quarta-feira, 26 de abril de 2017
Depois da tempestade
Furacões, ciclones e tsunamis são fenômenos dinâmicos: chegam e passam. Costumo trabalhar com desastres naturais, tempestades devastadoras. De um modo geral, o presidente sobrevoa a região, verte uma lágrima diante das câmeras, anuncia uma ajuda financeira que, além de ser realmente menor do que vai enviar, no fim é parcialmente devorada pela corrupção local.
O que foi arrasado, agora, não é um pedaço de terra, mas um sistema político eleitoral. E não há presidente para ajudar, pois está agarrado aos escombros para não ser levado pela enxurrada. De qualquer forma, com ou sem ajuda, o problema que se coloca é sempre esse: como reconstruir. Apesar de figurar no topo da lista de países dominados pela corrupção, o Brasil tem condições de superar esse estágio, a partir da vontade de uma boa parte de seu povo.
Não acredito tanto em lição de moral. O que vai funcionar é tornar o risco da corrupção extremamente alto para quem se deixa seduzir por ela. O primeiro e grande passo para isso foi a Lava-Jato, que revelou a possibilidade de uma investigação eficaz que sobreviva ao arsenal de artifícios jurídicos do próprio sistema corrompido.
Algumas outras operações morreram na praia. A Lava-Jato sobreviveu às pancadas dos bandidos mascarados, mas também dos bem-intencionados defensores do estado de direito. Ela cumpriu o papel histórico de apontar para um futuro em que a qualidade da investigação torna muito mais arriscado escolher o caminho do crime. Necessita de outra medida importante para que o risco seja maior ainda: o fim da impunidade, garantida pelo foro privilegiado.
Com essas duas colunas erguidas, o processo de reconstrução do edifício devastado torna-se mais promissor. Finalmente, uma articulação entre os políticos que sobreviveram à tempestade e os que virão nas próximas eleições pode ser a amálgama de algo próximo da expectativa popular.
Não tenho muitas ilusões. Em 2012, já fora da política eleitoral, percorri grande parte do país, falando para jovens candidatos a vereador. A sensação que tive na época foi a de que a maioria esmagadora queria se integrar ao esquema político tal como ele existia, inclusive, e sobretudo, com seu potencial de enriquecimento. Enfim, sonhavam com ascensão social, grana, era possível ler nos seus lábios: eu também estou aí/ estou aí/ o que é que há/ também estou nessa boca.
Esses anos foram muito tristes para mim. Por mais informações que tivesse, a delação da Odebrecht, pelos detalhes e circunstâncias, trouxe um grande impacto emocional. Houve algumas surpresas, decepções, mas não creio que o caminho seja apenas criticar as pessoas. Não eximo ninguém da responsabilidade. Mas, no sistema político partidário brasileiro, era praticamente impossível vencer uma eleição majoritária sem aceitar as regras do jogo. É preciso mudá-lo, senão os que ainda não caíram cairão no futuro, sejam experientes ou não. E algo precisa ser feito agora.
Algumas medidas parecem sensatas. Uma delas é o fim da coligação proporcional, nas quais você vota num candidato e acaba elegendo gente indesejável na sua carona. Outra é a cláusula de performance. Partidos que não têm representatividade, algo que se mede eleitoralmente, não podem ocupar o espaço político. Eles tornam o presidencialismo de coalizão um fracasso ético anunciado. Finalmente, para não ir muito longe: o programa eleitoral gratuito é uma jabuticaba. É possível suprimi-lo. Com seu fim, desaparecem também as grandes somas de campanha, os marqueteiros fissurados por grana.
É possível um caminho intermediário, algumas inserções. Nesse contexto, a imprensa precisaria cobrir as eleições proporcionais também, algo que o faz com muita relutância. Ainda assim, embora ganhe meu pão na grande imprensa, é preciso admitir que o mundo mudou, ela não é o único canal para se comunicar com a sociedade. Não há razões para essa programação patética, falsamente chamada de gratuita, pois na verdade é paga pelo contribuinte.
A esta altura, sei que muitos estão perguntando se já combinei com os russos. Haverá sempre uma grande resistência à mudança. Mas, se a sociedade não for capaz de impor um caminho de transição para 2018, as regras do jogo vão estraçalhar de novo as melhores intenções.
Voltando aos desastres naturais, sempre me impressionei com os japoneses. Por mais desolador que seja o panorama, esfregam as mãos e reconstroem tudo com rapidez. Pontes que levamos anos para construir no Brasil, consumindo milhões com propinas, reaparecem em semanas, novas, honestas, reluzentes. Bobagem supor que vamos nos comportar exatamente como os japoneses. O peso cultural é acachapante, consome gerações para se transformar. Mas tudo muda.
O Brasil que iniciamos com o movimento das Diretas já não existe mais. Nossa geração de políticos não soube ler os sinais no horizonte.
A delação do fim do mundo é o prenúncio de um novo mundo. Será que agora, escrito em letras garrafais e até com desenhos, finalmente, vamos compreender em que país vivemos?
O que foi arrasado, agora, não é um pedaço de terra, mas um sistema político eleitoral. E não há presidente para ajudar, pois está agarrado aos escombros para não ser levado pela enxurrada. De qualquer forma, com ou sem ajuda, o problema que se coloca é sempre esse: como reconstruir. Apesar de figurar no topo da lista de países dominados pela corrupção, o Brasil tem condições de superar esse estágio, a partir da vontade de uma boa parte de seu povo.
Não acredito tanto em lição de moral. O que vai funcionar é tornar o risco da corrupção extremamente alto para quem se deixa seduzir por ela. O primeiro e grande passo para isso foi a Lava-Jato, que revelou a possibilidade de uma investigação eficaz que sobreviva ao arsenal de artifícios jurídicos do próprio sistema corrompido.
Algumas outras operações morreram na praia. A Lava-Jato sobreviveu às pancadas dos bandidos mascarados, mas também dos bem-intencionados defensores do estado de direito. Ela cumpriu o papel histórico de apontar para um futuro em que a qualidade da investigação torna muito mais arriscado escolher o caminho do crime. Necessita de outra medida importante para que o risco seja maior ainda: o fim da impunidade, garantida pelo foro privilegiado.
Com essas duas colunas erguidas, o processo de reconstrução do edifício devastado torna-se mais promissor. Finalmente, uma articulação entre os políticos que sobreviveram à tempestade e os que virão nas próximas eleições pode ser a amálgama de algo próximo da expectativa popular.
Não tenho muitas ilusões. Em 2012, já fora da política eleitoral, percorri grande parte do país, falando para jovens candidatos a vereador. A sensação que tive na época foi a de que a maioria esmagadora queria se integrar ao esquema político tal como ele existia, inclusive, e sobretudo, com seu potencial de enriquecimento. Enfim, sonhavam com ascensão social, grana, era possível ler nos seus lábios: eu também estou aí/ estou aí/ o que é que há/ também estou nessa boca.
Esses anos foram muito tristes para mim. Por mais informações que tivesse, a delação da Odebrecht, pelos detalhes e circunstâncias, trouxe um grande impacto emocional. Houve algumas surpresas, decepções, mas não creio que o caminho seja apenas criticar as pessoas. Não eximo ninguém da responsabilidade. Mas, no sistema político partidário brasileiro, era praticamente impossível vencer uma eleição majoritária sem aceitar as regras do jogo. É preciso mudá-lo, senão os que ainda não caíram cairão no futuro, sejam experientes ou não. E algo precisa ser feito agora.
Algumas medidas parecem sensatas. Uma delas é o fim da coligação proporcional, nas quais você vota num candidato e acaba elegendo gente indesejável na sua carona. Outra é a cláusula de performance. Partidos que não têm representatividade, algo que se mede eleitoralmente, não podem ocupar o espaço político. Eles tornam o presidencialismo de coalizão um fracasso ético anunciado. Finalmente, para não ir muito longe: o programa eleitoral gratuito é uma jabuticaba. É possível suprimi-lo. Com seu fim, desaparecem também as grandes somas de campanha, os marqueteiros fissurados por grana.
