terça-feira, 26 de abril de 2016

Os sonhos não cabem nas urnas

De noite, em pé.

Desde 31 de março passado, centenas de franceses, às vezes, milhares, reúnem-se diariamente na Praça da República, no norte de Paris, para conversar e discutir a situação política do país, seus problemas, o que e como fazer para resolvê-los e rumos para o futuro. Como dizem os participantes, trata-se de ocupar o espaço público, transformá-lo num fórum, como se fora uma ágora moderna, onde todos são bem-vindos. A polícia os proibiu de se sentar. Pois seja, ficaram em pé.

E em pé vão atravessando as noites.

As pessoas começam a chegar de tarde, organizam-se em grupos, alguns formam comissões voluntárias. Jovens e velhos, mulheres e homens, militantes e curiosos. Às 18h, a afluência aumenta, e começa a assembleia. A palavra, de quem quiser, é exercida com gosto e desenvoltura. Alguém observa que este “laboratório da palavra livre” é muito mais estimulante do que as passeatas tradicionais, onde as pessoas avançam juntas, com palavras de ordem e cantos, mas raramente conversam entre si. Outro propõe a metáfora do grão de areia: quando se juntam, os grãos podem emperrar a máquina. O momento mais emocionante neste mês de abril foi alcançado pela execução da “Sinfonia nº 9”, dita “Do novo mundo”, de Dvorak, tocada por cerca de 350 músicos, voluntários mobilizados pelas redes sociais, ovacionada pelo público presente.

A faísca que acendeu esta fogueira de cidadania foram as manifestações de março contra a lei proposta pela ministra do Trabalho do governo socialista, Myriam El Khomri. Trata-se de uma ampla reforma da legislação trabalhista, envolvendo, entre outros aspectos, tempo de trabalho, negociações salariais, assistência social. O objetivo logo se tornou evidente: limitar ou guilhotinar direitos sociais em nome da competitividade. É assim que os governos, socialistas ou não, têm enfrentado os efeitos da grande crise iniciada em 2008 e que, até hoje, atormenta as sociedades europeias. Os sindicatos e associações de trabalhadores protestaram. Os estudantes secundaristas disseminaram o #OnVautMieuxqueÇa (a gente vale mais do que isto) e foram às ruas. A polícia desceu o cacete. Bateu em jovens em praça pública, prendendo dezenas. Nas delegacias, segundo denúncias consistentes, houve cenas de intimidação, agressão e tortura moral e física.

Formou-se um caldo grosso de denúncias e críticas. Foi nesta atmosfera que surgiu o movimento da Praça da República.

O que querem estas gentes que se dispõem a ficar em pé de noite? A maioria, por enquanto, quer apenas conversar. Ouvir e ser ouvido. Falar e escutar. O ânimo geral é crítico ao sistema político existente e ao tipo de sociedade que se estrutura na França e na Europa, baseado no vale-tudo do cada um por si e Deus por ninguém. E que se pise no pescoço da própria mãe, desde que se possa alcançar o sucesso pessoal e o consumo ostentatório. Como observa Frédéric Lordon, não é apenas a Lei El Khomri que está em jogo, é a visão de mundo que fundamenta a lei. Um mundo dominado pelos dinheiros, pela atividade frenética, pelo doping dos remédios estimulantes ou calmantes que é preciso tomar, cada vez mais, para segurar o tranco de uma vida angustiante e hostil. Há também uma desconfiança visceral em relação aos partidos e à sua capacidade de representar vontades e anseios reformistas. Como se os processos eleitorais regulares não fossem mais capazes de viabilizar os sonhos de mudança, maiores que as urnas onde se depositam os votos.

De noite, em pé, é um broto a mais numa floração que não cessa: os egípcios da Praça Tahrir; os indignados espanhóis da Puerta del Sol; os turcos em Taksim; os atenienses da Praça Sintagma; Occupy Wall Street nos Estados Unidos e na Austrália. Na tradição remota, e na própria França, os manifestantes invocam a gesta da grande revolução e os Cahiers de Doléances (cadernos de queixas e demandas), de onde surgiu o conceito de cidadania; a Comuna de Paris e o autogoverno popular, em 1871; a greve geral, de 1936, que gerou a Frente Popular e a conquista das férias remuneradas; o movimento de 1968 — embora derrotado, prolongou-se no tempo.

Almamy Kanouté, educador popular, nascido francês de pais africanos, apontou dois problemas que precisam ser encarados: ultrapassar os limites parisienses, integrando os subúrbios e outras cidades, e superar o fascínio pela pura palavra em proveito da ação coletiva em torno de uma plataforma de reivindicações concretas. Desafios que, não enfrentados, podem conduzir o movimento ao declínio.

