sábado, 4 de abril de 2020

Coronavírus: na crise, todos crescem

A pesquisa XP Ipespe realizada em março e abril demonstra uma relação de causa e efeito entre a posição do presidente Jair Bolsonaro pelo fim da quarentena e seu declínio pessoal na avaliação da sociedade.

O presidente, acima de tudo, fez uma aposta de antemão perdida por opor ciência à política e desconhecer que o medo da morte é mais forte que especulações leigas.


A derrota da tese do “vamos para a rua” é pessoal, dado que a pesquisa indica apoio ao ministro da Saúde, Luís Henrique Mandetta, aos governos estaduais e ao Legislativo, alvos preferenciais de Bolsonaro por sustentarem o isolamento social radical – a chamada quarentena horizontal. Todos cresceram na crise, inclusive parte do governo. Só o presidente diminuiu.

Os números autorizam a previsão de que o chamado “orçamento de guerra”, em fase conclusiva no Congresso, é a antessala de um ciclo de gestão pactuada do país, com perda de poder pelo Executivo. A letargia que parece ter dominado a equipe econômica, há dois meses patinando na crise, abriu o vácuo para a ação do Legislativo.

Hoje, são 28% os que dizem considerar que o presidente tem atuação boa ou ótima, contra 42% que atribuem avaliação ruim ou péssima – os números são o menor e o maior da série histórica, respectivamente. Luiz Mandetta e o Ministério da Saúde têm 68% de avaliação positiva. Paulo Guedes e o Ministério da Economia, têm 37% positiva e 18% negativa.

A mudança coincide com uma melhora na imagem do Congresso e de governadores. O Legislativo passou a ser visto como ótimo ou bom por 18% da população, contra 13% na pesquisa anterior. A avaliação negativa caiu de 44% para 32%. Em relação aos governadores, o ótimo/bom passou de 26% para 44%.

Como outro índice da pesquisa mostra que 60% acham que a quarentena deve durar apenas mais um mês, essas avaliações tendem a ser definitivas, ou seja, a perspectiva do fim da crise não apagará os desempenhos considerados negativos.

O roteiro do resgate da economia traçado pelo ministro Paulo Guedes não vale mais para o atual mandato. A economia de guerra se estenderá por mais tempo após o fim da quarentena até que a normalidade inclua a retomada do espaço para uma gestão liberal.

É nesse contexto que o presidente reage com o anúncio da demissão futura do ministro da Saúde, algo inédito no país. Um aviso prévio baseado na administração correta da crise, pelo menos na visão mundial.

Bolsonaro diz, alto e bom som, que Mandetta é indemissível hoje, mas não amanhã, por ser essencial no enfrentamento da crise. Passada esta, lhe aplicará uma demissão corretiva para aprender a humildade.

Ao confundir subordinação com submissão, o presidente exibe sua dificuldade em reconhecer outra autoridade – ainda que científica -, senão a sua própria.

João Bosco Rabello, ex-assessor especial de comunicação nos ministérios da Defesa e da Segurança Pública

A medida da precarização

No conjunto de medidas que denominou Programa Emergencial de Manutenção do Emprego, a equipe econômica vai produzir mais recessão e precarização do mercado de trabalho que bem-estar. Inédito. Sob o pretexto de preservar vínculo empregatício, a Medida Provisória 936, publicada no 1º de abril, fragiliza o grupo mais numeroso e indefeso da mão de obra, reduz salários e, em consequência, desidrata a massa salarial com efeitos nefastos no consumo das famílias. Parece mentira. É o avesso do estímulo.

Desde 2016, o IBGE divulga uma série de estatísticas que, juntamente com a taxa de desemprego (11,6% no trimestre dezembro-fevereiro, equivalentes a 12,3 milhões de pessoas), ajuda a compreender as deficiências do mercado de trabalho contemporâneo. Uma delas é a subocupação por insuficiência de horas, formada por profissionais que trabalham menos de 40 horas semanais, têm tempo e gostariam de uma jornada maior — certamente, para ganhar mais. Essa forma de ocupação alcança muitos autônomos (notadamente os prestadores de serviços), empregados sem carteira assinada e aqueles submetidos ao contrato intermitente, novidade da reforma do governo Michel Temer/Henrique Meirelles.


