sexta-feira, 29 de abril de 2016

Cristo, olhai pra isto!

Quem já foi a Pompeia não esquece as cenas da vida cotidiana que o Vesúvio petrificou para sempre. Os habitantes e frequentadores daquela cidade de veraneio próxima a Nápoles, uma das mais lindas e ricas da península, foram apanhados de surpresa e não puderam se postar da maneira como gostariam de ser eternizados.

Já aqui... onde a natureza nos poupou de ter vulcões, o que explode são vesúvios morais que levam ao fim de um governo e à derrocada de um partido político que já foi o mais forte do país.

Mas não há ninguém cuidando da foto que deixará para a História do Brasil.

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O problema de dona Dilma é um só: lutar desesperadamente para não perder o Poder, essa ambição que destrói o mundo há séculos. Ela parece não se preocupar com a imagem que deixará.

Discursando mais nos últimos dois meses do que nos cinco anos em que está na tal cadeira à qual se aferra como craca, ela só sabe dizer que tudo aquilo de que é acusada é farsa, traição, atentado à Constituição. Só não explica o que fez e porque o fez, só não responde com provas que desmintam aquilo de que é acusada.

Às vésperas de ter que largar o cargo, ela e seu partido resolveram que vão fazer o possível e o impossível – vão novamente fazer o diabo? - para perturbar e prejudicar o governo que virá substituí-la.

Se amasse o Brasil como diz amar, agora seria o momento de provar esse amor e pensar mais no país do que na manutenção da caneta.

É natural, é humano que dona Dilma não deseje tudo de bom a Michel Temer. Mas é de um egoísmo brutal ela se dedicar a fazer o possível para complicar o governo de seu sucessor, posto que isso prejudicará a vida de todos nós.

Dona Dilma, num dos seus últimos palanques, cita Eduardo Cunha como o "pecado original" do impeachment. Taí, ele é mesmo culpado de muitas coisas que, se Deus quiser, serão investigadas e ele receberá a punição que merece.

Mas se há uma coisa da qual ele é absolutamente inocente é o fato dela ter sido colocada lá na tal cadeira. Disso, desse crime abominável, só é culpado o ex-presidente Lula. E menos culpado ainda é Cunha dos erros que ela cometeu.

Dona Dilma confirmou à excelente jornalista Christiana Amampour, da CNN International, que não é um animal político. Disso Lula não pode se valer: ele é sobretudo um animal político e, portanto, duvido que ele não perceba que ao tentar destruir o governo que vai suceder o atual, ele vai é acabar de destruir o Brasil.

Não acredito que Lula concorde com Rui Falcão quando ele conclama os militantes a ocupar as ruas e criar o máximo de tumulto que consigam. Tenho medo que eles só se satisfaçam com grandes tumultos. Eles são bem capazes de vibrar com isso.

Todavia, Lula sabe que isso não somente não salvará o mandato de Dilma Rousseff, como sabe que isso fará com que o PT vire pó nas próximas eleições.

Pode ser que as palavras de Rui Falcão iludam dona Dilma e a militância petista. Mas duvido muito que iludam Lula.

Nós, cidadãos que estamos sofrendo os malfeitos do lulopetismo, não vamos deixar que o Brasil se ferre. Vamos apoiar o afastamento de Dilma Rousseff pelo bem do Brasil. Com as bênçãos do Cristo.

Para concluir: tenho cá para mim que Lula deveria ouvir mais dona Marisa. Ela bem que o alertou...

Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

Não esqueceram de nada?

É abril, quase maio.

O homem no consultório espera o atendimento. Está com chikungunha há 20 dias. Mal consegue pisar - "De manhã, pareço pinguim andando" -, sobrevive com dores e sem poder trabalhar. A cara escarrada do Brasil deste 2016. Festival de besteirol político, presidente que já era e presidente que ainda não foi, chuva de cusparadas, bumbum da prima dona do ministro novo, guerra de porradaria. Enfim um carnaval fora de época para agradar quem não tem o que fazer e tem o que ganhar, mas de uma infelicidade extrema a quem paga impostos em dia.

