sábado, 1 de novembro de 2025
Crime organizado não será combatido pelos gigolôs da violência
O estado de exceção é a antítese do Estado de Direito. Enquanto no Estado de Direito estamos todos submetidos ao império do direito, no estado de exceção imperam a violência e o arbítrio. Nestas quatro décadas de democracia não fomos capazes de universalizar o respeito às leis, especialmente para as populações pretas e pobres.
É cada vez maior o número de brasileiros que estão cotidianamente submetidos ao domínio perverso do crime organizado, que ocupa o vácuo deixado pelo Estado. Estima-se que facções criminosas e milícias dominem hoje mais de 20% da região metropolitana do Rio de Janeiro, explorando não apenas o tráfico mas todos os tipos de atividade. O Rio, no entanto, é apenas a ponta do iceberg.
O fato é que, onde o Estado não impõe a lei e não constrói estruturas elementares de urbanização ou políticas básicas de bem-estar, o crime se impõe. O tráfico e as milícias assumem o controle sobre todas as atividades econômicas, espoliando e subordinando a população.
A macabra operação que resultou na morte de mais de cem pessoas, entre as quais quatro policiais, é uma expressão do fracasso retumbante e reiterado do Estado brasileiro em assegurar o direito fundamental à segurança dos seus cidadãos. Retrata ainda um Estado que, muitas vezes, reproduz os padrões de violência e arbítrio praticados cotidianamente pelos criminosos.
Quantas foram as megaoperações e intervenções nas comunidades nas últimas décadas? O que trouxeram de bom para essas comunidades? Com exceção do frustrado plano de retomada dos territórios, para a instalação de UPP e promoção de políticas públicas nas comunidades, que benefícios geraram? A resposta é simples: não contribuíram em nada! Ou pior, apenas contribuíram para aprofundar um perverso ciclo de violência.
Apesar disso, não surpreende que a imensa maioria dos moradores dessas comunidades apoiem essas operações. Essas populações estão encurraladas pelo crime, que brutaliza as suas vidas e rouba o futuro de seus jovens. Qualquer movimento contra o crime, por mais inócuo ou contraproducente que seja, será aplaudido.
O assanhamento de alguns governadores do campo conservador para se solidarizar com Cláudio Castro sinaliza o potencial eleitoral dessa necropolítica. O empenho desses políticos em bloquear qualquer tentativa de modernização das polícias ou de construir uma política nacional e integrada de segurança pública, com emprego intensivo de tecnologia e inteligência policial, é emblemático de seu baixíssimo interesse em verdadeiramente enfrentar o problema da criminalidade.
Do outro lado do espectro político, também pouquíssimo fez o campo progressista de efetivo para qualificar as políticas públicas de segurança e fortalecer as instituições de aplicação da lei. Diversas das meritórias iniciativas, muitas delas construídas pela interação entre bons policiais, pesquisadores e organizações da sociedade civil, foram rapidamente abandonadas ou negligenciadas diante dos elevados custos eleitorais que apresentavam. O sucesso na redução de homicídios em alguns estados, como São Paulo, na década passada, não gerou um ciclo virtuoso de controle da criminalidade em outras regiões.
O desafio número 1 da democracia brasileira, neste momento, é enfrentar o crime organizado antes que ele domine as estruturas políticas e institucionais do país e colocar em prática efetivas políticas públicas de segurança, que permitam às pessoas viver em paz.
Certamente não serão os gigolôs da violência que realizarão essa tarefa. Cumpre saber se aqueles que se dizem comprometidos com o Estado de Direito terão disposição e competência para fazê-lo.
É cada vez maior o número de brasileiros que estão cotidianamente submetidos ao domínio perverso do crime organizado, que ocupa o vácuo deixado pelo Estado. Estima-se que facções criminosas e milícias dominem hoje mais de 20% da região metropolitana do Rio de Janeiro, explorando não apenas o tráfico mas todos os tipos de atividade. O Rio, no entanto, é apenas a ponta do iceberg.
O fato é que, onde o Estado não impõe a lei e não constrói estruturas elementares de urbanização ou políticas básicas de bem-estar, o crime se impõe. O tráfico e as milícias assumem o controle sobre todas as atividades econômicas, espoliando e subordinando a população.
A macabra operação que resultou na morte de mais de cem pessoas, entre as quais quatro policiais, é uma expressão do fracasso retumbante e reiterado do Estado brasileiro em assegurar o direito fundamental à segurança dos seus cidadãos. Retrata ainda um Estado que, muitas vezes, reproduz os padrões de violência e arbítrio praticados cotidianamente pelos criminosos.
Quantas foram as megaoperações e intervenções nas comunidades nas últimas décadas? O que trouxeram de bom para essas comunidades? Com exceção do frustrado plano de retomada dos territórios, para a instalação de UPP e promoção de políticas públicas nas comunidades, que benefícios geraram? A resposta é simples: não contribuíram em nada! Ou pior, apenas contribuíram para aprofundar um perverso ciclo de violência.
