, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva assim.
Há em andamento profundas e positivas mudanças comportamentais. O relacionamento descartável vai sendo substituído pelo sentido do compromisso. A juventude real, não a desenhada por certa indústria cultural que vive isolada numa bolha ideológica e de costas para a realidade, manifesta uma procura de firmeza moral, de valores familiares, éticos e até mesmo religiosos. Deus, família, fidelidade, trabalho, realidades tidas como anacrônicas nas últimas décadas, são valores em alta. Não é uma opinião. É um fato.
A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de “caretas” para buscar neles a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório. Agora o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças na mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, não é só modismo. Revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de fazer a verdadeira revolução. Eles defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento.
O mundo está mudando. Quem não perceber – na mídia e fora dela – essa virada comportamental perderá a conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.
Jornais, frequentemente dominados pelo noticiário enfadonho do País oficial e pautados pela síndrome do negativismo, não têm “olhos de ver”. Fatos que mereceriam manchetes sucumbem à força do declaratório. Reportagens brilhantes, iluminadoras de iniciativas que constroem o Brasil real, morrem na burocracia de um jornalismo que se distancia da vida e, consequentemente, dos seus leitores.
O recurso ao negativismo sistemático esconde uma tentativa de ocultar algo que nos incomoda: nossa enorme incapacidade de flagrar a grandeza do cotidiano.
“Quando nada acontece”, dizia Guimarães Rosa, “há um milagre que não estamos vendo”. O jornalista de talento sabe descobrir a grande matéria que se esconde no aparente lusco-fusco do dia a dia. A mídia, argumentam os aguerridos defensores do jornalismo realidade, retrata a vida como ela é. Teria, contudo, o cotidiano do brasileiro médio nada além de tamanhas e tão frequentes manifestações de violência e de tristeza? Penso que não.
Para muitos jovens os anos da adolescência serão os mais perigosos da vida. Desemprego, gravidez precoce, aborto, doenças sexualmente transmissíveis, aids e drogas compõem a trágica equação que ameaça destruir o sonho juvenil e escancarar as portas a uma explosão de violência.
Mas olhemos, caro leitor, o outro lado da realidade. Verdadeiro e factual, embora menos noticiado por uma mídia obcecada pela síndrome da informação sombria.
A delinquência, na verdade, está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil.
Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, de gestos de solidariedade, de magníficas ações de voluntariado, marca registrada de uma juventude generosa e trabalhadora que, sem alarde ou pirotecnia do marketing, colabora, e muito, para a construção da cidadania.
A juventude, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva assim.
Há em andamento profundas e positivas mudanças comportamentais. O relacionamento descartável vai sendo substituído pelo sentido do compromisso. A juventude real, não a desenhada por certa indústria cultural que vive isolada numa bolha ideológica e de costas para a realidade, manifesta uma procura de firmeza moral, de valores familiares, éticos e até mesmo religiosos. Deus, família, fidelidade, trabalho, realidades tidas como anacrônicas nas últimas décadas, são valores em alta. Não é uma opinião. É um fato.
A família, não obstante sua crise evidente, é uma forte aspiração dos jovens. Ao contrário do que se pensa em certos ambientes politicamente corretos, os adolescentes atribuem importância decisiva ao ambiente familiar. Mesmo os jovens que convivem com a violência doméstica consideram importante a base familiar. A relação no lar é fundamental, ainda que haja conflito. Parece paradoxal, mas é assim. Eles acham melhor ter uma família danificada do que não ter ninguém. Em casa deixaram de rotular os pais de “caretas” para buscar neles a figura do companheiro. Os jovens, em numerosas pesquisas, apontam a família tradicional como a instituição de maior ascendência em suas decisões.
Alguns, no entanto, defendem um modelo de família que não bate com esse anseio dos jovens.
Respeito a divergência e convivo com o contraditório. Sem problema. Mas não duvido que é na família, na família tradicional, mais do que em qualquer outro quadro de convivência, que podem ser cultivados os valores, as virtudes e as competências que constituem o melhor fundamento da educação para a cidadania. E os jovens sabem disso.
No campo da afetividade, antes marcado pelo relacionamento descartável e pela falta de vínculos, vai-se impondo a cultura da fidelidade. O tema da sexualidade, puritanamente evitado pela geração que se formou na caricata moral dos tabus e das proibições, acabou explodindo, sem limites, na síndrome do relacionamento promíscuo e transitório. Agora o rio está voltando ao seu leito. O frequente uso de alianças na mão direita, manifestação visível de compromisso afetivo, não é só modismo. Revela algo mais profundo. Os jovens estão apostando em relações duradouras.
Assiste-se, na universidade e no ambiente de trabalho, ao ocaso das ideologias e ao surgimento de um forte profissionalismo. Ao contrário das utopias do passado, os jovens acreditam na excelência e no mérito como forma de fazer a verdadeira revolução. Eles defendem o pluralismo e o debate das ideias. O pensamento divergente é saudável. As pessoas querem um discurso diverso, não um local onde se pregue apenas uma corrente de pensamento.
O mundo está mudando. Quem não perceber – na mídia e fora dela – essa virada comportamental perderá a conexão com um importante segmento do mercado de consumo editorial.
Brasil pequeno
O tempo é o maior inimigo de Temer. Para fechar um bom negócio - foi a isso que a política brasileira se reduziu -, a primeira pergunta é: "O tempo corre a favor de quem? Do comprador ou do vendedor?". Na barganha pela Presidência, Temer tem muito mais pressa e urgência do que Rodrigo Maia. Cada semana traz a promessa de novas delações contra o presidente. Simultaneamente, projeções do próprio governo mostram a economia encolhendo, encolhendo. Tudo tende a piorar, é questão de tempo.
Sabendo disso, o procurador-geral Rodrigo Janot fatiou a denúncia contra Temer. Significa que os deputados alugados pelo Planalto terão que se desgastar múltiplas vezes ao declararem voto no presidente mais impopular desde Sarney. Três vezes, até. Os mais malandros faltarão na primeira votação. Ausentar-se em todas, porém, só os candidatos ao Oscar de cara-de-pau coadjuvante. Quem quiser safar a sua terá que dá-la a bater.