Tudo ainda é muito frágil, sem dúvida, mas a experiência já marcou os espíritos dos que têm participado. Foi como se houvera uma repolitização das consciências. Além disso, como bem observou Renaud Lambert, “nossos adversários sabem que não ganham quando nós perdemos, mas quando desistimos”. Os que ficam de pé nas noites mostram que nem todos desistiram.

Daniel Aarão Reis

Quando vai ser o futuro?

O Cazuza cantava: “Brasil, mostra tua cara!”. É isso. Durante o show de horrores na votação do impeachment, pudemos ler a história do Brasil na cara dos políticos. Meu Deus, como são feios nossos “homens públicos”, como são inatuais, de mau gosto. Seus rostos e caretas demonstram como será difícil modernizar esta terra.

Charles Darwin tem um livro chamado “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”. Ali estão catalogadas as expressões fisionômicas dos chimpanzés, dos cachorros e dos homens. São baseadas no “princípio da antítese”, nome que Darwin criou, explicando, por exemplo, que um cachorro expressa amor ao dono por uma mutação corporal, facial e “rabeal”, absolutamente negadora de qualquer agressividade, amolecendo as costas, abanando o rabo, babando em nossa mão. Mas Darwin não previu a cara dos políticos brasileiros.

O “princípio de antítese” dos nossos políticos, ao contrário, visa esconder o que sentem, pela negação de seus reais motivos. Assim, o canalha ostenta bondade, o ladrão apregoa honradez, o assassino, delicadeza.


Era assim, mas até isso está mudando. Assistindo ao desfile dos “cobras criadas” na Câmara, concluo que não apenas se perdeu a ideia de vergonha na cara, como ela foi substituída por um certo orgulho, um vago enlevo de ostentar a própria sordidez como um galardão. Antigamente, o canalha se escondia pelos cantos, roído de vergonha; hoje, ele apregoa, com uma tabuleta na testa: “Roubei sim, e daí?!”. A alma do negócio era o segredo. Hoje, espanta-nos a visibilidade dos estelionatos, conjugada à sublime ejaculação das mentiras.

Cada vez mais o feio domina o país tão bonito por natureza. Cada vez mais nos deparamos com o feio nas ruas alagadas, nas paisagens destruídas, na gente desesperada, ignorante, malpaga, com a miséria nos rostos, nas roupas, nos gestos, nos risos boçais.

Essas crises sem fim estão nos deformando física e psiquicamente. Não só por tragédias visíveis, como catástrofes naturais; vivemos a tragédia do nada, a tragédia do retrocesso que vai nos reduzindo a uma mera anomalia.

Durante o governo FHC, conseguimos atrelar um pouco o Brasil a uma política econômica mais contemporânea. Estava tudo pronto para a decolagem. Mas chegou a turma braba dos lixeiros do comunismo e segurou o avião antes de ele ganhar voo. A partir dessa “tomada do poder”, como eles chamam, o Brasil virou um flashback, um filme rebobinado. Tudo voltou ao banho-maria, tudo voltou ao pântano. Passaram a chamar os retrocessos que fizeram de “avanços sociais”. Analfabetos e intelectuais ainda acreditam nisso. O maior crime do PT foi ter se aliado, ou melhor, ter feito um conluio com a pior direita brasileira: Lenin-Sarney.

Os séculos de patrimonialismo que nos legou Portugal, tirando da sociedade a autonomia sobre si mesma, transformou-a em uma massa amorfa, melancólica.

Como uma compensação para a impotência, passamos a valorizar o fracasso como uma qualidade nobre. Os bons fracassam, e os maus vencem. O fracasso passou a ser nosso mantra, puxando lamentos como “a vaca foi para o brejo” ou “estamos à beira do abismo”. Sempre estivemos à beira do abismo. Sempre.

O que estamos vendo aí é o súbito florescimento de colônias de micróbios que já nos afetavam há séculos. Flores podres desabrocharam.

Tudo que está acontecendo hoje com espalhafato já acontecia silenciosamente, surdamente, nos últimos séculos. Os fatos estavam se gestando, se montando, prontos para irromper. A barragem agora se abriu. O que estamos vendo é um “maktub” caboclo – tudo estava escrito.

Esta crise que vivemos é inédita aqui. Já tivemos golpes militares, renúncias, tiros no peito, porres fugitivos. Eram crises mais agudas, mais óbvias, mais concretas.

Hoje não. Esta crise é uma grande areia movediça que vai afogando instituições, velhos pilares da República, se coagulando como uma pasta, um brejo de não-acontecimentos em que nossa vida afunda. A depressão econômica criou a depressão interna.

Mas, dizem os psicólogos, que sem depressão não há descobertas. Assim, já entendemos que a esperança por um “país do futuro” é uma forma de paralisia.

