terça-feira, 1 de agosto de 2017
Otimista, Temer age para evitar vitória mixuruca
A impressão de que Michel Temer se encaminha para celebrar o arquivamento da denúncia que o acusa de corrupção é real. Mas o otimismo do Planalto está escorado numa realidade incompleta. Às vésperas da votação no plenário da Câmara, o presidente ainda se esforça para evitar um triunfo à moda do rei Pirro. O personagem derrotou os romanos na célebre batalha de Ásculo. Porém, amargou tantas baixas em seu Exército que teria exclamado: Outra vitória como esta será a minha ruína!
A autorização para que o Supremo Tribunal Federal dê sequência à denúncia contra Temer requer dois terços dos votos da Câmara. Isso equivale a 342 votos. O presidente precisa que apenas 172 deputados votem a seu favor ou se ausentem da sessão para impedir que seus rivais alcancem o número mágico. Mas para evitar que o sepultamento da denúncia se converta numa “Vitória de Pirro”, Temer teria de levar ao painel eletrônico da Câmara algo próximo de 300 votos. Por ora, estima que dispõe de cerca de 250. E tenta cooptar o restante.
A autorização para que o Supremo Tribunal Federal dê sequência à denúncia contra Temer requer dois terços dos votos da Câmara. Isso equivale a 342 votos. O presidente precisa que apenas 172 deputados votem a seu favor ou se ausentem da sessão para impedir que seus rivais alcancem o número mágico. Mas para evitar que o sepultamento da denúncia se converta numa “Vitória de Pirro”, Temer teria de levar ao painel eletrônico da Câmara algo próximo de 300 votos. Por ora, estima que dispõe de cerca de 250. E tenta cooptar o restante.
Primo de Alexandre, o Grande, o rei Pirro amealhou no século 3º a.C. uma fama de militar valoroso. Entretanto, acabou expulso da península itálica. E passou à história como símbolo de vitórias com sabor de derrota. Temer costuma vangloriar-se de suas habilidades de articulador político. O balcão escancarado anabolizou-lhe o talento. Com uma segunda denúncia da Procuradoria da República no forno, um placar pírrico manteria o pescoço de Temer na guilhotina.
Irmãos siameses
Lima Barreto
Vistam aquela saia!
Dilma Rousseff deixou o governo com aumentos contratados com as corporações do serviço público até 2020. Só o de 2018 põe R$ 22 bilhões a mais na folha daqui até a eternidade. Umas tres JBS’s por ano a mais no que custou ao BNDES a parcela dela que pertence “a nós todos” que não moramos em palácios em Nova York.
O salário do funcionalismo aumentou em média 9,4% ao ano em todos os anos entre 2003 e 2015. Era a “Era Lula”, o dono daquele partido que recebe 30% do salário de cada um de seus “filiados”. Foram 9,3% em média de aumento por ano na União, 10,6% nos estados e 10,1% nos municípios para uma inflação média de 6,3% ao ano. A quantidade de funcionários também aumentou explosivamente. 30% no nível federal, 10% no estadual e 67% (!!) no municipal. 10% a mais nos poderes executivos (estes que, no fim, promovem os “ajustes” pelo aumento de impostos), 55% nos legislativos e 50% no judiciário mais lento da face da Terra. É dentro desse Judiciário e meio que está o Ministério Público dos nossos heróis com taxímetro que, enquanto acusam os outros de desonestidade exigem do Brasil, sob pena de represálias, 16,7% de aumento neste ano de miséria e inflação de 3,5%.
O salário do funcionalismo aumentou em média 9,4% ao ano em todos os anos entre 2003 e 2015. Era a “Era Lula”, o dono daquele partido que recebe 30% do salário de cada um de seus “filiados”. Foram 9,3% em média de aumento por ano na União, 10,6% nos estados e 10,1% nos municípios para uma inflação média de 6,3% ao ano. A quantidade de funcionários também aumentou explosivamente. 30% no nível federal, 10% no estadual e 67% (!!) no municipal. 10% a mais nos poderes executivos (estes que, no fim, promovem os “ajustes” pelo aumento de impostos), 55% nos legislativos e 50% no judiciário mais lento da face da Terra. É dentro desse Judiciário e meio que está o Ministério Público dos nossos heróis com taxímetro que, enquanto acusam os outros de desonestidade exigem do Brasil, sob pena de represálias, 16,7% de aumento neste ano de miséria e inflação de 3,5%.
Esses aumentos passam para os funcionários aposentados o que provoca outra onda de choque paralela muito maior que a que afoga a folha dos ativos. Eles custaram, no ano passado, 57% dos mais de R$ 2 trilhões que o governo tomou em impostos ao país que trabalha. A maior carga do mundo. Como todos os demais que põem um pé dentro do estado um dia, nem um único dos novos “servidores” dessa multidão recém embarcada que se aposentará por volta dos 50 anos sairá das nossas costas nem depois de morto pois, enquanto “funcionarem as instituições” que temos os filhos e netos deles herdarão os direitos que seus pais e avós “adquirirem” e viverão às custas dos nossos filhos e netos em plena “democracia” do 3º Milênio.
Em 2009 o Ipea já tinha constatado que os funcionários do estado recebiam o dobro do que pagava-se aos trabalhadores privados ainda com emprego para funções e níveis de formação semelhantes. Essa desproporção já não era a verdadeira naquela altura porque não incluia os “auxílios” e as infinitas mutretas outras com que eles se locupletam “por dentro da lei” que escrevem e por fora do imposto de renda que, por eles e só por eles, deixa-se docemente tapear com sinônimos. Os numeros da Previdência, mais recentes mas ainda não atuais, estão mais próximos da verdade. A média das aposentadorias privadas é de R$ 1600. A das públicas é de R$ 9 mil no poder executivo, R$ 25 mil no legislativo, 29 mil no judiciário e 30 mil no Ministério Público, o campeão dos campeões. Isso explica porque os 980 mil aposentados do setor público custam um déficit maior que o dos 33 milhões de aposentados do resto do país somados.
Hoje como a cada dia, por mero decurso de prazo, essa diferença já aumentou. Não é preciso nem uma palavra mais, portanto, para explicar não só o estado de miséria a que o país está reduzido mas também a guerra no meio da qual vivemos. Estes são numeros tão escandalosos que a sua mera exposição à população com a ênfase e a persistência mínimas que a decência requer provocariam uma revolução que 20 lava-jatos somadas não seriam capazes de promover. Mas nem os políticos desonestos, nem os juristas e jornalistas que os acusam de desonestidade, com raríssimas exções, tocam nesse assunto porque aí sim aperta o calo de todos quantos têm interesse pessoal na continuação da “privilegiatura”.