Mas demonstrações públicas de coragem estão encarecendo. Depois do recesso de julho, os deputados voltarão a Brasília com uma medida precisa do tamanho da resistência de suas bases eleitorais ao apoio que venderam ao presidente. A chance de não entregarem o prometido à Turma do Pudim aumenta. O bilhão de reais em emendas parlamentares liberado por Temer pode revelar-se o mais inútil da dispendiosa história parlamentar nativa.
Na semana em que o governo comemorou a condenação de Lula e a vitória na Comissão de Constituição e Justiça durante votação da denúncia contra Temer, a maior derrota foi do Planalto. Os pudinzeiros queriam votar a denúncia também no plenário da Câmara, rejeitá-la antes do recesso. Comandante da Casa, Maia jogou parado, como de hábito, e deixou o tempo correr. O governo não conseguiu reunir deputados suficientes para antecipar a votação. Ela ficou, na melhor das hipóteses, para agosto.
Corre o tempo, escorre a sorte de Temer. Novas denúncias vêm aí. Com elas, mais detalhes das tenebrosas transações, mais malas de dinheiro, mais noticiário negativo para a turma engolir. Haja pudim. Se sobreviver à primeira, Temer terá chances cada vez menores de sobrevivência nas subsequentes. O planador presidencial faz piruetas enganadoras, sugerindo um voo sustentado, mas quem paira sem motor sempre termina no chão.
Se o destino é previsível, o custo do passeio temerário é crescente e exponencial. Quem há de investir no Brasil se não pode garantir quem ocupará a Presidência daqui a três meses?
A política sequestrou a economia e não vai libertá-la enquanto não se encontrar solução para a crise. Não a deflagrada pelas investigações da Lava Jato, mas a crise de representação. O sistema eleitoral e partidário que perpetua currais dinásticos e multiplica siglas de aluguel é o maior entrave à modernização do Brasil. Reformar a política é mais urgente que qualquer reforma.
Mas não há grupo de interesse agindo para restringir o número de partidos, não há lobby para diminuir a influência do dinheiro no resultado da eleição, não há pato, prêmio ou panela que pressione os políticos a diminuírem seus privilégios. Nem Temer nem Maia nem nenhum interino vai patrocinar essa reforma. Muito ao contrário, são criaturas e criadores desse sistema.
Os dias correm contra Temer, mas não é ele quem paga a conta. Quem perde tempo é o País. Tempo e dinheiro. A economia definha, a receita escasseia. Falta verba para passaporte, para a polícia, para cultura, para aposentadoria. Direitos emagrecem. Áreas de proteção da floresta amazônica encolhem. Tudo se reduz, na mesma proporção da vergonha dos poderosos. O Brasil se condena a ficar do tamanho de seus governantes.
Sabendo disso, o procurador-geral Rodrigo Janot fatiou a denúncia contra Temer. Significa que os deputados alugados pelo Planalto terão que se desgastar múltiplas vezes ao declararem voto no presidente mais impopular desde Sarney. Três vezes, até. Os mais malandros faltarão na primeira votação. Ausentar-se em todas, porém, só os candidatos ao Oscar de cara-de-pau coadjuvante. Quem quiser safar a sua terá que dá-la a bater.
Mas demonstrações públicas de coragem estão encarecendo. Depois do recesso de julho, os deputados voltarão a Brasília com uma medida precisa do tamanho da resistência de suas bases eleitorais ao apoio que venderam ao presidente. A chance de não entregarem o prometido à Turma do Pudim aumenta. O bilhão de reais em emendas parlamentares liberado por Temer pode revelar-se o mais inútil da dispendiosa história parlamentar nativa.
Na semana em que o governo comemorou a condenação de Lula e a vitória na Comissão de Constituição e Justiça durante votação da denúncia contra Temer, a maior derrota foi do Planalto. Os pudinzeiros queriam votar a denúncia também no plenário da Câmara, rejeitá-la antes do recesso. Comandante da Casa, Maia jogou parado, como de hábito, e deixou o tempo correr. O governo não conseguiu reunir deputados suficientes para antecipar a votação. Ela ficou, na melhor das hipóteses, para agosto.
Corre o tempo, escorre a sorte de Temer. Novas denúncias vêm aí. Com elas, mais detalhes das tenebrosas transações, mais malas de dinheiro, mais noticiário negativo para a turma engolir. Haja pudim. Se sobreviver à primeira, Temer terá chances cada vez menores de sobrevivência nas subsequentes. O planador presidencial faz piruetas enganadoras, sugerindo um voo sustentado, mas quem paira sem motor sempre termina no chão.
Se o destino é previsível, o custo do passeio temerário é crescente e exponencial. Quem há de investir no Brasil se não pode garantir quem ocupará a Presidência daqui a três meses?
A política sequestrou a economia e não vai libertá-la enquanto não se encontrar solução para a crise. Não a deflagrada pelas investigações da Lava Jato, mas a crise de representação. O sistema eleitoral e partidário que perpetua currais dinásticos e multiplica siglas de aluguel é o maior entrave à modernização do Brasil. Reformar a política é mais urgente que qualquer reforma.
Mas não há grupo de interesse agindo para restringir o número de partidos, não há lobby para diminuir a influência do dinheiro no resultado da eleição, não há pato, prêmio ou panela que pressione os políticos a diminuírem seus privilégios. Nem Temer nem Maia nem nenhum interino vai patrocinar essa reforma. Muito ao contrário, são criaturas e criadores desse sistema.
Os dias correm contra Temer, mas não é ele quem paga a conta. Quem perde tempo é o País. Tempo e dinheiro. A economia definha, a receita escasseia. Falta verba para passaporte, para a polícia, para cultura, para aposentadoria. Direitos emagrecem. Áreas de proteção da floresta amazônica encolhem. Tudo se reduz, na mesma proporção da vergonha dos poderosos. O Brasil se condena a ficar do tamanho de seus governantes.