Com as regras recém-anunciadas, Paulo Guedes e equipe permitem via acordo individual — ou seja, sem participação de sindicatos — a redução de 25% em jornada e salário de trabalhadores formais de todos os níveis de rendimento. E autoriza o corte de 50% e 70% de carga horária e remuneração de qualquer celetista que ganhe até três salários mínimos. Empurra, portanto, o com carteira para a subocupação. “Se evita demissão no curtíssimo prazo (90 dias), por outro lado reduz a renda, impacta o consumo das famílias e afeta até a capacidade de os informais ganharem dinheiro, porque boa parte deles atende os empregados formais”, analisa o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Bentes foi à Rais 2018 — última edição disponível da base de dados mais completa do emprego formal no país — e descobriu que 69% dos celetistas ganham até três mínimos. São 32 milhões num universo de 46 milhões de com carteira. Ou seja, sete em cada dez brasileiros formalmente contratados poderão ter jornada e salário reduzidos em até 70%, compensados com igual proporção do teto do seguro-desemprego (R$ 1.833), por decisão do empregador, sem intermediação do sindicato.

“É medida injustificável, porque reduz o papel das entidades de representação junto à categoria mais numerosa e com menor poder de barganha. A intenção parece ser preservar empresas menores, que costumam contratar trabalhadores de menor qualificação. Mas, no fundo, vai prejudicar também os empresários, porque reduzirá substancialmente a massa salarial e o consumo, num momento em que é necessário preservar o poder de compra para conter a recessão e ajudar na recuperação da atividade daqui a uns meses”, afirma Debora Freire Cardoso, professora-adjunta no Cedeplar/UFMG.

O mesmo governo que aderiu à proposta parlamentar de concessão de renda básica emergencial de R$ 600 por três meses para estender uma rede de proteção social aos informais aumenta a fragilidade de quem tem carteira assinada. A mesma medida provisória permite a suspensão do contrato de trabalho por dois meses com pagamento apenas do equivalente ao seguro desemprego.

A economista Monica de Bolle, da Universidade John Hopkins, defensora de políticas agressivas de transferência de renda em tempos de calamidade global, chama atenção para o efeito colateral negativo até na saúde pública. “Durante uma pandemia, cujo combate depende do isolamento social, o governo se arrisca a ver trabalhadores formais saindo às ruas para recompor, via mercado informal, o salário que vão perder. Essas medidas introduzem uma incerteza econômica brutal”, dispara.

A recomendação ao governo brasileiro são as medidas que vêm sendo anunciadas em outros países para blindar as economias durante a quarentena da Covid-19. Estados têm assumido a folha de pagamento, desonerado empresas e ofertado crédito barato e farto para que patrões e empregados hibernem e, passada a tempestade, recomecem de onde pararam. O custo a mais, garantem os especialistas, seria compensado pela queda menor do consumo das famílias e, adiante, com a recuperação mais rápida da atividade. O governo Jair Bolsonaro periga gastar muito sem colher os melhores resultados, porque desconhece, subestima ou despreza o papel do trabalho na engrenagem econômica.
Flávia Oliveira

Valorize as relações China-Brasil, deputado Eduardo

Você é realmente tão ingênuo e ignorante? Como deputado federal da República Federativa do Brasil que possui alguma experiência em tratar dos assuntos internacionais, você deveria saber que os vírus que causam pandemia são inimigos comuns do ser humano, e a comunidade internacional nunca chama os vírus pelo nome de um país ou região para evitar a estigmatização e a discriminação contra qualquer grupo étnico específico. A Organização Mundial da Saúde seguiu esta regra do direito internacional para chamar o novo coronavírus de Covid-19 (SARS-CoV-2). Além disso, ainda está por se confirmar a origem deste vírus. O surto de Covid-19 em Wuhan não significa necessariamente que Wuhan foi a fonte inquestionável do novo coronavírus.

O diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos já reconheceu que, durante a chamada "epidemia de gripe" nos Estados Unidos, no ano passado, algumas pessoas teriam morrido por Covid-19. Isso justifica que, muito provavelmente, os Estados Unidos foram a fonte da Covid-19. Mas podemos batizar o Covid-19 (SARS-CoV-2) como "vírus norte-americano"? Não! Do mesmo modo, ninguém no mundo pode chamar o zika como "vírus brasileiro", apesar do fato de a epidemia de zika ter acontecido e ainda acontecerem casos frequentemente no Brasil.