Apesar disso, não surpreende que a imensa maioria dos moradores dessas comunidades apoiem essas operações. Essas populações estão encurraladas pelo crime, que brutaliza as suas vidas e rouba o futuro de seus jovens. Qualquer movimento contra o crime, por mais inócuo ou contraproducente que seja, será aplaudido.
O assanhamento de alguns governadores do campo conservador para se solidarizar com Cláudio Castro sinaliza o potencial eleitoral dessa necropolítica. O empenho desses políticos em bloquear qualquer tentativa de modernização das polícias ou de construir uma política nacional e integrada de segurança pública, com emprego intensivo de tecnologia e inteligência policial, é emblemático de seu baixíssimo interesse em verdadeiramente enfrentar o problema da criminalidade.
Do outro lado do espectro político, também pouquíssimo fez o campo progressista de efetivo para qualificar as políticas públicas de segurança e fortalecer as instituições de aplicação da lei. Diversas das meritórias iniciativas, muitas delas construídas pela interação entre bons policiais, pesquisadores e organizações da sociedade civil, foram rapidamente abandonadas ou negligenciadas diante dos elevados custos eleitorais que apresentavam. O sucesso na redução de homicídios em alguns estados, como São Paulo, na década passada, não gerou um ciclo virtuoso de controle da criminalidade em outras regiões.
O desafio número 1 da democracia brasileira, neste momento, é enfrentar o crime organizado antes que ele domine as estruturas políticas e institucionais do país e colocar em prática efetivas políticas públicas de segurança, que permitam às pessoas viver em paz.
Certamente não serão os gigolôs da violência que realizarão essa tarefa. Cumpre saber se aqueles que se dizem comprometidos com o Estado de Direito terão disposição e competência para fazê-lo.
Todos que apoiam a chacina são fascistas?
A foto dos corpos alinhados no chão não pede legenda. Foi chacina. Chacina não é um desastre natural que mata por acaso, como um terremoto ou uma enchente. A operação comandada pelo governador do Rio, Cláudio Castro, teve planejamento, fuzil, aval e coletiva de imprensa. É bom lembrar que no Brasil não existe pena de morte –oficialmente, não.
As reações, como sempre, vieram no automático da nossa rinha: um lado romantiza a violência estatal, o outro finge que segurança pública se resolve com discurso. Tratar morto como "dano colateral" é covardia travestida de coragem. E, ainda assim, há algo que precisa ser dito com a mesma franqueza: para parte de quem aplaude, não é ideologia — é desespero.
Uma pesquisa da AtlasIntel, divulgada na sexta-feira, mostra que oito em cada 10 moradores de favelas do Rio de Janeiro apoiam a "ação" contra o Comando Vermelho nos Complexos da Penha e do Alemão. Sim, foi uma chacina. Portanto, é preciso olhar com mais atenção porque tanta gente aplaude o discurso criminoso de que a mortandade produzida pelo Estado foi um sucesso.
Humanizar a crítica à brutalidade policial inclui olhar com sensibilidade para uma parte de quem apoiou a operação: os moradores de favela. É preciso se compadecer das mães que enterram filhos, enxergar as famílias que perderam gente primeiro para o crime e depois para o Estado, ao mesmo tempo em que se reconhece que o diagnóstico do problema é muito mais complexo do que tratar a todos como militantes de extrema direita.
Sim, Arthur do Val, ex-deputado, que acha que mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres", é um fascista, que bota na conta das mães periféricas a morte de seus próprios filhos. Nikolas Ferreira (PL), para quem é "só matar outros 120", é outro. A lista de políticos, de celebridades, de gente comum que prefere atropelar o Estado democrático de Direito é grande. Uma turma para quem a solução para a criminalidade nos morros deve ser bala e concreto em cima.
Eu me refiro a milhões de pessoas no país que vivem sob a lei do fuzil: pagam "mensalidade" para abrir o portão, compram luz de bandido, internet de miliciano, água de atravessador. Conheço histórias de quem, aos 50, teve infarto depois de abandonar casa e comércio tomados por traficantes. Mulher obrigada a "namorar" homem armado. Dentista extorquido em pleno expediente. A rotina é essa: medo como regra. Nessa trincheira, a promessa de "entrar atirando" soa, para muitos, como a única saída.
É fácil dizer que são todos fascistas. É confortável —e preguiçoso. O Brasil é conservador, e se agarra a respostas autoritárias quando o Estado some. Da mesma forma que é miopia achar que "direita" é sinônimo de gente endinheirada, é delírio imaginar que só um punhado de extremistas vibrou com a operação.
Foi chacina, sim, chacina, assinada pela polícia do Rio. Mas também não me peça cegueira: reagir à dor com carimbo ideológico é elitismo. Relacionar, de forma automática, a extrema direita à reação de quem só enxerga na barbárie a resposta para a violência é lavar as mãos. Quem vive entre toque de recolher e "lei" paralela quer viver. E quando o Estado só aparece de caveirão, a fantasia de redenção à base de pólvora ganha aplauso.
