sábado, 5 de janeiro de 2019
Guerra de Bolsonaro contra a mídia prejudica imagem do Brasil no mundo
Alguém deveria explicar ao presidente Jair Bolsonaro que sua guerra inútil contra os meios tradicionais de comunicação acabará prejudicando gravemente a imagem do Brasil no mundo. Acreditar que alguém em uma democracia pode governar só com as redes sociais é um erro pelo qual os políticos pagarão caro. Nenhum presidente nem chefe de Governo se manteria no poder contra os jornais e redes de televisão nacionais. Até os ditadores que silenciaram ou censuraram os meios de comunicação que os criticavam mimaram os que lhes eram fiéis.
O Brasil já viveu, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, um confronto com o então correspondente do The New York Times no Brasil, Larry Rohter. Depois que o jornalista denunciou os excessos etílicos do popular presidente, Lula quis expulsá-lo do país. O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um dos personagens mais inteligentes de seu Governo, aconselhou Lula a não expulsar o jornalista norte-americano. Mesmo assim, a notícia correu o mundo, criando a primeira sombra sobre o caráter democrático do Governo progressista brasileiro.
Sem negar os méritos do ex-presidente sindicalista, que foram muitos, ele nunca teria tido a imagem positiva que teve internacionalmente sem a ajuda dos meios tradicionais de informação, que são os que criam a imagem de um país fora de suas fronteiras. Bolsonaro deve saber que sua política como candidato, centrada nas redes sociais, não poderá ser a mesma no Planalto, onde sua imagem tem projeção no mundo.
O capitão reformado chegou à chefia de Estado com uma imagem internacional negativa. Foi apresentado ao mundo como um ultradireitista autoritário com saudade da ditadura, cercado de generais e com tentações teocráticas, colocando, em um país laico como o Brasil, Deus como guia de seus passos. Essa imagem não o ajuda a ampliar relações políticas e comerciais com as grandes democracias mundiais.
Não adianta citar como exemplo o presidente norte-americano, Donald Trump, que também tenta governar com as redes sociais, em luta contra os meios tradicionais de informação. O presidente norte-americano não é Bolsonaro, e os Estados Unidos não são o Brasil. No caso dos EUA, estamos falando da maior potência mundial e de uma democracia com instituições fortes, capazes de desafiar as piores loucuras de seus presidentes.
O Brasil, apesar de ser um país continental, não deixa de ser um país periférico no planeta que precisa estabelecer relações positivas com os países que hoje contam no mundo. E para isso Bolsonaro vai precisar desfazer a imagem negativa com a qual chegou ao Planalto. Não conseguirá isso, no entanto, em guerra contra os meios de comunicação. Não se pode esquecer que o declino tanto de Lula como do PT começou com a tentação do fatídico “controle social” da mídia, um eufemismo para tentar impor a censura. Chegou-se a planejar até uma cartilha com pontos positivos e negativos dados a cada jornalista por um conselho criado pelo Governo. Foi Dilma Rousseff, quando chegou ao Planalto, quem abandonou aquele projeto, depois de afirmar em seu discurso de posse que ela não só não iria impor nenhum controle sobre a mídia, como preferia “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.
O barulho da imprensa, ou seja, o controle crítico dos governantes, sempre incomoda um Governo, mas também o faz crescer. O que o leva à morte é o silêncio provocado pelo medo da transparência, um dever sagrado em relação àqueles que o elegeram para governar à luz do sol e não na escuridão dos esgotos da prevaricação e até da mentira. Bolsonaro e seu novo Governo ainda estão a tempo de evitar esse perigoso desafio aos meios de comunicação governando sem medo do escrutínio público de seus atos.
O Brasil já viveu, no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, um confronto com o então correspondente do The New York Times no Brasil, Larry Rohter. Depois que o jornalista denunciou os excessos etílicos do popular presidente, Lula quis expulsá-lo do país. O então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, um dos personagens mais inteligentes de seu Governo, aconselhou Lula a não expulsar o jornalista norte-americano. Mesmo assim, a notícia correu o mundo, criando a primeira sombra sobre o caráter democrático do Governo progressista brasileiro.
Sem negar os méritos do ex-presidente sindicalista, que foram muitos, ele nunca teria tido a imagem positiva que teve internacionalmente sem a ajuda dos meios tradicionais de informação, que são os que criam a imagem de um país fora de suas fronteiras. Bolsonaro deve saber que sua política como candidato, centrada nas redes sociais, não poderá ser a mesma no Planalto, onde sua imagem tem projeção no mundo.
O capitão reformado chegou à chefia de Estado com uma imagem internacional negativa. Foi apresentado ao mundo como um ultradireitista autoritário com saudade da ditadura, cercado de generais e com tentações teocráticas, colocando, em um país laico como o Brasil, Deus como guia de seus passos. Essa imagem não o ajuda a ampliar relações políticas e comerciais com as grandes democracias mundiais.
