quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Agonia do PT

A tímida comemoração dos 36 anos do PT reflete a maior crise pela qual passa a legenda. Além de sua imagem ter sido seriamente atingida com o escândalo do petróleo, ao qual se soma o cenário econômico adverso – pesquisas apontam que o PT, antes visto como “o partido dos pobres”, é caracterizado por uma grande parcela do eleitorado como “o partido da corrupção” –, também a imagem da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula está deteriorada.

Ainda que tenha perdido força no fim do ano passado, o fantasma do impeachment continua rondando o Palácio do Planalto. Com a economia em recessão e a Operação Lava-Jato em funcionamento, a possibilidade de a presidente conseguir melhorar sua popularidade e retomar a iniciativa política é pequena no curto prazo.

Para agravar esse quadro, a imagem de Lula, a maior liderança política do PT e pré-candidato a presidente em 2018, ficou ainda mais arranhada com a recente decisão do juiz Sérgio Moro de autorizar a Polícia Federal a investigar o sítio usado pelo ex-presidente em Atibaia (SP).

Ou seja, como o desgaste de Lula tende a continuar na pauta, diminui a possibilidade de ele conseguir mobilizar as bases petistas em favor do governo Dilma Rousseff. Aliás, hoje Lula está muito mais preocupado em recuperar a própria imagem do que atuar em favor do governo.

Não bastassem esses problemas, há debates internos no PT sobre a criação de um novo partido. Segundo informação divulgada pelo “Painel” da Folha de S.Paulo, as discussões envolvem cerca de 25 parlamentares. A ideia do grupo é retomar as conversas após as eleições municipais deste ano. A grave crise vivida pelo PT indica que o partido deve colher nas urnas, em outubro, a maior derrota eleitoral de sua história.

Mesmo que 2018 ainda esteja distante, as dificuldades que a presidente Dilma terá de enfrentar para reverter a atual crise, o desgaste de Lula – que poderá até mesmo implodir o projeto do PT de lançá-lo novamente numa eleição presidencial – e a falta de novas lideranças com projeção nacional mostram que o PT defrontará obstáculos quase intransponíveis para recuperar-se politicamente. A recuperação da legenda implicará em uma autocrítica para o qual ainda não está preparado.

A combinação de fracasso econômico e crise ética implodiu a narrativa do partido. Para piorar, a agenda de reformas do governo trafega contra as aspirações do partido que está como o cachorro que caiu do caminhão de mudança: não sabe para onde ir nem tem uma casa para voltar.

O reizinho destronado fugiu do tribunal

O parteiro do Brasil Maravilha, o Pai dos Pobres e Mãe dos Ricos, o enviado pela Divina Providência para acabar com a fome, presentear a imensidão de desvalidos com três refeições por dia e multiplicar a fortuna dos milionários, o metalúrgico que aprendeu a falar com tanto brilho que basta abrir a boca para iluminar o mundo de Marilena Chauí, o filho de mãe nascida analfabeta que nem precisou estudar para ficar tão sabido que já falta parede para tanto diploma de doutor honoris causa, o Exterminador do Plural que inaugurou mais universidades que todos os antecessores juntos e misturados, o migrante pernambucano que se nomeou Redentor dos Miseráveis, o gênio da raça que proclamou a Segunda Independência ao reinventar a Petrobras e descobrir o pré-sal, o maior dos governantes desde Tomé de Souza, quem diria?, agora recorre a truques de rábula para escapar de perguntas sem resposta sobre o triplex no Guarujá.


O campeão de popularidade que andou beirando os 100% de aprovação, o senhor das urnas capaz de eleger qualquer poste para qualquer cargo, a sumidade que em cinco anos ressuscitou a nação assassinada pela herança maldita, o pacificador do Oriente Médio, o estadista que dava pitos até em presidente americano e também por isso foi contemplado por Barack Obama com o título de Cara, o colosso que rebaixou a marolinha uma crise econômica planetária, o gigante predestinado a conquistar o Nobel da Paz e eleger-se por aclamação secretário-geral da ONU, o estadista que deixou o mundo boquiaberto com tanta clarividência, quem diria?, fugiu do tribunal nesta quarta-feira por falta de explicações que parecessem convincentes pelo menos aos ouvidos de um bebê de colo.

