terça-feira, 10 de novembro de 2015
São cada vez mais raros os sinais de inteligência no planeta dos vigaristas
Nenhum planeta está tão longe do Brasil real quanto a Praça dos Três Poderes, e a distância aumenta quando se alinha com a sua Lua destrambelhada conhecida como Instituto Lula. A julgar pelo que andam tramando os seres que agem nessas lonjuras, é impossível enxergar de lá o que ocorre aqui.
Eles não conseguem ver, por exemplo, os bem-vindos e pedagógicos estragos causados pela Operação Lava Jato. Gente que se julgava condenada à eterna impunidade está (e continuará) engaiolada. Presidentes de empreiteiras, dois tesoureiros do PT, ex-diretores da Petrobras, José Dirceu pela segunda vez — há celas para todos os delinquentes que chapinharam na lama do Petrolão.
Os habitantes daquelas paragens remotas tampouco enxergam as devastadoras dimensões da crise econômica parida pelo lulopetismo. Não veem a imensidão de desempregados, não veem a inflação sem freios rompendo a barreira dos 10%. Muito menos a crescente indignação das vítimas de 13 anos de ladroagem e incompetência.
Fora da cegueira decorrente da distância sideral, não há como explicar a conspiração que, para manter no emprego por mais três anos a presidente perplexa, tenta juntar numa contra-ofensiva suicida o que há de pior no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.
Trocas suspeitíssimas de juízes, manobras malandras forjadas para protelar decisões urgentes, acordos ditados pelo sonho da impunidade para todos, alianças obscenas entre inimigos recentes unidos no esforço para afastar do camburão chefôes e filhotes ─ nada disso vai funcionar. É tarde demais.
O projeto criminoso de poder, na definição perfeita do ministro Celso de Mello, está em acelerada decomposição. Oito em cada 10 brasileiros exigem o fim da era da canalhice. A ideia da pizza que os brasileiros não vão engolir avisa que o estoque de espertezas está reduzido a um punhado de velhacarias com prazo de validade vencido.
Também confirma que são cada vez mais raros os sinais de vida inteligente no planeta dos vigaristas.
Eles não conseguem ver, por exemplo, os bem-vindos e pedagógicos estragos causados pela Operação Lava Jato. Gente que se julgava condenada à eterna impunidade está (e continuará) engaiolada. Presidentes de empreiteiras, dois tesoureiros do PT, ex-diretores da Petrobras, José Dirceu pela segunda vez — há celas para todos os delinquentes que chapinharam na lama do Petrolão.
Os habitantes daquelas paragens remotas tampouco enxergam as devastadoras dimensões da crise econômica parida pelo lulopetismo. Não veem a imensidão de desempregados, não veem a inflação sem freios rompendo a barreira dos 10%. Muito menos a crescente indignação das vítimas de 13 anos de ladroagem e incompetência.
Fora da cegueira decorrente da distância sideral, não há como explicar a conspiração que, para manter no emprego por mais três anos a presidente perplexa, tenta juntar numa contra-ofensiva suicida o que há de pior no Executivo, no Legislativo e no Judiciário.
Trocas suspeitíssimas de juízes, manobras malandras forjadas para protelar decisões urgentes, acordos ditados pelo sonho da impunidade para todos, alianças obscenas entre inimigos recentes unidos no esforço para afastar do camburão chefôes e filhotes ─ nada disso vai funcionar. É tarde demais.
O projeto criminoso de poder, na definição perfeita do ministro Celso de Mello, está em acelerada decomposição. Oito em cada 10 brasileiros exigem o fim da era da canalhice. A ideia da pizza que os brasileiros não vão engolir avisa que o estoque de espertezas está reduzido a um punhado de velhacarias com prazo de validade vencido.
Também confirma que são cada vez mais raros os sinais de vida inteligente no planeta dos vigaristas.
Não se justifica o desânimo atual em relação aoimpeachment
A grande imprensa afrouxou, o governo e os políticos estão pouco ligando para a eternização da crise econômica. Enquanto a inércia e a omissão reinam em Brasília, mui justamente conhecida como “Ilha da Fantasia”, a inflação não cede, o desemprego dispara, não há investimentos e a dívida pública interna e externa aumenta em progressão geométrica. Mas quem se interessa? Os governistas argumentam que Japão, Canadá e muitos outros países têm uma relação de PIB e dívida pública até maior do que a nossa, como se isso justificasse alguma coisa.
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Nesse clima de pré-caos econômico, com a nação à beira do abismo, está havendo uma retração no movimento a favor do impeachment de Dilma Rousseff, como se o afastamento do desastroso governo nada significasse. Mas este pensamento acomodado e sinistro é um clamoroso equívoco.
Todos sabem que a crise se chama Dilma Rousseff. No dia em que o pedido de abertura do processo de impeachment for aceito pelo presidente da Câmara, a Bolsa vai ter uma alta instantânea, os empresários vão se animar e o país ficará em festa.
Não importa se o vice-presidente Michel Temer é antipático ou inexperiente em atividades do Executivo, nada disso será levado em conta, porque todos sabem que qualquer um será melhor do que Dilma, pois tudo dá sempre errado com ela, seu governo não consegue acertar nem mesmo em coisas da maior simplicidade, como a confecção de um simples boleto para pagamento do FGTS das domésticas.
Desde novembro de 2014, quando Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram indicados para a equipe econômica, fala-se num ajuste fiscal que até agora, um ano depois, ainda não existe. A crise está se agravando, e nada. Vêm aí Natal, Ano Novo, Carnaval e Semana Santa, e a pasmaceira continuará. Está claro que Dilma Rousseff não se importa com o país. A única preocupação dela é continuar no governo, mesmo que seja detestada e nem possa mais sair às ruas.
Embora a imprensa e a oposição tenham baixado a bola, o impeachment não está sepultado. Muito pelo contrário, está cada fez mais vivo e ameaçador. Como todos sabem, só depende do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Ele avisou que decidirá o assunto no mês de novembro, e já estamos no dia 10.