Não adianta citar como exemplo o presidente norte-americano, Donald Trump, que também tenta governar com as redes sociais, em luta contra os meios tradicionais de informação. O presidente norte-americano não é Bolsonaro, e os Estados Unidos não são o Brasil. No caso dos EUA, estamos falando da maior potência mundial e de uma democracia com instituições fortes, capazes de desafiar as piores loucuras de seus presidentes.
O Brasil, apesar de ser um país continental, não deixa de ser um país periférico no planeta que precisa estabelecer relações positivas com os países que hoje contam no mundo. E para isso Bolsonaro vai precisar desfazer a imagem negativa com a qual chegou ao Planalto. Não conseguirá isso, no entanto, em guerra contra os meios de comunicação. Não se pode esquecer que o declino tanto de Lula como do PT começou com a tentação do fatídico “controle social” da mídia, um eufemismo para tentar impor a censura. Chegou-se a planejar até uma cartilha com pontos positivos e negativos dados a cada jornalista por um conselho criado pelo Governo. Foi Dilma Rousseff, quando chegou ao Planalto, quem abandonou aquele projeto, depois de afirmar em seu discurso de posse que ela não só não iria impor nenhum controle sobre a mídia, como preferia “o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”.
O barulho da imprensa, ou seja, o controle crítico dos governantes, sempre incomoda um Governo, mas também o faz crescer. O que o leva à morte é o silêncio provocado pelo medo da transparência, um dever sagrado em relação àqueles que o elegeram para governar à luz do sol e não na escuridão dos esgotos da prevaricação e até da mentira. Bolsonaro e seu novo Governo ainda estão a tempo de evitar esse perigoso desafio aos meios de comunicação governando sem medo do escrutínio público de seus atos.
Urros, zurros e latidos
Nelson Rodrigues reclamava que, em tempos passados, os idiotas tinham um certo pudor em dar suas opiniões estúpidas, conheciam seu lugar de irrelevância, mas em 1980 estavam todos saidinhos dando opinião sobre tudo e sem a menor vergonha de sua estupidez. Imagino Nelson na era digital, sendo chamado de fascista, machista, pedófilo, inimigo mortal da família e da religião — e dos perfeitos idiotas latino-americanos, um dos alvos favoritos de sua ironia cáustica.
Seria Nelson um direitista reacionário na política e um libertário subversivo no comportamento? Pode isso, Arnaldo?
Quais seriam as diferenças entre um esquerdista estúpido e um direitista idiota? Por estupidez e idiotia, eles não sabem. A burrice e a ignorância têm um imenso potencial destrutivo, seja de que lado for.
Por outro lado, o psicanalista Hélio Pellegrino sempre advertia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, pelo seu poder de destruição. Como provam os esquemas geniais de corrupção montados pelas melhores cabeças das maiores empreiteiras do país com os políticos mais inteligentes e desonestos do Brasil. Como provam alguns ministros do Supremo Tribunal Federal de um certo país latino-americano.
A absoluta liberdade de opinião com acesso a todos os meios para expressá-la publicamente resultou em guerras de palavras inúteis e perda de tempo. Mas também permitiu o seu uso inteligente e gratuito como arma de propaganda poderosa — para as melhores e piores causas.
Hoje, Nelson seria ao mesmo tempo odiado por minions e petralhas ignorantes do seu gênio e certamente lhes daria a importância de cachorros latindo. Mas seria interessante ver como o rancor, a desinformação e o fanatismo o odiariam — por motivos opostos. Por escrever a vida como ela é.
Seria Nelson um direitista reacionário na política e um libertário subversivo no comportamento? Pode isso, Arnaldo?
Quais seriam as diferenças entre um esquerdista estúpido e um direitista idiota? Por estupidez e idiotia, eles não sabem. A burrice e a ignorância têm um imenso potencial destrutivo, seja de que lado for.
Por outro lado, o psicanalista Hélio Pellegrino sempre advertia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, pelo seu poder de destruição. Como provam os esquemas geniais de corrupção montados pelas melhores cabeças das maiores empreiteiras do país com os políticos mais inteligentes e desonestos do Brasil. Como provam alguns ministros do Supremo Tribunal Federal de um certo país latino-americano.
A absoluta liberdade de opinião com acesso a todos os meios para expressá-la publicamente resultou em guerras de palavras inúteis e perda de tempo. Mas também permitiu o seu uso inteligente e gratuito como arma de propaganda poderosa — para as melhores e piores causas.
Mito busca livrar o país de uma ideologia para impor a dele
“Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais”, anunciou o Mito em seu discurso de posse na Praça dos Três Poderes, escrito para animar seus fervorosos apoiadores, ali representados por uma plateia de Simpsons vestidos de verde e amarelo.
Livrar o país da ideologia é um dos motes do presidente Jair Bolsonaro.