A esquerda paga caro por ter abandonado o tema. Segurança pública não é pauta "do outro"; é obrigação de governo. Dá para defender direitos e cobrar eficácia. Investigação independente, controle externo das polícias, metas públicas de redução de homicídios, inteligência para desarticular milícia, ocupação social de território, transparência e auditoria de operação não são palavrões, são o mínimo. O que não dá é seguir no ciclo: megaoperação, mortos, coletiva, silêncio, reprise.
Então, à pergunta do título: não, nem todo apoio à chacina é de extrema direita. Parte é medo antigo, dor acumulada e certeza de abandono. Dito isso, nomear o que aconteceu é inegociável. Foi chacina. E quem governa precisa escolher entre o show de horrores que rende manchete e a política que dá trabalho. Enquanto a gente continuar discutindo etiqueta ideológica, a fila de corpos continuará avançando e a única coisa realmente "limpa" será a consciência de quem nunca precisou escolher entre obedecer ao fuzil do crime ou ao fuzil do Estado.
As reações, como sempre, vieram no automático da nossa rinha: um lado romantiza a violência estatal, o outro finge que segurança pública se resolve com discurso. Tratar morto como "dano colateral" é covardia travestida de coragem. E, ainda assim, há algo que precisa ser dito com a mesma franqueza: para parte de quem aplaude, não é ideologia — é desespero.
Uma pesquisa da AtlasIntel, divulgada na sexta-feira, mostra que oito em cada 10 moradores de favelas do Rio de Janeiro apoiam a "ação" contra o Comando Vermelho nos Complexos da Penha e do Alemão. Sim, foi uma chacina. Portanto, é preciso olhar com mais atenção porque tanta gente aplaude o discurso criminoso de que a mortandade produzida pelo Estado foi um sucesso.
Humanizar a crítica à brutalidade policial inclui olhar com sensibilidade para uma parte de quem apoiou a operação: os moradores de favela. É preciso se compadecer das mães que enterram filhos, enxergar as famílias que perderam gente primeiro para o crime e depois para o Estado, ao mesmo tempo em que se reconhece que o diagnóstico do problema é muito mais complexo do que tratar a todos como militantes de extrema direita.
Sim, Arthur do Val, ex-deputado, que acha que mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres", é um fascista, que bota na conta das mães periféricas a morte de seus próprios filhos. Nikolas Ferreira (PL), para quem é "só matar outros 120", é outro. A lista de políticos, de celebridades, de gente comum que prefere atropelar o Estado democrático de Direito é grande. Uma turma para quem a solução para a criminalidade nos morros deve ser bala e concreto em cima.
Eu me refiro a milhões de pessoas no país que vivem sob a lei do fuzil: pagam "mensalidade" para abrir o portão, compram luz de bandido, internet de miliciano, água de atravessador. Conheço histórias de quem, aos 50, teve infarto depois de abandonar casa e comércio tomados por traficantes. Mulher obrigada a "namorar" homem armado. Dentista extorquido em pleno expediente. A rotina é essa: medo como regra. Nessa trincheira, a promessa de "entrar atirando" soa, para muitos, como a única saída.
É fácil dizer que são todos fascistas. É confortável —e preguiçoso. O Brasil é conservador, e se agarra a respostas autoritárias quando o Estado some. Da mesma forma que é miopia achar que "direita" é sinônimo de gente endinheirada, é delírio imaginar que só um punhado de extremistas vibrou com a operação.
Foi chacina, sim, chacina, assinada pela polícia do Rio. Mas também não me peça cegueira: reagir à dor com carimbo ideológico é elitismo. Relacionar, de forma automática, a extrema direita à reação de quem só enxerga na barbárie a resposta para a violência é lavar as mãos. Quem vive entre toque de recolher e "lei" paralela quer viver. E quando o Estado só aparece de caveirão, a fantasia de redenção à base de pólvora ganha aplauso.
A esquerda paga caro por ter abandonado o tema. Segurança pública não é pauta "do outro"; é obrigação de governo. Dá para defender direitos e cobrar eficácia. Investigação independente, controle externo das polícias, metas públicas de redução de homicídios, inteligência para desarticular milícia, ocupação social de território, transparência e auditoria de operação não são palavrões, são o mínimo. O que não dá é seguir no ciclo: megaoperação, mortos, coletiva, silêncio, reprise.
Então, à pergunta do título: não, nem todo apoio à chacina é de extrema direita. Parte é medo antigo, dor acumulada e certeza de abandono. Dito isso, nomear o que aconteceu é inegociável. Foi chacina. E quem governa precisa escolher entre o show de horrores que rende manchete e a política que dá trabalho. Enquanto a gente continuar discutindo etiqueta ideológica, a fila de corpos continuará avançando e a única coisa realmente "limpa" será a consciência de quem nunca precisou escolher entre obedecer ao fuzil do crime ou ao fuzil do Estado.
Nós, o povo da República Federativa do Brasil, estabelecemos que…
Governadores bolsonaristas de sete estados se reúnem para manifestar seu apoio ao destemido Cláudio Castro, do PL de Bolsonaro, aspirante a senador nas próximas eleições.
Parabenizam o governador pela matança de 121 pessoas no Rio de Janeiro e aproveitam o momento para anunciar a criação do que passaram a chamar de “Consórcio da Paz”. Que servirá para quê?