O SuperMacunaíma que escapou do Mensalão ainda não entendeu que, depois de tropeçar no Petrolão, despencou do elevador privativo do apartamento na praia das Astúrias e atolou num sítio em Atibaia. Alguém precisa dizer ao fundador de um Brasil imaginário que o país real se cansou de tanta ladroagem e está ao lado dos juízes sem medo e dos promotores altivos. Usando como laranja um deputado federal, a tropa de advogados acampada no Instituto Lula raspou o fundo do tacho das chicanas e conseguiu adiar o encontro, em companhia de Marisa Letícia, com um representante do Ministério Público paulista. O investigado talvez até consiga livrar-se do promotor Cássio Conserino. Mas são muitos os homens decididos a aplicar a lei na terra arrasada pela corrupção, pela incompetência, pelo sectarismo ideológico e pela idiotia política.

O reizinho que se achava inimputável logo saberá que a condenação à perpétua impunidade foi revogada pela descoberta de safadezas pessoais e intransferíveis. Não há como terceirizar as bandalheiras que infestam o patrimônio imobiliário do Lincoln de galinheiro, fora o resto. O mito morreu. Há dois dias, Lula proibiu o Conselho Político do PT de tratar das maracutaias que o mantêm pendurado no noticiário político-policial. “Não aguento mais falar disso”, explodiu. “O Luiz Marinho vai lá em casa e só quer falar disso. Chego no Instituto para trabalhar e só falam disso. Não aguento mais”.

O Brasil decente é que não suporta mais tanto cinismo e tamanha cafajestagem. Aguente ou não, o palanque ambulante convertido em camelô de empreiteiro será obrigado a falar sobre isso e muito mais. O interrogatório foi adiado por alguns dias. Mas a hora da verdade chegou.

A marca de Lula

Hoje, o Lula não pode mais dizer que não sabia, porque está tão provado, está tão certo, que o melhor é ele ficar quieto. Não sei o que vai acontecer com ele, mas, certamente, ele ficará marcado como uns dos homens públicos que levou à ruína do País
Ex-senador Pedro Simon

Vinhos de Lulas envelhecem na adega de Atibaia

Como soaria bem aos ouvidos dos brasileiros a notícia de que um presidente da república ao se recolher, depois de cumprir oito anos de mandato, encheu caminhões de livros e obras de arte e os transportou para a sua nova residência. Como seria reconfortante saber que o presidente deixou o poder e virou uma espécie de consultor, conselheiro respeitável para momentos de crise, um homem acima de qualquer suspeita com quem o país contasse para discutir problemas de estado.

Infelizmente, não foi assim a despedida do Lula de Brasília. Ao deixar o governo, e consequentemente o Palácio da Alvorada que ocupou durante oito anos, o ex-presidente encheu vários caminhões com a sua mudança. E em um deles, especificamente, carregava caixas de bebidas, vinhos especiais e raros acomodados em um dos veículos climatizados da frota. Destino: sítio de Atibaia, em São Paulo, que nega ser dele, comprado por R$ 1,5 milhão por um dos sócios do seu filho Lulinha e reformado com dinheiro das empreiteiras que roubaram a Petrobrás.

Que coisa feia! Esta, sem dúvida, foi a carga mais valiosa do ex-presidente cujo gosto por vinho especial foi despertado ao beber um Romanée Conti, da Côte de Nuits, Leste da França, na faixa de 6 mil dólares, presente do seu ex-marqueteiro Duda Mendonça, para comemorar a vitória do primeiro mandato. Três anos depois, Mendonça seria convocado pela CPI para confessar que recebeu uma fortuna do PT em contas no exterior. O caixa 2 levou o marqueteiro ao inferno astral durante anos até ser absolvido pelo STF.