Tomemos o termo em sua acepção comum, de conjunto de convicções políticas, econômicas, culturais etc. professadas por pessoas ou grupos. É óbvio que o Mito e seu séquito exprimem visões ideológicas —e até bastante rígidas, a ponto de deixá-las suplantar opções pragmáticas e evidências empíricas.
Mudar a embaixada para Jerusalém, por exemplo, é uma escolha motivada por viés ideológico. Leva o Brasil a optar por um lado do conflito, abandonando a perspectiva sensata de defesa da paz e reconhecimento de dois Estados.
Claro que para o presidente ideologia é apenas o que ele identifica como linhas de pensamento da esquerda. Suas próprias crenças e as de seus aliados seriam outra coisa —a expressão da Verdade anunciada por Deus.
Sendo assim, nada haveria de ideológico na chorumela regressiva do ministro das Relações Exteriores, para quem “o nacionalismo tornou-se o veículo da fé” e a providência divina nos salvou do globalismo ao unir as ideias de Olavo de Carvalho ao patriotismo de Bolsonaro.
Tampouco haveria traços ideológicos no discurso da ministra dos Direitos Humanos, pronta a pontificar sobre a homossexualidade, que seria resultado da “forma que se lida com a criança” desde o berço. E o que dizer da pregação “alt-right” do sacerdote da Educação?
Isso vale, também, diga-se, para Paulo Guedes, o todo-poderoso ministro da área econômica, saudado por alguns torcedores da mídia como a materialização da técnica, mas que tem, sim, seu viés ideológico —o ultraliberalismo da escola de Chicago. Já é hora, portanto, de o Mito parar com essas bobagens aí, taoquei?
Livrar o país da ideologia é um dos motes do presidente Jair Bolsonaro.
Tomemos o termo em sua acepção comum, de conjunto de convicções políticas, econômicas, culturais etc. professadas por pessoas ou grupos. É óbvio que o Mito e seu séquito exprimem visões ideológicas —e até bastante rígidas, a ponto de deixá-las suplantar opções pragmáticas e evidências empíricas.
Mudar a embaixada para Jerusalém, por exemplo, é uma escolha motivada por viés ideológico. Leva o Brasil a optar por um lado do conflito, abandonando a perspectiva sensata de defesa da paz e reconhecimento de dois Estados.
Claro que para o presidente ideologia é apenas o que ele identifica como linhas de pensamento da esquerda. Suas próprias crenças e as de seus aliados seriam outra coisa —a expressão da Verdade anunciada por Deus.
Sendo assim, nada haveria de ideológico na chorumela regressiva do ministro das Relações Exteriores, para quem “o nacionalismo tornou-se o veículo da fé” e a providência divina nos salvou do globalismo ao unir as ideias de Olavo de Carvalho ao patriotismo de Bolsonaro.
Tampouco haveria traços ideológicos no discurso da ministra dos Direitos Humanos, pronta a pontificar sobre a homossexualidade, que seria resultado da “forma que se lida com a criança” desde o berço. E o que dizer da pregação “alt-right” do sacerdote da Educação?
Isso vale, também, diga-se, para Paulo Guedes, o todo-poderoso ministro da área econômica, saudado por alguns torcedores da mídia como a materialização da técnica, mas que tem, sim, seu viés ideológico —o ultraliberalismo da escola de Chicago. Já é hora, portanto, de o Mito parar com essas bobagens aí, taoquei?
Manter acesa a chama
Na teoria, uma equação simples. Na prática, uma operação cuja complexidade ficará evidente à medida da passagem do tempo. A cada dia uma nova agonia a exigir soluções para as quais a “força do povo” conta pouco ou quase nada. Até porque o povo, no caso, tem mais que fazer. Mobilizações populares têm prazo de validade e alcance limitado. Euforia passa e, mais rápido do que parecem acreditar os novos locatários do Planalto e cercanias, se transforma em expectativa por providências, e daí em cobranças por resultados. Se o tempo da política é veloz, o da aflição popular é de um imediatismo atroz.
A ideia de que o presidente da República pode se ater ao papel de animador de auditório enquanto um grupo de executivos (agora liderados por Paulo Guedes na economia, Sergio Moro na probidade e pelos militares na ordenação no andamento dos trabalhos) toca o barco é muito parecida com a concepção adotada por Luiz Inácio da Silva. Com Lula deu certo por longo tempo, mas são realidades diferentes. Além de ter a economia com vento a favor, o petista contou com ampla boa vontade até entre opositores. O “operário de esquerda” não estava ali para ser contestado. Nacional e internacionalmente.
Com Bolsonaro não é assim. Foi eleito em ambiente de intensa polarização e com boa parte de seus eleitores fazendo a opção pelo que considerava o mal menor. Os radicais bolsonaristas adeptos do “mito” são uma parcela ínfima dos 209 milhões de brasileiros. Para estes, o presidente não falou na estreia sobre a maneira como pretende melhorar a vida deles; e daqueles não obterá a sustentação necessária para governar durante os próximos quatro anos. Trata¬-se, portanto, de uma ilusão a ser desfeita em breve, a tal da história de que anseios eleitorais sirvam como fiadores governamentais.