Retrato de um corrupto
Lula é corrupto. É o que ele é até sentença em contrário. Continuará a ser caso a Justiça em segunda instância confirme a decisão do juiz Sérgio Moro que o condenou a nove anos e seis meses de prisão.
Então ficará impedido de assumir cargos públicos por sete anos. No caso do tríplex do Guarujá, Lula incorreu em dois crimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É réu em mais quatro processos.
Lula insiste em dizer que somente o povo tem o direito de julgá-lo. Como se o exercício do voto em uma democracia dispensasse a existência da Justiça. Prega o desrespeito às leis uma vez chancelado pelo povo.
Se não reconhece que o mensalão existiu, por que admitir os crimes de que o acusam? Mente sem pejo. Na política, a verdade é tudo aquilo o que os políticos querem vender como tal.
Getúlio Vargas chamou de “Estado Novo” o regime autoritário que comandou entre 1937 e 1946. Jânio Quadros morreu repetindo que renunciara à presidência devido à ação de “forças terríveis”. Fê-lo para voltar com poderes ilimitados.
Ao golpe militar de 1964, responsável pela morte e o desaparecimento de 434 pessoas, os militares deram o nome de “revolução” e ainda hoje o festejam assim.
Para tentar sobreviver, Lula jamais abdicará do papel de vítima. Foi vítima do destino ao nascer de mãe analfabeta e de pai mulherengo que a deixou com oito filhos; da seca do Nordeste que o fez embarcar em um pau-de-arara com destino ao sul do país; da miséria na periferia da capital de São Paulo; do torno mecânico que lhe amputou um dedo; da ditadura que o perseguiu; e por fim do preconceito das elites.
É inocente dos seus atos. De não ter estudado por alegada falta de tempo; de não ter-se preparado para entrar na vida pública confiando na própria intuição; do seu primeiro governo ter pagado propinas a deputados; de o seu segundo governo ter parido o maior escândalo de corrupção da história do país; de ter elegido um poste que acabou no chão; e de ter construído uma fortuna à base de obséquios.
Valeu-se da esquerda para alcançar o poder. Governou com a direita, os 300 picaretas que identificou no Congresso, e outros tantos que ajudou a criar.
Emparedado pela Justiça tirou a fantasia de Lulinha Paz e Amor, autor da Carta aos Brasileiros, para vestir a da jararaca venenosa, de volta ao regaço da esquerda. Se ela ensaiava refletir sobre seus erros, o ensaio foi adiado. É refém dele. Seguirá refém.
A condenação de Lula por Moro imobiliza o PT e seus parceiros e unifica os políticos alvejados pela Lava Jato. Todos torcem para que Lula seja bem-sucedido porque isso lhes abriria as portas para que também escapem da punição da Justiça e dos eleitores.
A próxima eleição presidencial se dará mais uma vez à sombra de Lula, como a primeira depois de 21 anos de ditadura e como as posteriores.
Se ele não puder disputá-la, seu apoio ainda valerá ouro para políticos carentes de votos (alô, alô, Renan Calheiros!).
Se ele um dia defendeu José Sarney como “um homem incomum”, a merecer reverências, o mínimo que espera é ser tratado como o mais incomum dos homens, seja pela Justiça ou pelos crentes nas urdiduras do destino. Há que reconhecermos: Lula é de fato um homem especial.
Poderia ter entrado para a História com a maior aprovação popular conferida a um governante. Preferiu entrar como o primeiro ex-presidente da República do Brasil condenado por corrupção.
Então ficará impedido de assumir cargos públicos por sete anos. No caso do tríplex do Guarujá, Lula incorreu em dois crimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro. É réu em mais quatro processos.
Lula insiste em dizer que somente o povo tem o direito de julgá-lo. Como se o exercício do voto em uma democracia dispensasse a existência da Justiça. Prega o desrespeito às leis uma vez chancelado pelo povo.
Getúlio Vargas chamou de “Estado Novo” o regime autoritário que comandou entre 1937 e 1946. Jânio Quadros morreu repetindo que renunciara à presidência devido à ação de “forças terríveis”. Fê-lo para voltar com poderes ilimitados.
Ao golpe militar de 1964, responsável pela morte e o desaparecimento de 434 pessoas, os militares deram o nome de “revolução” e ainda hoje o festejam assim.
Para tentar sobreviver, Lula jamais abdicará do papel de vítima. Foi vítima do destino ao nascer de mãe analfabeta e de pai mulherengo que a deixou com oito filhos; da seca do Nordeste que o fez embarcar em um pau-de-arara com destino ao sul do país; da miséria na periferia da capital de São Paulo; do torno mecânico que lhe amputou um dedo; da ditadura que o perseguiu; e por fim do preconceito das elites.
É inocente dos seus atos. De não ter estudado por alegada falta de tempo; de não ter-se preparado para entrar na vida pública confiando na própria intuição; do seu primeiro governo ter pagado propinas a deputados; de o seu segundo governo ter parido o maior escândalo de corrupção da história do país; de ter elegido um poste que acabou no chão; e de ter construído uma fortuna à base de obséquios.
Valeu-se da esquerda para alcançar o poder. Governou com a direita, os 300 picaretas que identificou no Congresso, e outros tantos que ajudou a criar.
Emparedado pela Justiça tirou a fantasia de Lulinha Paz e Amor, autor da Carta aos Brasileiros, para vestir a da jararaca venenosa, de volta ao regaço da esquerda. Se ela ensaiava refletir sobre seus erros, o ensaio foi adiado. É refém dele. Seguirá refém.
A condenação de Lula por Moro imobiliza o PT e seus parceiros e unifica os políticos alvejados pela Lava Jato. Todos torcem para que Lula seja bem-sucedido porque isso lhes abriria as portas para que também escapem da punição da Justiça e dos eleitores.
A próxima eleição presidencial se dará mais uma vez à sombra de Lula, como a primeira depois de 21 anos de ditadura e como as posteriores.