Esta crise é terrível porque é uma caricatura. É a crise do superficial, do inerte, da anestesia sem cirurgia. Era evitável, se não fossem os atuais micróbios no poder. Esta crise é uma anedota, é um pesadelo humorístico. Esta crise não é só política; é psiquiátrica. O mundo nos contempla como um país de trapalhões; não é catástrofe, guerra – é a esculhambação secular.

E como vamos sair dessa? Vem aí o impeachment, e, com ele, a pergunta angustiada: o que virá depois? Já vemos os sinais de discordância entre os prováveis novos “donos do poder”.

Como vai se tecer uma rede de tantos interesses conflitantes? Como conciliar olhos de rapina, focinhos de raposa, evangélicos de conveniência, coxinhas trêmulos, partidinhos de aluguel, cutistas radicais, militantes de propina, bandidos hipócritas e bandidos assumidos? Como desenhar essa constelação de egoísmos conflitantes? Como criar uma frente de salvação nacional como apregoam?

Como fazer uma coalizão para o bem do país com ideias divergentes e delirantes explodindo em todas as direções? Onde se encontrará o ponto de convergência entre tantos bichos diferentes? Quem vai ser o domador? O Temer? Santo Deus...

Agora, a nota de desespero, caro leitor: talvez nosso destino já esteja traçado – seremos assim no futuro, para sempre.

Em seguida, aqui vai também um postscriptum de otimismo: O Brasil evolui pelo que perde e não pelo que ganha. Sempre houve no país uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Esse é nosso torto processo: com as ilusões perdidas, com a história em marcha a ré, estranhamente, andamos para a frente. O Brasil se descobre por subtração, não por soma. Mais do que crise, talvez isso tudo seja uma “mutação”.

A bruta desgraça está ficando visível, e talvez a melancolia dê lugar a uma indignação e, depois, a uma nova consciência.

Punindo a vítima pelo próprio crime

O papo furado da ocorrência de um golpe contra o desastrado e atarantado desgoverno Dilma tem sido desmentido à exaustão. É o que mostra o placar folgado pelo qual foi aprovado em votação no plenário da Câmara dos Deputados o difamado relatório do ex-governista Jovair Arantes recomendando a abertura do processo do impeachment dela pelo Senado. Foram 367 votos sim contra 137 não e mais 7 abstenções e 2 ausências, 146 num total de 513: dois terços do quórum qualificado exigido mais 25.


Essa sessão histórica está sendo execrada por conta dos discursos prévios aos votos dos presentes, embora estes em nada tivessem diferido dos proferidos em disputas anteriores em voto aberto. Principalmente no último procedimento similar, em que foi deposto Fernando Collor de Mello. Outra tentativa de desqualificar a votação foi lembrar que apenas 34 votantes tinham obtido nas urnas sufrágios suficientes para se elegerem. O argumento é tão falacioso quanto o que nega legitimidade a Michel Temer sob a alegação de que ele não foi escolhido pelo eleitor. No Estado Democrático de Direito vigente no Brasil até ordem em contrário, o vice é legítimo, pois recebeu os mesmos votos da titular da chapa (mais de 54 milhões). Só votou no plenário da Câmara, da mesma forma, representante qualificado pelo sistema eleitoral vigente, o proporcional. Este pode até ser equivocado – e o tenho combatido desde 1988, quando foi ratificado e, a meu ver, até piorado. Mas é o que vige desde 1946, quando foi adotado, e continuará a valer até ser revogado por alguma reforma constitucional. Ou um coup d’État.

Ainda assim, nenhum brasileiro de posse das faculdades mentais, capaz de raciocinar com clareza e lógica e bem informado tem o direito de reclamar do resultado da sessão histórica daquele domingo. Deputado não é eleito para falar bem nem para agradar a gregos e troianos, mas para representar a sociedade. É a essência da democracia representativa, aqui vigente. O regime é imperfeito, como tudo o que é humano, mas não se conhece outro melhor. Quem votou sim expressou, de forma quase exata aritmeticamente, a posição do cidadão que o elegeu. Mesmo não tendo alcançado na eleição o coeficiente eleitoral, que não é uma meta a ser atingida por nenhum candidato, mas o número pelo qual se habilita uma legenda ou coligação para ocupar as vagas na Casa, como estabelece a lei. Afirmar que só 34 receberam os votos equivalentes a esse coeficiente não é informação útil, mas engodo, que só pode nascer de má-fé ou ignorância: é desinformação.

Na verdade, os discursos que deveriam ser criticados, embora nem por isso desconsiderados, seriam os que manifestaram o legítimo direito de dissentir da maioria, votos vencidos por larga margem. Ao denunciarem um golpe inexistente, esses representantes do povo mentiram, tentaram confundir o eleitorado e inscreveram na História política um ato que negou seus discursos. Seus votos provaram que aquela sessão não correspondeu a uma conspiração golpista, pois avalizaram a decisão da maioria. Se aquilo era um golpe disfarçado, por que cargas d’água eles compareceram para votar não? É claro que o fizeram pela permanência do desgoverno zumbi. Como não conseguiram, legitimaram a decisão da maioria.

Tal legitimidade foi, de novo, confirmada pela principal propagadora da tese que a contesta. A presidente Dilma Rousseff levou 51 (e esta não foi a melhor ideia que teve na vida) convidados para ouvirem seu discurso na assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre clima. Foi uma viagem inócua, contraditória e dispendiosa para o contribuinte, que a pagou nesta situação de crise aguda. Se foi feita para denunciar o golpe no exterior, malogrou completamente. Na ONU, felizmente, Dilma fez um discurso protocolar, em que a imagem do Brasil não foi prejudicada, como o foram os dês dos gerúndios, que, mesmo lendo, madama não pronuncia, submetendo os ouvidos dos lusófonos a “andano”, “pedalano” e outros barbarismos similares.

Mas o súbito surto de lucidez da “chefa” do governo foi interrompido quando, à noite, após ter visitado uma exposição de Degas, deu, de pé, uma entrevista coletiva e repetiu, aos berros, suas ladainhas. É golpe, jurou de pés separados e uma vez mais. Assim, descreveu o Brasil como a sede da primeira interrupção brusca de uma democracia em que o substituto ocupa o posto na sua ausência para, depois, devolver-lho sem nenhuma quebra protocolar. Se tivesse sido golpeada, Dilma não teria mais uma vez transferido ao contribuinte o ônus de pagar US$ 100 mil pela desistência de permanecer em Manhattan, antecipando a volta em um dia.

Enquanto a presidente jurava novamente nunca haver delinquido na vida, em casa o noticiário dava conta de que sua inocência presumida e apregoada é ameaçada por inquéritos policiais que põem em dúvida sua lisura em vários episódios, conforme delações premiadas de ex-aliados de ocasião. Daniele Fontelles, publicitária da Pepper, relatou àIstoÉ histórias cabeludas da contabilidade de sua campanha, protagonizadas por seu “maçaneta”, Giles Azevedo. Segundo outra revista, a Época, a santidade do nome dela deixou de ser unanimidade nacional. Sua honra está sendo enxovalhada em relatos, que não parecem da carochinha, envolvendo o ex-marido Carlos Araújo e a sempre por ela protegida Erenice Guerra.

Ao invocar esses mantras, a presidente fez questão de lembrar que três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que a criticaram por insistir na tese do golpe, são minoria num plenário de 11. Não errou a conta, mas essa manifestação de menosprezo por um Poder autônomo não a ajudará em sua porfia para ficar no trono, contrariando, no mínimo, 61% dos brasileiros ouvidos em pesquisa, 71% dos deputados federais que autorizaram o impeachment e 59% dos senadores. Estes declararam publicamente apoio a sua retirada no placar do Estadão, contribuição histórica da imprensa livre à cidadania soberana, por informar a cada dia ao eleitor qual seria a posição de seus representantes na Câmara. E agora dos representantes dos Estados, na disputa no Senado.

Seu ânimo belicoso, que ajudou a levá-la à beira do abismo institucional, onde está no momento, inspirou-a a incluir, na mesma desastrada entrevista, entre os interessados no tal golpe a imprensa, que noticia a morte e prenuncia o sepultamento de seu desgoverno.

Urge ressaltar que ela também inovou, naquela ocasião, convocando Mercosul e Unasul a punirem o Brasil, caso se confirme a prenunciada pule de dez de sua deposição. É, na certa, o primeiro caso na História em que um governante pede sanções contra o país cujas instituições jurou não apenas cumprir e honrar, mas também defender. Ao investir contra a Constituição de 1988, Dilma reassume enfaticamente, aqui ou fora do País, antigas convicções de desapreço pela democracia burguesa, que não quis restaurar quando pegou em armas contra a ditadura militar, ao contrário do que diz. Em vez de respeitá-la, ela só tenta usá-la em defesa do pretenso direito, que se atribui, de violar a lei, o que lhe teria sido conferido pelo voto popular. Assim, age como delinquente que exige que se puna a vítima pelo crime dela.

Lambança igual nunca se viu

Parece muito difícil que o Supremo Tribunal Federal adote a convocação de eleições presidenciais para logo depois do impeachment de Dilma Rousseff, caso Michel Temer também não se livre do constrangimento de não poder assumir, denunciado que está junto à maior corte nacional de justiça. Domina a maior parte dos ministros do STF a tendência de que não devem imiscuir-se nas questões do Legislativo e do Executivo. Prevalece a norma constitucional da harmonia e independência dos poderes da União. Sendo assim, no caso da degola de Madame, seguir-se-á a natureza as coisas, ou seja, a ascensão do vice-presidente, primeiro interinamente num prazo de até 180 dias, depois em definitivo, até o término do mandato em curso.

Tudo dependerá do Senado, onde até agora não foi alcançado o quorum, nas previsões que hoje chegam a 48 ou 49 votos e não aos 51 necessários à defenestração presidencial.

Não é de graça que Temer conversa como nunca na hipotética composição de seu ministério. No domingo, dialogou com Paulo Scaf, José Serra e Henrique Meirelles, como nos dias anteriores com inúmeros líderes partidários.

A sugestão de eleições presidenciais imediatas atropelaria a Constituição e romperia as instituições, aí então caracterizando o golpe. Parte do PT inclina-se por ela, imaginando a possibilidade da candidatura do Lula. Quanto a demais pretendentes, seriam os mesmos de sempre, como Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e penduricalhos.

Sempre haverá a possibilidade de não acontecer nada, caso os adversários da presidente Dilma não consigam os votos necessários, no Senado, para o seu afastamento.

O triste nessa história é assistir o país parado, com o governo de Madame inerte, insosso e inodoro. Enquanto isso o desemprego se multiplica, o custo de vida sobe, os impostos aumentam e os salários caem. Inexistem planos e programas de recuperação nacional, pois o trabalho a que Michel Temer se dedica carece de embasamento legal, por enquanto.

Fixou-se a data de 12 de maio para o final da primeira fase de decisão dos senadores, quando a presidente poderia ser afastada pelos 180 dias, seguindo-se no seu decorrer a segunda etapa, pelo afastamento definitivo ou sua permanência até o final do mandato.

Lambança igual não se vê faz muito.

Lula incita PT e movimentos sociais a partir para a radicalização

A batalha do impeachment já está perdida. As previsões são de que o processo será aprovado pelos senadores na segunda quinzena de maio, com afastamento provisório da presidente Dilma Rousseff por 180 dias. A partir daí, o vice-presidente Michel Temer estará em exercício, à frente de um ministério de notáveis, liderados por Henrique Meirelles, que vai fazer a diferença em relação ao governo incompetente e titubeante da mulher sapiens, circunstância que fortalecerá ainda mais a aprovação definitiva do impeachment.

Hoje, o placar do Estadão já é de 50 votos a 20, com 11 indecisos. Portanto, a tendência é de Dilma Rousseff ser cassada por 58 votos a 23. Até a decisão final, daqui a alguns meses, é praticamente certo que até aumente o número de senadores contra ela.

Na base da tarja preta, Dilma ainda acredita em milagre, mas Lula, o PT e o governo já estão conscientes da realidade virtual, que não poderá ser revertida. Ou seja, em breve o partido estará fora do poder e dificilmente conseguira recuperá-lo nas próximas eleições. A derrocada é flagrante. Um quinto dos prefeitos que o PT elegeu já se desfiliou. E há notícias de que 26 deputados federais também deverão abandonar a legenda, para se integrar ao novo partido que está sendo criado pelo ex-governador gaúcho Tarso Genro,.

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Aliás, não podemos deixar de mencionar que Tarso Genro é exemplo de enriquecimento ilícito. Em 2015, quando o MST de Stédile invadiu uma das fazendas de sua filha Luciana Genro, para fazer provocação, ela ficou furiosa, mas o pai a tranquilizou, dizendo: “Esqueça esta fazenda, pode deixar que eu compro outra para você”. Esta notícia, publicada com destaque na imprensa gaúcha, infelizmente não teve repercussão nacional. Luciana é uma espécie de “Soninha Toda Pura” do PSOL e Genro está criando seu próprio partido, vejam que família bem sucedida.

Voltando ao fim da Era do PT, além do desemprego que afeta o país, desta vez serão milhares de militantes petistas que perderão os cargos de que desfrutam hoje, incluindo ministérios, secretarias, estatais e afins, como os órgãos do Sistema S (Sesi, Senai, Sesc etc.), os fundos de pensão e tudo o mais.

Pela primeira desde 2003, estes petistas terão de lutar pela sobrevivência na iniciativa privada. Os ainda ministros Ricardo Berzoini, Miguel Rossetto, Edinho Silva, Aldo Rebelo e Aloizio Mercadante, se ainda não enriqueceram como tantos outros correligionários, agora terão de lutar por uma vaga no mercado de trabalho. Entre todos eles, apenas José Eduardo Cardozo tem vaga garantida, pois é procurador do município de São Paulo e pode pedir reintegração.

Cardozo é um felizardo, seu futuro está garantido, mas não se pode dizer o mesmo em relação aos milhares de militantes petistas que ficarão ao léu.

O desemprego petista vai afetar até mesmo o famoso Instituto Lula, que tem elevado custo mensal e faz tempo que as receitas das falsas palestras deixaram de irrigar a contabilidade. Os dirigentes Paulo Okamotto, Luiz Dulci, Ana Ant, Paulo Vanucchi e Celso Marcondes já sentiram o drama e o site do Instituto passou a pedir contribuições aos militantes petistas.

No desespero, Lula tenta resistir no grito, incitando o PT e os movimentos sociais a sair às ruas e lutar contra o impeachment. Nesta segunda-feira, ao participar do Seminário Internacional da Aliança Progressista, em São Paulo, o ex-presidente foi claro. “Nós do PT vamos resistir, vamos lutar, porque com a democracia não se brinca. Se preparem porque, se pensam que vão destruir o PT e a nossa motivação, é só olhar para as ruas e ver a diferença do nosso povo”, disse Lula, prevendo tempos difíceis e de embate no País, com o processo de impeachment de Dilma em andamento.

“Aqui no Brasil vai ter muita luta. Esperem que viveremos momentos de combate democrático”, anunciou.

Lula sabe que a Era do PT está no fim. Tenta revivê-la através de ameaças e de incitação ao confronto. Até agora, não houve enfrentamentos graves, mas tudo pode acontecer quando o Senado for votar o afastamento da presidente Dilma, agora em maio.

Renan Calheiros (PMDB-RJ), na condição de presidente do Senado, está prometendo votar o afastamento no dia 15 de maio, dentro de três semanas, mas não se pode confiar nele, tudo indica que pretende retardar ao máximo a decisão, levando-a ao final de maio ou início de junho.

O resultado é que o clima irá se acirrando cada vez mais. Ninguém sabe o que poderá acontecer quando João Pedro Stédile atender a Lula e colocar seu “exército” nas ruas. É aí que mora o perigo, como se diz hoje em dia.

Republiqueta do cuspe

O país que se vangloria de ser democrático está dando exemplos de que. aqui, a democracia não aceita divergências, foge à discussão. Como numa boa republiqueta de alpacas, a questão é discutida no berro, definida na palavra de ordem e finalizada na cuspidela.

Por mais deplorável e condenável que seja Jair Bolsonaro (PP) dedicar seu voto democrático a um torturador da ditadura - e merece só por isso a rejeição em massa do país -, nem assim a cusparada de Jean Wyllys (Psol) merece isenção.

Aceitar os contrários, ainda mais no plenário de uma Câmara, é lição de democracia assistida ao vivo no país. Não merece ser emporcalhada pela exaltação em defesa do pensamento nem muito menos servir de modelo para outras atitudes de desrespeito ao contrário. 


A cena mais nojenta do cúmulo da intolerância, no entanto, foi protagonizada no sábado. O ator José de Abreu, ferrenho garoto propaganda petista, resolveu adotar a cusparada como argumento. Numa discussão em um restaurante com um casal, cuspiu nos dois e ainda por cima, contido por segurança da casa, chamou para a briga o marido. A valentia foi também auto-vangloriada em rede social.

Não foi a melhor representação do ator, mas decididamente foi a mais deplorável manifestação política de José de Abreu. Usar cuspe como argumento talvez sirva aos animais como alpacas e lhamas, não é decididamente gesto de um ator ou de qualquer outro profissional. Mas expressa bem o caráter do cuspidor se é que haja caráter aí.

A atitude tem muito a dizer sobre o PT, criador das palavras de ordem e fundador dos "soldados" e dos exércitos mercenários de pobres. Há uma valentia petista que incentiva a porradaria para discutir problemas, Mas agora surgiu uma nova modalidade dos valentes tipo alpaca. Em ambos os casos, os partidários não admitem debate democrático ou livre expressão.

Não é de hoje esse autoritarismo nos gestos petistas. Bem sabem muitos que foram indiciados por calúnia e difamação apenas por expressarem opiniões contrárias ao credo petista, sem contar os que sofreram pressão dos "soldados". Nada tão diferente de regimes totalitários, que recorreram até a alcaguetes para impor seu credo. E para difamar, abusar do anonimato, se esconder nas redes sociais atrás de pseudônimos, o Brasil não é nada santificado. A canalha não tem nacionalidade, mas esbanja canalhice.

Como o ator que correu às redes sociais para vangloriar-se da valentia, os petistas costumam bancar os valentões e correrem para as saias da mamãe, sejam estas a Justiça, a honestidade, ou agora a cusparada. Eles sempre são "inocentes" nos crimes, porque os criminosos, segundo o evangelho petista, são as vítimas. Se vangloriam das benesses que prodigalizam aos pobres como benção de todo crime que praticam. Por isso, cospem.

