sábado, 12 de julho de 2025

Pensamento do Dia

 


Estratégia de Eduardo Bolsonaro é perigosa

Foi bastante arrojada a estratégia de Eduardo Bolsonaro de fazer gestões junto ao Partido Republicano e à Casa Branca para conseguir que os Estados Unidos interviessem na política brasileira e reequilibrassem o jogo de poder institucional, que hoje parece desfavorável aos bolsonaristas.

Quando os frutos desse trabalho se expressaram na forma não de sanções individuais contra ministros do Supremo, mas de duríssimas tarifas contra os produtos brasileiros, os bolsonaristas se viram com um problema: a reação americana não atingia apenas os atores que prejudicam a direita, mas um número grande de empresários e trabalhadores brasileiros.


Logo depois que Trump anunciou as tarifas, a situação, já complicada para a direita, ficou ainda mais difícil quando Eduardo Bolsonaro, em carta com Paulo Figueiredo, explicitamente assumiu a paternidade da medida, talvez por vaidade:

— Nos últimos meses, temos mantido intenso diálogo com autoridades do governo do presidente Trump, sempre com o objetivo de apresentar, com precisão e documentos, a realidade que o Brasil vive hoje. A carta do presidente dos Estados Unidos apenas confirma o sucesso na transmissão daquilo que viemos apresentando com seriedade e responsabilidade.

Com esse documento reivindicando protagonismo na medida, a direita teria dificuldade de, se não criticar, ao menos se afastar da ação de Donald Trump, já que isso implicaria também tomar distância da movimentação de um preeminente integrante da família Bolsonaro.

A primeira reação dos bolsonaristas foi atribuir a Lula a culpa pela medida. O argumento era que os desmandos de Lula haviam provocado a reação dura de Trump em defesa da democracia brasileira. Caberia, portanto, a Lula reorientar o seu governo e sentar-se à mesa para negociar com Trump a suspensão das tarifas.

Mas havia muitos buracos nessa linha de argumentação. Em primeiro lugar, era preciso esquecer que Trump, o secretário de Estado, Marco Rubio e os políticos republicanos não se manifestaram espontaneamente, mas foram insistentemente instados a agir por ativistas brasileiros radicados nos Estados Unidos. Era preciso também confundir a audiência, atribuindo a Lula uma responsabilidade que obviamente era do Supremo. A carta de Trump condena o indiciamento de Bolsonaro e a suspensão de contas em mídias sociais, todas ações tomadas independentemente pelo STF. Por fim, era preciso minimizar o impacto das medidas, que não recai apenas sobre os inimigos dos bolsonaristas, mas sobre largas parcelas da população. Era preciso fazer o público esquecer que um dos principais prejudicados é o agronegócio.

Nas redes bolsonaristas, vimos um bate-cabeças. O governador Romeu Zema disse, primeiramente, que “as empresas e os trabalhadores brasileiros vão pagar, mais uma vez, a conta do Lula, da Janja e do STF”. A reação foi tão forte que em seguida ele se reposicionou, dizendo mais claramente que a tarifa de Trump “é uma medida errada e injusta que precisa ser revista porque penaliza todos os brasileiros — gente que votou contra e a favor do Lula”.

Tarcísio disse primeiramente que “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. Depois, foi obrigado a corrigir a rota e afirmar que “as pessoas não querem saber de narrativa, querem ver o trabalho acontecendo para melhorar a vida delas”.

O pastor Silas Malafaia e o deputado Nikolas Ferreira seguiram o mesmo caminho e tiveram de suportar nos comentários a irritação de seguidores protestando contra manifestações que pareciam tomar o partido de quem havia agredido o Brasil.

A medida impopular de Trump veio em bom momento para o governo, cuja base vinha sendo reenergizada com o discurso pela justiça tributária. A manifestação na Avenida Paulista pela taxação dos mais ricos foi renomeada como “Brasil para os brasileiros” e atraiu público expressivo. Pela primeira vez em muitos anos, foi da mesma dimensão que as bolsonaristas.