Cunha sabe que o acordo que celebrou com Lula, Dilma e Jaques Wagner é uma peça de ficção. Nenhum dos três tem poderes para influir na Procuradoria-Geral da República e no Supremo, a fim de eternizar o inquérito contra o presidente da Câmara. Se o procurador Janot apresentar a denúncia formal ao Supremo, o processo terá de ser automaticamente aberto e Cunha deixará a presidência da Câmara, conforme o jurista Jorge Béja já explicou aqui na Tribuna da Internet.
Se Cunha bobear, pode perder o direito de abrir o impeachment e estará liquidado para sempre. Será a pior derrota política de sua carreira. Ele sabe que não há alternativa. Tem de aceitar o impeachment o mais rápido possível, porque seu tempo está se esgotando. Se aprovar logo o pedido para abrir o processo, Cunha ganhará fôlego para se defender, pois quem passa a ser bola da vez será Dilma, não ele.
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Não entendem (ou escondem) que a grande diferença são os juros ínfimos que esses países pagam, bem menores do que a nossa taxa Selic, o que lhes permite irem rolando eternamente a dívida, como sugeria acertadamente o economista Delfim Netto, antes de se curvar ao petismo e se transformar em mais um puxa-saco oficial.Nesse clima de pré-caos econômico, com a nação à beira do abismo, está havendo uma retração no movimento a favor do impeachment de Dilma Rousseff, como se o afastamento do desastroso governo nada significasse. Mas este pensamento acomodado e sinistro é um clamoroso equívoco.
Todos sabem que a crise se chama Dilma Rousseff. No dia em que o pedido de abertura do processo de impeachment for aceito pelo presidente da Câmara, a Bolsa vai ter uma alta instantânea, os empresários vão se animar e o país ficará em festa.
Não importa se o vice-presidente Michel Temer é antipático ou inexperiente em atividades do Executivo, nada disso será levado em conta, porque todos sabem que qualquer um será melhor do que Dilma, pois tudo dá sempre errado com ela, seu governo não consegue acertar nem mesmo em coisas da maior simplicidade, como a confecção de um simples boleto para pagamento do FGTS das domésticas.
Desde novembro de 2014, quando Joaquim Levy e Nelson Barbosa foram indicados para a equipe econômica, fala-se num ajuste fiscal que até agora, um ano depois, ainda não existe. A crise está se agravando, e nada. Vêm aí Natal, Ano Novo, Carnaval e Semana Santa, e a pasmaceira continuará. Está claro que Dilma Rousseff não se importa com o país. A única preocupação dela é continuar no governo, mesmo que seja detestada e nem possa mais sair às ruas.
Embora a imprensa e a oposição tenham baixado a bola, o impeachment não está sepultado. Muito pelo contrário, está cada fez mais vivo e ameaçador. Como todos sabem, só depende do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Ele avisou que decidirá o assunto no mês de novembro, e já estamos no dia 10.
Cunha sabe que o acordo que celebrou com Lula, Dilma e Jaques Wagner é uma peça de ficção. Nenhum dos três tem poderes para influir na Procuradoria-Geral da República e no Supremo, a fim de eternizar o inquérito contra o presidente da Câmara. Se o procurador Janot apresentar a denúncia formal ao Supremo, o processo terá de ser automaticamente aberto e Cunha deixará a presidência da Câmara, conforme o jurista Jorge Béja já explicou aqui na Tribuna da Internet.
Se Cunha bobear, pode perder o direito de abrir o impeachment e estará liquidado para sempre. Será a pior derrota política de sua carreira. Ele sabe que não há alternativa. Tem de aceitar o impeachment o mais rápido possível, porque seu tempo está se esgotando. Se aprovar logo o pedido para abrir o processo, Cunha ganhará fôlego para se defender, pois quem passa a ser bola da vez será Dilma, não ele.
A crise tem nome: Lula
Lula voltou a ser o principal protagonista da cena política brasileira. No último mês, não teve um dia sequer em que não ocupasse as manchetes da imprensa. Viajou pelo Brasil — sempre de jatinho particular, pago não se sabe por quem — e falou, falou e falou. Impôs uma reforma ministerial à presidente, que obedeceu passivamente, como de hábito, ao seu criador. Colocou no centro do poder um homem seu, Jaques Wagner, para controlar a presidente, reestruturar o pacto lulista — essencialmente antirrepublicano — com o Congresso e o grande capital e, principalmente, para ser um escudo contra as graves acusações que pesam sobre ele, sua família e amigos.
O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como “incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente.”
Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.
Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.
O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.
Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.
As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.
As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
Como de hábito, não teve nenhum compromisso com a verdade. Vociferou contra as investigações. Atacou a Polícia Federal, como se uma instituição de Estado não pudesse investigá-lo. Ou seja, ele estaria acima das leis, um cidadão — sempre — acima de qualquer suspeita, intocável. Apontou sua ira contra o ministro da Justiça e tentou retirá-lo do cargo — e vai conseguir, cedo ou tarde, pois sabe quão importante foi Márcio Thomaz Bastos em 2005, quando transformou o ministro em seu advogado de defesa.
O ex-presidente, em exercício informal e eventual da Presidência, declarou que o Brasil vive quase um Estado de exceção, simplesmente porque a imprensa divulgou documentos sobre seus ganhos milionários nas palestras e apresentou como dois filhos vivem em apartamentos em áreas nobres de São Paulo sem pagar aluguel — uma espécie de Minha Casa Minha Vida platinum, reservado exclusivamente à família Lula da Silva — e teriam recebido quantias vultuosas sem a devida comprovação do serviço prestado. Não deve ser esquecido que o Coaf justificou a investigação da sua movimentação financeira como “incompatível com o patrimônio, a atividade econômica e a capacidade financeira do cliente.”
Lula passou ao ataque. Falou em maré conservadora, que não admite ser chamado de corrupto e que — sinal dos tempos — não teme ser preso. A presidente da República, demonstrando subserviência, se deslocou em um dia útil de trabalho, de Brasília para São Paulo, simplesmente para participar da festa de aniversário do seu criador. Coisa típica de República bananeira. Ninguém perguntou sobre os gastos de viagem de uma atividade privada paga com dinheiro público. O país recebeu a notícia naturalmente. E alguns ingênuos ainda imaginam que a criatura possa romper com o criador, repetindo a ladainha de 2011.
Mesmo após as aterradoras revelações do petrolão, Lula finge que não tem qualquer relação com o escândalo e posa de perseguido, de injustiçado. Como se não fosse ele o presidente da República no momento da construção e operação do maior desvio de recursos públicos da história do mundo. Nas andanças pelo país, para evitar perguntas constrangedoras, escolhe auditórios amestrados. Mente, mente, sem nenhum pudor. Chegou a confessar cometeu estelionato eleitoral, em 2014, como se fosse algo banal.
O protagonismo de Lula impede uma solução para a crise. Ele aposta no impasse como único meio de sobrevivência, da sua sobrevivência política. Pouco importa que o Brasil viva o pior momento econômico dos últimos 25 anos e que a recessão vá se estender, no mínimo, até o ano que vem. Pouco importam os milhões de desempregados, a disparada da inflação, o desgoverno das contas públicas. Em 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo não pensou duas vezes em prorrogar a greve, mesmo levando-a à derrota — e aos milhares de operários que tiveram os dias parados descontados nos salários —, simplesmente para reabilitar sua imagem frente à base sindical, isto porque, no ano anterior fechou acordo com a Fiesp sem que o mesmo fosse aprovado pela assembleia, daí que passou a ser chamado pelos operários de pelego e traidor.
Em setembro, Dilma chegou a balançar quando o PMDB insinuou que poderia apoiar o impeachment. Lula entrou em campo e, se não virou o jogo, conseguiu ao menos equilibrar a partida — isto na esfera da política, não da gestão econômica. Tanto que a possibilidade de a Câmara dos Deputados aprovar, neste ano, a abertura de um processo de impeachment é nula. Por outro lado, o Congresso Nacional não aprovou as medidas que o governo considera como essenciais para o ajuste fiscal. É um jogo cruel e que vai continuar até o agravamento da crise econômica a um ponto que as ruas voltarem a ser ocupadas pelos manifestantes.
As vitórias de Lula são pontuais, superficiais e com prazo de validade. As pesquisas mostram que ele, hoje, é uma liderança decadente e com alto grau de rejeição, assim como o PT. Mantém uma influência no centro de poder que é absolutamente desproporcional ao seu real peso político. Tem medo das consequências advindas das operações Lava-Jato e Zelotes. Mas no seu delírio quer arrastar o país à pior crise da história republicana. E está conseguindo. Tudo porque sabe que o impeachment de Dilma é o dobre de finados dele e do PT.
As ações de Lula desmoralizam o Estado Democrático de Direito. Ele despreza a democracia. Sempre desprezou. Entende o Estado como instrumento da sua vontade pessoal. Mas, para sorte do Brasil, caminha para o ocaso. Só não foi completamente derrotado porque ainda mantém apoio de boa parte da elite empresarial, que, por sua vez, exerce forte influência no Congresso e nas cortes superiores de Brasília. O grande capital não sabe o que virá depois do PT. Na dúvida, prefere manter apoio ao “seu” partido e ao “seu” homem de confiança, Lula.
Cedo demais para esquecer
Circulou nas redes sociais um texto atribuído ao milionário Beto Sicupira no qual ele pedia aos empresários que não se discutisse mais a crise, nem se falasse de Dilma e Cunha. É preciso tocar os negócios, Dilma e Cunha não trabalham na empresa. Ouvido pela imprensa, Sucupira não confirmou nem desmentiu seu texto. Escrito por um milionário ou alguém mais pobre, o conselho para ignorar esta camada da realidade lembrou-me o caso dos nativos da Tasmânia, contado por John Gray em seu livro “Cachorros de palha”.
Os nativos da Tasmânia viviam mais simplesmente que os aborígenes da Austrália, dos quais se isolaram com a elevação do nível do mar cerca de 10 mil anos atrás.
Perderam a habilidade de tecer, pescar e fazer fogo. E quando os navios de colonos europeus chegaram, em 1772, incapazes de processar uma imagem para a qual nada os havia preparado, voltaram às suas vidas, como se nada tivesse acontecido.
Eles foram dizimados. Sua pele era vendida, e as mulheres eram obrigadas a carregar a cabeça cortada de seus maridos amarradas em seu pescoço.
“Quando morreu o último macho tasmaniano, a sepultura foi aberta pelo Dr. George Stockell, um membro da Sociedade Real da Tasmânia, que fez uma bolsa para fumo com sua pele”, conta John Gray.
Não corremos riscos tão dramáticos, se optarmos pelo distanciamento. No entanto, corremos risco. Nesse início de crise, o desemprego cresceu, três milhões de famílias foram ejetadas da classe média, e cresce a violência nas cidades.
Numa única semana ficamos sabendo que quatro estrelas do PT movimentaram R$ 300 milhões em suas contas, que o líder proletário sozinho recebeu uma fortuna em suas viagens, nas quais exigia um menu de travesseiros.
Estamos sendo investigados em, pelo menos três países. No Peru, José Dirceu teria comprado autoridades; em Portugal o PT teria levado € 50 milhões em propinas, e no Paraguai realizamos uma obra superfaturada ligada à Usina de Itaipu.
Entregue à máfia político-burocrática, o Brasil não vai apenas ser sugado até o último vintém. O país pode se tornar uma imensa plataforma para assaltos no exterior.
Sobreviveremos como as favelas dominadas pelo tráfico ou pela milícia. Deixaremos de ser conhecidos pelo futebol e o carnaval. A picaretagem será nossa modalidade, na olimpíada universal do crime.
Quem trabalha muito tem pouco tempo para se informar ou protestar. Nesse aspecto, o texto atribuído ao milionário até que faz sentido: é preciso continuar trabalhando, apesar de Dilma e Cunha.
No entanto, vivemos uma situação de emergência. Saquearam o país, arruinaram a Petrobras, vendem medidas provisórias no Planalto, vendem-se jabutis para medidas provisórias na Câmara, venderão, se puderem, a última árvore de nossa floresta, a última gota de nossas nascentes.
Não importa para eles que o país entre em parafuso. Muitos têm contas na Suíça, outros, como um deputado do PT, ganham apartamentos em Miami.
Para as grandes fortunas, esse vendaval é apenas uma brisa. No entanto, é devastador para os todos que vivem, modestamente, de seu trabalho.
Como deixar Dilma de lado, depois de utilizar o dinheiro público como quis, pedalando em nome dos pobres e canalizando o dinheiro para as grandes empresas? Como esquecer o maior escândalo da História e não relacioná-lo à milionária campanha do PT? Como acordar todas as manhãs sabendo que a Câmara é uma piscina cheia de ratos, cujo presidente é um gângster com contas na Suíça?
Assim como as pessoas, os países precisam de vez em quando se olhar no espelho. No momento, o Brasil não consegue fazer esse gesto. Quando há perigo de vida, como nas favelas dominadas por tráfico ou milícia, é prudente seguir trabalhando, conversar o mínimo possível, esperar que a mudança venha de cima.
Francamente, não há grande perigo em resistir à quadrilha política que domina o Brasil. Uma burocrata saiu espetando manifestantes com uma agulha, um professor ameaça levar os reacionários ao paredão e fuzilá-los com uma espingarda. Claro, sempre podem nos chamar de reacionários, vendidos, elite branca, fascistas. Quando criança, a gente simplesmente cruzava os dedos e isolava: tudo o que você falar está me ajudando. Uma agulha pelas costas, uma espingarda velha não são forte elementos de dissuasão. O obstáculo real está nas dúvidas sobre o futuro? O que virá depois? Se aparecer uma simples fresta no horizonte, a multidão passará por ela.
Os nativos da Tasmânia não tinham informações, sequer conseguiam processá-las. Nós sabemos de tudo, consumimos notícias instantâneas. De uma certa maneira, nossa pele está em jogo.
Seria um prazer deixar de pensar em Dilma e Cunha, concentrar no árduo trabalho cotidiano. Não enquanto estiverem lá, dando as cartas. Ainda que falsas, são as cartas do poder.
Fernando Gabeira
Perderam a habilidade de tecer, pescar e fazer fogo. E quando os navios de colonos europeus chegaram, em 1772, incapazes de processar uma imagem para a qual nada os havia preparado, voltaram às suas vidas, como se nada tivesse acontecido.
Eles foram dizimados. Sua pele era vendida, e as mulheres eram obrigadas a carregar a cabeça cortada de seus maridos amarradas em seu pescoço.
“Quando morreu o último macho tasmaniano, a sepultura foi aberta pelo Dr. George Stockell, um membro da Sociedade Real da Tasmânia, que fez uma bolsa para fumo com sua pele”, conta John Gray.
Não corremos riscos tão dramáticos, se optarmos pelo distanciamento. No entanto, corremos risco. Nesse início de crise, o desemprego cresceu, três milhões de famílias foram ejetadas da classe média, e cresce a violência nas cidades.
Numa única semana ficamos sabendo que quatro estrelas do PT movimentaram R$ 300 milhões em suas contas, que o líder proletário sozinho recebeu uma fortuna em suas viagens, nas quais exigia um menu de travesseiros.
Estamos sendo investigados em, pelo menos três países. No Peru, José Dirceu teria comprado autoridades; em Portugal o PT teria levado € 50 milhões em propinas, e no Paraguai realizamos uma obra superfaturada ligada à Usina de Itaipu.
Entregue à máfia político-burocrática, o Brasil não vai apenas ser sugado até o último vintém. O país pode se tornar uma imensa plataforma para assaltos no exterior.
Sobreviveremos como as favelas dominadas pelo tráfico ou pela milícia. Deixaremos de ser conhecidos pelo futebol e o carnaval. A picaretagem será nossa modalidade, na olimpíada universal do crime.
Quem trabalha muito tem pouco tempo para se informar ou protestar. Nesse aspecto, o texto atribuído ao milionário até que faz sentido: é preciso continuar trabalhando, apesar de Dilma e Cunha.
No entanto, vivemos uma situação de emergência. Saquearam o país, arruinaram a Petrobras, vendem medidas provisórias no Planalto, vendem-se jabutis para medidas provisórias na Câmara, venderão, se puderem, a última árvore de nossa floresta, a última gota de nossas nascentes.
Não importa para eles que o país entre em parafuso. Muitos têm contas na Suíça, outros, como um deputado do PT, ganham apartamentos em Miami.
Para as grandes fortunas, esse vendaval é apenas uma brisa. No entanto, é devastador para os todos que vivem, modestamente, de seu trabalho.
Como deixar Dilma de lado, depois de utilizar o dinheiro público como quis, pedalando em nome dos pobres e canalizando o dinheiro para as grandes empresas? Como esquecer o maior escândalo da História e não relacioná-lo à milionária campanha do PT? Como acordar todas as manhãs sabendo que a Câmara é uma piscina cheia de ratos, cujo presidente é um gângster com contas na Suíça?
Assim como as pessoas, os países precisam de vez em quando se olhar no espelho. No momento, o Brasil não consegue fazer esse gesto. Quando há perigo de vida, como nas favelas dominadas por tráfico ou milícia, é prudente seguir trabalhando, conversar o mínimo possível, esperar que a mudança venha de cima.
Francamente, não há grande perigo em resistir à quadrilha política que domina o Brasil. Uma burocrata saiu espetando manifestantes com uma agulha, um professor ameaça levar os reacionários ao paredão e fuzilá-los com uma espingarda. Claro, sempre podem nos chamar de reacionários, vendidos, elite branca, fascistas. Quando criança, a gente simplesmente cruzava os dedos e isolava: tudo o que você falar está me ajudando. Uma agulha pelas costas, uma espingarda velha não são forte elementos de dissuasão. O obstáculo real está nas dúvidas sobre o futuro? O que virá depois? Se aparecer uma simples fresta no horizonte, a multidão passará por ela.
Os nativos da Tasmânia não tinham informações, sequer conseguiam processá-las. Nós sabemos de tudo, consumimos notícias instantâneas. De uma certa maneira, nossa pele está em jogo.
Seria um prazer deixar de pensar em Dilma e Cunha, concentrar no árduo trabalho cotidiano. Não enquanto estiverem lá, dando as cartas. Ainda que falsas, são as cartas do poder.
Fernando Gabeira
Lembrete
Lembre-se, onde você tem uma concentração de poder nas mãos de poucos, freqüentemente homens com mentalidade de gangsters obtêm o controleLord Acton
Lula não tem medo do Brasil
Não temo ser preso porque eu duvido que tenha alguém neste país, do meu pior inimigo ao meu melhor amigo, que diga que um dia teve uma conversa comigo ilícitaA famiglia Lula da Silva, com o tradicionalismo dos coronéis cangaceiros, se reúne à parentada partidária e aos companheiros cúmplices para afrontar o país. Sob a proteção do carisma (em queda vertiginosa) do ex-presidente, aprontaram todas e ainda querem mais. Principalmente, não serem julgados.
Vão empurrar a qualquer custo o julgamento para a História, que essa sim será implacável com seus descendentes, em quem não pensam nem pensaram.. Não há pior castigo do que carregar a maldição dos antecessores por mais que nada tenham com isso. É o mais nefasto egoísmo dos pais. Em nome de darem um "futuro" econômico aos sucessores, dão uma carimbada de amaldiçoados.
Enquanto podem, vão levando a vida na flauta e no bico. Acenam-se inatingíveis por calamidades e muito menos pela população como eternamente protegidos pelo poder que não dura para sempre.
A atitude dessa camarilha, criminosa até a raiz, é um acinte ao país, à população, inclusive os que nela votaram, sem contar uma afronta às instituições. Se acham acima do Estado apenas por serem partidariamente mero governo passageiro e eleito. Com a petulância de se auto imporem uma imunidade zombam mesmo da Justiça institucionalizada como se fosse essa também política de compadrio.
“Poder Judiciário não vale nada. O que vale são as relações entre as pessoas.”A frase do Todo Poderoso menosprezando o Judiciário não revoltou seus integrantes.
É deprimente que um poder republicano se curve como vassalo de um tiranete que sequer ocupa cargo. Seus integrantes não mostram a altivez do cargo que ocupam. Lembram aqueles no julgamento de Nuremberg, que mostraram ser apenas oficiais de gabinete das ordens de Hitler.
É a vassalagem a um partido e a seu capo com todas a mesuras indispensáveis diante da nobreza da camarilha. Um gesto do qual um pobre teria vergonha, mas não os ditos poderosos, por estarem no poder, que não se envergonham de ter a boa vida custeada pelos mais necessitados nem privilegiarem o espírito de corpo.
Um perigo para a nação
Aureolado por uma onisciência a si próprio outorgada, o Estado brasileiro virou o tutor das forças econômicas
Entre o final do século XIX e o início do XX, toda a infraestrutura de serviços essenciais foi implantada pela iniciativa privada, sob o regime de concessão, nos grandes centros urbanos brasileiros — transporte, eletricidade, gás, telecomunicações, urbanização etc. A desídia do governo em regular tecnicamente esses serviços determinou o primeiro o colapso financeiro das ferrovias paulistas, que levavam o café do interior do estado ao Porto de Santos, e a seguir das demais concessões à iniciativa privada.
A exploração dessas riquezas não poderia ser deixada ao capital privado estrangeiro, que iria delas se beneficiar abusivamente, desprezando o interesse nacional. Mesmo o capital privado local não afastaria a solução estatal.
Sobre o conúbio que então se formou — e iria durar, entre a direita, à qual nada na sociedade deveria fugir ao seu controle, ainda que remanescesse em mãos privadas parte do capital, e a esquerda, que via no avanço do Estado a resposta à sua prédica ideológica — dominava, na verdade, a ignorância, nem sempre intencional, da realidade econômica e jurídica do país.
Aureolado por uma onisciência a si próprio outorgada, que lhe nutre um incontido voluntarismo, o Estado brasileiro — de fato,o governo — converteu-se no tutor das forças econômicas, no árbitro do interesse público, no senhor do desenvolvimento econômico e no guardião máximo da soberania nacional, cego à experiência mundial, sobretudo à verificada ao final do século passado.
No momento em que o país dramaticamente busca recursos, abundantes no exterior, para investir em nossa obsoleta infraestrutura, em editorial O GLOBO (24 de outubro de 2015) mostra a resistência dessa cultura. Recente proposta, elaborada para atrair investimentos privados, sugere a criação de uma — mais uma — empresa estatal, para conduzir esse processo.
A nossa cultura política está ainda muito próxima ao ideário do presidente Bernardes.
Pedro Dutra
‘Dar concessão é um dos maiores perigos que uma nação pode criar a si mesma... Abramos os olhos contra tudo que tiver aparência de concessão, quer a nacionais, quer a estrangeiros”. Primitivo e autoritário, Arthur Bernardes governou o país sob estado de sítio durante quase todo o seu mandato, de 1922 a 1926.
Entre o final do século XIX e o início do XX, toda a infraestrutura de serviços essenciais foi implantada pela iniciativa privada, sob o regime de concessão, nos grandes centros urbanos brasileiros — transporte, eletricidade, gás, telecomunicações, urbanização etc. A desídia do governo em regular tecnicamente esses serviços determinou o primeiro o colapso financeiro das ferrovias paulistas, que levavam o café do interior do estado ao Porto de Santos, e a seguir das demais concessões à iniciativa privada.
Ao final dos anos 30, a estatização da prestação de serviços públicos (aí incluída a compra pela União de concessionárias falidas) passou a ser vista e defendida por inevitável. Apoiada pelas Forças Armadas e por expressiva parcela da elite empresarial nativa, afirmou-se a noção de que as riquezas naturais do país (e os serviços públicos por extensão) constituíam o patrimônio redentor de nosso subdesenvolvimento crônico, e a sua preservação, em mãos do Estado, seria indispensável à soberania do país.
A exploração dessas riquezas não poderia ser deixada ao capital privado estrangeiro, que iria delas se beneficiar abusivamente, desprezando o interesse nacional. Mesmo o capital privado local não afastaria a solução estatal.
Sobre o conúbio que então se formou — e iria durar, entre a direita, à qual nada na sociedade deveria fugir ao seu controle, ainda que remanescesse em mãos privadas parte do capital, e a esquerda, que via no avanço do Estado a resposta à sua prédica ideológica — dominava, na verdade, a ignorância, nem sempre intencional, da realidade econômica e jurídica do país.
Aureolado por uma onisciência a si próprio outorgada, que lhe nutre um incontido voluntarismo, o Estado brasileiro — de fato,o governo — converteu-se no tutor das forças econômicas, no árbitro do interesse público, no senhor do desenvolvimento econômico e no guardião máximo da soberania nacional, cego à experiência mundial, sobretudo à verificada ao final do século passado.
No momento em que o país dramaticamente busca recursos, abundantes no exterior, para investir em nossa obsoleta infraestrutura, em editorial O GLOBO (24 de outubro de 2015) mostra a resistência dessa cultura. Recente proposta, elaborada para atrair investimentos privados, sugere a criação de uma — mais uma — empresa estatal, para conduzir esse processo.
A nossa cultura política está ainda muito próxima ao ideário do presidente Bernardes.
Pedro Dutra
É a lama, é a lama!
Devo muito de minha formação espiritual a um pensador francês, católico e progressista, chamado Emmanuel Mounier (meu filho mais velho é Emanuel também em homenagem a ele). Em seu livro ‘O personalismo’, Mounier dizia que um dos elementos básicos da comunicação humana era ‘sentir na própria carne’, ‘assumir em si as dores dos outros’. Sentimento difícil, ainda mais nessa época de egoísmo industrializado, de individualismo cibernético.
Às vezes, e de forma quase sempre trágica, a vida dá a chance de sentir a dor pungente do semelhante. A lama tóxica que se derramou por uma extensão imediata de oito quilômetros, com a ruptura das barragens em Mariana (MG), é uma dessas desgraças que nos chama à alteridade, indispensável à nossa humanidade.
Não devia ser difícil sentir na própria pele (e na alma) a agonia das quase 30 famílias que tiveram parentes mortos ou ainda desaparecidos, dos 530 moradores que perderam absolutamente tudo, do cãozinho de estimação a documentos e casa, dos 15 municípios às margens do Rio Pomba que estão na rota da lama, que se alongará por 300 quilômetros, chegando ao Espírito Santo.
Sei que os embrutecidos de vez não chorarão ao ler o drama de Wesley, que tentava se livrar do barro pesado com os dois filhos no colo, Nícolas, de dois anos, e Emanuele, de cinco. Ela, uma mineirinha sorridente, foi arrastada pela correnteza e está sumida até agora, para desespero de seus avós e pais.
Mas não basta se emocionar. Além da solidariedade concreta, é preciso analisar as razões de tamanha devastação – talvez a mais grave de nossa história. Ela é gerada por um padrão de exploração mineradora, comum no Brasil, em que o afã do ganho é maior que o da preservação da vida e dos cuidados com o ambiente. Essa sanha agride os pequeninos e não vale, senhora Vale e outras gigantes!
Tanta dor assim, tanto sofrimento sobre gente inocente, me fez lembrar Dostoievski, que via na maldade que acontece com crianças o maior argumento contra a existência de Deus. Crer é, cada vez mais, um ato de fé e... resistência!
A lama vem também do mundo político, onde há barragens rompidas em praticamente todos os Poderes. Aquele em que exerço mandato está em pleno soterramento: a lama tóxica é a da negação do óbvio, das tenebrosas transações agora descobertas, da ‘vendetta’ contra quem se insurge e cobra, do silêncio omisso de muitos. Calar-se diante de tudo isso, ignorando o trabalho da Justiça e do Ministério Público, é como ver a tragédia de Bento Rodrigues, o distrito de Mariana sob a lama, e não se inquietar, não perceber o grito de socorro ao seu lado.
Às vezes, e de forma quase sempre trágica, a vida dá a chance de sentir a dor pungente do semelhante. A lama tóxica que se derramou por uma extensão imediata de oito quilômetros, com a ruptura das barragens em Mariana (MG), é uma dessas desgraças que nos chama à alteridade, indispensável à nossa humanidade.
Não devia ser difícil sentir na própria pele (e na alma) a agonia das quase 30 famílias que tiveram parentes mortos ou ainda desaparecidos, dos 530 moradores que perderam absolutamente tudo, do cãozinho de estimação a documentos e casa, dos 15 municípios às margens do Rio Pomba que estão na rota da lama, que se alongará por 300 quilômetros, chegando ao Espírito Santo.
Sei que os embrutecidos de vez não chorarão ao ler o drama de Wesley, que tentava se livrar do barro pesado com os dois filhos no colo, Nícolas, de dois anos, e Emanuele, de cinco. Ela, uma mineirinha sorridente, foi arrastada pela correnteza e está sumida até agora, para desespero de seus avós e pais.
Mas não basta se emocionar. Além da solidariedade concreta, é preciso analisar as razões de tamanha devastação – talvez a mais grave de nossa história. Ela é gerada por um padrão de exploração mineradora, comum no Brasil, em que o afã do ganho é maior que o da preservação da vida e dos cuidados com o ambiente. Essa sanha agride os pequeninos e não vale, senhora Vale e outras gigantes!
Tanta dor assim, tanto sofrimento sobre gente inocente, me fez lembrar Dostoievski, que via na maldade que acontece com crianças o maior argumento contra a existência de Deus. Crer é, cada vez mais, um ato de fé e... resistência!