É por causa do seu ódio à China que ataca frequentemente a China? Mas de onde vem esse ódio? A aproximação entre a China e o Brasil é resultado de um desenvolvimento histórico com alicerce natural. Tanto a China como o Brasil são grandes países emergentes com território e população gigantes, com culturas ricas e coloridas e povos simpáticos e amigos. Ambos os países possuem planos grandiosos para promover a prosperidade e riqueza nacionais, bem como ambição para salvaguardar a paz e justiça internacionais. É ainda mais importante o fato de que não há divergências históricas nem conflitos atuais entre os dois países, que já se tornaram parceiros estratégicos globais. O povo chinês sempre abraça o povo brasileiro com sincera amizade, tratando o Brasil como nosso país irmão e parceiro. O respeito recíproco e a cooperação de ganhos mútuos de longo prazo entre os dois países trazem benefícios pragmáticos para os dois povos. Por dois anos consecutivos, dois terços do superávit do comércio exterior do Brasil vieram da China, o seu maior parceiro comercial! É por isso que tanto a geração do seu pai como a da sua idade estão todos se dedicando a promover a cooperação amigável sino-brasileira. Em resumo, os seus comportamentos remam contra a maré e não só colocam você no lugar adverso do povo chinês de 1,4 bilhão, mas também deixam a maioria absoluta dos brasileiros com vergonha, bem como criam transtornos ao seu pai, que é o presidente da República. É realmente uma prova de ignorância a respeito do tempo atual!
'Mesmo com todos os seus insultos à China, você não conseguirá tornar a China inimiga do Brasil, porque você realmente não pode representar o grande país que é o Brasil '
Será que você recebeu uma lavagem cerebral dos Estados Unidos e quer ir firmemente na esteira deles contra a China? Os Estados Unidos eram realmente um país grande e glorioso. No entanto, neste ponto crítico do avanço da civilização humana, os EUA perderam sua posição histórica e o sentido de desenvolvimento, tornando-se quase totalmente causadores de problemas nos assuntos internacionais, e uma fonte de ameaça à paz e segurança mundiais. Os líderes atuais norte-americanos já se esqueceram dos ideais dos fundadores do país de assegurar a justiça. Ademais, tornaram-se monstros políticos cheios de preconceitos ideológicos contra os outros países e sem capacidade de governar, o que pode ser justificado pelo desempenho horrível no combate à pandemia de Covid-19 nos EUA. Por outro lado, sendo uma potência cheia de vitalidade e em ascensão, o Brasil deve e é capaz de fazer contribuições importantes para o progresso da civilização humana, desde que tenha sua própria visão estratégica, possua sua perspectiva correta sobre os assuntos internacionais e desempenhe seu próprio papel construtivo. O Brasil não deve tornar-se um vassalo ou uma peça de xadrez de um outro país, senão o resultado seria uma derrota total num jogo com boas cartas, como diz um provérbio chinês.

Deputado Eduardo, há pelo menos uma semelhança entre a cultura confucionista chinesa e a cultura cristã brasileira, que é a crença em que sempre existe a causalidade em tudo, razão pela qual a gente tem que pensar nas consequências antes de fazer qualquer coisa. Como não é uma pessoa comum, você deveria entender melhor essa razão. O que é o mais importante para o Brasil agora? Sem dúvida, é salvaguardar a vida e a saúde de centenas de milhões de pessoas, e reduzir ao mínimo o impacto da pandemia na economia do Brasil, da China e do mundo, através da cooperação China-Brasil no combate à Covid-19. A China nunca quis e nem quer criar inimizades com nenhum país. No entanto, se algum país insistir em ser inimigo da China, nós seremos o seu inimigo mais qualificado! Felizmente, mesmo com todos os seus insultos à China, você não conseguirá tornar a China inimiga do Brasil, porque você realmente não pode representar o grande país que é o Brasil. Porém, como é um deputado federal, as suas palavras inevitavelmente causarão impactos negativos nas relações bilaterais. Isso seria uma grande pena! Contaminaria e poluiria totalmente o ambiente saudável que China e Brasil conquistaram até aqui.