Mas justiça seja feita, responder a processos depois de deixar o poder não é um ato isolado de Lula. Outros ex-presidentes como Collor e Sarney já padeceram nesse paraíso. Não se conhece, no entanto, na história do país um presidente com tamanha sofisticação por vinhos caros como o ex-operário Luís Inácio Lula da Silva, dono de uma fortuna declarada de mais de 50 milhões de reais, patrimônio financeiro suspeito para quem ate hoje só fez política.

Ao deixar a presidência, Lula mandou empacotar cuidadosamente 37 caixas de bebidas, quase 200 garrafas, que seguiram direto para o sitio de Atibaia, seu refúgio, registrado em nome de laranjas. Lá, as garrafas foram acomodadas em uma gigantesca adega, parte da reforma do sítio feita pela Odebrecht, que teria gasto 800 mil reais para deixar tudo nos trinques.

O requinte de Lula chegou aos ouvidos dos diplomatas brasileiros no exterior. E aqueles, mais elásticos, que queriam reverenciar o chefe quando os visitavam sempre o presenteavam com vinhos de qualidade. Assim, de garrafa em garrafa, a adega de Lula cresceu e se multiplicou.

Ao deixar o governo, Lula pensou que seria imortalizado como o pai dos pobres, como a imprensa servil e submissa chegou a rotulá-lo. Que a popularidade seria perpétua. Que o jargão de que “nunca na história desse país” fosse alimentar para sempre o imaginário dos seus eleitores do Bolsa Família, homens e mulheres miseráveis transformados em eleitores de currais.

Viu-se, já fora do poder, diante de outra realidade quando teve que se expor para defender os bandidos do mensalão e tentar cooptar ministros do STF para suavizar os processos dos bandidos petistas. Inconformado, acompanhou as condenações dos parceiros sempre negando participação nos crimes. Depois disso, assistiu a sucessora destroçar a economia do país e, agora, está encrencado na Lava Jato, na Zelotes, no lobby da indústria automobilística e na cumplicidade com as empreiteiras que derreteram a Petrobrás.

O que o Brasil poderia esperar de um sindicalista que virou presidente, e, no cargo, fazia apologia do analfabetismo, negligenciou na condução do governo e aliou-se a elite, disputando com ela o espaço às boas mesas? Como a sua riqueza não tem origem em heranças e não é fruto de nenhum empreendimento, a Justiça quer saber, com razão, de onde veio a fortuna do neoelitista.

PT agora ameaça opositores com porrada para ver se o povo não volta às ruas

O PT é mesmo um partido asqueroso. Sua vocação para a política rasteira, para a mentira mais descarada, para a distorção mais desabrida dos fatos é espantosa. Parte do repúdio que lhe devota a esmagadora maioria dos paulistas e dos paulistanos encontrou, nesta quarta-feira, mais uma vez, uma explicação.

Manifestantes favoráveis e contrários a Lula estiveram às portas do Fórum Criminal da Barra Funda, onde o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, poderiam depor. Como se sabe, uma estranha e exótica liminar, concedida por um membro do Conselho Nacional do Ministério Público, suspendeu os depoimentos. Mesmo assim, petistas e antipetistas foram ao local.

Os fascistoides ligados ao PT eram mais numerosos do que os oponentes. E, de forma clara e inequívoca, foram os vermelhos a dar início ao confronto. Queriam impedir que os outros inflassem o Pixuleco, o boneco com roupa de presidiário que representa Lula. Para obter tal intento, partiram pra cima dos adversários na base da porrada. O boneco, de fato, acabou sendo furado. Houve confronto.


Lula depoimento suspenso briga pro x contra TV sofa pipoca Justica triplex sitio

Entenda-se: os que defendem o impeachment de Dilma e reivindicam que Lula pague por eventuais crimes não avançaram sobre os petistas para, por exemplo, lhes tomar as bandeiras. Mas os “companheiros”, dado o seu particular entendimento do que seja democracia, têm a ambição de decidir que material de propaganda pode e não pode ser usado pelos oponentes.

É a retórica petista, inclusive a da presidente Dilma, que está estimulando a arruaça. Esses milicianos do partido, à moda dos bolivarianos de Hugo Chávez, agora decidiram partir para o confronto físico mesmo.

A Polícia Militar, cumprindo a sua função, teve de intervir. Foi necessário recorrer a bombas de gás e de efeito moral.