É possível um caminho intermediário, algumas inserções. Nesse contexto, a imprensa precisaria cobrir as eleições proporcionais também, algo que o faz com muita relutância. Ainda assim, embora ganhe meu pão na grande imprensa, é preciso admitir que o mundo mudou, ela não é o único canal para se comunicar com a sociedade. Não há razões para essa programação patética, falsamente chamada de gratuita, pois na verdade é paga pelo contribuinte.
A esta altura, sei que muitos estão perguntando se já combinei com os russos. Haverá sempre uma grande resistência à mudança. Mas, se a sociedade não for capaz de impor um caminho de transição para 2018, as regras do jogo vão estraçalhar de novo as melhores intenções.
Voltando aos desastres naturais, sempre me impressionei com os japoneses. Por mais desolador que seja o panorama, esfregam as mãos e reconstroem tudo com rapidez. Pontes que levamos anos para construir no Brasil, consumindo milhões com propinas, reaparecem em semanas, novas, honestas, reluzentes. Bobagem supor que vamos nos comportar exatamente como os japoneses. O peso cultural é acachapante, consome gerações para se transformar. Mas tudo muda.
O Brasil que iniciamos com o movimento das Diretas já não existe mais. Nossa geração de políticos não soube ler os sinais no horizonte.
A delação do fim do mundo é o prenúncio de um novo mundo. Será que agora, escrito em letras garrafais e até com desenhos, finalmente, vamos compreender em que país vivemos?
Depois das delações, o tempo
Pode-se dizer que delação não é prova ou que faz parte do mesmo “golpe” que afastou Dilma Rousseff da Presidência. Pode-se dizer que os Odebrechts deitaram e rolaram como verdadeiros donos do Brasil e agora estão querendo livrar a cara, descarregando tudo nas costas dos políticos. Pode-se dizer o que for, mas não há como fazer de conta que nada acontece de extraordinário.
Com a divulgação das delações dos executivos da Odebrecht, o espanto se combinou com o mal-estar, tamanho foi o buraco que se abriu. Dinheiro sendo distribuído a rodo, a partir de extorsões feitas por pessoas empoleiradas no topo do poder e impulsionadas pela volúpia de empresas que escolheram correr o risco de dilapidar seu patrimônio ético e material.
De uma só penada, empresários poderosos, com enorme cinismo e hipocrisia, emporcalharam a vida política nacional, atando-a a crimes cometidos ao longo de anos, nas barbas de todos, sem perdoar ninguém, da direita à esquerda. Veio à tona o padrão de capitalismo que se forjou por aqui, alimentado por uma mixórdia de laços e anéis entre o público e o privado, indiferente à sorte da população. Chamaram de “campeãs nacionais” essa versão tupiniquim da exploração sem peias das gentes, do poder e das riquezas de um país.
A extensão dos fatos impressiona. Décadas de malfeitos, de invasão do público pelo privado, de degradação da função pública, de sonegação, de manipulação de obras e contratos para fins eleitorais, de enriquecimento à custa do povo. Não foram somente alguns políticos e grandes empresários. Montou-se um circuito diabólico de corruptos e corruptores, que se naturalizou e cresceu com a cumplicidade do sistema e de seus protagonistas, que fingiram não ver o veneno que impregnava a corrente sanguínea da Nação.
É hora de começar a distribuir culpas, penas e responsabilidades. Não se pode perder uma oportunidade destas para limpar parte importante da história da República brasileira. Seria obsceno um “acordão” que zerasse tudo para “salvar a política”. Empresários e políticos que desonraram sua atuação precisam ser enquadrados, com as distinções cabíveis, para que assumam o que houve de escabroso e se desculpem.
Muita pedra terá de ser carregada para se chegar ao fim do processo sem que se jogue fora a criança junto com a água suja do banho. Proteger a democracia, fazer com que prevaleçam seus valores e suas regras, renovando o que precisa ser renovado, enterrando os mortos que nos atormentam e isolando os demagogos, os ilusionistas.
As delações não foram o fim do mundo. Contaram histórias que se conheciam ou de que se ouvia falar. Puseram-nos em frente a um espelho no qual vimos algumas de nossas piores vergonhas. Na melhor das hipóteses, poderão ajudar a que termine um mundo.
Delações são relatos subjetivos de fatos. Quem delata fornece uma versão, uma “narrativa”. Age em interesse próprio. Pode distorcer situações, esquecer detalhes. Delatores mentem. As investigações servem para que se chegue ao máximo possível de verdade, evitando que se puna indevidamente.
É um nó a ser desatado. Sem isso não haverá como dosar penas, estabelecer o que é crime, dolo e má-fé, distinguir propina e doação eleitoral. Para isso será decisiva a inteligência tática e estratégica dos democratas, que ainda estão desarvorados e em busca de um eixo.
Qual será o tempo de reação dos democratas? Que tempo haverá para que se arrume a casa e se façam nela alguns pequenos reparos? Haverá tempo para que os cidadãos entendam o que está a ocorrer e se posicionem com firmeza? Precisamos levar em conta o timing dos processos, mas, paradoxalmente, não temos muito mais tempo a perder.
Nem tudo virá em sintonia com as expectativas dos cidadãos. A Justiça tem seu ritmo e seus procedimentos. Move-se com lentidão. Permanecerá soberana, mesmo que não possa imunizar-se contra eventuais pressões populares. A criação no STF de uma força-tarefa para acelerar os julgamentos da Lava Jato é um sinal de que há sensibilidade na Corte.
Também não se pode descartar a resiliência da classe política. Ela sabe agir corporativamente e se autoproteger, como qualquer corpo vivo. Pode-se torcer para que haja uma “renovação radical” na próxima composição do Congresso Nacional, mas é grande a probabilidade de que muita coisa se reproduza.
A emergência de uma nova elite política vem por etapas e mediante avanços difíceis. Sobretudo quando o sistema político está desajustado, quando a própria sociedade se vê às voltas com transições complicadas que comprometem seus nervos e suas estruturas, quando os partidos não são boas escolas de quadros. Aqui também, portanto, o tempo terá de ser bem considerado, até para não se fabricarem ilusões desnecessárias.
Os riscos inerentes ao processo em curso se alimentam de ilusões deste tipo. Há muita gente à espreita, de oportunistas a protofascistas, interessados em ganhar a massa decepcionada com os políticos e mordida pelos escândalos. Não são idênticos entre si, nem em termos políticos, nem em ideologia. Alguns têm mais substância, proposta e estilo, outros são provocadores baratos. Mas todos oferecem “ordem”, trabalho e “seriedade” ao povo.
Aos bons políticos dispostos a agir na esfera pública estatal caberá produzir uma articulação e apresentar suas postulações juntamente com uma visão do País que merecemos.
A solução do enigma não está no meio, mas num ponto futuro ainda não claramente delineado, para o encontro do qual os democratas deveriam estar trabalhando com afinco e realismo. Seja a opção por uma Constituinte, seja o caminho o das reformas pontuais no curto prazo, teremos de assistir à gestação de um pacto de novo tipo, que envolva a sociedade e todos aqueles com disposição para garimpar democraticamente o novo e recriar o modo de fazer política no País.
Com a divulgação das delações dos executivos da Odebrecht, o espanto se combinou com o mal-estar, tamanho foi o buraco que se abriu. Dinheiro sendo distribuído a rodo, a partir de extorsões feitas por pessoas empoleiradas no topo do poder e impulsionadas pela volúpia de empresas que escolheram correr o risco de dilapidar seu patrimônio ético e material.
De uma só penada, empresários poderosos, com enorme cinismo e hipocrisia, emporcalharam a vida política nacional, atando-a a crimes cometidos ao longo de anos, nas barbas de todos, sem perdoar ninguém, da direita à esquerda. Veio à tona o padrão de capitalismo que se forjou por aqui, alimentado por uma mixórdia de laços e anéis entre o público e o privado, indiferente à sorte da população. Chamaram de “campeãs nacionais” essa versão tupiniquim da exploração sem peias das gentes, do poder e das riquezas de um país.