Michel Temer até que tentou, mas é um monoglota. Só fala a língua do “sistema”. Não consegue comunicar-se com o que está fora dele. Derrapa em todas as maioneses. Só porque escapou da primeira volta no torniquete em que o agarraram os que não admitem nem as reformas meia-sola que propôs para reduzir a virulência desse assalto já passou a agir como se tivesse sido eleito. Deu para ficar “irônico” e dar-se, até, ares triunfalistas. Baixa impostos novos sem pedir um trilhão de desculpas, e descuidando até de pagar os devidos direitos autorais ao lulismo por isso. Conta como certa a “compreensão do povo” que, lá dos seus barracos, as balas perdidas voando sobre a cabeça quando dá sorte, vê tomarem o seu santo nome em vão todos quantos, “contra” ou “a favor”, disputam o comando daquele disco voador chamado Brasilia de onde partem todos os raios que partem o Brasil.
Mas Temer é um homem de sorte! A desfaçatez da “privilegiatura”, com o Ministério Público de abre-alas, é tão insana que, depois de tudo aparentemente perdido, ei-lo diante de mais uma chance de redimir-se de todos os recuos que se permitiu sem muita luta – ele e seu ministro hãn-hãn-hãn… – na sequência do momento periclitante de sua posse.
Sonhar não custa nada…
Seja macho, Michel! Seja macho, Henrique! Vistam as saias da secretária Ana Paula Vescovi, a única figura deste governo que ousa dizer verdades inteiras. Obriguem a “privilegiatura” a mostrar os dentes. Deixem que se mate sendo às claras o que é nas trevas. Reproponham a reforma daquela previdência de escândalo e não só da dos pobres. Arrastem-na para o mundo da contribuição real. Taxem os salários disfarçados sob codinomes. Vão ao Supremo contra essas “correções” sem inflação e saboreiem em segredo os 30% que o PT perderá em cada tostão que os “nós” deixarem de arrancar dos “eles”. Forcem os egrégios guardiões da constituição a julgar a constitucionalidade dos “auxílios” livres de impostos que usam para furar o teto constitucional. Ponham valores nisso. Comparem. Quantas prisões “suecas” da pra comprar com esse dinheiro? Quantas bolsas em Harvard? Obriguem os autores de “narrativas” a expor o que tanto têm se esforçado para ocultar.
Forcem, já, aquilo que seremos, de qualquer maneira, forçados a fazer logo adiante. Libertem esta e as futuras gerações de brasileiros da depressão de já partir derrotada para a pedreira da competição global.
Chega de mimimi! Afinal, o que ha para perder no tempo que vos resta?
Em 2009 o Ipea já tinha constatado que os funcionários do estado recebiam o dobro do que pagava-se aos trabalhadores privados ainda com emprego para funções e níveis de formação semelhantes. Essa desproporção já não era a verdadeira naquela altura porque não incluia os “auxílios” e as infinitas mutretas outras com que eles se locupletam “por dentro da lei” que escrevem e por fora do imposto de renda que, por eles e só por eles, deixa-se docemente tapear com sinônimos. Os numeros da Previdência, mais recentes mas ainda não atuais, estão mais próximos da verdade. A média das aposentadorias privadas é de R$ 1600. A das públicas é de R$ 9 mil no poder executivo, R$ 25 mil no legislativo, 29 mil no judiciário e 30 mil no Ministério Público, o campeão dos campeões. Isso explica porque os 980 mil aposentados do setor público custam um déficit maior que o dos 33 milhões de aposentados do resto do país somados.
Hoje como a cada dia, por mero decurso de prazo, essa diferença já aumentou. Não é preciso nem uma palavra mais, portanto, para explicar não só o estado de miséria a que o país está reduzido mas também a guerra no meio da qual vivemos. Estes são numeros tão escandalosos que a sua mera exposição à população com a ênfase e a persistência mínimas que a decência requer provocariam uma revolução que 20 lava-jatos somadas não seriam capazes de promover. Mas nem os políticos desonestos, nem os juristas e jornalistas que os acusam de desonestidade, com raríssimas exções, tocam nesse assunto porque aí sim aperta o calo de todos quantos têm interesse pessoal na continuação da “privilegiatura”.
Michel Temer até que tentou, mas é um monoglota. Só fala a língua do “sistema”. Não consegue comunicar-se com o que está fora dele. Derrapa em todas as maioneses. Só porque escapou da primeira volta no torniquete em que o agarraram os que não admitem nem as reformas meia-sola que propôs para reduzir a virulência desse assalto já passou a agir como se tivesse sido eleito. Deu para ficar “irônico” e dar-se, até, ares triunfalistas. Baixa impostos novos sem pedir um trilhão de desculpas, e descuidando até de pagar os devidos direitos autorais ao lulismo por isso. Conta como certa a “compreensão do povo” que, lá dos seus barracos, as balas perdidas voando sobre a cabeça quando dá sorte, vê tomarem o seu santo nome em vão todos quantos, “contra” ou “a favor”, disputam o comando daquele disco voador chamado Brasilia de onde partem todos os raios que partem o Brasil.
Mas Temer é um homem de sorte! A desfaçatez da “privilegiatura”, com o Ministério Público de abre-alas, é tão insana que, depois de tudo aparentemente perdido, ei-lo diante de mais uma chance de redimir-se de todos os recuos que se permitiu sem muita luta – ele e seu ministro hãn-hãn-hãn… – na sequência do momento periclitante de sua posse.
Sonhar não custa nada…
Seja macho, Michel! Seja macho, Henrique! Vistam as saias da secretária Ana Paula Vescovi, a única figura deste governo que ousa dizer verdades inteiras. Obriguem a “privilegiatura” a mostrar os dentes. Deixem que se mate sendo às claras o que é nas trevas. Reproponham a reforma daquela previdência de escândalo e não só da dos pobres. Arrastem-na para o mundo da contribuição real. Taxem os salários disfarçados sob codinomes. Vão ao Supremo contra essas “correções” sem inflação e saboreiem em segredo os 30% que o PT perderá em cada tostão que os “nós” deixarem de arrancar dos “eles”. Forcem os egrégios guardiões da constituição a julgar a constitucionalidade dos “auxílios” livres de impostos que usam para furar o teto constitucional. Ponham valores nisso. Comparem. Quantas prisões “suecas” da pra comprar com esse dinheiro? Quantas bolsas em Harvard? Obriguem os autores de “narrativas” a expor o que tanto têm se esforçado para ocultar.
Forcem, já, aquilo que seremos, de qualquer maneira, forçados a fazer logo adiante. Libertem esta e as futuras gerações de brasileiros da depressão de já partir derrotada para a pedreira da competição global.
Chega de mimimi! Afinal, o que ha para perder no tempo que vos resta?
A Fábula da Corrupção
O teatro da política
Durante o recesso, o governo aproveitou para saciar a voracidade de sua base insatisfeita e pressionar indecisos que faziam cena; fez o que pode e o que sua índole lhe sanciona. Bate, agora, bem alto o bumbo de que a denúncia de Joesley Batista e o processo de Rodrigo Janot são páginas viradas. Inverter expectativas é estratégico: fazer crer numa vitória definitiva — quando o plenário votar o afastamento de Michel Temer — é um artifício para consegui-la de verdade. No mais, como num teatro burlesco, terá ajuda dos mais imprevistos personagens.