Atenção! Todos os que estavam lá, petistas ou antipetistas, acabaram sendo dispersados pela PM. A polícia atuou para impedir que se agravasse um confronto que já havia feito feridos.

Mas quê… Acreditem! O Diretório Estadual do PT e a bancada de deputados estaduais do partido emitiram uma nota conjunta atacando a PM. Leiam:

“A direção estadual do Partido dos Trabalhadores e a Bancada dos deputados estaduais repudiam veementemente a postura da PM comandada pelo governador Geraldo Alckmin, durante ato de solidariedade ao ex-presidente Lula.
Duas pessoas foram feridas pelos PMs que desferiram bombas de gás e de efeito moral contra os participantes do ato pacífico. E pior, os policiais se postaram enfileirados em proteção ao boneco da imagem do ex-presidente.
Há tempos a sociedade paulista tem sido vítima da política truculenta da PM comandada pelo PSDB, que resiste em conviver com o direito democrático de manifestação.
Emídio de Souza – Presidente Diretório Estadual do PT-SP
Geraldo Cruz – Líder da Bancada do PT na Assembleia Legislativa”

A nota é escancaradamente mentirosa. É por isso que, quando estão no poder, esses patriotas são capazes de mensalão, petrolão e, quem sabe?, coisas piores.

A PM não dispersou uma manifestação pró-Lula, mas atuou para interromper um confronto. A PM não protegeu o Pixuleco, mas se perfilou para tentar impedir que os fascistoides de vermelho atacassem seus oponentes, que estavam com o boneco.

A manifestação dos petistas não é pacífica, tanto que a própria nota acusa os policiais de proteger o Pixuleco. Pergunta óbvia: proteger do quê? Por que tal proteção seria necessária?

Como? A sociedade paulista tem sido vítima da política truculenta da PM? Eu proponho um desafio: que, em qualquer lugar do Estado, discursem um PM e um representante do PT.

Vamos ver quem vai ser aplaudido e quem vai ser vaiado pelo povo paulista.

O confronto da Barra Funda serviu para demonstrar uma tática inequívoca dos petralhas: ameaçar bater em quem se manifestar em favor do impeachment e da punição de petistas criminosos.

Que a população reaja ocupando as ruas e as praças. De forma pacífica. Chegou a hora de provar que não há mais lugar no país para o fascismo petista.

É incompreensível a atitude do cidadão Luiz Inácio Lula da Silva

O propósito do título destas linhas é lembrar que, na realidade, não existe, a não ser como mera homenagem, e mesmo assim passível de ser subtraída a qualquer instante, o título de “ex-presidente”. Lula, hoje, é um cidadão comum.

Tenho sido desafiado, frequentemente, em primeiro lugar, a (ainda) acreditar em meu país e, depois, a dizer o que penso da possibilidade de ser decretada a prisão de Lula na operação Lava Jato. A primeira resposta é positiva. Claro que acredito em meu país! Pelo tempo já vivido, disponho de sobejas provas para pensar assim. Isso, porém, não assegura, pelo menos a mim, uma longa vida, posto que já a vivo. Ela me leva a acreditar em um futuro melhor, não para mim, insisto, mas para meus filhos e, sobretudo, meus netos. E é óbvio que incluo aqui os milhões de jovens que querem dar a este país um rumo seguro.

Quanto à segunda, nego-me a entrar numa questão que divide os brasileiros. Considero que Lula, embora (ele) possa pensar assim (“Neste país, não tem uma viva alma mais honesta do que eu”...), nunca esteve, não está, nem nunca estará acima de qualquer suspeita.

Lula, portanto, não está sendo, agora, injustiçado, como muitos dizem – sobretudo no governo Dilma –, nem, por enquanto, existe denúncia formal contra ele. Ele, simplesmente, vai se tornando o alvo principal das investigações na Lava Jato e há (embora possa haver, também, motivos políticos) indícios claros de que o ex-presidente meteu os pés pelas mãos. Pode até não vir a ser preso (qualquer outro brasileiro, na situação dele, já estaria em cana), nem mesmo ser processado por algum crime, mas, politicamente, ele se destruiu – o que não quer dizer que esteja morto para sempre. Lula é um animal político.

