segunda-feira, 17 de julho de 2017

O fundo do poço

Conhecimento não mata. Certezas sim. Crenças, quando não submetidas a escrutínio permanente, estão sempre na raiz de grandes (e pequenos) desastres. Estar certo é mais importante que ser coerente. Sempre.

Faz tempo que os fatos deixaram de importar. A ligação entre realidade e percepção parece estar cada vez mais tênue. Tudo tem se resumido a opiniões. Vivemos divididos pelo excesso de certezas. Talvez seja este o nosso maior problema contemporâneo.

O espectro de opiniões aceitáveis está ficando cada vez mais limitado. Toda conversa parece ser resumida a sequência de posições binárias. Preto ou branco. Certo ou errado. Tudo diametralmente oposto.

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Em cada interação, total harmonia, ou conflito aberto são os únicos resultados possíveis ou aceitáveis. Tudo exclusivamente dependente do campo em que cada um dos interlocutores se posiciona. Dissidência, meio-termo, ou acordo são impossíveis. Hegemonia é o único objetivo.

Polarizações cegas e surdas dificilmente geram líderes e decisões equilibradas. A melhor solução é a salvação sem salvadores. Instituições que foquem em como se governa independente de quem governa. A direita ou a esquerda. Não importa.

Na medida em que as condições para construção de consensos vão desaparecendo, o pior cenário vai se consolidando. Tudo fica imobilizado, degradado, deteriorando a céu aberto. Estagnação política, econômica, e decisória corroem qualquer possibilidade de melhora. É a receita perfeita para o desastre. E, mesmo assim, seguimos cozinhando.

O resultado final na ausência de intermediação política eficiente é o populismo. É ele que se apresenta como solução a resolução de tantos impasses. E tende a continuar assim se não recuperarmos a capacidade de dialogar.

Populismo é o perigo imediato, real e concreto que ameaça a todos, independentemente da posição no espectro político. Protetores do povo, discursos belicosos, e altas doses de marketing nada resolvem. Mesmo assim seguimos em marcha batida em direção a insensatez.

Populismo é abraço de afogado. Pode matar. Não favorece nem a direita nem a esquerda. Leva todos em direção ao fundo do poço. Mesmo que seja poço sem fundo.

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