De um modo quase geral, os partidos já definiram o melhor roteiro para que a plateia — a base social de cada um — acredite que desempenham papéis claros e esperados. O mais provável é que nesta primeira votação haja muito barulho por quase nada. Nos bastidores, inúmeros jogos de cena já foram combinados.
O governismo ensaia que desafiará a oposição a reunir os 342 votos necessários para afastar o presidente, sabendo que, pelo menos numa primeira votação, não há força para isso. Os amigos de Michel Temer instigarão o PT como se a legenda, realmente, perseverasse pelo afastamento do presidente da República; como se seu adversário de verdade fosse o PT. Para os petistas, o jogo de sombras vale a pena, o antagonismo de fachada lhe interessa: fiel, seu público acreditará na disposição dos atores no palco.
Mas, os petistas, assim como todos os partidos, na verdade, se movimentam de acordo com interesses de médio e longo prazos, que ficam ocultos do roteiro, que são camuflados pelos discursos. Não revelam que as vontades não se articulam aos gestos, mas por disposições mais efetivas do que diálogos mais ou menos combinados.
É importante entender o jogo e os jogadores: alguns setores são base e, sendo base, é básico que se agarrem às vantagens competitivas do Diário Oficial: mamam na vaca e resistem largar as tetas da máquina federal. Ainda que cargos e recursos prometidos possam não mais chegar no timing da eleição, o cartório é sempre bom: importante para certo tipo de político expressar poder e influência, num jogo de aparências e seduzir desavisados e agradar apaniguados.
Na mesma base, há outros setores que agem diferente: estão tão comprometidos quanto o presidente e abandoná-lo seria fugir de si próprios. Feitos do mesmo barro, temem o mesmo risco; afastar a Temer seria cortar na carne — onde se come um boi, come-se a boiada. Nessa visão, o presidente seria apenas um, numa lista longa. Trata-se da turma do ''estancar a sangria'' de que nos fala Romero Jucá. Estão em quase todos os partidos, — naquilo que se proclama ''reformista'' e também no que se acredita ''oposição''.
O campo reformista sincero existe, mas é bem pequeno. Mesmo ele sabe que as reformas sem eleição são controversas; ademais, a assunção de Rodrigo Maia não seria nenhum desastre, neste aspecto. No mínimo, a dificuldade em reformar seria a mesma.
No campo da oposição, Temer tem inimigos, mas as estratégias também aí se diferem: a seu favor, há aqueles que, ao contrário de Jucá, preferem ''deixar sangrar''. Interessa-lhes deixa-lo se exaurir, no tempo certo do desgaste eleitoral. Um governo enxague, esvaído, que perdeu as forças pode reanimar mortos vivos da oposição. É negócio. O oportunismo é velho conhecido.
Há também os que agem por medo e miopia: fazem cálculos e receiam que o afastamento de Michel Temer, ampliando a incerteza, dê espaço a Rodrigo Maia, que viria a sucede-lo. Temem coloca-lo no páreo eleitoral, retirando a si mesmos. Parece ser o caso de parte dos tucanos paulistas. Não percebem, no entanto, que amarrados ao governo revelam-se atados ao velho, o que impedirá que representem a sinceridade do novo reformista que anunciam.
Enfim, a oposição a Michel Temer não está no Congresso — na Câmara ou no Senado; e nem é necessariamente uma oposição às inevitáveis reformas econômicas e fiscais das quais o governo se vale como biombo de sua natureza mais profunda. A oposição real, neste momento, reside em órgãos do Estado, nas corporações e em alguns veículos de comunicação; é difusa, não tem um partido específico e está no sentimento da sociedade, como demonstram as recentes pesquisas.
Pesquisas que apontam o desalento com o sistema partidário e com o governo; que demonstram uma aprovação ao presidente em níveis rastejantes. Especialistas dessas pesquisas asseveram que a população está com raiva de tudo o que reluz a política. Mas, também teme o que pode vir; não há esperança. O que a mantém em casa — e não a impele a ir às ruas — é a incerteza que a falta de alternativa gera.
No quadro dos interesses partidários acima, como se vê, é difícil encontrar quem possa vocalizar essa sociedade, para além da farsa teatral de cada um. Por sua vez, quando chamada ao papel de eleitor, a sociedade tende todo tipo de interpretação dessas peças maçantes que se tenta encenar nestes dias de final de julho. Todavia, o maior risco é que encontre um canastrão qualquer que a saiba interpretar. Bufões populistas, vingadores de opereta e falsos salvadores da pátria surgirão às mancheias. Esse tipo de teatro nunca acaba bem.
Carlos Melo
De um modo quase geral, os partidos já definiram o melhor roteiro para que a plateia — a base social de cada um — acredite que desempenham papéis claros e esperados. O mais provável é que nesta primeira votação haja muito barulho por quase nada. Nos bastidores, inúmeros jogos de cena já foram combinados.
O governismo ensaia que desafiará a oposição a reunir os 342 votos necessários para afastar o presidente, sabendo que, pelo menos numa primeira votação, não há força para isso. Os amigos de Michel Temer instigarão o PT como se a legenda, realmente, perseverasse pelo afastamento do presidente da República; como se seu adversário de verdade fosse o PT. Para os petistas, o jogo de sombras vale a pena, o antagonismo de fachada lhe interessa: fiel, seu público acreditará na disposição dos atores no palco.
Mas, os petistas, assim como todos os partidos, na verdade, se movimentam de acordo com interesses de médio e longo prazos, que ficam ocultos do roteiro, que são camuflados pelos discursos. Não revelam que as vontades não se articulam aos gestos, mas por disposições mais efetivas do que diálogos mais ou menos combinados.
É importante entender o jogo e os jogadores: alguns setores são base e, sendo base, é básico que se agarrem às vantagens competitivas do Diário Oficial: mamam na vaca e resistem largar as tetas da máquina federal. Ainda que cargos e recursos prometidos possam não mais chegar no timing da eleição, o cartório é sempre bom: importante para certo tipo de político expressar poder e influência, num jogo de aparências e seduzir desavisados e agradar apaniguados.
Na mesma base, há outros setores que agem diferente: estão tão comprometidos quanto o presidente e abandoná-lo seria fugir de si próprios. Feitos do mesmo barro, temem o mesmo risco; afastar a Temer seria cortar na carne — onde se come um boi, come-se a boiada. Nessa visão, o presidente seria apenas um, numa lista longa. Trata-se da turma do ''estancar a sangria'' de que nos fala Romero Jucá. Estão em quase todos os partidos, — naquilo que se proclama ''reformista'' e também no que se acredita ''oposição''.
O campo reformista sincero existe, mas é bem pequeno. Mesmo ele sabe que as reformas sem eleição são controversas; ademais, a assunção de Rodrigo Maia não seria nenhum desastre, neste aspecto. No mínimo, a dificuldade em reformar seria a mesma.