A manobra desastrada de Eduardo Bolsonaro custará caro. Pôs os aliados de Bolsonaro em situação difícil e gerou revolta em setores amplos da sociedade brasileira. O governo, que vinha de uma mobilização bem-sucedida, receberá impulso adicional. Esses dois elementos combinados podem produzir uma grande onda pró-governo.

Conjuração internacional bolsonarista

Aplicar o direito não é uma tarefa fácil, especialmente quando o peso da lei recai sobre pessoas poderosas ou que têm amigos poderosos. Juízes já foram mortos por condenar mafiosos, em países como a Itália ou a Colômbia; colocados na prisão por não atenderem as determinações de ditadores, como na Turquia ou no Irã; ou apenas afastados de seus tribunais por simplesmente não se curvarem aos poderosos de plantão, em diversas partes do mundo.

O presidente americano vem promovendo há muitos anos um processo de intimidação e subordinação do Judiciário de seu país. A cada decisão contrária aos seus interesses, achincalha magistrados, acusando-os de "lunáticos esquerdistas". Seus apoiadores os ameaçam de impeachment. A juíza Ketanji Brown Jackson, da Suprema Corte, "teme pela democracia dos Estados Unidos".


O ataque ao Poder Judiciário brasileiro, no entanto, consiste num novo capítulo na relação de populistas iliberais contra o estado de direito. Trata-se de uma inusitada tentativa de interferência na Justiça de um outro país.

Na presente escaramuça, o presidente americano acusa o Supremo Tribunal Federal de perseguir Bolsonaro, ameaçando retaliar o Brasil com sua artilharia tarifária. O objetivo é constranger o governo e intimidar o Supremo, que apenas cumpriu sua obrigação de julgar Bolsonaro e golpistas, com base em uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo próprio Bolsonaro.

Outros motivos, como a reunião do Brics, no Rio, ou a decisão do Supremo de aperfeiçoar o regime de responsabilidade das plataformas, também podem ter pesado na decisão americana. Tudo, porém, pode ser apenas uma bravata, para legitimar uma eventual fuga de Bolsonaro, ou mesmo a suspensão das taxas a seu pedido.

A relação de populistas com o estado de direito e as instituições responsáveis pela aplicação da lei são sempre conflitivas. Populistas acusam a Justiça de impedi-los de realizarem a vontade do povo, do qual reivindicam ser os únicos e autênticos representantes. Sob o pretexto de defenderem a democracia, atacam o Estado de Direito.

Conceitualmente, democracia e direito são coisas distintas. À democracia importa, sobretudo, a realização da vontade dos cidadãos. Ao direito, por sua vez, importa a criação de um sistema de regras, que contribua para estabilizar expectativas e conter o arbítrio.

A convergência entre democracia e direito, que resulta na ideia de Estado Democrático de Direito, foi originalmente concebida por Rousseau, ao reivindicar que um governo somente seria legítimo se resultasse da vontade dos cidadãos, expressa por meio de leis. Nesse sentido, os cidadãos apenas seriam autônomos quando fossem capazes de se autogovernar, por meio das leis.

Não é assim que pensam populistas. Para eles, somente a vontade da maioria, expressa pela palavra do líder, importa. Valorizam seus comandos. São avessos à ideia de uma ordem baseada na lei. Difícil entender como pessoas que dizem prezar a liberdade caem na esparrela de populistas.

As ameaças do presidente americano ao Brasil, em defesa daqueles que atentaram contra nosso Estado Democrático de Direito, obrigará nacionalistas, conservadores, além da direita liberal brasileira, a tomar posição: ficarão a favor dos interesses nacionais, das nossas instituições, da agricultura e da indústria brasileira, ou ao lado daqueles que conjuraram contra o Brasil?