Portanto, é melhor ser mais sábio e racional. Você pode não pensar na China, mas não pode deixar de pensar no Brasil. O demônio da Covid-19 chegou finalmente à maravilhosa terra brasileira. Neste momento crucial da cooperação bilateral no combate à pandemia de Covid-19, seria mais prudente não criar mais confusões. Ainda mais importante, seja um verdadeiro brasileiro responsável, ao invés de ser usado como arma pelos outros!
Li Yang, cônsul-geral da República Popular da China no Rio de Janeiro

Para a cúpula das Forças Armadas, é inaceitável Bolsonaro não se comportar como militar

Os fanáticos pelo “mito” podem esculhambar à vontade a pesquisa do Instituto Datafolha, dizer que é mais uma obra dos esquerdopatas, petralhas e comunistas que dominam a mídia nacional e internacional, mas a realidade é uma só – Jair Bolsonaro não tem condições mínimas para comandar um país da importância do Brasil, que é o quinto maior em território, sexto em população e nono em volume de PIB, ou seja, gigante pela própria natureza.

O fato concreto é que Bolsonaro, diante do primeiro problema realmente grave de sua gestão, além de demonstrar não saber administrar a crise, está atrapalhando as autoridades encarregadas de fazê-lo.

Com essa postura negativa e inaceitável, o presidente está perdendo apoio em todos os setores, especialmente na classe média e entre os militares, embora ele julgue (?) que as Forças Armadas estariam dispostas a tudo para mantê-lo no poder.


É claro que a ficha está caindo e o próprio Bolsonaro começou a sentir esse isolamento. Na manhã de segunda-feira, dia 30, ele descumpriu a agenda e resolveu visitar o general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, para lhe pedir apoio, e foi atendido, com uma nota postada no Twitter pela assessoria do oficial.

Neste sábado, entrevistado pela jornalista Tânia Monteiro, do Estadão, Villas Boas confirmou a visita e o pedido de apoio, que revela a insegurança do presidente da República. A repórter então perguntou se Bolsonaro tinha perdido apoio dos militares, e o general (ou sua assessoria, pois ele está muito doente) disse que não.

Em tradução simultânea, este “não” do general Villas Bôas nada significa, porque jamais falaria contra o amigo que ajudou a eleger, mas a verdade é que Bolsonaro não tem mais apoio incondicional das Forças Armadas, que não pretendem avalizar nenhuma insensatez do presidente.

Os oficiais-generais vão cumprir a Constituição, ajudar o governo (qualquer governo) no possível, mas sem se intrometer. Não querem que a imagem das Forças Armadas seja prejudicada por atos de um presidente complicadíssimo, que pensa (?) estar representando os militares, mas não está. Eis a questão.

Para os chefes militares, a situação gravíssima e inaceitável é que Bolsonaro não se comporta como militar.

Como se sabe, uma das dogmas das Forças Armadas é o respeito à hierarquia, um princípio que não se resume a respeitar ordens superiores.

Na crise do coronavírus, os generais da ativa estão assistindo a uma gravíssima quebra de hierarquia cometida por Bolsonaro, cuja obrigação funcional é respeitar a orientação científica das autoridades de saúde do país (Ministério e Vigilância Sanitária) e da Organização Mundial de Saúde, da qual o Brasil é país-membro fundador.

É preciso entender que o raciocínio dos generais é sempre cartesiano. Eles avaliam que um presidente que não respeita a hierarquia científica nacional e mundial, em assunto de interesse vital da saúde de todos os brasileiros, por consequência isso significa que esse presidente não aceita hierarquia alguma.

Pensamento do Dia


Coronavírus escancarou a conta do nosso egoísmo

No último dia 22, no meio da pandemia de coronavírus, uma senhora de 90 anos faleceu na Bélgica após ter recusado o ventilador mecânico para ceder o equipamento em favor de alguém mais jovem. “Guarde para alguém mais jovem. Eu vivi uma boa vida” foi o que ela disse dias antes de falecer.

Não é hidroxicloroquina ou cloroquina que irão nos salvar dessa vez.

O inimigo dessa vez é invisível e implacável: fez os líderes das grandes nações parecem crianças assustadas, fez o Papa sozinho e cabisbaixo perdoar os nossos pecados, fez judeus e muçulmanos rezarem juntos.


As nossas tradicionais armaduras falharam. De nada adiantou o poderio militar nuclear dos mísseis ou os inalcançáveis imóveis de luxo do Central Park: o gramado agora está cheio de tendas de hospital de campanha. Nossos planos de saúde caros não foram suficientes para tirar o receio da falta de equipamentos de nossas cabeças e tampouco nossos celulares e televisões sofisticados foram capazes de entreter no meio dessa solidão sentida e vivenciada por todos.