No campo da oposição, Temer tem inimigos, mas as estratégias também aí se diferem: a seu favor, há aqueles que, ao contrário de Jucá, preferem ''deixar sangrar''. Interessa-lhes deixa-lo se exaurir, no tempo certo do desgaste eleitoral. Um governo enxague, esvaído, que perdeu as forças pode reanimar mortos vivos da oposição. É negócio. O oportunismo é velho conhecido.
Há também os que agem por medo e miopia: fazem cálculos e receiam que o afastamento de Michel Temer, ampliando a incerteza, dê espaço a Rodrigo Maia, que viria a sucede-lo. Temem coloca-lo no páreo eleitoral, retirando a si mesmos. Parece ser o caso de parte dos tucanos paulistas. Não percebem, no entanto, que amarrados ao governo revelam-se atados ao velho, o que impedirá que representem a sinceridade do novo reformista que anunciam.
Enfim, a oposição a Michel Temer não está no Congresso — na Câmara ou no Senado; e nem é necessariamente uma oposição às inevitáveis reformas econômicas e fiscais das quais o governo se vale como biombo de sua natureza mais profunda. A oposição real, neste momento, reside em órgãos do Estado, nas corporações e em alguns veículos de comunicação; é difusa, não tem um partido específico e está no sentimento da sociedade, como demonstram as recentes pesquisas.
Pesquisas que apontam o desalento com o sistema partidário e com o governo; que demonstram uma aprovação ao presidente em níveis rastejantes. Especialistas dessas pesquisas asseveram que a população está com raiva de tudo o que reluz a política. Mas, também teme o que pode vir; não há esperança. O que a mantém em casa — e não a impele a ir às ruas — é a incerteza que a falta de alternativa gera.
No quadro dos interesses partidários acima, como se vê, é difícil encontrar quem possa vocalizar essa sociedade, para além da farsa teatral de cada um. Por sua vez, quando chamada ao papel de eleitor, a sociedade tende todo tipo de interpretação dessas peças maçantes que se tenta encenar nestes dias de final de julho. Todavia, o maior risco é que encontre um canastrão qualquer que a saiba interpretar. Bufões populistas, vingadores de opereta e falsos salvadores da pátria surgirão às mancheias. Esse tipo de teatro nunca acaba bem.
Carlos Melo
Na boca do sapo
O presidente Michel Temer está com o nome na boca do sapo. E nos próximos dias será julgado por sapos dos quais até recentemente foi confrade na Câmara dos Deputados.
O sapo tem defesa passiva. Quem pisa sobre ele recebe o veneno que dali só sai espremido pelo agressor.
É um animal anfíbio e vive na terra ou na água, tanto faz. Criatura admirável, mas símbolo de feiura, está presente em muitas expressões populares, a começar pelo título desta coluninha e pelo famoso dito de que às vezes temos de “engolir sapos”.
Há milênios os homens são comparados a animais com o fim de que se possa entender melhor a condição humana a partir da condição dos bichos.
Desde tempos imemoriais, o sapo é tido como catalisador de energias negativas. Não faz mal ao ambiente. O ambiente é que lhe pode fazer mal. O ambiente e a maldade humana, pois muitas pessoas acreditam nos prejuízos que se pode causar a outrem costurando seu nome na boca de um sapo.
O escritor grego Esopo, que viveu entre os séculos VII e VI a.C., foi quem mais falou dos homens ao contar histórias de animais. Como a fábula da cegonha que aceitou o pedido do lobo e enfiou a cabeça na boca da fera para retirar-lhe um osso da garganta. Afinal, o lobo lhe dissera: “Saberei mostrar minha gratidão”.
Quando a ave pernalta concluiu o benefício, perguntou: “Qual será, então, a minha recompensa?”. O lobo respondeu: “Você colocou a cabeça dentro da minha boca e eu não te devorei. Já estás recompensada”. Esopo queria ensinar com suas fábulas, e a lição de vida que deu com esta é não esperar gratidão dos maus.
O sapo é feio, mas é referência solar e personagem de vários poemas e narrativas. Os brasileiros foram acalentados por versos simpáticos e até misericordiosos de Sapo Cururu: “Sapo Cururu/ Na beira do rio/ Quando o sapo grita, maninha/ É porque tem frio”.
A namorada do sapo tampouco é maltratada e pelo que se depreende, se não é bela, é recatada e do lar na canção infantil: “A mulher do sapo,/ Que está lá dentro,/ Está fazendo renda, maninha,/ Para o casamento”.
O poeta Manuel Bandeira aproveitou a figura consuetudinária do sapo para insurgir-se contra os parnasianos, tidos por inimigos dos modernistas: “Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos,/ A luz os deslumbra”.
O grande vate pernambucano até parecia falar de deputados, senadores, ministros e outras figuras públicas, muitas das quais por demais deslumbradas com a luz da mídia de uns tempos para cá.
Que os sapos brasileiros de todos os banhados se entendam porque à la Manuel Bandeira, de novo, segmentos consideráveis da população foram embora para Pasárgada e outros estão prometendo ir: eles querem ser amigos do rei.
O sapo tem defesa passiva. Quem pisa sobre ele recebe o veneno que dali só sai espremido pelo agressor.
É um animal anfíbio e vive na terra ou na água, tanto faz. Criatura admirável, mas símbolo de feiura, está presente em muitas expressões populares, a começar pelo título desta coluninha e pelo famoso dito de que às vezes temos de “engolir sapos”.
Há milênios os homens são comparados a animais com o fim de que se possa entender melhor a condição humana a partir da condição dos bichos.
Desde tempos imemoriais, o sapo é tido como catalisador de energias negativas. Não faz mal ao ambiente. O ambiente é que lhe pode fazer mal. O ambiente e a maldade humana, pois muitas pessoas acreditam nos prejuízos que se pode causar a outrem costurando seu nome na boca de um sapo.
O escritor grego Esopo, que viveu entre os séculos VII e VI a.C., foi quem mais falou dos homens ao contar histórias de animais. Como a fábula da cegonha que aceitou o pedido do lobo e enfiou a cabeça na boca da fera para retirar-lhe um osso da garganta. Afinal, o lobo lhe dissera: “Saberei mostrar minha gratidão”.
Quando a ave pernalta concluiu o benefício, perguntou: “Qual será, então, a minha recompensa?”. O lobo respondeu: “Você colocou a cabeça dentro da minha boca e eu não te devorei. Já estás recompensada”. Esopo queria ensinar com suas fábulas, e a lição de vida que deu com esta é não esperar gratidão dos maus.
O sapo é feio, mas é referência solar e personagem de vários poemas e narrativas. Os brasileiros foram acalentados por versos simpáticos e até misericordiosos de Sapo Cururu: “Sapo Cururu/ Na beira do rio/ Quando o sapo grita, maninha/ É porque tem frio”.
A namorada do sapo tampouco é maltratada e pelo que se depreende, se não é bela, é recatada e do lar na canção infantil: “A mulher do sapo,/ Que está lá dentro,/ Está fazendo renda, maninha,/ Para o casamento”.
O poeta Manuel Bandeira aproveitou a figura consuetudinária do sapo para insurgir-se contra os parnasianos, tidos por inimigos dos modernistas: “Enfunando os papos,/ Saem da penumbra,/ Aos pulos, os sapos,/ A luz os deslumbra”.