A lama vem também do mundo político, onde há barragens rompidas em praticamente todos os Poderes. Aquele em que exerço mandato está em pleno soterramento: a lama tóxica é a da negação do óbvio, das tenebrosas transações agora descobertas, da ‘vendetta’ contra quem se insurge e cobra, do silêncio omisso de muitos. Calar-se diante de tudo isso, ignorando o trabalho da Justiça e do Ministério Público, é como ver a tragédia de Bento Rodrigues, o distrito de Mariana sob a lama, e não se inquietar, não perceber o grito de socorro ao seu lado.
Parabéns, atingimos a burrice máxima
A fogueira de Simone de Beauvoir a partir da questão do ENEM mostrou que a burrice se tornou um problema estrutural do Brasil. Se não for enfrentada, não há chance. Hordas e hordas de burros que ocupam espaços institucionais, burros que ocupam bancadas de TV, burros pagos por dinheiro público, burros pagos por dinheiro privado, burros em lugares privilegiados, atacaram a filósofa francesa porque o Exame Nacional de Ensino Médio colocou na prova um trecho de uma de suas obras, O Segundo Sexo, começando pela frase célebre: “Uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher”. Bastou para os burros levantarem as orelhas e relincharem sua ignorância em volumes constrangedores. Debater com seriedade a burrice nacional é mais urgente do que discutir a crise econômica e o baixo crescimento do país. A burrice está na raiz da crise política mais ampla. A burrice corrompe a vida, a privada e a pública. Dia após dia.
Recapitulando alguns espasmos do mais recente surto de burrice. O verbete de Simone de Beauvoir (1908-1986) na Wikipedia, conforme mostrou uma reportagem da BBC, foi invadido para tachar a escritora de “pedófila” e “nazista”. A Câmara de Vereadores de Campinas, no estado de São Paulo, aprovou uma “moção de repúdio” à filósofa. O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), da Bancada da Bíblia, descobriu na frase “uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”. Em sua página no Facebook, o promotor de justiça do município paulista de Sorocaba, Jorge Alberto de Oliveira Marum, chamou Beauvoir de “baranga francesa que não toma banho, não usa sutiã e não se depila”. Como o tema da redação do ENEM era “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, houve gente que estudou em colégios caros afirmando que este era um tema de esquerda, e portanto um sinal inequívoco de uma conspiração ideológica por parte do governo federal. Como sugeriu o crítico de cinema Inácio Araújo em seu blog, se defender que a mulher tenha o direito de andar sem ser perturbada, agredida e chutada é tema de esquerda, isso só pode significar que a direita vai muito mal.
A única arma capaz de derrotar a burrice é o pensamento
Está cada vez mais difícil fazer humor no Brasil. Como nada do que foi relatado acima é piada, somos submetidos cotidianamente a uma experiência de perversão. Também não tem sido fácil escrever quando não se é humorista, por que o que se pode dizer, seriamente, diante de uma moção de repúdio à Simone de Beauvoir? Mas é preciso tratar com seriedade, porque talvez não exista nada mais sério do que a boçalidade que atravessa o país. Torna-se urgente, prioritário, fazer um esforço coletivo e enfrentar a burrice com o único instrumento capaz de derrotá-la: o pensamento.
Esta é a potência e a generosidade de um livro lançado pela filósofa Marcia Tiburi, escritora e professora universitária. O título vai direto ao ponto, afinal os tempos são graves demais para papinhos de salão: Como conversar com um fascista – reflexões sobre o cotidiano autoritário brasileiro (Record). Nas 194 páginas, Marcia enfrenta as várias faces do cotidiano atual com profundidade, mas de forma acessível a quem não está familiarizado com os conceitos. Faz o mais difícil: escrever simples sem simplificar. É um livro que se pretende para todos, e não para os seus pares. Quem acompanha a trajetória da filósofa conhece a sua coragem. E este é um livro de coragem, já que é tão difícil quanto arriscado escrever sobre o que está em movimento, sem a proteção assegurada pelo distanciamento histórico. Poucos são os intelectuais que se arriscam a sair do conforto de seus feudos para enfrentar o debate público com suas dúvidas. E por isso aqueles que se arriscam de forma honesta, sem ficar arrotando suas certezas e suas credenciais, ou usando-as para massacrar aqueles que já são massacrados, são tão preciosos.
Preparado para o fato de a Alemanha ser mais 'feminicida'
Qual é o problema da militância puramente ideológica? Destrói a inteligência, destrói a ciência, destrói a verdade, impõe o viés da picaretagem e da mentira mesmo em assuntos que são, sim, sérios e requerem intervenção de políticas de estado.
Veio a público com estardalhaço uma pesquisa que alimenta a conversa do “feminicídio” — esse nome igualmente estúpido, inventado por essa militância — que só serve para criar confusão. Alardeados os números, sem nenhuma contextualização, só servem à mistificação.
Em números absolutos, e não mortos por 100 mil, o estudo informa que cresceu 21% o número de mulheres assassinadas no Brasil entre 2003 e 2013. Pois é…
Quando se consulta o Mapa da Violência, percebe-se que o crescimento foi de 8,8%, já que, na década, a população feminina teve um crescimento de 11,1%. Os números são bons? Não! Eles são péssimos. Mas só conseguiremos dar uma resposta se trabalharmos com os dados corretos.
Vamos adiante.
Atenção, a taxa de homicídio de mulheres em 2013 foi de 4,8 por 100 mil habitantes. É evidente que é alta. Ocorre que, em 2012, o número de mortos do Brasil chegou a 29 por 100 mil habitantes, com uma média de 154 homicídios por dia. A depender do recorte que se faça, essa taxa pode ser um pouco mais baixa: 26 por 100 mil habitantes.