A extensão dos fatos impressiona. Décadas de malfeitos, de invasão do público pelo privado, de degradação da função pública, de sonegação, de manipulação de obras e contratos para fins eleitorais, de enriquecimento à custa do povo. Não foram somente alguns políticos e grandes empresários. Montou-se um circuito diabólico de corruptos e corruptores, que se naturalizou e cresceu com a cumplicidade do sistema e de seus protagonistas, que fingiram não ver o veneno que impregnava a corrente sanguínea da Nação.
É hora de começar a distribuir culpas, penas e responsabilidades. Não se pode perder uma oportunidade destas para limpar parte importante da história da República brasileira. Seria obsceno um “acordão” que zerasse tudo para “salvar a política”. Empresários e políticos que desonraram sua atuação precisam ser enquadrados, com as distinções cabíveis, para que assumam o que houve de escabroso e se desculpem.
Muita pedra terá de ser carregada para se chegar ao fim do processo sem que se jogue fora a criança junto com a água suja do banho. Proteger a democracia, fazer com que prevaleçam seus valores e suas regras, renovando o que precisa ser renovado, enterrando os mortos que nos atormentam e isolando os demagogos, os ilusionistas.
As delações não foram o fim do mundo. Contaram histórias que se conheciam ou de que se ouvia falar. Puseram-nos em frente a um espelho no qual vimos algumas de nossas piores vergonhas. Na melhor das hipóteses, poderão ajudar a que termine um mundo.
Delações são relatos subjetivos de fatos. Quem delata fornece uma versão, uma “narrativa”. Age em interesse próprio. Pode distorcer situações, esquecer detalhes. Delatores mentem. As investigações servem para que se chegue ao máximo possível de verdade, evitando que se puna indevidamente.
É um nó a ser desatado. Sem isso não haverá como dosar penas, estabelecer o que é crime, dolo e má-fé, distinguir propina e doação eleitoral. Para isso será decisiva a inteligência tática e estratégica dos democratas, que ainda estão desarvorados e em busca de um eixo.
Qual será o tempo de reação dos democratas? Que tempo haverá para que se arrume a casa e se façam nela alguns pequenos reparos? Haverá tempo para que os cidadãos entendam o que está a ocorrer e se posicionem com firmeza? Precisamos levar em conta o timing dos processos, mas, paradoxalmente, não temos muito mais tempo a perder.
Nem tudo virá em sintonia com as expectativas dos cidadãos. A Justiça tem seu ritmo e seus procedimentos. Move-se com lentidão. Permanecerá soberana, mesmo que não possa imunizar-se contra eventuais pressões populares. A criação no STF de uma força-tarefa para acelerar os julgamentos da Lava Jato é um sinal de que há sensibilidade na Corte.
Também não se pode descartar a resiliência da classe política. Ela sabe agir corporativamente e se autoproteger, como qualquer corpo vivo. Pode-se torcer para que haja uma “renovação radical” na próxima composição do Congresso Nacional, mas é grande a probabilidade de que muita coisa se reproduza.
A emergência de uma nova elite política vem por etapas e mediante avanços difíceis. Sobretudo quando o sistema político está desajustado, quando a própria sociedade se vê às voltas com transições complicadas que comprometem seus nervos e suas estruturas, quando os partidos não são boas escolas de quadros. Aqui também, portanto, o tempo terá de ser bem considerado, até para não se fabricarem ilusões desnecessárias.
Os riscos inerentes ao processo em curso se alimentam de ilusões deste tipo. Há muita gente à espreita, de oportunistas a protofascistas, interessados em ganhar a massa decepcionada com os políticos e mordida pelos escândalos. Não são idênticos entre si, nem em termos políticos, nem em ideologia. Alguns têm mais substância, proposta e estilo, outros são provocadores baratos. Mas todos oferecem “ordem”, trabalho e “seriedade” ao povo.
Aos bons políticos dispostos a agir na esfera pública estatal caberá produzir uma articulação e apresentar suas postulações juntamente com uma visão do País que merecemos.
A solução do enigma não está no meio, mas num ponto futuro ainda não claramente delineado, para o encontro do qual os democratas deveriam estar trabalhando com afinco e realismo. Seja a opção por uma Constituinte, seja o caminho o das reformas pontuais no curto prazo, teremos de assistir à gestação de um pacto de novo tipo, que envolva a sociedade e todos aqueles com disposição para garimpar democraticamente o novo e recriar o modo de fazer política no País.
Um Macron para o Brasil?
Se o candidato Emmanuel Macron se tornar o novo presidente da França, será um fenômeno a ser estudado também no Brasil, um país em busca de um novo líder. O fenômeno Macron, que, não sendo de esquerda, já conta com os votos dos socialistas porque sua vitória significaria uma vitória da Europa, é importante por refletir algo que está em ebulição no mundo inteiro.
Filósofo e estudioso de Hegel e de Maquiavel, o jovem ex-ministro da Economia do Governo socialista é um produto da pós-verdade política, espaço onde se quebram os paradigmas e as certezas do passado para dar lugar a algo distinto que ninguém sabe ainda definir, mas que está no inconsciente de uma sociedade que colocou em crise aquilo que já é conhecido, em busca de uma nova visão da história. O fato de que hoje ninguém seja capaz de definir Macron politicamente, mesmo que ele tenha feito parte de um Governo socialista, já constitui, em si, uma nova realidade. Ele não pode ser rotulado como de direita, pois é ao mesmo tempo um revisionista da esquerda francesa histórica, derrotada no último domingo nas eleições. Macron não se opõe aos valores de uma certa esquerda. Seria possível dizer que até mesmo pretende repensá-la. Ele próprio afirmou: “Haverá momentos difíceis na história da esquerda, pois será preciso repensar as certezas do passado, que, na minha opinião, são estrelas mortas”. E disse que não desejava, para a França, “uma Cuba sem sol”.
É curioso que Macron, que teve como objeto de sua tese o grande filósofo Hegel, criador da teoria da tese, antítese e síntese para a análise da história, seja apresentado como um antissistema. Ele o é e não é, exatamente como Hegel, para o qual chega uma hora em que uma determinada situação, no caso, política, entra em crise e se torna necessário criar uma antítese para que se chegue a uma nova síntese. Hegel não era, porém, um antissistema. Para o filósofo alemão, a antítese não significava uma revolução, como entenderam alguns de seus estudiosos. A antítese é uma superação da tese a fim de se criar algo melhor.
Daí por que os hoje chamados de antissistema como Macron são ao mesmo tempo defensores do sistema, ainda que renovado. Não são contrários à política. Apenas advogam a necessidade de uma nova política, positiva, criativa, uma política do “sim” e não da negação, do diálogo e não do confronto. O fato de os socialistas já terem anunciado o seu voto em Macron o legitima como um político ex-socialista, mas não de direita, e ao mesmo tempo sinaliza para a existência de uma esquerda não raivosa que entende que Macron, que salvará a Europa, sempre será algo melhor do que a ultradireitista Marine Le Pen, encarnação do velho. Prevaleceu o senso de realidade.
Haveria algo a se tirar daí para o caso do Brasil, a tantos quilômetros de distância? Algo a tirar como lição para a esquerda brasileira histórica, que está em crise, como a francesa, mas que talvez seja menos flexível, menos hegeliana? Não sabemos se existe um Macron brasileiro, intelectual sólido e político moderno, antissistema e ao mesmo tempo explorador de um novo sistema que se conecte com a sensibilidade de uma sociedade globalizada. Uma sociedade em busca de algo ainda difícil de identificar, mas que ela intui que não pode continuar ancorado nos velhos esquemas de uma política –seja de esquerda, seja de direita—que, como diz Macron, representa apenas “estrelas mortas”.
É o abismo!