O grande vate pernambucano até parecia falar de deputados, senadores, ministros e outras figuras públicas, muitas das quais por demais deslumbradas com a luz da mídia de uns tempos para cá.
Que os sapos brasileiros de todos os banhados se entendam porque à la Manuel Bandeira, de novo, segmentos consideráveis da população foram embora para Pasárgada e outros estão prometendo ir: eles querem ser amigos do rei.
As Forças Armadas no Rio
Televisões ganharam prêmios internacionais, filmando centenas ou milhares daqueles criminosos, tentando se esconder em qualquer buraco, ou fugindo, se esperava para sempre. Mas a instalação das UPPs foi um fracasso. O próprio governador que teve a ideia, trocou tudo pelo formidável enriquecimento ilícito. E os bandidos voltaram em massa, mais poderosos, mais ferozes, muitas vezes com a cumplicidade dos que deviam combatê-los.
Os militares têm que deixar a orla, e subir os morros, onde estão os inimigos. Como fizeram a alguns anos, massacrando os traficantes criminosos. E expulsa-los, VIVOS ou MORTOS. E cuidar das fronteiras, por onde passa tudo que serve aos bandidos, incluindo armamento pesado, mais poderoso do que o da própria policia.
E os morros, limpos, entregues á administração civil. E aos seus milhões de moradores, gente boa, que se queixam do maior crime que praticam contra eles: PRECONCEITO.
Há gosto nisso?
Agosto chegou, com sua carga de superstições. Na política nacional, a marca do suicídio de Vargas, em 1954, e da renúncia de Jânio, em 1961, o tornou mês “aziago”.
Temer, a quem se atribui – injustamente, creio eu – proximidade com ocultismos, dia desses afirmou que “o aplauso é a voz mais eloquente do corpo”. Com a própria voz, propriamente dita, ele não anda bem: sabe o que disse, às escondidas, para o até então amigo, “maior produtor de proteína do mundo”, Joesley JBS. A ponto de seus defensores clamarem pelo esquecimento dessa conversa gravada “ilegalmente”. Melhor suprimi-la do que investigá-la, dizem os áulicos.
Indo às ruas, e não ao bunker do Comando Militar do Leste ou a auditórios de confederações empresariais, Temer e seus ministros receberiam o incômodo dos apupos.
Nada de pessoal: é questão política, econômica, social e de ética pública mesmo, como qualquer pesquisa indica. Quando 83% da população reprovam a maneira de Temer governar, estão vetando o modo peemedebista de agir na clientelista e retrógrada base do toma-lá-dá-cá. Como o balcão de liberação de emendas, oferta de cargos na máquina governamental e empenho em obras para atender aliados indica.
Sai caro “fidelizar” parlamentares da base de apoio... O saudoso deputado Nelson Trad, que conhecia o PMDB por ter passado bom tempo lá, classificou sarcasticamente isso, lá nos tempos do mensalão (que, lembre-se, tem sua origem no tucanato mineiro): “governabilidade do amor remunerado”.
Sem crendices rasteiras: agosto chega com Temer empenhado na sobrevivência de seu (des)governo, mesmo como “pato manco”. Seus escudeiros, que já foram 400, pensam é na reprodução de seus mandatos – até como blindagem para eventuais investigações. Quantos quererão se vincular, com o voto pelo engavetamento dessa primeira denúncia, à desconfiança de 87% da população, contrariando ao menos 8 de cada 10 brasileiro(a)s?
Agosto chega com a retomada de muitas mobilizações pelo país, contra a precarização de direitos, a violência crescente no campo e nas cidades e a “naturalização” da corrupção. Esse agosto do mal-estar na sociedade vai revelar também o repúdio ao cumprimento frouxo de decisões judiciais, como Geddel preso em domicílio sem qualquer fiscalização e Rocha Loures, o ligeirinho da mala, furando a fila da tornozeleira, a pedido do Ministério da Justiça, para garantir seu dolce far niente em casa.
Enquanto isso, atirando ao lixo a denúncia da PGR contra Temer, o Parlamento nacional se apressará em aprovar um novo Refis, que beneficiará diretamente 33 deputados e senadores, e empresas das quais 93 outros deles são sócios ou administradores. Além de fazer outras “reformas” que atingem os excluídos de sempre.
A isso Suas Excelências chamam “pauta para o Brasil avançar”. Xô, azar!
Temer, a quem se atribui – injustamente, creio eu – proximidade com ocultismos, dia desses afirmou que “o aplauso é a voz mais eloquente do corpo”. Com a própria voz, propriamente dita, ele não anda bem: sabe o que disse, às escondidas, para o até então amigo, “maior produtor de proteína do mundo”, Joesley JBS. A ponto de seus defensores clamarem pelo esquecimento dessa conversa gravada “ilegalmente”. Melhor suprimi-la do que investigá-la, dizem os áulicos.
Indo às ruas, e não ao bunker do Comando Militar do Leste ou a auditórios de confederações empresariais, Temer e seus ministros receberiam o incômodo dos apupos.
Nada de pessoal: é questão política, econômica, social e de ética pública mesmo, como qualquer pesquisa indica. Quando 83% da população reprovam a maneira de Temer governar, estão vetando o modo peemedebista de agir na clientelista e retrógrada base do toma-lá-dá-cá. Como o balcão de liberação de emendas, oferta de cargos na máquina governamental e empenho em obras para atender aliados indica.
Sai caro “fidelizar” parlamentares da base de apoio... O saudoso deputado Nelson Trad, que conhecia o PMDB por ter passado bom tempo lá, classificou sarcasticamente isso, lá nos tempos do mensalão (que, lembre-se, tem sua origem no tucanato mineiro): “governabilidade do amor remunerado”.
Sem crendices rasteiras: agosto chega com Temer empenhado na sobrevivência de seu (des)governo, mesmo como “pato manco”. Seus escudeiros, que já foram 400, pensam é na reprodução de seus mandatos – até como blindagem para eventuais investigações. Quantos quererão se vincular, com o voto pelo engavetamento dessa primeira denúncia, à desconfiança de 87% da população, contrariando ao menos 8 de cada 10 brasileiro(a)s?
Agosto chega com a retomada de muitas mobilizações pelo país, contra a precarização de direitos, a violência crescente no campo e nas cidades e a “naturalização” da corrupção. Esse agosto do mal-estar na sociedade vai revelar também o repúdio ao cumprimento frouxo de decisões judiciais, como Geddel preso em domicílio sem qualquer fiscalização e Rocha Loures, o ligeirinho da mala, furando a fila da tornozeleira, a pedido do Ministério da Justiça, para garantir seu dolce far niente em casa.
Enquanto isso, atirando ao lixo a denúncia da PGR contra Temer, o Parlamento nacional se apressará em aprovar um novo Refis, que beneficiará diretamente 33 deputados e senadores, e empresas das quais 93 outros deles são sócios ou administradores. Além de fazer outras “reformas” que atingem os excluídos de sempre.