O que mais impressiona é que o ex-presidente, além de inteligente, é esperto, e só chegou onde chegou porque, até a operação Lava Jato, soube ser mais do que esperto ao driblar situações constrangedoras, como, por exemplo, as dificuldades que encontrou no mensalão. Daqui pra frente, se bobear, a esperteza – como se diz cá nestas Gerais – finalmente acabará e, sem compaixão, engolirá o dono.

Lula, às vezes, parece que tem parte com o demônio. Considera-se, noutras vezes, de verdade, um enviado de Deus. Excluídos os sobas que o cercam, políticos, ministros ou não, por ele fala apenas uma entidade – o (seu) Instituto Lula, que se transformou numa fábrica de dinheiro. Ele mesmo fica silente e nada diz a respeito da última reunião do conselho político de seu partido, que, embora pressionado por petistas que ainda acreditam nos principais fundamentos do PT, deixou de abordar as denúncias contra seu maior, único e principal líder.

Não vou entrar noutras acusações contra Lula, que já estão entregues ao Poder Judiciário. Todavia, quanto ao sítio em Atibaia e ao apartamento no Guarujá (que bom gosto!), não se pode deixar de dizer que nenhum brasileiro que tenha ocupado o cargo de presidente da República poderia aceitar o que, claramente, o ex-presidente aceitou. Dono, de direito ou de fato desses imóveis, o que aconteceu é, para ele, extremamente comprometedor. A titularidade de direito de ambos os imóveis, que só se faz por meio do registro, fácil de ser provada, e é o que um dos sócios do sítio quer fazer agora, nada esclarecerá a respeito das denúncias repletas de indícios retumbantes.

Um dia, a verdade virá à tona e com toda sua força. Não seria muito melhor que Lula a aceitasse logo?

CNJ se curva aos corruptos para punir jornalistas investigativos

Desde que, em outubro de 2003, a PF deflagrou a primeira grande operação, a Anaconda, os jornalistas ficaram de joelhos.

Afinal de contas, era a primeira vez que o jornalismo investigativo se mostrava impotente face o sistema legal de grampos judiciais, o Guardião. Jornalista não tem meios de competir com esse tipo de aparelho. Sobre o qual contei tudo aqui.

Desde então, jornalista acabou sendo reprodutor de escutas do Guardião. Fazer investigação virou obter documentos prontos. O jornalismo investigativo tradicional começava a morrer e a renascer num outro modelo: obter de gravações de grampos oficiais e publicá-las.

Agora vejam a notícia que se segue , que extrai do Consutor Jurídico: o Conselho Nacional de Justiça aprovou, nesta terça-feira (16/2), uma série de medidas para tentar coibir o chamado “vazamento seletivo” de informações sigilosas colhidas em investigações criminais. A nova Resolução 217 altera artigos da regra do CNJ que trata de quebra de sigilo e interceptação telefônica e de endereços eletrônicos para obrigar o juiz a requerer a instauração de investigação, “sob pena de responsabilização”.

Diz a Conjur que, de acordo com o novo texto, o Judiciário é responsável por apurar a divulgação de informações sigilosas por qualquer um dos envolvidos em quaisquer ações que corram em segredo de Justiça. A resolução obriga o juiz a investigar os vazamentos mesmo que eles tenham partido do Ministério Público e da autoridade policial.

A resolução, prossegue a Conjur, também cria uma série de obrigações ao juiz que determinar a quebra de sigilo ou que mandar grampear o telefone de investigador e acusados. O texto obriga o magistrado a escrever, na ordem, os indícios de autoria do crime, as diligências feitas antes do pedido de quebra de sigilo ou de grampo e os motivos pelos quais não seria possível obter a prova por outros meios.

Sabe o que isso significa?

É a vitória do lobby de alstonianos, mensaleiros, merendeiros e petroleiros, não importa o partido, contra os jornalistas.

O CNJ quer punir quem luta pela transparência.

Mais uma instituição se curva aos corruptos.