Em meio a espetáculos circenses da política tropical, em que todos dão show pela tevê às custas das tetas ditas republicanas, por que vão se dar ao trabalho de amenizar o sofrimento daqueles que só lhe pedem respeito aos direitos humanos?

O país não é, nem nunca foi, um simples detalhe. São milhões e milhões de pessoas com sangue, suor e sofrimento. Têm prioridade máxima de atendimento.

Não podem esperar o tempo das chicanas, das manobras políticas, das jogadas rastaqueras tão comuns entre esses que se dizem acima da lei e dos homens. Não podem esperar que uns poucos por ganância de poder se agarrem com tudo que podem a cargos, como também não podem esperar a magnanimidade de quem não a tem.

Cargos, dinheiro, poder passam. O que não passa nunca é a vergonha de se ter tanta ganância, coisa de medíocre, às custas do desastre. Não se pode revoltar contra a desgraceira no exterior de países em guerra civil, sofrendo atentados de todo tipo, quando aqui os atentados aos direitos civis são perpetrados diariamente. Hospitais lotados sem atendimento, sem instalações adequadas, sem remédios. População exposta à mosquitada por falta de saneamento básico. O crime rondando cada esquina. Os bandidos nas ruas e nos poderes à solta. Não é quadro de país civilizado, mas de barbárie institucionalizada.

O quadro não requer discussões basbaques, de se puxar cabo de guerra. É preciso vontade para expurgar o miasma que ronda os ares, a putrefação de gente pequena que ainda pensa em ser humano.

Milena Teixeira e o marido são a cara e os restos do governo degenerado

Numa entrevista à Folha, foi perguntado a Fernando Henrique Cardoso se era justo destituir “uma mulher honesta”. A pergunta afirma que Dilma Rousseff é honesta, numa das ramificações débeis dos defensores da presidente. É possível contrapor perguntando se é justo manter no governo uma mulher (já que é de mulher e de justiça que os repórteres quiseram tratar, e não de lei e governantes independentemente de gênero) que cometeu crimes em tal sequência e com tal repercussão dramática para o país que, compelida pela honestidade em reconhecer o mal que fizera e aprofundava, uma mulher honesta já teria renunciado.

Milena Teixeira, a primeira primeira-dama-do-turismo da história, é contra o impeachment e declarou que não está tirando “a roupa para aparecer, estou usando isso para chamar a atenção sobre o que tenho para dizer. O povo brasileiro dá mais atenção a uma bunda de fora do que para o que precisamos realmente dar atenção”. A pouca ou nenhuma repercussão do que tem para dizer revela que a inegável eficácia em chamar a atenção é inversamente proporcional à de se fazer ouvir, numa evidência de que as fotos de Milena Teixeira contrastadas ao pensamento dela atestam que a ciência política perdeu uma grande miss bumbum.

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Felizmente, nem só de cientistas políticos se faz um país, não é mesmo? A moça tem atitude: esperou sete horas, num evento em 2013, em Salvador, para conhecer o jeca. “Ele me deixou sem ar”, suspirou então. Assim, a Secretaria Especial da Mulher preferiu não se pronunciar quanto às sugestivas fotos autopromocionais num prédio público, o gabinete do marido-da-primeira-dama-do-turismo. Diferentemente de quando Iriny Lopes, à frente do órgão, denunciou ao Conar o “sexismo atrasado” de uma propaganda de lingerie em que Gisele Bündchen aparecia, ora essa!, de lingerie para comunicar ao marido que batera o carro novamente.

O maridão diante da mulher linda, nem ligou, afinal, se estivesse preocupado com o carro teria se casado com, sei lá, o Lewis Hamilton. A amargura com a liberdade e o impulso de estatizar o tesão alheio impediram Iriny de achar outra coisa com que se ocupar num país envergonhado pela prostituição de meninas. De resto, a ampla falta de decoro, de cultura também política e de noção de Milena é compatível com a da presidente no governo dos últimos dias.