Se ele não puder disputá-la, seu apoio ainda valerá ouro para políticos carentes de votos (alô, alô, Renan Calheiros!).
Se ele um dia defendeu José Sarney como “um homem incomum”, a merecer reverências, o mínimo que espera é ser tratado como o mais incomum dos homens, seja pela Justiça ou pelos crentes nas urdiduras do destino. Há que reconhecermos: Lula é de fato um homem especial.
Poderia ter entrado para a História com a maior aprovação popular conferida a um governante. Preferiu entrar como o primeiro ex-presidente da República do Brasil condenado por corrupção.
Lula e Dilma são comparsas dos carrascos da Venezuela
“Sempre foi visível a profunda afinidade de Nicolás Maduro com nosso querido e saudoso amigo Chávez”, derrama-se Lula já na largada do vídeo de abril de 2013, concebido para aconselhar o eleitorado venezuelano a eleger o sucessor escolhido pelo bolívar-de-hospício, morto um mês antes da gravação. “Maduro se destacou brilhantemente na luta pela construção de uma América Latina mais democrática e solidária”, ajoelha-se em seguida aos pés do discípulo do liberticida que inventou o socialismo do século 21.
Na continuação do palavrório, o atropelador da verdade e da gramática pisa no acelerador: “A grande obra de Chávez foi a de transformar a Venezuela em um país mais justo, realizando um massivo processo de transferência da renda petrolheira (sic) em proveito das camadas mais sofrida (sic) da sociedade. Chávez, assim como Maduro, sempre tiveram claro que a Venezuela necessitava escapar dos que muito chamos (sic) maldição do petróleo, daí a importância que deram, e que Maduro dá, à necessidade de industrializar o país e desenvolver sua agricultura”.
Haja safadeza. Até a cabeça baldia de Lula sabia que Chávez nada fizera (e Maduro jamais faria) para que a nação que controlavam se tornasse menos dependente do petróleo. Em vez de investir na modernização do país os bilhões de dólares arrecadados enquanto o preço do barril flutuava na estratosfera, a dupla de vigaristas resolveu torrá-lo em programas sociais irresponsáveis, mesadas que garantiram a vassalagem dos cucarachas bolivarianos ou donativos que mantiveram Cuba respirando por aparelhos. Quando a única fonte de renda secou, restaram um parque industrial indigente e um agronegócio agonizante.
A sequência de escolhas desastrosas — todas aplaudidas pelos companheiros do PT que arquitetaram a política externa da canalhice — só poderia dar no que deu: a Venezuela deformada por Chávez e Maduro foi reduzida a um grotão sul-americano em avançado estágio de decomposição. A inflação de 2017 não será menor que 1.660%. Um em cada cinco habitantes está desempregado. Mais de metade da população sobrevive em condições miseráveis. A crescente escassez de produtos básicos é medida por filas de dimensões inverossímeis nas cercanias dos supermercados e pela escalada dos assaltos a caminhões que transportam mercadorias.
Em 2016, ocorreram na Venezuela cerca de 28.000 homicídios. Foram 91.8 a cada 100.000 habitantes, taxa 10 vezes superior à média mundial. A violência urbana se soma à selvagem repressão de tropas do Exército e milícias chavistas a quaisquer manifestações dos opositores do regime, pacíficas ou não. Os presos políticos são pelo menos 114, encarcerados por motivos que seriam risíveis se não fossem tão perturbadores. Daniel Ceballos perdeu em março de 2014 a liberdade e o mandato de prefeito de San Cristóbal porque Maduro o acusou de “terrorismo”. O deputado Renzo Prieto está na cadeia desde maio de 2014 por “obstrução das vias públicas”.
É compreensível que, no primeiro trimestre deste ano, 52.000 venezuelanos tenham deixado o país natal em busca de paragens menos hostis. Perto de 30.000 se asilaram no Brasil, a maioria em Boa Vista, capital de Roraima. Neste domingo, praticamente todos votaram no plebiscito convocado pela frente de partidos oposicionistas para reiterar que quase 70% dos venezuelanos querem o fim do governo Maduro, o aborto da ditadura em gestação e a ressurreição da democracia assassinada com a cumplicidade dos governos lulopetistas.
Em 5 de março de 2014, por exemplo, numa carta a Maduro em que chorou “a morte do inesquecível e querido companheiro Hugo Chávez Frías, que hoje completa um ano”, Lula declarou-se admirador incondicional do bufão amigo. “Sob a liderança de Chávez, há 15 anos vocês percorrem o caminho do desenvolvimento com inclusão social, aprofundamento da democracia e distribuição da renda”, fantasiou. “Mesmo quando tiveram que enfrentar forças dispostas a violar o regime constitucional, mantiveram seu compromisso com a paz e a legalidade”.
A carta informa que Lula queria ser Chávez quando crescesse, enxergava na fraude bolivariana uma democracia de matar de inveja um eleitor sueco, descobrira que é a oposição quem sonha com a proclamação da ditadura e, como não lê sequer rótulos de garrafa, não fazia a menor ideia de quem é e o que pensa Oscar Arías, ex-presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz em 1987. Em fevereiro de 2014, num artigo publicado no jornal espanhol El País, Arías resumiu o que pensava o mundo civilizado da reação brutal de Maduro, com o aval servil de boa parte do subcontinente, aos protestos de rua promovidos naquele começo de ano pela oposição venezuelana.
Um comunicado oficial endossado pelo governo brasileiro, por exemplo, formalizou o apoio irrestrito dos integrantes do Mercosul ao governo Maduro, ameaçado por “atos de violência”, “tentativas de desestabilizar a ordem democrática” e “ações criminosas de grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na República Bolivariana da Venezuela, como instrumento de luta política”. De passagem por Roma, a presidente Dilma Rousseff foi convidada por um jornalista a manifestar-se sobre o surto repressivo que ensanguentava a Venezuela. “Não interfiro em problemas internos de outro país”, mentiu a avalista do infame documento do Mercosul.