Jair Bolsonaro acertou ao detectar a demanda do eleitorado, mas errará se insistir em não reconhecer que uma coisa é perceber o que as pessoas querem ouvir numa campanha, outra muito diferente é dar a elas o que esperam de um governo, cujo êxito depende da capacidade de planejamento, empenho na execução das ações, habilidade para harmonizar o funcionamento das instituições, destreza nas relações com o Parlamento e nenhuma, mas nenhuma mesmo, concessão à crença autoritária (e, na democracia, fantasiosa) de que a “força do povo” possa mover todas as montanhas.
Feliz Ano Novo?
Os que creem sabem que o ano será regido por São Jorge e Ogum. Aposte na cor vermelha, no número 7 e tome decisões importantes nas terças-feiras, dizem os especialistas. A economia, porém, além das ciências místicas, depende das expectativas e dos fatos. Até o momento, há otimismo: segundo o Datafolha, 65% dos brasileiros avaliam que a situação econômica do país irá melhorar.
De fato, as previsões das consultorias, bancos e corretoras apontam para inflação anual baixa (4,03%) e aumento de 2,53% no Produto Interno Bruto (PIB), o maior desde 2013. Vale lembrar que em oito dos últimos dez anos os analistas superestimaram as taxas de crescimento, mas a conjuntura atual é favorável. Inflação controlada, elevada capacidade ociosa, 12,2 milhões de desempregados e safra recorde para baratear o custo dos alimentos. Neste cenário, o crescimento econômico não será um propulsor da inflação e o Banco Central não precisará elevar os juros. A equipe econômica é coesa, competente e mescla profissionais do mercado financeiro com servidores experientes que conhecem a máquina pública. O otimismo, portanto, tem fundamento; mas é perecível...
Sem o reequilíbrio das contas públicas o Brasil irá se tornar ingovernável. Desde 2014 há déficits primários e neste ano não será diferente (R$ 139 bilhões). A dívida bruta já se aproxima de 80% do PIB. As despesas obrigatórias, notadamente pessoal e previdência, continuam em alta e podem representar incríveis 98% do total das despesas primárias em 2021! A reforma da Previdência, portanto, será apenas o primeiro embate relacionado ao paquidérmico e corporativo Estado brasileiro. Destravar a economia passa, necessariamente, pela desvinculação do orçamento, desburocratização, concessões, venda de empresas estatais, alienação de imóveis e extinções de órgãos, funções comissionadas, privilégios, reservas de mercado, isenções fiscais, subsídios, etc. O receituário liberal está pronto. Falta apenas combinar com os russos e o Congresso.
Uma das dúvidas quanto ao êxito do novo governo diz respeito, justamente, ao seu relacionamento com o Legislativo. A opção pelo contato com as bancadas temáticas, ao invés dos partidos, irá funcionar? O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, terá experiência e competência para intermediar essa relação? No marco dos 100 dias, haverá avanços significativos nas reformas da previdência e tributária, vistas como emblemáticas? Os projetos do ministro Sérgio Moro para combater a corrupção e o crime organizado tramitarão em regime de urgência? Na mesma linha, as 70 medidas de combate à corrupção propostas pela sociedade serão recepcionadas pelo Legislativo ou serão desfiguradas e engavetadas como ocorreu com propostas anteriores? Como a oposição irá se comportar no “terceiro turno”? A bancada do PSL vai parar de brigar pela internet? Afinal, como mostrou o presidente, a “roupa suja” deve ser lavada no tanque...
Questões econômicas e políticas à parte, o apoio dos cidadãos ao novo presidente dependerá diretamente das soluções para os seus problemas: emprego, moradia, melhor atendimento nos hospitais, creches e escolas para os seus filhos, segurança para ir e vir em paz, transporte urbano barato e de qualidade, entre outros. A partir de hoje, todas as promessas de campanha serão cobradas em meio a fatores imponderáveis, como o bom senso dos caminhoneiros, as respostas do motorista Queiroz ao Ministério Público e até o comportamento dos filhos do Bolsonaro. Neste caso, como recomendam os psicólogos aos pais, talvez seja conveniente colocá-los no “cantinho do pensamento “para algumas reflexões.
Enfim, caro leitor, na dúvida sobre o que irá acontecer em 2019, siga o provérbio chinês: “Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier”. Feliz Ano Novo!
O legado ambiental do governo Temer
Temer saneou a Petrobrás, quebrada pelo logro petista. Segurou a inflação. Aprovou a emenda que criou o teto para gastos federais. E mais: fez a reforma trabalhista, quebrando vínculos longevos; e a reforma do ensino médio. Mas não é sobre essa herança que vamos comentar, mas, sim, o importante e improvável legado ambiental do governo Temer.
Logo que assumiu, Michel Temer soube pavimentar o caminho ao trazer novamente para o Ministério do Meio Ambiente (MMA) Zequinha Sarney, o mais capacitado ministro que tivemos desde a sua primeira gestão, no governo FHC.
Menos de dois meses depois, amparado tecnicamente, criou sua primeira unidade de conservação marinha. Assinou o “Decreto sem número de 02 de agosto de 2016”, que criou a Reserva de Vida Selvagem dos Alcatrazes. Ao fazê-lo, Temer encerrava uma disputa de mais de 30 anos entre ambientalistas, a Marinha do Brasil e órgãos do meio ambiente. Em razão do pouco espaço que o ambiente marinho recebe da mídia, o ato teve menos repercussão do que devia. Mas os hoje criticados “ambientalistas” vibraram.
Outra unidade de conservação marinha, que havia anos aguardava mudanças, era a Estação Ecológica do Taim, uma das glórias do litoral brasileiro, com sua nobre missão de proteger um dos recursos mais preciosos neste 21.º século: a água. O Taim é um sistema hidrológico que abastece cidades como Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande, para só citar as maiores. Além da missão, os banhados do Taim, seus campos, dunas, praias e lagoas são de uma beleza cênica, e riqueza em biodiversidade, fora de série. Em março de 2017 o governo Temer triplicou a área do Taim. A estação saltou de 11 mil para 32 mil hectares!
Desde a redemocratização os sucessivos presidentes criaram unidades de conservação no espaço continental, sem olhar para o mar. A exceção foi José Sarney, que em 1985 assinou o Decreto-lei n.º 92.185, que proibia as atividades de caça comercial da baleia por um período de cinco anos. A partir daí não houve mais caça. O Brasil passou a seguir o que preconiza a Comissão Baleeira Internacional. Mas nosso mar e a zona costeira estavam ao deus-dará. Se o espaço continental brasileiro tinha cerca de 9% de sua área transformada em unidades de conservação, o mar e a zona costeira mal chegavam a 1,5%. Neste ínterim, o Brasil perdeu o protagonismo na causa ambiental para países como o Chile, que liderou na América do Sul a proteção aos mares. Mas o governo Temer não se contentou em criar unidades de conservação.
A assinatura do Decreto n.º 9.179/2017, que instituiu o Programa de Conversão de Multas Ambientais, pode representar um avanço na política de proteção ao meio ambiente. E o MMA ainda tentou pôr ordem nos garimpeiros ilegais, e sua força destrutiva, da Renca, a reserva minerária da Amazônia. Ainda em sua gestão, o Ibama optou por defender os corais da foz do Amazonas e o ICMBio, por estudar seriamente as parcerias público-privadas para a concessão de unidades de conservação à iniciativa privada. Mas a cereja ambiental do governo Temer mais uma vez veio do mar.
Tudo começou em 2017. Um grupo de ambientalistas, do qual este escriba fazia parte, iniciou conversas com as equipes do Ministério do Meio Ambiente. Roberto Klabin, Fábio Feldmann, José Truda Palazzo Jr., Angela Kuczach, Paulo Guilherme Pinguim, o “núcleo duro” da turma ambiental conversou com o ministro e com o então presidente do ICMBio, Ricardo Soavinski. Havia concordância de que nossa atenção para com o mais importante ecossistema do planeta, os oceanos, em frangalhos por causa da poluição, do aquecimento e do insaciável apetite da pesca, estava em débito. Era mister mudar. Tecemos a estratégia juntos. Em março de 2018 Michel Temer assinou decreto criando as duas maiores unidades de conservação marinhas do Brasil, justamente os pontos mais remotos do território nacional: as Ilhas de Trindade e Martim Vaz e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo.
Ambas deveriam ser unidades de proteção integral. Era o que defendiam os ambientalistas. Mas eles não eram os únicos atores no palco. Havia a Marinha do Brasil, que tem bases em Trindade e em São Pedro e São Paulo, e empresários da pesca, entre outros. Assim, elas acabaram se tornando um misto de áreas de uso sustentável, Apas (Áreas de Proteção Ambiental), e de proteção integral, Mona (Monumento Natural). Com uma só e ousada canetada, Temer pôs 11 milhões de hectares de mar jurisdicional brasileiro sob Proteção Integral, ou seja, exclusão total de atividades predatórias, como mineração ou pesca. E outros 81 milhões destinados ao regime de Uso Sustentável. A unidade de conservação de Trindade e Martim Vaz é, por enquanto, a maior área protegida do Oceano Atlântico.
Um presidente deixa de ser “apenas presidente” quando tem coragem suficiente para adotar medidas duras, quando necessário, mesmo sabendo que serão impopulares. Ou, ainda, quando adota medidas cujos benefícios só chegarão em tempo posterior ao presente. Algo que só será aproveitado, e valorizado, pelas futuras gerações. Temer fez os dois, seja ao “segurar” a economia, seja ao fazer o País retomar o protagonismo ambiental, protegendo para sempre o mar territorial brasileiro, a Amazônia Azul.
Que o novo presidente se inspire e trate nosso maior ativo, o meio ambiente, com o cuidado que um bem desses merece.
Os meninos não se vestiram sempre de azul, nem as meninas de rosa
Mesmo assim, essa distinção pode parecer natural e habitual para muita gente, embora na verdade não seja nada mais do que uma convenção arbitrária e relativamente recente: os meninos não se vestiram sempre de azul, e as meninas não se vestiram sempre de rosa.
Como já informamos nesta seção, a historiadora Jo B. Paoletti escreve em seu livro Pink and Blue: Telling the Girls From the Boys in America que nos Estados Unidos não se usavam tons pastel para os bebês até a Primeira Guerra Mundial: antes se optava simplesmente pelo branco.
Nas classes altas, aí sim, era mais habitual o uso de cores pastel antes do século XX, mas meninos e meninas usavam de forma indistinta rosa, azul e outras cores, como explica Valerie Steel, diretora do Museu do Instituto da Moda de Nova York, em um artigo na CNN.
No primeiro terço do século XX, muitos fabricantes e vendedores de roupa infantil tentaram estabelecer diferenças de cor com o objetivo de aumentar as vendas, mas não havia consenso na hora de optar por uma ou outra.
Por exemplo, a revista Ladies’ Home Journal recomendava em 1918 o rosa para os meninos, por ser “mais resoluto e forte”, como assinala o jornal The Guardian. Já as meninas deveriam se vestir de azul, “mais delicado e amável”. Em 1927, a Time publicou um quadro que detalhava qual era a oferta preferencial de cores em lojas de departamentos norte-americanas, como lembra Paoletti. Essa tabela reflete que o critério ainda não estava claro, mas 60% das lojas de departamentos preferiam o rosa para os meninos. Devemos levar em conta que o rosa era associado ao vermelho, a cor do sangue e do vigor.
Os tons pastel (tanto azul quanto rosa) também se popularizaram entre os bebês europeus, frequentemente sem distinção. E quando havia diferenciação, tampouco se seguia sempre o critério atual. Os orfanatos franceses utilizavam o azul para os meninos e o rosa para as meninas, mas na Bélgica, Suíça e parte da Alemanha era o contrário. De fato, Eva Heller explica em seu livro A Psicologia das Cores que na Alemanha essa distinção que agora nos parece habitual não existia até os anos 20, e só se generalizou a partir dos anos 70.
A partir dos anos 80, o rosa se impôs definitivamente na paleta de cores em milhares de produtos para meninas, deslocando outras opções. A tal ponto que, segundo Paoletti, no que se refere a esta questão, há muito mais diferenciação por sexos agora do que décadas atrás.
Não há raízes ancestrais que justifiquem que os meninos devam usar azul e as meninas, rosa. De fato, as crianças de menos de dois anos preferem cores intensas, como vermelho e azul, segundo a bióloga Anne Fausto-Sterling, e não cores suaves ou tons pastel.
Além disso, a cor favorita da maioria de pessoas (homens e mulheres) é o azul, como mostra uma pesquisa realizada em dez países pela empresa de opinião pública britânica YouGov, na qual o rosa custa a aparecer entre as cinco opções favoritas. O azul também é o favorito das mulheres (embora com menos vantagem do que para os homens). Depois vêm o verde ou o vermelho. Estes dados coincidem com os publicados por Eva Heller em seu livro, que explica que, em geral, as preferências de cores entre homens e mulheres são similares.
Também é preciso ter em mente que as convenções sobre os significados de cada cor são em grande medida arbitrárias e, além disso, mudam com o tempo. Assim, o vermelho costuma ser identificado com a vida, a saúde, o vigor, por ser a cor do sangue. No entanto, muitas vezes a conotação da cor não tem relação com nenhum paralelismo: o roxo se associa à nobreza e aos reis simplesmente porque era caro conseguir esse corante.
Esses significados também podem variar dependendo da cultura em que estivermos. Em inglês, yellow significa amarelo e covarde (Judas era vestido em muitos quadros com essa cor), mas essa cor também é associada ao sol e, portanto, à felicidade e à nobreza (como no Egito e na China). E, é claro, existem as modas: o rosa foi muito usado durante o Rococó, como se pode ver no retrato de Luís XVI pintado por Nicolas-André Monsiau. E isso sem falar que ao longo da história (e dependendo do lugar) os homens usaram vestido, saia, meia-calça, peruca, maquiagem e salto alto.
De qualquer forma, e apesar do que qualquer ministra diga, hoje em dia podemos comprar e usar roupas da cor que quisermos. Só faltava nos sentirmos culpados pela cor de uma camiseta.