Para articular, segundo eles, ações conjuntas contra o crime organizado. Ações que a propósito de restabelecer a paz no país empreguem, se necessário, o uso da força bruta.
Bandidos serão mortos com um tiro na cabecinha ou em qualquer outro lugar vital do corpo? Sim, serão mortos. E não somente eles, mas simples suspeitos, com ou sem antecedentes criminais.
O Brasil está repleto de políticos, empresários, até ex-presidentes da República com antecedentes criminais. Alguns condenados ou à espera de ser. Mas o tratamento reservado para eles é outro.
Inocentes serão mortos? Bem, a princípio não. Mas numa batalha na mata, por exemplo, é difícil distinguir quem é quem. Daí a expressão “danos colaterais”. Sinto muito, mas é assim.
Quanto ao fato de que a Constituição brasileira veda a pena de morte e assegura o direito do bandido de receber pena proporcional a seu crime… A Constituição precisa ser atualizada.
Todo documento envelhece. Aqui, o Congresso vive reescrevendo a Constituição em ritmo alucinante. Deveria também rever os artigos que limitam o uso da violência contra bandidos e suspeitos.
Enquanto não o fizer, os guerreiros do “Consórcio da Paz” terão de persegui-los e matá-los. A sociedade os compreenderá. Não lhes faltará apoio. É o que dizem as pesquisas.
Bandido morto é bandido bom como todos sabem. Quem discorda? Suspeito morto, doravante, é suspeito bom. Inocente morto é dano colateral. Vida que segue, Mortes que sigam.
Nós, o povo da República Federativa do Brasil, solenemente autorizamos.
Parabenizam o governador pela matança de 121 pessoas no Rio de Janeiro e aproveitam o momento para anunciar a criação do que passaram a chamar de “Consórcio da Paz”. Que servirá para quê?
Para articular, segundo eles, ações conjuntas contra o crime organizado. Ações que a propósito de restabelecer a paz no país empreguem, se necessário, o uso da força bruta.
Bandidos serão mortos com um tiro na cabecinha ou em qualquer outro lugar vital do corpo? Sim, serão mortos. E não somente eles, mas simples suspeitos, com ou sem antecedentes criminais.
O Brasil está repleto de políticos, empresários, até ex-presidentes da República com antecedentes criminais. Alguns condenados ou à espera de ser. Mas o tratamento reservado para eles é outro.
Inocentes serão mortos? Bem, a princípio não. Mas numa batalha na mata, por exemplo, é difícil distinguir quem é quem. Daí a expressão “danos colaterais”. Sinto muito, mas é assim.
Quanto ao fato de que a Constituição brasileira veda a pena de morte e assegura o direito do bandido de receber pena proporcional a seu crime… A Constituição precisa ser atualizada.
Todo documento envelhece. Aqui, o Congresso vive reescrevendo a Constituição em ritmo alucinante. Deveria também rever os artigos que limitam o uso da violência contra bandidos e suspeitos.
Enquanto não o fizer, os guerreiros do “Consórcio da Paz” terão de persegui-los e matá-los. A sociedade os compreenderá. Não lhes faltará apoio. É o que dizem as pesquisas.
Bandido morto é bandido bom como todos sabem. Quem discorda? Suspeito morto, doravante, é suspeito bom. Inocente morto é dano colateral. Vida que segue, Mortes que sigam.
Nós, o povo da República Federativa do Brasil, solenemente autorizamos.
Casa-grande x senzala
Segurança pública no Brasil tem sido para proteger a casa-grande e para atacar e conter a senzala.
Ricardo Brisolla Balestreri, ex-secretário nacional de Segurança Pública entre 2008 e 2011
Ricardo Brisolla Balestreri, ex-secretário nacional de Segurança Pública entre 2008 e 2011
A desinformação alimenta a retórica racista e anti-palestina
Em meio a um frágil cessar-fogo que já foi violado diversas vezes , a desinformação, a propaganda e o racismo anti-palestinos continuam a se espalhar amplamente online.
A desinformação e a propaganda anti-palestina estão sendo usadas como arma "para justificar os crimes que estão sendo cometidos", disse Jalal Abukhater, diretor de políticas da 7amleh , o Centro Árabe para o Avanço das Redes Sociais, à DW Fact Check .
Desde os ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, as ações militares israelenses resultaram na morte de pelo menos 68.000 palestinos em Gaza , segundo a Autoridade de Saúde de Gaza. Uma comissão de inquérito da ONU e a Associação Internacional de Acadêmicos sobre Genocídio determinaram que a conduta de Israel constitui genocídio.
De acordo com o Instituto para a Compreensão do Racismo Anti-Palestino (IUAPR), esse fenômeno é "uma forma de racismo anti-árabe que silencia, exclui, apaga, estereotipa, difama ou desumaniza os palestinos ou suas narrativas". Embora as definições específicas e os mecanismos de denúncia variem, diversas organizações que monitoram os incidentes relatados de racismo anti-palestino afirmam que estes aumentaram consideravelmente desde os ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023 .