O texto em que Arías implodiu o monumento ao cinismo foi publicado sob o título Venezuela: inferno de perseguição. Segue-se um trecho:
A Venezuela está a poucos passos da guerra civil. Caso a tragédia se consume, a cena do crime estará repleta de impressões digitais da era lulopetista. O governo Temer já revogou a sórdida política externa que rebaixou o Itamaraty a serviçal dos tiranetes bolivarianos. Precisa agora acolher os refugiados venezuelanos e impedir que a oposição democrática seja massacrada. É hora de pagar a conta legada pela sabujice dos dois antecessores. É hora de mirar-se no exemplo de Oscar Arías.
O ex-presidente da Costa Rica sempre submeteu suas ações a valores morais, princípios éticos e pelo sentimento da honra. Lula e Dilma nem sabem o que é isso.
Na continuação do palavrório, o atropelador da verdade e da gramática pisa no acelerador: “A grande obra de Chávez foi a de transformar a Venezuela em um país mais justo, realizando um massivo processo de transferência da renda petrolheira (sic) em proveito das camadas mais sofrida (sic) da sociedade. Chávez, assim como Maduro, sempre tiveram claro que a Venezuela necessitava escapar dos que muito chamos (sic) maldição do petróleo, daí a importância que deram, e que Maduro dá, à necessidade de industrializar o país e desenvolver sua agricultura”.
A sequência de escolhas desastrosas — todas aplaudidas pelos companheiros do PT que arquitetaram a política externa da canalhice — só poderia dar no que deu: a Venezuela deformada por Chávez e Maduro foi reduzida a um grotão sul-americano em avançado estágio de decomposição. A inflação de 2017 não será menor que 1.660%. Um em cada cinco habitantes está desempregado. Mais de metade da população sobrevive em condições miseráveis. A crescente escassez de produtos básicos é medida por filas de dimensões inverossímeis nas cercanias dos supermercados e pela escalada dos assaltos a caminhões que transportam mercadorias.
Em 2016, ocorreram na Venezuela cerca de 28.000 homicídios. Foram 91.8 a cada 100.000 habitantes, taxa 10 vezes superior à média mundial. A violência urbana se soma à selvagem repressão de tropas do Exército e milícias chavistas a quaisquer manifestações dos opositores do regime, pacíficas ou não. Os presos políticos são pelo menos 114, encarcerados por motivos que seriam risíveis se não fossem tão perturbadores. Daniel Ceballos perdeu em março de 2014 a liberdade e o mandato de prefeito de San Cristóbal porque Maduro o acusou de “terrorismo”. O deputado Renzo Prieto está na cadeia desde maio de 2014 por “obstrução das vias públicas”.
É compreensível que, no primeiro trimestre deste ano, 52.000 venezuelanos tenham deixado o país natal em busca de paragens menos hostis. Perto de 30.000 se asilaram no Brasil, a maioria em Boa Vista, capital de Roraima. Neste domingo, praticamente todos votaram no plebiscito convocado pela frente de partidos oposicionistas para reiterar que quase 70% dos venezuelanos querem o fim do governo Maduro, o aborto da ditadura em gestação e a ressurreição da democracia assassinada com a cumplicidade dos governos lulopetistas.
Em 5 de março de 2014, por exemplo, numa carta a Maduro em que chorou “a morte do inesquecível e querido companheiro Hugo Chávez Frías, que hoje completa um ano”, Lula declarou-se admirador incondicional do bufão amigo. “Sob a liderança de Chávez, há 15 anos vocês percorrem o caminho do desenvolvimento com inclusão social, aprofundamento da democracia e distribuição da renda”, fantasiou. “Mesmo quando tiveram que enfrentar forças dispostas a violar o regime constitucional, mantiveram seu compromisso com a paz e a legalidade”.
A carta informa que Lula queria ser Chávez quando crescesse, enxergava na fraude bolivariana uma democracia de matar de inveja um eleitor sueco, descobrira que é a oposição quem sonha com a proclamação da ditadura e, como não lê sequer rótulos de garrafa, não fazia a menor ideia de quem é e o que pensa Oscar Arías, ex-presidente da Costa Rica e Prêmio Nobel da Paz em 1987. Em fevereiro de 2014, num artigo publicado no jornal espanhol El País, Arías resumiu o que pensava o mundo civilizado da reação brutal de Maduro, com o aval servil de boa parte do subcontinente, aos protestos de rua promovidos naquele começo de ano pela oposição venezuelana.
Um comunicado oficial endossado pelo governo brasileiro, por exemplo, formalizou o apoio irrestrito dos integrantes do Mercosul ao governo Maduro, ameaçado por “atos de violência”, “tentativas de desestabilizar a ordem democrática” e “ações criminosas de grupos violentos que querem disseminar a intolerância e o ódio na República Bolivariana da Venezuela, como instrumento de luta política”. De passagem por Roma, a presidente Dilma Rousseff foi convidada por um jornalista a manifestar-se sobre o surto repressivo que ensanguentava a Venezuela. “Não interfiro em problemas internos de outro país”, mentiu a avalista do infame documento do Mercosul.
O texto em que Arías implodiu o monumento ao cinismo foi publicado sob o título Venezuela: inferno de perseguição. Segue-se um trecho:
Em nenhum país verdadeiramente democrático alguém é preso ou assassinado por discordar das políticas do governo ou por manifestar em público seu descontentamento. A Venezuela de Maduro pode fazer todos os esforços de oratória para vender a ideia de que é efetivamente uma democracia. Cada violação dos direitos humanos que comete nega na prática tal afirmação, porque sufoca a crítica e a dissidência. (…) Estou convencido de que, se não existe oposição numa democracia, devemos criá-la, não reprimi-la e condená-la ao inferno da perseguição.