Entre o primeiro ministro do turismo de Dilma, Pedro Novais (PMDB-MA) – aquele deputado do baixo clero que pagara com verba parlamentar uma noitada num motel e renunciou ao cargo de ministro depois de denunciada fraude num convênio para capacitação entre o ministério e o Ibrasil que não capacitou ninguém –, e o marido de Milena Teixeira, a participação do Brasil nos negócios do ramo na América Latina se limita a 7,4%, enquanto a do México é de 29,6%, conforme a Organização Mundial do Turismo. Apesar de fatores intimidantes como a ameaça de terrorismo, o turismo no mundo cresceu 3,5%; na América Latina, apenas 1,7% porque a retração do Brasil de 9,1% puxou os índices para baixo, segundo a Euromonitor International.

Milena Teixeira e o marido, um dos coordenadores das duas campanhas eleitorais da presidente e considerado seu xodó, pouco têm a ver com esse panorama porque chegaram somente agora ao governo. Injustiça reparada a tempo, pois são a cara e os restos do governo degenerado de uma mulher a serviço do qual jamais colocou a eventual honestidade.

Planalto quer Erário bancando 'governo paralelo'

Plano secreto do Planalto, ao qual esta coluna teve acesso, prevê uma manobra que obrigaria os cofres públicos a bancar o “governo paralelo” anunciado por Dilma após seu afastamento. A ideia é nomear ainda no governo atual, antes do dia 11 (data de votação do impeachment), os membros do futuro “governo paralelo”. Ao serem demitidos pelo novo governo, pedirão o “direito a quarentena remunerada” por 4 meses. A informação é do colunista Claudio Humberto, doDiário do Poder.

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República teria papel essencial para fazer os cofres públicos bancarem o “governo paralelo”.

O esquema prevê aprovação da “quarentena” pela Comissão de Ética Pública, alegando “inviabilidade” de os demitidos obterem empregos.

Quatro meses de “quarentena remunerada” serão suficientes para bancar o “governo paralelo”, avalia a cúpula do PT no Planalto.

Suspeito de corrupção no governo, ex-ministro Antonio Palocci obteve “quarentena remunerada” avalizada pela Comissão de Ética Pública.
Cláudio Humberto

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,

que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas
Carlos Drummond de Andrade

Lava Jato desafia o TSE a abandonar a letargia

A campanha eleitoral de Dilma Rousseff de 2014 arde nas páginas das novas denúncias enviadas pela Lava jato à Justiça como acompanhante invisível do marqueteiro João Santana. O Ministério Público Federal reafirma que o mago do marketing petista, preso desde 22 de janeiro, foi remunerado com verbas surrupiadas da Petrobras. Recebeu tal remuneração pelos serviços eleitorais prestados ao petismo.


A Lava Jato não se ocupa da investigação de crimes eleitorais. Apura delitos como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa e passiva. Mas correm no Tribunal Superior Eleitoral ações que acusam a campanha petista de 2014 de usar verbas sujas. As novas denúncias estão apinhadas de evidências que corroboram as suspeitas. Tais evidências já foram remetidas ao TSE pelo doutor Sérgio Moro, juiz da Lava Jato e destinatário das denúncias que incluem João Santana.

Hoje, o brasileiro convive com a incômoda suspeita de que financiou involutariamente uma campanha que é vista pela maioria do eleitorado como um embuste eleitoral. Confirmando-se o logro, os mandatos de Dilma e do seu vice, Michel Temer, deveriam ser passados na lâmina. Se a cassação da chapa Dilma-Temer ocorresse em 2016, haveria a convocação de nova eleição presidencial.