A isso Suas Excelências chamam “pauta para o Brasil avançar”. Xô, azar!
Bonito seria corrigir
A maior crise enfrentada em nossos dias deriva essencialmente da voracidade de grupos econômicos que se associaram com líderes políticos e governantes para devorar o Estado. Aniquilaram assim o potencial de desenvolvimento nacional e, por tabela, geraram incalculáveis perdas sociais e injustiças.
Tem quem ache que o Brasil viveu bons momentos durante a fase de genuína cleptocracia e não consegue conectar a crise de agora aos desperdícios e rombos de apenas alguns anos atrás. Isso leva a crer que o erro se repetirá e se agravará.
As delações de empreiteiros e de figuras do submundo da roubalheira, que operaram o maior assalto à coisa pública já ocorrido no planeta, são elementos que, por meio de acordos baratos de leniência, voltarão em breve “ad delinquerem”. Alguns nunca pararam, confiando que aqui é o paraíso da corrupção que está sofrendo apenas uma desaceleração. Pau torto não se endireita, torto ficará para sempre ou até ser incinerado.
Partidos, ministérios e miríades de derivados de estatais parecem ter sido constituídos para dar fartura aos criminosos, e não para atender o cidadão em suas necessidades. O sacrifício do contribuinte evaporou-se inutilmente. A pátria foi arrombada, e nota-se que, quanto mais opulentos os arrombadores, mais ganância despudorada usaram.
Algumas interceptações telefônicas refletem a abominável cobiça que imperou e provavelmente ainda impera à sombra de renovados cuidados.
Não existem hoje ruínas de partido que possam lembrar os antigos esplendores ideológicos. Esquerda e direita apresentam-se como faces de uma moeda que apodreceu na passagem pelo poder e deixou seus fantasmas incapazes de conquistar a confiança das massas.
As intenções dos eleitores de agora não serão exatamente aquelas que se manifestaram numa campanha, mas precisam levar a sério que o sofrimento avassalador ofusca o intelecto e acende a revolta.
O que interessou aos corruptos foi o ganho, custe ou que custar. O resto ficou na irrelevância. Provavelmente, a insensibilidade, não de consciência calcificada, não permitiu concatenar os efeitos avassaladores que atingem o último elo da cadeia social, repleto de miserabilidades, de sofrimentos e de fome.
Parece que o patrimônio comum foi considerado um bolo de chocolate à disposição de quem o garfa primeiro e com maior ferocidade. Levados obcecadamente para manter o poder e se fartar temerariamente.
Os golpes se deram em expressiva parcela por meio das nomeações de apadrinhados nos principais entroncamentos das finanças públicas.
Como se dava nas cobranças de taxas e pedágios pela Coroa portuguesa nas principais vias hídricas que serviam de comunicação. Instalava-se antigamente um posto de controle armado ao longo dos rios, como aquele que resta nas margens do Jequitinhonha, lá onde acaba a região aurífera em Berilo, na erma localidade chamada Bonito.
Quem me levou a conhecer essa localidade foi o ex-prefeito João Tobinha. Chegamos lá atrasados, já na escuridão, e os poucos moradores fizeram uma festa com direito a um comício. Nunca tinham visto um deputado.
“Por que Bonito?”, perguntei. “Ora, aqui é Bonito mesmo”. Do alto do barranco se avistava, à luz do luar, um longo trecho do rio que se estreitava naquele ponto facilitando o enfrentamento de qualquer situação que rendia a cobrança de 20% aos mercadores que retornavam a Caravelas, localidade às margens do oceano na Bahia.
A Coroa apenas cobrava, sem nada fazer.
Mais recentemente os cargos cobiçados pelos líderes de partidos, mais que cabides de emprego, representam um posto avançado de cobrança de taxas, como em Bonito.
Ensina Eduardo Cunha que a cobrança se dava por meio dos apadrinhados fincados nos entroncamentos que mapeava cirurgicamente para extorquir suas propinas.
A desfaçatez e a ousadia se alongaram com outras fórmulas, como ameaçar abertura de CPI e vender o conforto da libertação do pesadelo.
Neste momento, em que as regras da corrupção se evidenciaram, o governo e o próprio Congresso deveriam legislar para que isso não se repita. Difícil!
Tem quem ache que o Brasil viveu bons momentos durante a fase de genuína cleptocracia e não consegue conectar a crise de agora aos desperdícios e rombos de apenas alguns anos atrás. Isso leva a crer que o erro se repetirá e se agravará.
As delações de empreiteiros e de figuras do submundo da roubalheira, que operaram o maior assalto à coisa pública já ocorrido no planeta, são elementos que, por meio de acordos baratos de leniência, voltarão em breve “ad delinquerem”. Alguns nunca pararam, confiando que aqui é o paraíso da corrupção que está sofrendo apenas uma desaceleração. Pau torto não se endireita, torto ficará para sempre ou até ser incinerado.
Algumas interceptações telefônicas refletem a abominável cobiça que imperou e provavelmente ainda impera à sombra de renovados cuidados.
Não existem hoje ruínas de partido que possam lembrar os antigos esplendores ideológicos. Esquerda e direita apresentam-se como faces de uma moeda que apodreceu na passagem pelo poder e deixou seus fantasmas incapazes de conquistar a confiança das massas.
As intenções dos eleitores de agora não serão exatamente aquelas que se manifestaram numa campanha, mas precisam levar a sério que o sofrimento avassalador ofusca o intelecto e acende a revolta.
O que interessou aos corruptos foi o ganho, custe ou que custar. O resto ficou na irrelevância. Provavelmente, a insensibilidade, não de consciência calcificada, não permitiu concatenar os efeitos avassaladores que atingem o último elo da cadeia social, repleto de miserabilidades, de sofrimentos e de fome.
Parece que o patrimônio comum foi considerado um bolo de chocolate à disposição de quem o garfa primeiro e com maior ferocidade. Levados obcecadamente para manter o poder e se fartar temerariamente.
Os golpes se deram em expressiva parcela por meio das nomeações de apadrinhados nos principais entroncamentos das finanças públicas.
Como se dava nas cobranças de taxas e pedágios pela Coroa portuguesa nas principais vias hídricas que serviam de comunicação. Instalava-se antigamente um posto de controle armado ao longo dos rios, como aquele que resta nas margens do Jequitinhonha, lá onde acaba a região aurífera em Berilo, na erma localidade chamada Bonito.
Quem me levou a conhecer essa localidade foi o ex-prefeito João Tobinha. Chegamos lá atrasados, já na escuridão, e os poucos moradores fizeram uma festa com direito a um comício. Nunca tinham visto um deputado.
“Por que Bonito?”, perguntei. “Ora, aqui é Bonito mesmo”. Do alto do barranco se avistava, à luz do luar, um longo trecho do rio que se estreitava naquele ponto facilitando o enfrentamento de qualquer situação que rendia a cobrança de 20% aos mercadores que retornavam a Caravelas, localidade às margens do oceano na Bahia.