O país, ainda, não é sério

Precisamos reinventar a vergonha no país. Já se sabia dessa ressaca. Já existem controles precisos para prever as ressacas. Faltou o básico, faltou uma contenção adequada para conter a força das ondas, o que não é nada difícil de ser feito. Faltou cuidado, faltou fiscalização, faltou previsão. Ondas só causam isso quando não há o mínimo de preparo. Estamos diante de uma mancada enorme e completamente lamentável. É preciso, de uma vez por todas, levarmos as coisas mais a sério neste país
Dickran Berberian, professor da UnB especialista em patologia de estruturas e fundações,  sobre a queda da ciclovia Tim Maia, no Rio

Lula agora chama seus ex-aliados de 'quadrilha'

Mal comparando, Lula vive situação análoga à do sujeito que, desabituado de olhar-se no espelho, leva uma eternidade para perceber que a mulher casara-se com ele por dinheiro. Em sua primeira manifestação depois do Waterloo da Câmara, o sábio da tribo do PT declarou que “uma verdadeira quadrilha legislativa”, unida à imprensa e à oposição, “implantou a agenda do caos” no país. O pajé acrescentou que a quadrilha “foi comandada pelo presidente da Câmara dos Deputados, réu em dois processos por corrupção, investigado em quatro inquéritos e apanhado em flagrante ao mentir sobre suas contas escondidas no exterior.”

Lula demorou quase 14 anos para notar que os companheiros do PP, PR, PTB, PMDB e assemelhados coligaram-se com os governos do PT não por amor, mas pelos mensalões e petrolões. Só agora, depois de arrombadas todas as arcas, Lula se deu conta de que seus aliados eram traidores que ainda não tinham reparado na sensualidade do Michel Temer. Mais um pouco e o morubixaba do petismo vai acabar percebendo que o dinheiro da Petrobras só saiu pelo ladrão porque o governo permitiu que o ladrão entrasse no cofre. Sem isso, não haveria Lava Jato nem dinheiro do Eduardo Cunha na Suíça.

Pobre Lula! Sem perceber, tornou-se um típico político brasileiro. Grosso modo falando. Demorou quase 14 anos para reconhecer que “base aliada” era apenas um eufemismo para “quadrilha”. Antes, Lula dizia: “Falem-me de infidelidade que eu puxo logo o talão de cheques.” Agora, com a Lava Jato a aquecer-lhes a nuca, os quadrilheiros exclamam: “Falem-nos de lealdade que puxamos logo o coro do impeachment: 'por minha família…', 'pelos meus filhos…', 'pelo papagaio…'.'' Noutros tempos, Lula exclamava: “falem-me em rebelião que eu puxo logo um bom discurso''. Agora, os aliados exclamam: “Falem-nos em lero-lero que nós puxamos logo um ronco.”

Por uma ética da cuspidela

Tenho enorme paixão por Eça de Queiroz e, em particular, pel’“Os Maias”. As minhas páginas preferidas são aquelas que dizem respeito à retratação de Dâmaso Salcede, um pequeno canalha, lambe-botas, que a certa altura faz publicar um artigo reles contra Carlos da Maia. João da Ega, melhor amigo de Carlos, e um alter ego do próprio Eça, vai à casa de Dâmaso, exigindo que este se retrate, ou se bata em duelo. O pobre Dâmaso recusa ambas as opções. Ega explica-lhe que, nesse caso, Carlos da Maia teria de recorrer a uma medida extrema: “em qualquer parte que o encontrasse, daí por diante, fosse uma rua, fosse um teatro, lhe escarraria na face”.

A histórica cuspidela (acho que já podemos chamá-la histórica) de Jean Wyllys contra Jair Bolsonaro parece-me muitíssimo mais legítima do que a de Carlos da Maia contra Dâmaso Salcede. Nesta última estava em causa a dignidade de uma senhora. Na primeira estava em causa a dignidade de um país inteiro. As declarações de Bolsonaro, que tiveram (e continuam a ter) larga repercussão na imprensa internacional, degradam imensamente a imagem do Brasil. Quem produz uma declaração como aquela não está nem à esquerda, nem à direita: está atrás! Lá muito, muito atrás, num tempo e numa sociedade em que a tortura era vista como um delicado entretenimento de cavalheiros. O ideal seria enviar o senhor Bolsonaro de volta a essa era remota. Não sendo possível isso, por óbvias dificuldades técnicas, então que o mandem para os territórios ainda ocupados pelo Daesh, que é o mais parecido que temos hoje com a Idade Média. Bolsonaro deverá sentir-se bem ali, naqueles ásperos desertos, entre torturadores e violadores, homens que odeiam mulheres livres e apedrejam os homossexuais até a morte.