O bananinha virou abacaxi para a direita

Eduardo Bolsonaro flopou. Do inglês flop, verbo que virou modinha nas redes. Em bom português, fracassou. E isso era esperado. A inteligência nunca foi o forte desse deputado federal, o mais votado da história do país. Ele foi o principal articulador da bizarra chantagem de Trump contra o Brasil.

Licenciado nos EUA para escapar a investigações e fazer lobby pelo pai, Dudu agora precisa justificar para os bolsonaristas seu tiro de fuzil no pé da direita.

De “bananinha”, um apelido simpático e carinhoso, explicado por sua personalidade divertida e pela extrema lealdade ao pai, Dudu virou um abacaxi. Para a família Bolsonaro, para os candidatos de Bolsonaro nas próximas eleições e para os apoiadores de Bolsonaro, que se sentem patriotários.

Os bolsonaristas não votaram no Trump. Querem um Brasil com s, soberano, e não pretendem adotar a bandeira americana. Não querem perder empregos nem prejudicar o agronegócio ou nossas empresas.


Há quem diga que a carta de Trump a Lula é tão tosca que deve ter sido escrita por Dudu. O deputado faz parte de uma turma que não aprendeu direito o inglês quando fritava hambúrguer nos EUA. E esqueceu o português. Chegou a tuitar uma vez “fundo do posso” em vez de “poço”.

O terceiro filho de Bolsonaro se gaba de ter informações privilegiadas de Trump. “O que posso dizer é que esta (a tarifa de 50%) não será a única novidade vinda dos EUA neste próximo tempo”. O que o bananinha está tramando junto com Trump e seus ideólogos da ultradireita?

Seja o que for, Dudu está sendo “muy amigo” dos bolsonaristas ao unir o Brasil contra a chantagem de Trump. Até o Elon Musk sabe que quem tem amigos como o Trump não precisa de inimigos. Dudu conspira publicamente contra o Brasil, e isso não ajuda os políticos que vestiram o boné MAGA, Make America Great Again.

Uma saia justa para quem um dia sonhou em se tornar embaixador do Brasil nos EUA. Ou alguém esqueceu a campanha do pai coruja? Jair dizia que Dudu seria um “grande embaixador”. Na visita de puxa-saquismo a Trump no primeiro mandato, botou o filho no Salão Oval, em vez do chanceler, por ser “conhecedor das relações internacionais”.

Dudu cometia declarações do tipo: “São bombas nucleares que garantem a paz. Se nós já tivéssemos os submarinos nucleares finalizados, que têm uma economia muito maior dentro d'água, talvez fôssemos levados mais a sério pelo (Nicolás) Maduro, ou temidos pela China ou pela Rússia”. Por Trump também?

Por ser advogado e policial, Dudu também é especialista em segurança pública. Defende para a população “acesso às armas, para que amanhã a gente aqui não fique sob os desmandos de um governo autoritário”.

Desistiu da indicação do pai para a embaixada em Washington. Mas delira, ao supor que pode encurralar o STF e Lula com ajuda do Trump.

Se Lula fosse fã de Napoleão, seguiria sua máxima: “Nunca interrompa um inimigo enquanto ele estiver cometendo um erro”. Mas é demais pedir sabedoria estratégica a nosso presidente, que adora dar pitaco sobre a política interna de outros países, quando lhe convém.

Visitar e defender a peronista Cristina Kirchner, presa por corrupção por ordem da Suprema Corte, foi ruim para Lula. A Argentina é dos argentinos. O Brasil é dos brasileiros.

Por mais que Lula erre (e erra muito em política externa), a turma do Bolsonaro consegue errar bem mais ao ameaçar a soberania do Brasil. O maior radical livre está nos EUA, ajudando a afundar a direita brasileira nas próximas eleições.

Parafraseando o estrategista de Bill Clinton em 1992 (it’s the economy, stupid), agora “é a política, estúpido”.

Uma hora a conta chega, como disse o deputado. E, devido a sua prestimosa contribuição, Eduardo, a conta vai chegar para a direita, não para a esquerda.