Faz sentido ser apaixonado por um partido político?

O apaixonado é frequentemente um tolo, ensinou Roland Barthes. Barthes se referia à paixão amorosa. A paixão louca dos amantes, dos namorados. Dos amores eternos e dos impossíveis, desses que a gente vê nos filmes.

Não faço ideia do que Barthes diria de um sujeito apaixonado por um partido político. Ou pior: por um político de carne e osso. Um prefeito, governador, presidente ou ex-Presidente. De minha parte, teria um bom nome a dar a esse sujeito, que prefiro não usar aqui.

Digo apenas que acho o passionalismo partidário um tanto ridículo, ainda que eficiente para quem dele se aproveita para chegar – ou se manter – no poder.


Sobre isso, tive uma experiência interessante, dias atrás. Escrevi um artigo a respeito das investigações sobre Lula. Havia me impressionado a reação apaixonada e violenta da entourage lulista contra as investigações do Ministério Público e da Política Federal, e resolvi escrever sobre o assunto.

Meu ponto era apenas dizer que o país tem instituições, que é importante que elas possam agir com serenidade, e que Lula deve der investigado como o seria qualquer outro brasileiro. Que isto era importante, no caso de Lula, precisamente por ele ser, como costumam frisar seus apoiadores, o “mais importante líder político deste país”.

Recebi umas 400 mensagens. 30% delas de apoiadores do ex-presidente. 100% furiosas. Não dá pra citar todos os argumentos – diria “fragmentos”, num tom barthesiano – mas a coisa vai por aí: Lula é inocente/Não deve ser investigado/o Ministério Público, Polícia Federal e judiciário são instituições de araque/outros partidos também roubam/a mídia é de direita/querem dar um golpe como fizeram com Jango e JK.

Me surpreendeu a inclusão de “JK”. Na faculdade aprendi que o JK era de “direita”. Talvez fosse para dar “amplitude” ao argumento. Mas esse não é o ponto. Gostei das mensagens: pude ampliar minha coleção de fraseologia jus esperniandi. Uma fonte inesgotável de bolinhas de sabão ideológicas, sempre com o mesmo núcleo: a mídia, o golpe, a direita.

O que realmente me surpreendeu foi não receber sequer uma única mensagem dizendo: “podem investigar, nós confiamos na honestidade do Lula”. Ou, algo mais sofisticado: “é bom investigar. Lula é nosso líder (entre outras razões) porque é honesto. Se ele não for, ao menos saberemos e poderemos rever algumas posições”.

Mas nada. Nem uma mísera mensagem nessa direção.

O intrigante seria esta nossa atitude em qualquer tema relevante da nossa vida. A papinha do bebê, por exemplo. Imaginem a mãe dizendo: “ok, há suspeitas de que a papinha que usamos é tóxica, mas não quero saber. Conversa da concorrência, vamos continuar comprando”.

Pense. Qualquer assunto: a ração do gato, o colégio das crianças, a erva do chimarrão, a marca do silicone. Você nunca vai escutar a seguinte frase: "vou colocar esse silicone amanhã. A Anvisa diz que a marca é suspeita, mas não quero saber. Confirmei a cirurgia".

A pergunta a fazer é: se não agimos assim com as nossas coisas, então por que tratamos desse jeito nossas escolhas políticas?

Por que, diante de informações que não nos agradam, tapamos os ouvidos e cantarolamos, como um criança mimada? Por que, de antemão, em vez de ponderar os fatos, resolvemos que a ração do gatinho é ótima, ainda que denunciada pelo conselho de veterinária? Em vez de prestarmos atenção às investigações do Ministério Público, preferimos entrar na hashtag “lulaeuconfio” e ficar gritando “é tudo uma conspiração da direita!”

A questão mais geral é: há alguma “racionalidade” na paixão política? Arrisco dizer que sim. A explicação vai na linha do que o economista americano Anthony Downs chamou de “ignorância racional” do eleitor. A tese diz o seguinte: um vez que o voto de cada indivíduo decide quase nada, numa eleição, não é lógico investir muito tempo buscando – seriamente – informação sobre candidatos, políticas públicas, etc. A alienação não seria uma decisão irracional.

