sábado, 3 de maio de 2014

O que não pode faltar


Pode-se passar sem pão. Não se vive sem dignidade

Anônimo tunisiano

Dois e Dois são Quatro


Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele, morena
como é azul o oceano
E a lagoa, serena

Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena

- sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
mesmo que o pão seja caro
e a liberdade pequena.

Ferreira Gullar

Câmara dos expertos


Sonho de qualquer sociedade é ter, com orgulho, câmara de especialistas, homens sóbrios, sábios, sabedores das necessidades do povo, de como provê-las e principalmente com disposição política para ter iniciativa de realizar o que for preciso. Sonho dos sonhos que muita cidadezinha por este mundão de Deus quase chegou lá. Foram bem pertinho, todas sem um respingo de corrupção ou uma escarrada de descaso na cara do eleitor.
Mas há aí outras que nem conseguem chegar ao calcanhar dessas, reúnem apenas os espertos de 1001 utilidades. Como aquela câmara lá da vila de fim de linha, terra dos Patos, onde os regabofes supimpas são custeados pelo dinheiro do povo. Às vezes se faz de casa da luz vermelha, se vendendo por patacas. Mas o mais das vezes arma o circo. Também pudera com os integrantes que tem, é fácil armar barraca, ou melhor, tendinha. Vendem como banca de camelô qualquer iniciativa. Tudo sob as vistas de uma arquibancada de palhaços.
Os espertos até se fazem expertos disso ou daquilo, mas não têm como disfarçar a falta de educação e de formação. Uns até se pintam de edis da saúde, mesmo que da saúde só saibam aquela que vendiam em seus quiosques. Outros bancam a educação, que nunca tiveram nem terão. Uns também copiam de cabo a rabo leis estaduais e federais, colocam debaixo a assinatura e as transformam em municipais como criação única. São edis xerox. Ainda há quem se arvore estrategista de segurança pública – aí aparecem os tais “xerifes” – com o problema resolvido: vamos recorrer a quem sabe.
A Casa parece mesmo um antro de piadistas. E é. Só que muito bem pagos pelo Erário, com presença em duas sessões semanais que muitas vezes somadas não chegam a meia hora de trabalho suado. Para bancar a palhaçada, estão na platéia os palhaços, pagando impostos e trabalhando para que a turba de calhordas continue a usufruir a boa vida e muita grana.