Torna-se cada vez mais inconcebível a demora dos ministros do TSE em julgar esse caso. Certos silêncios merecem barulhos intermitentes. A Lava Jato, por assim dizer, intima a corte máxima da Justiça Eleitoral brasileira a cumprir com suas obrigações. Alega-se que os julgamentos como esse são mesmo demorados. Tolice. O país vive tempos extraordinários. Não se pode reagir ao que se passa de forma ordinária.

Ditadura da burocracia na Venezuela

Poderia ser um começo, o começo do fim. A oposição na Venezuela começou a coletar assinaturas para um referendo contra o presidente. Milhares de venezuelanos já atenderam ao chamado, e longas filas se formaram diante dos estandes com as petições. É tido como certo que serão reunidos os cerca de 200 mil votos necessários para o primeiro passo do longo e complicado processo. E, de acordo com todas as pesquisas, a maioria para um afastamento do presidente também é estável.

Mas a história ainda breve do Parlamento venezuelano após a vitória dos partidos de oposição mostra que a vontade do povo da Venezuela já não serve de guia para a ação política. Os chavistas saquearam o Estado. Todas as instituições – do Tribunal Supremo de Justiça ao Conselho Nacional Eleitoral e à petrolífera estatal PDVSA – estão nas mãos do governo. E, assim, o governo brecou com sucesso todas as decisões críticas do Parlamento recém-eleito e pode fazer com que o referendo se esvazie.


Os burocratas de Maduro conseguem de maneira eficiente e discreta o que não conseguiriam com opressão explícita: enfraquecer os incômodos adversários políticos. Mesmo após o enorme sucesso da oposição nas eleições parlamentares reconhecidamente livres, os chavistas usurparam o Tribunal Supremo de Justiça com uma ousadia de tirar o fôlego. A substituição dos postos de juízes foi mais do que duvidosa em termos legais, mas não houve protestos internacionais.

Assim, Maduro tem o caminho livre: da astuciosa supressão da maioria de dois terços da oposição no Parlamento até as manobras dilatórias do Conselho Nacional Eleitoral, nenhuma decisão do governo da Venezuela pode mais ser desafiada por tribunais superiores – pelo menos não com qualquer perspectiva de sucesso.

Isso não tem mais nada a ver com democracia. Mas, com o acobertamento de sua estratégia de poder, até agora os chavistas conseguiram escapar da pressão internacional no último minuto. Assim, a autoridade eleitoral divulgou as listas para convocação do referendo somente quando a oposição anunciou protestos.

O processamento das petições é o próximo obstáculo: o Conselho Nacional Eleitoral tem um prazo de 20 dias para isso, mas, por acaso, justamente quando as assinaturas começaram a ser coletadas, o governo reduziu a carga horária semanal do serviço público para dois dias – supostamente devido à crise energética.

Mais manobras kafkianas desse tipo são de se esperar, e a oposição corre contra o tempo. Se ela concluir o complicado processo do referendo depois de 10 de janeiro, não haverá novas eleições, e Maduro será simplesmente substituído por seu vice.

O governo brinca descaradamente com o tempo, enquanto os venezuelanos perdem a paciência. A inflação galopante, as prateleiras vazias nos supermercados, as constantes quedas de energia e racionamentos dão nos nervos. Já houve protestos violentos e saques, os quais obviamente são atribuídos pelo governo à oposição. Até agora a coleta de assinaturas pelos opositores correu de maneira pacífica, com a heterogênea aliança dos mais diversos partidos de oposição se atendo de maneira disciplinada aos procedimentos previstos na Constituição. Mas aumenta a pressão no país.

A comunidade internacional continua se manifestando de forma contida e tímida. Claramente os venezuelanos estão sozinhos – somente eles mesmos podem evitar uma catástrofe. Com ainda mais paciência, perseverança e disciplina. Também os chavistas sofrem com a situação. Eles deveriam se perguntar quanto, de fato, o governo ainda tem a ver com seus ideais.
Uta Thofern, chefe do Departamento América Latina da DeutschWelle