“Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais”, anunciou o Mito em seu discurso de posse na Praça dos Três Poderes, escrito para animar seus fervorosos apoiadores, ali representados por uma plateia de Simpsons vestidos de verde e amarelo.
Livrar o país da ideologia é um dos motes do presidente Jair Bolsonaro.
Tomemos o termo em sua acepção comum, de conjunto de convicções políticas, econômicas, culturais etc. professadas por pessoas ou grupos. É óbvio que o Mito e seu séquito exprimem visões ideológicas —e até bastante rígidas, a ponto de deixá-las suplantar opções pragmáticas e evidências empíricas.
Mudar a embaixada para Jerusalém, por exemplo, é uma escolha motivada por viés ideológico. Leva o Brasil a optar por um lado do conflito, abandonando a perspectiva sensata de defesa da paz e reconhecimento de dois Estados.
Claro que para o presidente ideologia é apenas o que ele identifica como linhas de pensamento da esquerda. Suas próprias crenças e as de seus aliados seriam outra coisa —a expressão da Verdade anunciada por Deus.
Sendo assim, nada haveria de ideológico na chorumela regressiva do ministro das Relações Exteriores, para quem “o nacionalismo tornou-se o veículo da fé” e a providência divina nos salvou do globalismo ao unir as ideias de Olavo de Carvalho ao patriotismo de Bolsonaro.
Tampouco haveria traços ideológicos no discurso da ministra dos Direitos Humanos, pronta a pontificar sobre a homossexualidade, que seria resultado da “forma que se lida com a criança” desde o berço. E o que dizer da pregação “alt-right” do sacerdote da Educação?
Isso vale, também, diga-se, para Paulo Guedes, o todo-poderoso ministro da área econômica, saudado por alguns torcedores da mídia como a materialização da técnica, mas que tem, sim, seu viés ideológico —o ultraliberalismo da escola de Chicago. Já é hora, portanto, de o Mito parar com essas bobagens aí, taoquei?
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