Sentimo-nos amedrontados, perdidos, sozinhos. E aí, diante de algo que não sabemos como nem quando vai acabar, fomos obrigados a ajoelhar. E para ajoelhar, todos nós fomos obrigados a aprender que é necessário sair dos nossos tronos, das nossas bolhas, das nossas coberturas, das nossas realidades e aproximar a cabeça do chão, frágeis e despidos.

Quando a gente se abaixou, acabamos esbarrando as cabeças uns nos outros e o milagre começou a acontecer. Começamos a perceber que a doença que mata a minha mãe também mata a mãe de quem mora do outro lado do mundo. Vimos que o mesmo problema que quebra o meu negócio desemprega o meu funcionário mais simples. Passamos a enxergar a importância de profissões que muitas vezes considerávamos pouco importantes ou dispensáveis. Constatamos que o medicamento que me falta também faltará para quem mora na favela. Sentimos que a mesma solidão que se abate sobre mim angustia o outro que tem nome, cor, origem e religião diferentes dos meus.

Despedaçados perante nossos medos mais ocultos, enfim fomos obrigados a admitir aquilo que já sabíamos mas não queríamos aceitar: somos todos iguais. No final das contas, após todo o dinheiro, todo o status, todos os privilégios, encolhemo-nos de medo das mesmas coisas e sentimos uma compaixão comum diante dos números que crescem, seja na Itália, nos Estados Unidos ou na nossa cidade.

Se antes bastava se cercar no próprio feudo e a guerra não chegaria ali, agora, para funcionar para mim, precisa funcionar para todo mundo. Para que eu seja protegido, preciso proteger os outros. A conta do nosso egoísmo chegou, cara e sem nenhum desconto.

Mas com o milagre, percebemos que essa conta pode ser paga de outra forma. Dito e repetido, não são hidroxicloroquina ou cloroquina que encerrarão esses tempos obscuros. Já descobrimos a cura e ela se chama amor. Pode parecer piegas, não é mesmo? Mas a verdade é que chegamos no ponto decisivo, na curva da inflexão na qual ou nós mudamos a maneira de convivermos enquanto sociedade ou estaremos sempre à mercê de nosso próprio egoísmo disfarçado de vírus, guerras, crises econômicas ou governantes inescrupulosos.

Para muito além do desespero e caos que estafam a nossa mente, o Brasil que se apresenta agora é o Brasil dos profissionais de saúde exaustos que se revezam incansavelmente para salvar pessoas que nem conhecem. É o Brasil de empresários assumindo prejuízos para não demitir seus funcionários. É o Brasil de pessoas parando suas atividades para garantir o bem-estar de outros. É o Brasil dos entregadores, garis, caminhoneiros e caixas de supermercados. É o Brasil de pessoas que doam o pouco que tem para que quem tem menos ainda possa ter algo. É o país do amor ao próximo e de gente que se preocupa com gente, de forma real e para além de qualquer discurso vazio e hipócrita.

Esse país de gente solidária, trabalhadora e resiliente pode afinal ser o gigante que acordou, ainda que tantos discursos e personagens irresponsáveis tentem macular nosso foco. A reflexão sobre qual lado da história iremos (e optaremos por) estar nunca foi tão necessária.

Tempos difíceis servem para algumas coisas, entre elas grandes aprendizados e reflexões incômodas. Quando aquela senhora heroína na Bélgica cedeu seu equipamento, a afirmação dela pode e deve ser repetida aqui: “guarde para alguém mais jovem”. E dessa vez, não é sobre o equipamento. É sobre o legado e a história que estamos construindo nesse momento decisivo. É a hora de abaixarmos as nossas bandeiras ideológicas e substituí-las por empatia, bom-senso e álcool em gel. Fiquemos em casa e ajudemos uns aos outros, irrestritamente. Construamos, unidos, nesse momento difícil, uma nação melhor e mais solidária, para que possamos deixar, após a crise, um país melhor “guardado para os mais jovens”. É essa a real cura para o temido vírus.
Pedro Aihara, tenente do Corpo de Bombeiros, mestre em Direitos Humanos, especialista em Gestão e Prevenção de desastres, atuou em Brumadinho e Mariana e Janaúba

Bolsonaro virou o bobo da corte

Jair Messias Bolsonaro tornou-se um bobo da corte, com uma diferença importante: bobos da corte costumavam dizer verdades.