O número de mulheres assassinadas é, sem dúvida, um absurdo: 4,8 por 100 mil. Ocorre que escandalosa, estupefaciente mesmo, é a quantidade de assassinados no Brasil. Nota-se que entre 82% e 84% das vítimas são homens. E, como se sabe, não se fala de “masculinicídio”. Quando se fazem outros cortes, percebe-se que a esmagadora maioria é constituída de homens jovens.
Os dados vão sendo produzidos aos borbotões. O Brasil estaria em quinto lugar no ranking dos países que cometem o tal “feminicídio”. Na Alemanha, há apenas 0,5 mulher morta por 100 mil habitantes — contra 4,8 no Brasil. Logo, mata-se 8,6 vez mais mulheres no Brasil do que na Alemanha. Ocorre que a taxa de homicídio naquele país é de 0,7 por 100 mil — logo, mata-se, no geral, 36 vezes mais no Brasil do que na Alemanha.
Podemos ir adiante: se a taxa de homicídios alemã é de 0,7 por 100 mil, e a de mulheres, é de 0,5%, há uma diferença de 28,5% entre a taxa geral e a taxa de mulheres assassinadas. No Brasil, a diferença de mortos por gênero é de quase 82%.
Não quero parecer cínico, mas, por esses números, a Alemanha é mais feminicida do que o Brasil.
Não pretendo fazer proselitismo num mar de sangue. Apenas chamo atenção dos senhores leitores para o fato de que o Brasil é muito mais violento do que propriamente machista. Submeter os números da nossa tragédia a uma leitura de gênero é só mais uma expressão da burrice nacional.
Veio a público com estardalhaço uma pesquisa que alimenta a conversa do “feminicídio” — esse nome igualmente estúpido, inventado por essa militância — que só serve para criar confusão. Alardeados os números, sem nenhuma contextualização, só servem à mistificação.
Quando se consulta o Mapa da Violência, percebe-se que o crescimento foi de 8,8%, já que, na década, a população feminina teve um crescimento de 11,1%. Os números são bons? Não! Eles são péssimos. Mas só conseguiremos dar uma resposta se trabalharmos com os dados corretos.
Vamos adiante.
Atenção, a taxa de homicídio de mulheres em 2013 foi de 4,8 por 100 mil habitantes. É evidente que é alta. Ocorre que, em 2012, o número de mortos do Brasil chegou a 29 por 100 mil habitantes, com uma média de 154 homicídios por dia. A depender do recorte que se faça, essa taxa pode ser um pouco mais baixa: 26 por 100 mil habitantes.
O número de mulheres assassinadas é, sem dúvida, um absurdo: 4,8 por 100 mil. Ocorre que escandalosa, estupefaciente mesmo, é a quantidade de assassinados no Brasil. Nota-se que entre 82% e 84% das vítimas são homens. E, como se sabe, não se fala de “masculinicídio”. Quando se fazem outros cortes, percebe-se que a esmagadora maioria é constituída de homens jovens.
Os dados vão sendo produzidos aos borbotões. O Brasil estaria em quinto lugar no ranking dos países que cometem o tal “feminicídio”. Na Alemanha, há apenas 0,5 mulher morta por 100 mil habitantes — contra 4,8 no Brasil. Logo, mata-se 8,6 vez mais mulheres no Brasil do que na Alemanha. Ocorre que a taxa de homicídio naquele país é de 0,7 por 100 mil — logo, mata-se, no geral, 36 vezes mais no Brasil do que na Alemanha.
Podemos ir adiante: se a taxa de homicídios alemã é de 0,7 por 100 mil, e a de mulheres, é de 0,5%, há uma diferença de 28,5% entre a taxa geral e a taxa de mulheres assassinadas. No Brasil, a diferença de mortos por gênero é de quase 82%.
Não quero parecer cínico, mas, por esses números, a Alemanha é mais feminicida do que o Brasil.
Não pretendo fazer proselitismo num mar de sangue. Apenas chamo atenção dos senhores leitores para o fato de que o Brasil é muito mais violento do que propriamente machista. Submeter os números da nossa tragédia a uma leitura de gênero é só mais uma expressão da burrice nacional.
O Brasil retrocede socialmente enquanto a América Latina avança
Esta semana, a Suprema Corte de Justiça mexicana deu os primeiros passos para legalizar o consumo de maconha; há alguns dias, a Colômbia aprovou a adoção para casais homossexuais. Em 22 de outubro, o Chile realizou sua primeira união homossexual. A América Latina avança cada vez mais abertamente no sentido de conquistas sociais. O Brasil, ao contrário, afundou em uma crise política e econômica que se retroalimenta periodicamente, e assim perde o rumo e retrocede nessas mesmas conquistas sociais a passos largos, à base de projetos de lei propostos pela ala ultraconservadora do Congresso. O Governo de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), anulado, incapaz de levar adiante sozinho suas próprias medidas de ajuste, assiste impassível à mudança.
Um exemplo: o Parlamento brasileiro aprovou na semana passada colocar em andamento um projeto de lei que restringe os direitos das mulheres estupradas na hora de abortar ou que, pelo menos, os dificulta. A iniciativa, que ainda deve ser aprovada pelo Senado, foi criada pelo conjunto de deputados evangélicos comandados pelo ultraconservador membro da igreja evangélica –e acusado de corrupção pela Justiça– Eduardo Cunha, presidente da Câmara. Atualmente, o aborto é legal no Brasil em casos de estupro, se a gravidez traz riscos para a mulher ou em casos de más-formações cerebrais no feto. E uma mulher estuprada no Brasil pode ir a ambulatórios onde, depois de passar por uma série de entrevistas, os médicos prescrevem a pílula do dia seguinte se ainda houver tempo ou, se já estiver grávida, indicam o aborto. Tudo isso se complica com a nova lei, que prevê que essa mesma mulher deverá passar antes por uma delegacia e denunciar o fato, além de se submeter a um exame médico antes. Há ativistas que sugerem que a medida, além disso, é uma tentativa encoberta de restringir o acesso das mulheres à pílula do dia seguinte, no sistema público de saúde. teme-se que esse seja um primeiro passo para, posteriormente, proibir a venda do medicamento nas farmácias.
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