Martin Luther King Jr. disse que “os lugares mais quentes do inferno estão reservados àqueles que num período de crise moral se mantiveram neutros. Num determinado momento, o silêncio se converte em traição”. Sempre que os direitos humanos forem violentados, não vou calar-me. Não posso calar-me se a mera existência de um governo como o da Venezuela é uma afronta à democracia. Não vou calar-me quando estiver em perigo a vida de seres humanos que apenas defendem seus direitos de cidadão.
A Venezuela está a poucos passos da guerra civil. Caso a tragédia se consume, a cena do crime estará repleta de impressões digitais da era lulopetista. O governo Temer já revogou a sórdida política externa que rebaixou o Itamaraty a serviçal dos tiranetes bolivarianos. Precisa agora acolher os refugiados venezuelanos e impedir que a oposição democrática seja massacrada. É hora de pagar a conta legada pela sabujice dos dois antecessores. É hora de mirar-se no exemplo de Oscar Arías.
O ex-presidente da Costa Rica sempre submeteu suas ações a valores morais, princípios éticos e pelo sentimento da honra. Lula e Dilma nem sabem o que é isso.
O oito e o oitenta
O Rio de Janeiro se encontra no núcleo de turbilhão que perpassa os três níveis de governo. Somam-se problemas inéditos a serem enfrentados. Não obstante a crise fluminense ser em grande medida forjada aqui, há uma emergência de largo espectro que somente poderá ser minorada com importantes aportes financeiros da União.
A violência urbana tem aumentado, e a insegurança tem se alastrado por toda a população. Elas não ocorrem apenas em áreas onde a bandidagem armada é soberana, mas indistintamente. Ainda que haja zonas privilegiadas, a sensação de impotência é compartilhada por todos os cidadãos. O abandono da cidade cobra o seu quinhão.
Há que se considerar, porém, que as competências e responsabilidades, entre os entes federados, estão em descompasso com a distribuição dos recursos captados. Com governos estaduais arrasados, como o do RJ, e com a União em extrema dificuldade, o Estado brasileiro precisa ser redesenhado. O rumo precisa ser outro.
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Vendo nossas grandes cidades, olhando para as infraestruturas do país, precisamos reconhecer que o Brasil tem trilhado um caminho de mediocridade. Nosso país pode muito mais.
Ainda no século XVIII, Mr. Pitt, primeiro-ministro inglês, recomendava que Portugal transferisse sua corte para o Brasil, por conta das riquezas desta “península meridional”. Aqui instalado o trono, deveria construir uma nova capital, localizada no planalto de onde partem os três grandes rios, isto é, onde hoje está Brasília. E, daí, construir estradas radiais ligando-a às principais cidades do continente: Lima, Pará, Rio, Prata, Santiago. Depois de Mr. Pitt, talvez somente com JK o Brasil se encontrou com um desenho compatível com suas dimensões e potências. Desde então, tivemos alguns espasmos — ora para cá, ora para lá, na maioria das vezes sem sair do lugar. O máximo que fazemos são propostas setoriais.
Não é sem planos integrados que os grandes países têm avançado. Basta-nos, hoje, o exemplo da China, traçando caminhos de desenvolvimento territoriais e urbanos compatíveis com sua importância, que se articulam às grandes linhas de seu planejamento econômico e social.
Como o Brasil pensa construir os 40 milhões de novas moradias urbanas que se somarão, nesta geração, às 60 milhões existentes? Onde? Expandirá a cidade, ainda que a população esteja estável? Que infraestruturas fará? Como superará o atual passivo socioambiental? Que planos tem? Que planejamento territorial?
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Sem planos compartilhados, construídos com a sociedade, compondo-se em um sistema de planejamento como função de Estado, não se refazem as estruturas obsoletas ou apodrecidas — como a de Segurança. Não se qualificam os espaços onde vivem precária ou miseravelmente contingentes majoritários de nossas cidades. Não se desenvolvem as infraestruturas para o desenvolvimento nacional. Sem planos, o país aposta em mágicas, como os “campeões da economia”, hoje no chão, ou os grandes polos monofuncionais, e deixa ao relento as pequenas e médias energias empreendedoras disseminadas pelo tecido da cidade — abafadas pela violência e pela inviabilidade burocrática.
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Para o Brasil estar em acordo com suas potencialidades, não esperemos ouvir apenas a fala dos governos: são raríssimos os governos propositivos; governos são reativos. A fala de fundo precisará vir da sociedade.
Nosso país continental — com mais de 200 milhões de habitantes, misturados em credos e etnias, que falam a mesma língua, que aspiram ao mesmo desenvolvimento, que têm a mesma bandeira, que construiu um patrimônio fabuloso que inclui 20 metrópoles e duas megacidades — pode muito mais do que este turbilhão em que se encontra.
Precisamos reconhecer o tanto que somos. E não podemos nos conformar com uma parte da promessa de Brasil. Precisamos querer o oito, de hoje, e o oitenta, de amanhã, dizendo por onde.
Sérgio Magalhães
Mais uma conta amarga do PT
A passagem do Partido dos Trabalhadores (PT) pelo governo federal continua provocando efeitos nefastos para o País. O mais conhecido é a crise econômica, com suas consequências sobre o emprego, o consumo, o crédito, a atividade industrial, etc. A herança maldita petista continua afetando, de variadas formas, a vida de todos os brasileiros.
Além dessas consequências gerais dos anos do PT no Palácio do Planalto, há outras que atingem especialmente algumas pessoas, como é o caso dos déficits dos fundos de pensão de estatais e empresas de economia mista. Os frutos da má gestão dos petistas fazem com que trabalhadores e aposentados dessas empresas tenham seus vencimentos descontados mensalmente como forma de diminuir o rombo dessas entidades de previdência complementar.
Conforme informa o Estado, cerca de 142 mil funcionários e aposentados da Caixa Econômica Federal (CEF) e dos Correios são descontados mensalmente para cobrir os déficits dos fundos Funcef e Postalis, respectivamente. Além deles, até o fim do ano, 77 mil funcionários da Petrobrás também deverão arcar com parte do salário para cobrir os erros da gestão petista no fundo de pensão. O porcentual a ser descontado ainda não foi definido. Um dos planos da Fundação Petrobrás de Seguridade Social (Petros) tem déficit de R$ 26,8 bilhões.