Caixa 2 e presentes se encontram na raiz do baixo crescimento
Corrupção é um problema central para entender o mau desempenho econômico do Brasil, mas não da maneira como geralmente aparece no discurso popular. Não é raro receber e-mails ou perguntas no blog sobre o impacto fiscal da roubalheira generalizada que tem assolado o país. Como regra, os interlocutores saem desapontados com as respostas.
A pilhagem associada às atividades investigadas pela Lava Jato, por exemplo, é estimada na casa de R$ 43 bilhões, grana para lá de razoável, mas que empalidece diante do montante do gasto público do governo federal em 2017: R$ 1,3 trilhão. Ao longo de muitos anos roubaram-se pouco mais de 3% do que o governo federal gastará apenas neste ano.
É uma ilusão, portanto, achar que o combate à corrupção resolverá a questão do gasto público, mas isso não o torna menos importante.
A corrupção tem um efeito corrosivo na capacidade de crescimento do país e está profundamente ligada à enorme presença do Estado na economia.
Há essencialmente duas formas de ganhar dinheiro: uma, virtuosa, envolve a atividade inovadora. Novos produtos, novos processos, novos mercados geram enormes lucros para empreendedores e ao mesmo tempo modificam o entorno econômico e social de maneira radical.
No processo, a produtividade aumenta, e, com ela, o padrão de vida da população: entre 1820 e 2010, por exemplo, estima-se que a renda per capita global tenha aumentado dez vezes, de US$ 712 para US$ 7.814 (a preços de 1990). O aumento de produtividade explica a maior parte desse fenômeno.
A alternativa envolve tomar dinheiro alheio, nem sempre por meios ilegais.
Monopólios (ou oligopólios) criados artificialmente; barreiras à competição, seja local, seja internacional; subsídios, explícitos ou não, são algumas das práticas que permitem a segmentos politicamente conectados também remodelar o entorno econômico para capturar essa renda, sem, contudo, produzir a aceleração da produtividade que permite o aumento persistente do bem-estar.
A corrupção está intimamente entrelaçada às atividades acima descritas. O acesso a elas tipicamente passa pelo poder público e, portanto, quem quiser esse acesso terá de pagar a quem estiver no controle do aparato governamental naquele momento (ou com perspectivas de tomar o controle desse aparato mais à frente).
Também não é preciso muito para concluir que países em que o setor público interfere de maneira mais frequente e intensa no domínio econômico oferecem mais oportunidades para ganhos ligados a práticas de captura da renda da sociedade e, portanto, mais corrupção.
Assim, quanto mais discricionária for a política econômica, privilegiando alguns setores sobre os demais, tanto maior será a roubalheira. O efeito colateral desse arranjo é o crescimento medíocre da produtividade e, portanto, do bem-estar. Ao contrário do que proclamou Eugênio de Aragão, ex-ministro da Justiça (ainda bem!), corrupção não é "graxa na engrenagem da máquina"; é só areia!
Caixa dois e presentes fazem certamente parte dos nossos "usos e costumes". Nem por isso, porém, devem ser tolerados, pois se encontram na raiz do baixo crescimento. Reclamar do câmbio e pedir anistia à corrupção pode ajudar os que vicejam nesse arranjo perverso, mas, com certeza, não há de nos colocar na rota do crescimento acelerado.
É uma ilusão, portanto, achar que o combate à corrupção resolverá a questão do gasto público, mas isso não o torna menos importante.
A corrupção tem um efeito corrosivo na capacidade de crescimento do país e está profundamente ligada à enorme presença do Estado na economia.
Há essencialmente duas formas de ganhar dinheiro: uma, virtuosa, envolve a atividade inovadora. Novos produtos, novos processos, novos mercados geram enormes lucros para empreendedores e ao mesmo tempo modificam o entorno econômico e social de maneira radical.
No processo, a produtividade aumenta, e, com ela, o padrão de vida da população: entre 1820 e 2010, por exemplo, estima-se que a renda per capita global tenha aumentado dez vezes, de US$ 712 para US$ 7.814 (a preços de 1990). O aumento de produtividade explica a maior parte desse fenômeno.
A alternativa envolve tomar dinheiro alheio, nem sempre por meios ilegais.
Monopólios (ou oligopólios) criados artificialmente; barreiras à competição, seja local, seja internacional; subsídios, explícitos ou não, são algumas das práticas que permitem a segmentos politicamente conectados também remodelar o entorno econômico para capturar essa renda, sem, contudo, produzir a aceleração da produtividade que permite o aumento persistente do bem-estar.
A corrupção está intimamente entrelaçada às atividades acima descritas. O acesso a elas tipicamente passa pelo poder público e, portanto, quem quiser esse acesso terá de pagar a quem estiver no controle do aparato governamental naquele momento (ou com perspectivas de tomar o controle desse aparato mais à frente).
Também não é preciso muito para concluir que países em que o setor público interfere de maneira mais frequente e intensa no domínio econômico oferecem mais oportunidades para ganhos ligados a práticas de captura da renda da sociedade e, portanto, mais corrupção.
Assim, quanto mais discricionária for a política econômica, privilegiando alguns setores sobre os demais, tanto maior será a roubalheira. O efeito colateral desse arranjo é o crescimento medíocre da produtividade e, portanto, do bem-estar. Ao contrário do que proclamou Eugênio de Aragão, ex-ministro da Justiça (ainda bem!), corrupção não é "graxa na engrenagem da máquina"; é só areia!
Caixa dois e presentes fazem certamente parte dos nossos "usos e costumes". Nem por isso, porém, devem ser tolerados, pois se encontram na raiz do baixo crescimento. Reclamar do câmbio e pedir anistia à corrupção pode ajudar os que vicejam nesse arranjo perverso, mas, com certeza, não há de nos colocar na rota do crescimento acelerado.
Vendem-se partidos
Atravessou a portaria da empresa em São Paulo, no 11 de junho de 2014, quarta-feira animada pela abertura da Copa, dali a 48 horas, no Estádio de Itaquera — monumento de R$ 1,2 bilhão que o empreiteiro Emílio Odebrecht define como “presente” ao ex-presidente Lula.
Edson Antônio Edinho da Silva — como assina — foi recebido pelo herdeiro da companhia, Marcelo, e um dos diretores, Alexandrino Alencar. O tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff coletava dinheiro para a continuidade do PT no poder. Odebrecht pagava para ter acesso a negócios e ao crédito público.
Marcelo já recebera nomes e valores de Guido Mantega, ministro da Fazenda. Anotara-os num rascunho (“Notas p/GM”), abaixo da lista de pendências de R$ 11,7 bilhões do governo que levou para cobrar do ministro, dias antes. “Necessidade de fôlego financeiro (inclusive Arena SP e Olimpíadas)”, escrevera no alto. Era uma lista de queixas que terminava com duas frases manuscritas, entremeadas por um palavrão: “Só nos fudeu. Nada dá positivo.”
Depois da reunião, o ministro insistiu, por telefone: “Estava indo para casa, passando pela Avenida Morumbi, e recebi uma ligação do Guido falando ‘Marcelo, você já fez aqueles…?’. Eu falei: ‘não dá ainda, você acabou de me pedir’” — contou aos procuradores.
O tesoureiro de Dilma ali confirmava a compra de partidos. Na véspera, o PMDB decidira compor a chapa, em troca da vice para Michel Temer. Representava um aumento significativo (36,3%) no tempo de propaganda Dilma na televisão.
O PT queria mais. Mantega pediu R$ 57 milhões para os “partidos da base”. Marcelo negociou para R$ 25 milhões. O tesoureiro “pediu diretamente a Marcelo que pagássemos para que os líderes dos partidos PROS, PRB, PCdoB, PDT e PP formassem a chapa ‘Com a Força do Povo’, de Dilma/Temer” — relatou Alexandrino Alencar.
Era uma decisão do comitê eleitoral do PT, acrescentou: “Todos do comitê, formado por João Santana, Rui Falcão, Gilles Azevedo, pelo então ministro Aloizio Mercadante e Dilma, além de Edinho Silva, sabiam que a coligação “Com a Força do Povo” ocorria em razão da propina paga pela companhia”.