Brasil x EUA: a batalha do suco e do Tylenol

Não se fala de outra coisa nos bastidores da economia mundial: o Brasil e os Estados Unidos estão em guerra. Não com bombas, tanques ou discursos no TikTok. É uma guerra moderna, travada com armas de destruição em massa como… laranjas e comprimidos.

Tudo começou quando o Brasil, cansado de ser ignorado nas playlists americanas, resolveu dar o troco: suspendeu a exportação de suco de laranja concentrado. O impacto foi imediato. A Flórida entrou em estado de calamidade pública. Supermercados esvaziaram. Crianças choraram. As aulas paralisaram. E houve quem tentasse beber Tang com gelo de silicone, em protesto.

A bolsa de Nova York caiu 10%. Os investidores, desesperados, tentaram aplicar em vitamina C genérica, mas era tarde demais: o Brasil havia proibido a exportação de acerola e camu-camu e apertado o botão vermelho da frutose tropical. O mel foi para a estratosfera.

Do outro lado da trincheira, o Pentágono econômico dos EUA respondeu com a mesma elegância de sempre: suspendeu a exportação dos princípios ativos que compõem nossos medicamentos.


Foi um corre-corre dos capetas. Em 48 horas, o caos se instalou no Brasil. Farmácias começaram a vender “dipirona gourmet” feita com camomila, cidreira e gratidão. Teve laboratório testando chá de capim santo em cápsulas. E o remédio para dor de cabeça passou a ser chamado de “autoconhecimento em gotas”. Os Pastores mais íntimos de Jesus, Valdomiro e Silas, se abraçaram e pediram proteção ao Filho, porque estavam fazendo muita hora-extra e já haviam desacostumado. Tiveram que vender água do mar para curar do furúnculo a malária.

Nosso correspondente, Argemiro do PIB, ouviu de um analista em Brasília a seguinte frase:

“Se os EUA cortarem o ibuprofeno, vamos ter que voltar pra benzedeira e reza forte. E olha que nem a reza tá barata com o preço da vela.” O despacho com galinha preta estava os olhos da cara. Na falta da picanha e do chopp, esgotados nos fins de semana, o brasileiro voltou a consumir o frango em alta escala. Consumo dos penosos em alta, preço disparando. Ao finalizar a fofoca, Argemiro do PIB, cochichou: vem bronca para os empregos da indústria automobilística e São Paulo vai pirar. São Paulo não para…Sampa pira!

PIB em Pânico, Balança na UTI

As consequências foram sentidas em segundos e o Agro, pilar da economia brasileira, começou a sentir a porrada, nos bolsos e na barriga.
– O PIB brasileiro caiu 2,973% só com a falta de remédio pra pressão.
– O IBOVESPA despencou feito mamão maduro.
– O dólar subiu mais rápido que promessa de político em véspera de eleição.

Nos Estados Unidos, sem suco, o desespero virou manchete: “BREAKFAST BLACKOUT: America’s Orange Juice Crisis”– estampava o New York Times. No Brasil, a capa da Revista Raiva trazia a manchete: “Sem Tylenol, Com Dor e com Amor”.

Diplomacia à Brasileira

Foi então que os dois países decidiram conversar. Numa reunião histórica, a delegação brasileira levou suco natural, pão de queijo e tocou Tom Jobim no ukulelê. Os americanos chegaram com uma caixa de remédios, dois diplomatas da Pfizer e uma camiseta “Eu ♥ o Brasil (mas quero meus remédios)”.

O acordo de paz foi selado:
– O Brasil volta a exportar suco.
– Os EUA liberam os químicos dos remédios.
– E as playlists do Spotify norte-americano agora terão Ângela Rô Rô e um pouco de Zeca Pagodinho por semana.

Moral da História?

No mundo de hoje, ninguém briga com quem fornece o café da manhã ou o alívio para enxaqueca. O Brasil pode ser a terra do samba e da biodiversidade, mas sem os químicos dos americanos, nossa dor de cabeça vira crise diplomática.