A conta paga pelo trabalhador pelos rombos dos fundos de pensão vem crescendo. Até junho, o Funcef descontava 2,78% dos vencimentos de seus participantes para cobrir o prejuízo de 2014. Agora, por conta do déficit ocorrido em 2015, o desconto deve subir para 10,64%. E já está em estudo como será coberto o prejuízo de 2016, no valor de R$ 6 bilhões. No momento, a situação mais dramática é a do fundo Postalis, que tem 84,2 mil participantes. O corte nas aposentadorias aproxima-se dos 18% e, até o fim do ano, deve chegar a 20%.
Os rombos desses fundos de pensão não são eventos circunstanciais. Eles estão diretamente relacionados com o aparelhamento promovido pelo PT. Ao longo de toda a gestão petista, os planos de previdência complementar de estatais e empresas de economia mista foram utilizados para acomodar aliados políticos e, sobretudo, para financiar projetos de interesse do PT.
Em vez de seguir os critérios de prudência e rigor técnico, necessários para a condução de qualquer investimento destinado a assegurar o rendimento futuro dos participantes, os gestores desses fundos fizeram aplicações temerárias e duvidosas, que atendiam a interesses partidários, no Brasil e no exterior, como os investimentos em títulos públicos da Argentina e da Venezuela.
Caso paradigmático dessa conduta danosa aos trabalhadores foi o investimento de R$ 1 bilhão feito pela Funcef na Sete Brasil, empresa criada pelo governo petista para fornecer equipamentos para a exploração do petróleo do pré-sal e que está atualmente em recuperação judicial. O ex-diretor da empresa Pedro Barusco foi recentemente condenado a devolver cerca de R$ 90 milhões, referentes a propinas de contratos com estaleiros e a outros valores ilegais que recebia em função do cargo.
Esse desrespeito com o dinheiro do trabalhador foi constatado por diversos órgãos e instâncias. Ao investigar os quatro maiores fundos de estatais e empresas de economia mista (Petros, Funcef, Postalis e Previ, do Banco do Brasil), a Operação Greenfield, da Polícia Federal, apontou evidências de “gestão temerária e fraudulenta”, além de desvios criminosos de R$ 8 bilhões na gestão desses fundos. Também o Tribunal de Contas da União e a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Fundos de Pensão, realizada em 2015, apontaram erros na condução desses fundos.
Na verdade, os descontos nos vencimentos dos trabalhadores e aposentados cobrem apenas metade do rombo. O restante é pago pelas empresas patrocinadoras dos fundos. Como elas são estatais ou de economia mista, tem-se mais uma vez toda a sociedade pagando pelos erros do PT. Que ninguém possa se iludir novamente com esse partido.
Além dessas consequências gerais dos anos do PT no Palácio do Planalto, há outras que atingem especialmente algumas pessoas, como é o caso dos déficits dos fundos de pensão de estatais e empresas de economia mista. Os frutos da má gestão dos petistas fazem com que trabalhadores e aposentados dessas empresas tenham seus vencimentos descontados mensalmente como forma de diminuir o rombo dessas entidades de previdência complementar.
A conta paga pelo trabalhador pelos rombos dos fundos de pensão vem crescendo. Até junho, o Funcef descontava 2,78% dos vencimentos de seus participantes para cobrir o prejuízo de 2014. Agora, por conta do déficit ocorrido em 2015, o desconto deve subir para 10,64%. E já está em estudo como será coberto o prejuízo de 2016, no valor de R$ 6 bilhões. No momento, a situação mais dramática é a do fundo Postalis, que tem 84,2 mil participantes. O corte nas aposentadorias aproxima-se dos 18% e, até o fim do ano, deve chegar a 20%.
Os rombos desses fundos de pensão não são eventos circunstanciais. Eles estão diretamente relacionados com o aparelhamento promovido pelo PT. Ao longo de toda a gestão petista, os planos de previdência complementar de estatais e empresas de economia mista foram utilizados para acomodar aliados políticos e, sobretudo, para financiar projetos de interesse do PT.
Em vez de seguir os critérios de prudência e rigor técnico, necessários para a condução de qualquer investimento destinado a assegurar o rendimento futuro dos participantes, os gestores desses fundos fizeram aplicações temerárias e duvidosas, que atendiam a interesses partidários, no Brasil e no exterior, como os investimentos em títulos públicos da Argentina e da Venezuela.
Caso paradigmático dessa conduta danosa aos trabalhadores foi o investimento de R$ 1 bilhão feito pela Funcef na Sete Brasil, empresa criada pelo governo petista para fornecer equipamentos para a exploração do petróleo do pré-sal e que está atualmente em recuperação judicial. O ex-diretor da empresa Pedro Barusco foi recentemente condenado a devolver cerca de R$ 90 milhões, referentes a propinas de contratos com estaleiros e a outros valores ilegais que recebia em função do cargo.
Esse desrespeito com o dinheiro do trabalhador foi constatado por diversos órgãos e instâncias. Ao investigar os quatro maiores fundos de estatais e empresas de economia mista (Petros, Funcef, Postalis e Previ, do Banco do Brasil), a Operação Greenfield, da Polícia Federal, apontou evidências de “gestão temerária e fraudulenta”, além de desvios criminosos de R$ 8 bilhões na gestão desses fundos. Também o Tribunal de Contas da União e a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Fundos de Pensão, realizada em 2015, apontaram erros na condução desses fundos.
Na verdade, os descontos nos vencimentos dos trabalhadores e aposentados cobrem apenas metade do rombo. O restante é pago pelas empresas patrocinadoras dos fundos. Como elas são estatais ou de economia mista, tem-se mais uma vez toda a sociedade pagando pelos erros do PT. Que ninguém possa se iludir novamente com esse partido.