A Coroa apenas cobrava, sem nada fazer.
Mais recentemente os cargos cobiçados pelos líderes de partidos, mais que cabides de emprego, representam um posto avançado de cobrança de taxas, como em Bonito.
Ensina Eduardo Cunha que a cobrança se dava por meio dos apadrinhados fincados nos entroncamentos que mapeava cirurgicamente para extorquir suas propinas.
A desfaçatez e a ousadia se alongaram com outras fórmulas, como ameaçar abertura de CPI e vender o conforto da libertação do pesadelo.
Neste momento, em que as regras da corrupção se evidenciaram, o governo e o próprio Congresso deveriam legislar para que isso não se repita. Difícil!
A voz das ruas
Michel Temer é um político estimado no Congresso. Sua habilidade como negociador foi demonstrada no período 1997 a 2009, quando ganhou três eleições para a presidência da Câmara — numa delas teve apoio até da oposição: candidato único, recebeu 422 dos 513 votos possíveis. Agradeceu, em discurso, e sugeriu aos deputados federais que fizessem seu trabalho “com os olhos voltados para as agruras das ruas”.
Às vésperas do julgamento político, Temer reafirma a destreza em negociações com os seus juízes no ambiente legislativo.
Temer já gastou o que não podia. Numa etapa de cofres vazios, torrou R$ 6 bilhões para atender aliados. Não é pouco. Essa dinheirama equivale a toda a receita esperada com o recente aumento da tributação sobre os preços dos combustíveis. Comprometeu R$ 4 bilhões para saldo no fim do ano. Outros R$ 2 bilhões foram pagos até quinta-feira passada, dia 27.
É o estilo Temer de negociar com o dinheiro alheio, isto é, dos contribuintes. Em 1997, venceu a eleição para a presidência da Câmara com a promessa de triplicar a verba de despesas de gabinete dos 513 deputados, mais um aumento nos gastos com assessorias, geralmente usadas para empregar cabos eleitorais.
Desta vez, cuidou de manter sua generosidade estendida às fileiras da oposição, onde se ouve um “Fora Temer!” a cada cinco minutos no plenário. Até quinta-feira passada, por exemplo, havia liberado em média R$ 3 milhões para cada um dos 85 parlamentares do seu PMDB (63 deputados e 22 senadores). Natural, por se tratar do partido do presidente que vai a julgamento político.
Magnânimo, Temer deu tratamento ainda melhor aos oposicionistas. Aos seis parlamentares do PSOL pagou em média R$ 3,8 milhões em emendas. Aos 67 do PT destinou R$ 2,7 milhões. E para os 13 do PCdoB liberou R$ 2,1 milhões. No Palácio do Planalto justifica-se com o “espírito democrático” do presidente.
Sempre que promete, Temer cumpre. E a conta é paga pelo Tesouro Nacional.
Sorrindo, negociando e distribuindo, nesses 75 dias desde que os repórteres Lauro Jardim e Guilherme Amado divulgaram o grampo sobre suas estranhas transações com Joesley Batista, Temer conseguiu reverter as expectativas na Câmara. Porém, ao contrário de 1997, já não pode sugerir aos deputados que votem com o olhos nas “agruras das ruas”
A voz das ruas virou clamor, de reprovação da massa de norte a sul, leste a oeste, em todas faixas de renda, escolaridade e sexo. Assim demonstram pesquisas realizadas na semana passada pelo Ibope/Avaaz e Idea/Agora!
Numa, a maioria absoluta (81%) se declara a favor do processo. Mais de dois terços (79%) acham a denúncia correta e, expressamente, consideram quem votar contra a abertura da investigação um cúmplice de corrupção. Acham (73%) autores de voto a favor do presidente na Câmara não merecem reeleição nas urnas.
Em outra pesquisa, a maioria (57%) diz claramente: políticos envolvidos em casos de corrupção, como os investigados na Operação Lava-Jato, não valem o voto na eleição do ano que vem.
Apoiar Temer pode ser rentável, mas virou negócio temerário: deputados correm o risco de brigar com o próprio eleitorado.
Às vésperas do julgamento político, Temer reafirma a destreza em negociações com os seus juízes no ambiente legislativo.
Temer já gastou o que não podia. Numa etapa de cofres vazios, torrou R$ 6 bilhões para atender aliados. Não é pouco. Essa dinheirama equivale a toda a receita esperada com o recente aumento da tributação sobre os preços dos combustíveis. Comprometeu R$ 4 bilhões para saldo no fim do ano. Outros R$ 2 bilhões foram pagos até quinta-feira passada, dia 27.
É o estilo Temer de negociar com o dinheiro alheio, isto é, dos contribuintes. Em 1997, venceu a eleição para a presidência da Câmara com a promessa de triplicar a verba de despesas de gabinete dos 513 deputados, mais um aumento nos gastos com assessorias, geralmente usadas para empregar cabos eleitorais.
Desta vez, cuidou de manter sua generosidade estendida às fileiras da oposição, onde se ouve um “Fora Temer!” a cada cinco minutos no plenário. Até quinta-feira passada, por exemplo, havia liberado em média R$ 3 milhões para cada um dos 85 parlamentares do seu PMDB (63 deputados e 22 senadores). Natural, por se tratar do partido do presidente que vai a julgamento político.
Magnânimo, Temer deu tratamento ainda melhor aos oposicionistas. Aos seis parlamentares do PSOL pagou em média R$ 3,8 milhões em emendas. Aos 67 do PT destinou R$ 2,7 milhões. E para os 13 do PCdoB liberou R$ 2,1 milhões. No Palácio do Planalto justifica-se com o “espírito democrático” do presidente.
Sempre que promete, Temer cumpre. E a conta é paga pelo Tesouro Nacional.
Sorrindo, negociando e distribuindo, nesses 75 dias desde que os repórteres Lauro Jardim e Guilherme Amado divulgaram o grampo sobre suas estranhas transações com Joesley Batista, Temer conseguiu reverter as expectativas na Câmara. Porém, ao contrário de 1997, já não pode sugerir aos deputados que votem com o olhos nas “agruras das ruas”
A voz das ruas virou clamor, de reprovação da massa de norte a sul, leste a oeste, em todas faixas de renda, escolaridade e sexo. Assim demonstram pesquisas realizadas na semana passada pelo Ibope/Avaaz e Idea/Agora!
Numa, a maioria absoluta (81%) se declara a favor do processo. Mais de dois terços (79%) acham a denúncia correta e, expressamente, consideram quem votar contra a abertura da investigação um cúmplice de corrupção. Acham (73%) autores de voto a favor do presidente na Câmara não merecem reeleição nas urnas.
Em outra pesquisa, a maioria (57%) diz claramente: políticos envolvidos em casos de corrupção, como os investigados na Operação Lava-Jato, não valem o voto na eleição do ano que vem.
Apoiar Temer pode ser rentável, mas virou negócio temerário: deputados correm o risco de brigar com o próprio eleitorado.