Especialistas apontam que o fenômeno do racismo anti-palestino tem crescido ao longo da história. "Tem suas raízes no discurso colonial e orientalista", disse Asmaa El Idrissi, advogada e professora da Universidade de Ciências Aplicadas de Bochum.
"Se você examinar a literatura de 100 anos atrás, encontrará exatamente os mesmos estereótipos que agora estão ressurgindo contra os palestinos: árabes ou muçulmanos como irracionais e atrasados."
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos , árabes e muçulmanos passaram a ser retratados cada vez mais como perigosos e simpáticos ao terrorismo, explica El Idrissi. Esses estereótipos continuam a influenciar a percepção pública e as políticas públicas.
Um dos contextos históricos mais importantes para a compreensão do sentimento anti-palestino é a negação da Nakba , apontam especialistas em direito. Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi declarado no território da Palestina, então sob mandato britânico. A Nakba , que em árabe significa "catástrofe ", refere-se ao deslocamento em massa e à expropriação de palestinos durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948.
Segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina , mais de 800 mil palestinos foram expulsos de sua terra natal e pelo menos 15 mil morreram durante a Nakba . No entanto, a Nakba é frequentemente negada ou ignorada. Em um caso que recebeu significativa atenção da mídia, a embaixadora de Israel no Reino Unido, Tzipi Hotovely, afirmou em um discurso no final de 2020 que a Nakba era "uma mentira árabe muito arraigada e muito popular".
"A negação da Nakba serve como argumento central para deslegitimar qualquer reivindicação por igualdade de direitos e uma vida livre", explica El Idrissi.
O advogado e professor enfatiza que o combate à desinformação, à propaganda e ao racismo contra os palestinos exige educação, conhecimento histórico e o questionamento de pontos-chave: "Qual é a história da Palestina ? Qual é a história da Alemanha ? E que obrigação legal e moral a história alemã impõe a esse conflito?"
Uma das narrativas falsas mais persistentes dos últimos anos é a equiparação de todos os palestinos ao Hamas . Assim, uma pesquisa realizada pelo Accord Center entre cidadãos israelenses em agosto de 2025 revelou que 62% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que "não há inocentes em Gaza".
Embora o Hamas seja um partido político com um braço armado e classificado como organização terrorista pela UE, Alemanha e outros países, o partido foi eleito nas últimas eleições regionais em 2006, embora não tenha conquistado a maioria dos votos. Desde então, não foram realizadas eleições regionais devido às divisões políticas não resolvidas entre o Hamas e o Fatah , partido político que controla a Autoridade Palestina na Cisjordânia , bem como à contínua ocupação e bloqueio israelenses.
Essa narrativa que equipara todos os palestinos ao Hamas está sendo usada indevidamente para justificar a "punição coletiva", que é "essencialmente insustentável sob o direito internacional", enfatiza El Idrissi.
Especialistas apontam que uma das consequências é que as mortes de civis em Gaza são frequentemente minimizadas e, portanto, não são noticiadas. Abukhater dá um exemplo: se um carro ou uma tenda for bombardeado ou atacado em Gaza, "alguém pode dizer que talvez houvesse um membro do Hamas naquele veículo onde cinco crianças foram mortas". E isso seria suficiente para que dissessem: "Vamos passar para a próxima notícia".
Especialistas alertam que o preconceito anti-palestino é alimentado pela cobertura racista da mídia e vice-versa. A pesquisadora palestina Hanan Sahmoud destaca como a mídia europeia frequentemente "retrata os palestinos como selvagens".
O público em geral tende a adotar essas perspectivas desumanizantes em um ciclo vicioso. Usuários de redes sociais frequentemente descrevem palestinos como ratos, e há exemplos de autoridades israelenses fazendo o mesmo.
Dois dias após os ataques de 7 de outubro de 2023, Yoav Gallant, então Ministro da Defesa de Israel, declarou: "Ordenei um cerco total à Faixa de Gaza . Não haverá eletricidade, comida ou combustível. Tudo está paralisado. Estamos lutando contra seres desumanos e estamos agindo de acordo."
Especialistas concordam que essa desumanização reduz a empatia pelos outros. "Tudo isso leva ao que é conhecido como lacuna de empatia , que, por sua vez, justifica o tratamento desigual", explica El Idrissi.
Esses ciclos foram alimentados, por exemplo, pela desinformação seletiva sobre a fome em Gaza em 2025. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que não havia fome no território e que as crianças apenas aparentavam estar desnutridas devido a doenças preexistentes, e não porque seu governo estivesse bloqueando a entrada de ajuda humanitária e alimentos em Gaza.
Os pesquisadores entrevistados pela DW indicam que esse ciclo está enraizado em "informações" fabricadas e justificativas "morais" que apresentam a guerra como justa e necessária. Há também um crescente conjunto de evidências demonstrando que a desinformação e a informação errônea são componentes-chave na incitação à violência e às guerras em todo o mundo. No caso da guerra em Gaza, a propaganda e a desumanização dos palestinos caminham juntas, concluem os pesquisadores.
Segundo a Associação Canadense de Advogados Árabes (CALA) , essa desumanização é um fenômeno típico do racismo anti-palestino . A primeira descrição conhecida de racismo anti-palestino foi publicada pela CALA em abril de 2022. O racismo, em si, é a crença de que "algumas raças são inerentemente superiores a outras", conforme definido por acadêmicos (como a Enciclopédia do Holocausto ) e organizações como o Centro Anne Frank .
A ONU condena a violência policial em manifestações pró-Palestina na Alemanha.
Essa dinâmica também é observada na Alemanha . Muitos meios de comunicação retratam os palestinos e aqueles que se solidarizam com eles como perigosos, aponta El Idrissi, e os descrevem falsamente como violentos, antissemitas e antidemocráticos. Abukhater acrescenta: "É uma suposição muito racista dizer que qualquer pessoa que defenda os direitos palestinos é 'pró-terrorista'".
Essas suposições também são comprovadas pela violência policial amplamente documentada contra manifestantes pró-Palestina e pela cobertura midiática desses incidentes. "Estamos alarmados com o padrão persistente de violência policial e a aparente repressão ao ativismo de solidariedade pró-Palestina por parte da Alemanha", afirmaram especialistas da ONU em um comunicado à imprensa em 16 de outubro. Nos últimos anos, manifestantes pró-Palestina na Alemanha relataram repetidamente ter sofrido violência policial, alguns ficando feridos e necessitando de atendimento médico.
Em 15 de maio de 2025, durante as comemorações do Dia da Nakba em Berlim, a mídia alemã noticiou amplamente que manifestantes haviam ferido gravemente um policial. Uma investigação posterior realizada pela Forensis, uma ONG sediada em Berlim, revelou o contrário: os manifestantes foram vítimas de violência policial.
Outro problema fundamental é que a mídia se baseia principalmente em declarações do Exército e do Governo de Israel, tratando-as como fatos sem a devida verificação, citação ou análise crítica.
Um estudo de quase 4.853 manchetes na mídia alemã entre 7 de outubro de 2023 e 19 de janeiro de 2025 mostra que muitos dos principais veículos de comunicação alemães dependem principalmente ou exclusivamente de fontes oficiais israelenses para noticiar o Oriente Médio.
Por exemplo, em agosto, Israel assassinou o jornalista Anas al-Sharif, de 28 anos, em Gaza . O exército israelense alegou, sem provas, que al-Sharif liderava uma célula do Hamas; diversos veículos da mídia alemã, incluindo o tabloide Bild , repetiram a alegação como fato, apesar da falta de provas.
As plataformas de redes sociais também desempenham um papel significativo no aumento do conteúdo anti-palestino. A desinformação apela às emoções, e os algoritmos frequentemente promovem conteúdo de extrema-direita e extremista. "Sabemos que o conteúdo de extrema-direita ou extremista é impulsionado pelo algoritmo ", afirma El Idrissi.
Propaganda paga e publicidade tendenciosa também são aceitas e disseminadas pelas plataformas de mídia social. Uma investigação conduzida em setembro pela DW Fact Check e membros da European News Spotlight revelou que Israel gastou pelo menos € 42 milhões (US$ 49 milhões) em anúncios de propaganda anti-palestina.
Em 22 de agosto, no mesmo dia em que a Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), uma iniciativa da ONU, anunciou que grandes áreas da Faixa de Gaza sofriam de "fome causada pelo homem" e que "a fome está presente e se espalhando rapidamente", a agência de publicidade do governo israelense lançou uma nova campanha negando a fome.
Recentemente, a Meta, empresa controladora do Facebook e do Instagram, reduziu seus programas de verificação de fatos por terceiros em muitos países. Uma reportagem da 7amleh mostra que os sistemas de publicidade da Meta aprovaram e lucraram com conteúdo violento e incitador em 2023 e 2025, aceitando-o como publicidade paga. Reportagens recentes também revelam que Israel investiu pelo menos US$ 6 milhões para treinar o ChatGPT a seu favor.
O que as sociedades podem fazer para combater a propaganda anti-palestina e o racismo? Abukhater, pesquisador da 7amleh, afirma que é crucial dar aos palestinos a oportunidade de contar suas próprias histórias.
Em muitos meios de comunicação, "muito se fala sobre os palestinos, sem que eles próprios tenham voz". Além de melhorar a representatividade, a mídia deveria examinar os preconceitos pessoais e estruturais, sugere ela.
E conclui: "Deveria haver mais debate sobre o racismo anti-palestino, reconhecendo-o como um conceito, analisando sua semântica e como ele é geralmente usado para desumanizar e acusar todos os palestinos."
A desinformação e a propaganda anti-palestina estão sendo usadas como arma "para justificar os crimes que estão sendo cometidos", disse Jalal Abukhater, diretor de políticas da 7amleh , o Centro Árabe para o Avanço das Redes Sociais, à DW Fact Check .
Desde os ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, as ações militares israelenses resultaram na morte de pelo menos 68.000 palestinos em Gaza , segundo a Autoridade de Saúde de Gaza. Uma comissão de inquérito da ONU e a Associação Internacional de Acadêmicos sobre Genocídio determinaram que a conduta de Israel constitui genocídio.
De acordo com o Instituto para a Compreensão do Racismo Anti-Palestino (IUAPR), esse fenômeno é "uma forma de racismo anti-árabe que silencia, exclui, apaga, estereotipa, difama ou desumaniza os palestinos ou suas narrativas". Embora as definições específicas e os mecanismos de denúncia variem, diversas organizações que monitoram os incidentes relatados de racismo anti-palestino afirmam que estes aumentaram consideravelmente desde os ataques liderados pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023 .
Especialistas apontam que o fenômeno do racismo anti-palestino tem crescido ao longo da história. "Tem suas raízes no discurso colonial e orientalista", disse Asmaa El Idrissi, advogada e professora da Universidade de Ciências Aplicadas de Bochum.
"Se você examinar a literatura de 100 anos atrás, encontrará exatamente os mesmos estereótipos que agora estão ressurgindo contra os palestinos: árabes ou muçulmanos como irracionais e atrasados."
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos , árabes e muçulmanos passaram a ser retratados cada vez mais como perigosos e simpáticos ao terrorismo, explica El Idrissi. Esses estereótipos continuam a influenciar a percepção pública e as políticas públicas.
Um dos contextos históricos mais importantes para a compreensão do sentimento anti-palestino é a negação da Nakba , apontam especialistas em direito. Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel foi declarado no território da Palestina, então sob mandato britânico. A Nakba , que em árabe significa "catástrofe ", refere-se ao deslocamento em massa e à expropriação de palestinos durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948.
Segundo o Escritório Central de Estatísticas da Palestina , mais de 800 mil palestinos foram expulsos de sua terra natal e pelo menos 15 mil morreram durante a Nakba . No entanto, a Nakba é frequentemente negada ou ignorada. Em um caso que recebeu significativa atenção da mídia, a embaixadora de Israel no Reino Unido, Tzipi Hotovely, afirmou em um discurso no final de 2020 que a Nakba era "uma mentira árabe muito arraigada e muito popular".
"A negação da Nakba serve como argumento central para deslegitimar qualquer reivindicação por igualdade de direitos e uma vida livre", explica El Idrissi.
O advogado e professor enfatiza que o combate à desinformação, à propaganda e ao racismo contra os palestinos exige educação, conhecimento histórico e o questionamento de pontos-chave: "Qual é a história da Palestina ? Qual é a história da Alemanha ? E que obrigação legal e moral a história alemã impõe a esse conflito?"
Uma das narrativas falsas mais persistentes dos últimos anos é a equiparação de todos os palestinos ao Hamas . Assim, uma pesquisa realizada pelo Accord Center entre cidadãos israelenses em agosto de 2025 revelou que 62% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que "não há inocentes em Gaza".
Embora o Hamas seja um partido político com um braço armado e classificado como organização terrorista pela UE, Alemanha e outros países, o partido foi eleito nas últimas eleições regionais em 2006, embora não tenha conquistado a maioria dos votos. Desde então, não foram realizadas eleições regionais devido às divisões políticas não resolvidas entre o Hamas e o Fatah , partido político que controla a Autoridade Palestina na Cisjordânia , bem como à contínua ocupação e bloqueio israelenses.
Essa narrativa que equipara todos os palestinos ao Hamas está sendo usada indevidamente para justificar a "punição coletiva", que é "essencialmente insustentável sob o direito internacional", enfatiza El Idrissi.
Especialistas apontam que uma das consequências é que as mortes de civis em Gaza são frequentemente minimizadas e, portanto, não são noticiadas. Abukhater dá um exemplo: se um carro ou uma tenda for bombardeado ou atacado em Gaza, "alguém pode dizer que talvez houvesse um membro do Hamas naquele veículo onde cinco crianças foram mortas". E isso seria suficiente para que dissessem: "Vamos passar para a próxima notícia".
Especialistas alertam que o preconceito anti-palestino é alimentado pela cobertura racista da mídia e vice-versa. A pesquisadora palestina Hanan Sahmoud destaca como a mídia europeia frequentemente "retrata os palestinos como selvagens".
O público em geral tende a adotar essas perspectivas desumanizantes em um ciclo vicioso. Usuários de redes sociais frequentemente descrevem palestinos como ratos, e há exemplos de autoridades israelenses fazendo o mesmo.
Dois dias após os ataques de 7 de outubro de 2023, Yoav Gallant, então Ministro da Defesa de Israel, declarou: "Ordenei um cerco total à Faixa de Gaza . Não haverá eletricidade, comida ou combustível. Tudo está paralisado. Estamos lutando contra seres desumanos e estamos agindo de acordo."
Especialistas concordam que essa desumanização reduz a empatia pelos outros. "Tudo isso leva ao que é conhecido como lacuna de empatia , que, por sua vez, justifica o tratamento desigual", explica El Idrissi.
Esses ciclos foram alimentados, por exemplo, pela desinformação seletiva sobre a fome em Gaza em 2025. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou que não havia fome no território e que as crianças apenas aparentavam estar desnutridas devido a doenças preexistentes, e não porque seu governo estivesse bloqueando a entrada de ajuda humanitária e alimentos em Gaza.
Os pesquisadores entrevistados pela DW indicam que esse ciclo está enraizado em "informações" fabricadas e justificativas "morais" que apresentam a guerra como justa e necessária. Há também um crescente conjunto de evidências demonstrando que a desinformação e a informação errônea são componentes-chave na incitação à violência e às guerras em todo o mundo. No caso da guerra em Gaza, a propaganda e a desumanização dos palestinos caminham juntas, concluem os pesquisadores.
Segundo a Associação Canadense de Advogados Árabes (CALA) , essa desumanização é um fenômeno típico do racismo anti-palestino . A primeira descrição conhecida de racismo anti-palestino foi publicada pela CALA em abril de 2022. O racismo, em si, é a crença de que "algumas raças são inerentemente superiores a outras", conforme definido por acadêmicos (como a Enciclopédia do Holocausto ) e organizações como o Centro Anne Frank .
A ONU condena a violência policial em manifestações pró-Palestina na Alemanha.
Essa dinâmica também é observada na Alemanha . Muitos meios de comunicação retratam os palestinos e aqueles que se solidarizam com eles como perigosos, aponta El Idrissi, e os descrevem falsamente como violentos, antissemitas e antidemocráticos. Abukhater acrescenta: "É uma suposição muito racista dizer que qualquer pessoa que defenda os direitos palestinos é 'pró-terrorista'".
Essas suposições também são comprovadas pela violência policial amplamente documentada contra manifestantes pró-Palestina e pela cobertura midiática desses incidentes. "Estamos alarmados com o padrão persistente de violência policial e a aparente repressão ao ativismo de solidariedade pró-Palestina por parte da Alemanha", afirmaram especialistas da ONU em um comunicado à imprensa em 16 de outubro. Nos últimos anos, manifestantes pró-Palestina na Alemanha relataram repetidamente ter sofrido violência policial, alguns ficando feridos e necessitando de atendimento médico.
Em 15 de maio de 2025, durante as comemorações do Dia da Nakba em Berlim, a mídia alemã noticiou amplamente que manifestantes haviam ferido gravemente um policial. Uma investigação posterior realizada pela Forensis, uma ONG sediada em Berlim, revelou o contrário: os manifestantes foram vítimas de violência policial.
Outro problema fundamental é que a mídia se baseia principalmente em declarações do Exército e do Governo de Israel, tratando-as como fatos sem a devida verificação, citação ou análise crítica.
Um estudo de quase 4.853 manchetes na mídia alemã entre 7 de outubro de 2023 e 19 de janeiro de 2025 mostra que muitos dos principais veículos de comunicação alemães dependem principalmente ou exclusivamente de fontes oficiais israelenses para noticiar o Oriente Médio.
Por exemplo, em agosto, Israel assassinou o jornalista Anas al-Sharif, de 28 anos, em Gaza . O exército israelense alegou, sem provas, que al-Sharif liderava uma célula do Hamas; diversos veículos da mídia alemã, incluindo o tabloide Bild , repetiram a alegação como fato, apesar da falta de provas.
As plataformas de redes sociais também desempenham um papel significativo no aumento do conteúdo anti-palestino. A desinformação apela às emoções, e os algoritmos frequentemente promovem conteúdo de extrema-direita e extremista. "Sabemos que o conteúdo de extrema-direita ou extremista é impulsionado pelo algoritmo ", afirma El Idrissi.
Propaganda paga e publicidade tendenciosa também são aceitas e disseminadas pelas plataformas de mídia social. Uma investigação conduzida em setembro pela DW Fact Check e membros da European News Spotlight revelou que Israel gastou pelo menos € 42 milhões (US$ 49 milhões) em anúncios de propaganda anti-palestina.
Em 22 de agosto, no mesmo dia em que a Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês), uma iniciativa da ONU, anunciou que grandes áreas da Faixa de Gaza sofriam de "fome causada pelo homem" e que "a fome está presente e se espalhando rapidamente", a agência de publicidade do governo israelense lançou uma nova campanha negando a fome.
Recentemente, a Meta, empresa controladora do Facebook e do Instagram, reduziu seus programas de verificação de fatos por terceiros em muitos países. Uma reportagem da 7amleh mostra que os sistemas de publicidade da Meta aprovaram e lucraram com conteúdo violento e incitador em 2023 e 2025, aceitando-o como publicidade paga. Reportagens recentes também revelam que Israel investiu pelo menos US$ 6 milhões para treinar o ChatGPT a seu favor.
O que as sociedades podem fazer para combater a propaganda anti-palestina e o racismo? Abukhater, pesquisador da 7amleh, afirma que é crucial dar aos palestinos a oportunidade de contar suas próprias histórias.
Em muitos meios de comunicação, "muito se fala sobre os palestinos, sem que eles próprios tenham voz". Além de melhorar a representatividade, a mídia deveria examinar os preconceitos pessoais e estruturais, sugere ela.
E conclui: "Deveria haver mais debate sobre o racismo anti-palestino, reconhecendo-o como um conceito, analisando sua semântica e como ele é geralmente usado para desumanizar e acusar todos os palestinos."
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