E os EUA, gigantescos, podem ter Hollywood, Silicon Valley e 300 tipos de cereal matinal, mas sem a nossa laranja, viram uma nação de gente mal-humorada e com falta de vitamina C. A gripe vai pegar e eles terão que contratar o Bispo Edir Macedo, assoberbado de trabalho, com seus fiéis sofrendo com a coriza.

E o futuro?

Já se especula o próximo capítulo:
– Se o Brasil cortar o café, o mundo entra em colapso. O Nespresso terá suas cápsulas recicladas e a qualidade cairá em demasia. A cevada invadirá e o terêrê não dará vencimento.
– Se os americanos bloquearem as séries, o brasileiro vai ter que rever “Irmãos Coragem”, “O Clone” e “Senhora do Destino”, além de voltar com Chico City e Odorico Paraguassú.

Mas uma coisa é certa: na economia global, as tribos não vivem sozinhas. E quem duvidar, experimente uma ressaca sem suco de laranja… e sem Neosaldina ou Sonrisal.

O Trump, aspirante ao Nobel da Paz, prometeu vir fazer um cruzeiro, no NIMITZ, pelas praias brasileiras e levar a juventude para passear nos seus botes a jato e nos seus jatos invisíveis. Só para divertimento dos colegas brasileirinhos.

Congresso brasileiro gasta mais que o dos EUA e está entre os mais caros do mundo

Com um orçamento este ano no patamar de R$ 15 bilhões, o Congresso Nacional está entre os mais caros do mundo. Levando em consideração o Produto Interno Bruto (PIB), a proporção da alocação de recursos é maior que em outras nações continentais ou perfil demográfico similar, como Índia, EUA e México. Com o fortalecimento do Legislativo, os brasileiros também superam as democracias europeias. Em relação aos americanos, por exemplo, o custo é seis vezes maior.

Somados, Câmara e Senado no Brasil têm custo anual de 0,12% do PIB do país, de acordo com levantamento do GLOBO a partir de dados oficiais. Já os Estados Unidos gastam 0,02% do PIB com suas duas casas legislativas, um sexto da proporção do Brasil. Neste ano fiscal (setembro de 2024 a agosto de 2025), Senado e Câmara dos Representantes americanos têm orçamento combinado de US$ 6,7 bilhões.

A comparação com os EUA é pertinente, segundo especialistas, pelo fato de o país também ter dimensões continentais, adotar o sistema federalista (embora os estados tenham mais autonomia do que no Brasil) e ter duas casas no Parlamento.


]Duas características que inflam o gasto com o Legislativo no Brasil são o grande número de partidos e o tamanho da equipe de assessores que cada parlamentar pode ter à sua disposição, afirma o economista e cientista de dados Thomas Conti, professor do IDP.

— Com mais de 20 partidos políticos, a formação de coalizações majoritárias fica muito mais difícil de se negociar do que em países onde o número de partidos é menor. Como a negociação é difícil, alocar mais verbas para o Legislativo é um jeito indireto de facilitar a negociação, usando verbas como troca por apoio. Quanto aos assessores, no Brasil um deputado pode contratar até 25 assessores. Na Alemanha, o máximo é sete — diz Conti.

O México, que é a segunda maior democracia na América Latina (tanto em PIB quanto em população), também gasta proporcionalmente menos do que o Brasil com seu Congresso: 0,05% do PIB do país, menos da metade da despesa brasileira. Os mexicanos têm uma Câmara e um Senado e adotam o sistema federativo.

Já a Índia está entre os países que menos gasta proporcionalmente em seu Parlamento. A previsão de gastos para o ano fiscal iniciado em setembro de 2025 equivale a 0,004% do PIB indiano.

Historicamente, o país paga salários baixos a seus parlamentares. Um consultor político ligado ao Bharatiya Janata, partido que atualmente governa a Índia, atribui a baixa alocação de orçamento no país à defasagem salarial de parlamentares.