Alagoas homenageia a corrupção
O reitor Jairo José Campos, da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), está em maus lençóis depois que anunciou uma notícia que parecia brincadeira, mas que se confirmou como verdadeira pela sua própria boca. Ele vai dar o título de Doutor Honoris Causa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Filiado ao PCdoB, Campos foi ameaçado de morte se de fato realizar tal proeza a um cidadão condenado por chefiar uma organização criminosa. A decisão dele deixou o meio acadêmico do estado estarrecido. Outros agraciados advertem que cogitam devolver os títulos indignados com a homenagem a esse senhor condenado pela justiça.
O reitor está com medo e já foi à polícia prestar queixa. Avisou também ao governador Renan Filho que corre risco de vida, mas mesmo assim ele mantém a decisão de condecorar Lula. No estado a revolta é geral, a notícia caiu como uma bomba. Fala-se inclusive em protesto de rua para evitar que a universidade cometa essa excrescência, indecência. Essa extravagância extrema de bajulação utilizando-se de um órgão sustentado com o dinheiro público para cometer um ato de absoluta submissão.
Depois dessa atitude de servilismo explícito, o reitor deveria fazer uma nova proposta ao seu conselho: a criação de uma cadeira que iria ensinar aos seus alunos a teoria da corrupção em um dos estados mais miseráveis da federação. Quem sabe se num futuro próximo Alagoas não estaria exportando essa matéria prima brasileira para o resto do mundo.
Até agora ninguém se responsabilizou por essa ideia esdrúxula e pusilânime de condecorar o ex-presidente Lula. O reitor, depois das ameaças de morte, vive igual a barata tonta com medo de ser emboscado em um estado que tem fama de cumprir o que promete. E o telefonema não deixa dúvidas: “Se você fizer essa homenagem, no outro dia você morre”, disse a voz cavernosa, do outro lado da linha, para a secretária do reitor que repassou o recado abusado ao chefe.
E mais: o matador anônimo já avisou também que vai caçar um por um todos que fazem parte do Conselho Superior da Uneal e que acataram a sugestão do reitor para aprovar a tal honraria que estaria marcada para agosto, quando o ex-presidente faz uma viagem de campanha pelo Nordeste e um pit-stop em Maceió para visitar alguns de seus aliados. Se isso de fato acontecer, o reitor não terá mais sossego, pois vai precisar de segurança diariamente para evitar que alguém atente contra a sua vida. E o governo terá que disponibilizar policiais 24 horas por dia para protegê-lo com ônus para os cofres públicos, consequência de um ato despirocado de um professor trapalhão.
Na terra de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Aurélio Buarque de Holanda, Nise da Silveira, Audálio Dantas, Cacá Diégues, Ledo Ivo e outros nomes, que honram o estado onde nasceram, é difícil engolir essa decisão da universidade que vai de encontro ao que pensam os alagoanos éticos e honestos sobre os seus personagens que fizeram histórias na arte e na literatura mundo afora. Uma das solenidades de títulos Honoris Causa da universidade ocorreu em 2014, quando notáveis do estado que contribuíram para a cultura foram homenageados:
O jornalista e escritor José Marques de Melo; Audálio Dantas, ex-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas; a antropóloga Luitgarde Cavalcante; Moacir Palmeira; o historiador Moacir Sant’Ana; os advogados e ex-presidentes da OAB Marcello Lavenère e Hermann Assis Baeta; o poeta José Geraldo Marques; o antropólogo e historiador Dirceu Acioli Lindoso; e o professor Douglas Apratto.
No futuro, na parede da faculdade, esses notáveis vão aparecer ao lado de Lula, o ex-presidente condenado por corrupção e indiciado em mais outros quatro processos. Como todos os agraciados normalmente marcam sempre encontros casuais, pode se imaginar desde já que lá na frente a confraria agende o próximo convescote para um dos presídios de Curitiba.
Acorda, Alagoas!
O reitor está com medo e já foi à polícia prestar queixa. Avisou também ao governador Renan Filho que corre risco de vida, mas mesmo assim ele mantém a decisão de condecorar Lula. No estado a revolta é geral, a notícia caiu como uma bomba. Fala-se inclusive em protesto de rua para evitar que a universidade cometa essa excrescência, indecência. Essa extravagância extrema de bajulação utilizando-se de um órgão sustentado com o dinheiro público para cometer um ato de absoluta submissão.
Depois dessa atitude de servilismo explícito, o reitor deveria fazer uma nova proposta ao seu conselho: a criação de uma cadeira que iria ensinar aos seus alunos a teoria da corrupção em um dos estados mais miseráveis da federação. Quem sabe se num futuro próximo Alagoas não estaria exportando essa matéria prima brasileira para o resto do mundo.
Até agora ninguém se responsabilizou por essa ideia esdrúxula e pusilânime de condecorar o ex-presidente Lula. O reitor, depois das ameaças de morte, vive igual a barata tonta com medo de ser emboscado em um estado que tem fama de cumprir o que promete. E o telefonema não deixa dúvidas: “Se você fizer essa homenagem, no outro dia você morre”, disse a voz cavernosa, do outro lado da linha, para a secretária do reitor que repassou o recado abusado ao chefe.
E mais: o matador anônimo já avisou também que vai caçar um por um todos que fazem parte do Conselho Superior da Uneal e que acataram a sugestão do reitor para aprovar a tal honraria que estaria marcada para agosto, quando o ex-presidente faz uma viagem de campanha pelo Nordeste e um pit-stop em Maceió para visitar alguns de seus aliados. Se isso de fato acontecer, o reitor não terá mais sossego, pois vai precisar de segurança diariamente para evitar que alguém atente contra a sua vida. E o governo terá que disponibilizar policiais 24 horas por dia para protegê-lo com ônus para os cofres públicos, consequência de um ato despirocado de um professor trapalhão.
Na terra de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Aurélio Buarque de Holanda, Nise da Silveira, Audálio Dantas, Cacá Diégues, Ledo Ivo e outros nomes, que honram o estado onde nasceram, é difícil engolir essa decisão da universidade que vai de encontro ao que pensam os alagoanos éticos e honestos sobre os seus personagens que fizeram histórias na arte e na literatura mundo afora. Uma das solenidades de títulos Honoris Causa da universidade ocorreu em 2014, quando notáveis do estado que contribuíram para a cultura foram homenageados:
O jornalista e escritor José Marques de Melo; Audálio Dantas, ex-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas; a antropóloga Luitgarde Cavalcante; Moacir Palmeira; o historiador Moacir Sant’Ana; os advogados e ex-presidentes da OAB Marcello Lavenère e Hermann Assis Baeta; o poeta José Geraldo Marques; o antropólogo e historiador Dirceu Acioli Lindoso; e o professor Douglas Apratto.
No futuro, na parede da faculdade, esses notáveis vão aparecer ao lado de Lula, o ex-presidente condenado por corrupção e indiciado em mais outros quatro processos. Como todos os agraciados normalmente marcam sempre encontros casuais, pode se imaginar desde já que lá na frente a confraria agende o próximo convescote para um dos presídios de Curitiba.
Acorda, Alagoas!
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