Edinho da Silva listou os pagamentos, deixando o PP de fora: no PCdoB, R$ 7 milhões a Fábio Torkaski, ex-assessor de Mantega; no PRB, R$ 7 milhões ao pastor Marcos Pereira, hoje ministro da Indústria; no Pros, R$ 7 milhões a Eurípedes Júnior e Salvador Zimbaldi; e, no PDT, R$ 4 milhões a Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho de Lula e Dilma.
Os R$ 25 milhões compravam um adicional de 30% no tempo de televisão. Dilma ficava com um total de 11 minutos e 24 segundos, mais que o dobro do adversário do PSDB.
Os dirigentes do PCdoB, PDT, Pros e PRB venderam por R$ 125 mil, na média, cada segundo do tempo de TV dos seus partidos. Lucraram com apropriação indébita de um bem público, o horário eleitoral, gratuito para os partidos, mas custeado pelo povo, via compensações tributárias às emissoras.
Para a procuradoria, dirigentes partidários são agentes públicos. Por isso, investiga os envolvidos por crime de peculato. O dicionário explica: “Desvio de verba, no furto, na apropriação de bens e de dinheiro; normalmente, realizado por um funcionário público, valendo-se da confiança pública e, sobretudo, utilizando aquilo que furta em benefício próprio”.
Edson Antônio Edinho da Silva — como assina — foi recebido pelo herdeiro da companhia, Marcelo, e um dos diretores, Alexandrino Alencar. O tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff coletava dinheiro para a continuidade do PT no poder. Odebrecht pagava para ter acesso a negócios e ao crédito público.
Marcelo já recebera nomes e valores de Guido Mantega, ministro da Fazenda. Anotara-os num rascunho (“Notas p/GM”), abaixo da lista de pendências de R$ 11,7 bilhões do governo que levou para cobrar do ministro, dias antes. “Necessidade de fôlego financeiro (inclusive Arena SP e Olimpíadas)”, escrevera no alto. Era uma lista de queixas que terminava com duas frases manuscritas, entremeadas por um palavrão: “Só nos fudeu. Nada dá positivo.”
Depois da reunião, o ministro insistiu, por telefone: “Estava indo para casa, passando pela Avenida Morumbi, e recebi uma ligação do Guido falando ‘Marcelo, você já fez aqueles…?’. Eu falei: ‘não dá ainda, você acabou de me pedir’” — contou aos procuradores.
O tesoureiro de Dilma ali confirmava a compra de partidos. Na véspera, o PMDB decidira compor a chapa, em troca da vice para Michel Temer. Representava um aumento significativo (36,3%) no tempo de propaganda Dilma na televisão.
O PT queria mais. Mantega pediu R$ 57 milhões para os “partidos da base”. Marcelo negociou para R$ 25 milhões. O tesoureiro “pediu diretamente a Marcelo que pagássemos para que os líderes dos partidos PROS, PRB, PCdoB, PDT e PP formassem a chapa ‘Com a Força do Povo’, de Dilma/Temer” — relatou Alexandrino Alencar.
Era uma decisão do comitê eleitoral do PT, acrescentou: “Todos do comitê, formado por João Santana, Rui Falcão, Gilles Azevedo, pelo então ministro Aloizio Mercadante e Dilma, além de Edinho Silva, sabiam que a coligação “Com a Força do Povo” ocorria em razão da propina paga pela companhia”.
Edinho da Silva listou os pagamentos, deixando o PP de fora: no PCdoB, R$ 7 milhões a Fábio Torkaski, ex-assessor de Mantega; no PRB, R$ 7 milhões ao pastor Marcos Pereira, hoje ministro da Indústria; no Pros, R$ 7 milhões a Eurípedes Júnior e Salvador Zimbaldi; e, no PDT, R$ 4 milhões a Carlos Lupi, ex-ministro do Trabalho de Lula e Dilma.
Os R$ 25 milhões compravam um adicional de 30% no tempo de televisão. Dilma ficava com um total de 11 minutos e 24 segundos, mais que o dobro do adversário do PSDB.
Os dirigentes do PCdoB, PDT, Pros e PRB venderam por R$ 125 mil, na média, cada segundo do tempo de TV dos seus partidos. Lucraram com apropriação indébita de um bem público, o horário eleitoral, gratuito para os partidos, mas custeado pelo povo, via compensações tributárias às emissoras.
Para a procuradoria, dirigentes partidários são agentes públicos. Por isso, investiga os envolvidos por crime de peculato. O dicionário explica: “Desvio de verba, no furto, na apropriação de bens e de dinheiro; normalmente, realizado por um funcionário público, valendo-se da confiança pública e, sobretudo, utilizando aquilo que furta em benefício próprio”.
Herman Benjamin: 'TSE virará lavanderia'
Numa sessão em que o Tribunal Superior Eleitoral julgou as prestações de contas de três partidos, o ministro Herman Benjamin fez uma espécie de desabafo: “Eu não queria dizer essa frase, mas vamos nos transformar na lavanderia mais sofisticada do Brasil.” Relator da ação sobre a cassação da chapa Dilma-Temer, Benjamin se referia à costumeira benevolência da Corte com a contabilidade suspeita dos partidos.
Segundo o ministro, a Lava Jato demosntrou que as legendas recebem verbas de má origem e “lavam” o dinheiro por meio do TSE. Ao chancelar contas a partir de simples declarações formais, acrescentou Benjamin, o tribunal aceita “a cortina de fumaça de uma legalidade formal.” E não contribui para a criação de um ambiente que estimule “a licitude do comportamento dos partidos políticos”, melhorando o próprio processo eleitoral.
Nas palavras de Benjamin, transmitidas ao vivo pela internet, o TSE está diante de duas alternativas: “…Ou se contenta apenas com um atestado de existência formal ou tem os olhos abertos para, em hipóteses excepcionais, não se contentar com essa cortina de fumaça.”
A manifestação de Benjamin foi feita durante o julgamento das contas do PPS referentes a 2011. Calma, você não leu errado. O TSE julgou a escrituração partidária de seis anos atrás. Em decisão inusual, o plenário da Corte reprovou as contas do PPS por unanimidade. Coube à ministra Luciana Lóssio relatar o processo. Ela anotou em seu voto que passaram pelas arcas do PPS naquele ano R$ 5,8 milhões. O grosso, R$ 5,1 milhões, veio do Fundo Partidário. É verba pública.
Escorando-se em auditoria feita por técnicos do TSE, a ministra informou aos seus pares que foram detectadas irregularidades na aplicação de 48,21% do dinheiro que manuseado pela tesouraria do PPS. Farejaram-se incongruências, por exemplo, no pagamento de prestadores de serviços, na compra de passagens aéreas e nas despesas com alimentação. O partido foi condenado a devolver R$ R$ 2,27 milhões, com a devida atualização monetária. De resto, deixará de receber o equivalente a três meses do Fundo Partidário.
Noutros tempos, os ministros do TSE talvez aprovassem as contas do PPS com ressalvas. Como fizeram, a propósito, com outras duas legendas que tiveram suas contabilidades apreciadas na mesma sessão: PSC e PTdoB (não confundir com PCdoB). Em ambos os casos, as contas passaram “com ressalvas” porque as irregularidades detectadas pelos técnicos do TSE foram consideradas irrisórias.
Herman Benjamin foi o relator do processo referente ao PTdoB, que terá de devolver ao erário R$ 27,5 mil. Seus comentários sobre a conversão do TSE em lavanderia soaram como se o ministro vivesse a angústia do que está por vir no julgamento mais relevante de toda a história do Corte máxima da Justiça Eleitoral. Até os ácaros do carpete do plenário do TSE suspeitam que Benjamin deve votar pela inelegibilidade de Dilma Rousseff e pela interrupção do mandato de Michel Temer. Os mesmos aracnídeos têm certeza de que é mais fácil o PMDB se tornar um partido casto do que o TSE levar a cabeça de Temer à bandeja no julgamento que será retomado em maio.
O Brasil se atola cada vez mais
O caro leitor deve perguntar-se por que, volta e meia, as opiniões que aqui expresso são marcadas pelo selo do espanto. Reservarei para outro momento minhas reflexões sobre o famoso sítio de Atibaia, não sem antes deixar aqui uma questão que me assalta: como poderiam as duas maiores empreiteiras operar naquele limitado canteiro de obras, sem que uma não soubesse o que a outra fazia? Ou será que trabalhavam consorciadas? Teria alguém pactuado algo com Léo Pinheiro e outro alguém, à revelia daquele pacto, ajustado outra coisa com Emílio Odebrecht? Espero que a Justiça tenha condições de fazer com que a verdade prevaleça.
Estarrecedora, no entanto, para quem, como eu, vivenciou, por um semestre, a mão de ferro com que Palocci dirigia – não se esqueça, caro leitor, em parceria com Henrique Meirelles – os destinos econômico-financeiros do país, é a candura de seu depoimento ao juiz Sergio Moro. Agora, dispõe-se a fazer revelações “de alta sensibilidade”, a qualquer momento, assim que o juiz quiser, ou a quem Moro designar para ouvir suas revelações. Estas viriam acompanhadas de documentos com nomes, endereços e operações, que, segundo Palocci, seriam, uma vez reveladas, um bem para o Brasil, mas ainda dariam à Lava Jato mais um ano de duro trabalho.
Cairia sentada, ouvindo isso, caso já não estivesse no sofá, de olhos pregados no aparelho de televisão. Afinal, se já foram ou ameaçam ir de roldão as empreiteiras do país, o que poderá acontecer ao sistema financeiro, leia-se “bancos”, caso Palocci abra o bico? Há muito venho dizendo neste espaço que a total subjugação do Brasil a eles se deu justamente no dia 30 de maio de 2003, época em que, com perdão do trocadilho, Palocci era o grande delfim da economia. Naquela ocasião, foi promulgada a Emenda Constitucional 40, que subtraiu ao Estado brasileiro o controle sobre o sistema financeiro, limitando-o à fiscalização dos agentes financeiros da administração pública direta e indireta (art. 163, inciso V da Constituição Federal, tal como promulgada na reforma em pleno governo Lula). A queda do véu desses segredos seria para atolar o país de vez? Pirou todo mundo, até o calado e todo-poderoso Antonio Palocci?
A propósito, como bem noticiou a colunista Raquel Faria neste O TEMPO, o país pagou de dívida pública, apenas neste ano, o equivalente à metade do propalado débito da Previdência. Teria isso a ver com as informações de alta sensibilidade? Palocci se teria arrependido e resolveu entregar o jogo de quem afinal nos colocou a todos no atoleiro em que nos encontramos? Haveria na delação um sinal de esperança para os 13 milhões de desempregados? Um aceno para os que morrem nas filas do SUS? Ou para os que já tiveram de parar de estudar? Ou para os que, aos trancos e barrancos, lutam para fechar as contas no fim do mês?
A intuição me faz temer e tremer em relação ao que possa acontecer. Pior se ainda não tivermos chegado ao fundo do poço da hipocrisia e da desfaçatez.
Sandra Starling
Estarrecedora, no entanto, para quem, como eu, vivenciou, por um semestre, a mão de ferro com que Palocci dirigia – não se esqueça, caro leitor, em parceria com Henrique Meirelles – os destinos econômico-financeiros do país, é a candura de seu depoimento ao juiz Sergio Moro. Agora, dispõe-se a fazer revelações “de alta sensibilidade”, a qualquer momento, assim que o juiz quiser, ou a quem Moro designar para ouvir suas revelações. Estas viriam acompanhadas de documentos com nomes, endereços e operações, que, segundo Palocci, seriam, uma vez reveladas, um bem para o Brasil, mas ainda dariam à Lava Jato mais um ano de duro trabalho.
Cairia sentada, ouvindo isso, caso já não estivesse no sofá, de olhos pregados no aparelho de televisão. Afinal, se já foram ou ameaçam ir de roldão as empreiteiras do país, o que poderá acontecer ao sistema financeiro, leia-se “bancos”, caso Palocci abra o bico? Há muito venho dizendo neste espaço que a total subjugação do Brasil a eles se deu justamente no dia 30 de maio de 2003, época em que, com perdão do trocadilho, Palocci era o grande delfim da economia. Naquela ocasião, foi promulgada a Emenda Constitucional 40, que subtraiu ao Estado brasileiro o controle sobre o sistema financeiro, limitando-o à fiscalização dos agentes financeiros da administração pública direta e indireta (art. 163, inciso V da Constituição Federal, tal como promulgada na reforma em pleno governo Lula). A queda do véu desses segredos seria para atolar o país de vez? Pirou todo mundo, até o calado e todo-poderoso Antonio Palocci?
A propósito, como bem noticiou a colunista Raquel Faria neste O TEMPO, o país pagou de dívida pública, apenas neste ano, o equivalente à metade do propalado débito da Previdência. Teria isso a ver com as informações de alta sensibilidade? Palocci se teria arrependido e resolveu entregar o jogo de quem afinal nos colocou a todos no atoleiro em que nos encontramos? Haveria na delação um sinal de esperança para os 13 milhões de desempregados? Um aceno para os que morrem nas filas do SUS? Ou para os que já tiveram de parar de estudar? Ou para os que, aos trancos e barrancos, lutam para fechar as contas no fim do mês?
A intuição me faz temer e tremer em relação ao que possa acontecer. Pior se ainda não tivermos chegado ao fundo do poço da hipocrisia e da desfaçatez.
Sandra Starling
Bezerra da Silva, o Profeta: "Se gritar pega ladrão..."
O cantor Bezerra da Silva profetizou o Brasil há mais de uma década quando teve a felicidade de compor a música “Se gritar pela ladrão, não fica um meu irmão”. Pois é, pelo que se viu até agora na Lava Jato parece mesmo que não escapa ninguém. Quase 200 políticos, presidentes e ex-presidentes, empresários, lobistas, marqueteiros, executivos e donos de empreiteiras todos estão envolvidos no maior escândalo de que se tem notícia no país. O PT, liderado por Lula e seus pelegos sindicais, transformou o Brasil em um gueto da corrupção, em um depósito de bandidos. Os bilhões roubados dos cofres públicos fazem falta na educação, na saúde e na infraestrutura em um país com a economia destroçada.
As delações dos donos das empreiteiras são de um cinismo atroz. Os empreiteiros falam com riqueza de detalhes como os petistas criaram a organização criminosa e dela se beneficiaram para permanecer mais de uma década no poder. As ordens saiam do Palácio do Planalto, onde a quadrilha se organizou para saquear o país. De lá, Lula e Dilma comandaram os gângsteres que depenaram a Petrobrás, até então uma das empresas mais saudáveis financeiramente do país.
E, infelizmente, tudo iria continuar se não fosse a ousadia de uns abnegados procuradores e do juiz Sérgio Moro que não titubeou em usar a caneta para prender os delinquentes, que agora decidem abrir o bico com receio de mofarem na cadeia. Palocci, o todo poderoso ex-ministro da Fazenda, é a bola da vez. Implorou, quase de joelhos, ao juiz Sérgio Moro para que lhe conceda o direito de delatar. Que horror!
Mas, nós, os brasileiros, queremos mais. O Brasil quer saber, por exemplo, por que as contas de todos esses políticos foram aprovadas pelos tribunais eleitorais. Alguma coisa está errada. Das duas uma: ou os tribunais são refratários, incompetentes e lenientes com o crime, ou todos os políticos envolvidos são inocentes e o juiz Sérgio Moro os persegue a troco de nada. Acho que a primeira versão é a mais correta. A exemplo dos tribunais de contas, os TREs dificilmente desaprovam contas de políticos. Muitos dos seus juízes estão sempre a serviço deles. Vivem pendurados em favores. Empregam amigos e parentes nos estados e municípios como cafetões do dinheiro público.