Invisibilidades da pobreza
O mesmo banco indica que vivem em estado de extrema pobreza os que recebem o equivalente a US$ 1,90 por dia, R$ 140 por mês. São 15,2 milhões de pessoas nessa situação, em 2017, um aumento de 1,7 milhão em relação ao ano anterior, mais do que a população de cada uma de 14 capitais brasileiras ou do que várias outras grandes cidades. Na melhor das hipóteses, essa importância dá apenas para prolongar o advento da morte por carências inadmissíveis, a maior das quais é a de alimentação. Trata-se de um nível genocida de pobreza.
Outros fatores são mais decisivos na causa da pobreza. A proporção de casais com filhos nessa situação é de 30,4%, o que apenas sugere que a solidão da mãe sem marido ou companheiro não é o único nem decisivo fator da pobreza extrema. Mesmo que não existissem diferenças nas proporções por cor da pele, ainda assim existiriam graves fatores de empobrecimento. Não é o fato de que haja preconceito de cor no Brasil que explica a extrema pobreza. Ele apenas a agrava.
Dados estatísticos sobre a pobreza, como esses, indicam tendências gerais. Dizem pouco sobre o que a pobreza é. Referem-se ao quanto, e não ao como. Referem-se à pobreza calculada, mas não à pobreza vivida. É o abismo entre o cálculo e o vivencial que possibilita o desvendamento das invisibilidades da pobreza, as ocultações da distância entre os que, de um lado, pensam, analisam e explicam o que a pobreza é tecnicamente e, de outro, os que padecem suas consequências.
Nesse meio estão as estratégias de sobrevivência de quem tem menos do que o necessário para viver, de quem está aquém do que faz de um homem, de uma mulher, de uma criança, um ser humano. Nele estão também as insuficiências e limitações dos métodos de avaliação e cálculo das quantidades que revelam demográfica e economicamente, mas também ocultam o que a pobreza sociologicamente é.
Se fosse possível inserir o "como" nos cálculos do quanto, teríamos um retrato mais realista da pobreza. Provavelmente, os casos mais dramáticos, mais graves, do que o IBGE classifica como de pobreza extrema, não entram nas contas pelas quais se mede o nível de pobreza de parte da população brasileira. São os dos que não têm domicílio, referência das amostras de pesquisas desse tipo.
Caso dos que moram nas ruas, embaixo de pontes e viadutos. Em cidades como São Paulo, multidões dormem sob o Minhocão, o quilométrico viaduto que atravessa a cidade, ou sob marquises como a da Faculdade de Direito ou à porta de lojas da praça Antonio Prado, onde foi a igreja e o cemitério da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Há os que moram em gavetas vazias de túmulos de cemitérios como o do Araçá, mulheres e homens, tendo como vizinhos de leito os cadáveres dos que ali repousam. Caso de uma senhora preta já de idade, com quem conversei a respeito enquanto fazia sua maquiagem matutina para sair à rua, pois é proibido lá permanecer. Ou um jovem branco, de cerca de 20 anos de idade, a quem perguntei se não tinha medo de passar a noite entre dois mortos, o da gaveta de cima e o da gaveta de baixo. "Não", explicou-me ele, "nunca me fizeram mal. Estou aqui por causa dos vivos, os que estão lá fora. Deles eu tenho medo".
Há os que moram nos barracos mais miseráveis das favelas, onde há uma hierarquia social que reproduz e agrava as desigualdades da sociedade brasileira. Pobre explorando pobre. Ou gente não tão pobre fazendo a mesma coisa. A maioria dos animais domésticos das grandes cidades brasileiras tem melhor nível de vida e melhor assistência médica do que moradores de favelas de São Paulo, cujas condições de vida conheço.
Numa delas, os "cômodos" de restos de madeira ou de papelão estão distribuídos ao longo de um canal de esgotos, que os atravessa por dentro. Geralmente, gente jovem, gente que trabalha. Gente cuja miséria barateia o custo do trabalho nos setores que a emprega, como o de catadores de papel ou de metais para reciclagem.José de Souza Martins:
Bolsonaro começa a aplicar sua própria agenda ideológica
Após três dias de governo, no entanto, Bolsonaro já começou a colocar em prática uma agenda ideológica – no caso, a sua própria. Aos poucos, o governo vai assumindo uma face mais de acordo com a visão de extrema direita do novo presidente, diminuindo espaço para áreas como a promoção de direitos LGBT e de combate a mudança climáticas e promovendo um realinhamento da diplomacia e da educação no país.
Até o momento, o Ministério das Relações Exteriores é o que sintetiza mais claramente a aplicação dessa nova agenda ideológica de sinais trocados. Sob os governos do PT, o país havia por mais de uma década demonstrado afinidade com regimes esquerdistas (democráticos ou não). Agora, em vez de apostar no pragmatismo, Bolsonaro vem optando por se aproximar de países governados pela direita, como Israel e a Hungria.
Antes mesmo de assumir o cargo, Bolsonaro já havia anunciado o plano de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em um gesto que desconsidera possíveis implicações comerciais negativas para o comércio com países árabes, mas que agradou à ala evangélica e ultraconservadora que apoia o novo governo.
Além disso, Bolsonaro anunciou um alinhamento automático com a política externa dos Estados Unidos de Donald Trump, contrariando práticas que há décadas caracterizaram a diplomacia brasileira, que mesmo sob governo de direita do passado procurou um caminho independente dos americanos. Ele também levantou a hipótese de autorizar que os americanos possam instalar no futuro uma base militar no Brasil.
Em seu discurso de posse, o novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pouco falou da pauta comercial do país, mas citou que, sob sua chefia, o Itamaraty vai combater o aborto e se insurgir contra o "ódio a Deus".
Já no Ministério da Educação (MEC), o governo determinou a extinção da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) e criou uma pasta específica para a alfabetização. Segundo Bolsonaro, o objetivo da medida é combater "a formação de mentes escravas das ideias de dominação socialista". A iniciativa está sendo encarada como uma forma de eliminar as temáticas de direitos humanos e de educação étnico-racial e a própria palavra diversidade da pasta.
O governo também promoveu uma mudança que levantou preocupações entre a comunidade LGBT do país. A medida provisória que estabeleceu a nova organização e as competências dos ministérios sob Bolsonaro não fez qualquer menção à comunidade LGBT no item que detalha as diretrizes destinadas à promoção dos direitos humanos.
No texto, a MP cita de maneira vaga a promoção de direitos de "minorias étnicas e sociais", e não mais lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais como ocorria anteriormente. Segundo o governo, as demandas dessa comunidade vão ser atendidas pela nova Secretaria de Proteção Global ligada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, pasta chefiada pela evangélica Damares Alves, que logo após o discurso de posse disse que o Brasil vai entrar em "uma nova era" em que "menino veste azul e menina veste rosa".
Bolsonaro também retirou da Funai a demarcação de terras indígenas e o licenciamento ambiental de empreendimentos que possam atingir povos indígenas. As atribuições passaram para o Ministério da Agricultura.
O Ministério do Meio Ambiente, por sua vez, extinguiu a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas e prometeu criar uma assessoria especial – bem mais enxuta – para lidar com o tema. Durante a campanha, Bolsonaro criticou o Acordo de Paris sobre o clima. Seu chanceler, Ernesto Araújo, também já disse que a esquerda transformou a "defesa da mudança climática" em uma "tática globalista de instilar o medo para obter mais poder".
A nova administração também já vem promovendo um enxugamento de cargos comissionados com o objetivo de fazer uma "despetização do governo", segundo as palavras do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Na quinta-feira, 3.400 servidores já haviam sido exonerados, segundo o jornal O Globo. "Nós somos um governo de perfil de centro-direita e não tem fundamento ter aqui alguém que é socialista, comunista ou qualquer dessas outras coisas", disse o ministro.
"Vamos retirar de perto da administração pública federal todos aqueles que têm marca ideológica clara. Nós todos sabemos do aparelhamento que foi feito principalmente do governo federal nos quase 14 anos que o PT aqui ficou", afirmou.
Lorenzoni também disse que a nova administração pretende governar "com aqueles que acreditam em nosso projeto", e não com pessoas "que ponham em risco o projeto aprovado nas urnas". Ele negou que a medida seja uma "caça às bruxas", mas disse que os exonerados deverão se submeter a uma avaliação para definir se serão readmitidos nos postos.
Segundo O Globo, os critérios de avaliação para a participação ou manutenção no governo vão além da filiação ou não ao PT. O jornal informou que comissionados estão tendo as redes sociais vasculhadas para identificar suas simpatias. Nesse pente-fino, postagens que incluem "Ele não!", "Fora, Temer" e até "Marielle vive" podem resultar em exoneração.
Esse "zelo" já atingiu até mesmo uma pessoa ligada a movimentos que ajudaram Bolsonaro na campanha. Desire Queiroz, uma evangélica cotada para assumir a Secretaria Nacional de Juventude – subpasta ligada ao novo Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos – acabou não sendo nomeada após contas de extrema direita a terem rotulado de "esquerdista" nas redes sociais.
Entre os elementos "incriminatórios" estava uma publicação no Facebook em que ela lamentou a morte da vereadora Marielle Franco em março do ano passado.
Pouco antes de ter sido descartada para o cargo, Queiroz atribuiu a campanha contra ela a uma disputa por cargos entre a própria direita e reafirmou que era conservadora. "Eu sou uma mulher negra e é muito fácil colar esses estereótipos [de esquerda] em mim", disse ao site de extrema direita Conexão Política.
Deutsche Welle
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