Mais: quando o sujeito compra um celular desta ou daquela marca, ele toma 100% da decisão e arca com 100% do custo da sua escolha. Se o treco não funcionar, é ele quem arca com as consequências. Na política é diferente. Se ele escolher errado, todos vão pagar a conta. O custo é socializado, mas ele pode privatizar o benefício de manter sua “coerência”. Inventa uma explicação qualquer e toca a vida pra frente.

Tudo isso funciona como um convite à irresponsabilidade. Não deveria ser assim, mas acabamos lidando com a política como lidamos com o futebol. Nos entregamos, xingamos a mãe do juiz, dizemos que está tudo arranjado. Nós sabemos de tudo. Inclusive que “não vai dar nada”, se tudo que dissermos não passar de uma grande besteira. A paixão política é assim, uma forma “saborosa” de alienação.

Antes que alguém tenha um chilique, digo que isso ocorre, em maior ou menor grau, com todos os partidos. Democratas, PSDB, PMDB. Até pelo recém-criado “partido da mulher brasileira” deve ter um ou outro apaixonado. Mas o lulo-petismo, vamos convir, é, de longe, o caso mais agudo.

Se pudesse sugerir alguma coisa, recomendaria que as pessoas fossem um pouco mais criativas: que se apaixonem por uma grande ideia. A liberdade, por exemplo. Ou a justiça, os direitos humanos. A livre escolha educacional (uma das minhas, reconheço). A filantropia, quem sabe. Mas sempre com um chá de camomila por perto.

A política pode ser feita com um sentido de missão e um senso de responsabilidade, como sugeriu Max Weber. O primeiro serve como ímpeto, o segundo como comedimento. Não é uma equação fácil, nestes tempos nervosos, mas é a melhor para a democracia, além de preservar velhas e boas amizades.

Daí meu gosto todo especial pela frase de Camus: “se houvesse um partido daqueles que não sabem se têm certeza, eu faria parte dele”.

Fernando L. Schüler

'Exército de Stédile' já está nas ruas para defender Lula

No ano passado, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um explosivo discurso no auditório da Associação Brasileira de Imprensa, atacando os defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff e ameaçando colocar as ruas o exército do Stédile, ele não estava falando de brincadeira. A ameaça era real e começou a ser concretizada naquele exato momento. Enquanto Lula discursava no sétimo andar, em frente à ABI um grupo de militantes petistas agredia manifestantes que traziam faixas e cartazes a favor do afastamento de Dilma.

Quando Lula falou em “exército” do João Pedro Stédile, que inclusive estava presente ao evento na ABI, na verdade estava se referindo à massa de apoio ao PT, que abrande grande número de movimentos sociais, sindicatos e centrais.

Lula não se considera apenas “filho do Brasil, como é descrito no filme de Fábio Barreto, cujos pais Luis Carlos e Lucy Barreto também estavam presentes ao evento na ABI e se mostravam visivelmente incomodados com o radicalismo assumido pelo ex-presidente. O fato é que, do alto de sua megalomania, Lula já se considera o dono do Brasil, e está agindo como tal.

O enfrentamento desta manhã de quarta-feira, diante do Forum da Barra Funda, em São Paulo, é o segundo capítulo de uma novela que não tem prazo para acabar. A cada vez que Lula for intimado para depor, os movimentos sociais, o MST, as centrais e os sindicatos estarão nas ruas, com o único e exclusivo objetivo de tumultuar o ambiente e evitar que os inquérito e as ações judiciais prossigam normalmente. Querem melar o jogo, como se dizia antigamente.

Como a Justiça não parece disposta a se curvar diante do autoritarismo lulopetista e existem muitos setores da sociedade que não aceitam esse tipo de manobra para garantir a impunidade de Lula, é claro que a situação só tende a se radicalizar, com o fortalecimento do coro dos sectários que defendem a volta do regime militar, o que representaria uma humilhação internacional de um país como o Brasil.

Lula sabe levantar as massas e verdadeiramente se considera acima da lei e da ordem. É aí que mora o perigo.