Os sinais de que o presidente da República deixou de ser levado a sério são numerosos e inequívocos. Prefeitos e governadores, alguns dos quais eleitos na mesma onda conservadora que impulsionou Bolsonaro, fazem exatamente o contrário do que ele recomenda — e não hesitam em explicitar isso.

Até ministros de Estado, que foram por ele escolhidos e são demissíveis "ad nutum", se articulam para fazer o by-pass do chefe. Além de Mandetta, Moro e Guedes já disseram, ainda que tentando esboçar alguma diplomacia, que apoiam as medidas de isolamento social que Bolsonaro renega. Há notícias de que o núcleo militar tenta enquadrá-lo, mas a persuasão, quando surte efeito, é transitória. Só dura até a próxima declaração ou postagem, quase sempre uma combinação de mentiras com delírios.

É bastante sintomático que empresas de mídia social como Twitter e Instagram tenham decidido censurar manifestações de Bolsonaro, por julgar que se tratam de falsidades que colocam pessoas em risco.

No Congresso o clima não é muito diferente. Parlamentares já desistiram de esperar que Bolsonaro exerça a liderança que caberia ao presidente num momento como este e estão cuidando de elaborar por conta própria medidas para atenuar a crise. Se o Legislativo estivesse operando em condições de normalidade, estaríamos possivelmente iniciando procedimentos de impeachment.

O isolamento de Bolsonaro é internacional. Se, até uma ou duas semanas atrás, ainda havia líderes populistas apostando no negacionismo, como o mexicano Andrés Manuel López Obrador e o próprio Donald Trump, eles vislumbraram o tamanho da encrenca e adotaram uma posição mais responsável. Bolsonaro ficou praticamente sozinho.

Só não dá para rir da piada que Bolsonaro se tornou porque ela poderá custar vidas.

Palmas para a Imprensa!

Somos afortunados: nossa imprensa não desiste. O assunto é horroroso, a repetição ad nausean dos conselhos e dos casos, as estatísticas angustiantes são massacrantes, mas sem ela onde estaríamos?

Assim como a população de tantas cidades brasileiras bateu e bate palmas para os médicos e demais profissionais da Saúde, deveríamos nos unir e bater palmas, muitas palmas, para nossa Imprensa.

Se não fosse a Imprensa, já estaríamos quebrando todos os recordes de morte pelo Covid 19, pois é aos jornalistas que se sacrificam e vão às ruas buscar notícias verídicas e depois repetir diariamente as palavras da Ciência que devemos o sucesso do isolamento que vem impedindo que o vírus se espalhe exponencialmente.


Temos um mistério em Brasília. E esse é um mistério maior que a origem e cura do Covid 19, um presidente da República que sabe que não nasceu para o cargo, que sabe que nada sabe e que odeia os idosos, grupo do qual faz parte. Se não os odiasse, não aconselharia as famílias a deixá-los num canto, ao contrário, pediria que cumprissem o isolamanento recomendado pela OMS para salvar pais e avós.

O que o indigitado BolsoNero esquece é que há sempre um dia atrás do outro e que o castigo divino vem com a rapidez de um foguete espacial e que com ele, assim nos ajude Deus, não será diferente.

Há quem acredite que BolsoNero sentiu que errou e se assustou, por isso mudou o tom de suas falas. Ledo engano. BolsoNero, estimulado pelos inacreditáveis filhos que gerou, é o mesmo de anteontem e seguirá sendo o mesmo amanhã, até que o canto escuro para onde seus ex-eleitores o levarão, mostre que seu caminho era triste, desolado e cruel para com todos os brasileiros, crianças, jovens, adultos e idosos.

A Imprensa cumpre o papel que deveria ser o dele e lembra a todos que ficar em casa é o melhor caminho para evitar que corramos todos o risco de sermos contaminados por esse vírus maligno.

BolsoNero não sabe educar filhos, não sabe governar, não sabe escolher amigos. Dedicou seu coração a Trump e lhe deu vários e excelentes presentes brasileiros. O que recebeu em troca? Um pontapé estrondoso: Trump usou o dinheiro que tem de sobra para enviar 23 aviões à China e assim impedir que o Brasil recebesse máscaras e equipamentos que ajudariam a salvar vidas por aqui.

Aos dois amiguinhos desejo ardentemente que as próximas eleições lhes sejam aziagas.

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa