sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Senhor Presidente!!!

Vamos combinar, meus caros amigos. Quantas vezes fomos surpreendidos pela sorrateira mudança nas regras do jogo no processo de impeachment dessa mamulenga? Mais uma vez fomos vítimas de uma empulhação. Cabe aqui salientar a solerte participação do Randolfe, aquela coisinha que é a Marina das Selvas falando no Senado, e boa parte do PMDB que pratica o “culpa, mas não pune” para liberar geral a impunidade.

Quer dizer que dona du chefe é culpada pelos crimes que cometeu contra a nação, mas não é punida pelos seus desmandos? Não é porque eu quero. A lei deixa bem claro que a cassação do mandato implica a consequente perda dos direitos políticos. Mas aqui vale tudo. Vale dar de presente para aquela que faliu o país e ludibriou os desejos de milhões de brasileiros um carguinho qualquer com foro privilegiado, para evitar que a Lava-Jato e o juiz Sergio Moro passem a limpo este país e acabem com essa vigarice de vez.

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O apelo ao sentimentalismo barato e ao senso de grandeza não colam. A tal casa do espanto é um antro de bandidos, que convivem impunemente com seus pares marretas e querem, todos juntinhos e irmanados, promoverem seus interesses mais pusilânimes. O lugar certo para corrigir essa vigarice é a urna, caro cidadão-eleitor feito de besta. Onde estava a cidadania que elegeu esses canalhas, canalhas, canalhas? Quem foi o responsável por petetizar todos os aposentos dessa casa de tolerância?

Somos reféns silenciosos de uma minoria barulhenta e vagabunda, por conta da consciência pesada de todo aquele que se elegeu para participar desse circo em que nos metemos. Como bem lembrou a senadora Ana Amélia, os ilustres vigaristas que legislam não estão lá mais sozinhos, fazendo o que bem entendem de suas ilustres biografias barrocas. São agora escrutinados e acompanhados por uma poderosa ferramenta de dissuasão de suas intenções mais torpes: as redes sociais.

Por elas fomos às ruas e exigimos o fim da era da safadeza. Por elas construímos nossas opiniões e consensos. Por elas, fica claro que essa classe de nojentos merece o lixo. Lembrarei de cada um deles ao depositar meu voto na urna nos próximos pleitos. Quero saber o que dona du chefe fará com este indulto de natal que recebeu de seus pares no Congresso. Estamos de olho, meus caros senadores. Em vocês, eu não voto nunca mais. Que venham os próximos.

Que tudo passe

O primeiro disco de George Harrison, depois que os Beatles acabaram, chamou-se Todas As Coisas Tem de Passar.

Sim: que tudo passe, das paixões aos impasses.

Vimos tantos filmes VHS! Aquele cartucho enorme, enfiável num aparelho ao lado da tevê de tubo grossa feito toco de açougue!

Pois é, também passamos do toco de açougue para o balcão frigorífico dos supermercados.

E, depois de tanto VHS, vimos tantos DVDs, que porém também passaram, como estão passando os CDs, que já foram fita cassete um dia, quem diria.

E, antes da fita cassete, só existia o gravador de rolo, antes do qual nada se gravava, os sons perdiam-se para sempre. As orquestras tocavam maravilhosamente e eram ouvidas só por quem estivesse no teatro.

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A nonna ouvia rádio-novela tricotando com os pés na cadeira de palhinha, pitando palheiro e cuspindo na escarradeira – e passaram as rádio-novelas, passaram os palheiros e as escarradeiras. As cadeiras de palhinha, porém, tornaram-se chiques; de tudo fica um pouco, conforme o poeta.

Meu neto pega músicas em alta fidelidade na nuvem da internet. Outro dia descobriu minha coleção de discos long-plays no porão, perguntou: que é isso, vô? Música, falei. Ele foi tirando os discos negros das capas, até perguntar: são músicas de luto, vô?

Sou do tempo em que guri trepava em árvore e as mães davam graças a Deus, ao menos estavam à vista.

Espero que as árvores não passem. Nem a vontade moleca de trepar em árvores e em telhados.

E que também não passem os papagaios, voltem todo ano no céu dos arrebaldes, empinados por guris tão hábeis quanto descalços, e que seja por gosto, não por falta de sapatos.