Dizer que teve as contas aprovadas pelo TRE virou uma mania de todos os políticos que são denunciados na Lava Jato. É uma espécie de salvo conduto que os protege diante dos escândalos de corrupção. Por que, então, o TSE não pede uma varredura nas contas desses políticos que se dizem probos? Dificilmente isso ocorrerá até porque o próprio Tribunal Superior Eleitoral, em outros momentos, também foi leniente com prestação de contas de campanhas nas últimas décadas.
Político roubar no Brasil é coisa antiga. O novo mesmo no país é um juiz com a marca de Sérgio Moro e procuradores que decidiram ir fundo no combate à corrupção. Sem medo de cooptação e das ameaças, esse grupo, que tenta higienizar o Brasil desses malfeitores, já está sendo rotulado até de extrema direita pela esquerda corrupta e raivosa que o acusa de estar a serviço da CIA.
Outra novidade dos petistas enraivecidos é contar o tempo em que as redes de TV dedicam ao escândalo do partido. Eles acham que a imprensa deveria ficar calada diante de tanta indecência e que o Lula, coberto da lama da Lava Jato, não deveria ter tanto destaque na mídia. O engraçado é que a censura ao noticiário sobre o ex-presidente é de jornalistas que até pouco tempo estavam nas redações de jornais, antes de se revelarem fervorosos defensores das maracutaias petistas em seus blogs.
Agora, se me permite, curta um pouquinho da música do Bezerra da Silva:
As delações dos donos das empreiteiras são de um cinismo atroz. Os empreiteiros falam com riqueza de detalhes como os petistas criaram a organização criminosa e dela se beneficiaram para permanecer mais de uma década no poder. As ordens saiam do Palácio do Planalto, onde a quadrilha se organizou para saquear o país. De lá, Lula e Dilma comandaram os gângsteres que depenaram a Petrobrás, até então uma das empresas mais saudáveis financeiramente do país.
E, infelizmente, tudo iria continuar se não fosse a ousadia de uns abnegados procuradores e do juiz Sérgio Moro que não titubeou em usar a caneta para prender os delinquentes, que agora decidem abrir o bico com receio de mofarem na cadeia. Palocci, o todo poderoso ex-ministro da Fazenda, é a bola da vez. Implorou, quase de joelhos, ao juiz Sérgio Moro para que lhe conceda o direito de delatar. Que horror!
Mas, nós, os brasileiros, queremos mais. O Brasil quer saber, por exemplo, por que as contas de todos esses políticos foram aprovadas pelos tribunais eleitorais. Alguma coisa está errada. Das duas uma: ou os tribunais são refratários, incompetentes e lenientes com o crime, ou todos os políticos envolvidos são inocentes e o juiz Sérgio Moro os persegue a troco de nada. Acho que a primeira versão é a mais correta. A exemplo dos tribunais de contas, os TREs dificilmente desaprovam contas de políticos. Muitos dos seus juízes estão sempre a serviço deles. Vivem pendurados em favores. Empregam amigos e parentes nos estados e municípios como cafetões do dinheiro público.
Dizer que teve as contas aprovadas pelo TRE virou uma mania de todos os políticos que são denunciados na Lava Jato. É uma espécie de salvo conduto que os protege diante dos escândalos de corrupção. Por que, então, o TSE não pede uma varredura nas contas desses políticos que se dizem probos? Dificilmente isso ocorrerá até porque o próprio Tribunal Superior Eleitoral, em outros momentos, também foi leniente com prestação de contas de campanhas nas últimas décadas.
Político roubar no Brasil é coisa antiga. O novo mesmo no país é um juiz com a marca de Sérgio Moro e procuradores que decidiram ir fundo no combate à corrupção. Sem medo de cooptação e das ameaças, esse grupo, que tenta higienizar o Brasil desses malfeitores, já está sendo rotulado até de extrema direita pela esquerda corrupta e raivosa que o acusa de estar a serviço da CIA.
Outra novidade dos petistas enraivecidos é contar o tempo em que as redes de TV dedicam ao escândalo do partido. Eles acham que a imprensa deveria ficar calada diante de tanta indecência e que o Lula, coberto da lama da Lava Jato, não deveria ter tanto destaque na mídia. O engraçado é que a censura ao noticiário sobre o ex-presidente é de jornalistas que até pouco tempo estavam nas redações de jornais, antes de se revelarem fervorosos defensores das maracutaias petistas em seus blogs.
Agora, se me permite, curta um pouquinho da música do Bezerra da Silva:
Quais países mais ganharam e perderam árvores desde 1990?
Pensar em lugares verdes é pensar em ilhas tropicais perdidas em meio ao nada, quentes selvas sul-americanas e extensas savanas no continente africano. Mas quais países, à margem de suas condições naturais, conseguiram aumentar suas áreas verdes? E quais perderam mais hectares de mata?
De acordo com os registros da FAO, reunidos na base de dados aberta do Banco Mundial, o mapa indica a variação da porcentagem de área florestal em relação ao território total das nações desde 1990.
O desmatamento continua sendo a tendência dominante. A superfície florestada mundial diminuiu 3% (130 milhões de hectares) nos últimos 25 anos. Mas isso ocorreu em um ritmo muito menor: a taxa líquida de perda de árvores nesse período passou de sete milhões de hectares anuais a três milhões, de acordo com o relatório Estado dos Bosques do Mundo da FAO.
O poder aquisitivo das nações, de acordo com os dados, possui uma estreita relação com a conservação dos bosques. Os países mais desenvolvidos somaram mais de três milhões de superfície florestada nova entre 2000 e 2010; os menos, pelo contrário, perderam mais de dois milhões.
No Brasil, onde são perdidos aproximadamente 2,5 milhões de hectares anuais, a superfície total caiu 10%. Em situação oposta se destaca o Uruguai, país que ganhou 131% de massa florestal e onde 80% têm certificação de sustentabilidade. As regiões tropicais são as que mais gravemente foram afetadas. Elas perdem por volta de sete milhões de hectares por ano. A necessidade de espaço para terras agrícolas coloca países africanos como Togo (-73%), Nigéria (-70%) e Uganda (-56%) entre os mais devastados, além de nações como Honduras (-44%), Nicarágua (-31%) e El Salvador (-30%).
A Islândia, que dobrou sua superfície verde, mas que só representa 0,5% do território, fenômeno que se repete em outros países como o Bahrein (172%). O aumento espanhol vem principalmente dos reflorestamentos, o êxodo rural e a expansão natural da vegetação montanhosa.
Em números absolutos, a Finlândia, com 83% de bosques, a maior parte sustentável, é o primeiro país europeu na classificação dos mais verdes do mundo, liderada por pequenas ilhas tropicais da América do Sul e do Caribe, algumas nações africanas e países do sudeste asiático e do Pacífico Sul. Cinco países não possuem nenhuma área florestada: San Marino, Catar, Groenlândia, Omã e Nauru.
Outras causas, como a agricultura comercial em larga escala, são responsáveis por 40% do desmatamento, elevando número a 70% na América Latina. A urbanização, a mineração e a construção de infraestrutura dividem os outros 30%.
De acordo com os registros da FAO, reunidos na base de dados aberta do Banco Mundial, o mapa indica a variação da porcentagem de área florestal em relação ao território total das nações desde 1990.
O desmatamento continua sendo a tendência dominante. A superfície florestada mundial diminuiu 3% (130 milhões de hectares) nos últimos 25 anos. Mas isso ocorreu em um ritmo muito menor: a taxa líquida de perda de árvores nesse período passou de sete milhões de hectares anuais a três milhões, de acordo com o relatório Estado dos Bosques do Mundo da FAO.
O poder aquisitivo das nações, de acordo com os dados, possui uma estreita relação com a conservação dos bosques. Os países mais desenvolvidos somaram mais de três milhões de superfície florestada nova entre 2000 e 2010; os menos, pelo contrário, perderam mais de dois milhões.