Embora viva um regime considerado por cientistas políticos como cada vez mais autoritário, as eleições do país asiático são as maiores do mundo em número de participantes: 642 milhões de indianos votaram na última eleição nacional realizada no país, em 2024.

Em Portugal, o Legislativo é representado por uma única casa, a Assembleia da República, cujo orçamento para 2025 é de 192 milhões de euros, o equivalente a 0,08% do PIB estimado para o país neste ano. Na Espanha, por sua vez, as duas casas legislativas (Congreso de Diputados e o Senado) têm somadas um orçamento equivalente a 0,01% do PIB espanhol.

— Gastar muito ou pouco com o Legislativo depende daquilo que se entrega ao cidadão e com as características do país. O Brasil é um país continental, com deficiências de infraestrutura e grande população. Ainda assim, os gastos com os parlamentares brasileiros são maiores que o de outras democracias grandes, como Estados Unidos — afirma Gustavo Macedo, professor de ciência política do Insper.

Dados de 2023 do último levantamento da União Interparlamentar, que reúne informações de 181 parlamentos ao redor do mundo, reforçam que o Brasil gasta muito com seu Congresso.

O Brasil era há dois anos o segundo entre 77 países em despesas com o Legislativo: US$ 5,3 bilhões ajustados pela paridade do poder de compra, perdendo apenas para os Estados Unidos (US$ 5,9 bilhões) e muito à frente do terceiro colocado, a Turquia (US$ 1,95 bilhão).

Completam a lista dos dez países com maior orçamento para o Congresso naquele ano Alemanha, México, França, Indonésia, Japão, Quênia e Coreia do Sul. A União Interparlamentar não tem dados mais recentes de nenhum desses países.

Brasil e Estados Unidos, aliás se revezam no topo da lista da União Parlamentar há anos. De 2015 a 2019, o Congresso brasileiro foi o mais caro do ranking, enquanto os americanos ficaram em segundo lugar.

Para Jairo Nicolau, cientista político da FGV, o Brasil gasta muito e mal com seu Congresso:

— O tamanho desse orçamento, bem como o aumento dos parlamentares, não atende a critérios técnicos. Na Câmara, por exemplo, o Brasil tem uma distorção clara na representação de alguns estados que estão sub-representados, como São Paulo, e casos de estados menores com representação bem maior que a que deveriam ter de acordo com sua população.

Um exemplo da distorção, diz ele, é que a Paraíba, estado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vai ter dois deputados a mais que o Espírito Santo, a despeito de ambos os estados terem populações similares.

O gasto com o Congresso brasileiro pode aumentar com a recente decisão dos deputados e senadores de aumentar o número de deputados em 18 cadeiras, passando para 531. O projeto aguarda a sanção (ou veto) do presidente Lula.

De acordo com o texto aprovado, ganharão parlamentares Amazonas, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. As estimativas de quanto representa de aumento de gastos a elevação do número de deputados variam entre R$ 64,8 milhões a cerca de R$ 150 milhões anuais.

Atualmente, cada deputado recebe remuneração mensal de R$ 39.293,32, além de ter direito a imóvel funcional em Brasília ou auxílio-moradia, mesmo para parlamentares que têm imóvel na capital federal. Hoje, o valor desse auxílio é de R$ 4.253 e pode ser complementado com até R$ 4.148,80 mensais da chamada cota parlamentar. O valor da cota a que cada deputado tem direito depende do estado do parlamentar e varia de R$ 36.582,46, para deputados do Distrito Federal, a R$ 51.406,33, para os de Roraima. Além disso, o valor mensal da verba de gabinete é de R$ 133.170,54.

— Na legislação brasileira não há limitações significativas para a capacidade do Legislativo aumentar seu próprio orçamento e definir novos direitos ou privilégios. O Executivo poderia vetar leis nesse sentido, mas como existe uma dificuldade crônica de formar maiorias no Congresso, não é esperado que nenhum presidente tenha capacidade de fazer um veto desses — conclui Conti.