Também não passem os piões, as bolinhas de gude, os bilboquês e os carrinhos de rolemã, apesar de tanto asfalto esburacado. Se passarem, que não seja porque os guris só tem olhos e dedos para celulares. Não deixe, Deus, não deixem, pais, que percam a infância só enfurnados numa telinha.

A corrupção é que podia passar, ou ao menos diminuir. Mas isso não depende de Deus, né, mas de nós.

Também não passe a vontade de comer pipoca em noite de frio, de chupar pirulito em festa de criança, de correr com cachorro em gramado, de chupar manga se lambuzando, de beber água de mina na palma da mão.

Passem os poentes, maravilhosamente. Mas não passe esta vontade de andar ou ver tevê de mão dada com meu amor, e o gosto de ser honesto mesmo quando parece que a ladroagem tomou conta de tudo.

E que passem as modas, mas o coração continue com a corda toda. Amém.

A 'oposição enérgica' do PT

A reação da ex-presidente Dilma Rousseff à votação no Senado que cassou seu mandato foi previsível. Fiel ao raciocínio elaborado durante seu interrogatório – se os senadores a absolvessem, seria o desfecho de um processo legítimo; se o impeachment vencesse, seria golpe –, ela não economizou, em seu discurso de quarta-feira, no uso dos termos “golpe” e “golpista”, inclusive prometendo que “haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”. Notável seria se Dilma dissesse algo diferente. E o país realmente precisa de uma oposição enérgica – a frouxidão de certas legendas que passaram 14 anos longe do governo também permitiu que o país chegasse à situação atual. Mas de nada adianta energia sem responsabilidade. E o histórico da “oposição enérgica” feita pelo PT em tempos passados não é nada animador.

Como oposição, o partido esteve do lado errado em muitos dos grandes episódios da vida política brasileira antes de 2002. Na redemocratização, em 1985, com a possibilidade de eleições diretas rejeitada pelo Congresso, o PT expulsou três parlamentares que participaram da eleição indireta e votaram em Tancredo Neves para a Presidência da República. Já em 1988, o PT até assinou a nova Constituição – não havia como não fazê-lo –, mas não era favorável ao texto porque desejava algo “mais radical”, como afirmou o próprio Lula em 2013, durante comemoração dos 25 anos da Carta Magna. “Se nosso regimento fosse aprovado, o país seria ingovernável, porque nós éramos duros na queda”, disse na ocasião o ex-presidente, mostrando que tipo de Brasil o PT queria durante os trabalhos da Assembleia Constituinte.
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Também é impossível esquecer a “oposição enérgica” feita pelo PT ao Plano Real, em 1994. O partido, que já tinha se negado a integrar o governo de coalizão proposto por Itamar Franco após o impeachment de Fernando Collor, rejeitou veementemente o plano de estabilização econômica elaborado pela equipe de Fernando Henrique Cardoso. Aquilo que Lula chamou de “estelionato eleitoral” colocou fim à hiperinflação e lançou as bases para que o governo petista pudesse promover suas políticas de ascensão social – um mérito que o PT jamais reconheceu.

Da mesma forma, a Lei de Responsabilidade Fiscal, instrumento fundamental para colocar ordem na gestão pública, encontrou oposição forte do PT em 2000, quando foi aprovada. Neste caso, o partido até chegou a fazer um mea culpa, primeiro com o ex-ministro Antonio Palocci e, depois, com a própria ex-presidente Dilma, que tratou do tema durante o interrogatório no Senado. Mas ações valem mais que palavras, e o descontrole fiscal, a “criatividade contábil”, as “pedaladas” e as demais maquiagens mostram como o partido realmente trata o orçamento. Felizmente, em todos esses casos a “oposição enérgica” não prosperou, e só resta esperar que o partido tenha aprendido algo nesses 14 anos como governo.

Mas não é só no plano parlamentar que a “oposição enérgica” pode se manifestar. Já antes do impeachment, defensores de Dilma se lançaram em uma onda de barbárie em algumas das principais metrópoles brasileiras, especialmente em São Paulo, lembrando os piores momentos dos protestos de 2013, com depredação de patrimônio público e privado. Dilma, é verdade, não fez nenhum apelo à violência em seu discurso. Mas nem ela, nem líderes petistas repudiaram esse vandalismo que lhes convém. E como esquecer que, em agosto de 2015, a então presidente ouviu candidamente o presidente da CUT, Vagner Freitas, prometer “ir para as ruas entrincheirados, com armas nas mãos, se tentarem derrubar a presidenta”? Ameaças semelhantes foram feitas por outros “movimentos sociais” e até pelo ex-presidente Lula, no famoso chamamento ao “exército do Stédile”, no início de 2015. A mais recente declaração nesse sentido foi do senador (peemedebista, mas sempre aliado ao petismo) Roberto Requião, que falou em “guerra civil” em caso de impeachment. “Entrincheirem-se, porque o conflito é inevitável”, disse na terça-feira. Oxalá tenha sido mera bravata; o que o Brasil menos precisa, em um momento como este, é de novos incendiários e de líderes coniventes com eles.

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Rio de Janeiro

Coração, pulmão e política

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O que somos e para que existimos?

Essa inquietude nos permite mudar, crescer e buscar razões para uma existência melhor.

A medicina, ciência inexata e ampla, que busca preservar a saúde, física e mental, nos exercita na procura por respostas precisas.

Na anatomia (estudo da forma e da estrutura) e na fisiologia (estudo das funções e do funcionamento normal) do corpo humano iniciamos nossa jornada.

Vamos ao coração. Esse órgão é um músculo especializado, retorcido, que funciona de maneira involuntária e como uma bomba propulsora. Possui quatro câmaras: átrio e ventrículo; à direita e à esquerda. Como numa parada de elevador, o coração abre e fecha suas portas - válvulas -, enviando o sangue para suas diversas partes e para o resto do corpo. O átrio direito recebe o sangue pobre em oxigênio que vem de todo o organismo, e depois envia para o ventrículo direito. Este, também em movimentos sincronizados, envia o sangue escurecido para os pulmões.

Pulmões, colméias fantásticas que abraçam lateralmente o coração, são formados por canais distintos por onde passam ar e sangue sem se misturar, mas permitindo as trocas gasosas essenciais - nossa respiração. Diferentemente do coração, órgão único, mas com lados distintos, temos um pulmão à direita e outro à esquerda. Um corpo com apenas um pulmão perde parte da capacidade de oxigenar o sangue. Não pense, caro leitor, que, nesse caso, basta aumentar a concentração de oxigênio para solucionar o problema, pois o ar que respiramos é uma mistura gasosa, composta principalmente por oxigênio e nitrogênio. Administrar apenas oxigênio em alta concentração pode ser tóxico. O tratamento de uma de infecção nesse pulmão único, por menos virulenta que seja a bactéria, será sempre mais complicado, custoso e com maior possibilidade de fracasso.

O sangue que sai do lado direito do coração pode ir para qualquer um dos pulmões. Pouco importa qual receberá a missão de oxigenar o sangue, pois não há preferência de lado quando órgão é saudável. Missão dada, missão cumprida.
Feito seu trabalho, alternando pressão negativa e positiva da cavidade torácica, os pulmões encaminham o sangue para o lado esquerdo do coração: o átrio o recepciona, e o ventrículo, mais robusto, o impulsiona para o restante do organismo. Esse ciclo é ininterrupto, pouco importando em que pulmão o sangue foi oxigenado.

Agora preciso explicar por que escrevi “política” no título deste artigo.

O ser humano, sem importar sua origem e seu desenvolvimento social, é um ser político. Precisa se relacionar para poder viver melhor, pois seu isolamento é ruim. As regras que norteiam esses relacionamentos devem ser complementares como a anatomia e a fisiologia de um corpo saudável.

Neste texto, ao escrever sobre coração e pulmões, eu me dirijo aos políticos profissionais. Afirmo que a anatomia é irmã da fisiologia. Já o fisiologismo é o pai do autoritarismo.

Reflitam sobre isso, oxigenando seus corações.

Impeachment: o Brasil que fez! E o Senado deformou

O que a Constituição une, o Senado não pode separar. Mas separou pena e sentença: é o saco de gatunos do PMDB em ação. Contudo, o que fica de essencial é que Dilma Rousseff vai, que o Brasil falará de si, mudaremos de assunto finalmente. Há menos de dois anos, Dilma se reelegia como poste que seria ponte para o Lula de 2018 e a resistência se abatia com a derrota de Aécio Neves por tão poucos votos e por tanta roubalheira. A Lava Jato, a pressão das ruas e a crise econômica frustraram o pesadelo hegemônico. Me parece que a soma das crises – política, econômica e ética – revelou um país novo que esboça a urgente mudança de crenças e valores dos brasileiros quanto ao papel do Estado e da sociedade, provou o quão nefasta pode ser a tutela e a intermediação do Estado em relações privadas e confirmou a vocação totalitária do PT e adjacências.

Petistas, congêneres e defensores insistem na mentira de que o governo Temer é ilegítimo, mas não disseram o mesmo sobre Itamar Franco, que assumiu depois da destituição de Collor. Sentiram-se vingados porque haviam perdido a eleição para o marajá caçador de marajás. O esquerdismo, na sua versão ressentida, expõe uma especialidade da idiotia latino-americana que culminou no bolivarianismo: o personalismo na política. Então, tudo é transformado em questões pessoais; é assim, por exemplo, que Lula toma como ofensa pessoal a dupla vitória de FHC sobre ele nas eleições presidenciais de 1994 e 1998. No Brasil, esse personalismo apresentou outra degeneração no oportunista populismo de gênero, com a ascensão de Dilma Rousseff. Com um carisma artificial, a ex-presidente forjou certo dilmismo e grassaram entre nós o getulismo, o lulismo, o malufismo e até o marinismo.


Não gosto de governantes carismáticos e não gosto de nenhuma dessas figuras que batizam ismos. Desconfio quando o carisma parece ser sua única ou a mais alta qualidade, quando tudo o mais que possam fazer ou dizer se sustenta neste tal appeal. Gosto de Serra, Merkel, Anastasia, Uribe e FHC. Evidentemente, a inteligência e os bons modos democráticos do sedutor FHC o tornam um político carismático, mas o sóbrio carisma dele só é uma qualidade porque há as demais que a ele se somam e até o suplantam. Nos demais políticos carismáticos, como também na espertalhona Marina Silva, por exemplo – que se pronunciou a favor do impeachment ao mesmo tempo em que o senador Randolfe Rodrigues, o único que representa a Rede, votou contra, – com ares de mandona, a prolixidade de quem não tem o que dizer e o despiste sempre que interpelada com firmeza, o carisma é o diluidor da figura institucional do governante para robustecer a persona dele.

O nefando personalismo na recente política brasileira pariu um jeca que precisou de quase 40 anos de vigarice para instaurar o lulismo; uma parvoíce que em apenas 6 anos nomeia como dilmismo uma vertente da escória; e uma Marina que só precisou de duas campanhas para fazer florescer o marinismo. Sempre usando os pobres como álibi moral, escudo contra a lei e anteparo de críticas, é somente no culto secular a figuras antidemocráticas e medíocres, que os esquerzoides podem ainda defender o capitalismo estatista, o coitadismo, os fins justificando quaisquer meios, a vigarice intelectual para fraudar a história e convencer quem pensa pouco de que nos salvarão da direita má que quer exterminar direitos, do imperialismo americano que espreita nossas riquezas e da elite perversa que só quer, bem, continuar sendo elite perversa.

Me parece que esse personalismo, à parte demais deformações, nutre a permanente atitude belicosa de Dilma Rousseff que se vai prometendo guerra. Sabemos que para essa gente qualquer arma vale, mas não seria hora finalmente de pensar no país? De se dar conta de que o combate não prejudica Temer – que, de resto, nada fez contra ela –, mas o país? Não, a coisa é pessoal. Para escapar da merecida cadeia, talvez a mulherzinha se homizie em algum cargo de administrações petistas que lhe garanta foro especial, já que nesse “impeachment de coalização”, segundo uma definição perfeita que li em algum lugar, ela contou com a manobra espúria que lhe garantiu o direito de exercer cargos públicos.

Dilma deixa algumas lembrancinhas como as contas arruinadas, um país a ser reconstruído, o futuro adiado e a mais importante de todas: PT e congêneres nunca mais. Finalmente, passaremos a falar do futuro que temos para hoje: reforma, reforma e reforma – é isso o que nos colocará no século 21. Reforma, sobretudo, de mentalidade. Parabéns, ao Brasil que foi às ruas (nos domingos, sem depredar nada nem atrapalhar o cotidiano) esfregar na cara dos caras que essa primeira mudança já raiou no horizonte. O impeachment, esse lindo, é só o começo, mas o começo é por onde as coisas começam mesmo.

Vices e versos

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Com os escândalos de Collor e PC Farias explodindo na mídia, em algum momento caiu a ficha: se elle sair, quem vai entrar? Itamar Franco??? Meu Deus! Foi a reação geral. Mas foi ele, tido como um provinciano simplório e antiquado, que, em decisão de sábia audácia, nomeou um sociólogo ministro da Fazenda e bancou a criação do Plano Real, resolvendo um problema que durante 30 anos parecia insolúvel, nos dando uma moeda e mudando a História do Brasil. Pois é, Itamar, do pão de queijo, do topete ridículo...

O ex-vice Michel Temer só agora é presidente, antes esteve pressionado por exigências, ameaças e chantagens, de partidos, de políticos, de corporações, que não podia enfrentar como interino. Engoliu tudo e esperou sua hora. Agora não tem mais desculpas, tem que fazer o que tem que ser feito. Seu look de mordomo de filme de terror, seu carisma zero, sua aparência antiga e conservadora não ajudam na missão ciclópica de resgatar o Brasil da beira do abismo de nossas desesperanças. As esperanças são sua vasta experiência e habilidade politica, fundamentais para qualquer mudança, sua carreira de jurista emérito, seu temperamento conciliador.

No papel, Temer parece até mais qualificado do que Itamar. O problema são as companhias... O que esperar de velhas raposas, muitas delas agatunadas, algumas competentíssimas, de volta ao poder, onde na verdade sempre estiveram, inclusive no governo Dilma? Mas ao menos há muita gente competente na área econômica, a base de tudo.

Agora é o melhor momento para uma reforma política. A opinião pública está mobilizada, o país exige mudanças, os líderes políticos e os parlamentares têm uma oportunidade de reabilitação perante os eleitores. Neste reinício, com a sociedade vivendo uma mudança de paradigmas que está levando políticos e empresários poderosos aos tribunais e à cadeia, o que esperar de Temer e seus aliados de ocasião?

As reformas política, previdenciária e tributária podem ser o Plano Real de Temer e justificar seu mandato — e como chegou ao poder. Se não, vai virar o ex-vice Sarney, que também escrevia versos.

Nelson Motta

História antiga

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Damião Martins
Na época das vagas magras
redemocratizado o país
governava a Paraíba
alugava de meu bolso
em Itaipu uma casa
do Estado só um soldado
que lá ficava sentinela
um dia meio gripado
que passara todo em casa
fui dar uma volta na praia
e vi um pescador
com sua rede e jangada
mar adentro e saindo
perguntei se podia ir junto
não me reconheceu partimos
se arrependimento matasse
nunca sofri tanto
jogado naquela velhíssima
jangada
no meio de um mar
brabíssimo
voltamos agradeci
meses depois num despacho
anunciaram um pescador
já adivinhando de quem
e do que se tratava
dei (do meu bolso) três contos
é para uma nova jangada
que nunca vi outra
tão velha
voltou o portador
com a seguinte notícia
o homem não quer jangada
quer um emprego público

Francisco Alvim

Versões petistas - Genéricos da verdade incômoda

A nação, aos poucos, foi identificando a distância que se estabeleceu entre o discurso que levou o PT ao poder e a posterior prática na gestão dos negócios públicos. Alguns, entre os quais me incluo, predisseram, bem antes, os riscos aos quais se expunha uma sociedade que confiasse poderes de governo e de Estado a uma organização que fazia uso das práticas que caracterizavam a ação petista. Refiro-me, especificamente, aos seguintes meios:
a) organização e manipulação de movimentos sociais para atos que atentavam à ordem pública, à lei, ao direito de propriedade e às determinações judiciais;
b) desrespeito pela honra alheia e o assassinato das reputações de quaisquer adversários que se colocassem no caminho traçado pelo partido;
c) articulação partidária internacional com governos totalitários, com organizações terroristas e com movimentos revolucionários de esquerda, dos quais o Foro de São Paulo é apenas um exemplo regional em meio a inúmeros outros mundo afora;
d) transformação de instituições do Estado, de setores importantes da administração pública, bem como de conselhos profissionais, órgãos de cultura, instituições de ensino e organismos religiosos como a CNBB, em aparelhos do partido.
Resultado de imagem para petismo chargeOs milhões de brasileiros que saíram às ruas, bem como os autores das cinco dezenas de requerimentos de impeachment formulados por juristas munidos de exaustiva coletânea de fundamentos, respeitaram a legitimidade de três sucessivos mandatos presidenciais do PT. Três mandatos cuja lisura, aliás, com as revelações da força-tarefa da Lava Jato, ingressam na mais nebulosa suspeita. Bastaria isso para descredenciar a veemência da tropa de choque do governo extinto. Do início ao fim desse exaustivo processo conviveram, braços dados, a obra e o conjunto da obra de uma específica mandatária. Na gênese deste impeachment, conviveram o crime de responsabilidade e uma vultosa mistura de ingredientes. Eles vão da incompetência, passam pelo conhecimento de que uma organização criminosa causou um dos maiores casos de corrupção da história e deságuam na mais tormentosa crise econômica e social da vida republicana.

Como reage o petismo diante desse quadro? Com arrogância, virulência e irresponsabilidade. Em momento algum, desde março do ano passado, o partido, seus agentes e a própria presidente demonstraram qualquer preocupação com a situação nacional. Nada! Brandiam os números dos tempos de bonança, da China compradora e do petróleo em alta, como se fossem méritos, e méritos permanentes, do governo. Nunca dedicaram uma palavra sequer aos 14 milhões de desempregados de agora, nem às famílias cuja renda despenca, nem às vítimas da criminalidade que se abastece do ódio de classes, raça e "gênero" semeado, nem às empresas que fecham as portas. Só os mobiliza a construção de discursos que possam pavimentar uma viela de retorno ao poder.

Não lembro de outra circunstância em nossa história na qual os ditames constitucionais tenham sido tão minuciosa e longamente observados. Para o petismo, porém, tratava-se de uma nova queda de Jango, de um novo suicídio de Vargas. Impossível não ver em tudo isso o mesmo petismo de sempre, dedicado à dissimulação da realidade, às mentiras, ao espargimento de ódios e à construção de versões como genéricos da verdade incômoda. Portanto, onde alguns veem combatividade e dedicação à causa eu identifico contumácia, vícios empedernidos, incorrigibilidade. Já não queimam pneus, os artífices do caos?

Fim de jogo

O impeachment representa oficialmente o fim de uma experiência de 13 anos da esquerda no governo. Em 1964, após o golpe do militar, ela denunciou a ditadura, mas mergulhou num processo de autocrítica, destacando o populismo como um dos seus grandes erros. Infelizmente, para uma parte importante dela, o caminho escolhido foi a luta armada com todas as suas consequências. Esse processo foi alvo de intensa autocrítica que nos levaria, se a análise fosse completa, a uma marcha pelas instituições.

O chamado socialismo do século XXI, que teve suas consequências mais graves na Venezuela, lançou na América do Sul um modelo que não era a marcha pelas instituições, e sim a captura das instituições. Primeiro o Executivo, depois o Legislativo, o Judiciário e, finalmente, a imprensa.

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Nesse modelo, a democracia é só uma tática não o objetivo estratégico. O populismo, no fundo, partilha dessa escolha. A diferença da experiência democrática de agora é a ausência de autocrítica. A narrativa do PT é que ele foi afastado do poder por suas qualidades e o bem que fez ao país.

Compartilhei das críticas no pós-64 e das críticas à luta armada que decorreu da análise equivocada do fracasso do populismo. Por que agora a autocrítica é tão difícil?

Quando deixei o PT e o governo, em 2003, disse que estava deixando pelo conjunto da obra. Vejo essa expressão retornar nos debates sobre o impeachment. Em 2003, não tinha ocorrido o mensalão e o que se passou até o processo que arruinou a Petrobras.

Todos esses fatos não produziriam ainda um impeachment pela lentidão das investigações e julgamento. Os decretos suplementares, o uso ilegal do Banco do Brasil revelam a ilusão de que o dinheiro cai do céu e podemos gastá-lo à vontade. O populismo orçamentário. De novo, o populismo derruba a esquerda.

Quando vejo jovens gritando “golpe” e outros slogans da esquerda, sinto ternura pelo passado, mas também inquietação. É possível que acreditem que o mal triunfou. A eles está sendo negada uma saudável crítica. No seu lugar, a visão monolítica. Num tempo de reconstrução política e econômica, revolução digital e aquecimento planetário, que papel terá uma esquerda se insistir no papel de vítima?
Fernando Gabeira