No Brasil, onde são perdidos aproximadamente 2,5 milhões de hectares anuais, a superfície total caiu 10%. Em situação oposta se destaca o Uruguai, país que ganhou 131% de massa florestal e onde 80% têm certificação de sustentabilidade. As regiões tropicais são as que mais gravemente foram afetadas. Elas perdem por volta de sete milhões de hectares por ano. A necessidade de espaço para terras agrícolas coloca países africanos como Togo (-73%), Nigéria (-70%) e Uganda (-56%) entre os mais devastados, além de nações como Honduras (-44%), Nicarágua (-31%) e El Salvador (-30%).
A Islândia, que dobrou sua superfície verde, mas que só representa 0,5% do território, fenômeno que se repete em outros países como o Bahrein (172%). O aumento espanhol vem principalmente dos reflorestamentos, o êxodo rural e a expansão natural da vegetação montanhosa.
Em números absolutos, a Finlândia, com 83% de bosques, a maior parte sustentável, é o primeiro país europeu na classificação dos mais verdes do mundo, liderada por pequenas ilhas tropicais da América do Sul e do Caribe, algumas nações africanas e países do sudeste asiático e do Pacífico Sul. Cinco países não possuem nenhuma área florestada: San Marino, Catar, Groenlândia, Omã e Nauru.
Outras causas, como a agricultura comercial em larga escala, são responsáveis por 40% do desmatamento, elevando número a 70% na América Latina. A urbanização, a mineração e a construção de infraestrutura dividem os outros 30%.
Sim, chefe!
Com as mãos cruzadas nas costas, diante de especialistas no papel de juízes, ansiosos participantes dos realitys shows de quase tudo – cozinha, costura, maquiagem, vida, aventura e até casamento – são testados, aprovados ou reprovados em cadeia nacional de TV e insistentes repetecos on-line.
No meio do caminho há a humilhação. Invariável. Quanto mais grosseiro o jurado, mais fama terá – ele e o programa. O plateia quer porrada. Os realitys atendem a demanda.
Reunidos em grupos, concorrentes são submetidos ao público e a juízes nada dóceis. Por meses, padecem de julgamentos semanais e são impiedosamente eliminados, um a um, até que se chegue ao vencedor, para quem está reservado o céu na terra. Bolada de dinheiro mais as delícias da fama – do acesso aos camarotes vips à repaginagem geral: cabeça, tronco, membros e roupas. Em alguns casos, trabalho novo e cursos no exterior.
No desenrolar dos programas, aos que erram, aos que saem, são reservadas broncas e desqualificação. Como a participação é voluntária, a humilhação está prevista em contrato. É consentida. E expressa no disciplinado: Sim, chefe! Que deve significar sou (um M) agradecido de chegar até aqui e assim ser exposto ao seu implacável julgamento.
Há humilhados que se superam e vão até o fim. Há os que ficam pelo caminho. Mas a todos está reservada alguma fama.
O público é torcida com direito a voto. Nos primeiros tempos, premiavam os bonzinhos, os mais pobres, os mais menos alguma coisa. Mais bicudos ficam os tempos, mais cresce a torcida e a chance de vitória dos malvados.
Jurado mauzão também cai no gosto do público. Diz-se – e filmes mostram - que nas equipes policiais, que atuam para conseguir confissões, cabe a uns o papel de mau, impaciente, violento, e a outros o de bonzinho, que dá água, cigarro, que é compreensivo, protetor, pronto pra ouvir e compreender.
Os realitys repetem a formula. Espelham a vida. Os jurados suaves se contrapõem aos durões. E segue o jogo. Todos cumprindo seu script.
Neste momento estranho do mundo, as audiências querem mesmo é sangue. No sentido figurado – o das humilhações ou execrações públicas - ou real, do que corre nas veias ou jorra pra além da pele. Lutas, guerras, assassinatos e outras violências gravadas ampliam audiência, likes, rendem compartilhamentos monstros.
Sofrimento diverte. Desgraça também.
Bandido pode ser mocinho, se cair no gosto do público. O mocinho de ontem pode virar o bandido de hoje. E aí, pau nele! É assim nos realitys, que imitam a vida que motiva os realitys. Menu completo.
A tecnologia avança. E a delicadeza encolhe. Que se cuide o diabo porque a concorrência anda grande.
A seara do comportamento vive síndrome de Curupira: caminha como os pés ao contrário. Anda pra trás fingindo andar pra frente. Assim, confunde o presente e embaralha o futuro.
A cena política é reino do capeta da garrafa, já no ponto de levar pras profundezas todas as almas que lhe foram vendidas a peso de ouro.
Mercado e economia são redemoinhos do Saci. Nada brincalhão. Nada a ver com o Pererê. Só no modo enxofre e tridente para não deixar escapar ninguém do inferno das reformas.
Para os participantes involuntários do reality da vida as news são cada dia mais bads. Difícil decidir se vamos de sim, chefe! Ou de pare o mundo que eu quero descer.
No meio do caminho há a humilhação. Invariável. Quanto mais grosseiro o jurado, mais fama terá – ele e o programa. O plateia quer porrada. Os realitys atendem a demanda.
Reunidos em grupos, concorrentes são submetidos ao público e a juízes nada dóceis. Por meses, padecem de julgamentos semanais e são impiedosamente eliminados, um a um, até que se chegue ao vencedor, para quem está reservado o céu na terra. Bolada de dinheiro mais as delícias da fama – do acesso aos camarotes vips à repaginagem geral: cabeça, tronco, membros e roupas. Em alguns casos, trabalho novo e cursos no exterior.
No desenrolar dos programas, aos que erram, aos que saem, são reservadas broncas e desqualificação. Como a participação é voluntária, a humilhação está prevista em contrato. É consentida. E expressa no disciplinado: Sim, chefe! Que deve significar sou (um M) agradecido de chegar até aqui e assim ser exposto ao seu implacável julgamento.
Há humilhados que se superam e vão até o fim. Há os que ficam pelo caminho. Mas a todos está reservada alguma fama.
O público é torcida com direito a voto. Nos primeiros tempos, premiavam os bonzinhos, os mais pobres, os mais menos alguma coisa. Mais bicudos ficam os tempos, mais cresce a torcida e a chance de vitória dos malvados.
Jurado mauzão também cai no gosto do público. Diz-se – e filmes mostram - que nas equipes policiais, que atuam para conseguir confissões, cabe a uns o papel de mau, impaciente, violento, e a outros o de bonzinho, que dá água, cigarro, que é compreensivo, protetor, pronto pra ouvir e compreender.
Os realitys repetem a formula. Espelham a vida. Os jurados suaves se contrapõem aos durões. E segue o jogo. Todos cumprindo seu script.
Neste momento estranho do mundo, as audiências querem mesmo é sangue. No sentido figurado – o das humilhações ou execrações públicas - ou real, do que corre nas veias ou jorra pra além da pele. Lutas, guerras, assassinatos e outras violências gravadas ampliam audiência, likes, rendem compartilhamentos monstros.
Sofrimento diverte. Desgraça também.
Bandido pode ser mocinho, se cair no gosto do público. O mocinho de ontem pode virar o bandido de hoje. E aí, pau nele! É assim nos realitys, que imitam a vida que motiva os realitys. Menu completo.
A tecnologia avança. E a delicadeza encolhe. Que se cuide o diabo porque a concorrência anda grande.
A seara do comportamento vive síndrome de Curupira: caminha como os pés ao contrário. Anda pra trás fingindo andar pra frente. Assim, confunde o presente e embaralha o futuro.
A cena política é reino do capeta da garrafa, já no ponto de levar pras profundezas todas as almas que lhe foram vendidas a peso de ouro.
Mercado e economia são redemoinhos do Saci. Nada brincalhão. Nada a ver com o Pererê. Só no modo enxofre e tridente para não deixar escapar ninguém do inferno das reformas.
Para os participantes involuntários do reality da vida as news são cada dia mais bads. Difícil decidir se vamos de sim, chefe! Ou de pare o mundo que eu quero descer.
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