Imagino que Bolsonaro se veja a si próprio como um legítimo nacionalista brasileiro. Porém, ao menos para os meus ainda um tanto ingênuos olhos estrangeiros, Bolsonaro representa o contrário, representa o anti-Brasil. Bolsonaro tem tanto a ver com o Brasil (que eu amo) quanto um urso polar tem a ver com uma savana. “Bolsonaro brasileiro” soa aos meus ouvidos como um oximoro desagradável. Não obstante o pesado ambiente de crispação que se instalou no Brasil ao longo dos últimos meses, os brasileiros continuam a ser vistos no exterior como um povo carinhoso, festivo, tolerante e generoso. Tenho testemunhado, nas minhas viagens, o valor de um passaporte brasileiro. Basta alguém dizer “sou brasileiro” para que os sorrisos se abram. Eu próprio finjo por vezes que sou brasileiro de forma a ser melhor tratado em países remotos.

Cuspir na face de outro é um gesto universal de desprezo. Para alguns antropólogos seria uma regurgitação simbólica, do tipo “já te comi e agora cuspo-te, porque tu és completamente intragável”; para outros representaria uma ameaça de contaminação.

Ilustres cuspidores do nosso tempo incluem nomes como Brad Pitt, Naomi Campbell ou Justin Bieber (cuspiu no rosto de um DJ; cuspiu em fãs, a partir da sacada de um hotel; cuspiu numa mulher dentro de uma academia, e por aí fora). Jogadores de futebol, conhecidos por cuspir no gramado, vez por outra projetam também os seus atléticos fluídos no rosto dos adversários ou dos árbitros (Falcão, Diego Costa, Neto). No xadrez, talvez porque os jogadores não tenham por hábito cuspir no tabuleiro, é mais difícil imaginar situações semelhantes. Até mesmo Bobby Fischer, famoso pelo temperamento explosivo, nunca usou o seu cuspe em público senão para atingir, diante das câmaras de televisão, um documento das autoridades americanas que o proibia de entrar na Iugoslávia.

Todas as cuspidelas listadas acima constituem, é claro, casos de pura má-criação. Nada a ver com as cuspidelas aristocráticas e de grandes causas de um Carlos da Maia. Jean Wyllys, pelo contrário, talvez tenha conseguido reabilitar a cuspidela enquanto gesto de honra. Pode questionar-se a elegância de tal gesto e a respectiva higiene, mas não, creio, a justeza da mesma. Seria preferível Wyllys ficar-se pela cuspidela metafórica (“Cuspo na sua alma!”), até porque se o deputado baiano sair por aí cuspindo em todos os canalhas vai terminar morrendo de desidratação.

Por outro lado, às vezes a vileza é tamanha, e tão desavergonhada, que seria de pensar até na contratação de cuspideiras profissionais. À semelhança das carpideiras, ou choradeiras, contratadas para chorar em funerais, esses profissionais da cuspidela percorreriam as cerimônias oficiais, cuspindo na cara assustada dos corruptos e dos canalhas explícitos. Talvez resultasse. 

José Eduardo Agualusa

A mentira do golpe

A presidente Dilma teve o bom senso de não atacar nossas instituições em sua fala na ONU. Pois a falsa narrativa de que estaria sofrendo um golpe pelo processo de impeachment é na verdade o maior de todos os golpes que poderiam ser desferidos contra o regime democrático. A mentira do golpe é pior do que “um gravíssimo equívoco” e “uma ofensa às nossas instituições”, como condenaram os ministros do Supremo Celso de Mello e Dias Toffoli.

É uma perversa convocação à militância na tentativa de manter o poder, apesar das evidências de desrespeito à lei orçamentária e de omissão ou cumplicidade com a roubalheira. É também uma desonesta desculpa para o colapso político e econômico de um país exaurido pela incompetência e pela corrupção.

Compromete nosso futuro porque tenta ocultar o aperfeiçoamento institucional que experimentamos. O despertar de instituições republicanas revela disfunções de um capitalismo de quadrilha, em que se associam a falta de transparência e a corrupção no aparelho de Estado à compra de sustentação parlamentar, cimentando degenerada aliança de piratas privados e criaturas do pântano político.


O impeachment de Collor foi golpe contra presidente que não era de “esquerda” e não dividiu o butim? Ou foi avanço institucional pela declaração de independência do Legislativo? Poder que exerce agora atribuições constitucionais avaliando a admissibilidade do impeachment de Dilma. Como um Judiciário independente celebrará no futuro as atuações históricas de Joaquim Barbosa e Sergio Moro.

É o fim da administração centralizada gerencialmente caótica (excesso de ministérios) e politicamente desarticulada (sem sintonia com Estados e municípios). Prioridades da democracia emergente (saúde, educação, saneamento) exigem políticas públicas de execução descentralizada.

A lipoaspiração do governo federal (reforma administrativa) e a descentralização de recursos para Estados e municípios (reforma fiscal) aumentam a eficiência e melhoram a governabilidade. Impostos disfuncionais (reforma tributária), relações de trabalho obsoletas, encargos sociais proibitivos (reformas trabalhista e previdenciária) e marcos regulatórios deficientes impedem investimentos. As reformas na política e na economia são urgentes e indissociáveis.