quarta-feira, 23 de abril de 2014
Apenas uma fábula (imoral)
O pobre quis conquistar a cidade para se tornar rei. Juntou um
grupo, mas nunca conseguiu abalar qualquer parte da muralha. Então se muniu de
uma matilha de cães e um monte de abutres a quem prometeu uma fartura de comida.
A promessa correu por todo o canto e mais cães famintos e muitas aves carnívoras
se juntaram ao grupo. Assim as muralhas caíram.
Posto no trono, com bolsos engordados, sob muita proteção, assistiu
cães e abutres disputarem a pouca comida que os cidadãos guardavam. Mas o pasto
prometido não dava para tantas bocas e cães e abutres começaram a brigar pela
carniça.
Os habitantes da cidade viram que se tornaram escravos de cães
e abutres, mas então já era tarde. E passaram todos a brigar por um naco de
comida, enquanto o rei, cada vez mais engordado por ver seu sonho realizado e
financiado, apesar de custar muito aos cães, aos abutres e ao povo.
Serenata cínica para o Bettencourt cantar
Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.
Aprende a pisar o mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.
Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.
Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.
Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! quebre os ossos
dessa criança de colo.
Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata;
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou então, salta pra lua
e mija de lá na terra.
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.
Aprende a pisar o mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.
Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.
Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.
Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...
Não hesites! quebre os ossos
dessa criança de colo.
Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata;
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou então, salta pra lua
e mija de lá na terra.
José Gomes Ferreira (1900/1985), poeta e escritor português, publicou memórias, contos, ficção, estudos, diários e ensaios.
Assinar:
Postagens (Atom)