'Nunca haverá um novo PT'
Uma das principais "questões unânimes" que o PT usou bem foi a da transparência e governo honesto. Muitos eleitores de classe média votaram no partido por isso. Agora é bem mais difícil acreditar nisso
O lugar do Partido dos Trabalhadores na política brasileira não será ocupado após os escândalos de corrupção envolvendo o partido. Nem o próprio PT pode retomá-lo, nem esse espaço se apresenta viável a outras siglas nesse momento. É o que diz Wendy Hunter, professora da Universidade do Texas e especialista em política da América Latina.
"Os elementos que formaram o PT - a organização durante a Ditadura, a relação única com suas raízes, o líder carismático, a oposição ao neoliberalismo durante os anos 1990 - dificilmente se reunirão em um só partido novamente", afirma à BBC Brasil.
"Pode haver partidos surgindo com líderes populares, mas o PT precisou de três décadas para criar a organização que criou."
Autora do livro The Transformation of the Workers' Party in Brazil, 1989-2009 (A Transformação do Partido dos Trabalhadores no Brasil, em tradução livre), ela diz que uma reforma completa do PT neste momento só poderia ocorrer com o partido fora do poder.
Em sua opinião, caso Lula vença o pleito de 2018, isso não ocorreria, portanto.
Hunter analisa que a falta de uma agenda econômica que ofereça respostas factíveis à crise econômica e da adoção de temas que possam galvanizar apoio entre eleitores descrentes são dois fatores que aprofundam as dificuldades eleitorais do partido e da esquerda em todo o continente.
"O discurso da redistribuição de riqueza não pode se concretizar realmente em meio à crise econômica", afirma.
Qual a Sra acha que será o impacto da condenação de Lula para o PT - mesmo que ela não necessariamente signifique prisão para o ex-presidente?
Não tenho dúvidas de que vai prejudicar o PT eleitoralmente, num momento em que o partido já está sofrendo com o sentimento de antipetismo. Dilma (Rousseff) venceu a eleição em 2014 por uma margem pequena, e isso aconteceu quando a economia estava melhor e quando as acusações envolvendo os políticos do PT ainda não estavam tão avançadas.
Agora, qualquer pessoa que votava no PT tem razões para estar contra o partido.
Mesmo com a continuação do tumulto político no Brasil, tanto os movimentos de esquerda quanto os de direita têm tido dificuldades de convocar pessoas para as ruas, como vinham fazendo nos últimos anos. O PT, por exemplo, ainda não conseguiu organizar um protesto expressivo após a condenação de Lula. O que isso diz sobre o estado do discurso político no país?
Não é só um sinal de como está o humor político do país em geral, mas também uma prova de que os militantes do PT não vão conseguir salvar o dia dessa vez. A base do PT não é o que costumava ser, nem o apoio periférico ao partido.
O PT conseguiu tantos cargos majoritários (presidente, governadores, prefeitos em cidades com mais de 200 mil habitantes) não só por causa de sua base, mas porque o partido conseguiu conquistar eleitores e apoiadores esporádicos. Estes também estão diminuindo rapidamente.
Pode haver um novo Partido dos Trabalhadores no Brasil? Quem seria o candidato mais provável para ocupar este lugar?
Nunca haverá um "novo PT". Não há nenhum partido agora que consiga ocupar este lugar, com a mesma capilaridade de rede que o PT conseguiu construir no país. Pode haver partidos surgindo com líderes populares, mas o PT precisou de três décadas para criar a organização que criou. Nenhum outro partido tem este nível de organização e nenhum outro pode construi-la em pouco tempo.
Os elementos que formaram o PT - a organização durante a Ditadura, a relação única com suas raízes, o líder carismático, a oposição ao neoliberalismo durante os anos 1990 - dificilmente se reunirão em um só partido novamente.
É possível que o PT passe por uma reforma ou mesmo mude de nome para "recomeçar" depois destes escândalos?
Agora, qualquer pessoa que votava no PT tem razões para estar contra o partido.
Mesmo com a continuação do tumulto político no Brasil, tanto os movimentos de esquerda quanto os de direita têm tido dificuldades de convocar pessoas para as ruas, como vinham fazendo nos últimos anos. O PT, por exemplo, ainda não conseguiu organizar um protesto expressivo após a condenação de Lula. O que isso diz sobre o estado do discurso político no país?
Não é só um sinal de como está o humor político do país em geral, mas também uma prova de que os militantes do PT não vão conseguir salvar o dia dessa vez. A base do PT não é o que costumava ser, nem o apoio periférico ao partido.
O PT conseguiu tantos cargos majoritários (presidente, governadores, prefeitos em cidades com mais de 200 mil habitantes) não só por causa de sua base, mas porque o partido conseguiu conquistar eleitores e apoiadores esporádicos. Estes também estão diminuindo rapidamente.
Pode haver um novo Partido dos Trabalhadores no Brasil? Quem seria o candidato mais provável para ocupar este lugar?
Nunca haverá um "novo PT". Não há nenhum partido agora que consiga ocupar este lugar, com a mesma capilaridade de rede que o PT conseguiu construir no país. Pode haver partidos surgindo com líderes populares, mas o PT precisou de três décadas para criar a organização que criou. Nenhum outro partido tem este nível de organização e nenhum outro pode construi-la em pouco tempo.
Os elementos que formaram o PT - a organização durante a Ditadura, a relação única com suas raízes, o líder carismático, a oposição ao neoliberalismo durante os anos 1990 - dificilmente se reunirão em um só partido novamente.
É possível que o PT passe por uma reforma ou mesmo mude de nome para "recomeçar" depois destes escândalos?
Uma reforma completa será difícil, mas só pode acontecer se o PT estiver fora do poder. Se um grupo de petistas se ramificar e começar um novo partido, isso mostraria que o PT se normalizou completamente, já que essa é a história de tantos outros partidos brasileiros - que não deixaram suas raízes de uma maneira orgânica, mas só se separaram de outros grupos de elite. Pense em todos os outros partidos que seguiram o mesmo caminho: PFL (atual DEM), PSDB, etc.
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